PROFILE OF PRACTITIONERS OF PHYSICAL ACTIVITY AND ITS RELATIONSHIP WITH USE OF NUTRITIONAL SUPPLEMENTS AND FOOD DIVERSITY
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10780952
Mariana Camargo de Almeida1;
Daniele Gonçalves Vieira2;
Luane Aparecida do Amaral3;
Camila Dallazen4;
Professora/Orientadora: Joseane Carla Schabarum.5
RESUMO
O uso de suplementos alimentares é cada vez mais comum entre atletas e praticantes de atividade física, mas não é uma solução para escolhas alimentares incorretas. A alimentação é a base de qualquer abordagem para esportistas e atletas. O presente estudo busca compreender o perfil de praticantes de atividade física e sua relação com o uso de suplementos alimentares nutricionais e a diversidade alimentar. A pesquisa foi realizada em três academias, com auxílio de questionário online contendo quinze perguntas de cunho sociodemográfico, rotina de treinos e uso de suplementação nutricional. Para avaliação da diversidade alimentar utilizou-se o questionário simplificado validados por Sattamini (2019) composto por treze perguntas. Participaram 91 praticantes de atividade física, a maioria do sexo feminino (n=50) e com idade entre 18 e 25 anos, 76,9% faziam uso de algum tipo de suplemento alimentar, com frequência semanal de uso superior a três vezes na semana. Os principais motivos relatados para o uso de suplementação foram o ganho de massa muscular e de força, aumento da disposição e a praticidade do uso. Dentre os pesquisados que utilizam suplementos, a maioria relatou utilizá-lo por recomendação do profissional nutricionista. Os participantes apresentaram boa diversidade alimentar, no entanto, a má diversidade alimentar se sobressaiu em indivíduos com maior nível de escolaridade e renda. Conclui-se que para reduzir o uso indevido de suplementos, é necessário fornecer orientações nutricionais aos praticantes de exercícios físicos, bem como a importância desse uso estar associado a uma boa diversidade alimentar para garantir a saúde e segurança do uso desses produtos.
Palavras-chave: alimentação e nutrição; atividade física; diversidade alimentar; suplementos nutricionais.
ABSTRACT
The use of dietary supplements is increasingly common among athletes and practitioners of physical activity, but it is not a solution for incorrect food choices. Food is the basis of any approach for sportsmen and athletes. This study seeks to understand the profile of physical activity practitioners and its relationship with the use of nutritional food supplements and food diversity. The research was conducted in three gyms, with the aid of an online questionnaire containing seventeen sociodemographic questions, training routine and use of nutritional supplementation. The simplified questionnaire validated by Sattamini (2019) composed of thirteen questions was used to assess food diversity. Participated 91 practitioners of physical activity, most female (n = 50) and aged between 18 and 25 years, 76.9% used some type of food supplement, with weekly frequency of use more than three times a week. The main reasons reported for the use of supplementation were the gain of muscle mass and strength, increased disposition and practicality of use. Among those surveyed who use supplements, most reported using it on the recommendation of the professional nutritionist. Participants showed good food diversity, however, poor food diversity stood out in individuals with higher education and income. It is concluded that to reduce the misuse of supplements, it is necessary to provide nutritional guidance to physical exercise practitioners, as well as the importance of this use be associated with a good food diversity to ensure the health and safety of the use of these products.
Keywords: food and nutrition; physical activity; food diversity; nutritional supplements.
1. INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, a prática de exercícios físicos tem sido adotada por parcela considerável da população brasileira, resultando em um aumento na procura por diferentes tipos de atividades físicas. Ao mesmo tempo, a venda de suplementos alimentares utilizado por praticantes de atividade física registrou um crescimento significativo, tanto impulsionada pela busca por uma melhor aparência física quanto pela busca por um melhor desempenho na atividade praticada (Oliveira e colaboradores, 2018).
As práticas de cuidado, prevenção, tratamento e promoção da saúde em busca de um estilo de vida mais saudável estão se modificando, tendo em vista que elas mudam de acordo com contextos econômicos, políticos, culturais e sociais. A prática de atividade física e hábitos alimentares saudáveis se associam ao processo de saúde-doença e a questões estéticas (Mazza, Dumith, Knuth, 2022).
