PROFILE OF RESISTANCE OF UROPATHOGENS TO ANTIMICROBIALS USED IN THE TREATMENT OF URINARY TRACT INFECTION
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7818929
Eduardo André de Leopoldino da Silva Filho1
Eduardo da Silva Romeu1
Lais Lima Montes1
Natanna Belarmino Santos1
Suellen Taujiro Correia Rocha Rodrigues1
Iangla Araújo de Melo Damasceno1
As Infecções do Trato Urinário (ITUs) são uma das morbidades mais frequentes nos serviços de saúde. Desse modo, muitos antimicrobianos são prescritos no combate a tais enfermidades, no entanto vários deles são utilizados de maneira inadequada, agravando os mecanismos de resistência bacteriana. Dentre os uropatógenos mais prevalentes, estão a Escherichia Coli, seguido por Staphylococcus saprophyticus, Klebsiella pneumoniae, Enterobacter e Proteus mirabilis. O presente estudo tem como objetivo analisar o perfil de resistência antimicrobiana, frente aos tratamentos de escolha na ITU. Trata-se de um estudo transversal, de caráter exploratório e descritivo dos dados coletados, com uma amostra de cinquenta uroculturas positivas com antibiogramas, as quais foram coletadas entre os meses de janeiro e setembro de um laboratório particular de Araguaína-TO. Os resultados demonstraram que, das cinquenta uroculturas positivas com antibiogramas, 94% eram do sexo feminino e 6% do sexo masculino. As infecções urinárias foram causadas, predominantemente, pela Escherichia coli (50%) e Klebsiella pneumoniae (18%), tendo maior resistência a Trimetropim/Sulfametoxazol e Cefuroxima, respectivamente. Portanto, obteve-se resultados que apontaram um perfil de multirresistência bacteriana aos antimicrobianos mais comumente utilizados no tratamento da infecção urinária, além de demonstrarem maiores números de casos entre o sexo feminino na faixa etária superior aos 60 anos.
Palavras-Chave: Antimicrobianos. Infecção Urinaria. Resistência Antimicrobiana.
Urinary Tract Infections (UTIs) are one of the most frequent morbidities in health services. Thus, many antimicrobials are prescribed to combat such diseases, however many of them are used inappropriately, aggravating the mechanisms of bacterial resistance. Among the most prevalent uropathogens are Escherichia Coli, followed by Staphylococcus saprophyticus, Klebsiella pneumoniae, Enterobacter, and Proteus mirabilis. The present study aims to analyze the profile of antimicrobial resistance, compared to the treatments of choice in UTI. This is a cross-sectional, exploratory and descriptive study of the data collected, with a sample of fifty positive urine cultures with antibiograms, which were collected between January and September in a private laboratory in Araguaína-TO. The results showed that, of the fifty positive urine cultures with antibiograms, 94% were female and 6% were male. Urinary infections were predominantly caused by Escherichia coli (50%) and Klebsiella pneumoniae (18%), with greater resistance to Trimethoprim/Sulfamethoxazole and Cefuroxime, respectively. Therefore, results were obtained that pointed to a profile of bacterial multidrug resistance to the most commonly used antimicrobials in the treatment of urinary tract infection, in addition to demonstrating a higher number of cases among females aged over 60 years.
Keywords: Antimicrobial Agents. Urinary Tract Infection. Antimicrobial Resistance.
1. INTRODUÇÃO
As Infecções do Trato Urinário (ITU) são patologias causadas por colonização bacteriana nas estruturas que compõem o sistema urinário, do parênquima renal até a uretra, estando entre as infecções de maior prevalência no mundo. A ITU compreende grande espectro clínico, manifestando-se de maneira assintomática, como a bacteriúria assintomática, até quadros graves, como a pielonefrite aguda complicada. Contudo, alguns fatores implicam em uma maior incidência de tais infecções, os quais variam de fatores anatômicos, como a uretra feminina curta, fatores biológicos, como a modificação do epitélio uretral nas mulheres em período de menopausa, devido a diminuição do estrogênio, fatores genéticos, a exemplo de pacientes não secretores de antígenos do grupo sanguíneo ABO, os quais apresentam cistite recorrente. Por fim, fatores ambientais, como a falta ou excesso de higiene nas regiões genitais [1].
