PERFIL DE RESISTÊNCIA DE UROPATÓGENOS AOS ANTIMICROBIANOS UTILIZADOS NO TRATAMENTO DA INFECÇÃO URINÁRIA

PROFILE OF RESISTANCE OF UROPATHOGENS TO ANTIMICROBIALS USED IN THE TREATMENT OF URINARY TRACT INFECTION

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7818929


Eduardo André de Leopoldino da Silva Filho1
Eduardo da Silva Romeu1
Lais Lima Montes1
Natanna Belarmino Santos1
Suellen Taujiro Correia Rocha Rodrigues1
Iangla Araújo de Melo Damasceno1


As Infecções do Trato Urinário (ITUs) são uma das morbidades mais frequentes nos serviços de saúde. Desse modo,  muitos antimicrobianos são prescritos no combate a tais enfermidades, no entanto vários deles são utilizados de  maneira inadequada, agravando os mecanismos de resistência bacteriana. Dentre os uropatógenos mais prevalentes,  estão a Escherichia Coli, seguido por Staphylococcus saprophyticus, Klebsiella pneumoniae, Enterobacter e Proteus mirabilis.  O presente estudo tem como objetivo analisar o perfil de resistência antimicrobiana, frente aos tratamentos de escolha  na ITU. Trata-se de um estudo transversal, de caráter exploratório e descritivo dos dados coletados, com uma  amostra de cinquenta uroculturas positivas com antibiogramas, as quais foram coletadas entre os meses de janeiro e  setembro de um laboratório particular de Araguaína-TO. Os resultados demonstraram que, das cinquenta  uroculturas positivas com antibiogramas, 94% eram do sexo feminino e 6% do sexo masculino. As infecções urinárias  foram causadas, predominantemente, pela Escherichia coli (50%) e Klebsiella pneumoniae (18%), tendo maior resistência  a Trimetropim/Sulfametoxazol e Cefuroxima, respectivamente. Portanto, obteve-se resultados que apontaram um  perfil de multirresistência bacteriana aos antimicrobianos mais comumente utilizados no tratamento da infecção  urinária, além de demonstrarem maiores números de casos entre o sexo feminino na faixa etária superior aos 60 anos. 

Palavras-Chave: Antimicrobianos. Infecção Urinaria. Resistência Antimicrobiana. 

Urinary Tract Infections (UTIs) are one of the most frequent morbidities in health services. Thus, many antimicrobials are prescribed to combat such diseases, however many of them are used inappropriately, aggravating the mechanisms of bacterial resistance. Among the most prevalent uropathogens are Escherichia Coli, followed by  Staphylococcus saprophyticus, Klebsiella pneumoniae, Enterobacter, and Proteus mirabilis. The present study aims to analyze the profile of antimicrobial resistance, compared to the treatments of choice in UTI. This is a cross-sectional,  exploratory and descriptive study of the data collected, with a sample of fifty positive urine cultures with antibiograms, which were collected between January and September in a private laboratory in Araguaína-TO. The results showed that, of the fifty positive urine cultures with antibiograms, 94% were female and 6% were male.  Urinary infections were predominantly caused by Escherichia coli (50%) and Klebsiella pneumoniae (18%), with greater resistance to Trimethoprim/Sulfamethoxazole and Cefuroxime, respectively. Therefore, results were obtained that pointed to a profile of bacterial multidrug resistance to the most commonly used antimicrobials in the treatment of  urinary tract infection, in addition to demonstrating a higher number of cases among females aged over 60 years. 

Keywords: Antimicrobial Agents. Urinary Tract Infection. Antimicrobial Resistance. 

1. INTRODUÇÃO  

As Infecções do Trato Urinário (ITU) são  patologias causadas por colonização bacteriana nas  estruturas que compõem o sistema urinário, do  parênquima renal até a uretra, estando entre as  infecções de maior prevalência no mundo. A ITU  compreende grande espectro clínico,  manifestando-se de maneira assintomática, como a  bacteriúria assintomática, até quadros graves,  como a pielonefrite aguda complicada. Contudo,  alguns fatores implicam em uma maior incidência  de tais infecções, os quais variam de fatores  anatômicos, como a uretra feminina curta, fatores  biológicos, como a modificação do epitélio uretral  nas mulheres em período de menopausa, devido a  diminuição do estrogênio, fatores genéticos, a  exemplo de pacientes não secretores de antígenos  do grupo sanguíneo ABO, os quais apresentam  cistite recorrente. Por fim, fatores ambientais, como  a falta ou excesso de higiene nas regiões genitais [1]