Dentre os hábitos alimentares, o uso de suplementos alimentares é cada vez mais presente entre indivíduos praticantes de atividade física, porque os suplementos nutricionais são substâncias que servem para complementar o consumo alimentar baseado em alimentos nos casos em que a alimentação é insuficiente ou a dieta requer suplementação, como nas deficiências nutricionais ou em treinamento físico de elevada intensidade (Mazza, Dumith, Knuth, 2022).
Existem diversos tipos de suplementos alimentares, cada um com finalidades específicas diversas. Dentre os suplementos alimentares mais comuns e utilizados, estão os suplementos vitamínicos e minerais, proteicos ou energéticos que são utilizados para suprir possíveis deficiências destes no organismo. Os suplementos vitamínicos e minerais são indicados principalmente para pessoas que não conseguem obter esses nutrientes suficientemente através da alimentação (Mazza, Dumith, Knuth, 2022).
Essas substâncias podem ser benéficas se utilizadas corretamente, porém são facilmente encontradas em mercados, farmácias, internet, entre outros, pois não precisam de indicação clínica realizada por profissionais de saúde para serem adquiridas, podendo qualquer pessoa realizar a sua compra. Vale destacar, que existem limites de uso diário para ser possível uma suplementação segura e sem riscos à saúde, ouso sem orientação adequada pode acarretar riscos e prejuízos a longo prazo, podendo sobrecarregar o fígado e acometer doenças cardiovasculares, neurológicas, problemas renais entre outros (Galvão et al., 2017; Souza, 2017).
A dieta de um praticante de atividade física precisa ser composta preferencialmente por alimentos. Estes alimentos devem oferecer tanto carboidratos complexos quanto carboidratos simples, proteínas de origem animal e vegetal, além de minerais e vitaminas advindos das frutas, verduras, legumes e especiarias ricas em antioxidantes e propriedades anti-inflamatórias, que desempenham um papel importante para saúde humana e na prevenção de danos musculares (Quaresma, 2022).
O uso de suplementos alimentares não é uma solução para escolhas alimentares incorretas e uma alimentação desequilibrada ou inadequada com uma má diversidade alimentar, exceto em situações específicas em que não é possível fazer ajustes na alimentação. Portanto, a alimentação é a base de qualquer abordagem para esportistas e atletas (Larson, Woolf, Burke, 2018).
Nesse sentido, o presente artigo teve por objetivo compreender o perfil de praticantes de atividade física e sua relação com o uso de suplementos alimentares nutricionais e a diversidade alimentar.
2. METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa transversal, exploratória e descritiva, realizada com praticantes de natação, musculação e crossfit em Guarapuava, Centro-Sul, Paraná. Participaram da pesquisa adultos praticantes de natação, musculação e crossfit de três academias, a partir de amostragem aleatória não-probabilística por conveniência.
Essa pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (COMEP) da UNICENTRO, sob o parecer 6.185.224, respeitando os critérios éticos contidos nas Resoluções CNS 510/2016 e a CNS 466/2012.
Os dados foram coletados através da plataforma online Google Forms®, através de um questionário semiestruturado. O convite para aderir à pesquisa foi divulgado a todo o público-alvo pelas pesquisadoras e os responsáveis das academias, com o link do questionário online de pesquisa, via redes sociais (grupos de WhatsApp das academias e Instagram). As pesquisadoras priorizaram a discrição e o respeito à privacidade dos voluntários em todas as etapas da pesquisa e estiveram de acordo com as normas e resoluções do Sistema CEP/Conep.
O Termo de Compromisso Livre e Esclarecido (TCLE), foi apresentado ao início do questionário e o respondente teve acesso às perguntas apenas após o aceite em participar da pesquisa, onde o pesquisado também confirmou ser maior de 18 anos de idade e obteve acesso a sua versão do TCLE. O não aceite em participar da pesquisa, ou possuir idade menor que 18 anos, encerrava automaticamente sua participação. Foram excluídos do estudo, gestantes e aqueles que não responderam cem por cento do questionário.
