PERFIL DE PACIENTES COM LEISHMANIOSE TEGUMENTAR E VISCERAL NO BRASIL: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10359616


Leude Sandra Barros Gomes Cardoso
Orientadora: Profa. Dra Vanessa Romano Uchoa.


RESUMO

Tendo em vista que a Leishmaniose é uma doença epidemiológica grave que não pode ser menosprezada, esse estudo pretende analisar comparativamente, o perfil epidemiológico nacional, dos pacientes diagnosticados com Leishmaniose Visceral (LV) e Tegumentar (LTA), nos últimos dez anos. Trata-se de um estudo literário de revisão integrativa, cuja a busca ocorreu nas bases de dados SCIELO, MEDLINE e LILACS. Essa revisão mostrou que nos últimos dez anos houve uma maior proporção de publicações abordando a LV (n=10/ 66,6%) do que LTA (n=05/ 33,3%). A região com a maior ocorrência de casos de ambas as Leishmanioses foi o Nordeste (n=08/53,3%), especificamente nos Estados do Ceará (n=02/ 13,3%), Alagoas (n=02/ 13,3%), Maranhão (n=01/ 06,6%), Pernambuco (n=01/ 06,6%), Piauí (n=01/ 06,6%) e Paraíba (n=01/ 06,6%). Dos 10 (66,6%) casos de LV encontrados 46,6% (n=07) ocorreram com crianças e jovens na faixa etária de 0 a 19 anos, todos do sexo masculino (n=10/ 66,6%), raça branca e parda (n=01/ 06,6% respectivamente), com ensino fundamental incompleto (n=03/ 20,0%), residentes da zona urbana (n=06/ 40,0%).Já nos casos de LTA, houve algumas similaridades, especialmente no quesito sexo (predominância de homens – n=05/ 33,3%), escolaridade (ensino fundamental incompleto – n=03/20,0%), cor e raça (parda – n=02/13,3%). A idade foi a única variável diferente: a maioria com faixa etária de 20 a 59 anos (n=05/ 33,3). Esta pesquisa torna-se relevante para construção de novos dados, destacando a importância da notificação compulsória, colaborando para o aperfeiçoamento dos padrões de qualidade do cuidado em saúde.

Palavras-chave: Leishmaniose visceral. Leishmaniose tegumentar. Perfil clínico-epidemiológico.

ABSTRACT

Considering that Leishmaniasis is a serious epidemiological disease that cannot be underestimated, this study intends to comparatively analyze the national epidemiological profile of patients diagnosed with Visceral (VL) and Tegumentary Leishmaniasis (LTA) in the last ten years. This is a literary study of integrative review, the search for which took place in the SCIELO, MEDLINE and LILACS databases. This review showed that in the last ten years there was a greater proportion of publications addressing VL (n=10/ 66.6%) than LTA (n=05/ 33.3%). The region with the highest occurrence of cases of both Leishmaniasis was the Northeast (n=08/53.3%), specifically in the States of Ceará (n=02/ 13.3%), Alagoas (n=02/ 13, 3%), Maranhão (n=01/ 06.6%), Pernambuco (n=01/ 06.6%), Piauí (n=01/ 06.6%) and Paraíba (n=01/ 06.6%). Of the 10 (66.6%) cases of VL found, 46.6% (n=07) occurred in children and young people aged 0 to 19 years, all male (n=10/ 66.6%), white and mixed race (n=01/ 06.6% respectively), with incomplete primary education (n=03/ 20.0%), urban area residents (n=06/ 40.0%). In the cases of LTA, there were some similarities, especially in terms of gender (predominance of men – n=05/33.3%), education (incomplete elementary school – n=03/20.0%), color and race (brown – n=02/13.3%). Age was the only different variable: the majority were aged between 20 and 59 years (n=05/ 33.3). This research becomes relevant for the construction of new data, highlighting the importance of compulsory notification, contributing to the improvement health care quality standards.

Keywords: Visceral leishmaniasis. Cutaneous leishmaniasis. Clinical-epidemiological profile.