Quanto a epidemiologia, a ITU acomete  todas as faixas etárias e em ambos os sexos, sendo  responsáveis por pelo menos 150 milhões de casos  anualmente em todo o mundo2. Entretanto,  ocorrem com maior frequência no sexo masculino  com idade de até um ano e no extremo da vida,  enquanto no sexo feminino a frequência aumenta  com a idade. As infecções agudas não complicadas  surgem como episódios de cistite e de pielonefrite,  enquanto as complicadas são associadas a uma  grande variedade de doenças, causando 5 em cada  100 internações hospitalares, na grande maioria  associadas à sondagem vesical de demora. A  bacteriúria assintomática ocorre em 1 a 2% dos recém-nascidos, enquanto a frequência total de  bacteriúria assintomática em mulheres jovens é de  5%, aumentando 1% a cada década, com  acentuações no início da atividade sexual, uso de  espermicidas e na gravidez, ao passo que é bem  menos frequente entre os homens, nos quais volta  a ser mais comum em idosos[1]

Apesar das etiologias das infecções  urinárias serem diversificadas, na sua maioria, são  de origem bacteriana, com predominância da  bactéria Escherichia coli em cerca de 80% a 90%  verificando-se, nas infecções hospitalares, espécies  de Proteus sp., Pseudomonas sp., Klebsiella sp.Enterobacter sp. e Enterococcus sp. As bactérias devem ser identificadas por meio da realização da  urocultura, de provas bioquímicas, além do teste  de sensibilidade aos antimicrobianos, que permite  melhor direcionamento terapêutico no tratamento  desta patologia [3]

O uso indiscriminado e empírico dos  antibióticos tem levado ao aparecimento de  bactérias multirresistentes, a exemplo da  Enterococcus faecalis, Escherichia coli, Staphylococcus aureus, Klebsiella Pneumoniae, as quais têm  apresentado 90% de resistência a antibióticos como  Ampicilina, Trimetoprima + Sulfametoxazol, 

Cotrimoxazol e Cefalotina. O tratamento da ITU é  feito com base na prescrição de antibióticos, em sua  grande maioria, e por isso é necessário conhecer o  tipo de bactéria para tratamento correto e o  antibiograma é o método para a indicação do  antibiótico apropriado [4].  

Desse modo, o objetivo do trabalho foi  identificar os agentes etiológicos mais frequentes  na infecção do trato urinário e correlacionar a  resistência bacteriana com os casos analisados. 

2. REFERENCIAL TEÓRICO  

Infecção do Trato Urinário é definida como  uma invasão bacteriana em qualquer localidade  dos tecidos do trato urinário que vão do início  externo da uretra até o córtex dos rins. Além dessa  definição, de modo geral, a ITU é comumente  caracterizada conforme a contagem de bactérias na  urina, que é considerada significante quanto  existem 100.000 ou mais unidades formadoras de  colônias de bactéria por mililitro de urina [5]

As ITUs podem ser classificadas,  primariamente, levando-se em consideração a  localização anatômica do acometimento  bacteriano, em inferiores – ou baixas – e superiores  – ou altas. A ITU inferior(baixa) é aquela em que a  infecção se limita à bexiga(cistite), uretra(uretrite)  e, em homens, à próstata(prostatite). Já a ITU  superior (ou alta) acomete, sobretudo, os rins,  causando a pielonefrite, que é uma inflamação que  envolve o parênquima renal [5]

Ademais, as ITUs também podem ser divididas  clinicamente em Complicadas ou Não Complicadas. A ITU Não-Complicada é  caracterizada por uma infecção bacteriana que  causa cistite ou uretrite sem disseminação do  patógeno para o trato superior, e, por esse motivo,  com baixo ou nenhum risco de sequelas ou  agravamentos do quadro do paciente. Enquanto  que a ITU Complicada apresenta risco maior de  sequelas e agravamentos devido ao fato de  causarem, na maioria das vezes, comprometimento  severo de parênquima – sobretudo renal – e  possuírem potencial de desencadear bacteremia e  sepse. Além disso, as infecções complicadas  geralmente estão associadas a fatores agravantes  ou comorbidades, como gravidez, diabetes,  imunossupressão ou anormalidades anatômicas do  trato urinário [5]

2.1 Manifestações Clínicas 

A infecção do trato urinário compreende  uma série de entidades clínicas, que podem ser  caracterizadas por uma apresentação de bactérias  presentes na urina, porém sem sintomas – bacteriúria assintomática – ou com manifestações  sintomatológicas presentes, como ocorre na cistite, prostatite e pielonefrite.  

