PERFIL CLÍNICO E EPIDEMIOLÓGICO DOS ÓBITOS POR ERISIPELA NO PIAUÍ, 2012 A 2021

CLINICAL AND EPIDEMIOLOGICAL PROFILE TWO DEATHS DUE TO NON-PIAUÍ ERYSIPELA, 2012 TO 2021

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10800939


Maria Clara Oliveira Campos Sousa1; Dênnia Jackeline de Alencar Soares2; Saula Maria de Lira Ribeiro3; Lucas Soares Brandão Barros4; Veronésia Maria De Sena Rosal5; Jandson Vieira Costa6; Alice Lima Rosa Mendes7; Klegea Maria Câncio Ramos Cantinho8; Izane Luiza Xavier Carvalho Andrade9; Suely Moura Melo10


RESUMO

A Erisipela é uma infecção cutânea que envolve a camada dérmica da pele, e que também pode se estender aos vasos linfáticos cutâneos superficiais. Nesta perspectiva, o presente estudo tem por objetivo realizar uma análise retrospectiva do perfil epidemiológico de pacientes que foram a óbito em decorrência da infecção por Erisipela no estado do Piauí, no período de 2012 a 2021. Tratou-se de um estudo epidemiológico, documental, quantitativo e de base populacional, cujas informações sobre os casos notificados de Erisipela foram obtidas através do sistema do DATASUS. No período avaliado, foram notificados 323 óbitos por Erisipela no estado do Piauí, resultando em uma média anual de 32,3 óbitos. Com maior prevalência em indivíduos de 80 anos e mais, com 155 (47,99%) casos, do sexo feminino (53,0%), autodeclarados com a cor/raça parda (63,4%), com baixa escolaridade (40,56%) e viúvos (35,91%). A maioria dos óbitos ocorreu em ambiente hospitalar (82,0%) e na capital Teresina-PI (37,2%). Conforme os dados analisados, foi possível verificar que o perfil dos óbitos por Erisipela no Piauí compreendeu principalmente indivíduos idosos, do sexo feminino, autodeclarados de cor/raça parda, com baixa escolaridade e viúvos. Além disso, a maioria dos óbitos ocorreu em ambiente hospitalar e na capital Teresina-PI. Portanto, esses dados destacaram a urgente necessidade da adoção de ações voltadas para a vigilância epidemiológica, visando à redução da incidência deste problema de saúde. Para além, essa abordagem pode auxiliar na formulação de estratégias e protocolos para a prevenção e tratamento de feridas, garantindo que uma equipe multidisciplinar tenha alcance na restauração da saúde dos indivíduos afetados pela Erisipela.

Palavras-chave: Erisipela; Mortalidade; Epidemiologia.

ABSTRACT

Erysipelas is a skin infection that involves the dermal layer of the skin, and can also extend to the superficial cutaneous lymphatic vessels. From this perspective, the present study aims to carry out a retrospective analysis of the epidemiological profile of patients who died as a result of Erysipelas infection in the state of Piauí, from 2012 to 2021. This is an epidemiological, documentary, quantitative and population-based, whose information on reported cases of Erysipelas was obtained through DATASUS. During the period evaluated, 323 deaths due to Erysipelas were reported in the state of Piauí, resulting in an annual average of 32.3 deaths. With a higher prevalence in individuals aged 80 years and over, with 155 (47.99%) cases, female (53.0%), self-declared as brown color/race (63.4%), with low education (40 .56%) and widowers (35.91%). The majority of deaths occurred in hospitals (82.0%) and in the capital Teresina-Pi (37.2%). According to the data analyzed, it was possible to verify that the profile of deaths due to Erisipelas in Piauí mainly comprises elderly individuals, female, self-declared as being mixed race, with low education and widowed. Furthermore, the majority of deaths occurred in hospitals and in the capital Teresina-Pi. Therefore, these data highlight the urgent need to adopt actions aimed at epidemiological surveillance, aiming to reduce the incidence of this health problem. Furthermore, this approach helps in the formulation of strategies and protocols for the prevention and treatment of wounds, ensuring that a multidisciplinary team can restore the health of individuals affected by Erysipelas.