1 INTRODUÇÃO

A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera a doença parasitária Leishmaniose, uma das cinco patologias infecto-parasitárias endêmicas de suma importância, reputada como um sério problema de saúde pública mundial, com ampla distribuição nas Américas. Estima-se que 350 milhões de indivíduos estejam expostas ao risco, com registro anual aproximadamente de dois milhões de novos casos da doença em suas diferentes formas clínicas.1

É importante destacar que existem dois tipos de Leishmaniose: a tegumentar americana (LTA) / cutânea; e a visceral (LV) / calazar.2 A primeira apresenta baixa mortalidade, possuindo ampla distribuição mundial, especialmente no Brasil, e merece bastante atenção devido aos riscos de ocorrência de deformidades que pode produzir nos doentes afetados. A LV por outro lado, está entre as 6 endemias prioritárias mundiais, apresentando em humanos altas taxas de letalidade (até 90% dos casos), se não for devidamente tratada. 3, 4

O agente transmissor de ambas as Leishmanioses é o mosquito Lutzomyia longipalpis (conhecido como mosquito-palha). No entanto, existe um fator essencial para a diferenciação de suas formas clínicas: as espécies do microrganismo. No caso da LV, temos a Leishmania chagasi, e se tratando da LTA, existem três protozoários distintos: (1) a Leishmania guyanensis (aparentemente limitada a Região Norte); (2) a Leishmania amazonenses (presentes na região amazônica, mas também pode expandir-se para as demais regiões), e (3) a Leishmania braziliensis (sendo essa espécie a mais importante, não somente no Brasil, mais em toda a América Latina).5,6

No Brasil, as duas formas da doença podem acometer indivíduos de qualquer idade, especialmente crianças com idade inferior a 10 anos, residentes em áreas endêmicas. Alguns roedores, canídeos, equinos, entre outros, podem servir de reservatório para os protozoários parasitas. Outra curiosidade, diz respeito às diferenciações dos padrões epidemiológicos para sua ocorrência, enquanto as maiores taxas de incidências de LTA ocorrem nas regiões Nordeste e Centro-Oeste, os padrões de transmissão do calazar, são mais propensos em regiões periurbanas, pois o cão é a principal fonte de transmissão.3,4,5,6

O diagnóstico da LTA abrange três características individuais: (1) aspectos epidemiológicos, para a averiguação dos casos confirmados na região e a existência de reservatórios próximos; (2) aspectos clínicos, realizado através da anamnese médica onde será averiguado a presença de lesões e suas particularidades; e (3) aspectos laboratoriais, subdivididos em pesquisa parasitológica (identificação direta do parasita), isolamento in vivo / isolamento em cultivo in vitro, e diagnósticos imunológicos (realização de testes sorológicos, exames moleculares e a intradermorreação de Montenegro – IDRM). 7

No caso do diagnóstico da LV, existe no Brasil, uma variedade de métodos de alta especificidade e sensibilidade, todos autorizados e recomendados pelo Ministério da Saúde (MS), são eles: (1) teste de ELISA que é confirmatório (Kit EIE Leishmaniose Visceral Canina – Biomanguinhos); e (2) teste de triagem, o Imunocromatográfico DPP (Dual Path Plataform, Biomanguinhos). 8

Sobre os tratamentos das Leishmanioses, o da LTA pode ser realizado tanto pela aplicação diária de 40 fármacos antimoniais pentavalentes, fornecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS); quanto pela escolha dos medicamentos Pentamidina, Anfotericina B, Imunoterapias com Interferon e a Aminosidina. 9 Já no caso da LV, o seu tratamento pode ser feito com o antimoniato de N-metil glucamina, com reserva da anfotericina B, de preferência para as formulações lipossomais. 10

No que se refere aos fatores de risco, o da LTA incluem baixo desenvolvimento socioeconômico, reservatório dos vetores e a implantação ineficiente de certos programas, como a educação sanitária da população, monitoramento entomológico e subnotificação dos casos. 11 No caso da LV, diz respeito a existência de fatores peridomiciliares e ambientais, pois estimulam a ocorrência dos vetores e seus reservatórios, dentre eles temos: tipo de vegetação, cursos d’água, altitude, presença de cachorros doméstico, plantações e monoculturas de café ou banana etc.12