As características clínicas das ITU são  amplas e podem se apresentar de forma simples ou  mais graves. A determinação da forma de  manifestação se relaciona com os fatores de  virulência do patógeno presente, os fatores  imunológicos do hospedeiro, a localização e  disseminação da infecção e a associação de  complicadores funcionais e anatômicos do trato  urinário1. A apresentação mais comum da ITU é a  cistite aguda não complicada, que acomete  sobretudo mulheres jovens. Nesses casos, o quadro  clínico mais comumente observado se constitui de  disúria, polaciúria, urgência miccional e dor  suprapúbica, com ausência de febre na maioria das  vezes. Em contrapartida, a pielonefrite aguda,  infecção de localização alta do trato urinário,  apresenta um quadro sindrômico mais amplo,  cursando, geralmente, com sintomas sistêmicos de  infecção, que podem abranger uma febre acima de  38 °C, calafrios, dor em flanco e região lombar,  náuseas e vômitos. A disseminação do patógeno  para outros tecidos e para corrente sanguínea,  associada a debilidades do paciente, pode agravar  o quadro da ITU, evoluindo para sinais de síndrome séptica, choque séptico em algumas  ocasiões, e insuficiência renal [6]

2.2 Diagnóstico 

O diagnóstico da ITU consiste, em grande  parte dos casos, na observação da história clínica  do paciente, com alto valor preditivo, sobretudo,  nos quadros de cistite não complicada, em virtude  dos seus sintomas simples e característicos.  Pacientes com queixas de disúria e polaciúria, sem  corrimento vaginal, apresentam probabilidade de  96% de estarem com cistite não complicada. Se for  solicitado, um teste urinário com a presença de fita  regente/positiva para nitrito ou estearase  leucocitária pode fundamentar a confirmação do  diagnóstico. No entanto, é valido ressaltar que o  padrão-ouro para o diagnóstico de ITU é a  presença de bactérias em uma cultura de urina. A  definição do limite para contagem de colônias, que  estabelece a quantidade mínima de 100  bactérias/mL possui uma maior sensibilidade e  especificidade em relação ao limite mínimo  geralmente estabelecido de 100000 /mL para o  diagnóstico de cistite aguda. Porém, destaca-se  que, para o diagnóstico de bacteriúria  assintomática, a quantidade de 100000  bactérias/mL ou mais é requerida [7]

2.3 Tratamento 

O tratamento da Infecção do Trato urinário  (ITU) compreende a parte primordial da condução  dessa patologia, sendo definido conforme um  conjunto de estratégias que envolvem diferentes  esquemas direcionados para grupos específicos de  pacientes, que leva em consideração uma série de  fatores como o tipo, a localização da infecção, a  idade, o sexo e as condições de saúde. Assim, além  dos fatores supracitados, a seleção de um fármaco  antimicrobiano e do manejo de sua administração  também deve ser singularizada com base em  aspectos da história de hipersensibilidade, nos  padrões preconizados de prática clínica, na  prevalência de resistência na comunidade local, na  disponibilidade do medicamento, no custo e nas  condicionantes de limitações pessoais do paciente.  Para isso, há varias diretrizes básicas que englobam  essas recomendações que auxiliam na escolha do tratamento, a fim de maximizar a eficácia dos  benefícios terapêuticos, reduzir os custos e atenuar  o aparecimento de efeitos adversos [1]

As principais classes de agentes  antimicrobianos utilizadas no tratamento da ITU  são: Beta-lactâmicos; Sulfonamidas, dentre os quais  se destacam o Sulfametoxazol associado ao  Trimetoprim (SMZ-TMP); Nitrofurantoína;  Fluoroquinolonas; Macrolídeos e Tetraciclinas [5]

