PERFIL AUDIOMÉTRICO DE RESIDENTES MULTIPROFISSIONAIS EM SAÚDE DE UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO  

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/dt10202412281650


Esp. Francyelle Vieira da Costa
Esp. Paloma Araujo Lisboa
Esp. Mariane dos Santos Ferreira
Esp. Ruanna Sotero Leão Nascimento
Dra. Isabel Cristina Sabatini Perez-Ramos


RESUMO:  

Introdução: O ruído encontra-se associado aos acidentes de trabalho, sendo estes os maiores agravos à saúde do trabalhador. Dentre os trabalhadores da área da saúde em ambiente hospitalar se encontram os residentes multiprofissionais, que realizam sua especialização de formação prática e teórica. O objetivo deste estudo foi caracterizar o perfil auditivo de residentes multiprofissionais de um Hospital Universitário por meio da Avaliação Audiológica Básica.

Metodologia: A coleta de dados foi realizada na clínica de fonoaudiologia da mesma instituição. A avaliação audiológica foi composta por audiometria tonal liminar, imitanciometria e logoaudiometria. As classificações quanto ao tipo de perda auditiva e quanto à configuração audiométrica seguiram os critérios propostos por Silman e Silverman, e a classificação do grau proposta pela OMS.

Resultados: Foi constituído por 40 exames, que demonstraram predominância de (82,5%) do sexo feminino e (17,5%) do sexo masculino, com média  de 26,72 anos de idade. Na realização da audiometria tonal foi constatado que (55%) dos sujeitos testados apresentaram perda auditiva de grau leve ou frequência isolada, os demais pacientes (45%) apresentaram limiares auditivos dentro do padrão de normalidade em ambas as orelhas. Na  Logoaudiometria 40 (100%) pacientes apresentaram IRF com reconhecimento de fala dentro da  normalidade. A partir da realização da imitanciometria foram obtidos resultados de curva timpanométrica do tipo A em 38 (95,0%) pacientes e curva do tipo Ar em 2 (5,0%) pacientes.

Conclusão: A maior parte dos residentes multidisciplinares apresentaram algum tipo de perda auditiva, reforçando a necessidade de práticas de detecção e monitoramento auditivo de trabalhadores dentro de hospitais.   

Palavras chaves: Audiometria. Perda auditiva. Ruído ocupacional. Profissional da saúde. Limiar auditivo. 

INTRODUÇÃO:  

Segundo o relatório mundial sobre a audição publicado pela Organização Mundial da Saúde – OMS, a perda auditiva impacta indivíduos de todas as idades, bem como as famílias e economias. Estima-se que atualmente mais de 1,5 bilhão de pessoas apresentem algum grau de perda auditiva com projeções de aumento para 2,5 bilhões até 2050 (OMS,2021).  

De acordo com Tsai, Bernacki e Dowd (1991) o ruído em suma é um agente de risco ocupacional, associado aos acidentes de trabalho e, diferentemente do que o nome sugere, não são eventos corriqueiros ou acidentais, mas fenômenos socialmente determinados e preveníveis, assim como também são as perdas auditivas induzidas por níveis elevados de pressão sonora segundo Dwyer (1991). Verifica-se que o ruído é um fator agravante para  acidentes de trabalho (Dias, Cordeiro e Gonçalves, 2006). A exposição ao ruído excessivo pode gerar várias manifestações à saúde, incluindo elevação da pressão arterial, elevação no nível geral de vigilância, aceleração da frequência cardíaca e respiratória, aumento do tônus muscular, aumento da produção de hormônios tireoidianos e estresse, redução da performance laboral, dificuldades no sono, perda auditiva temporária e perda auditiva induzida por ruído (DIAS et al., 2006). (Dias, Cordeiro e Gonçalves, 2006). 

Segundo Otenio, Cremer e Claro (2007) os hospitais têm se transformado em locais ruidosos, devido a diferentes fatores, dentre eles, a grande incorporação de tecnologias. Nas unidades de terapia intensiva (UTIs) são numerosas as fontes geradoras de ruído, como aspiradores, monitores, ventiladores mecânicos, computadores, impressoras e saídas de ar comprimido (Pereira et al., 2003; Rodarte et al., 2005). O aumento do ruído em hospitais relaciona-se ainda com a ausência do silêncio pela própria equipe de trabalho e pelos usuários do serviço. No entanto, o silêncio se faz necessário para o bom funcionamento da rotina hospitalar, incluindo a recuperação dos pacientes (Freitas e Clímaco,1999; Corrêa,2005).   

