PERFIL DA SEXUALIDADE NA TERCEIRA IDADE DOS USUÁRIOS NO CENTRO DE IDOSOS DO MUNICÍPIO DE SANTA HELENA NO OESTE DO PARANÁ

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7993409


Adriana Teresa Lopes1
João Flavio Rodrigues de Souza.2
Silviane Galvan Pereira3
Beatriz Tres4


RESUMO

O envelhecimento humano é parte natural de um processo, onde é inevitável a ocorrência de transformações biológicas, psicossociais e culturais, apesar disso, em nada impactam no desejo e na satisfação sexual do homem ou da mulher. E, a sexualidade é um aspecto da vida e se faz presente em toda a trajetória existencial do ser humano, e de pode ser vivenciada de inúmeras formas em cada etapa, expressando-se mediante a manifestação do corpo. No entanto, a sexualidade é envolta em tabus e mitos, principalmente quando relacionada às pessoas da terceira idade, devido ao fato que na atual sociedade a sexualidade humana e colocada dentro de padrões que, às vezes, não são acessíveis as pessoas dessa fase da vida. Assim, esta pesquisa é qualitativa, exploratória com viés descritivo que tem como objetivo analisar de que maneira a sexualidade é compreendida e vivenciada pela pessoa idosa, do Centro de Idosos do município de Santa Helena no Oeste do Paraná. Sendo os resultados obtidos foram que a maioria dos idosos ainda possui uma vida sexual ativa, e vem a atividade sexual como uma prática importante em suas vidas. Concluiu-se com essa pesquisa que por mais que o envelhecimento apresenta muitas transformações biológicas e emocionais, os idosos ainda podem levar uma vida sexual ativa. Mas a concepção de que o sexo é para a juventude precisa ser modificada.

Palavras-chave: sexualidade; idosos; tabus; vivências; transformações.

ABSTRACT

Human aging is a natural part of a process, where the occurrence of biological, psychosocial and cultural transformations is inevitable, despite this, they have no impact on the desire and sexual satisfaction of men or women. And, sexuality is an aspect of life and is present throughout the existential trajectory of the human being, and can be experienced in countless ways at each stage, expressing itself through the manifestation of the body. However, sexuality is shrouded in taboos and myths, especially when related to seniors, due to the fact that in today’s society, human sexuality is placed within standards that are sometimes not accessible to people at this stage of life. . Thus, this research is qualitative, exploratory with a descriptive bias that aims to analyze how sexuality is understood and experienced by the elderly, from the Center for the Elderly in the city of Santa Helena in western Paraná. The results obtained were that most seniors still have an active sex life, and see sexual activity as an important practice in their lives. It was concluded from this research that even though aging presents many biological and emotional transformations, the elderly can still lead an active sex life. But the conception that sex is for youth needs to be changed.

Keywords: sexuality; elderly; taboos; experiences; transformations.

  1. INTRODUÇÃO

No decorrer dos anos que se está aumentando o tempo de vida das pessoas, gerando alterações demográficas devido a longevidade, consequência dos avanços no campo da medicina e das tecnologias, que vem criando modernas condições para o cuidado com a saúde e na qualidade de vida. Outro fator que pode se perceber é os investimentos em políticas públicas direcionadas ao envelhecimento das pessoas (SANTOS; SILVA; CAMPOS, 2020, OLIVEIRA, 2019; MONTEIRO, 2019).

Segundo definição da Organização Mundial da Saúde (OMS) é considerada como pessoa idosa aquela com mais de 60 anos e vem se percebendo o aumento dessa população em todo o mundo. Em relação ao contexto brasileiro o percentual de pessoas com mais de 60 anos de idade, teve um aumento expressivo, pois em 1960 o número de idosos era de 03 milhões, que passou a ser de07 milhões em 1975 e saltou para 14,5 milhões de pessoas em 2002 (LIMA et al., 2021; VERAS; OLIVEIRA, 2018).