O tratamento de cistites não complicadas  pode ser feito modo empírico, uma vez que sua  apresentação clínica é simples e bem característica,  utilizando-se preferencialmente de  nitrofurantoína. A dose oral adulta adota é de 50 a  100mg, quatro vezes ao dia, por sete dias.  Entretanto, a adoção atual de um esquema  terapêutico de apenas 3 dias tem apresentado bons  resultados. Ademais, é importante destacar as  contraindicações da utilização desse fármaco para  os para os seguintes casos: pacientes com  insuficiência renal, lactantes em amamentação  ativa, gestantes próximas do termo e em recém nascidos. Assim, nas mulheres grávidas que não  estão perto do termo, além da nitrofurantoína, os  agentes antimicrobianos para bacteriúria  assintomática ou ITU sintomática podem ser  amoxicilina, amoxicilina-clavulanato e cefalexina.  Por fim, alguns indivíduos, principalmente  mulheres, podem apresentar episódios recorrentes  de ITU, sendo, assim, recomendada a escolha de  uma profilaxia com uso de antibióticos. Os  esquemas profiláticos utilizados, em grande parte,  englobam o uso de sufametoxazol-trimetropim,  cefalexina 250mg e nitrofurantoína 110mg [5]

2.4 Mecanismo de resistência bacteriana aos  agentes antimicrobianos  

A ação dos antimicrobianos consiste,  basicamente, na sua seletividade para alvos  específicos dos microrganismos procariontes,  comprometendo dispositivos que são essenciais  para a sobrevivência e/ou reprodução bacteriana.  Entre os principais alvos da ação desses fármacos  estão as enzimas que sintetizam a parede celular de  bactérias, as enzimas que agem na síntese de  nucleotídeos, a estrutura do ribossomo bacteriano  e o sistema de replicação do DNA [8]

O desenvolvimento de antibióticos cada  vez mais eficazes contra a Infecção do Trato  Urinário (ITU) tem diminuído drasticamente a  morbimortalidade dessa patologia. Por outro lado,  o uso inadequado e indiscriminado desses agentes  antimicrobianos desencadeou o desenvolvimento  de uma série defesas com mecanismos complexos  de resistência bacteriana. Assim, esse aparecimento  acelerado de organismos uropatogênicos  multirresistentes tem se apresentado como uma  ameaça à saúde pública em expansão, à medida  que alguns desses mecanismos adaptativos  ultrapassam a capacidade de abrangência dos  fármacos utilizados.  

Nesse contexto, existem diferentes  mecanismo pelos quais as bactérias podem ser  tornar resistentes a ação de um fármaco  antimicrobiano. De modo geral, quando um  antimicrobiano é administrado em um paciente, os  patógenos que apresentam maior sensibilidade a  esse fármaco morrerão, porém aqueles que  possuem algum dos complexos mecanismo de  resistência sobreviverão. Essa é a seleção de  microrganismos resistentes. Por conseguinte, as  bactérias sobreviventes passam a se multiplicar,  transmitindo esse padrão de resistência às gerações  posteriores [9]

De início, é importante destacar que alguns  tipos de bactérias podem apresentar uma  resistência inata e natural a determinado  antibiótico. Isso porque esses tipos resistentes  podem não possuírem o sítio-alvo específico para o  qual ação do medicamento é direcionada. Como  exemplo disso, tem-se as bactérias micoplasmas  que não dispõem de paredes celulares e,  consequentemente, possuem resistência aos  antibióticos que agem impedindo a síntese da  parede celular. Ademais, outro modo de defesa  natural desses microrganismos é por meio de uma  estrutura celular ou membrana que barra o acesso  ao local de ação interna do antimicrobiano [9].  

A produção de uma enzima capaz de  destruir ou inativar as substâncias presentes nos  antibióticos também é uma forma comum pela qual  as bactérias podem ser tornarem resistentes. A  síntese dessas enzimas específicas é feita por meio  da codificação de genes adquiridos,  principalmente, através do processo de conjugação  bacteriana, no qual há transferência de material  genético (plasmídeo) entre bactérias diferentes – uma doadora e outra receptora. Esse mecanismo de  resistência é frequentemente observado contra à  penicilina, uma vez que algumas cepas de bactéria  adquiriram genes codificadores da produção de  penicilinase, que degrada a estrutura química ativa  desse fármaco. Em outro processo de resistência  adquirido por meio da conjugação, o  desenvolvimento de bombas de resistência a  múltiplos fármacos ou multirresistentes (MDR)  pode tornar a bactéria capaz de se livrar  antecipadamente da ação do fármaco. Isso ocorrem  em função dessas bombas aturarem por meio de  efluxo, que lança para fora as substâncias nocivas [9].  

