PROFILE OF PHARMACOLOGICAL PRESCRIPTION IN DENTISTRY AND ITS DRUG INTERACTIONS
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8436789
João Vitor Zanatta1
Guilherme Gomes Mesquita2
Josiane de Paula Santos3
Julia Martini4
Fábio Vieira de Miranda5
Elizandra Aparecida Britta6
Resumo
A farmacologia está intimamente atrelada a odontologia, o emprego de medicamentos deve ser feito com saber e responsabilidade, visto que é rotineiro o ato da prescrição pelo profissional. Sendo assim é de grande importância que o cirurgião dentista tenha total conhecimento sobre os medicamentos prescritos, sobretudo quando o paciente está em uso concomitante de outros fármacos, pois existem diversas interações medicamentosas que podem resultar em efeitos indesejados. Dentro desse contexto, o conhecimento da aplicabilidade dos fármacos no âmbito odontológico bem como o conhecimento dos efeitos colaterais e possíveis reações adversas fazem diferença na eficácia do tratamento e a adesão à terapia por parte do paciente, objetivando interações importantes evitáveis. O presente estudo tem como objetivo fazer um delineamento sobre os medicamentos prescritos na clínica odontológica da Universidade Cesumar – Unicesumar, campus Maringá, e suas interações medicamentosas. Para isso, foi realizado um levantamento utilizando prontuários e 2° via de prescrições determinando os fármacos mais prescritos e suas indicações terapêuticas. A partir da coleta de dados observa-se que os medicamentos mais prescritos foram Ibuprofeno, Dipirona Sódica, Gluconato de Clorexidina 0,12%, Amoxicilina e Paracetamol, as classes farmacológicas mais usadas foram os anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), antissépticos bucais e antibióticos. Ademais foram identificadas 18 classes de medicamentos que são usados de forma contínua, sendo a classe dos anti-hipertensivos a mais prevalente.
Palavras–chave: Medicamentos. Intervenção Odontológica. Paciente.
Abstract
Pharmacology is closely linked to dentistry, and the use of drugs must be done with knowledge and responsibility, as the act of prescribing is routine for the professional. Therefore, it is of great importance that the dentist has complete knowledge of the prescribed medications, especially when the patient is using other drugs simultaneously, as there are various drug interactions that can result in undesirable effects. Within this context, knowledge of the applicability of drugs in the dental field, as well as knowledge of side effects and possible adverse reactions, makes a difference in the effectiveness of the treatment and the patient’s adherence to therapy, aiming to avoid important avoidable interactions. The present study aims to outline the prescribed medications in the dental clinic of Cesumar University – Unicesumar, Maringá campus, and their drug interactions. For this purpose, a survey was conducted using medical records and duplicate prescriptions, determining the most prescribed drugs and their therapeutic indications. From the data collection, it was observed that the most prescribed medications were Ibuprofen, Sodium Dipyrone, 0.12% Chlorhexidine Gluconate, Amoxicillin, and Paracetamol, and the most commonly used pharmacological classes were non-steroidal anti-inflammatory drugs (NSAIDs), oral antiseptics, and antibiotics. Additionally, 18 classes of drugs were identified that are used continuously, with anti-hypertensives being the most prevalent class.
Keywords: Medicament. Dental Intervention. Patient.
Introdução
De acordo com Araujo, Biagini, Fernandes, Caputo e Silva (2012), a medicação é um método utilizado para diminuir o sofrimento humano e tem a finalidade de amenizar ou eliminar sintomas. A sintomatologia em pacientes em procedimentos odontológicos ou em infecções pode se manifestar de diversas maneiras como dor, febre, inchaço, ansiedade, medo, entre outros, e por conta da abrangência de sintomas, diversas classes de fármacos são empregadas (Figueiredo, 2009). Ioris e Bacchi (2019), dizem que dentre as classes de fármacos prescritas com maior frequência por dentistas estão os: anti-inflamatórios não esteroidais, antibacterianos, analgésicos opióides e anestésicos locais.
Segundo Souza (2021), o cirurgião dentista deve adotar uma conduta racional durante a utilização de fármacos no paciente, sendo influenciada por diversos fatores como as necessidades clínicas, tempo de uso do medicamento, baixo custo e doses suficientes para necessidades individuais, levando em consideração a individualidade e necessidade do paciente. Na área clínica a aplicação desse conceito é complexa, pois existem diversas variações, como vias de administração, local de absorção, eliminação, armazenamento e outros, assim expandindo o portfólio da prescrição medicamentosa baseada em cada particularidade do paciente, o cirurgião-dentista que conhece o perfil farmacológico, apresenta boa desenvoltura conseguindo conciliar todos esses fatores com equilíbrio, proporcionando o mais adequado para o paciente.