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população brasileira manteve a tendência de envelhecimento dos últimos anos e ganhou 4,8 milhões de idosos desde 2012, superando a marca dos 30,2 milhões em 2017, o número de pessoas com 60 anos ou mais em 2012 era de 25,4 milhões. Os 4,8 milhões de novos idosos em cinco anos correspondem a um crescimento de 18% desse grupo etário, que tem se tornado cada vez mais representativo no Brasil (IBGE, 2018), se manter essa média de crescimento teremos nesse ano acima de 35 milhões de idosos. E, a estimativa do IBGE é que em 2060 a população brasileira seja formada com 25,5% de pessoas com idade superior a 65 anos (NUNES et al., 2021).

Posto isso, o que se percebe é que a população brasileira está envelhecendo rapidamente, já que, por exemplo, em países desenvolvidos como a Bélgica, foram necessários cem anos para que dobrasse a população de idosos. Sendo assim, é fundamental buscar compreender envelhecimento humano como parte natural de um processo, onde é inevitável a ocorrência de transformações biológicas, psicossociais e culturais, apesar disso, em nada impactam no desejo e na satisfação sexual do homem ou da mulher (LIMA et al., 2021). E, mesmo com todas as mudanças vivenciadas pelo corpo, as pessoas da terceira idade podem ter uma vida sexual prolongada, sendo possível, o desejo saciar e manter experiências prazerosas (ROZENDO; ALVES, 2015; MARQUES, 2015).

A sexualidade e definida pela OMS, como sendo a porção plena e total de um grupo de qualidades que define a individualidade do ser humano, qualidades estas que são construídas por meio das vivências e experiências que são trocadas na vida em sociedade. Ela instiga as relações interpessoais e os sentimentos que inspira a forma de viver, agir, sentir e de pensar do ser humano (YARED; MELO, 2018; LIMA et al., 2021).

O envelhecimento é um processo natural da vida, com suas características e particularidades. Nos dias de hoje, felizmente, vem se construindo uma nova visão, mais produtiva e positiva para o idoso. No entanto quando o assunto é a sexualidade na terceira idade é envolto em tabus e preconceitos perante a sociedade e até mesmo entre o próprio grupo que convivem com tabus e mitos (COSTA et al., 2020; VIEIRA; COUTINHO; SARAIVA, 2016).

Não se pode esquecer, que a sexualidade é inerente da personalidade da pessoa, na velhice os efeitos benéficos da vivência sexual já são reconhecidos, desde que a mesma, seja vista como uma atividade natural é positiva na promoção da qualidade de vida da pessoa idosa, pois se trata de um fator natural de origem fisiológica e emocional (LOBO; CÂNDIDO, 2017; CUNHA et al., 2015).

A sexualidade na terceira idade passa a ser um tema, que merece mais estudos e pesquisas, que pode ser retratada como fruto das inumeráveis alterações socioculturais motivadas tanto pelo conhecimento científico, quanto espiritual e que com o passar do processo histórico social tradicional, a contemporaneidade, entenderam e geraram novas concepções e foram se formulando novos significados de sexualidade e suas particularidades nessa fase da vida, que está sempre foi vista como uma atividade aceitável pela mesma sociedade que a censura. Por tanto faz necessário o levantamento e compreensão das barreiras e dificuldades que abrangem a qualidade da vida sexual dos usuários do centro de idosos de Santa Helena/PR.