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde (ANVISA/MS,2011) reconhece o risco ocupacional no ambiente hospitalar, destacando os níveis elevados de ruído nas centrais de compressão de ar e geração de vácuo, nas oficinas de manutenção, nas marcenarias e nas lavanderias (Silva et al., 2010). A ANVISA menciona que nas UTIs, os alarmes sonoros, emitem ruídos de menor intensidade, porém, causam incômodos.  As equipes de saúde realizam várias tarefas no ambiente hospitalar, que exigem atenção constante. Um estudo realizado em ambiente hospitalar identificou que o processo de preparo e administração de medicamentos ocorrendo em ambiente ruidoso, dificulta a concentração dos profissionais e os induz a erros (Miasso et al., 2006). Com relação aos níveis de ruído, a OMS (1999) recomenda que, nos ambientes hospitalares, não ultrapasse 30 dB(A). A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT,2000) normatiza níveis entre 35 e 55 dB(A) para  hospitais.   

Dentre os trabalhadores da área da saúde que exercem a sua profissão em ambiente hospitalar se encontram os residentes multiprofissionais, que realizam de forma prática suas  atividades. Conforme a legislação brasileira, a Lei 11.129 estabelece que a Residência se constitui em um programa de cooperação intersetorial para favorecer a inserção qualificada dos  jovens profissionais da saúde no mercado de trabalho, particularmente em áreas prioritárias do Sistema Único de Saúde, com carga horária de 60 horas semanais, duração mínima de dois anos e em regime de dedicação exclusiva (BRASIL, 2005). Os trabalhadores expostos a ruídos ocupacionais excessivos podem manifestar malefícios em sua saúde, logo identificar e monitorar precocemente estes indivíduos, favorecem a possibilidade de reabilitação auditiva e minimização dos seus efeitos na qualidade de vida (Jacob et al.,2006).   

A audiometria tonal limiar é o exame padrão-ouro no processo de diagnóstico audiológico, permite a determinação de tipo, grau e configuração da perda auditiva (Amaral;  Momensohn-Santos, 2022). O critério de classificação do grau da perda auditiva mais recente é a da OMS (2021), que segue as recomendações da Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF) proposta pela OMS em 2001. Neste método, são feitos cálculos das médias dos limiares aéreos das frequências de 500Hz, 1000Hz, 2000Hz e 4000Hz.   

Desta forma o objetivo deste estudo é obter e caracterizar o perfil audiométrico dos residentes multiprofissionais do Hospital Universitário, por meio da Avaliação Audiológica Básica. 

METODOLOGIA:  

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Sergipe, sob o número CAAE: 77948124.6.0000.5546. Teve como objetivo caracterizar o perfil auditivo dos residentes multiprofissionais. Foram incluídos no estudo residentes multiprofissionais, acima de 18 anos, sem queixas auditivas. Todos os residentes multiprofissionais do Programa de saúde do Adulto e Idoso no Hospital Universitário, classificados como R1 e R2, foram convidados verbalmente a participar da pesquisa, aqueles que concordaram em participar voluntariamente do estudo, foram informados sobre os procedimentos envolvidos e pós consentimento, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A coleta de dados foi realizada na clínica de fonoaudiologia da mesma instituição, no município de Aracaju-SE, no período de abril a setembro de 2024.  

A avaliação audiológica foi composta por audiometria tonal liminar, imitanciometria e logoaudiometria. Foi realizada a inspeção do meato acústico externo (MAE), a fim de descartar a presença de corpos estranhos ou a existência de excesso de cerume, os quais pudessem comprometer a realização dos testes propostos, impedindo a realização dos exames. A audiometria tonal liminar foi realizada por meio da pesquisa dos limiares de audibilidade por via aérea nas frequências de 250Hz a 8kHz e quando o limiar foi igual ou maior que 20dB,  também foi realizado audiometria por via óssea nas frequências de 500Hz a 4kHz. O procedimento para a testagem por via aérea e por via óssea foi idêntico, e em seguida foi realizado a logoaudiometria. O audiômetro utilizado foi o Interacoustics AD28 e fone supra aurais TDH, para realização da audiometria tonal e logoaudiometria, em cabina acústica; listas de vocábulos para pesquisa do Limiar de Reconhecimento de Fala (LRF) e Índice Percentual de Reconhecimento de Fala (IPRF).  