Durante a formação do cirurgião-dentista, a farmacologia tem uma passagem concisa, isso reflete diretamente na familiarização do acadêmico com a correta indicação de cada classe farmacológica e suas respectivas interações medicamentosas. Assim, considerado um grande marco na graduação de Odontologia, é o início da realização de procedimentos em clínica, nas inúmeras responsabilidades presentes, está a de prescrever medicamentos corretamente. Nessa etapa da vida acadêmica é de suma importância que o estudante saiba o que prescrever, quando prescrever e quais interações medicamentosas podem ocorrer. Um estudo realizado por Hoefler (2005), buscou analisar o padrão de prescrição de medicação antimicrobiana, analgésica e anti-inflamatória de uso sistêmico na clínica odontológica utilizando 163 cirurgiões-dentistas, entre os resultados obtidos, conclui-se que duas semanas antes da aplicação do questionário da pesquisa, cerca de 82% dos dentistas receitaram algum tipo de medicamento para o paciente, portanto estudo concluiu que a prescrição é quase uma totalidade na rotina clínica odontológica, sendo imensamente importante que o acadêmico domine as indicações terapêuticas das classes farmacológicas utilizadas mais comumente, e suas principais interações medicamentosas.
Materiais e Métodos
A presente pesquisa possui aprovação do Comitê de ética em pesquisa (CEP) CAAE: 59822522.7.0000.5539. Os dados foram coletados a partir de uma busca documental de análise de prontuários de pacientes atendidos nos anos de 2020 e 2021 na Clínica odontológica da Universidade Cesumar – UniCesumar. As informações a respeito dos fármacos (Medicamento e Posologia) foram obtidas a partir da 2° via de prescrições farmacológicas, outras informações como sexo, idade, tratamento realizado, condições sistêmicas e medicamentos de uso contínuo foram obtidas por meio da ficha de anamnese e da ficha de evolução e intercorrências do tratamento. Os dados foram tabulados utilizando a ferramenta Excel 2016, e posteriormente foram elaborados gráficos utilizando o software ©QtiPlot (versão grátis).
A discussão foi realizada por meio da consulta em bancos de dados do SciELO (Scientific Electronic Library Online), PubMed, Google Acadêmico e a bula fornecida pelos fabricantes dos fármacos, a busca envolveu as palavras chaves “Prescrição farmacológica”, “odontologia”, “interação medicamentosa”, “farmacologia” entre outras.
Resultados
Um total de 679 prontuários foram analisados, sendo 131 incluídos na pesquisa por possuírem prescrições, 538 foram descartados por não possuírem prescrição e 10 continham prescrições, mas foram descartados por anamnese incompleta e letra ilegível.
Obteve-se informações de 131 pacientes, 156 prescrições e 378 fármacos, a distribuição entre todos os pacientes foi de 65 homens e 66 mulheres, com uma média de idade de 38 anos, sendo a menor idade 6 anos, e a maior 81, distribuição representada na Figura 1.
Figura 1: Distribuição de idade dos pacientes.
Fonte: Os autores.
Das 156 prescrições, 123 (78%) envolveram procedimentos cirúrgicos, 13 (9%) procedimentos endodônticos, as outras 20 prescrições (13%) estão relacionadas com alterações bucais benignas em tecidos moles de origem fisiológica ou traumas mecânicos, e controle de placa bucal.
Com relação a saúde sistêmica do paciente, 63 dos pacientes (48%) não apresentam nenhum hábito relevante, comprometimento sistêmico ou fazem o uso de alguma medicação de uso contínuo, 27 pacientes (21%) apresentavam algum problema cardíaco/hipertensão, 11 (9%) eram tabagistas/etilistas, 9 (6%) apresentavam algum problema respiratório, 8 (6%) apresentaram diabetes, os 13 (10%) restantes tinham outro comprometimento sistêmico. Sendo assim, um total de 68 pacientes (52%) poderiam sofrer alguma contraindicação/interação medicamentosa. A Tabela 1 informa quais medicamentos e classes farmacológicas estavam sendo utilizados de forma contínua pelos pacientes.
Tabela 1: Classes farmacológicas dos medicamentos de uso contínuo.
