CLINICAL AND EPIDEMIOLOGICAL PROFILE OF LEPROSY IN ARAGUAÍNA/TO, FROM JANUARY 2013 TO DECEMBER 2023
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10809518
Juliana Cristine Gama de Araújo Sousa¹;
Roberta Ferreira Melo²;
Luciana Alves da Costa³.
Resumo
A hanseníase representa um grave problema de saúde no Brasil, caracterizada pela sua endemicidade e pelo fato de ser uma doença negligenciada. Ela está intrinsecamente ligada às condições precárias de vida e traz consigo o sofrimento devido à sua natureza deformante e incapacitante. Este estudo tem como propósito traçar um retrato clínico-epidemiológico dos pacientes diagnosticados com hanseníase na cidade de Araguaína/TO, durante o período compreendido entre janeiro de 2013 e dezembro de 2023, com o intuito de mostrar qual público é mais suscetível à contaminação pela Hanseníase. Trata-se de uma pesquisa quali-quantitativa, onde os dados foram obtidos no Sistema de Informação de Agravos de Notificação, dispostas na seção de informação de saúde (TABNET), na parte de epidemiologia e morbidades. Dentre os anos estudados, teve um total de 1636 pacientes notificados em Araguaína, sendo que 1251 são dos residentes neste município, representando cerca de 76,46% dos dados, onde 59% são do sexo masculino, 35,88% tem entre 40 a 59 anos de idade, 75% são pardos, 46% tem ensino fundamental incompleto, 62% possuem a classificação multibacilar, 53% apresentam lesão de Grau 0, 45% não realizaram a baciloscopia, 60% obtiveram o esquema terapêutico PQT/MB/12 doses, e houve cerca de 1,83% de óbitos. Portanto, nota-se através da análise dos dados a importância de educação em saúde, direcionada para esse público alvo.
Palavras-chave: Enfermeiro. Hanseníase. Perfil Epidemiológico.
Leprosy represents a serious health problem in Brazil, characterized by its endemicity and the fact that it is a neglected disease. It is intrinsically linked to precarious living conditions and brings with it suffering due to its deforming and disabling nature. This study aims to draw a clinical-epidemiological portrait of patients diagnosed with leprosy in the city of Araguaína/TO, during the period between January 2013 and December 2023, with the aim of showing which public is most susceptible to contamination by leprosy. . This is a qualitative-quantitative research, where the data were obtained from the Notifiable Diseases Information System, located in the health information section (TABNET), in the epidemiology and morbidities section. Among the years trained, there were a total of 1636 patients reported in Araguaína, of which 1251 are residents of this municipality, representing around 76.46% of the data, where 59% are male, 35.88% are between 40 and 59 years old, 75% are mixed race, 46% have incomplete primary education, 62% have multibacillary classification, 53% have a Grade 0 lesion, 45% did not undergo bacilloscopy, 60% obtained the MDT/MB/12 dose therapeutic regimen , and there were around 1.83% of deaths. Therefore, through data analysis, the importance of health education, aimed at this target audience, should be noted.
Keywords: Nurse. Leprosy. Epidemiological Profile.
1. INTRODUÇÃO
A hanseníase é uma doença infectocontagiosa caracterizada pela infecção pelo Mycobacterium leprae, também denominado de bacilo de Hansen. Esta é uma das enfermidades mais antigas da história, com registros que remontam a mais de 3000 anos. Segundo Araújo (2003), sua descrição inicial foi feita em 1873 pelo médico norueguês Gerhard Armauer Hansen.
O agente causador da hanseníase é um bacilo intracelular obrigatório, resistente ao álcool-ácido, que se reproduz lentamente e não pode ser cultivado em laboratório, o que torna a pesquisa científica sobre ele desafiadora (BRASIL, 2022). Apesar de sua baixa virulência, Brasil (2017), esclarece que o bacilo tem uma alta capacidade de infectar, principalmente as células da pele e dos nervos periféricos, com um ciclo de multiplicação lento, que varia de 11 a 16 dias, acredita-se que o período de desenvolvimento da moléstia seja, em média, de cinco anos. A principal fonte de infecção são os indivíduos doentes não tratados com uma alta carga bacilar, que eliminam o bacilo através das vias respiratórias superiores, que também funcionam como a porta de entrada para indivíduos suscetíveis. A transmissão ocorre por contato direto entre indivíduos e é facilitada quando suscetíveis convivem com doentes não tratados. A disseminação hematogênica é o mecanismo de propagação para a pele, nervos, mucosas e outros tecidos. A suscetibilidade à bactéria tem uma forte influência genética, tornando os familiares de pessoas com hanseníase mais propensos a adoecer (BRASIL, 2022).
A hanseníase apresenta quatro formas clínicas distintas: indeterminada, tuberculóide, virchowiana e dimorfa, todas manifestadas por sinais e sintomas dermatoneurológicos marcantes, incluindo lesões na pele e nas nervuras periféricas. A doença é grave e pode levar a diversas formas de incapacidade física e deformidades, frequentemente, irreversíveis, que têm um impacto significativo nas esferas social, profissional e psicológica (BRASIL, 2022). No entanto, o diagnóstico é geralmente simples na maioria dos casos, e é baseado na história clínica e exame físico, com ou sem a realização de baciloscopia. O diagnóstico precoce e correto permite a cura e interrompe a cadeia de transmissão da doença. O tratamento eficaz está disponível pelo Sistema Único de Saúde (BRASIL, 2022).