No contexto mundial, o estimado pela OMS é a ocorrência de cerca de 1 milhão de casos de leishmaniose anualmente, sendo que destes, 20 mil resultam em óbito. De acordo com dados do MS, entre os anos de 2011 e 2020 foram confirmados em todas as regiões brasileiras, mais de 33 mil casos dessa patologia, com uma média de 3,3 mil por ano 13. Por esta razão esta pesquisa foi elaborada, pois apesar das diferenciações específicas em torno das duas formas da doença, a realidade estatística nos mostra que essa endemia está expandindo-se exponencialmente entre os Estados nacionais. 3, 4

Mediante a tudo que fora apresentado, o seguinte questionamento foi gerado: “Quais os padrões atuais a respeito da LTA e LV (perfil dos pacientes), podem ser utilizados para traçar as melhores estratégias para o manejo dessa endemia?”:

Assim, tendo em vista que a Leishmaniose é uma doença epidemiológica grave que não pode ser menosprezada, esse estudo pretende analisar comparativamente, por meio de uma revisão integrativa, o perfil epidemiológico nacional, dos pacientes diagnosticados com LV e LTA, nos últimos dez anos, com o propósito de contribuir para a melhoria das informações disponibilizadas sobre essa doença no Brasil.

2 METODOLOGIA

Trata-se de um estudo literário de revisão integrativa, exploratória descritiva, onde permitiu-se analisar os diversos estudos publicados online, relativos a temática selecionada: “O perfil epidemiológico dos pacientes diagnosticados com LV e LTA no Estado do Maranhão entre os anos de 2013 a 2023”.

O levantamento literário deste estudo foi realizado através de pesquisas em base de dados Scientific Eletronic Library Online (Scielo), Medical Literature Analysis and Retrievel System Online (MEDLINE) e Literatura Latino-Americana em ciências da saúde (LILACS), no período de três meses (setembro a novembro de 2023), utilizando os seguintes Descritores em Ciências da Saúde (DECs): Leishmaniose, Perfil epidemiológico, Brasil. O marcador booleano utilizado em cada cruzamento foi o AND (Quadro 1).

Quadro 1: Resultados obtidos das combinações dos descritores nas bases de dados selecionadas.

Fonte: Autoras (2023).

Para a seleção dos materiais aplicou-se critérios de inclusão e exclusão. Todo artigo encontrado online, nas bases de dados descritas anteriormente, publicados entre os anos de 2013 a 2023, nos idiomas português e inglês, abordando o tema proposto, foi previamente selecionado. Entretanto, toda monografia, dissertação, tese, artigo incompleto, duplicado e resumos estendidos, que fugisse do objetivo ou da pergunta norteadora, que não continham no título os termos Leishmaniose e Brasil, publicados no período inferior ao estipulado (antes de 2013), em qualquer outro idioma não mencionado anteriormente, foram descartados.

A partir da pergunta norteadora, foram realizadas leituras criteriosas para a definição das informações a serem extraídas dos materiais online. Esses ao serem escolhidos, foram previamente lidos (primeiramente o título, seguido do resumo e em seguida o material completo), e os artigos que se adequavam aos critérios de inclusão, foram avaliados na integra, e os seus resultados interpretados e expostos em forma de texto, quadros, tabelas e fluxograma.

Nesta revisão integrativa foram levantados cento e um (101) publicações, sendo reduzida para vinte e dois (22) após os critérios de inclusão e exclusão estabelecidos durante a seleção. Em seguida foi realizada uma análise crítica totalizando um final de quinze (15) artigos que foram organizadas em um fluxograma (Imagem 1).

Imagem 1: Descrição do processo de seleção dos artigos presentes nesta revisão integrativa

Fonte: Autoras (2023).