Classe Medicamentosa: | Vezes que foi citado na ficha de anamnese: | Medicamento: |
Anti-hipertensivo. | 12 | Losartana, Captopril, Besilapin, Succinato de metoprolol. |
Antidepressivo. | 6 | Deller, Fluoxetina, Nortriptilina, Sertralina, Venlafaxina |
Anticoncepcional. | 6 | Repopil, Yasmin, Depo Provera. |
Antidiabético. | 5 | Cloridrato de Metformina, Glimepirida |
AINEs. | 4 | Cetoprofeno, Spidufen, Meloxicam, Diclofenaco. |
Benzodiazepínicos. | 4 | Lorazepam, Diazepam, Bromazepam, Rivotril. |
Betabloqueador. | 3 | Atenolol, Selozok, Levotiroxina. |
Anticonvulsivante. | 3 | Gabapentina, valproato de sódio, Carbamazepina. |
Hormônios Tireóideanos. | 3 | Puran T4, Levoid. |
Antipsicótico. | 2 | Risperidona, valproato de sódio. |
Antibiótico. | 2 | Clavulin, Cloresten. |
Broncodilatador. | 2 | Salbutamol, Alenia. |
Anticoagulante. | 2 | Xarelto, Ácido Acetil Salicílico. |
Opióide. | 1 | Tramadol. |
Agonista de Cálcio Puro. | 1 | Cardizem. |
Anti-reumático. | 1 | Reuquinol. |
Redutor de colesterol. | 1 | Lovastatina. |
Inibidor de prolactina. | 1 | Cabergolina. |
Fonte: Os autores.
Dentre os 378 fármacos prescritos, Ibuprofeno foi prescrito 112 vezes (30%), Dipirona Sódica 108 vezes (29%), Gluconato de Clorexidina 101 vezes (27%), Amoxicilina 28 vezes (7%), Paracetamol 15 vezes (4%), e dentre os outros 14 (4%) fármacos que foram prescritos, estavam, Omicilon (4 vezes), Nistatina (1 vez), Dexametasona (3 vezes), Decadron (3 vezes), Dexpantenol (1 vez), Metronidazol (1 vez) e Valeriana (1 vez). Posologia e forma farmacêutica dos medicamentos mais utilizados estão indicados na Tabela 2.
Tabela 2: Posologia e forma farmacêutica dos medicamentos mais prescritos.
Medicamento: | Apresentação farmacêutica: | Posologia: | Indicações: |
Ibuprofeno. | Sólido, líquido. | Forma sólida de 600 mg e 250 mg. Forma líquida de 100 mg/ml e 200 mg/ml. 1 comprimido no intervalo de 8/8 horas. Uso de 2 até 3 dias. | Total de 112 prescrições. 99 vezes (89%) em procedimentos cirúrgicos (exodontia, aumento de coroa clínica e biópsia). 11 vezes (10%) Procedimentos endodônticos. 2 vezes (1%) para outras situações. |
Dipirona Sódica. | Sólido, líquido. | Forma sólida de 500 mg. Forma líquida de 500 mg/ml, sendo 35 a 40 gotas. 1 comprimido no intervalo de 6/6 ou 8/8 horas. Uso de 2 até 5 dias. | Total de 108 prescrições. 101 vezes (94%) foi prescrito para procedimentos cirúrgicos (Exodontias, aumento de coroa clínica e biópsia e frenectomia). 7 (6%) vezes para endodontia. |
Gluconato de Clorexidina. | Líquido. | Forma líquida com concentração de 0.12%. 10ml na forma de bochecho por 1 minuto. Intervalo de 12/12 horas. Uso de 5 e 7 dias. | Total de 101 prescrições. 96 vezes (95%) em procedimentos cirúrgicos (Exodontia, biópsia, aumento de coroa clínica e frenectomia). 3 vezes (3%) para redução de placa. 2 vezes (2%) para endodontia. |
Amoxicilina. | Sólido e líquido. | Sólido 500 mg. 1 cápsula no intervalo 8/8 horas. Uso de 5 e 7 dias. Profilaxia antibiótica: Sólido 500 mg ingerindo 1 g ou 2 g, 1 hora antes do procedimento. Forma líquida 250 mg/ml. | Total de 28 prescrições. 26 vezes (92%) foi prescrita em procedimentos cirúrgicos (Raspagem e exodontia). 2 vezes (7%) em procedimentos endodônticos. 1 vez (1%) Amoxicilina 875mg + ácido clavulânico 125 mg para procedimento cirúrgico. |
Paracetamol. | Sólido e líquido. | Forma sólida de 500 mg (média de idade de 42 anos). Forma líquida de 200 mg/ml (média de idade 7 anos). 1 comprimido no intervalo de 6/6 ou 8/8 horas. Uso de 2 até 5 dias. | Total de 15 prescrições. 14 vezes (99%) para exodontia. 1 vez (1%) para procedimentos endodônticos. |
Fonte: Os autores.