Para Carvalho et al. (2022), a hanseníase é uma doença praticamente restrita aos países em desenvolvimento e está associada a más condições socioeconômicas, pobreza e falta de acesso à moradia adequada, alimentação, saúde e educação. É classificada como uma doença negligenciada, que afeta regiões da Ásia, África e América Latina. Três países concentram a maioria dos casos, com a Índia liderando com 56,6%, seguida pelo Brasil com 13,8% e a Indonésia com 8,6%. No Brasil, a hanseníase é endêmica e representa um desafio significativo para a saúde pública. O país é responsável por mais de 90% dos novos casos na região das Américas.
A hanseníase está incluída na Lista Nacional de Notificação Compulsória de Doenças, Agravos e Eventos de Saúde Pública, e entre os anos de 2012 e 2021, onde foram diagnosticados 269.086 casos novos (SINAN-NET, 2022; TABNET, 2022).
Dado o status do Brasil em relação à prevalência da doença no cenário global, é evidente que estudos com dados atualizados são essenciais para compreender o perfil clínico-epidemiológico da hanseníase nos dias de hoje. Uma vez que a incidência da doença está positivamente associada a fatores socioeconômicos, de acordo com Leano et al. (2019), é crucial vincular a epidemiologia às condições sociais específicas de cada região do país, considerando suas vastas dimensões e as diferentes condições climáticas e sociais. Portanto, esta pesquisa se propõe a comparar o perfil clínico-epidemiológico da hanseníase na cidade de Araguaína/TO, durante o período de janeiro de 2013 a dezembro de 2023.
Entender o perfil clínico da hanseníase na região pode ajudar os profissionais de saúde a melhorarem os cuidados prestados aos pacientes. Isso pode incluir o desenvolvimento de protocolos de tratamento personalizados com base no perfil da doença. Outro fator importante está relacionado a divulgação dos resultados da pesquisa, podendo aumentar a conscientização pública sobre a hanseníase em Araguaína, e levando a redução do estigma associado à doença e incentivando as pessoas a procurarem tratamento mais cedo.
Em síntese, esta pesquisa pode trazer um impacto significativo na prevenção, diagnóstico e tratamento da hanseníase na região e serve como uma ferramenta valiosa para os profissionais de saúde e formuladores de políticas.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Hanseníase
A hanseníase é provocada pelo Mycobacterium leprae, identificada, no ano de 1873 pelo médico norueguês Gerhard Henrick Armauer Hansen. Apesar de ter tratamento, utilizando o poliquimioterápicos (PQT) e, por conseguinte, curável, essa enfermidade, segundo Souza et al. (2019), ainda representa um sério problema de saúde pública em escala global, devido ao seu potencial para desenvolver neuropatias que resultam em deformidades e incapacidades físicas.
Anteriormente denominada Lepra, a hanseníase é uma moléstia que parece ser uma das mais antigas afecções humanas, que de acordo com Jesus, Montagner e Montagner (2019), foi documentada desde tempos bíblicos e conhecida há mais de três mil anos na Índia, China e Japão. Ferreira (2019), esclarece que no Egito, registros encontrados em um papiro da época de Ramsés II indicam que a patologia já era conhecida há quatro mil e trezentos anos antes de Cristo.
Ramos Junior et al. (2014), elucidam que em investigações contemporâneas sobre a hanseníase, supõe-se que sua origem tenha ocorrido na África Oriental e no Oriente Médio, espalhando-se, subsequentemente, por meio das migrações humanas e alcançando diversas regiões ao redor do mundo. No entanto, Ferreira (2019), afirma que é desafiador estabelecer com precisão o momento exato em que a hanseníase surgiu devido à abundância de traduções e fragmentos de textos a respeito desse tema.
Levantezi (2021), de acordo com suas pesquisas, acredita que a doença tenha sido disseminada na Europa Oriental por exércitos persas e, posteriormente, pelos romanos e pelas Cruzadas, alcançando as Américas, provavelmente, com os primeiros colonizadores no século XVI.
Ferreira (2019), explica que no Brasil, os primeiros registros de hanseníase aconteceram a partir de 1496 e foram introduzidos por indivíduos provenientes de Portugal, Espanha, Holanda e França. Ao longo de várias gerações, esses imigrantes doentes introduziram focos endêmicos da doença no país. De acordo com Levantezi (2021), é possível que também tenham surgido com as pessoas escravizadas trazidas da África, durante o período colonial.
Visando fornecer assistência aos afetados pela hanseníase, em 1714, surgiram, em Recife, as primeiras iniciativas para cuidar dos doentes, com a criação de um asilo e, em 1763, com a inauguração do Hospital dos Lázaros do Rio de Janeiro. Ramos Júnior et al. (2014), citam que outras instituições com o mesmo propósito também foram estabelecidas em cidades brasileiras ao longo dos séculos XVIII e XIX.