Keywords: Erysipelas; Mortality; Epidemiology.

RESUMEN

La erisipela es una infección de la piel que afecta la capa dérmica de la piel y también puede extenderse a los vasos linfáticos cutáneos superficiales. Desde esta perspectiva, el presente estudio tiene como objetivo realizar un análisis retrospectivo del perfil epidemiológico de los pacientes que fallecieron como consecuencia de la infección por erisipela en el estado de Piauí, de 2012 a 2021. Se trata de un estudio epidemiológico, documental, cuantitativo y poblacional. basada, cuya información sobre los casos reportados de Erisipela fue obtenida a través de DATASUS. Durante el período evaluado, se registraron 323 muertes por erisipela en el estado de Piauí, resultando en un promedio anual de 32,3 muertes. Con mayor prevalencia en personas de 80 años y más, con 155 (47,99%) casos, del sexo femenino (53,0%), autodeclarados de color/raza parda (63,4%), con bajo nivel educativo (40,56%) y viudos. (35,91%). La mayoría de las muertes ocurrieron en hospitales (82,0%) y en la capital, Teresina-Pi (37,2%). Según los datos analizados, fue posible verificar que el perfil de las muertes por Erisipelas en Piauí comprende principalmente personas mayores, del sexo femenino, autodeclaradas mestizas, con baja escolaridad y viudas. Además, la mayoría de las muertes se produjeron en hospitales y en la capital, Teresina-Pi. Por lo tanto, estos datos resaltan la urgente necesidad de adoptar acciones dirigidas a la vigilancia epidemiológica, con el objetivo de reducir la incidencia de este problema de salud. Además, este enfoque ayuda en la formulación de estrategias y protocolos para la prevención y el tratamiento de heridas, asegurando que un equipo multidisciplinario pueda restaurar la salud de las personas afectadas por la erisipela.

Palabras clave: Erisipela; Mortalidad; Epidemiología.

INTRODUÇÃO

A pele envolve cerca de 2 m² do corpo humano, sendo, portanto, o maior órgão multifuncional do corpo e a principal barreira física contra o meio externo. Ao passo de servir para barreira de patógenos, agentes químicos e físicos. Dessa forma, é um dos órgãos mais facilmente traumatizável e sujeito à infecção. Este órgão cumpre diversas funções vitais entre elas as de comunicação e controle, a fim de garantir a homeostase do organismo. Suas células estão em constante replicação, ou seja, com o passar do tempo sofre mudanças capazes de modificar funções estruturais e fisiológicas (Bernardo; Santos; Silva, 2019).

Existem inúmeras afecções de pele que variam em termos de causa, sintomas, gravidade e tratamento. Algumas das afecções de pele mais comuns incluem: acne, dermatite, psoríase, rosácea, urticária, infecções fúngicas, Erisipela, micose, dentre outras (Singh; Schikowski, 2023). As doenças de pele representam grande problema de saúde em todo o mundo e são causadas por fatores intrínsecos e extrínsecos, sem distinções de idade ou etnia (Majtan; Bucekova; Jesenak, 2021).

A Erisipela é uma infecção cutânea que se manifesta com comprometimento da pele e está frequentemente associada a pacientes que apresentam outras condições médicas. A maioria das infecções cutâneas dessa natureza é causada pelo Streptococcus pyogenes, uma bactéria beta-hemolítica do grupo A, embora também possa ser ocasionada por outras bactérias, mesmo que em menor frequência (Michael; Shaukat, 2021). A Erisipela é uma enfermidade relativamente comum na prática clínica, com uma estimativa de incidência que varia entre 10 e 100 casos por 100.000 habitantes por ano (Silva, 2019).