Quanto a epidemiologia, a ITU acomete todas as faixas etárias e em ambos os sexos, sendo responsáveis por pelo menos 150 milhões de casos anualmente em todo o mundo2. Entretanto, ocorrem com maior frequência no sexo masculino com idade de até um ano e no extremo da vida, enquanto no sexo feminino a frequência aumenta com a idade. As infecções agudas não complicadas surgem como episódios de cistite e de pielonefrite, enquanto as complicadas são associadas a uma grande variedade de doenças, causando 5 em cada 100 internações hospitalares, na grande maioria associadas à sondagem vesical de demora. A bacteriúria assintomática ocorre em 1 a 2% dos recém-nascidos, enquanto a frequência total de bacteriúria assintomática em mulheres jovens é de 5%, aumentando 1% a cada década, com acentuações no início da atividade sexual, uso de espermicidas e na gravidez, ao passo que é bem menos frequente entre os homens, nos quais volta a ser mais comum em idosos[1].
Apesar das etiologias das infecções urinárias serem diversificadas, na sua maioria, são de origem bacteriana, com predominância da bactéria Escherichia coli em cerca de 80% a 90% verificando-se, nas infecções hospitalares, espécies de Proteus sp., Pseudomonas sp., Klebsiella sp., Enterobacter sp. e Enterococcus sp. As bactérias devem ser identificadas por meio da realização da urocultura, de provas bioquímicas, além do teste de sensibilidade aos antimicrobianos, que permite melhor direcionamento terapêutico no tratamento desta patologia [3].
O uso indiscriminado e empírico dos antibióticos tem levado ao aparecimento de bactérias multirresistentes, a exemplo da Enterococcus faecalis, Escherichia coli, Staphylococcus aureus, Klebsiella Pneumoniae, as quais têm apresentado 90% de resistência a antibióticos como Ampicilina, Trimetoprima + Sulfametoxazol,
Cotrimoxazol e Cefalotina. O tratamento da ITU é feito com base na prescrição de antibióticos, em sua grande maioria, e por isso é necessário conhecer o tipo de bactéria para tratamento correto e o antibiograma é o método para a indicação do antibiótico apropriado [4].
Desse modo, o objetivo do trabalho foi identificar os agentes etiológicos mais frequentes na infecção do trato urinário e correlacionar a resistência bacteriana com os casos analisados.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
Infecção do Trato Urinário é definida como uma invasão bacteriana em qualquer localidade dos tecidos do trato urinário que vão do início externo da uretra até o córtex dos rins. Além dessa definição, de modo geral, a ITU é comumente caracterizada conforme a contagem de bactérias na urina, que é considerada significante quanto existem 100.000 ou mais unidades formadoras de colônias de bactéria por mililitro de urina [5].
As ITUs podem ser classificadas, primariamente, levando-se em consideração a localização anatômica do acometimento bacteriano, em inferiores – ou baixas – e superiores – ou altas. A ITU inferior(baixa) é aquela em que a infecção se limita à bexiga(cistite), uretra(uretrite) e, em homens, à próstata(prostatite). Já a ITU superior (ou alta) acomete, sobretudo, os rins, causando a pielonefrite, que é uma inflamação que envolve o parênquima renal [5].
Ademais, as ITUs também podem ser divididas clinicamente em Complicadas ou Não Complicadas. A ITU Não-Complicada é caracterizada por uma infecção bacteriana que causa cistite ou uretrite sem disseminação do patógeno para o trato superior, e, por esse motivo, com baixo ou nenhum risco de sequelas ou agravamentos do quadro do paciente. Enquanto que a ITU Complicada apresenta risco maior de sequelas e agravamentos devido ao fato de causarem, na maioria das vezes, comprometimento severo de parênquima – sobretudo renal – e possuírem potencial de desencadear bacteremia e sepse. Além disso, as infecções complicadas geralmente estão associadas a fatores agravantes ou comorbidades, como gravidez, diabetes, imunossupressão ou anormalidades anatômicas do trato urinário [5].