2.2 Epidemiologia
A OMS (2020), categoriza a hanseníase como uma das vinte Enfermidades Tropicais Desprezadas (ETDs), e sua incidência está associada às condições socioeconômicas precárias. Após a eficaz introdução da poliquimioterapia (PQT), no ano de 1981, os procedimentos da OMS voltaram-se para a diminuição da prevalência, inicialmente, visando menos de 1 caso por 10.000 habitantes e, posteriormente, para a redução na detecção de novos casos, incapacidades físicas (principalmente em crianças), discriminação e estigma.Conforme informações da OMS, em 2020, foram comunicados 127.396 casos inéditos de hanseníase em todo o globo. Desse total, 19.195 (15,1%) ocorreram na região das Américas, com 17.979 deles registrados no Brasil, representando 93,6% dos novos casos na região das Américas. Diante desse contexto, o Brasil (2022), se posicionou como o segundo país com a maior quantidade de casos (Figura 1) , ficando atrás apenas da Índia
Figura 1. Regiões de alto risco da taxa de detecção de hanseníase, Brasil, 2013 a 2021
Fonte: BRASIL (2023).
Dados preliminares relativos a 2021 assinalam que o Brasil identificou 15.155 novos casos de hanseníase. De acordo com Brasil (2022), em ambos os anos, nota-se que o número de casos diminuiu, significativamente, em comparação a 2018, antes da pandemia, quando houve o registro de um total de 28.660 casos novos.
Esforços tanto a nível internacional quanto nacional tem sido direcionados nas últimas décadas para erradicar a hanseníase como um problema de saúde pública. No Brasil, as ações atuais para combater essa doença estão alinhadas com a Estratégia Nacional de Enfrentamento da Hanseníase 2019-2022, cujo objetivo principal é diminuir a carga da enfermidade (Figura 2).
Esta tática enfatiza a ligação estreita entre a doença e condições desfavoráveis relacionadas ao meio ambiente e a economia, classificando os municípios brasileiros em três grupos com base em dados de 2013 a 2017:
a) Cidades sem ocorrência de casos novos;
b) Cidades com taxa de detecção;
c) Cidades com taxa de detecção maior ou igual a 10 casos por 100 mil habitantes.
Figura 2. Objetivo para enfrentamento da Hanseníase
Fonte: Estratégia Nacional de Enfrentamento da Hanseníase 2019-2022.
Para Rodrigues et al. (2020), esta segmentação tem como intuito oferecer subsídios para a formulação de medidas específicas de acordo com as características locais, fomentando a identificação de fragilidades e desafios regionais.
As ações para reduzir a carga da hanseníase no país continuam a ser impactadas pelas restrições impostas pela pandemia de COVID-19, que sobrecarregam os serviços de saúde, dificultando diagnosticar e acompanhar casos da doença no Brasil. Em contrapartida, Brasil (2022), esclarece que algumas medidas restritivas, como a limitação da circulação de pessoas, o uso de máscaras e o álcool em gel, entre outras, contribuíram para a redução no número de casos no país.
2.3 Sintomatologia, Diagnóstico e Tratamento da hanseníase
A Hanseníase é uma enfermidade infecciosa de caráter crônico, causada pelo Mycobacterium leprae, um bacilo resistente à coloração álcool-ácido, de formato bastonete. Silva et al. (2020), explicita que o Mycobacterium leprae é um parasita intracelular obrigatório, afetando células do sistema mononuclear fagocitário e células de Schwann.
A principal fonte de transmissão do bacilo é representada por indivíduos não tratados com hanseníase, portadores de uma elevada carga bacilar, que expelem o Mycobacterium leprae pelas vias aéreas superiores. Conforme descrito por Neves et al. (2021), o bacilo apresenta um ritmo de multiplicação lento, permanecendo viável no ambiente extracelular por até nove dias. Ele é altamente infeccioso, mas pouco patogênico, preferindo células cutâneas, nervos periféricos e macrófagos como alvos.
A transmissão da doença ocorre, principalmente, pelas vias aéreas superiores, de acordo com Souza et al. (2019), desde o contato com uma pessoa doente até o surgimento dos primeiros indícios, decorrem, em média, de 2 a 7 anos, devido ao padrão de replicação do bacilo. Assim, a progressão da enfermidade ocorre de forma gradual.
Para Neves et al. (2021), os pacientes com hanseníase, frequentemente, manifestam sinais e sintomas dermatoneurológicos, reconhecidos por lesões cutâneas (Figura 3) em qualquer parte do corpo, além de alterações tátil, na sensibilidade, dolorosa e térmica. Para Souza et al. (2019), no estágio inicial, os sintomas apresentados podem evoluir para uma hipersensibilidade local, acompanhada de formigamento, podendo ser confundida com prurido. Além disso, outros sinais merecem consideração, como o surgimento de inchaço nos membros, febre, dores nas articulações, obstrução vascular, úlceras, ressecamento nasal, nódulos avermelhados dolorosos, indisposição geral e olhos ressecados.
Figura 3. Lesões hansênicas
Fonte: Site https://www.mdsaude.com/dermatologia/hanseniase-lepra/
Silva et al. (2020), explicam que o diagnóstico da hanseníase é fundamentalmente epidemiológico e clínico, e depende da análise da história do paciente, de suas condições de vida, e da realização do exame dermatoneurológico para identificar lesões ou regiões da pele com variações na sensibilidade e/ou afetadas por comprometimento dos nervos periféricos, com alterações sensitivas e/ou motoras e/ou autonômicas.