Frente essas concepções este estudo teve como objetivo geral: analisar como a sexualidade é compreendida e vivenciada pelos usuários do Centro de Idosos do município de Santa Helena no Oeste do Paraná. Pois a velhice é definida como a última fase do ciclo vital do ser humano, marcada por vários eventos de natureza complexa, que engloba desde perdas psicomotoras, restrição em papéis sociais, distanciamento e/ou isolamento social e capacidade cognitiva (VIEIRA; COUTINHO; SARAIVA, 2016). E, como a população brasileira está em um processo acelerado de envelhecimento e relacionado a isso a vida sexual da terceira idade também sofreu transformações, apresentando que a pessoa idosa é uma geradora de novas facetas sexuais. Pois, o processo de envelhecimento não leva a pessoa a desenvolver uma fase assexuada, no entanto promove uma nova etapa no processo da sexualidade do ser humano, a qual deve ser apreciada e vivenciada sem constrangimentos, tabus e preconceitos (SILVA; NASCIMENTO, 2015; SOUZA, 2016).

Ressalta-se que o desenvolvimento da sexualidade se efetiva com o bem-estar das vontades básicas inerentes do ser humano, entre elas temos, o amor, o carinho, a intimidade, a expressão emocional e o desejo de contato físico com o outro. Além de que a mesma revigora e fortalece as relações, tornando-as mais intensas, gerando uma forma de se comunicar, destinada a procura por uma relação mais íntima, levando ao prazer físico, a autoestima e ao bem-estar (OLIVEIRA et al., 2015). Dessa maneira, as experiências sexuais, indiferente da idade, propiciam ao casal a oportunidade de realização pessoal, retratam a intimidade e a cumplicidade.

  1. METODOLOGIA

A pesquisa foi apresenta instrumental de investigação, de natureza quantitativa. A caracterização metodológica se dá pelo fato que a mesma abordou aspectos quantitativos de um estudo, como fenômenos, sensações ou sentimentos e dados que expõem pouca relação de mensuração estatística. Normalmente a coleta de dados abrange categorização e interpretação de resultados, com suporte em teorias para análise discussão de resultados de maneira descritiva (GIL, 2010). O levantamento dos dados, pertinentes ocorreu no primeiro semestre de 2023. A pesquisa de campo teve embasamento no questionário de investigação, que foi aplicado junto por pessoas da terceira idade de 60 anos acima, que frequentam o Grupo Amizade, totalizando 300 idosos, dos quais 104 fizeram parte da pesquisa.

O critério de inclusão adotado foi Todos os idosos que frequentam o Grupo Amizade de Santa Helena, que concordarem participar do estudo e assinarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE.

A coleta de dados foi realizada por meio de questionário elaborado A coleta de dados será feita por meio de questionário elaborado por Lima (2020), retirado do trabalho intitulado “Vivências e Percepções Sobre a Sexualidade na Terceira Idade” que será entregue e aplicado junto aos idosos do Grupo Amizade de Santa Helena.

O objetivo da entrevista é de coletar informações por meio do questionário individual, para construir conhecimentos pertinentes para o objeto de pesquisa. O instrumento de coleta de dados da referida pesquisa, seguiu um roteiro semi- estruturado. Teve como objetivo de construir informações pertinentes para o objeto de pesquisa e para a investigação das entrevistadoras. O roteiro do instrumento de coleta de dados desta pesquisa abordou aspectos relacionados à percepção de como a sexualidade é compreendida e vivenciada pelos idosos, nessa fase da vida.

A análise dos dados é apresentada A análise dos dados foi realizada e apresentada por meio de tabelas, gráficos e texto descritivo, os quais mostraram a porcentagem sobre as percepções e o perfil dos idosos frente a temática do estudo. Os dados serão agrupados e as respostas serão colocadas em uma planilha e os dados convertidos para Excel em forma de tabela e gráficos. Os participantes ainda responderão a um questionário biossociodemográfico objetivando-se a obtenção do perfil do grupo de amostragem.

Para a execução do projeto de pesquisa foram respeitadas as diretrizes da Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde e todos os participantes do estudo, juntamente com os pesquisadores, assinaram em duas vias o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, sob o parecer nº. 5800.194 de 07 de dezembro de 2022.

