DIETARY PROFILE IN THE FOOD HABITS OF ADOLESCENTS IN THE COVID-19 PANDEMIC
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7932846
Gracy Kelly Corrêa Costa da Silva
Kelly Mello de Oliveira Santos
David Silva dos Reis
José Gerardo Barreto Junior
Resumo: Introdução: A adolescência é a fase do desenvolvimento humano caracterizado pela passagem à juventude, na faixa etária de 10 a 19 anos. É considerado um período de novas descobertas e desenvolvimento, onde eles passam por mudanças como puberdade, crescimento físico, cognitivo e psicossocial. A pandemia da covid-19, gerou impactos em que contraiu ou não a doença, gerando aumento de Doenças crônicas não transmissíveis, dentre elas a obesidade. Objetivo: Analisar o perfil dietético e os hábitos alimentares de adolescentes de uma escola da rede privada de ensino de Manaus, durante a pandemia de covid-19. Metodologia: Trata-se de um estudo de corte transversal com característica analítica em amostra representativa, foi utilizado o software Python, como ferramenta de análise estatística. Resultado: O que chama atenção é o índice de adolescentes acima do peso, que ao excluir o resultado dos eutróficos, temos um índice de 89% destes adolescentes acima do peso. Conclusão: Fica claro a preocupação quanto o aumento da obesidade dos adolescentes é perceptível, que falta educação nutricional nas escolas e projetos de políticas públicas, para educar desde cedo a população sobre a importância da alimentação.
Palavras-chave: Adolescentes, hábitos-alimentares, covid-19
Abstract: : Introduction: Adolescence is the phase of human development characterized by the passage to youth, in the age group of 10 to 19 years. It is considered a period of new discoveries and development, where they go through changes such as puberty, physical, cognitive and psychosocial growth. The covid-19 pandemic generated impacts on whether or not they contracted the disease, generating an increase in chronic non-communicable diseases, including obesity. Objective: To analyze the dietary profile and eating habits of adolescents from a private school in Manaus, during the covid-19 pandemic. Methodology: This is a cross-sectional study with analytical characteristics in a representative sample, Python software was used as a statistical analysis tool. Result: What draws attention is the rate of overweight adolescents, which when excluding the result of eutrophication, we have an index of 89% of these overweight adolescents. Conclusion: There is a clear concern about the increase in obesity among adolescents and a noticeable lack of nutritional education in schools and public policy projects to educate the population about the importance of food from an early age.
Keywords: Adolescents, Food Habits, Covid-19
1 Introdução
A adolescência é a passagem da infância para a vida adulta, na faixa etária dos 10 aos 19 anos. Desta maneira, considera-se a adolescência um período de novas descobertas e desenvolvimento humano, onde eles passam por mudanças relacionadas à puberdade, crescimento físico, cognitivo e psicossocial, e estes fatores estão relacionados com a construção do caráter e a forma como eles se sentem e se comportam na sociedade¹.
A pandemia do coronavírus em 2019 trouxe impactos negativos à saúde de quem contraiu ou não a doença. Os meses de isolamento trouxeram aumento no consumo de bebidas alcoólicas, redução de atividades físicas e como consequência aumento na taxa de Doenças crônicas não transmissíveis (DCNT). Dentre estas doenças a obesidade chamou a atenção, se tornando cada vez mais prevalente nas capitais brasileiras.
Em 2006 a obesidade em adultos no Brasil era de 11,8%, já em 2020 essa porcentagem passou para 21,5%, representando um aumento muito significativo. Esses dados chamam atenção pois até 2011 nenhuma capital tinha prevalência de obesidade maior que 20%, porém em 2020, 16 capitais estão acima desta marca. Entre elas, Manaus se encontra no primeiro lugar com 24,9% de obesos adultos, e a alteração nesse padrão de vida e de consumo na pandemia foi determinante para este agravamento 2. Somente no ano de 2022 até o mês de outubro, o Sistema Único de Saúde (SUS) acompanhou mais de 4,4 milhões de adolescentes entre 10 e 19 anos e quase 1,4 milhão deles foram diagnosticados com sobrepeso, obesidade e obesidade grave³.
Há tempos, estudos alertam que a alimentação desse grupo etário tem sido marcada pela presença de alimentos com excessivo conteúdo de açúcares, gorduras e sal, incluindo doces, bebidas açucaradas, biscoitos, fast food e pelo consumo reduzido de hortaliças, frutas e leite e derivados 4.