Feridas, suspeitas de hanseníase, devem ser avaliadas através de exames físicos dermatológicos e neurológicos, realizados por profissionais habilitados. Na maioria das vezes, essa pesquisa de lesões é conduzida no nível da atenção primária à saúde, com o intuito de avaliar manchas hipocrômicas, anormalidades na sensibilidade e danos ao Sistema Nervoso Periférico (SNP). Nesse momento, De Almeida (2020), clarifica que a doença é classificada como Paucibacilar (PB) ou Multibacilar (MB), levando em consideração sua forma de apresentação.
Segundo Gouvêa (2020), em 1970, a OMS implementou o tratamento poliquimioterápico (PQT), que só foi introduzido no Brasil, apenas em 1991, contribuindo, substancialmente, para a cura e redução da prevalência da hanseníase.
Os principais objetivos do tratamento incluem a prevenção de incapacidades físicas através da identificação precoce de casos, a eliminação da infecção por meio de antibioticoterapia e do tratamento adequado das reações hansênicas e das disfunções neurológicas. Para De Almeida (2020), os pacientes com suspeita da doença devem ser, minuciosamente, avaliados quanto às funções motoras, sensitivas e autonômicas dos nervos periféricos.
Segundo Gouvêa (2020), casos de hanseníase em indivíduos com menos de quinze anos indicam uma transmissão recente, revelando que as crianças conviveram com casos não tratados de hanseníase. Para De Almeida (2020), isto se torna um indicador importante para a vigilância de contatos e monitoramento da doença nos grupos comunitários.
O tratamento da hanseníase, por meio de medicamentos, engloba a administração de três antimicrobianos: clofazimina, rifampicina e dapsona. Essa combinação é conhecida como Poliquimioterapia Única (PQT-U) e está disponível em versões para crianças e adultos. A distribuição dos medicamentos é realizada gratuitamente e exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), segundo Brasil (2022). As orientações indicam um regime de três medicamentos com rifampicina, dapsona e clofazimina para todos os as pessoas que têm hanseníase, com duração de 6 meses de tratamento, para a forma paucibacilar e 12 meses para a forma multibacilar.
2.4 Vigilância Epidemiológica da Hanseníase
O controle da hanseníase e as medidas preventivas essenciais são baseados em diversos pilares: detecção precoce de novos casos, tratamento com poliquimioterapia, monitoramento dos contatos domiciliares, prevenção de complicações e reabilitação. Jesus et al. (2021), explicam que é de suma importância que a população esteja ciente de que a hanseníase é curável e saiba identificar os sinais e sintomas, buscando tratamento nas unidades de saúde locais. As UBS devem estar bem estruturadas para assegurar o acesso aos serviços relacionados à hanseníase. Além disso, é crucial que os profissionais de saúde estejam capacitados para identificar os sinais e sintomas da comorbidade, possibilitando um diagnóstico preciso, tratamento eficaz e a promoção da saúde.
A hanseníase tem um lugar de destaque na agenda sanitária global e faz parte do 3º ODS (Objetivo de Desenvolvimento Sustentável), da Organização das Nações Unidas (ONU). Este objetivo, segundo Brasil (2022), tem o propósito de promover uma vida saudável e o bem-estar das pessoas, com a finalidade de erradicar epidemias como a tuberculose, Aids, malária e outras doenças contagiosas e tropicais, até o ano de 2030.
A Estratégia Global de Hanseníase de 2021 a 2030 representa uma mudança significativa na abordagem global da doença. procedimentos anteriores tinham como foco a extinção da hanseníase como um problema de saúde pública, alcançando avanços notáveis na diminuição da carga global da doença nas últimas três décadas. No entanto, a nova tática concentra esforços na cessação da transmissão e na extinção de casos autóctones. O objetivo, de acordo com Brasil (2022), a longo prazo, é atingir a visão de “zero hanseníase”, o que significa zero infecção e doença, zero incapacidade, zero estigma e zero discriminação.
No Brasil, a Estratégia Nacional para o Enfrentamento da Hanseníase 2019-2022 estabelece um parâmetro de um país sem hanseníase. Este procedimento objetiva diminuir a quantidade de doentes até o final de 2022, com metas específicas, incluindo a redução do número de crianças com grau 2 de incapacidade física e a implantação de canais para registro de práticas discriminatórias às pessoas afetadas pela hanseníase e seus familiares (BRASIL, 2022).
A clarificação acerca da doença e a deteção dos familiares em contacto com novos casos permanecem como as estratégias fundamentais para identificar precocemente a hanseníase. De acordo com Cunha (2007), a monitorização epidemiológica da hanseníase baseia-se, principalmente, na análise dos dados reunidos nos estabelecimentos de saúde, utilizando indicadores operacionais e epidemiológicos para guiar as medidas a serem implementadas.
Os indicadores são ferramentas quantitativas que ajudam a descrever uma situação específica e a monitorar mudanças ou tendências ao longo do tempo. No contexto da saúde, Goulart (2002), elucida que os indicadores são cruciais para comparar diferentes áreas ou momentos e fornecer informações para o planejamento de ações de saúde. Os indicadores epidemiológicos mensuram a dimensão de um problema de saúde pública, e estão relacionados com a situação de uma população ou ambiente em um determinado período.