O questionário contou com 15 perguntas, quatro de cunho sociodemográfico: sexo (masculino ou feminino), idade (em anos), escolaridade (superior completo ou superior incompleto), renda (menor ou maior que dois salários-mínimos) e 11 perguntas específicas sobre a rotina de treino (frequência de atividade física, atividade física extra, tempo de prática da atividade física, duração do treino) e o consumo de suplementos nutricionais (tipo, objetivo de consumo, frequência de uso, indicação recebida). Para avaliação da diversidade alimentar foi utilizado o questionário simplificado, validado por Sattamini (2019), composto por 13 perguntas sobre consumo de alimentos in natura, minimamente processados e processados do dia anterior. Como ponto de corte para boa diversidade alimentar foi considerado consumo de alimentos in natura e minimamente processados ≥ 5 alimentos desses grupos (Sattamini, 2019). Nenhuma informação ou identificação pessoal dos voluntários foi divulgada.
A análise dos dados foi realizada visando a análise descritiva, frequências absolutas (n) e relativas (%), e a relação entre variáveis da diversidade alimentar com a modalidade esportiva por meio de análise inferencial.
A análise dos fatores associados ao desfecho foi realizada por meio de regressão de Poisson com variância robusta. Foi considerado como variável dependente a diversidade da dieta e como variáveis independentes: sexo, escolaridade, idade, renda, utilização de suplementos alimentares, tempo e frequência do uso dos suplementos e diversidade alimentar dependente. As variáveis que apresentaram o nível de significância p < 0,20 foram para a análise de regressão múltipla de Poisson. Foram apresentados valores de razão de prevalências (RP) e seus respectivos intervalos com 95% de confiança (IC95%). A associação entre o fator de estudo e o desfecho foi considerada significativa quando p < 0,05. Todas as análises dos dados foram realizadas no programa IBM SPSS 25.0 (IBM Corp., Armonk, Estados Unidos).
3. RESULTADOS
O estudo contou com a participação de 91 praticantes de atividade física, 14,3% de natação, 41,8% musculação e 44% de crossfit. Na tabela 1 é possível observar que os participantes foram predominantemente do sexo feminino (54,9%) e com idade entre 18 a 25 anos (39,6%). No que se refere à escolaridade e renda, a maioria relatou ter cursado o ensino superior completo e possuir renda superior a dois salários mínimos.
A maior parte dos participantes (76,9%) tinham como frequência de atividade física quatro vezes ou mais na semana, com tempo de duração do treino superior a 1 hora por dia (61,5%). Não obstante, 37,4% praticavam atividade física há mais de três anos. Quanto ao uso de suplementos nutricionais, 76,9%, faziam uso de algum tipo com frequência semanal superior a três vezes (63,7%) (Tabela 2).
Quando questionados sobre os objetivos da prática de atividade física, as respostas foram relacionadas à saúde (48,4%) e outros relacionados à estética, hobby ou lazer (51,6%). Os principais motivos relatados para o uso de suplementação foram para ganho de massa muscular e de força, aumento da disposição e a praticidade do uso. Dentre os suplementos utilizados citados pelos participantes estavam a creatina (68,8%), o whey protein (53,8%), as bebidas isotônicas (23,7%), BCAA (10,8%), hipercalórico (7,5%) e a glutamina (4,3%).
Em relação à indicação do uso de suplementos nutricionais, constatou-se que 42,9% foi realizada por profissional nutricionista e 16,5% relataram não receber prescrição ou indicação. Além disso, outros 9,9% tiveram indicação de amigos ou familiares, 6,6% por profissionais de educação física e 3,3% foram influenciados por mídias sociais.
A boa diversidade alimentar se sobressaiu, isso evidencia que no dia anterior à pesquisa a maioria dos participantes, 74,7%, consumiram cinco ou mais grupos alimentares in natura e minimamente processados (Tabela 3).
Após a análise ajustada, mantiveram-se associadas ao desfecho, diversidade alimentar, a escolaridade (p=0,013) e a quantidade de vezes na semana que o indivíduo habitualmente pratica atividade física (p=0,049) (Tabela 4).