Destaca-se ainda que, para a ocorrência da Erisipela é necessária uma porta de entrada, chamada de fissura na pele. Essas fissuras podem ser originárias de vários fatores, tais como: micose, trauma, úlcera (Araújo; Alexandrino; Sousa, 2021). Considerando a elevada incidência da Erisipela, o objetivo deste estudo foi realizar uma análise retrospectiva do perfil epidemiológico de pacientes que foram a óbito em decorrência da infecção por Erisipela residentes no Estado do Piauí, no período que compreendeu os anos de 2012 a 2021.

METODOLOGIA

Essa pesquisa não necessitou de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), estando de acordo com a Resolução nº 510 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), de 7 de abril de 2016, artigo 1, inciso III que isenta pesquisa que utilize informações de domínio público em Ciências Humanas e Sociais de registro no Comitê de Ética em Pesquisa da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa – sistema CEP/CONEP. Tratou-se de uma pesquisa do tipo epidemiológica, documental e quantitativa de natureza descritiva e retrospectiva, sobre a análise dos casos de óbitos por Erisipela no estado do Piauí, no período que correspondeu aos anos de 2012 a 2021.

As informações sobre os casos notificados de óbitos por Erisipela foram obtidas através do sistema do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), disponibilizado no endereço eletrônico http://www.datasus.gov.br, a partir do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM). Os critérios de inclusão utilizados foram: casos confirmados de Erisipela no Estado do Piauí, no período entre janeiro de 2012 e dezembro de 2021, faixa etária de 20 a 80 anos ou mais, raça e gênero, que foram registrados no SIM/DATASUS.

Foram utilizados como critérios de exclusão: excluir os dados de Erisipela, registrados no SIM/DATASUS de pacientes que não eram moradores do estado do Piauí e pessoas menores de 20 anos. Isso porque, muitas pessoas procuram as cidades do estado, em especial a capital Teresina, para tratamentos de saúde, porém não permanecem no local após o respectivo tratamento, e como se tratou de uma pesquisa que teve como objetivo identificar o perfil epidemiológico das internações e dos óbitos pela doença dos residentes no Piauí, optou-se por excluir os dados desses pacientes que não moram no Piauí. A exclusão dos dados das pessoas menores de 20 anos se deu pelo fato de que quase não houve registro dos casos nessa faixa etária, mas isso não anula a possibilidade de outros estudos com esses respectivos públicos.

As informações referentes aos óbitos provocados pela Erisipela foram extraídas do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), primeiro com a seleção do item Mortalidade Geral, com os dados referentes ao Estado do Piauí. A partir daí, selecionou-se na Categoria CID-10 o tópico A46 – Erisipela, em seguida foi selecionado o período entre 2012 e 2021 e os dados epidemiológicos correlacionados.

Após extraídos os dados, foi realizada a organização das informações através de planilhas do EXCEL e as variáveis do estudo foram: ano de ocorrência, dados sociodemográficos (idade, sexo, raça, grau de escolaridade, estado civil e município de ocorrência) e dados clínicos (local de ocorrência). Os dados foram analisados através de números absolutos relativos e proporção na base 100. Posteriormente, os dados foram processados e dispostos em forma de gráficos e tabelas

Como benefícios esperados destaca-se a contribuição à população estudada, devido ao aumento do conhecimento sobre a influência do perfil populacional dos óbitos por Erisipela, estimulando os profissionais e gestores de saúde a criarem e utilizarem métodos que possam interferir diretamente no tratamento de pacientes acometidos pela Erisipela e elaboração de estratégias de intervenção para os grupos de alto risco.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Durante o período analisado, de janeiro de 2012 a dezembro de 2021, foram registrados 323 óbitos por Erisipela no estado do Piauí, resultando em uma média anual de 32,3 óbitos, conforme demonstra o Gráfico 1.

Gráfico 1 – Casos de óbitos por Erisipela, segundo ano. Piauí, 2012 a 2021 (n=323)

Fonte: SIM – DATASUS (2023)

De acordo com o gráfico apresentado, o ano em que houve maior taxa de óbito foi 2020, com 55 (17%) casos e uma prevalência de 1,8 óbitos para cada 100.000 habitantes, e foi possível verificar uma flutuação do número de óbitos de 2012 para 2021. A prevalência total do estudo, no período avaliado foi de 10,2.