Moreira, et al. (2019), afirmam que a hanseníase é uma doença de notificação obrigatória e investigação compulsória. A análise dos indicadores de monitoramento do progresso na eliminação da hanseníase ajuda a avaliar a magnitude do problema de saúde pública, por isso esta pesquisa é tão importante.
2.5 Ações de enfermagem frente a Hanseníase
A configuração da Atenção Primária à Saúde (APS) proporciona a detecção ativa e passiva de casos de hanseníase, o registro diligente e intervenções estratégicas na investigação epidemiológica. Ela também desempenha um papel fundamental na avaliação da demanda pelos serviços de saúde da unidade e na promoção da educação em saúde como medida preventiva e informativa (SILVA et al., 2015; SANTANA et al., 2022).
Santana et al. (2022, p. 1), conclui em sua publicação:
[…] a importância do enfermeiro no diagnóstico precoce, prevenção de deformidades e na continuidade do tratamento, onde o mesmo precisa executar estratégias de forma que leve conhecimento a população e quebre de vez os “tabus” associados à infecção.
As atividades realizadas pelo enfermeiro na Estratégia Saúde da Família (ESF) são de grande relevância. Isso inclui o acolhimento, investigação diagnóstica, e implementação do tratamento para os pacientes, bem como a aplicação de medidas preventivas e intervenções para cuidar das deficiências adquiridas. Além disso, os enfermeiros lideram atividades de controle, instruem sobre práticas básicas de autocuidado, mantêm registros de dados epidemiológicos e conduzem pesquisas para aprofundar sobre a incidência e a prevalência da doença (SILVA et al., 2016).
É importante ressaltar que o uso de protocolos e fluxogramas no cuidado ao pacientes com hanseníase é fundamental para melhorar a assistência prestada e garantir que ela esteja alinhada com os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS). Além disso, o objetivo da prática profissional dos enfermeiros é aprimorar a qualidade do cuidado oferecido (SOUSA; SILVA; XAVIER, 2017).
A consulta de enfermagem desempenha um papel crucial na conduta clínica e terapêutica da hanseníase, pois estabelece um vínculo significativo entre as partes. Conforme Cid et al. (2012), essa abordagem não deve se limitar apenas ao tratamento medicamentoso, mas também deve valorizar a capacidade terapêutica da escuta e da comunicação, apoiando o bem-estar psicossocial do paciente e familiares.
Penha et al. (2015), realçam a importância de garantir que o paciente compreenda seu estado de saúde, o que pode ser alcançado por meio da consulta de enfermagem, que fornece informações precisas sobre a doença. Essas consultas visam clarear as dúvidas relacionadas aos sintomas clínicos e são essenciais para garantir a aceitação da doença e do tratamento e promover o autocuidado entre os portadores de hanseníase. Conforme Lana et al. (2014), isso inclui a avaliação do estado de saúde geral e das deficiências físicas, a realização de exames dermatoneurológicos, a administração supervisionada da poliquimioterapia e a orientação sobre os efeitos colaterais dos medicamentos.
O papel crucial dos profissionais de enfermagem na prática de estratégias de manejo e tratamento para os pacientes com hanseníase é evidente, pois eles trabalham diretamente com grupos em necessidade, compreendendo suas deficiências e desenvolvendo táticas para superar desafios. Os enfermeiros também desempenham um papel importante na educação contínua, buscando melhorar o cumprimento do tratamento e aumentar a qualidade de vida. Além disso, eles contribuem para combater o preconceito e aumentar o conhecimento da sociedade sobre as intervenções de saúde disponíveis para a doença (FILGUEIRAS, 2019).
O trabalho dos enfermeiros no contexto da hanseníase é essencial em várias frentes, desde o diagnóstico e tratamento até o suporte psicossocial e educativo aos pacientes e suas famílias. Suas ações desempenham um papel impreterível na melhoria da qualidade de vida dos portadores dessa doença e na redução do estigma associado a ela, contribuindo assim para a promoção da saúde pública (SILVA et al., 2023).
3. METODOLOGIA
Esta é uma pesquisa epidemiológica descritiva, de abordagem quantitativa, realizada no município de Araguaína – TO. A população da pesquisa foi formada pelos casos de hanseníase diagnosticados e cadastrados na plataforma do SINAN-NET e ferramenta TABNET no período de janeiro de 2013 a dezembro de 2023.
Os dados foram coletados no endereço eletrônico do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), segundo informações dispostas no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). Perante o exposto, é importante acentuar que as informações estão dispostas na seção de informação de saúde (TABNET), na seção epidemiologia e morbidades.
A disposição destas informações, exercem um relevante papel na vigilância epidemiológica em todo o país. Cada vez que é atualizado, as informações são disponibilizadas no DATASUS, provenientes de várias fontes, com o objetivo de facilitar a organização, o planejamento, o controle e a operacionalização. A responsabilidade pela atualização recai sobre as Secretarias de Saúde dos Estados e dos Municípios, dentro do contexto do SINAN (OLIVEIRA et al., 2023).