2.1 Manifestações Clínicas
A infecção do trato urinário compreende uma série de entidades clínicas, que podem ser caracterizadas por uma apresentação de bactérias presentes na urina, porém sem sintomas – bacteriúria assintomática – ou com manifestações sintomatológicas presentes, como ocorre na cistite, prostatite e pielonefrite.
As características clínicas das ITU são amplas e podem se apresentar de forma simples ou mais graves. A determinação da forma de manifestação se relaciona com os fatores de virulência do patógeno presente, os fatores imunológicos do hospedeiro, a localização e disseminação da infecção e a associação de complicadores funcionais e anatômicos do trato urinário1. A apresentação mais comum da ITU é a cistite aguda não complicada, que acomete sobretudo mulheres jovens. Nesses casos, o quadro clínico mais comumente observado se constitui de disúria, polaciúria, urgência miccional e dor suprapúbica, com ausência de febre na maioria das vezes. Em contrapartida, a pielonefrite aguda, infecção de localização alta do trato urinário, apresenta um quadro sindrômico mais amplo, cursando, geralmente, com sintomas sistêmicos de infecção, que podem abranger uma febre acima de 38 °C, calafrios, dor em flanco e região lombar, náuseas e vômitos. A disseminação do patógeno para outros tecidos e para corrente sanguínea, associada a debilidades do paciente, pode agravar o quadro da ITU, evoluindo para sinais de síndrome séptica, choque séptico em algumas ocasiões, e insuficiência renal [6].
2.2 Diagnóstico
O diagnóstico da ITU consiste, em grande parte dos casos, na observação da história clínica do paciente, com alto valor preditivo, sobretudo, nos quadros de cistite não complicada, em virtude dos seus sintomas simples e característicos. Pacientes com queixas de disúria e polaciúria, sem corrimento vaginal, apresentam probabilidade de 96% de estarem com cistite não complicada. Se for solicitado, um teste urinário com a presença de fita regente/positiva para nitrito ou estearase leucocitária pode fundamentar a confirmação do diagnóstico. No entanto, é valido ressaltar que o padrão-ouro para o diagnóstico de ITU é a presença de bactérias em uma cultura de urina. A definição do limite para contagem de colônias, que estabelece a quantidade mínima de 100 bactérias/mL possui uma maior sensibilidade e especificidade em relação ao limite mínimo geralmente estabelecido de 100000 /mL para o diagnóstico de cistite aguda. Porém, destaca-se que, para o diagnóstico de bacteriúria assintomática, a quantidade de 100000 bactérias/mL ou mais é requerida [7].
2.3 Tratamento
O tratamento da Infecção do Trato urinário (ITU) compreende a parte primordial da condução dessa patologia, sendo definido conforme um conjunto de estratégias que envolvem diferentes esquemas direcionados para grupos específicos de pacientes, que leva em consideração uma série de fatores como o tipo, a localização da infecção, a idade, o sexo e as condições de saúde. Assim, além dos fatores supracitados, a seleção de um fármaco antimicrobiano e do manejo de sua administração também deve ser singularizada com base em aspectos da história de hipersensibilidade, nos padrões preconizados de prática clínica, na prevalência de resistência na comunidade local, na disponibilidade do medicamento, no custo e nas condicionantes de limitações pessoais do paciente. Para isso, há varias diretrizes básicas que englobam essas recomendações que auxiliam na escolha do tratamento, a fim de maximizar a eficácia dos benefícios terapêuticos, reduzir os custos e atenuar o aparecimento de efeitos adversos [1].
As principais classes de agentes antimicrobianos utilizadas no tratamento da ITU são: Beta-lactâmicos; Sulfonamidas, dentre os quais se destacam o Sulfametoxazol associado ao Trimetoprim (SMZ-TMP); Nitrofurantoína; Fluoroquinolonas; Macrolídeos e Tetraciclinas [5].