Discussão
A partir dos resultados obtidos, os cinco medicamentos mais prescritos (Ibuprofeno, Dipirona Sódica, Paracetamol, Gluconato de Clorexidina e Amoxicilina) serão discutidos, comparando as indicações e condutas adotadas na clínica de odontologia de Unicesumar-Maringá, com as informações disponíveis na literatura e na bula do fabricante.
Ibuprofeno (Anti-inflamatório não esteroidal)
Apresentou mais prescrições com a finalidade de promover o controle de dor e inflamação no pós-operatório de procedimentos cirúrgicos e endodônticos na presente pesquisa, de acordo com o trabalho de Pires (2017) esse medicamento é indicado para controle leve e moderado da dor e processo inflamatório do pós-operatório causado por procedimentos.
Nos resultados as formas farmacêuticas usadas foram forma líquida (Crianças) e sólida (Adultos), tomando um comprimido ou dose de 8/8 horas de 2 a 3 dias. De acordo com a bula farmacêutica de Prati-Donaduzzi® os comprimidos de 600 mg são indicados de 6/6 ou 8/8 horas, sendo a dose máxima terapêutica de 3,200 mg/dia, Interações medicamentosas indicadas na Tabela 3.
Tabela 3: Interações Medicamentosas com Ibuprofeno.
Medicamentos: | Efeito: |
Lítio. | Aumento do risco de toxicidade. |
Anticoagulantes (cumarínicos). | Sangramento. |
Metotrexato. | Toxicidade aumentada. |
Ácido acetilsalicílico. | Redução do efeito anti-inflamatório do ibuprofeno. E redução do efeito anticoagulante. |
Diuréticos. | Pode causar redução no efeito diurético. |
Anti-hipertensivos. | Ibuprofeno apresenta efeito antagonista dos hipertensivos, recomenda-se monitorar a pressão arterial do paciente. |
Analgésicos + Antitérmicos + Medicamentos à base de cortisona. | Risco aumentado de úlceras gástricas. |
Medicamentos à base de furosemida e tiazídicos. | Redução do efeito diurético. |
Medicamentos à base de probenecida. | Aumento no efeito terapêutico do ibuprofeno. |
Hormônios tireoidianos. | Bula contraindica prescrição. |
Álcool, corticosteroides, Bifosfonatos, AAS e outros AINEs. | Riscos gastrointestinais adversos. |
Ciclosporina. | Risco de efeitos adversos renais. |
Antidiabéticos. | Aumento da ação dos antidiabéticos. |
Fonte: Adaptado de Cruz, (2017); Prati-Donaduzzi®; Legrand®.
Dipirona sódica (Anti-inflamatório não esteroidal)
De acordo com Pigozzo (2014) as propriedades terapêuticas variam de acordo com a dose empregada, sendo uma dose baixa (menos de 10 mg/kg) para ação antipirética, dose média (entre 15 e 30 mg/kg) para analgesia, e Alta (mais de 50 mg/kg) para efeito anti-inflamatório e antiespasmódico, entre os resultados obtidos, a dipirona foi indicada para adultos em procedimentos cirúrgicos e endodônticos, com a finalidade promover analgesia no pós-operatório.
A posologia indicada pela bula Farmace® da dipirona 500 mg/ml para maiores de 15 anos é de 20 a 40 gotas, com intervalo mínimo de 6/6 horas, para crianças se deve consultar a tabela de dosagem fornecida pelo fabricante na bula, de acordo com Geolab® doses acima de 2,300 mg/kg por dia podem ser letais. Entre os resultados obtidos estava a forma farmacêutica líquida de 500 mg/ml, tomando 35 a 40 gotas de 6/6 ou 8/8 horas por no máximo 5 dias. Interações medicamentosas indicadas na Tabela 4.
Tabela 4: Interações medicamentosas com dipirona sódica.