Foram analisadas as audiometrias tonais liminares, de cada frequência específica no audiograma, as classificações quanto ao tipo de perda e quanto à configuração audiométrica seguiram as propostas por Silman e Silverman (1997), e quanto ao grau da perda auditiva seguiram o critério de classificação mais recente o da OMS (2021), que segue as recomendações da Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF) proposta pela OMS em 2001. Neste método, são feitos cálculos das médias dos limiares aéreos das frequências de 500, 1000, 2000  e 4000Hz e sua média deverá ser até 19 dB para ser considerado dentro da normalidade.   

Foi obtido medidas de imitância acústica para a obtenção do registro do reflexo acústico no pico de máxima admitância do sistema tímpano-ossicular com pesquisa da curva timpânica e dos reflexos acústicos estapedianos, a pesquisa dos limiares dos reflexos acústicos foi feita nas medidas contralateral e ipsilateral, nas frequências de 500, 1000, 2000 e 4000 Hz, por meio do imitanciômetro Interacoustics AT 235. Os registros dos reflexos estapedianos foram classificados como presentes ou ausentes de acordo com o nível de sensação que foi eliciado.  

RESULTADOS:  

A amostra inicialmente foi constituída por 44 participantes ao total, porém 4 destes foram excluídos após a inspeção do meato acústico externo (MAE), devido à presença de excesso de cerume, eles foram encaminhados para o médico Otorrinolaringologista da Unidade Básica de Saúde (UBS). Sendo assim 40 participantes realizaram a Avaliação Audiológica Básica, seguindo os critérios de inclusão da pesquisa. A amostra caracterizou-se por 33 residentes (82,5%) do sexo feminino e 7 (17,5%) do sexo masculino, com média entre idades de 26, 71 anos, com mínima de 22 anos e máxima de 32 anos. Os residentes multidisciplinares da amostra exerciam distintas profissões, estas foram agrupadas e apresentadas com a quantidade de participantes respectivamente na Tabela 1, da seguinte forma: Serviço Social (17,5%), Fonoaudiologia (15%), Fisioterapeuta (15%), Nutrição (15%). Psicologia (12,5%), Enfermagem (10%), Odontologia (7,5%), e Farmácia (7,5%).

Tabela 1. Categorias profissionais pertencentes dos Residentes multidisciplinares participantes da pesquisa.

Na análise dos achados audiométricos, identificou-se a média dos limiares de audibilidade por condução aérea em ambas as orelhas dos participantes, ficou evidenciado a presença de perdas auditivas de frequência isoladas em diferentes frequências (250Hz a 8000Hz), no entanto com predomínio e piora por oitava das médias dos limiares auditivos por via aérea em direção às frequências altas, maior em ambas as orelhas, demonstradas nas Figuras 2 e 3. Os dados posteriormente foram classificados de acordo com o grau da perda auditiva proposto pela OMS,(19).

Figura 2 – Dados relativos aos limiares de audibilidade por via aérea.

Legenda: DP: desvio padrão, Valores mínimos, máximos, média e lateralidade de cada orelha.

Figura 3. Média dos Limiares de Audibilidade por via aérea dos Residentes Multidisciplinares.

Para a classificação do tipo da perda auditiva, foram analisadas cada frequência testada e a média quadritonal dos limiares auditivos assim como preconizado a classificação da OMS, 2021. Houve ocorrência em 55% de perda auditiva de frequências isoladas, apesar do aumento de perda auditiva em frequências específicas, a média quadritonal (que considera as frequências 500, 1.000, 2.000 e 4.000 Hz) mostrou-se em 98,5% dentro da normalidade. No entanto, 2,5% dos resultados apresentaram média quadritonal compatível com perda auditiva de grau leve. Esse dado revela uma discrepância entre a audição em frequências específicas e a média  quadritonal de audição. A análise dos limiares auditivos de cada frequência torna-se fundamental, pois a perda auditiva pode não ser uniforme ao longo do espectro das frequências testadas. Os exames mostraram que a maior parte das perdas auditivas observadas nas frequências específicas ocorreram em frequências altas compatíveis na sua maioria com a perda auditiva induzida por ruído (PAIR). Uma das causas mais comuns de alteração auditiva, especialmente em ambientes ocupacionais ou de lazer com exposição a níveis elevados de som. Dentre os pacientes que apresentaram perda auditiva por frequência específica ou de grau leve, 12(54,55%) apresentaram tais achados unilateralmente e 10(45,45%) apresentaram de forma bilateralmente, conforme Figura 4. 