O tratamento de cistites não complicadas pode ser feito modo empírico, uma vez que sua apresentação clínica é simples e bem característica, utilizando-se preferencialmente de nitrofurantoína. A dose oral adulta adota é de 50 a 100mg, quatro vezes ao dia, por sete dias. Entretanto, a adoção atual de um esquema terapêutico de apenas 3 dias tem apresentado bons resultados. Ademais, é importante destacar as contraindicações da utilização desse fármaco para os para os seguintes casos: pacientes com insuficiência renal, lactantes em amamentação ativa, gestantes próximas do termo e em recém nascidos. Assim, nas mulheres grávidas que não estão perto do termo, além da nitrofurantoína, os agentes antimicrobianos para bacteriúria assintomática ou ITU sintomática podem ser amoxicilina, amoxicilina-clavulanato e cefalexina. Por fim, alguns indivíduos, principalmente mulheres, podem apresentar episódios recorrentes de ITU, sendo, assim, recomendada a escolha de uma profilaxia com uso de antibióticos. Os esquemas profiláticos utilizados, em grande parte, englobam o uso de sufametoxazol-trimetropim, cefalexina 250mg e nitrofurantoína 110mg [5].
2.4 Mecanismo de resistência bacteriana aos agentes antimicrobianos
A ação dos antimicrobianos consiste, basicamente, na sua seletividade para alvos específicos dos microrganismos procariontes, comprometendo dispositivos que são essenciais para a sobrevivência e/ou reprodução bacteriana. Entre os principais alvos da ação desses fármacos estão as enzimas que sintetizam a parede celular de bactérias, as enzimas que agem na síntese de nucleotídeos, a estrutura do ribossomo bacteriano e o sistema de replicação do DNA [8].
O desenvolvimento de antibióticos cada vez mais eficazes contra a Infecção do Trato Urinário (ITU) tem diminuído drasticamente a morbimortalidade dessa patologia. Por outro lado, o uso inadequado e indiscriminado desses agentes antimicrobianos desencadeou o desenvolvimento de uma série defesas com mecanismos complexos de resistência bacteriana. Assim, esse aparecimento acelerado de organismos uropatogênicos multirresistentes tem se apresentado como uma ameaça à saúde pública em expansão, à medida que alguns desses mecanismos adaptativos ultrapassam a capacidade de abrangência dos fármacos utilizados.
Nesse contexto, existem diferentes mecanismo pelos quais as bactérias podem ser tornar resistentes a ação de um fármaco antimicrobiano. De modo geral, quando um antimicrobiano é administrado em um paciente, os patógenos que apresentam maior sensibilidade a esse fármaco morrerão, porém aqueles que possuem algum dos complexos mecanismo de resistência sobreviverão. Essa é a seleção de microrganismos resistentes. Por conseguinte, as bactérias sobreviventes passam a se multiplicar, transmitindo esse padrão de resistência às gerações posteriores [9].
De início, é importante destacar que alguns tipos de bactérias podem apresentar uma resistência inata e natural a determinado antibiótico. Isso porque esses tipos resistentes podem não possuírem o sítio-alvo específico para o qual ação do medicamento é direcionada. Como exemplo disso, tem-se as bactérias micoplasmas que não dispõem de paredes celulares e, consequentemente, possuem resistência aos antibióticos que agem impedindo a síntese da parede celular. Ademais, outro modo de defesa natural desses microrganismos é por meio de uma estrutura celular ou membrana que barra o acesso ao local de ação interna do antimicrobiano [9].
A produção de uma enzima capaz de destruir ou inativar as substâncias presentes nos antibióticos também é uma forma comum pela qual as bactérias podem ser tornarem resistentes. A síntese dessas enzimas específicas é feita por meio da codificação de genes adquiridos, principalmente, através do processo de conjugação bacteriana, no qual há transferência de material genético (plasmídeo) entre bactérias diferentes – uma doadora e outra receptora. Esse mecanismo de resistência é frequentemente observado contra à penicilina, uma vez que algumas cepas de bactéria adquiriram genes codificadores da produção de penicilinase, que degrada a estrutura química ativa desse fármaco. Em outro processo de resistência adquirido por meio da conjugação, o desenvolvimento de bombas de resistência a múltiplos fármacos ou multirresistentes (MDR) pode tornar a bactéria capaz de se livrar antecipadamente da ação do fármaco. Isso ocorrem em função dessas bombas aturarem por meio de efluxo, que lança para fora as substâncias nocivas [9].
