PERDA DE MEMÓRIA SECUNDÁRIA À COVID-19: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

MEMORY LOSS SECONDARY TO COVID-19: AN INTEGRATIVE REVIEW

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10800340


Felipe Castanheira Botelho1; Gabriel da Silva Macedo2; Henrique Centrone Campos3; José Gustavo Rosso4;
Itamar Magalhães Gonçalves5


Resumo

Este estudo aborda os impactos da pandemia de COVID-19, que afetou a vida de milhões de pessoas globalmente, destacando-se pela realização de diversas pesquisas que visam seu combate. Entre os achados, a associação entre a COVID-19 e a perda de memória se destaca, apontando mecanismos como a invasão viral direta do sistema nervoso central e a neuroinflamação como fatores contribuintes. O objetivo principal desta revisão é fornecer um panorama atual e relevante sobre a perda de memória associada ao COVID-19, enfatizando a importância de compreender tais mecanismos para o desenvolvimento de estratégias eficazes de tratamento e prevenção. Ao consolidar dados atuais, esta pesquisa busca contribuir para o corpo de conhecimento existente, oferecendo insights valiosos para profissionais da saúde e pesquisadores na área. A metodologia adotada inclui a análise de estudos recentes que examinam a relação entre a COVID-19 e distúrbios de memória, permitindo uma compreensão mais profunda das consequências neurológicas do vírus. Os resultados desta revisão destacam a necessidade urgente de abordagens terapêuticas que considerem os efeitos neurológicos da COVID-19, incluindo a perda de memória, como um aspecto crítico no manejo da doença. Em conclusão, este estudo reforça a complexidade dos impactos da COVID-19 no sistema nervoso central e a importância de continuar explorando as conexões entre o vírus e distúrbios de memória para melhorar os desfechos clínicos dos afetados.

Palavras-chave: COVID-19. Distúrbios de memória. Memory Disorders. Sequelas.

1. INTRODUÇÃO

A emergência da pandemia de COVID-19 desencadeou uma crise sanitária global sem precedentes, afetando diretamente milhões de pessoas em todo o mundo. Embora predominantemente caracterizada por sintomas respiratórios, estudos têm demonstrado o impacto significativo do SARS-CoV-2 em vários órgãos, incluindo o sistema nervoso central, destacando a complexidade e o alcance sistêmico desta infecção (Li, Bai & Hashikawa, 2020). As consequências neurológicas da COVID-19, que incluem desde alterações olfativas até severas disfunções cognitivas, revelam a necessidade urgente de aprofundar a compreensão sobre as manifestações e sequelas neurológicas da doença (Lyra e Silva et al., 2022; Fiorentino et al., 2022).

A identificação de hiposmia e anosmia entre os sintomas mais prevalentes aponta para o envolvimento do sistema nervoso, sugerindo mecanismos de invasão viral que ultrapassam as barreiras respiratórias tradicionais. Além disso, a observação de distúrbios cognitivos pós-infecção, especialmente em funções executivas, atenção e memória, indica um espectro de comprometimento neurológico que pode persistir a longo prazo, afetando significativamente a qualidade de vida dos sobreviventes (Colina & Spencer-Segal, 2021; Ferrucci et al., 2022).

Este contexto apresenta uma problemática emergente: a perda de memória e outros déficits cognitivos como complicações neurológicas pós-COVID-19. A heterogeneidade das manifestações cognitivas e a variação na incidência de comprometimento cognitivo apontam para uma complexidade que demanda investigação detalhada (Cagnazzo et al., 2021; Koralnik & Tyler, 2020). A relevância desta pesquisa reside não apenas na identificação e compreensão das sequelas neurológicas da COVID-19, mas também na elaboração de estratégias terapêuticas eficazes para mitigar seus impactos a longo prazo.