Diante disso, é fundamental pesquisar a qualidade dos hábitos alimentares dos adolescentes, com a finalidade de adquirir bases de pesquisas representativas que possam, mais pra frente, gerar novos estudos para aumentar a qualidade nutricional, de ensino e até mesmo de políticas públicas. Este estudo teve como objetivo realizar o perfil nutricional sobre os hábitos alimentares de adolescentes de uma escola da rede privada de Manaus, durante a pandemia de Covid-19 no ano de 2022.
2 Material e métodos
Delineamento e população do estudo
Trata-se de um estudo transversal de característica analítica em amostra composta por adolescentes estudantes do 8° ano do ensino fundamental II (EF II) ao 3° ano do ensino médio (EM) de uma escola de rede privada em Manaus. O processo de seleção foi realizado por conveniência de forma não aleatória e intencional, e os adolescente que atenderam aos pré-requisitos de participação foram selecionados de acordo com os critérios de inclusão: alunos do sexo masculino e feminino com idade entre 13 e 18 anos, regulamente matriculados na instituição. Foram excluídas do estudo amostras que não responderam os questionários de forma integral ou que invalidaram as alternativas de preenchimento.
Coleta de dados
A direção e coordenação pedagógica da escola que aceitaram colaborar com estudo, enviaram uma carta para os pais, com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), com explicações sobre o estudo e a solicitação de consentimento de participação do menor sob a sua responsabilidade, assinando caso autorizasse o menor a participar do estudo.
Após a autorização e assinatura do TCLE pelos pais, procedeu-se à coleta de dados, com o apoio da professora de educação física, que cedeu seus horários de aula e ajudou na coleta antropométrica de todos os alunos que participaram deste estudo. Os dados de peso corporal foram coletados em balança digital com o estadiômetro. Para a estatura, utilizou-se o estadiômetro da própria balança. O estado nutricional foi avaliado através do cálculo do Índice de Massa Corpora (IMC= peso/estatura²) para idade e sexo, expresso em escores-z, de acordo com o proposto pela Organização Mundial de Saúde (OMS, 2007) ¹.
Acompanhado dos questionários, foi entregue aos alunos um Termo de Assentimento livre e esclarecido, onde registrou seu consentimento em participar do estudo de forma voluntária. Em seguida, poderiam iniciar o preenchimento dos questionários. As respostas dos participantes são anônimas e confidenciais, além disso, os participantes poderiam interromper a participação no estudo e se retirar em qualquer momento.
Foi aplicado o questionário semiquantitativo de frequência alimentar para adolescentes de referência da Faculdade de Saúde pública da Universidade de São Paulo (2001)⁵, utilizando 76 itens, dividido em 9 partes, sendo elas: 1. Doces, salgadinhos e guloseimas; 2. Salgados e preparações; 3. Leites e produtos lácteos; 4. Cereais, pães e tubérculos; 5. Verduras e legumes; 6. Frutas; 7. Carnes e ovos; 8. Feijão; 9. Bebidas. Os entrevistados foram orientados a responder o questionário de consumo alimentar dos últimos seis meses, fazendo um esforço para lembrar o que costumam comer e os alimentos que mais gostam.
Análise estatística
Foi realizada a análise descritiva de todas as variáveis do estudo. As variáveis qualitativas foram apresentadas em valores absolutos e relativos. As variáveis quantitativas, apresentadas em termos de seus valores de tendência central e dispersão. Testou-se a normalidade das variáveis por meio do teste de Kolmogorov-smirnov. O processo estrutural da pesquisa foi baseado na análise descritiva, no teste de aderência e na associação entre variáveis pelo teste de Qui-quadrado. Utilizou-se como ferramenta de análise o software de linguagem de programação em Python, considerando nível de significância estatística inferior a 5%.
Aspectos éticos
O presente estudo está em conformidade com a resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Paulista sob o n° 62827922.0.0000.5512. Todos os participantes foram esclarecidos sobre os objetivos e os procedimentos da pesquisa, com a assinatura do TCLE.
3 Resultados
No mês de Agosto de 2022, foram convidados a participar todos os alunos do 8º ano do Ensino Fundamental II ao 3º ano do Ensino Médio, totalizando 120 alunos. Não houve nenhuma recusa e todos os alunos responderam ao questionário. Houve perda amostral de 20 participantes pois não responderam integralmente o questionário ou invalidaram as suas respostas, o que representou 16,7% da amostra, de modo que foram incluídos no presente estudo 100 adolescentes. Foi observado que a maioria dos adolescente era do sexo masculino (52), com idade acima de quinze anos, eutróficos e o excesso de peso somou mais que um terço da amostra. Estes dados estão presentes na Tabela 1.