As variáveis estudadas foram: sexo, faixa etária, raça/etnia, escolaridade, forma clínica, número de lesões cutâneas, classificação operacional apresentada, avaliação do Grau de incapacidade física no diagnóstico, baciloscopia, esquema terapêutico inicial e contatos registrados. Para melhor entendimento e discussão dos dados, as tabelas foram construídas a partir de uma estatística descritiva com frequências absolutas e relativas, sendo processados nos programas Microsoft Office e Microsoft Excel.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os dados para a pesquisa foram coletados no endereço eletrônico do DATASUS, de acordo com as informações dispostas no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN-NET), posteriormente, foi realizado a tabulação e análise dos mesmos, para melhor definir o perfil clínico e epidemiológicos dos portadores de Hanseníase atendidos no município de Araguaína/TO no período de janeiro de 2013 a dezembro de 2023.
Após a coleta dos dados foi possível identificar um total de 1636 casos de Hanseníase notificados em Araguaína/TO no período estudado, e destes, cerca de 1251 foram somente de pessoas que residiam nesse município, representando 76,46% do quantitativo em percentagem dos números notificados no SINAN-NET.
Gráfico 1 – Quantitativo em percentual da relação de predominância do sexo em acometidos por Hanseníase no município de Araguaína/TO, no período de janeiro de 2013 a dezembro de 2023.
Fonte: Dados coletados pelas pesquisadoras no Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net.
*valores aproximados pelo Excel.
Perante o gráfico 1, é possível observar que o sexo masculino é o mais acometidos em casos de hanseníase, sendo 59%. Já o sexo feminino possui 41% dos casos registrados/notificados.
De acordo com os autores Castro, Arruda e Araújo (2021), a prevalência de casos de hanseníase no sexo masculino é derivada de diferentes fatores, como diversas suscetibilidades genéticas, fatores culturais e comportamentais, no qual o homem se expõe com maior facilidade ao agente infectante, por outro lado, as mulheres detêm maior preocupação com a saúde.
Gráfico 2 – Quantitativo em percentagem da faixa etária de maior predominância de acometidos por Hanseníase, no município de Araguaína, no período de janeiro de 2013 a dezembro de 2023.
Fonte: Dados coletados pelas pesquisadoras no Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net.
*valores aproximados pelo Excel.
No gráfico 2, logo acima, afirma-se que a idade com maior número de casos é de 40 a 59 anos, sendo prevalente em todos os anos estudados, com um total de 587 casos, o que corresponde a cerca de 35,88% dos casos. A idade de 20 a 39 anos foi a segunda com maior quantitativo de casos registrados, sendo 467 (28,54%) número de casos, 28,54%, seguida de 60 anos e mais, com 376 casos (23%), 1 a 14 anos com 126 casos (7,70%), e as idades de 15 a 19 anos com 80 casos (4,88%).
Da Silva et al., (2020) também identificaram um maior número de casos em pessoas de 40 a 59 anos, sendo um percentual de aproximadamente 48%, sendo seguido de indivíduos de 30 a 39 anos, com 29%, e de 20 a 29 anos com 23%.
Pode-se observar que de 2020 a 2023 houve uma queda drástica nos números de casos registrados, isso pode está associado, de acordo com as autoras do presente estudo, com a pandemia da covid-19, uma vez que teve uma redução significativa nos atendimentos nas Unidades Básicas de Saúde, e que consequentemente, dificultou o diagnóstico de novos casos. O Ministério da Saúde refere que a redução do diagnóstico e portanto um pior prognóstico nos casos, é resultado da sobrecarga nas unidades de saúde, em virtude da restrição da pandemia da covid-19 (BRASIL, 2023).
Gráfico 3 – Quantitativo em percentagem racial de casos de Hanseníase notificados no município de Araguaína/TO, no período de janeiro de 2013 a dezembro de 2023.
Fonte: Dados coletados pelas pesquisadoras no Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net.
*valores aproximados pelo Excel.
No gráfico 3, pode-se observar que a raça parda é a mais acometida pela Hanseníase, correspondendo cerca de 75% dos casos notificados, seguida das raças branca sendo 12,47%, preta com 10,81%, amarela com 1% e indígena com 0,24% dos casos, as fichas em branco ou ignoradas com 0,12%.
Loiola et al., (2018) pressupõem que a prevalência de patologias em pessoas pardas, é devido a miscigenação das raças resultando em uma alteração nos genes desses indivíduos, tornando-os mais suscetíveis a determinadas doenças, como a Hanseníase.
Gráfico 4 – Quantitativo em percentagem da relação do grau de escolaridade com os casos de Hanseníase no município de Araguaína/TO, no período de janeiro de 2013 a dezembro de 2023.
Fonte: Dados coletados pelas pesquisadoras no Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net.
Legenda: Analf (Analfabeto), EFI (ensino fundamental incompleto), EFC (ensino fundamental completo), EMI (ensino médio incompleto), EMC (ensino médio completo), ESI (ensino superior incompleto), ESC (ensino superior completo).
*valores aproximados pelo Excel.
No gráfico 4, verifica-se os seguintes níveis de escolaridade: analfabeto, ensino fundamental completo e incompleto, ensino médio completo e incompleto, ensino superior completo e incompleto, e não se aplica. A maior parte dos pacientes portadores de Hanseníase possuía o ensino fundamental incompleto (46%), seguido de ensino médio completo (19%), analfabeto (10%), ensino médio incompleto (9%), ensino fundamental completo (8%), ensino superior completo (5%), ensino superior incompleto (2%). Observou-se também que houve parte de não se aplica (1%) entre as fichas notificadas no SINAN.