Portanto, o objetivo deste estudo é promover uma revisão abrangente das informações atuais sobre a associação entre COVID-19 e perda de memória, investigando mecanismos subjacentes, como invasão viral direta, neuroinflamação e danos neuronais induzidos por hipóxia (Chen et al., 2021; Li et al., 2021). A justificativa para esta pesquisa é fundamentada na necessidade de elucidar o espectro de efeitos neurológicos da COVID- 19, visando contribuir para o desenvolvimento de intervenções direcionadas que possam auxiliar na recuperação e reabilitação cognitiva dos afetados.

Em suma, a presente pesquisa visa não apenas ampliar o conhecimento sobre as complicações neurológicas da COVID-19, mas também fornece uma base para futuras investigações e intervenções terapêuticas, abordando um aspecto crítico da pandemia que continua a afetar a vida de muitos.

2. REFERENCIAL TEÓRICO.

No final de 2019, a emergência de uma infecção respiratória até então desconhecida foi relatada em Wuhan, província de Hubei, marcando o início de uma crise de saúde pública global sem precedentes (Li Q, Guan X, China et al., 2020). A doença, causada pelo coronavírus SARS-CoV-2, foi posteriormente denominada COVID-19 (Zhou P, et al., 2020). A rápida disseminação do vírus por todo o globo levou a uma mobilização internacional para conter sua propagação, com países adotando medidas variadas, desde restrições de viagem a lockdowns completos (Remuzzi A & Remuzzi G, 2020). A implementação dessas medidas teve um impacto profundo não apenas na saúde pública, mas também na economia e na sociedade como um todo, levantando preocupações sobre uma possível recessão global.

O vírus, caracterizado por sua alta transmissibilidade, manifesta-se por um espectro de sintomas que vão desde formas leves a quadros severos de insuficiência respiratória, sendo o diagnóstico confirmado principalmente por PCR com transcriptase reversa (Umakanthan S, et al., 2020). O tratamento se concentra em suporte terapêutico, com casos graves requerendo ventilação mecânica. Estratégias preventivas, como o isolamento social e a higiene das mãos, mostraram-se fundamentais na contenção da disseminação (Umakanthan S, et al., 2020).

À medida que a pandemia evoluiu, ficou evidente que a COVID-19 não afetava apenas o sistema respiratório, mas também tinha implicações neurológicas significativas.

Estudos documentaram que cerca de 25% dos sobreviventes da COVID19 experienciam comprometimento cognitivo persistente, incluindo problemas de memória, mesmo entre aqueles que tiveram formas leves da doença (Nasserie et al., 2021; Becker et al., 2021). Essas descobertas sublinham a importância de investigar os efeitos a longo prazo da COVID-19 no cérebro e na cognição.

A relação entre COVID-19 e perda de memória tem sido objeto de intensa investigação. Propõe-se que a neuroinvasão pelo SARS-CoV-2, a resposta inflamatória sistêmica, o dano cerebral induzido por hipóxia, e processos neurodegenerativos possam contribuir para os déficits cognitivos observados (FOTUHI et al., 2020; WOO et al., 2020). Em particular, os idosos e indivíduos com condições pré-existentes, como demência, mostraram-se particularmente vulneráveis ao comprometimento cognitivo relacionado à COVID-19, ressaltando a necessidade de abordagens de tratamento e reabilitação direcionadas (FOTUHI et al., 2020).

Além das implicações individuais, a perda de memória associada à COVID-19 tem consequências econômicas e sociais significativas. Os custos de saúde relacionados ao tratamento e à reabilitação cognitiva representam um ônus financeiro considerável, enquanto o impacto na produtividade e qualidade de vida dos indivíduos afetados destaca a urgência de abordagens eficazes de diagnóstico e intervenção (Wimo et al., 2017; Sargent-Cox et al., 2014; Clare et al., 2019). A pesquisa e o desenvolvimento de estratégias de prevenção, diagnóstico precoce e tratamento eficaz para o comprometimento cognitivo pós-covid são essenciais para mitigar esses impactos a longo prazo.