Com base nos dados do sistema DATASUS, nesse mesmo período, de 2012 a 2021, foram notificados 17.401 óbitos por Erisipela no Brasil. Destes, cerca de 5.784 casos foram notificados na região Nordeste, enquanto na região Sudeste foi registrado o maior número de casos, cerca de 8.400 registros (DATASUS, 2023).

Segundo Silva (2019) estima-se que a incidência da Erisipela é de 10 a 100 casos por 100.000 habitantes/ano. As complicações mais comuns da doença são os inchaços na região acometida e a mudança da cor da pele que fica escurecida. É possível, também, que a doença evolua para septicemia. Outras complicações mais incomuns são: necrose, gangrena, formação de abscessos, tromboflebite, endocardite, glomerulonefrite aguda, artrite séptica e até mesmo a morte.

No estudo de Vasylevska (2021), foram analisados 284 casos de pacientes internados com a forma necrótica de Erisipela e foi verificado que em 72,5% dos casos, a doença foi agravada pela sepse com mortalidade de 67,5%. A causa da mortalidade em pacientes com essa forma de Erisipela foram inúmeras alterações irreversíveis nos órgãos internos.

De acordo com Araújo (2020), acredita-se que a progressão desta condição ocorre em aproximadamente 80 a 90,6% dos casos, enquanto a taxa de mortalidade pode variar de 0,5% a 20%, dependendo do tipo de tratamento com antibióticos utilizados, bem como da presença de comorbidades associadas. Na Tabela 1, é possível verificar as características sociodemográficas dos óbitos por Erisipela notificados no Piauí, de 2012 a 2021.

Tabela 1 – Casos de óbitos por Erisipela, segundo a faixa etária, raça, escolaridade e estado civil. Piauí, 2012 a 2021 (n=323)

VARIÁVEISN%
FAIXA ETÁRIA  
20 a 2910,31
30 a 3961,86
40 a 4992,78
50 a 59257,74
60 a 694714,55
70 a 798024,77
80 a mais15547,99
  RAÇA  
Branca8325,70
Preta144,33
Amarela020,62
Parda20463,16
Ignorado206,19
  ESCOLARIDADE  
Nenhuma13140,56
1 a 3 anos9629,72
4 a 7 anos237,12
8 a 11 anos206,19
12 anos e mais20,62
Ignorado5115,79
  ESTADO CIVIL  
Solteiro4012,38
Casado10933,75
Viúvo11635,91
Separado Judicialmente123,72
Outro144,33
Ignorado329,91

Fonte: SIM-DATASUS (2023)

De acordo com os dados analisados, no que se refere a idade, sobressaíram-se as faixas etárias entre 70 e 79 anos (24,77%) e 80 ou mais (47,99%). Quanto à raça, a parda obteve prevalência mais significativa com 63,16% dos casos. Referente a escolaridade, observou-se que possuir nenhum estudo representou 40,56% dos casos, e por fim, o estado civil que se destacou foi o de viúvo com 35,91% dos casos.

Corroborando a esses dados, de acordo com Klotz (2019), a Erisipela pode afetar pessoas de todas as faixas etárias, raças e sexo. A incidência de Erisipela diminuiu desde o desenvolvimento de antibióticos e da melhoria do saneamento. A Erisipela pode afetar todas as faixas etárias, mas é mais comum nos extremos de idade, concordando com os achados da presente pesquisa, onde a faixa etária mais acometida foi de 80 anos (47,99%).

Da mesma forma, Silva et al. (2022), verificaram que em um hospital do Tocantins, dos pacientes acometidos com Erisipela, houve prevalência de pessoas com 80 anos ou mais e no que diz respeito à etnia, os pardos foram a etnia mais prevalente com relação à doença.