  1. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Relacionado ao tema Sexualidade na terceira idade, foi elaborado um questionário individual, baseado em Lima (2020), aplicado em forma de entrevista pela pesquisadora, para analisar como a sexualidade é compreendida e vivenciada pelos usuários do Centro de Idosos do município de Santa Helena no Oeste do Paraná.

No questionário havia questões diretas e alternativas simples onde os entrevistados tinham a opção de assinalar como resposta: sim, não ou sem resposta, em cada uma das questões.

Após coleta do referido instrumento de aferição do conhecimento as amostras da pesquisa foram analisadas e serão apresentadas nesse documento, denominado artigo final. O total de questionários entregues forma de 111, destes 104 devolveram o TCL assinado e participaram da pesquisa. Os quais foram entrevistados individualmente cada um dos participantes, para assim analisar como a sexualidade é compreendida e vivenciada pelos idosos, nessa fase da vida. A entrevista promove a pesquisadora refletir, sobre fenômenos, sensações ou sentimentos e dados que expõem pouca relação de mensuração estatística, mas que podem ser mensurados partir da visão do pesquisador de maneira descritiva.

Na tabela 01 acima se apresenta os dados sociodemográficos e educacionais da população envolvida na pesquisa, sendo que dos participantes da pesquisa 69, 2% são do sexo feminino 38,8 % do sexo masculino.

Em relação a idade dos mesmos, 50% tem entre 60 a 69 anos de idade, 39,4% entre 70 a 97 anos e de 80 anos de idade ou mais são 10,6% dos entrevistados. Quanto ao estado civil 52,9 são casados, 33,6% são viúvos (as), 10,6% estão separados e 2,9% são solteiros (as).

No que tange a escolarização dos entrevistados 39,4% não concluíram o Ensino Fundamental, 27,9% não concluíram o Ensino Médio, 16,4% tem o Ensino Fundamental completo, 10,6% tem o Ensino Médio completo, 1,6% se recusaram o responder essa questão, 2,9% tem o Ensino Superior completo.

Referente a questão religião, dos entrevistados 94,2% afirmaram ser praticante de uma determinada denominação religiosa e 5,8% disseram não praticar nenhuma religião.

Tabela 1: Dados Sociodemográficos

IDOSOS (104)% (100)

Sexo
Feminino Masculino72 32

Idade
60 – 69 Anos 70 – 79 Anos 80 Anos ou mais52 41 11

Estado Civil
Casado (a) Viúvo (a) Separado (a) Solteiro (a)55 35 11 03


Escolarização
Ens. Fund. Incompleto Ens. Médio Incompleto Ens. Médio Completo Ens. Fund. Completo Não respondeu Ens. Superior Completo Analfabeto Ens. Superior Incompleto41 29 17 11 3 2 1 —-

Religião
Sim Não98 06

Fonte: Dados da Pesquisa, 2023.

Na tabela 02 as questões envolvendo o conhecimento e ciência em relação a sexualidade, nessa fase de suas vidas. Quando questionados sobre se os mesmos se sentiam a vontade de falar sobre sexualidade 63,3% responderam que sim. O que pode se evidenciar é que ocorre uma aceitação pela maioria do grupo pelas inúmeras mudanças que ocorrem no processo de envelhecimento, como biológicas, psicológicas e sociais, ligadas ao processo de sexualidade depende de como o idoso lida com essas mudanças. Esses resultados podem estar relacionados às atividades que essas pessoas realizam, às suas histórias de vida, que podem ajudar a compensar essas mudanças e deixá-las mais ativas.