Figura 4 – Resultado das Audiometrias nos Residentes Multidisciplinares do Hospital Universitário de Sergipe utilizando a referência da OMS, 2021.

De acordo com os resultados que evidenciaram perda auditiva em alguma frequência, o número de perdas auditivas de frequências isoladas no sexo feminino foram de 17(77,27%) amostras e no sexo masculino de 5(22,73%) amostras. Em relação a orelha mais acometida por perdas auditivas ficou evidente quando comparados os resultados entre as orelhas direita e esquerda que a Orelha Esquerda obteve um número maior de perdas auditivas nas frequências testadas. 

Dentre as categorias profissionais dos Residentes Multiprofissionais neste estudo, que apresentaram perda auditiva em alguma frequência foram o Serviço Social, Psicologia, Fisioterapia, Enfermagem, Farmácia e Odontologia. As demais categorias apresentaram resultados na Avaliação Audiológica Básica dentro dos parâmetros de normalidade. 

Na Logoaudiometria 40(100%) participantes apresentaram Índice de reconhecimento de fala dentro da normalidade(IRF). A partir da realização da impedanciometria foram obtidos resultados sobre o tipo de curva timpanométrica dos exames, sendo elas do tipo A bilateralmente em 38 (95,0%) participantes e curva do tipo Ar bilateralmente em 2(5,0%) participantes. Sobre a medidas dos reflexos acústicos estapedianos, a pesquisa dos limiares dos reflexos acústicos foi realizada nas medidas contralateral e ipsilateral, contendo como achados: reflexos ipsilaterais presentes bilateralmente em 28 (70%) das amostras e reflexos contralaterais presentes bilateralmente em 17 (42,5%). Desta forma os reflexos ipsilaterais ausentes das amostras totais foram 12(30%) e os reflexos contralaterais 23(47,5%). Ao compararmos o resultado da pesquisa dos limiares dos reflexos acústicos realizados nas medidas contralateral e ipsilateral na população que obteve perda auditiva de alguma frequência, sendo ela 22 participantes (55%), obtemos como dados reflexos ipsilaterais ausentes das amostras de 6(27%)  e os reflexos contralaterais ausentes em 15(68,18%). 

DISCUSSÃO: 

De acordo com a Secretaria de Atenção à Saúde (Brasil, 2006) no ambiente hospitalar, o ruído é um som indesejado e no ambiente de trabalho é o agente físico mais comum dentre os riscos ocupacionais, podendo causar efeitos nocivos à saúde e à audição. No entanto, são incipientes os estudos relacionados ao perfil audiométrico dos trabalhadores da área da saúde no âmbito hospitalar quando comparados por exemplo aos trabalhadores em indústrias. Um estudo realizado por Miranda et al. (1998), em trabalhadores de empresas da cidade de Salvador e região metropolitana, constatou a alarmante prevalência de 45,9% de perda auditiva. 

No presente estudo que analisou os resultados dos exames audiológicos de 40 residentes multiprofissionais de diferentes categorias da área da saúde, foi observado uma predominância quase absoluta de 33 residentes (82,5%) do sexo feminino e 7(17,5%) do sexo masculino. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,2000), há mais mulheres do que homens na população brasileira e a expectativa de vida das mulheres é maior que a dos homens. Assim como pelo fato de as mulheres procurarem frequentemente os serviços de saúde para realização de exames, podendo justificar tal dado, diferentemente da população  masculina (PINHEIRO et al., 2002). 

