PERCEPÇÃO DOS DOCENTES ENFERMEIROS ACERCA DOS BENEFÍCIOS DA REALIZAÇÃO DA CONSULTA DE PUERICULTURA NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7213244


Autoras:
Bianca Vieira Lima1
Anna Eliza Ferreira de Souza1
Renata Maria Mendes Lopes1
Angelita Giovana Caldeira2


RESUMO

Objetivo: Analisar a percepção dos docentes enfermeiros acerca dos benefícios da realização da consulta de puericultura no Sistema Único de Saúde. Métodos: Trata-se de uma pesquisa descritiva exploratória com abordagem quali-quantitativa, realizada na UNICEPLAC, cuja amostra composta por 16 enfermeiros do curso de Enfermagem, a coleta de dados foi realizada no mês de agosto de 2022, a partir da aplicação de um questionário. Resultados: Após análise dos resultados evidenciou-se que 100% dos entrevistados já realizou a consulta de puericultura durante sua vida acadêmica ou profissional, 100% consideram o principal ponto do roteiro da consulta de puericultura o acompanhamento da vacinação, 62% alegou um grau moderado de dificuldade para garantir a integralidade na realização da consulta, 27% relatam que  a falta de continuidade do paciente é a maior dificuldade encontrada. Quanto aos benefícios da consulta de puericultura tem-se: aumentar o vínculo entre profissionais, família e criança (23%), acompanhar o desenvolvimento físico e motor (21%) e manutenção da saúde da criança (17%). Considerações finais: Diante do exposto, entende-se que os enfermeiros entrevistados possuem conhecimento e autonomia, no que concerne a realização da consulta de puericultura, e a importância deste para proporcionar uma assistência individualizada e de qualidade.

Palavras-chave: atenção primária à saúde, consulta de enfermagem, desenvolvimento infantil, puericultura, saúde da criança.

ABSTRACT

Objective: To analyze the perception of nursing professors about the benefits of carrying out childcare consultations in the Unified Health System. Methods: This is an exploratory descriptive research with a qualitative-quantitative approach, carried out at UNICEPLAC, whose sample consisted of 16 nurses from the Nursing course, data collection was carried out in August 2022, from the application of a questionnaire. Results: After analyzing the results, it was shown that 100% of the interviewees had already had a childcare consultation during their academic or professional life, 100% considered the main point of the childcare consultation script to be the follow-up of vaccination, 62% claimed a moderate degree of difficulty to ensure completeness in carrying out the consultation, 27% report that the lack of continuity of the patient is the greatest difficulty encountered. As for the benefits of the childcare consultation, there are: increasing the bond between professionals, family and child (23%), monitoring physical and motor development (21%) and maintaining the child’s health (17%). Conclusion: Given the above, it is understood that the nurses interviewed have knowledge and autonomy, regarding the performance of the childcare consultation, and the importance of this to provide an individualized and quality care.

Keywords: primary health care, nursing consultation, child development, childcare, child’s health.

RESUMEN

Objetivo: Analizar la percepción de los profesores de enfermería sobre los beneficios de realizar consultas de puericultura en el Sistema Único de Salud. Métodos: Se trata de una investigación descriptiva exploratoria con enfoque cualitativo-cuantitativo, realizada en la UNICEPLAC, cuya muestra estuvo conformada por 16 enfermeras de la carrera de Enfermería, la recolección de datos se realizó en agosto de 2022, a partir de la aplicación de un cuestionario. Resultados: Luego de analizar los resultados se demostró que el 100% de los entrevistados ya habían tenido una consulta de puericultura durante su vida académica o profesional, el 100% consideró como punto principal del guión de consulta de puericultura el seguimiento de vacunación, el 62% afirmó un grado moderado de dificultad para asegurar la completitud en la realización de la consulta, el 27% refiere que la falta de continuidad del paciente es la mayor dificultad encontrada. En cuanto a los beneficios de la consulta de puericultura, se encuentran: aumentar el vínculo entre los profesionales, la familia y el niño (23%), acompañar el desarrollo físico y motor (21%) y mantener la salud del niño (17%). Conclusión: Ante lo anterior, se entiende que los enfermeros entrevistados tienen conocimiento y autonomía, respecto a la realización de la consulta de puericultura, y la importancia de esta para brindar un cuidado individualizado y de calidad.

Palabras clave: atención primaria de salud, consulta de enfermería, desarrollo infantil, puericultura, salud del niño.

INTRODUÇÃO

O desenvolvimento infantil é um processo que se inicia ainda na gravidez e envolve diversos processos como: crescimento físico, maturação neurológica e construção de habilidades. Torna-se indispensável o acompanhamento que ocorre na Atenção Primária à Saúde (APS), sendo fundamental para uma vida saudável e detecção precoce de patologias e anormalidades no desenvolvimento (ZEPPONE SC, et al., 2012).