Bactérias membros da família Enterobacteriaceae, incluindo E. coli e K. pneumoniae, têm apresentado um aspecto de atuação enzimática resistente que agem por meio de β-lactamases de espectro estendido (ESBLs). Essas enzimas são codificadas por plasmídeo e têm uma ação extensa contra penicilinas e cefalosporinas. A atividade das ESBLs consiste em quebrar a ligação amida do anel β-lactâmico, o que, consequentemente, inativa o fármaco. Os plasmídeos responsáveis por codificar essas enzimas podem também carregar genes que agem inibindo outras classes de antibióticos, como os aminoglicosídeos, sulfonamidas e quinolonas, gerando, assim, bactérias multirresistentes. Dessa forma, uso frequente de cefalosporinas de maneira inadvertida e o transporte de genes codificadores de ESBL entre esses microrganismos criam um cenário propício para esse recrudescimento da resistência aos antibióticos. Como forma de solucionar esse empecilho, novos antimicrobianos que são resistentes à inativação por ESBLs estão em desenvolvimento para uso em combinação com classes de inibidores de β-lactamases [10].
2.5 Fatores que contribuem para o uso inadequado de antibióticos
Como foi supracitado, o recrudescimento da resistência bacteriana na infecção urinária está diretamente relacionado com o uso inadequado dos antimicrobianos. Com isso, existem alguns fatores que explicam a prevalência desse uso errôneo , tais como: fácil acesso da população a diversas classes de antibióticos mesmo sem indicação médica adequada; dúvidas médicas sobre o diagnóstico que podem levar a prescrição de antibióticos de maneira desnecessária; inabilidade na correta prescrição e/ ou administração dos antimicrobianos conforme sua posologia e classe; ausência de comissões de fiscalização que averiguem o seguimento rigoroso dos protocolos de manejo terapêutico das mais diversas infecções bacterianas e o uso racional de antimicrobianos no âmbito hospitalar[11].
3. METODOLOGIA
Trata-se de um estudo transversal, com registros de uroculturas realizadas entre os meses de janeiro a setembro de 2022 em laboratório de análises clínicas em Araguaína -TO. Como critérios de inclusão foram utilizadas amostras positivas com número de unidades formadoras de colônia superior a 100.000 UFC/ml, com análise do sexo, faixa etária, agente etiológico e resistência aos antimicrobianos.
A presente pesquisa, embora não tenha envolvido diretamente seres humanos e/ou animais, foi submetida ao Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da UNITPAC, por tratar de dados que não são de domínio público, fornecidos pelo laboratório de análises clínicas, mediante termo de anuência assinado pela direção do laboratório. Não foi, portanto, necessária a coleta de termo de consentimento livre e esclarecido.
4. RESULTADOS
Conforme demonstrado na Tabela 1, foram analisadas 50 amostras de uroculturas positivas, um forte indicativo de Infecção do Trato Urinário. Dentre as amostras, foram 47 pacientes do sexo feminino, representando o segmento mais acometido (94%) e 3 pacientes do sexo masculino (6%). Quanto a faixa etária, houve variação no sexo feminino entre 2 a 91 anos, com média de 52,55, mediana de 53, e desvio padrão de 18,92. No sexo masculino houve variação entre 44 a 64 anos, com a média de 51 anos, mediana de 45 e desvio padrão de 9,2. Tais resultados, demostraram que, entre a população feminina, houve uma maior variação de idades em relação a dos homens.
Tabela 1. Estatística descritiva e resultado do teste t da idade segundo sexo dos pacientes.
Fonte: Autoria Própria (2022).
De acordo com os resultados encontrados na Tabela 2, notou-se entre o sexo feminino o predomínio da faixa etária superior a 60 anos, com 29,79% dos casos femininos, representando 24% dos casos totais. Já no sexo masculino, a idade mais cometida foi entre 41 e 50 anos, com 66,66% entre os casos do sexo masculino e 4% do total.
Tabela 2. Distribuição numérica e percentual em relação a faixa etária e o sexo, segundo as ITUs confirmadas por urocultura em laboratório particular de Araguaína-TO.
Fonte: Autoria Própria (2022).