A prevalência de má diversidade alimentar entre os indivíduos que tinham formação no ensino superior/formação acadêmica foi 3,42 vezes a prevalência de pouco/baixa/má diversidade alimentar em indivíduos que tinham menor nível de escolaridade/sem formação acadêmica (ou que estudaram até o ensino superior incompleto) (Tabela 4).
A prevalência da má diversidade alimentar foi 49% menor em indivíduos que praticavam atividade física 4 vezes ou mais na semana em relação aos indivíduos que praticavam atividade física até 3 vezes na semana (Tabela 4).
4. DISCUSSÃO
No presente estudo a maioria dos praticantes de atividade física eram do sexo feminino. Um estudo realizado por Cardoso, Vargas e Lopes (2017), buscou evidenciar a prevalência de consumo de suplementos alimentares por indivíduos em academias e o número de participantes foi semelhante ao do presente estudo, sendo 100 pesquisados, entretanto sua maioria de participantes eram do sexo masculino. A busca por algum tipo de atividade física pelo público feminino vem crescendo a cada dia, os objetivos mais procurados referem-se a saúde, qualidade de vida e estética (Araújo, Fortes, 2023).
A faixa etária predominante dos participantes do presente estudo e o de Cardoso, Vargas e Lopes (2017) foi de 18 a 25 anos. Não obstante, dados recentes da Vigilância de Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico – VIGITEL (2023) evidenciou que a faixa etária jovem, especialmente indivíduos entre 18 e 24 anos e com maior grau de escolaridade, é mais ativa no que se refere à prática de atividade física (BRASIL, 2023).
Ademais, em ambos os estudos, da presente pesquisa e de Cardoso, Vargas e Lopes (2017), o nível de escolaridade predominante dos praticantes de atividade física foi ensino superior completo e aqueles com renda mensal acima de dois salários-mínimos. Indivíduos com maior escolaridade e renda tendem a estarem mais ativos e isso pode ser explicado pelo fato de que essas pessoas possuem mais acesso a espaços que oportunizam o envolvimento em exercícios físicos, mais tempo disponível e vivências mais favoráveis à adoção de modos de vida saudáveis (Botelho e colaboradores, 2021).
Os principais objetivos relacionados à prática de atividade física foram saúde e outros relacionados à estética, hobby ou lazer, a pesquisa de Cardoso, Vargas e Lopes (2017), encontrou resultados semelhantes, hipertrofia e qualidade de vida juntos somaram 63,8%, seguido de saúde 36,2%. Diversos motivos levam os indivíduos a procurarem uma melhor qualidade de vida e saúde através da prática de atividade física, dentre eles estão a prevenção de doenças, o bem-estar mental e um envelhecimento saudável. Evidencia-se também os motivos estéticos que são influenciados e propagados grande parte pelas mídias sociais (Fermino, Pezzini, Reis, 2010).
No que diz respeito ao uso de suplementos alimentares, ambos os estudos tiveram resultados similares, no estudo de Cardoso, Vargas e Lopes (2017), a maioria relatou utilizar ou que já havia utilizado suplementos alimentares (65%), e no presente estudo 76,9% relatou utilizar. Os principais motivos relatados para o uso de suplementação foram para ganho de massa muscular e de força, aumento da disposição e a praticidade do uso. O estudo de Vieira (2022), encontrou resultados semelhantes no que se refere aos objetivos quando se trata do consumo de tais substâncias, sendo que a maioria dos indivíduos (72,5%) buscava o aumento de massa muscular (hipertrofia). Entretanto, diferente dos achados do presente estudo, no de Vieira (2022), a maior parte dos pesquisados não utilizavam suplementação nutricional.
Em outras pesquisas (Maioli, 2012; Fernandes, Machado, 2016; Rebouças, Mendonça, 2022) que buscavam evidenciar o uso de suplementação em praticantes de atividade física, a maior parte da amostra utilizava suplementos nutricionais, e quando indagados sobre os principais motivos relacionados ao consumo dessas substâncias, o ganho de massa muscular e de força se sobressaiu assim como na presente pesquisa. Observa-se que esses estudos foram realizados em diferentes anos, com grande intervalo de tempo entre eles, e o consumo de suplementos nutricionais continua sendo crescente por esse público.