Justificando com esses achados, de acordo com Chambers e Vukmanovic-Stejic (2020), as alterações na estrutura da pele com a idade dependem das escolhas de estilo de vida e dos desafios ambientais, incluindo a exposição aos raios UVB e o uso de protetor solar, o tabagismo e a poluição ambiental. De modo geral, essas alterações tornam os idosos mais suscetíveis a lesões mecânicas, alteram o microbioma da pele e têm implicações importantes para a imunidade da barreira cutânea.

Segundo Madeira et al. (2022), os pacientes acometidos em sua maioria são idosos com comorbidades, nos quais a recorrência da Erisipela é agravada por doenças pré-existentes. Para pacientes com problemas como insuficiência venosa, devido ao comprometimento do retorno venoso, essas lesões podem acarretar perda de grande extensão de tecido e complicações graves, levando à necessidade de abordagem cirúrgica e até, em alguns casos, amputação do membro afetado.

Meneses, Fonseca e Matos (2022) afirmam que o aparecimento de lesões cutâneas na população em geral não possui interferência da idade ou da cor, entretanto, quando o espectro estudado é o de pacientes que estão mais suscetíveis a apresentar lesões compatíveis com a Erisipela, esses dados mudam, pois os indivíduos mais propensos são as pessoas pardas, de mais idade, diabéticos e/ou hipertensos. Com isso, o perfil epidemiológico desses indivíduos passa a ser mais parecido com o de pessoas portadoras de comorbidades.

Além disso, Castro e Silva (2018) ressaltam que devido ao rápido aumento da população idosa e às características geralmente mais graves e específicas das infecções nesse grupo etário em comparação com adultos mais jovens, acaba gerando um aumento significativo nas estatísticas de hospitalização e mortalidade por doenças infecciosas em indivíduos com mais de 85 anos. No Gráfico 2, é possível verificar a distribuição dos óbitos por Erisipela, de acordo com o sexo. Verifica-se que houve maior prevalência de indivíduos do sexo feminino (53,0%).

Gráfico 2 – Casos de óbitos por Erisipela, segundo o sexo. Piauí, 2012 a 2021 (n=323)

Fonte: SIM-DATASUS (2023)

De modo semelhante, no estudo de Araújo et al. (2020) cerca de 57,8% dos pacientes acometidos pela Erisipela eram do sexo feminino. Corroborando com esses achados, de acordo com Klotz (2019), a Erisipela pode afetar pessoas de todos os sexos. No entanto, alguns estudos mostraram que a Erisipela é mais comum no sexo feminino. De modo semelhante, Madeira et al. (2022) garantiram que o sexo feminino possui predisposição para o desenvolvimento de insuficiência venosa pela ação de estrogênios, uso de anticoncepcional e gestação.

Além disso, Katarina Sočan e Maja Sočan (2018), apontaram em sua pesquisa que de acordo com a epidemiologia, a incidência de casos nos idosos e o predomínio no sexo feminino tende a aumentar por conta da suscetibilidade dos fatores de risco e ao envelhecimento da terceira idade.

No Gráfico 3, é possível observar a distribuição dos casos de óbitos por Erisipela no Piauí, de acordo com o local de ocorrência. Nota-se que a maioria dos óbitos notificados ocorreu em ambiente hospitalar, 265 casos que correspondeu a 82,0%, apenas 16,71% dos casos ocorreram no âmbito domiciliar, 0,61% dos óbitos foram registrados em outros estabelecimentos de saúde, apenas um caso registrado em via pública (0,30%) e 0,30% óbitos em outro meio não especificado.

 Gráfico 3 – Casos de óbitos por Erisipela, segundo o local do óbito. Piauí, 2012 a 2021 (n=323)

Fonte: SIM-DATASUS (2023).

Nesse sentido, de acordo com Ren e Silverberg (2021), pacientes com Erisipela apresenta complicações sistêmicas, como infecções extracutâneas e septicemia, justificando avaliação emergencial e, muitas vezes, hospitalização. No Gráfico 4, é possível verificar a distribuição dos óbitos por município de notificação.