Segundo Dos Santos et al., (2018) mesmo que a doença não escolha o grau de escolaridade do indivíduo, esta variável está relacionada ao quanto o paciente vai entender sobre o processo saúde-doença, e consequentemente, o entendimento sobre a importância do tratamento.
Gráfico 5 – Quantitativo em percentagem da forma clínica apresentada nos indivíduos do município de Araguaína/TO, no período de janeiro de 2013 a dezembro de 2023.
Fonte: Dados coletados pelas pesquisadoras no Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net.
*valores aproximados pelo Excel.
A forma clínica de maior predominância é a Dimorfa com 43%, seguida de Tuberculóide com 22%, Indeterminada com 18% e Virchowiana com 14%. Entretanto, houve casos de não classificada (2%) e ignorada/branco (1%).
De acordo com o Ministério da Saúde, a forma Dimorfa é a que mais afeta a população, com cerca de 70% dos casos registrados, em consequência da lenta reprodução dos bacilos e o seu extenso período de incubação (BRASIL, 2017).
Gráfico 6 – Quantitativo em percentagem do número de lesões cutâneas que acometem os portadores de Hanseníase, no município de Araguaína/TO, no período de janeiro de 2013 a dezembro de 2023.
Fonte: Dados coletados pelas pesquisadoras no Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net.
*valores aproximados pelo Excel.
No gráfico 6, é notório que 27% dos casos notificados, durante o período estudado, apresentaram lesão única, e 27% com lesões de 2 a 5, apresentando cerca de 2% de diferença entre elas. Em relação às lesões que são mais de 5, apresentam 23%, e as de informado 0 ou 99 foram 21% dos casos notificados.
Castro, Arruda e Araújo (2021) referem que de acordo com a forma clínica dos casos Paucibacilares, sendo eles determinado pela quantidade de até 5 lesões no paciente, possuem um baixo número de bacilos, e não se caracterizam relevantes para transmissão da Hanseníase, sendo capaz de se curar naturalmente.
Gráfico 7 – Quantitativo em percentagem da classificação operacional apresentada em portadores de Hanseníase, no município de Araguaína/TO, no período de janeiro de 2013 a dezembro de 2023.
Fonte: Dados coletados pelas pesquisadoras no Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net.
*valores aproximados pelo Excel.
Conforme o gráfico 7, é possível identificar que a classificação Multibacilar foi a com maior percentual, o qual apresentou 62% dos casos registrados no SINAN, já a forma Paucibacilar constou somente 38% das notificações, no qual a diferença percentual entre as duas formas foi de 24%.
De Assis Carvalho e Da Cunha Gonçalves (2022) também identificaram em seu estudo que a forma Multibacilar representou o maior número de casos, com cerca de 74,2%, enquanto a paucibacilar teve 25,7%. No mesmo estudo, os autores propuseram que a essa taxa de incidência é preocupante, já que a forma multibacilar constitui maior chance de transmissão, como também sintomas mais graves, aumento do risco de complicações e, consequentemente, maior tempo de tratamento.
Gráfico 8 – Quantitativo em percentagem de avaliação do Grau de Incapacidade Física no diagnóstico em portadores de Hanseníase no município de Araguaína/TO, no período de janeiro de 2013 a dezembro de 2023.
Fonte: Dados coletados pelas pesquisadoras no Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net.
*valores aproximados pelo Excel.
De acordo com o gráfico 8, destaca-se que o Grau 0 foi o mais expressivo com 53% dos casos notificados, em seguida foi o Grau I com 24%, depois foi o não avaliado com 12%, Grau II com 10%, e em branco com 1%. Com isso, fica evidente que a maioria dos pacientes possuíam todas as funções sensoriais preservadas, e contabilizando o Grau I e Grau II, cerca de 34% dos casos apresentavam perda da sensibilidade, e com isso deformidades e prejuízos nos nervos afetados, característico da patologia estudada.
Silva et al., (2019) constataram que os Graus de Incapacidade Física I e II estão relacionados a forma Multibacilar, número de nervos afetados, baciloscopia positiva e episódios reacionais, e portanto, essas características clínicas podem prognosticar efeitos deletérios, e por isso, precisam de maior atenção dos profissionais de saúde.
Gráfico 9 – Quantitativo em percentagem da Baciloscopia realizada nos portadores de Hanseníase, no município de Araguaína/TO, no período de janeiro de 2013 a dezembro de 2023.
Fonte: Dados coletados pelas pesquisadoras no Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net.
*valores aproximados pelo Excel.
Perante o gráfico 9, denota-se que 45% dos casos de Hanseníase no período estudado, não realizaram a baciloscopia. Embora, 31% que realizaram a baciloscopia, 17% foram positivos e 14% negativos, com uma diferença de 2% entre eles. No entanto, ocorreram muitos casos de fichas de notificação, não possuírem esses dados, com um percentual de 24%.
O MInistério da Saúde (MS) afirma que a baciloscopia da Hanseníase Paucibacilar será negativa, e a biópsia de pele na maioria das vezes não demonstrará bacilos, e deste modo, será necessário, para identificar a doença, fazer uma correlação clínica com o resultado da baciloscopia (BRASIL, 2017). Porém, o MS ainda solidifica que na classificação Multibacilar a baciloscopia, normalmente, é positiva, e somente em casos raros vai ser negativa, diante disso, é preciso levar em consideração o quadro clínico do paciente para a sua classificação e diagnóstico (BRASIL, 2017).