Ademais, muitas vezes o imediatismo por resultados com a prática de exercícios físicos associados à alimentação, leva muitos indivíduos a buscar outros meios para alcançar os objetivos esperados, como o uso de suplementos nutricionais, quais podem ser benéficos desde que utilizados de acordo com a necessidade de cada indivíduo e com a orientação de um profissional capacitado. Se utilizados em quantidades inadequadas ou de forma incorreta podem provocar uma sobrecarga dos órgãos responsáveis pelo metabolismo, podendo ocasionar doenças e a falência desses órgãos, de acordo com a quantidade e maneira qual foi administrada (Galvão e colaboradores, 2017). A indústria nacional de suplementos alimentares tem crescido rapidamente e muitas vezes o consumidor não analisa o custo-benefício referente a compra de suplementos nutricionais, outro fator a se pensar em relação a aquisição dessas substâncias é o valor empregado a elas, pois muitas vezes são elevados (Arevalo, Sanches, 2022)
Os suplementos proteicos se sobressaíram no que concerne aos mais utilizados pelos praticantes de atividade física sendo Creatina e Whey Protein. Esses suplementos são geralmente utilizados por atletas e praticantes de atividades físicas. Eles têm, portanto, como finalidade fornecer nutrientes, substâncias bioativas, enzimas ou probióticos em complemento à alimentação e hábitos de vida saudáveis, seu uso visa atender condições metabólicas e fisiológicas individualizadas. Eles podem ser encontrados em diferentes formas, como cápsulas, comprimidos, pós e líquidos (Mazza, Dumith, Knuth.,2022).
Todavia, o uso inapropriado e sem orientação adequada de tais produtos por praticantes de atividade física é um grande problema relatado na literatura. O estudo de Mazza, Dumith, Knuth (2022) concluiu que a maioria dos participantes não iniciou seu uso por indicação de um profissional capacitado, somente 34%, relataram o realizar por indicação e assistência de nutricionista. Ademais, vale ressaltar que a prescrição de dietas e de suplementação deve ser realizada por um profissional nutricionista, pois este é capaz de analisar com exatidão as necessidades nutricionais de cada indivíduo, o que é corroborado pela legislação de regência Lei Federal nº 8234/1991, que regulamenta a profissão de nutricionista, em seu artigo 4º, inciso VII (BRASIL, 1991).
Por conseguinte, o referido estudo encontrou achados divergentes aos demais, citados anteriormente, no que concerne à indicação para uso de tais substâncias, pois 42,9% dos pesquisados fazem uso de acordo com prescrição e indicação nutricional. As demais respostas, como indicação de amigos ou familiares, profissionais de educação física, mídias sociais ou que não receberam indicação alguma, juntos totalizaram 36,3% da amostra.
Dessa maneira pode-se compreender que a maior parte dos pesquisados que utilizam suplementos alimentares nutricionais, receberam as devidas orientações de profissional capacitado para tal, sugerindo que foram consideradas as reais necessidades e quantidades de consumo. O presente achado pode evidenciar que as pessoas estão mais conscientes em relação ao uso de suplementação e a importância do profissional nutricionista para os cuidados com a alimentação e nutrição.
Apesar da amostra estudada apresentar de maneira geral boa diversidade alimentar, observa-se que a má diversidade se sobressai em indivíduos com ensino superior completo e maior renda. Esses achados seguem as tendências nacionais reveladas na última Pesquisa de Orçamentos Familiares – POF (2018) e o VIGITEL (2023). A POF divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizada no ano de 2018, mostra que famílias com renda até R$ 1908,00 consomem mais alimentos in natura e minimamente processados como cereais e leguminosas, cocos castanhas e nozes, pescados e féculas se comparados com a população de maior renda acima do indicado. A relação inversa pode ser observada quando se trata de alimentos ultraprocessados. Com isso, pode-se perceber que as pessoas de menor renda, possivelmente por terem uma disponibilidade menor de recursos, possuem uma alimentação mais básica, com alimentos básicos do tipo in natura ou minimamente processados, que inclusive possuem uma qualidade nutricional melhor para saúde quando comparados aos ultraprocessados (BRASIL, 2014).