Bactérias membros da família  Enterobacteriaceae, incluindo E. coli e K. pneumoniae,  têm apresentado um aspecto de atuação enzimática  resistente que agem por meio de β-lactamases de  espectro estendido (ESBLs). Essas enzimas são  codificadas por plasmídeo e têm uma ação extensa  contra penicilinas e cefalosporinas. A atividade das  ESBLs consiste em quebrar a ligação amida do anel  β-lactâmico, o que, consequentemente, inativa o  fármaco. Os plasmídeos responsáveis por codificar  essas enzimas podem também carregar genes que  agem inibindo outras classes de antibióticos, como  os aminoglicosídeos, sulfonamidas e quinolonas,  gerando, assim, bactérias multirresistentes. Dessa  forma, uso frequente de cefalosporinas de maneira  inadvertida e o transporte de genes codificadores  de ESBL entre esses microrganismos criam um  cenário propício para esse recrudescimento da  resistência aos antibióticos. Como forma de  solucionar esse empecilho, novos antimicrobianos  que são resistentes à inativação por ESBLs estão em  desenvolvimento para uso em combinação com  classes de inibidores de β-lactamases [10].  

2.5 Fatores que contribuem para o uso  inadequado de antibióticos 

Como foi supracitado, o recrudescimento  da resistência bacteriana na infecção urinária está  diretamente relacionado com o uso inadequado  dos antimicrobianos. Com isso, existem alguns  fatores que explicam a prevalência desse uso  errôneo , tais como: fácil acesso da população a diversas classes de antibióticos mesmo sem  indicação médica adequada; dúvidas médicas  sobre o diagnóstico que podem levar a prescrição  de antibióticos de maneira desnecessária;  inabilidade na correta prescrição e/ ou  administração dos antimicrobianos conforme sua  posologia e classe; ausência de comissões de  fiscalização que averiguem o seguimento rigoroso  dos protocolos de manejo terapêutico das mais  diversas infecções bacterianas e o uso racional de  antimicrobianos no âmbito hospitalar[11]

3. METODOLOGIA  

Trata-se de um estudo transversal, com  registros de uroculturas realizadas entre os meses  de janeiro a setembro de 2022 em laboratório de  análises clínicas em Araguaína -TO. Como critérios  de inclusão foram utilizadas amostras positivas  com número de unidades formadoras de colônia  superior a 100.000 UFC/ml, com análise do sexo,  faixa etária, agente etiológico e resistência aos  antimicrobianos. 

A presente pesquisa, embora não tenha  envolvido diretamente seres humanos e/ou  animais, foi submetida ao Comitê de Ética e  Pesquisa (CEP) da UNITPAC, por tratar de dados  que não são de domínio público, fornecidos pelo  laboratório de análises clínicas, mediante termo de  anuência assinado pela direção do laboratório. Não  foi, portanto, necessária a coleta de termo de  consentimento livre e esclarecido. 

4. RESULTADOS  

Conforme demonstrado na Tabela 1, foram  analisadas 50 amostras de uroculturas positivas,  um forte indicativo de Infecção do Trato Urinário.  Dentre as amostras, foram 47 pacientes do sexo  feminino, representando o segmento mais  acometido (94%) e 3 pacientes do sexo masculino  (6%). Quanto a faixa etária, houve variação no sexo  feminino entre 2 a 91 anos, com média de 52,55, mediana de 53, e desvio padrão de 18,92. No sexo  masculino houve variação entre 44 a 64 anos, com  a média de 51 anos, mediana de 45 e desvio padrão  de 9,2. Tais resultados, demostraram que, entre a  população feminina, houve uma maior variação de  idades em relação a dos homens.

Tabela 1. Estatística descritiva e resultado do teste t da idade segundo sexo dos pacientes. 

Fonte: Autoria Própria (2022). 

De acordo com os resultados encontrados  na Tabela 2, notou-se entre o sexo feminino o  predomínio da faixa etária superior a 60 anos, com  29,79% dos casos femininos, representando 24% dos casos totais. Já no sexo masculino, a idade mais  cometida foi entre 41 e 50 anos, com 66,66% entre  os casos do sexo masculino e 4% do total. 

Tabela 2. Distribuição numérica e percentual em relação a faixa etária e o sexo, segundo as ITUs confirmadas por  urocultura em laboratório particular de Araguaína-TO. 

Fonte: Autoria Própria (2022).