Os principais agentes etiológicos encontrados foram: Escherichia Coli (50%), Klebsiella pneumoniae (18%), Enterobacter aerogenes (8%), além de outros descritos na Tabela 3.
Tabela 3. Distribuição numérica e percentual dos agentes etiológicos causadores de infecção do trato urinário.
Fonte: Autoria Própria (2022).
Para a avaliação do perfil de resistência, foram consideradas 5 espécies bacterianas, e avaliados dez antibióticos que apresentaram resistência antibacteriana no tratamento de ITU (Gráfico 1).
Entre as bactérias avaliadas, percebeu-se que a bactéria Escherichia coli apresentou maior resistência a Trimetropim/Sulfametoxazol (56%) e a Cefalexina (32%), enquanto a Klebsiella pneumoniae foi mais resistente a Cefuroxima (55,55%) e a Ampicilina (33,33%). A Enterobacter aerogenes apresentou maior resistência a Amoxicilina + Clavulonato de potássio (50%) e Eritromicina (%). Por outro lado, Serratia marcescens apresentou 100% de resistência a Amoxicilina + Clavulonato de potássio e a Cefuroxima, e a bactéria Staphylococus sciuri apresentou uma maior resistência a Gentamicina com 66,66%. Tais resultados, mostraram-se de acordo com o esperado, baseando-se na literatura estudada e utilizada para construção do artigo.
Gráfico 1. Frequência relativa da resistência bacteriana aos principais agentes antimicrobianos utilizados no tratamento de infecção do trata urinário no estudo. Fonte: Autoria Própria (2022).
5. DISCUSSÃO
De acordo com Kumar, Abbas e Ester[12], as mulheres apresentam muito mais infecções do trato urinário do que os homens. Essa observação desses autores foi também constatada no presente estudo, no qual os resultados demonstraram que 94% dos casos de ITU diagnosticados foram no sexo feminino. Além disso, houve um predomínio dos casos em mulheres com idades superiores a 60 anos (29,80%), o que evidencia que esse acometimento infeccioso do trato urinário se torna mais comum com o avanço da idade. Dessa forma, todos esses dados encontrados corroboram com as afirmações das literaturas médicas supracitadas no introdutório, que destacam o sexo feminino como grupo de maior prevalência para ITU, em virtude, sobretudo, do fator anatômico/estrutural predisponente de menor comprimento da uretra – que mede cerca de 5 cm – e das alterações biológicas do epitélio uretral no período de de casos conforme avança a idade.
Ademais, outro dado importante obtido neste estudo são os agentes etiológicos encontrados na análise dos resultados das uroculturas, que confirmam o predomínio das bactérias Escherichia coli em grande parte dos casos de ITU. Esses resultados apresentam uma significante consonância com o que fora relatado na literatura de Riella[1], que destaca a preponderância etiológica da E.coli em casos ambulatoriais, seguidas da Klebsiella e Enterobacter em pacientes hospitalizados.
Na análise do perfil de resistência bacteriana aos antimicrobianos comumente utilizados no tratamento da ITU, obteve-se resultados que apresentam a Escherichia coli com maiores resistências ao Trimetropim/Sulfametoxazol (56%) e à Cefalexina (32%), ao passo que a Klebsiella pneumoniae apresentou resistência à Cefuroxima (55,55%) e à Ampicilina (33,33%). Esses resultados ratificam as observações de Flores-Meirelles et. al[10], que apontam que as bactérias membros da família Enterobacteriaceae possuem plasmídeos adquiridos que codificam β-lactamases de espectro estendido (ESBLs), tendo, portanto, o efeito enzimático de desabilitação da ação de betalactâmicos e derivados. A literatura em questão também destaca que a resistência concomitante dessas bactérias às outras classes de antibióticos, sobretudo às cefalosporinas, é explicada pela capacidade desses plasmídeos de ampliarem e diversificarem seus mecanismos, possibilitando, assim, a ocorrência de um padrão de multirresistência.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A infecção do trato urinário é um problema de saúde com elevado número de ocorrências em âmbito hospitalar e ambulatorial. As infecções urinárias foram mais frequentes no sexo feminino na faixa etária acima dos 60 anos. O estudo mostrou que dentre os agentes infecciosos da ITU a bactéria Escherichia coli é a que apresenta maior prevalência, seguida da Klebsiella pneumoniae. Quanto ao perfil de resistência, observa -se alto índice de resistência de Serratia marcescens, frente aos antimicrobianos, seguida por Escherichia coli e Klebsiella pneumoniae.