Gráfico 10 – Quantitativo em percentagem do esquema terapêutico inicial de cada portador de Hanseníase, no município de Araguaína/TO, no período de janeiro de 2013 a dezembro de 2023.
Fonte: Dados coletados pelas pesquisadoras no Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net.
*valores aproximados pelo Excel.
No gráfico 10, observa-se que o esquema terapêutico inicial dos portadores de Hanseníase foi em sua grande parte a PQT/MB/12 doses, constando 60% dos casos registrados, já o tratamento com PQT/PB/6 doses foi 39% dos casos que fizeram esse tratamento, contando com uma diferença de 21% entre os dois.
O esquema terapêutico sofreu mudanças em 2021, segundo a SBD (2021), e foi recomendado que os pacientes que iniciaram o tratamento antes de 01 de junho de 2021, deveriam continuar com o tratamento anterior, por isso, algumas fichas de notificação de diferentes anos possuem esquema terapêutico divergentes.
Gráfico 11 – Quantitativo em percentagem de contatos registrados que tiveram convivência por um tempo prolongado com um portador de Hanseníase, no município de Araguaína/TO, no período de janeiro de 2013 a dezembro de 2023.
Fonte: Dados coletados pelas pesquisadoras no Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net.
*valores aproximados pelo Excel.
No gráfico 11, verifica-se que em 2013 teve 697 contatos registrados, em 2014 foram 757, em 2015 foram 1422, em 2016 foram 1373, em 2017 foram 1803, em 2018 foram 1641, em 2019 teve 846, e observa-se que houve uma queda nesses números registrados a partir desse ano, sendo em 2020 com 218 contatos, em 2021 com 280, em 2022 com 265 e 2023 somente com 91 contatos notificados.
Souza et al., (2019b) descreveram que as notificações dos números de contatos registrados, servem como base para avaliar a competência dos serviços de vigilância em saúde, possuindo como objetivo, a detecção precoce de novos casos, e posteriormente realizar o tratamento de forma imediata, em busca da redução de possíveis danos e transmissão da patologia.
Gráfico 12 – Quantitativo em percentagem de número de óbitos, no município de Araguaína/TO, no período de janeiro de 2013 a dezembro de 2023.
Fonte: Dados coletados pelas pesquisadoras no Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net.
*valores aproximados pelo Excel.
É expressado pelo gráfico 12, que os anos com maiores números de óbitos foram os anos 2016 e 2017, com 5 óbitos. Já os anos de 2013 e 2019, tiveram 4 óbitos, e os anos de 2015, 2018 e 2020 possuírem 3 óbitos. E os anos com somente 1 óbito, foram os anos de 2014, 2021 e 2022. Entretanto, no ano de 2023 não houve a notificação de nenhum óbito. Apresentando um percentual de 1,83%, dos dados notificados. Destes, cerca de 24 (1,47%) óbitos dentro do período estudado, foram de pacientes residentes em Araguaína/TO.
Ribeiro et al., (2022) aponta que apesar da Hanseníase ser uma enfermidade bastante conhecida, esta, continua apresentando resultados severos, em todo o Brasil, com isso, mostrando ser negligenciada e expondo fatalidades passíveis de remediação.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante disso, foi possível identificar que a maioria das pessoas infectadas pela Hanseníase, no município de Araguaína, no período de tempo analisado pelo presente estudo, são homens pardos, com ensino fundamental incompleto, de idade entre 40 a 59 anos, sendo a forma clínica Dimorfa, com lesão única, e Multibacilar. Apresentando Grau 0 de Incapacidade Física, e a maioria da baciloscopia não sendo realizada. Já o esquema terapêutico foi o PQT/MB/12 doses, tendo 1,83% de óbitos. Com isso, é evidente que a vigilância epidemiológica em saúde deve ser constante, principalmente nesse público de maior prevalência, para assim reduzir a quantidade de pessoas com a doença.
Ressalta-se a importância de criação e ampliação de ações de educação em saúde voltadas para esse público, com o propósito de reduzir a quantidade de pessoas infectadas pela Hanseníase. A importância e necessidade de criação de ações voltadas para essa população tem o intuito de diminuir casos em crianças e adolescentes, já que estes adquirem a doença a partir de sua família, por meio de contato registrado.
Desta forma, é de suma importância a necessidade de alimentação das fichas de notificação compulsória de forma correta, para que em trabalhos futuros, sempre seja possível identificar o público alvo da Hanseníase, e com isso tomar medidas de prevenção.
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¹Discente do Curso Superior de Enfermagem do Instituto UNITPAC Campus Araguaína/TO. e-mail: julianacgama@icloud.com
²Discente do Curso Superior de Enfermagem do Instituto UNITPAC Campus Araguaína/TO. e-mail: robertaferreiramelo2018@gmail.com
³Orientadora. Docente do Curso Superior de Enfermagem do Instituto UNITPAC Campus Araguaína/TO. Mestre em Meio Ambiente (CEUMA). e-mail: luciana.alves@unitpac.edu.br