3. METODOLOGIA

A metodologia deste estudo foi cuidadosamente planejada para assegurar a coleta de dados atuais e relevantes a respeito da perda de memória associada à Covid-19, seguindo uma abordagem qualitativa que destaca a interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados sem a necessidade de métodos e técnicas estatísticas. Esta pesquisa foi fundamentada em uma revisão integrativa, escolhida por sua capacidade de analisar e sintetizar os resultados dos principais trabalhos já realizados sobre o tema. O processo de revisão adotado visa a identificação, seleção e análise crítica de artigos relevantes, facilitando a compreensão ampla do assunto abordado.

Para a seleção dos artigos, foram utilizadas as plataformas LILACS e PubMed, reconhecidas por sua abrangência e relevância no campo médico e científico. Os descritores utilizados na busca foram “COVID-19” e “distúrbios de memória” em português, além de “Covid 19” e “Memory Disorders” em inglês, conectados pelo operador booleano “AND”. Esses termos foram escolhidos com o intuito de refinar a busca e assegurar a recuperação de estudos diretamente relacionados ao tema de interesse. Os artigos selecionados foram aqueles publicados em inglês e português no período de 2020 a 2024, disponíveis gratuitamente nas plataformas mencionadas, considerando-se os critérios de inclusão e exclusão estabelecidos para garantir a pertinência e a atualidade da informação.

A população de estudo compreendeu periódicos e artigos disponíveis nas plataformas PubMed e LILACS, filtrados pelos descritores específicos. Foram incluídos na análise artigos gratuitos, publicados no intervalo temporal designado, que abordassem as temáticas de interesse. Foram excluídos da pesquisa artigos que não estivessem disponíveis nas plataformas selecionadas, publicados fora do período estipulado, além de revisões de literatura, cartas ao editor, artigos de opinião, sem dados clínicos ou que não estivessem alinhados aos descritores do projeto.

A coleta de dados foi realizada por meio de uma planilha elaborada em Excel, permitindo a organização eficaz das informações conforme os objetivos do estudo. Esta ferramenta facilitou a catalogação dos dados e contribuiu para uma análise sistemática das variáveis definidas, relacionadas à associação entre a perda de memória e a COVID19. O procedimento de coleta envolveu a revisão bibliográfica integrativa dos artigos selecionados, seguida de uma análise crítica e reflexiva dos dados obtidos.

Considerando os aspectos éticos, por se tratar de uma revisão de literatura integrativa, não se fez necessária a aprovação por parte de um comitê de ética. Este estudo propôs uma metodologia estruturada que permitiu a análise aprofundada dos impactos da COVID-19 sobre a memória, contribuindo para o conhecimento científico na área e oferecendo uma base sólida para futuras pesquisas.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Na Tabela 1 há uma descrição dos textos utilizados para se determinar o resultado dessa revisão.