Os principais agentes etiológicos  encontrados foram: Escherichia Coli (50%), Klebsiella  pneumoniae (18%), Enterobacter aerogenes (8%), além  de outros descritos na Tabela 3.  

Tabela 3. Distribuição numérica e percentual dos  agentes etiológicos causadores de infecção do trato  urinário. 

Fonte: Autoria Própria (2022). 

Para a avaliação do perfil de resistência,  foram consideradas 5 espécies bacterianas, e  avaliados dez antibióticos que apresentaram  resistência antibacteriana no tratamento de ITU  (Gráfico 1). 

Entre as bactérias avaliadas, percebeu-se  que a bactéria Escherichia coli apresentou maior  resistência a Trimetropim/Sulfametoxazol (56%) e  a Cefalexina (32%), enquanto a Klebsiella  pneumoniae foi mais resistente a Cefuroxima  (55,55%) e a Ampicilina (33,33%). A Enterobacter  aerogenes apresentou maior resistência Amoxicilina + Clavulonato de potássio (50%) e  Eritromicina (%). Por outro lado, Serratia marcescens apresentou 100% de resistência a Amoxicilina +  Clavulonato de potássio e a Cefuroxima, e a  bactéria Staphylococus sciuri apresentou uma maior  resistência a Gentamicina com 66,66%. Tais  resultados, mostraram-se de acordo com o  esperado, baseando-se na literatura estudada e  utilizada para construção do artigo.  

Gráfico 1. Frequência relativa da resistência bacteriana aos principais agentes antimicrobianos utilizados no tratamento de infecção do trata urinário no estudo.  Fonte: Autoria Própria (2022). 

5. DISCUSSÃO 

De acordo com Kumar, Abbas e Ester[12], as  mulheres apresentam muito mais infecções do  trato urinário do que os homens. Essa observação  desses autores foi também constatada no presente  estudo, no qual os resultados demonstraram que  94% dos casos de ITU diagnosticados foram no  sexo feminino. Além disso, houve um predomínio  dos casos em mulheres com idades superiores a 60  anos (29,80%), o que evidencia que esse  acometimento infeccioso do trato urinário se torna  mais comum com o avanço da idade. Dessa forma,  todos esses dados encontrados corroboram com as  afirmações das literaturas médicas supracitadas no  introdutório, que destacam o sexo feminino como  grupo de maior prevalência para ITU, em virtude,  sobretudo, do fator anatômico/estrutural  predisponente de menor comprimento da uretra – que mede cerca de 5 cm – e das alterações biológicas do epitélio uretral no período de de casos conforme avança a idade. 

Ademais, outro dado importante obtido  neste estudo são os agentes etiológicos encontrados  na análise dos resultados das uroculturas, que  confirmam o predomínio das bactérias Escherichia  coli em grande parte dos casos de ITU. Esses  resultados apresentam uma significante  consonância com o que fora relatado na literatura  de Riella[1], que destaca a preponderância  etiológica da E.coli em casos ambulatoriais,  seguidas da Klebsiella e Enterobacter em pacientes  hospitalizados.  

Na análise do perfil de resistência  bacteriana aos antimicrobianos comumente  utilizados no tratamento da ITU, obteve-se  resultados que apresentam a Escherichia coli com  maiores resistências ao  Trimetropim/Sulfametoxazol (56%) e à Cefalexina  (32%), ao passo que a Klebsiella pneumoniae apresentou resistência à Cefuroxima (55,55%) e à Ampicilina (33,33%). Esses resultados ratificam as  observações de Flores-Meirelles et. al[10], que  apontam que as bactérias membros da família Enterobacteriaceae possuem plasmídeos adquiridos  que codificam β-lactamases de espectro estendido  (ESBLs), tendo, portanto, o efeito enzimático de  desabilitação da ação de betalactâmicos e  derivados. A literatura em questão também destaca  que a resistência concomitante dessas bactérias às  outras classes de antibióticos, sobretudo às  cefalosporinas, é explicada pela capacidade desses  plasmídeos de ampliarem e diversificarem seus  mecanismos, possibilitando, assim, a ocorrência de  um padrão de multirresistência. 