Tabela 1. Classificação do estado nutricional de adolescentes, estudantes do 8º ano do EF II ao 3º ano do EM. Escola privada de Manaus, AM, 2022.
Removendo os indivíduos com eutrofia, nota-se que 89% deles estão acima do peso, (41% em sobrepeso, 39% obesos e 9% com obesidade grave) e 11% estão com IMC abaixo do desejado (9% em magreza e 2% em magreza acentuada). Os resultados reforçam os índices, que a obesidade nos adolescentes está se tornando cada vez mais prevalente, dados mostram que no Brasil, em 2008 era 3,41% e em 2022 chegou a 11,14% de adolescentes acometidos com a obesidade.
Dos grupos de alimentos consumidos habitualmente ( duas ou mais vezes ao dia), destacaram-se “Cereais, pães e tubérculos” com 32,5% e “Carnes e ovos” com 25,2% do consumo diário. A distribuição das frequências por grupos de alimentos segundo o estado nutricional está exposta na tabela 2.
Tabela 2. Distribuição das frequências de consumo dos grupos de alimentos segundo o estado nutricional de adolescentes. Escola privada de Manaus, AM, 2022.
Diferentes alimentos também foram classificados de consumo habitual: feijão, manteiga, café, açúcar, banana. Quase 50% desses adolescentes consomem pelo menos uma vez na semana alimentos como: refrigerante normal, sanduíches, embutidos, pão de queijo, cheeseburguer, chocolate, batata frita, pizza, leite integral, farofa, laranja, alface, tomate, cenoura, sorvete, batata cozida. Alimentos como leite desnatado, abacate, milho verde, couve-flor, iogurte diet, agrião, chá-mate, espinafre aparecem como itens menos consumidos. Os resultados demonstraram que os itens mais consumidos são característicos das principais refeições: café-da-manhã, almoço e jantar.
4 Discussão
Este estudo buscou analisar o perfil dietético e os hábitos alimentares de adolescentes de uma escola da rede privada de ensino de Manaus, durante a pandemia de covid-19. Foi identificado através deste estudo a prevalência da obesidade nos adolescentes, através dos dados antropométricos e dietéticos, e alto consumo de alimentos com alto teor calórico.
Recentes estudos relataram que a frequência de consumo de alimentos saudáveis diminuiu, durante a pandemia de covid-19, onde observou-se o maior consumo regular de hortaliças em cerca de 4,3%. De acordo com a OMS (2003)⁷, o consumo ideal de frutas, legumes e hortaliças é de 400 gramas ao dia, logo fica evidenciado um consumo muito baixo pela população estudada.
Segundo a Organização Pan-Americana de saúde⁸, uma alimentação saudável ajuda a proteger contra a má nutrição em todas as suas formas, bem como contra as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), entre elas diabetes, doenças cardiovasculares, AVC e câncer. A alimentação não saudável e a falta de atividade física são os principais riscos globais para a saúde. Entretanto, a ingestão calórica deve estar em equilíbrio com o gasto calórico. Para evitar um ganho de peso não saudável.
Acrescenta-se a este cenário, os discernimentos em relação à alimentação e nutrição. De acordo com o estudo de Pereira et al.⁹, 96,61% dos adolescentes afirmaram saber o que é nutrição e 44,06% se preocupavam com a alimentação, mesmo que, 72,88% nunca tenha feito uma consulta com nutricionista. É evidente que estas áreas do conhecimento, mesmo não sendo completamente desconhecidas, são vistas pela relação limitada entre estes indivíduos e os profissionais da área. Segundo Freitas et al.¹º, este estudo analisou as políticas públicas de nutrição para o controle da obesidade em adolescentes. Os autores atestam que, no Brasil, essas políticas atuam de forma inicialmente quando destinadas ao adolescente no que diz respeito ao fator de obesidade.
Ao analisar os apelos da mídia em comerciais, Domiciano et al.¹¹, constataram um grande empenho do marketing por parte das indústrias quanto ao uso de estratégias, principalmente emocionais e afetivos para atrair a atenção dos consumidores, omitindo em quase todos os comerciais o recurso nutricional, confirmando assim o baixo interesse pelo público. Tendo em consideração neste estudo, que se trata de adolescentes, estes estão em fase de desenvolvimento físico e emocional, onde ainda não possuem capacidade de sensatez desenvolvida.