TítuloAutor(es)AnoObjetivo(s)Resultados
Síndrome pós- COVID- 19: uma investigação dos sintomas fonoaudiológicos.(FERNANDES;
ALPES; SANTOS, 2024)
2024Investigar a presença
de sintomas fonoaudiológicos em adultos após o período da fase aguda da COVID-19, além do impacto
da manutenção desses sintomas nos aspectos físicos, emocionais,          capacidade funcional e relações sociais.
Os sintomas mais prevalentes até
30 dias após a infecção foram cansaço (46%), perda de memória (40,2%) e ageusia (26,5%). Os sintomas de longa duração mais observados foram perda de memória (34,3%), cansaço (21,1%) e dificuldades para iniciar um diálogo ou frase (10,1%). Anosmia e ageusia também foram citadas. Houve impacto da manutenção desses sintomas no
aspecto   emocional   (33,3%),
seguido dos aspectos físicos (26%)
e ocupacionais (25%).
Características epidemiológicas e clínicas autorreferidas em pacientes com obesidade e COVID-19: estudo transversal(EASCOECHEA 2023) OLAVEGOG et al.2023Determinar as características clínicas e epidemiológicas de pacientes diagnosticados com obesidade que sobreviveram à infecção por SARS-CoV-2.A mediana de idade foi de 41 anos e 69,9% eram mulheres. Os sintomas de apresentação mais prevalentes foram astenia (86,7%), anosmia (64,5%) e tosse (64%). Em relação aos sintomas persistentes 12 semanas após o diagnóstico, os mais prevalentes foram astenia (52,9%), distúrbios do sono (32,4%) e falta de concentração/memória (31,7%). O risco foi maior para mulheres (OR: 2,865;  IC95%:  2,23-3,67)  com
obesidade (OR: 1,58; IC95%: 1,162,16). A doença grave em obesos foi quase três vezes maior que em pacientes não obesos (15,7% vs.
5,4%; p<0,001).
Autopercepção de sequelas cognitivas em indivíduos pós-COVID19(ALVES; 2023)
BEBER,
2023O objetivo deste estudo foi avaliar a autopercepção de sequelas cognitivas em indivíduos pós-COVID-19 e identificar se há uma possível relação entre o desfecho da autopercepção dos participantes e dados sociodemográficos e clínicos.A amostra final foi composta por 137 participantes, e foi possível identificar que memória e atenção foram os domínios com maior impressão de piora pós-COVID- 19, seguidos por funções executivas e linguagem. Além disso, identificou-se que ser do sexo feminino pode estar
relacionado a uma   pior
autopercepção de todas as funções cognitivas e que ter depressão ou outras doenças psiquiátricas
e obesidade          pode afetar significativamente pelo menos metade
dos domínios cognitivos
avaliados.
Incidência de queixas de memória durante a pandemia de COVID-19 no Sul do Brasil: achados da coorte PAMPA(FETER et al., 2023)2023Este estudo teve como objetivo examinar a incidência de queixas de memória ao longo de 15 meses durante a pandemia   COVID-19 em adultos do sul do Brasil.Durante o              seguimento, observou-se incidência cumulativa de 57,6% de queixas de memória. Sexo feminino (hazard ratio [HR] 1,49; intervalos de confiança [IC] 95% 1,16–1,94), falta de acesso a medicamentos prescritos (HR: 1,54, IC95% 1,06–2,23) e sintomas de ansiedade agravados (HR: 1,81, IC95% 1,49–2,21) foram associados a um risco aumentado de queixas de memória. A prática regular de atividade física associou-se a um risco reduzido de queixas de memória (HR: 0,65, IC95% 0,57–
0,74).
Fatores psicossociais associados a queixas de memória durante a primeira onda da pandemia de COVID-19: uma pesquisa
multinacional
(FOLAYAN 2023)
et al.,
2023Avaliar as associações entre fatores psicossociais (isolamento social, apoio social, apoio financeiro e sofrimento emocional) e queixas de memória durante a pandemia de COVID-19.Dos 14.729 participantes, 2446 (16,6%) relataram queixas de memória. As pessoas que relataram queixas de memória foram 1747 (19,6%) dos 8934 participantes que relataram isolamento social, 2093 (15,6%) dos 13.381 que perceberam ter apoio social e financeiro, 1680 (21,7%) dos 7747 participantes que se sentiram emocionalmente angustiados e 160 (22,5%) dos 736 participantes que tinham histórico de infecção por SARS-CoV-19.
Problemas de memória auto-relatados 8 meses após a infecção por COVID-19(SØRAAS et al., 2021)2021Este estudo de coorte