Aqui se percebeu durante a entrevista que para alguns deles, há maior facilidade em falar sobre sexualidade, e que o público feminino tinha mais resistência em falar do assunto “A experiência do envelhecimento é subjetiva e amplamente influenciada por crenças, ideologias e fatores socioculturais”

Já outros 33,7 responderam que não se sentiam à vontade em falar sobre esse assunto. A dificuldade de falar sobre a sexualidade para alguns idosos é comum isso pois, […] as dificuldades na aceitação da sexualidade no processo de envelhecer podem advir tanto pela ausência de informação, quanto pela noção de que a sexualidade esteja restrita à genitalidade e procriação. (…), a educação da atual geração de idosos foi repressora, excluindo o diálogo entre pais e filhos para se falar de sexo. Assim, sentem-se desconfortáveis em dar opiniões e em falar sobre o assunto (ROZENDO; ALVES, 2015, p. 98).

Ao serem questionado se achavam importante ter conhecimento sobre a sexualidade 94,2% dos idosos responderam que sim, pois segundo Vieira, Coutinho e Saraiva (2016, p. 197), “o envelhecimento ocorre de maneira singular e complexa e não representa sinônimo de incapacidade funcional, dependência ou ausência de vivências sociais e sexuais”, demonstrando que vivenciam essa idade como uma nova fase de suas vidas e que o sexo está presente, portanto, é para eles importante falar sobre o assunto. Já 5,8% responderam que não achava importante.

Nessa etapa da vida muitas vezes se cria certo tabu e preconceito e o idoso passa ter dificuldades de falar sobre o assunto, não porque não acham importante e nem porque se sentem dessexualizados, “uma vez que a sexualidade está presente em todas as fases da vida, percorre, um caminho de faz e refaz, um caminho instável, em constante processo de transformação, assim como as pessoas, pois é parte indissociável delas” (VIEIRA; COUTINHO; SARAIVA, 2016, p. 199).

Sobre a questão se ainda sentiam desejos sexuais nos dias atuais 62,5% responderam ainda sentir e 37,5% responderam que não sentem mais desejos sexuais. Muitas vezes o que ocorre não é a ausência de desejo sexual, mas a dificuldade para muitos idosos de aceitar de viver nessa fase da vida a sua sexualidade, que […] ocorre muitas das vezes pela falta de informação sobre o assunto, sendo que o desejo sexual está presente em todas as fases da vida humana, podendo ser vivenciado e descoberto ou até mesmo redescoberto em qualquer momento da vida (LOBO; CÂNDIDO, 2017, p. 587).

Ainda nos dias de hoje a velhice na cultura ocidental é vista como um sinônimo de perdas biológicas e sociais, da incapacidade e da dependência. Vista como uma fase que leva um estado de declínio, a senilidade mental e física, levando os idosos a muitas vezes ficarem privados no campo social, econômico e também sexual (ALENCAR et al., 2014).

Atualmente com o crescimento da população idosa no Brasil é preciso que ocorram de cuidados que visualizem a promoção da sua qualidade de vida, não apenas no sentido de aparecimento das doenças, alimentação e atividades físicas, mas verem a pessoa idosa em toda sua identidade humana, é isso inclui lazer e a sexualidade dessa pessoa.

Tabela 2: Conhecimento e ciência da sexualidade

QUESTÃOSIMNÃO
1- Você se sente à vontade para falar sobre sexualidade?69 (63,3%)35 (33,7%)
2- Você acha importante o idoso ter conhecimento sobre a sexualidade?98 (94,2%)6 (5,8%)
3- Você tem desejo sexual nos dias atuais?65 (62,5%)39 (37,5%)
4- Você tem vida sexual ativa?63 (60,6%)41 (39,4,7%)

Fonte: Dados da Pesquisa, 2023.

A tabela 03 a seguir vem apresentar resultado da entrevista com idosos onde são feitos alguns questionamentos em relação a estimulação sexual, frequência das relações sexuais e percepção da mudança sexual da juventude para velhice.

Na questão pertinente a forma mais utilizada para estimulação sexual pelos pesquisados. 33,7% responderam que para se estimular fazem uso da masturbação, 30,8% preferiu se omitir de responder essa questão, já 25% dizem que não usam recurso nenhum para se estimular sexualmente, 6,7% tem o hábito de se tocar, 2,9% dizem se estimular com sonhos eróticos e 0,9% que utiliza como recurso de estímulo sexual a pornografia.