Seguindo o pensamento de Paulo Freire¹², ao afirmar que “Educação não transforma o mundo”. Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo”, pode deduzir-se que se os consumidores tivessem uma melhor educação, poderia haver melhor interesse pela parte nutricional dos produtos alimentícios, assim incentivar uma mudança de comportamento por parte do marketing dos produtos, e, dessa forma, aumentar o empenho à qualidade nutricional dos alimentos industrializados.
Ao avaliar o estudo de frequência alimentar de Oliveira (2016) ¹³, observou-se um alto consumo de alimentos dos grupos dos carboidratos pela maioria dos adolescentes. Assim como no presente estudo constatou-se a alta ingestão deste macronutriente. Ainda no estudo de Oliveira (2016)¹³, é observado que o consumo alimentar de adolescentes eutróficos e os que estão acima do IMC ideal são semelhantes, resultado similar encontrado no estudo presente.
3 Considerações Finais
A partir dos resultados deste estudo, ficou claro a preocupação quanto ao aumento da obesidade dos adolescentes, onde através da análise dos dados antropométricos confirmou o estado nutricional dos adolescentes entrevistados com os dados a respeito da obesidade no Brasil.
É explícito a importância da educação nutricional nas escolas, onde podemos construir hábitos saudáveis, tornando crianças e adolescentes, em adultos cientes das escolhas assertivas para a promoção da sua saúde.
É preciso investir em políticas públicas e educativas, para que esses adolescentes possam ter melhoria na qualidade da alimentação, para que se consiga aumentar o consumo de hortaliças, verduras e frutas, das formas nas quais pode ser preparada e consumida. Onde sabemos que é difícil combater com o marketing que é feito pela indústria de alimentos ultraprocessados na tv e nas redes sociais.
Referências
¹OMS. Adolescent health. Organização Mundial da Saúde. (2022). https://www.who.int/health-topics/adolescent-health#tab=tab_1
² Rache, B., Aguillar, A., Rocha, R., Cabrera, P., Tao, L. e L.F.M. Rezende. (2022). Doenças Crônicas e Seus Fatores de Risco e Proteção: Tendências Recentes no Vigitel. Nota Técnica n.25. IEPS: São Paulo.
³ BRASIL. Ministério da Saúde. Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional – SISVAN: Relatório do Estado Nutricional dos Adolescentes, 2008/2022
⁴ Monteiro, CA, Cannon, G., Moubarac, JC, Levy, RB, Louzada, MLC, & Jaime, PC (2018). A Década da Nutrição da ONU, a classificação de alimentos NOVA e o problema com o ultraprocessamento. Nutrição em saúde pública, 21 (1), 5-17
⁵ Villar, B. S. (2001). Desenvolvimento e validação de um questionário semi-quantitativo de freqüência alimentar para adolescentes (Doctoral dissertation, Universidade de São Paulo)
⁶ Malta, D. C., Szwarcwald, C. L., Barros, M. B. D. A., Gomes, C. S., Machado, Í. E., Souza Júnior, P. R. B. D., … & Gracie, R. (2020). A pandemia da COVID-19 e as mudanças no estilo de vida dos brasileiros adultos: um estudo transversal, 2020. Epidemiologia e Serviços de Saúde, 29(4), e2020407
⁷ WHO (World Health Organization). Diet, nutrition and the prevention of chronic diseases. Geneva; 2003. (WHO Technical Report Series, 916)
⁸ OPAS – Organização Pan-americana de saúde. Disponível em: https://www.paho.org/pt/topicos/alimentacao-saudavel#:~:text=Uma%20alimenta% C3%A7%C3%A3o%20saud%C3%A1vel%20ajuda%20a,riscos%20globais%20para%20a%20sa%C3%BAde.
⁹ Pereira, T. D. S., Pereira, R. C., & Angelis-Pereira, M. C. D. (2017). Influência de intervenções educativas no conhecimento sobre alimentação e nutrição de adolescentes de uma escola pública. Ciência & Saúde Coletiva, 22, 427-435
¹º Freitas LKP, Cunha JAT, Knackfuss MI, Medeiros HJ. Obesidade em adolescentes e as políticas públicas de nutrição. Cien Saude Colet 2014; 19(6):1755-1762.
¹¹ Domiciano CG, Coelho LR, Pereira JAR, de Angelis-Pereira MC. Estratégias da mídia e os apelos comerciais para promoção dos produtos alimentícios. Rev Ciênc Saúde 2014; 4(1):1-7.
¹² Freire P. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra; 1999.
¹³ Oliveira, T. F. D. D. (2016). Consumo de alimentos industrializados por crianças e adolescentes.