Medicamento: | Efeito: |
Ciclosporina. | Redução dos níveis plasmáticos da ciclosporina (redução da ação). |
Propanolol, carvedilol. | Redução do efeito anti-hipertensivo. |
Furosemida, hidrolorotiazida. | Redução do efeito diurético e anti-hipertensivo. |
Losartana. | Hipotensão e aumento do risco de disfunções renais. |
Álcool. | Potencialização dos efeitos do álcool. |
Clorpromazina. | Probabilidade aumentada de hipotermia grave. |
Hipoglicemiantes (sulfoniluréia). | Redução do efeito hipoglicemiante. |
Fonte: Adaptado de Cruz, (2017); EMS®.
Paracetamol (Anti-inflamatório não esteroidal)
Farmacologicamente o paracetamol é classificado como um anti-inflamatório não esteroidal (AINE), porém observando seus efeitos terapêuticos e colaterais, o mesmo não apresenta semelhança quando comparado a outros AINEs. Apresenta efeitos analgésicos e antitérmicos, e não tem propriedades anti-inflamatórias significativas, seus efeitos colaterais não causam efeitos ulcerogênicos, e não interferem na agregação plaquetária (Mühlbauer, 2016). Nos resultados obtidos o paracetamol foi indicado para analgesia do pós-operatório de procedimentos cirúrgicos e endodônticos.
De acordo com a bula fornecida por EMS® a dose indicada para comprimidos de 750 mg é de 1 comprimido, de 3 a 5 vezes por dia, não ultrapassando mais de 3,750 mg em 24 horas, para crianças a dose máxima diária é de 4 g, sendo 500 mg a cada 4 ou 6 horas, a intoxicação ocorre com a ingestão de doses superiores a 7,500 mg em menos de 8 horas, não fazer uso acima de 10 dias consecutivos para analgesia, para efeito antitérmico não ultrapassar 3 dias de uso consecutivo. A partir dos resultados obtidos na pesquisa, a forma sólida de 500 mg foi usada em adultos e a forma líquida de 200 mg/ml para crianças, tomando um comprimido ou dose de 6/6 ou 8/8 horas por no máximo 5 dias. Interações medicamentosas indicadas na Tabela 5.
Tabela 5: Interações medicamentosas com Paracetamol.
Medicamento: | Efeito: |
Varfarina. | Aumento do efeito anticoagulante da varfarina potencializando hemorragias. |
Álcool. | Potencialização hepatotoxicidade. |
Fenitoína, fenobarbital. | Redução no efeito terapêutico do paracetamol e aumento da hepatotoxicidade. |
Isoniazidaisoniazida. | Potencialização da toxicidade do paracetamol. |
Barbitúricos, hidantina, rifampicina, Lamotrigina. | Diminuição na eficácia do paracetamol e aumento do efeito hepatotóxico. |
Anticoncepcionais orais. | Redução da intensidade e da duração do efeito analgésico. |
Anticoagulantes orais. | Inibição da agregação plaquetária. |
AINEs. | Aumento dos efeitos tóxicos, principalmente hemorragia. |
Fonte: Adaptado de Padoin, Comarella e Solda, (2018).
Gluconato de Clorexidina (Enxaguatório Bucal)
Possui uma ampla aplicação odontológica, conforme sua dosagem seus efeitos bucais terapêuticos diferem, uma concentração baixa (0,12% até 2%) apresenta propriedades bacteriostáticas sendo mais utilizadas de forma intra-bucal, concentrações elevadas (2,5% a 5%) demonstraram efeitos bactericidas e são utilizadas de forma extra-oral. (Kluk, Reinhold, Pereira, A. M. D. Mello & F. A. S. Mello, 2016). Nos resultados obtidos o Gluconato de Clorexidina foi indicado no pós-operatório de procedimentos cirúrgicos, controle de placa bucal e endodontia.
A bula fornecida por Rioquímica® indica que o modo de uso da clorexidina 0,12% se dá bochechando 15ml da solução não diluída pela manhã e à noite após a escovação, não se deve lavar a boca após o bochecho. Nos resultados a prescrição da Clorexidina 0,12% consiste em bochechar 10 ml de solução por 1 minuto, de 12 em 12 horas, com uso entre 5 e 7 dias, iniciando o bochecho 2 dias após a cirurgia. A Clorexidina não apresenta interações medicamentosas.
Amoxicilina (Antibiótico)
De acordo com Oliveira (2011), às situações clínicas odontológicas onde se deve utilizar uma terapia antibiótica são casos de tratamentos de infecções dentais crônicas e/ou agudas (Um ou mais sinais e sintomas como frio, febre, calafrios, trismo, fraqueza, vertigem e outros estarão presentes). Como forma profilática é indicado para pacientes que apresentam riscos de desenvolver endocardite bacteriana e imunossuprimidos. Na presente pesquisa a amoxicilina foi prescrita para procedimentos cirúrgicos e endodônticos, em forma de terapia profilática e antibiótica.