É importante observar que esses achados são reforçados pelo VIGITEL (2023), pois seus resultados se assemelham a última POF (2018) no que se refere ao consumo de arroz e feijão, por exemplo, em ambos os sexos, o consumo de feijão em cinco ou mais dias da semana diminui com o aumento da escolaridade. No entanto, o consumo de frutas e hortaliças tende a aumentar em indivíduos com maior escolaridade (BRASIL, 2023).
Outro fator que pode contribuir com a má diversidade alimentar é o consumo de alimentos ultraprocessados, de acordo com o VIGITEL (2023) o percentual de adultos ≥18 anos que consumiram cinco ou mais grupos de alimentos ultraprocessados no dia anterior à entrevista, foi menor entre indivíduos com menor escolaridade e maior entre indivíduos com maior grau de escolaridade (BRASIL, 2023). Com isso pode-se compreender os resultados evidenciados no referido estudo, sugerindo que talvez os indivíduos que possuem menor diversidade alimentar dão preferência ao consumo de ultraprocessados.
Alimentos ultraprocessados são formulações industriais feitas através de substâncias extraídas de alimentos, derivadas de constituintes de alimentos ou sintetizadas em laboratório com base em matérias orgânicas. Na maioria das vezes possuem cinco ou mais ingredientes e podem conter nomes pouco conhecidos, como gordura vegetal hidrogenada, óleos interesterificados, xarope de frutose, espessante, emulsificante, corante, aromatizante e realçador de sabor, entre outros (BRASIL, 2014).
Insta salientar que suplementos nutricionais são classificados como alimentos ultraprocessados de acordo com sua composição, mas muitas vezes acabam sendo comercializados como alimentos naturais, light, fitness etc. No entanto, levando em consideração a praticidade do consumo desses alimentos, eles acabam sendo consumidos por grande parte do público que pratica atividade física, como visto no presente estudo. Mas vale ressaltar que qualquer alimento ultraprocessados deve ter seu consumo evitados de acordo com as recomendações nutricionais atuais, inclusive os suplementos nutricionais. Estes podem ser aliados à uma alimentação saudável, desde que utilizados de acordo com as necessidades e nas quantidades adequadas e individualizadas, com o acompanhamento correto por profissional competente, mas uma alimentação saudável deve conter prioritariamente alimentos in natura e minimamente processados.
5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observou-se que a maioria dos indivíduos praticantes de atividade física estavam na faixa etária de 18 a 25 anos, com nível de escolaridade de ensino superior completo, faziam uso de suplementos alimentares (com principal indicação feita por nutricionista) e apresentavam boa diversidade alimentar. Evidenciou-se que a má diversidade alimentar é maior em indivíduos com maior nível de escolaridade e renda.
Do ponto de vista nutricional, é necessário realizar mais estudos sobre a eficácia desses produtos e os possíveis perigos quando utilizados de maneira errônea, bem como sua indicação e/ou orientação para o uso. Mudanças são requeridas para que os suplementos sejam vendidos em estabelecimentos especializados e com orientações nutricionais adaptadas a cada indivíduo, responsabilidade legalmente atribuída aos nutricionistas.
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1Universidade Estadual do Centro Oeste (UNICENTRO), Guarapuava – PR, Brasil.
e-mail: marianacamargo26122001@gmail.com;
2Universidade Estadual do Centro Oeste (UNICENTRO), Guarapuava – PR, Brasil. e-mail: dgvieira@unicentro.br;
3Universidade Estadual do Centro Oeste (UNICENTRO), Guarapuava – PR, Brasil.
e-mail: luaneapamaral@gmail.com;
4Universidade Estadual do Centro Oeste (UNICENTRO), Guarapuava – PR, Brasil. e-mail: cdallazen@unicentro.br;
5Universidade Estadual do Centro Oeste (UNICENTRO), Guarapuava – PR, Brasil.
e-mail: joseanecarla@unicentro.br