examina problemas de memória auto-relatados 8 meses após a infecção COVID-19.
Oito meses após o teste SARS-CoV-2 positivo, a prevalência de problemas de memória neste grupo foi maior do que no grupo de controle com um teste negativo ou na população de controle não testada.
Comprometimento da memória e problemas de concentração em sobreviventes de COVID-19 8 semanas após a hospitalização não-UTI: Um estudo de coorte retrospectivo(KEIJSERS 2022)
et al.,
2022Avaliar os efeitos na recuperação e na saúde mental em sobreviventes da COVID19Foram encontradas correlações entre o número de sintomas físicos e os escores na HADS.In conclusão, apenas 13% tiveram recuperação livre de sintomas após 8 semanas. Além dos sintomas físicos, problemas de memória foram frequentemente observados. O número de sintomas mentais e físicos foram correlacionados.
O impacto negativo do COVID-19 na memória de trabalho revelado usando um teste on-line rápido(BASELER 2022)
et al.,
2022Avaliar o impacto de COVID19 na função de memória de trabalho.Houve uma redução
significativa nas pontuações de memória em todos os grupos COVID (auto-relatados, testados positivos e hospitalizados) em comparação com o grupo não COVID. As pontuações de memória para todos os grupos COVID combinados foram
significativamente reduzidas em comparação com o grupo não COVID em todas as categorias de idade com 25 anos ou mais, mas não para a categoria etária mais jovem (18-24 anos). Descobrimos que as pontuações de memória aumentaram gradualmente ao longo de um período de 17 meses pós-COVID-19
Avaliação neuropsicológica de distúrbios cognitivos em crianças após COVID-19(TROITSKAYA et al.,2022)2022Fazer uma avaliação neuropsicológica em crianças de 12 a 17 anos logo após o tratamento para Covid-19. Foram encontradas
diferenças significativas com os resultados dos testes neuropsicológicos realizados nas crianças do grupo controle, permitindo afirmar comprometimento da memória, atenção, gnose, função visuoespacial, praxia cinestésica e dinâmica, componente verbal e não verbal do pensamento.
Síndrome pós-COVID19: Análise descritiva baseada em uma coorte de sobreviventes na Colômbia(ROMERO 2023)
et al.,
2023Descrever os principais sintomas da Síndrome Póscovi-19 em sobreviventes na Colômbia.Um total de 1047
indivíduos >18 anos preencheu os critérios de inclusão e foram incluídos no estudo. A mediana de idade foi de 46 anos. 68,2% dos participantes eram do sexo feminino, 41,5% dos pacientes relataram ter alguma condição preexistente (hipertensão, transtorno de ansiedade,
diabetes, hipertireoidismo,
obesidade e asma). Apenas 22% haviam recebido pelo menos uma dose da vacina COVID-19 antes do episódio COVID-19 registrado. Os sintomas mais prevalentes em nosso grupo são descritos a seguir: fadiga (53,3%), dispneia (40,3%), artralgia e/ou mialgia (43%), cefaleia
(40,5%), distúrbios do sono (35,7%) e tosse (31,3%). 72% dos pacientes apresentaram quatro ou mais sintomas pós-covid 19, 9% dois sintomas e 10% apenas um sintoma.
Mudanças no funcionamento cognitivo após COVID-19: Uma revisão sistemática e meta-análises
2022)
(CRIVELLI et al., 2022)2022Conduzir
uma
revisão sistemática e meta-análise dos efeitos cognitivos da doença 2019 do coronavírus (COVID19) em adultos sem história prévia do prejuízo cognitivo.
De 6202 artigos, foram incluídos 27 estudos com 2049 indivíduos (média de idade = 56,05 anos, tempo de avaliação variou da fase aguda a 7 meses pós-infecção). Prejuízo nas funções executivas, atenção e memória foram encontrados em pacientes pósCOVID-19. A meta-análise foi realizada com um subgrupo de 290 indivíduos e mostrou uma diferença no escore MoCA entre pacientes pós-COVID-19 versus controles (diferença média = -0,94, intervalo de confiança [IC] de 95% -1,59, 0,29; P= ,0049).
Transtornos
neuropsicológicos após a COVID-19.
(ŁOJEK et al., 2021)2021Determinar a relação entre os transtornos neuropsicológicos após a COVID-19.O conhecimento científico resultante de estudos empíricos
neuropsicológicos durante a pandemia COVID-19 permite um postulado de uma pesquisa neuropsicológica sistemática baseada em evidências urgente a ser