A média entre idades da população estudada foi de 26, 71 anos, com idade mínima de 22 anos e máxima de 32 anos. Não foi possível localizar estudos nacionais sobre a faixa etária específica do estudo, pois a maioria dos estudos apresentavam população com média de idade maior. Uma pesquisa revelou que a perda auditiva e a dificuldade autorrelatada já são comuns entre pessoas na faixa dos 20 anos, sugerindo que, mesmo nessa idade jovem, a percepção da fala em condições desafiadoras é reduzida. De acordo com a Organização Internacional de Padronização (ISO, 2019), acreditam-se que pessoas saudáveis na faixa etária dos 20 anos tenham a audição mais sensível de qualquer faixa etária. No entanto, em um estudo ele informa que a audição se torna progressivamente menos sensível ao longo da vida (Rodríguez Valiente  et al.,2014). 

Por meio dos resultados obtidos na audiometria tonal limiar dos residentes multiprofissionais e análise dos limiares auditivos de cada frequência, foi observado que 45% dos exames apresentavam-se dentro da normalidade e em 55% foi observado perda auditiva nos limiares de algumas frequências nos indivíduos(250Hz-8KHz). Esta perda auditiva ocorreu de forma unilateral e bilateral nos participantes o que variou foram as frequências comprometidas. Houve um número maior na ocorrência da perda auditiva na Orelha direita na frequência de 8KHz e na Orelha Esquerda na frequência de 6KHz dos participantes. Tal dado entra em  consonância com os estudos de Nunes et al. (2011), nas quais as avaliações realizadas por meio da audiometria tonal limiar apontam que 6.000Hz têm sido a primeira frequência a ser atingida em decorrência da exposição ao ruído ocupacional. Ao analisar a média obtida nas frequências de 3.000 a 8.000Hz em um estudo, observou-se que em 6.000Hz encontram-se as médias superiores a 25 dB, ou seja, o dano auditivo parece acometer principalmente estas frequências (Nunes et al.2011).  

Dentre os resultados que evidenciaram perda auditiva em alguma frequência, o número de perdas auditivas de frequências isoladas no sexo feminino foram de 17(77,27%) e no sexo masculino de 5(22,73%). As equipes de saúde realizam várias tarefas no ambiente hospitalar, que exigem atenção constante para que não ocorram erros no processo de trabalho. Um estudo realizado em ambiente hospitalar identificou que o processo de preparo e administração de medicamentos ocorrendo em ambiente ruidoso, dificulta a concentração dos profissionais e os induz a erros (Miasso et al.,2006). No Brasil, os dados sobre a exposição ao ruído na população ativa são imprecisos, o que dificulta a projeção de estimativas do número de trabalhadores expostos e a identificação dos ramos de atividade que oferecem maior risco, para a vigilância e prevenção da Perda Auditiva Induzida por Ruído-PAIR (Meira et al.,2012; Cavalcante et  al.,2013). Dentre as categorias profissionais dos Residentes Multiprofissionais neste estudo, que apresentaram perda auditiva em alguma frequência foram identificadas as suas respectivas categorias, sendo elas: o Serviço Social, Psicologia, Fisioterapia, Enfermagem, Farmácia e  Odontologia. As demais categorias apresentaram resultados na Avaliação Audiológica Básica dentro dos parâmetros de normalidade. 

As perdas auditivas Induzida por Ruído-PAIR possuem um número grande de incidência e a maioria da sua ocorrência poderia ser evitada. Sendo que a perda auditiva ocupacional após finalizada a exposição ao ruído, tende a se estabilizar, ou seja, a detecção precoce da mesma é a ação preventiva mais efetiva (LOURENÇO et al., 2011).

CONCLUSÃO: 

Este estudo caracterizou o perfil audiométrico dos residentes multiprofissionais de um hospital universitário, dentre os principais achados foram observados que 45% dos exames apresentaram resultados dentro da normalidade, enquanto 55% evidenciaram perda auditiva em algumas frequências, de forma unilateral ou bilateral. Diante desses achados, considera-se essencial que o ruído seja tratado com maior seriedade no ambiente hospitalar. É necessário investir em práticas preventivas e no monitoramento da saúde auditiva dos trabalhadores de hospitais, visto que alterações na acuidade auditiva podem resultar em impactos físicos e psíquicos, além de agravar riscos ocupacionais e contribuir para a ocorrência de acidentes de trabalho. A  conscientização sobre os efeitos prejudiciais do ruído prolongado na saúde auditiva é, portanto, de extrema importância.

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