A amoxicilina em associação com clavulanato de potássio tem a função de ampliar o espectro de ação do antibiótico, assim permitindo seu uso mesmo contra micro-organismos que adquiriram resistência, o ácido clavulânico é um inibidor de betalactamase e quando empregado de forma única não apresenta ação antimicrobiana relevante. (Brigantini, Marques & Gimenes, 2016)
Conforme a bula fornecida por Eurofarma® a posologia para maiores de 10 anos é de 250 mg de 8/8 horas, em casos de infecções pequenas, em situações de infecções graves deve-se utilizar 500 mg de 8/8 horas. Para menores de 10 anos a dose usa-se 125 mg de 8/8 horas em infecções pequenas, e para infecções graves 250 mg de 8/8 horas. A dose máxima terapêutica é de 6 g por dia (de forma fracionada). Nos resultados obtidos para terapia antibiótica em adultos, prescreveu-se 1 cápsula de 8/8 horas, de 5 até 7 dias, em crianças forma líquida de 250 mg/ml de 8/8 horas por 5 dias, para a profilaxia antibiótica foi prescrita a ingestão de 1g ou 2 g uma hora antes do procedimento. Interações medicamentosas indicadas na Tabela 6.
Tabela 6: Interações medicamentosas com amoxicilina.
Medicamento: | Efeito: |
Aminoglicosídeo. | Inativação dos dois fármacos. |
Metotrexato. | Efeitos hematológicos. (Aumento da toxicidade). |
Varfarina, Dicumarol. | Potencialização do risco de sangramento. |
Etinilestradiol. | Redução da eficácia contraceptiva. |
Fonte: Adaptado de Ioris e Bacchi, (2019); Cruz (2017).
Conclusão
A farmacologia tem um papel fundamental na odontologia, sendo utilizada em situações como controle de dores e inflamações, profilaxias antibióticas, tratamento de infecções de pequeno ou grande porte, redução do índice de placa bucal, auxílio no controle de pacientes ansiosos, especiais ou pediátricos e tratamento de algumas patologias. A presente pesquisa indica que as classes de medicamentos mais utilizadas são os AINEs, seguida pelos antissépticos, e por último os antibióticos, sendo o fármaco mais prescrito Ibuprofeno, Dipirona Sódica, Gluconato de Clorexidina 0.12%, Amoxicilina e por último o Paracetamol.
A partir de dados coletados de 156 prescrições, observou-se que em 123 prescrições (78%) apresentavam alguma relação com procedimentos cirúrgicos, como exodontias, aumentos de coroa clínica, biópsias, pericoronarites, casos de profilaxia antibiótica e procedimentos de remoção ou reposicionamento de freios e bridas.
Em síntese dos dados fornecidos na anamnese sobre a saúde sistêmica do paciente, obteve-se o resultado que dos 131 pacientes, 63 pacientes (48%) não apresentavam nenhuma condição sistêmica relevante para interações medicamentosas, e 68 pacientes (52%) apresentavam alguma condição ou uso de fármaco contínuo que permite a possibilidade de ocorrência de interação medicamentosa com os fármacos que o cirurgião dentista prescreve com frequência. Ademais foram identificadas 18 classes medicamentosas que os pacientes já estavam fazendo uso antes de iniciar o tratamento com o cirurgião-dentista, sendo os anti-hipertensivos mais usados.
Referências
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¹Centro Universitário de Maringá – Unicesumar, Maringá, PR, Brasil – Graduando em odontologia
joaovitorzanatta3232@gmail.com
² Centro Universitário de Maringá – Unicesumar, Maringá, PR, Brasil. – Professor e orientador, Pós-doutor em Ciências Farmacêuticas.
³ Centro Universitário de Maringá – Unicesumar, Maringá, PR, Brasil. – Graduando em odontologia.
⁴ Centro Universitário de Maringá – Unicesumar, Maringá, PR, Brasil. – Graduando em odontologia.
5 Centro Universitário de Maringá – Unicesumar, Maringá, PR, Brasil. – Graduando em odontologia.
6 Centro Universitário de Maringá – Unicesumar, Maringá, PR, Brasil. – Professor e coordenador do curso de odontologia.