03 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O quadro 2 consta a sumarização dos artigos selecionados, de acordo com o ano, bases de dados, autores, título, metodologia, Leishmaniose encontrada, Estado brasileiro no qual a pesquisa foi realizada e os resultados obtidos. Nessa conjuntura, 66,6% (n=10) desses materiais foram encontrados no LILACS e 33,3% (n=05) na SCIELO.

Sobre o período de publicação, a maioria corresponde ao ano de 2014 (n=03/ 20,0%), 2021 (n=03/ 20,0%) e 2023 (n=03/ 20,0%). E a respeito dos tipos de estudo houve uma vasta diversificação: estudo epidemiológico (n=04/ 26,6%), descritivo (n=03/ 20,0%), transversal (n=02/ 13,3%), ecológico (n=02/ 13,3%), observacional (n=01/ 06,6%), documental retrospectivo (n=01/ 06,6%), temporal (n=01/ 06,6%).

No que diz respeito aos tipos de Leishmaniose no Brasil, esta revisão mostrou que nos últimos dez anos houve uma maior proporção de publicações abordando a LV (n=10/ 66,6%) do que LTA (n=05/ 33,3%).

A região com a maior ocorrência de casos de ambas as Leishmanioses foi o Nordeste (n=08/53,3%), especificamente nos Estados do Ceará (n=02/ 13,3%), Alagoas (n=02/ 13,3%), Maranhão (n=01/ 06,6%), Pernambuco (n=01/ 06,6%), Piauí (n=01/ 06,6%) e Paraíba (n=01/ 06,6%). As demais regiões foram: Sudeste, no Estado de Minas Gerais (n=03/ 20,0%), Norte, no Estado do Pará (n=03/ 20,0%) e Sul no Paraná (n=01/ 06,6%).

Quadro 2: Sumarização dos artigos selecionados.

As declarações de Pereira26 nos mostram a importância de pesquisas voltadas a coleta de dados de vigilância epidemiológica para LV, pois por meio desses dados é possível ter uma noção sobre a evolução dessa zoonose, de uma forma a apontar resultados, que leve as instituições a estipularem medidas de controle e prevenção. Em complemento, Carneiro29 pontua, que no Brasil, as notificações sobre LV representando 96% dos casos totais das Américas. Dentre eles, a região com o maior número de registro de notificações do país foi a Nordeste (por cerca de 48%), resultado esse que corrobora com os descritos nesta pesquisa.

Sobe a LTA, é argumentado por Santos22 que apesar dela está presente em 88 países, somente 30 deles fazem a notificação compulsória, estando o Brasil incluso entre os seis países responsáveis por 90% dos casos, principalmente nas regiões Norte e Nordeste, sendo a primeira considerada a área de maior endemicidade.

Está distribuído na tabela 01, as variáveis sociodemográficas encontrados na pesquisa sobre os indivíduos acometidos com LV e LTA no Brasil, comparativamente. Os resultados mostraram que dos 10 (66,6%) casos de LV encontrados na pesquisa,15,16,17,18,19,20,21,23,26,27 46,6% (n=07) ocorreram com crianças e jovens na faixa etária de 0 a 19 anos, todos do sexo masculino (n=10/ 66,6%), raça branca e parda (n=01/ 06,6% respectivamente), com ensino fundamental incompleto (n=03/ 20,0%), residentes da zona urbana (n=06/ 40,0%).

Já nos casos de LTA, os resultados mostraram algumas similaridades, especialmente no quesito sexo (predominância de homens – n=05/ 33,3%), escolaridade (ensino fundamental incompleto – n=03/20,0%), cor e raça (parda – n=02/13,3%). A idade é a única variável que difere, onde a maioria dos indivíduos com LTA estava na faixa etária de 20 a 59 anos (n=05/ 33,3%).14,22,24,25,28

Os resultados encontrados nesta pesquisa mostram a prevalência de casos de LV e LTA entre o sexo masculino. Alguns autores acreditam que essa susceptibilidade a infecção está diretamente relacionada a existência de fatores hormonais associados ao sexo ou também a desinformação sobre o controle da doença e sua prevenção. Informações como essas devem ser disponibilizadas pelos municípios, estados e federações, a educação continuada, nas regiões mais precárias e de maiores incidências da doença, ainda é considerado um importante mecanismo de proteção individual.26