Ao serem questionados sobre a frequência que praticam o ato sexual, 43,2% responderam que fazem sexo semanalmente, 21,1% que é mensal, 18,3% que não praticam mais sexo, 8,7% que praticam anualmente, 4,9% que faz sexo diariamente e 3,8% preferiram não responder a esse questionamento. Comenta Lobo e Candido (2017, p. 586) que é vista como benéficos os efeitos da vida sexual na velhice, “desde que a sexualidade na terceira idade seja compreendida como uma atividade natural e positiva para a qualidade de vida do idoso, sendo um fator natural de origem fisiológica e emocional”.

Sobre a pergunta relacionada à percepção que os idosos têm sobre a mudança da vida sexual da juventude para velhice, 52,9% dos entrevistados responderam que sua vida sexual continua igual como era na juventude, ou seja, para eles a vida sexual continua ativa. Conforme aponta Lima (2021, p. 735);

[…] a sexualidade deve ser entendida como fator fundamental em qualquer época da vida, sendo ímpar a cada pessoa. Ela remete diversos sentimentos físicos e emocionais e é construída ao longo da vida, sofrendo influência do meio histórico, social e cultural, de acordo com os aspectos individuais e psicológicos de cada um.

Já para 45,2% responderam que não é mais a mesma coisa que na velhice decaiu muito a vida sexual dos mesmos e 1,9% se absterem de responder a pergunta. O que ocorre muitas vezes negação da sua sexualidade nessa fase da vida, pois para muitos idosos sentir desejo em uma sociedade que culturalmente tem a beleza e a juventude vistas de maneira extremamente exacerbada, se torna extremamente difícil para os idosos em seu dia a dia, passa a conviver com grandes desafios e juízo de valores, que são preconcebidos pela sociedade e comunidade em que convivem (CUNHA, 2018).

Entre esses desafios inerentes do envelhecimento que a pessoa precisa conviver temos “as alterações fisiológicas, que tornam o organismo mais susceptível às doenças e às alterações psicológicas, que podem demandar o medo, a depressão e o isolamento social, impedindo cada vez mais essa parcela da população de expressar sua sexualidade” (OLIVEIRA et al., 2015, p.

O que percebemos é que mais de 50% dos idosos entrevistados conseguem lidar com as mudanças biológicas e emocionais que vem ocorrendo com os anos e que definirá também sua vida sexual, já outro número expressivo enfrenta dificuldades nessa área de suas vidas. Ainda para Cunha (2018, p. 39) e que “o preconceito do sexo na velhice é adotado por se acreditar que a fase de vivenciar a sexualidade está condicionada à idade dos mais jovens”. Ainda segundo Almeida e Lourenço (2018, p. 88), na velhice a sexualidade é vista por muitos como um “tabu para os que têm idade mais avançada, pois a sociedade ainda concebe que apenas aos mais novos é dada a possibilidade de manifestar sua sexualidade”. O que passa a dificultar a aceitação pelo próprio idoso em relação a sua sexualidade.

Ao serem indagados pela pesquisadora sobre a importância do sexo em suas vidas 71,2% disseram ser muito importante e 28,8% responderam que o sexo não é muito importante nessa fase da vida. Almeida e Lourenço (2019, p. 93) concluíram em sua pesquisa sobre a importância do sexo para os idosos é que “indivíduos que possuem melhor percepção de saúde tendem a atribuir maior importância ao sexo. O sexo pode deixar de ser importante quando há intercorrências como a morte do cônjuge ou doença grave”. E essas patologias podem ocasionar impactos negativos sobre a atividade sexual das pessoas idosas, influenciando em muitas situações, o libido sexual.