Verificou – se a presença de bactérias como Serratia marcescens e Staphylococus sciuri, que, por serem resistentes à maioria dos fármacos, representam preocupação especial para os pacientes em condições de deficiência imunológica. O pior desempenho foi atribuído à amoxicilina e ampicilina, graças ao uso irracional que os tornaram inócuos diante das bactérias.
Portanto, é imprescindível que se realize periodicamente estudos epidemiológicos, visto que as informações sobre o aumento da resistência a antibióticos apresentam grandes variações. Assim, esses fatos ratificam a necessidade do uso correto e da realização de testes de sensibilidades para combater infecções bacterianas
7. REFERÊNCIAS
7.1 Artigo de Periódicos
[3] CHAMBÔ, Filho A, Camargo AS, Barbosa FA, Lopes TF, Motta YR. Estudo do perfil de resistência antimicrobiana das infecções urinárias
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[4] KAUFMAN, Jonathan; TEMPLE-SMITH, Meredith; SANCI, Lena. Urinary tract infections in children: an overview of diagnosis and management. BMJ paediatrics open, v. 3, n. 1, 2019.
[10] FLORES-MIRELES, Ana L. et al. Urinary tract infections: epidemiology, mechanisms of infection and treatment options. Nature reviews microbiology, v. 13, n. 5, p. 269-284, 2015.
[11] MOTA, Letícia M. et al. Uso racional de antimicrobianos. Medicina (Ribeirão Preto), v. 43, n. 2, p. 164-172, 2010.
7.2 Livros
[1] RIELLA, Miguel C. Infecção do Trato Urinário. In: ZUNINO, Dalton. Princípios de Nefrologia e Distúrbios Hidroeletrolíticos. 6 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. Cap. 24, p. 439 – 452.
[2] GOLDMAN, L.; AUSIELLO, D. Cecil tratado de medicina interna.23. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. 3458 p.
[5] SCHRIER, Robert W. Paciente com Infecção do Trato Urinário. In: KENDRICK, Jessica B; RELLER, L. Barth; LEVI, Marilyn E. Manual de Nefrologia. 8. ed. Rio de Janeiro: Thieme Revinter, 2017. Cap. 7, p. 125 – 157
[6] JOHNSON, Richard J. Infecções Bacterianas do Trato Urinário. In: HOOTON, Thomas. Nefrologia Clínica. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. Cap 53, p. 622-633.
[7] JAMESON, J L.; FAUCI, Anthony S.; KASPER, Dennis L.; et al. Disúria, infecções do trato urinário, dor vesical e cistite intersticial. In:____.Manual de medicina de Harrison. 20 ed. Porto Alegre: AMGH, 2021.Cap.147, p. 800.
[8] KATZUNG, Bertram G.; VANDERAH, Todd W. Fármacos Quimioterápicos. In:_____. Farmacologia básica e clínica. 15. ed. Porto Alegre: AMGH Editora, 2022, p. 821.
[9] FADER, Robert C. Uso de agentes antimicrobianos para inibir crescimento de patógenos in vivo. In: ______. Burton – Microbiologia para as Ciências da Saúde. 11. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021. Cap. 9, p. 147 – 167.
[12] KUMAR, Vinay; ABBAS, Abul K; ASTER, Jon C. Robbins patologia básica. Rio de Janeiro: GEN | Grupo Editorial Nacional. Publicado pelo selo Editora Guanabara Koogan Ltda., 2021.
1 Centro Universitário Tocantinense Presidente Antônio Carlos – UNITPAC, Araguaína/TO, Brasil. E-mail: eduardoandrefilho8@gmail.com; eduardoromeu11@hotmail.com; laislm@oulook.com; belarminonatanna9@gmail.com; suellentaujiro@hotmail.com; ianglamelo@gmail.com.