conduzida entre os sobreviventes de COVID-19. Mais do que tudo, os indivíduos recuperados devem receber ajuda neuropsicológica adequada sob a forma de diagnóstico neuropsicológico,
acompanhamento e reabilitação.
Apresentações psiquiátricas e neuropsiquiátricas associadas a infecções graves por corona vírus: uma revisão sistemática e meta-análises com comparação com a pandemia de COVID-19.(ROGERS et al., 2020).2020Determinar as apresentações psiquiátricas e neuropsiquiátricas associadas com as infecções graves por corona vírus.Uma busca sistemática identificou 963 estudos e 87 preprints, dos quais 65 estudos revisados por pares e 7 preprints
atenderam aos critérios de inclusão, abrangendo um total de 3559 casos de coronavírus, com idades variando de 12,2 a 68 anos. Os estudos originaram-se de diversos países, incluindo China, Hong Kong, Coreia do Sul, Canadá, Arábia Saudita, França, Japão, Singapura, Reino Unido e EUA, com períodos de acompanhamento que variaram de 60 dias a 12 anos. A revisão destacou sintomas comuns durante a fase aguda da SARS ou MERS, como confusão, humor deprimido, ansiedade, memória prejudicada e insônia. Mania e psicose induzidas por esteroides foram observadas em uma pequena porcentagem de pacientes. No pós-doença, prevalências significativas de humor deprimido, insônia, ansiedade, irritabilidade, comprometimento da memória e fadiga foram relatadas, além de memórias traumáticas e distúrbios do sono em casos específicos. A metanálise mostrou prevalências pontuais de transtorno de estresse pós-traumático, depressão e transtornos de ansiedade, com a maioria dos pacientes retornando ao trabalho após um período médio de 35,3 meses. Em relação à COVID-19, evidências de delírio, agitação, consciência alterada e síndrome disexecutiva ao momento da alta foram notadas, além de relatos isolados de encefalopatia hipóxica e encefalite. A qualidade da maioria
dos estudos foi considerada baixa ou média.
Resultados neurológicos a longo prazo da COVID-19.(XU; XIE; AL-ALY, 2022).2022Determinar os resultados neurológicos como sequelas a longo prazo da COVID-19.Estimou-se que a razão de risco de qualquer sequela
neurológica foi de 1,42 (intervalos de confiança de 95% 1,38, 1,47) e sobrecarga de 70,69 (intervalos de confiança de 95% 63,54, 78,01) por
1.000 pessoas em 12 meses. Os riscos e encargos foram elevados
mesmo em pessoas que não precisaram de hospitalização durante a COVID-19 aguda. As limitações incluem uma coorte composta principalmente por homens brancos. Tomados juntos, nossos resultados fornecem evidências do risco aumentado de distúrbios neurológicos de longo prazo em povos que tiveram
COVID-19.
COVID-19 causa degeneração neuronal e reduz neurogênese no hipocampo humano.(BAYAT et al., 2022).2022Determinar a causa da degeneração neural e redução da neurogênese no hipocampo humano om base em achados histopatológicos de tecido cerebral de vítimas fatais da COVID-19.Os resultados mostraram que no hipocampo dos cérebros estudados ocorreram alterações
morfológicas nas células piramidais, aumento da apoptose, queda da neurogênese e alteração da distribuição espacial dos neurônios da camada piramidal e granular.
Também foi demonstrado que a COVID-19 altera as características morfológicas e a distribuição das células de astrócitos e microglia.
Enquanto o(s) mecanismo(s) exato(s) pelo qual o vírus causa a perda neuronal e a morfologia no sistema nervoso central (SNC) ainda precisam ser determinados, é necessário monitorar o efeito da infecção por SARS-CoV-2 em compartimentos do SNC como o
hipocampo em investigações futuras.
O impacto potencial da Covid-19 no SNC e nas sequelas psiquiátricas.DEHGHANI et al., 2022)
DEHGHANI, A. et al.
The potential impact of Covid-19 on CNS and psychiatric
sequels. Asian journal of psychiatry, v. 72, n. 103097, p. 103097,
2022.
2022Investigar o possível efeito do coronavírus em doenças mentais com base na literatura disponível.A pandemia do coronavírus tem um impacto significativo na saúde mental por meio de várias
maneiras, como a hiperinflamação, a penetrância do vírus no SNC e o estresse psicossocial associado à COVID-19. É necessário que sejam feitas intervenções de gestão e prevenção.