Tabela 03: Sexualidade do Idoso

QuestãoMasturbaçãoNão ResponderamNenhumaToqueSonhos EróticosPornografia
Forma mais utilizada para estimulação sexual.35 (33,7%)32 (30,8%)
26 (25%)
7 (6,7%)3 (2,9%)1 (0,9%)

Frequência das relações sexuais.
SemanalMensal
NuncaAnualDiáriaNão Responderam
45 (43,2%)22 (21,1%)19 (18,3%)9 (8,7%)5 (4,9%)4 (3,8%)
Percepção da mudança sexual da juventude para velhice.IgualPiorNão Responderam


55 (52,9%)47 (45,2%)2 (1,9%)


Importância do sexoMuito ImportantePouco Importante



74 (71,2%)
30 (28,8%)



Fonte: Dados da Pesquisa, 2023.

Em várias situações durante a entrevistas alguns idosos se recusaram a responder determinados questionamentos, conforme apontado por Frugoli e Magalhães Júnior (2011, p. isso é “ devido à educação repressora que muitos idosos receberam no passado esse tema não é discutido entre idosos e, muitos deles não se sentem bem em expressar opiniões sobre o assunto”.

Enfim, percebe-se com o estudo que a maioria dos idosos são absolutamente capazes de ter relações sexuais e sentirem prazer, mas para Lima (2021, p. 44) nessa fase da vida “o ato em si seja designado por uma excitação mais lenta, porém satisfatória. Embora o corpo tenha sofrido modificações, o desejo sexual manteve-se intacto”.

  1. CONCLUSÃO

Por mais que o processo de envelhecimento passe por transformações biológicas, bioquímicas, físicas e funcionais que podem influenciar no que se refere à redução da atividade, muitas pessoas na terceira idade demonstram e apresentam importante interesse sexual, bem como uma vida sexual ativa. Mas, se percebe que esse interesse entre muitos os idosos se manifesta de outras maneiras como com toques, caricias e companheirismo.

Com esse estudo é possível afirmar que, gradativamente, vêm ocorrendo mudanças no comportamento dos idosos em relação ao sexo entre eles, mas ainda existem tabus e preconceitos relacionados a vida sexual dos idosos, gerando um desconforto para falar do assunto livremente entre eles ou com terceiros, o que remete a uma necessidade de trabalhos voltados a essa área, de palestras e conversas sobre a sexualidade na terceira idade.

Em relação a importância para campo da enfermagem, sendo os idosos um expressivo percentual de usuários do campo da saúde, é necessário que os profissionais dessa área, façam questionamentos e busquem conhecer mais sobre a vida sexual dessa população. Assim, quando os idosos procurarem pelo serviço, sintam confiança e passem a receber orientação sobre a sexualidade para proporcionar aos mesmos uma melhor qualidade de vida. Vale elencar que ainda não é uma prática comum na rotina dos profissionais de saúde, levantar questionamentos em relação aos aspectos ligados à sexualidade desse público.

Estudos que abordam a temática sexualidade na terceira idade ainda são insuficientes na literatura, com muito pouco pesquisas abordando esse tema, inclusive no Brasil. Sendo assim, investigações se fazem necessárias, visto que ainda acontecem muitas práticas de preconceitos sobre esse assunto, seja pelos profissionais da saúde, bem como pela sociedade e pelos próprios idosos.

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1 Acadêmico concluinte do curso de Enfermagem da Faculdade Uniguaçu

2 Fisioterapeuta, especialista em Osteopatia. Orientador do presente trabalho e-mail: joaoflavio.fisio@gmail.com

3 Professora da Disciplina de Seminário e Monografia II da Faculdade Uniguaçu. Dra. em Ciências da Saúde pela USP, e-mail: sil_galvan@hotmail.com

4 Coordenadora do curso de Enfermagem da Faculdade Uniguaçu. Enfermeira Especialista em Saúde do Adulto e Idoso, Unidade Terapia Intensiva e Gestão Hospitalar, e-mail: beatris.tres@hotmail.com