Houve também prevalência de LTA no sexo masculino, nesse caso, alguns estudiosos acreditam que essa maior incidência pode ser explicada, em parte, pela masculinização da doença, ou seja, geralmente a população masculina contraem mais problemas de saúde do que as mulheres e por consequência, tendem a morrer mais precocemente. Uma grande maioria dos homens tendem a ser mais acometidos pelo fato de estarem expostos a mais fatores de risco, principalmente relacionados a atividade ocupacional – maior predominância de atividades rurais, como pecuária e agricultura.22,24

A população precisa ser incentivada a tomarem algumas medias preventivas, para a diminuição do contato com o mosquito transmissor, tais como: uso de repelentes, inclusive nos reservatórios caninos, uso de mosquiteiros de malha fina, telas em janelas/portas, deve também ser evitado ambientes externos nos períodos crespusculares e noitecer e os focos de reprodução do mosquito devem ser eliminados. 26

A LTA pode surgir na forma cutânea (lesões localizadas, disseminadas ou difusas) ou mucosa (podendo ser tardia, de origem indeterminada, concomitante, contígua ou primária). Assim, os achados de Santos Júnior24, Almeida28 e Ferreira25 demonstraram que a maior incidência nas notificações do SINAN foi para a forma clínica cutânea da LTA nos respectivos estados da Paraíba, Pernambuco e Pará. O fato dessa apresentação clínica ser insidiosa, com longos períodos entre o surgimento e o diagnóstico da lesão, deve provavelmente justificar o maior acometimento de pessoas adultas, na faixa etária dos 20 aos 40 anos de idade, por estarem expostas ao vetor.

A lesão localizada na LTA cutânea é causada por espécies de Leishmania (L.) amazonensis, geralmente em indivíduos com deficiência imunológica inata, com transmissão associada a marsupiais e roedores silvestres.30, 31 Apesar da LTA não apresentar iminente risco de morte, porém ela é responsável por interferir negativamente na aparência física do indivíduo acometido, gerando não apenas sofrimento psicológico como ainda exclusão social. E geralmente, essas feridas características da doença, são advindas da picada do vetor, gerando pápulas e, posteriormente, lesões ulceradas, sendo possível ainda a disseminação linfática do parasita, causando novas ulcerações. 32

Os achados desse estudo mostraram que a LV pode afetar indivíduos de diferentes idades, no entanto, a maioria dos casos notificados ocorreram em crianças menores e adolescentes. Segundo Barros17, as crianças são mais suscetíveis devido a sua imunidade ser mais sensível, levando as maiores incidências da doença e consequentemente a um número maior de óbitos nesse grupo. Outra importante característica, está relacionada ao contato frequente com animais e ao fato dos escolares apresentarem maiores índices de deficiência nutricional e o estado imunológico ainda estar em desenvolvimento.

Muitos pesquisadores acreditam que o curso clínico da LV depende diretamente de alguns fatores específicos, como por exemplo: a virulência do parasita; à baixa idade do hospedeiro e a sua resposta imune ou estado nutricional, pois quanto menor for o estado nutricional da criança, maiores serão as possibilidades de a doença evoluir para um prognóstico pior, especialmente porque essa é uma infecção que leva à imunodepressão. As crianças constantemente são expostas a inúmeras infecções, proporcionando um período maior de instabilidade imunológica, contribuindo para casos de perda de peso e desnutrição. 27

Se tratando da LTA, os indivíduos na faixa etária de 20 a 59 anos foram os mais acometidos, demonstrando que aqueles que estão em sua fase produtiva (ocupação profissional), e por estarem trabalhando em locais de veiculação da doença, tornam-se mais vulneráveis ao contato com os vetores.21, 22 Dados estatísticos do IBGE33 mostram que a raça predominante no Brasil é a branca. Entretanto, nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, a grande maioria é parda, e foram essas as localidades que apresentaram uma maior quantidade de casos de LTA e LV.