Este estudo compila evidências significativas sobre as sequelas cognitivas e de memória enfrentadas por sobreviventes da COVID-19, destacando uma diversidade de impactos que variam em severidade e duração. As análises revelaram que sintomas como “nevoeiro cerebral”, fadiga persistente e dificuldades de concentração são prevalentes, mesmo meses após a recuperação da fase aguda da doença. Além disso, fatores como gênero, histórico médico prévio e níveis de ansiedade foram identificados como influenciadores significativos na gravidade das sequelas cognitivas.

Comparativamente, os resultados obtidos sugerem que as sequelas pós-COVID19 podem ser mais persistentes e variadas do que aquelas associadas a outras infecções virais, sublinhando a necessidade de abordagens de reabilitação específicas. A discussão destaca a importância de estratégias multidisciplinares para abordar a complexidade dos sintomas pós-agudos, enfatizando a necessidade de pesquisas futuras focadas na otimização de terapias de recuperação cognitiva e na identificação precoce de indivíduos em risco de desenvolver complicações de longo prazo.

Este estudo contribui para o entendimento das sequelas pós-agudas da COVID19, oferecendo uma base para o desenvolvimento de intervenções clínicas mais eficazes e para a formulação de políticas de saúde pública que possam mitigar os impactos prolongados da pandemia na saúde cognitiva e no bem-estar dos sobreviventes.

5. CONCLUSÃO

Com base nos resultados apresentados, esta pesquisa destaca que as sequelas cognitivas e de memória pós-COVID-19 são significativas e duradouras, afetando substancialmente a qualidade de vida dos sobreviventes. Os objetivos do estudo foram alcançados, demonstrando uma clara relação entre a infecção por SARS-CoV-2 e desafios cognitivos prolongados, além de identificar fatores de risco associados. As conclusões reforçam a necessidade de abordagens terapêuticas específicas e multidisciplinares para o tratamento de sequelas pós-agudas, além de apontar para a importância de estratégias de prevenção e detecção precoce. Este estudo também revela lacunas no conhecimento atual, sugerindo direções para pesquisas futuras na compreensão e manejo dessas condições. Limitações incluem a necessidade de estudos longitudinais mais amplos para explorar as trajetórias de recuperação e o impacto de intervenções específicas.

REFERÊNCIAS

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1Discente do Curso Superior de medicina do Instituto Afya Faculdade de Ciências Médica – Palmas -TO e-mail: felipebotelho@gmail.com
2Discente do Curso Superior de medicina do Instituto Afya Faculdade de Ciências Médica – Palmas -TO mail: gsm.estudos02@gmail.com
3Discente do Curso Superior de medicina do Instituto Afya Faculdade de Ciências Médica – Palmas -TO e-mail: hencentrone@gmail.com
4Discente do Curso Superior de medicina do Instituto Afya Faculdade de Ciências Médica – Palmas -TO e-mail: gustavorosso08@gmail.com
5Docente do Curso Superior de medicina do Instituto Afya Faculdade de Ciências Médica – Palmas -TO Mestre em Ensino e Ciências da Saúde. e-mail: Itamar.gonçalves@afya.com.br