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS  

A infecção do trato urinário é um problema de  saúde com elevado número de ocorrências em  âmbito hospitalar e ambulatorial. As infecções  urinárias foram mais frequentes no sexo feminino  na faixa etária acima dos 60 anos. O estudo mostrou  que dentre os agentes infecciosos da ITU a bactéria  Escherichia coli é a que apresenta maior prevalência,  seguida da Klebsiella pneumoniae. Quanto ao perfil  de resistência, observa -se alto índice de resistência  de Serratia marcescens, frente aos antimicrobianos,  seguida por Escherichia coli e Klebsiella pneumoniae

Verificou – se a presença de bactérias como  Serratia marcescens e Staphylococus sciuri, que, por  serem resistentes à maioria dos fármacos,  representam preocupação especial para os  pacientes em condições de deficiência imunológica.  O pior desempenho foi atribuído à amoxicilina e  ampicilina, graças ao uso irracional que os  tornaram inócuos diante das bactérias.  

Portanto, é imprescindível que se realize  periodicamente estudos epidemiológicos, visto que  as informações sobre o aumento da resistência a  antibióticos apresentam grandes variações. Assim,  esses fatos ratificam a necessidade do uso correto e  da realização de testes de sensibilidades para  combater infecções bacterianas 

7. REFERÊNCIAS  

7.1 Artigo de Periódicos 

[3] CHAMBÔ, Filho A, Camargo AS, Barbosa FA,  Lopes TF, Motta YR. Estudo do perfil de  resistência antimicrobiana das infecções urinárias  

em mulheres atendidas em hospital terciário. Rev  Bras Clin Med. 2013;11(2):102-7.  

[4] KAUFMAN, Jonathan; TEMPLE-SMITH,  Meredith; SANCI, Lena. Urinary tract infections in  children: an overview of diagnosis and  management. BMJ paediatrics open, v. 3, n. 1,  2019. 

[10] FLORES-MIRELES, Ana L. et al. Urinary tract  infections: epidemiology, mechanisms of infection  and treatment options. Nature reviews  microbiology, v. 13, n. 5, p. 269-284, 2015. 

[11] MOTA, Letícia M. et al. Uso racional de  antimicrobianos. Medicina (Ribeirão Preto), v. 43,  n. 2, p. 164-172, 2010. 

7.2 Livros 

[1] RIELLA, Miguel C. Infecção do Trato Urinário.  In: ZUNINO, Dalton. Princípios de Nefrologia e  Distúrbios Hidroeletrolíticos. 6 ed. Rio de  Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. Cap. 24, p. 439 – 452.  

[2] GOLDMAN, L.; AUSIELLO, D. Cecil tratado de  medicina interna.23. ed. Rio de Janeiro: Elsevier,  2009. 3458 p. 

[5] SCHRIER, Robert W. Paciente com Infecção do  Trato Urinário. In: KENDRICK, Jessica B;  RELLER, L. Barth; LEVI, Marilyn E. Manual de  Nefrologia. 8. ed. Rio de Janeiro: Thieme Revinter,  2017. Cap. 7, p. 125 – 157 

[6] JOHNSON, Richard J. Infecções Bacterianas do  Trato Urinário. In: HOOTON,  Thomas. Nefrologia Clínica. 5. ed. Rio de Janeiro:  Elsevier, 2016. Cap 53, p. 622-633.  

[7] JAMESON, J L.; FAUCI, Anthony S.; KASPER,  Dennis L.; et al. Disúria, infecções do trato  urinário, dor vesical e cistite intersticial.  In:____.Manual de medicina de Harrison. 20 ed.  Porto Alegre: AMGH, 2021.Cap.147, p. 800.

[8] KATZUNG, Bertram G.; VANDERAH, Todd  W. Fármacos Quimioterápicos. In:_____.  Farmacologia básica e clínica. 15. ed. Porto  Alegre: AMGH Editora, 2022, p. 821.  

[9] FADER, Robert C. Uso de agentes antimicrobianos para inibir crescimento de  patógenos in vivo. In: ______. Burton – Microbiologia para as Ciências da Saúde. 11. ed.  Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021. Cap. 9,  p. 147 – 167.

[12] KUMAR, Vinay; ABBAS, Abul K; ASTER, Jon  C. Robbins patologia básica. Rio de Janeiro: GEN  | Grupo Editorial Nacional. Publicado pelo selo  Editora Guanabara Koogan Ltda., 2021.


1 Centro Universitário Tocantinense Presidente Antônio Carlos – UNITPAC, Araguaína/TO, Brasil. E-mail: eduardoandrefilho8@gmail.com; eduardoromeu11@hotmail.com; laislm@oulook.com; belarminonatanna9@gmail.com;  suellentaujiro@hotmail.com; ianglamelo@gmail.com.