Por muitas vezes a LV era considerada uma doença típica do meio rural e logo passou a reemergir, modificando seus padrões de transmissão, adquirindo um caráter urbano/periurbano, resultados esses encontrados nesta pesquisa. Váriosestados brasileiros passaram pelo processo de urbanização da LV, associados a diversos fatores sensíveis aos preceitos de Saúde Única, que nos faz reconhecer que existe um vínculo muito estreito entre os desequilíbrios ambientais e os prejuízos à saúde de animais e humanos. 27, 34

A intensa degradação da fauna e da flora brasileira, tem promovido importantes alteração nos biomas existentes no território nacional, portanto, essa exploração associada com o desenvolvimento do ecoturismo, pode estar relacionado aos achados do presente estudo, levando a alta incidência de LV nas localidades especificadas.24  As mudanças climáticas que afetam bastante a região Nordeste, contribui significativamente para o aglomerado de pessoas nos grandes centros urbanos, onde o vetor da doença está adaptado. 17 Existe também a variável precariedade, sendo assim, os municípios com condições socioeconômicas mais precárias podem apresentar índices significantes da doença. 26

Do mesmo a acontece com a LTA, apesar desse estudo ter mostrado uma maior prevalência nas regiões rurais, é importante ressaltar que, consta na literatura nacional o fato de que a sua transmissão vem se apresentando com duplo perfil epidemiológico, com incidência de casos não somente em regiões de mata, mais também em locais urbanos, especialmente por conta do desmatamento, demonstrando assim, uma possível adaptação ambiental do vetor. 35,36

Sobre os sintomas apresentados pelos pacientes, a Tabela 02 nos mostra a distribuição desses resultados descritos por Barros17 e Alves20. Segundo eles os principais foram: desnutrição/emagrecimento (n=02/ 13,3%), palidez (n=02/ 13,3%) e hepatomegalia (n=02/ 13,3%).

De acordo com Alves20 essa inespecificidade dos sintomas iniciais é bastante comum e similar a outras doenças, fato esse que acaba confundindo o diagnóstico, contribuindo para a alta incidência e letalidade, principalmente em crianças desnutridas, indivíduos não tratados e portadores do Vírus da imunodeficiência humana (HIV).

Conforme a literatura, a LV é uma grave doença que está associada à hepatoesplenomegalia, desnutrição protéico-energética, processos infecciosos de coagulopatia. As suas principais causas de mortalidade incluem infecção, sangramento, anemia e deficiência no metabolismo hepático. Por isso, quando maior for a dificuldade de acesso aos serviços de saúde, maiores serão as probabilidades de óbito, pois o atrasa no diagnóstico dificulta a efetividade do tratamento, comprometendo o corpo do paciente. Felizmente, as mortes causadas por LV são evitáveis por meio de: prevenção, tratamento adequado, diagnóstico precoce e até vacina redutível, para um controle adequado durante a gravidez e parto. 37,38,39

Em relação ao perfil clínico-epidemiológico dos brasileiros com LV e LTA, nos últimos dez anos, os resultados obtidos nesta revisão mostraram que em ambos os casos, os pacientes evoluíram para a cura (n=09/ 60,0% – LV5,16,17,18,19,20,21,23,26,27 e n=03/ 20,0% – LTA14,22,24,25,28). E no quesito critérios de confirmação, os casos conjuntamente demostraram que os exames clínicos-laboratoriais foram decisivos para a confirmação das Leishmanioses.

De acordo com os resultados de Rocha18 e Rocha19,os principais fatores de risco para a morte dos pacientes com LV, são as complicações infecciosas e hemorrágicas, por esta razão é extremamente importante que o serviço de vigilância capacite os profissionais de saúde, para promover a devida assistência ao paciente, orientando-os se necessária e ainda conscientizando-os a respeito dos serviços disponíveis.

As principais causas de óbito por LV descritas por Barros17 foram: infecções pulmonares, sangramento gastrointestinal, insuficiência respiratória e circulatória, constatando-se a alta suscetibilidade das crianças em adquirirem essas infecções oportunistas. Para Pereira26 a redução da letalidade, está embasada no aprimoramento dos métodos de diagnóstico, na disponibilidade de fármacos para o tratamento e no acompanhamento dos casos.