Gráfico 4 – Casos de óbitos por Erisipela, segundo o município de ocorrência do óbito. Piauí, 2012 a 2021 (n=323)

Fonte: SIM-DATASUS (2023).

Observou-se que a maioria dos óbitos notificados por Erisipela no Piauí, ocorreram na capital do estado, Teresina, com 120 registros, correspondendo a 37,2% do número total de óbitos. Seguido da cidade de Parnaíba com 12,7% dos casos; Picos com 10,8%; Floriano com 7,4%; Piripiri com 3,4%; São Raimundo Nonato com 3,1% e Campo Maior com 1,9% dos casos. Os outros 23,2% dos casos de óbitos são residentes dos demais municípios piauienses.

De acordo com Michael e Shaukat (2023), a maioria dos estudos epidemiológicos sobre a Erisipela foi realizada em diferentes ambientes de internamento, em diferentes países.

O presente estudo apresentou algumas limitações, sendo a principal limitação o fato de utilizar uma abordagem ecológica, com dados obtidos através do censo demográfico, uma vez que não consideram as variações e flutuações de índice ocorridas no intervalo entre as coletas. Outra limitação foi o fato de a pesquisa utilizar dados encontrados na plataforma DATASUS, considerando os atrasos em suas atualizações e a falta de registro de alguns dados que se apresentaram como ignorados ou não informados.

Além disso, deve-se considerar também as subnotificações, pois podem existir falhas no preenchimento dos atestados de óbitos, o que gera viés quando é feita a coleta de dados. Além disso, há a escassez de estudos realizados com essa temática, impossibilitando maiores e melhores comparações dos resultados encontrados no estudo.

CONCLUSÃO

De acordo com os dados analisados, foi possível verificar que o perfil dos óbitos por Erisipela dos moradores do Piauí compreende principalmente indivíduos idosos, do sexo feminino, autodeclarados de cor/raça parda, com baixa escolaridade e viúvos. Além disso, a maioria dos óbitos ocorreu em ambiente hospitalar e na capital do Estado, Teresina. Esses dados destacaram a necessidade urgente da adoção de ações voltadas para a vigilância epidemiológica, visando à redução da incidência deste problema de saúde.

Ressalta-se que a análise dos aspectos clínicos e sociodemográficos dos pacientes afetados por lesões desempenha um papel fundamental na promoção de cuidados abrangentes, empáticos e bem estruturados. Além disso, essa abordagem auxilia na formulação de estratégias e protocolos para a prevenção e tratamento de feridas, garantindo que uma equipe multidisciplinar tenha alcance na restauração da saúde dos indivíduos afetados pela Erisipela.

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1RCID: https://orcid.org/0009-0009-8005-8854
Centro Universitário Unifacid Wyden, Brasil
E-mail: mariacamposs23@gmail.com

2ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1011-5154
Centro Universitário Unifacid Wyden, Brasil
E-mail:denniasoares@gmail.com

3ORCID: https://orcid.org/0009-0000-1166-9955
Centro Universitário UniFacid
E-mail: saulamlribeiro@gmail.com

4ORCID: https://orcid.org/0009-0004-8891-6909
Centro Universitário UniFacid
E-mail: lucas.sbb99@hotmail.com

5ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5462-815X
Universidade Federal do Ceará – UFC
E-mail: verinharosal@hotmail.com

6Orcid: https://orcid.org/0000-0003-3448-670X
Centro Universitário UniFacid Wyden
E-mail: jandsonvc@gmail.com

7ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1960-9647
Universidade de Brasília, Brasil
E-mail: alice_lima_@hotmail.com

8ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1685-5658
Centro Universitário Unifacid Wyden, Brasil
E-mail: professoraklegea@gmail.com

9ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4693-1033
Centro Universitário Unifacid, Brasil
E-mail: izaneluizac@hotmail.com

10ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9996-0850
Centro Universitário Unifacid Wyden, Brasil
E-mail: suelymelo6@gmail.com