O diagnóstico preciso e rápido é essencial para reduções de morbimortalidade da LV. Com a detecção tardia, os pacientes demoram a ser tratados e os seus casos só tendem a agravar-se ainda mais, evoluindo para o óbito. Portanto, testes laboratoriais de fácil execução sem necessidade de sofisticados recursos e com alto desempenho, devem levar o acesso ao diagnóstico, principalmente em regiões remotas, descentralizando os recursos e permitindo o início imediato da terapia específica.27

O tratamento para LV foi satisfatório na pesquisa de Alves20, com 87% dos casos curados clinicamente, mostrando que em decorrência do diagnóstico precoce e o tratamento oportuno, o clínico do paciente só tende a melhorar. Cerca de cem porcento dos pacientes evoluem para cura clínica quando tratados. A droga de primeira escolha é o antimoniato de N-metil glucamina, caso esse fármaco se mostre insatisfatório, outros deverão ser utilizados como a Anfotericina b convencional e a Anfotericina D lipossomal.20

Segundo Pereira26 o diagnóstico da LV pode ser realizado pelo método laboratorial parasitológico, pela imunofluorescência indireta (IFI) e/ou critério clínico epidemiológico. Se tratando dos casos informados pelo critério clínico epidemiológico, estes devem ser confirmados pelos métodos laboratoriais recomendados pelo MS. Caso o paciente possua exame parasitológico positivo ou exame sorológico reagente, mas não possua manifestações clínicas, não será necessário a realização de tratamento.

De acordo com Pontello Junior,14 o tratamento para LTA recomendado pelo MS (antimoniais pentavalentes) foram utilizados em sua pesquisa, mostrando resultados satisfatórios e altamente eficazes. No que diz respeito aos testes confirmatórios, os utilizados por ele foram: testes imunológicos, imunofluorescência e o teste cutâneo de Montenegro. A reação em cadeia da polimerase (PCR) também pode ser realizada afirma o autor, porém ela é de alto custo.

No referente ao tratamento, o Glucantime de primeira escolha, indicado pelo MS, é usado na maioria dos casos, obtendo ótimos resultados e a cura de 81,6% dos pacientes com leishmaniose cutânea. A pentamidina foi a droga de segunda escolha em decorrência dos efeitos colaterais da anfotericina B, mostrando efeitos positivos com epitelização completa da lesão e ausência de infiltração ou eritema imediatamente após o término do tratamento em 96% dos pacientes. Esses números são semelhantes aos encontrados em a literatura. 14

Dessa forma, considerando todas as informações apresentadas, torna-se importante o planejamento urbano e a elaboração de estratégias de vigilância epidemiológica, ressaltando a melhoria da saúde global. 27 Assim, para que haja o controle e atenuação desta doença, os preceitos de Saúde Única (fatores sociais, ambientais, epidemiológicos e espaciais) precisam ser respeitados40, 41

04 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a realização desta revisão, pode-se observar algumas similaridades no perfil epidemiológico dos casos de LTA e LV no Brasil, especialmente nas variáveis, sexo, escolaridade, zona residência, evolução do caso (cura dos pacientes) e critérios confirmatórios (exames clínicos-laboratoriais). Outro importante dado encontrado nesta pesquisa, diz respeito a um número maior de pesquisas sobre LV no Brasil, nos últimos dez anos, com a maior prevalência de casos na região Nordeste.

Por meio dos dados clínico epidemiológicos é possível compreender essa doença endêmica, facilitando a identificação de imprecisões, a fim de melhorar as estratégias de atenção à saúde voltadas para esta doença. Desse modo, esta pesquisa torna-se relevante para construção de novos dados, destacando a importância da notificação compulsória e da necessidade dos profissionais de saúde capacitarem-se para prestarem uma melhorar a qualidade de informações, colaborando para o aperfeiçoamento dos padrões de qualidade do cuidado em saúde.

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