As políticas públicas brasileiras tem buscado ampliar a assistência à saúde, alcançando um espaço prioritário para a atenção à saúde da criança, com o compromisso de reduzir a taxa de mortalidade infantil no país, conceder qualidade de vida às crianças e dar suporte à organização da assistência prestada à população infantil (FURTADO MCC, et al., 2013).

No ano de 2011, o Ministério da Saúde (MS) institui no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), a Rede Cegonha, com objetivo de suprir a necessidade de medidas para assegurar a melhoria de acesso, da cobertura e da qualidade do acompanhamento no planejamento reprodutivo, pré-natal, da assistência ao parto e puerpério e da assistência à criança (BRASIL, 2011).

A enfermagem desempenha um papel imprescindível nas consultas de crescimento e desenvolvimento (CD), onde o enfermeiro da Estratégia Saúde da Família (ESF) através do programa de puericultura, tem como atribuições a promoção e prevenção de agravos, identificação de possíveis atrasos no desenvolvimento e orientação de acordo com contexto social da família (VIEIRA VCL, et al., 2012).

As atribuições do enfermeiro no Programa de Puericultura incluem: realizar exame físico na criança, identificar riscos em seu crescimento e desenvolvimento, fornecer relação de nascidos vivos para os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e solicitar a busca ativa para a identificação dos faltosos, verificar e administrar as vacinas, incentivar o aleitamento materno, orientar a introdução a alimentação complementar e prevenção de acidentes de acordo com a faixa etária, avaliar o desenvolvimento neuropsicomotor, identificar dúvidas e dificuldades da mãe (VIEIRA VCL, et al., 2012).

O Ministério da Saúde (MS) evidencia ainda que toda a equipe de saúde deve estar disposta para esse acompanhamento, identificando crianças de risco, fazendo busca ativa de crianças faltosas no que se diz ao calendário das consultas de CD, identificando e abordando adequadamente as alterações de peso e no desenvolvimento neuro-psicomotor da criança (BRASIL, 2004).

Essas condutas devem estar na dimensão da vigilância em saúde da criança, com atuação de modo integral por parte do profissional, e a ideia central deve ser a de não perder chance de atuação, seja na prevenção, promoção e/ou assistência, mantendo o elo com a família e estimulando a responsabilidade contínua e conjunta (serviço e família) na atenção à criança (BRASIL, 2004).

Vários programas integram o modelo de vigilância à saúde da criança, por exemplo, o de imunização, a detecção de abusos e agressões contra a criança, o acompanhamento do crescimento e de algumas doenças crônicas, a promoção de hábitos de vida saudáveis e saúde, além da atenção ao desenvolvimento neuropsicomotor. Portanto, as ações na puericultura propendem para a prevenção e promoção da saúde da criança a fim de garantir um desenvolvimento saudável (FIGUEIRAS AC, et al., 2005).

Nesta perspectiva, este estudo irá contribuir no reconhecimento da realização da consulta de puericultura do SUS, trazendo experiência teórico-prática e profissional, se tornando um tema bastante relevante para a melhoria da prática. Portanto, como objetivo, o presente trabalho visa analisar a percepção dos docentes enfermeiros acerca dos benefícios da realização da consulta de puericultura no Sistema Único de Saúde (SUS).

MÉTODOS

Trata-se de uma pesquisa descritiva e exploratória com abordagem quali-quantitativa com a finalidade de identificar os principais benefícios da Consulta de Puericultura realizada pelo profissional enfermeiro.

O estudo foi realizado no Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos (UNICEPLAC), localizado no setor Leste da região administrativa Gama, com aplicação de formulários. É uma instituição de ensino privada, em que oferta cursos de graduação, dentre eles Enfermagem.

Para a coleta dos dados foi elaborado um questionário com perguntas objetivas e subjetivas, que abordavam dados de cunho pessoal, porém, com ênfase no profissional, além da percepção quanto aos benefícios da realização da consulta de Puericultura pelo profissional enfermeiro e as dificuldades encontradas para a realização com efetividade.

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética, seguindo a Resolução 466/12 que regulamenta a pesquisa em seres humanos no Brasil. A numeração gerada para identificar a entrada da pesquisa para apreciação ética no Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) – Certificado de Apresentação de Apreciação Ética (CAAE) foi 58940122.3.0000.5058, gerando o Número do Parecer: 5.558.579.

Após aprovação, teve início a coleta de dados, através de questionário com questões acerca dos questionamentos levantados quanto ao tema proposto, entregue aos enfermeiros para responderem após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

A amostra foi composta por 16 enfermeiros do curso de Enfermagem, sendo considerado como critério de inclusão: ambos os sexos, que atuavam na instituição em questão, independentemente do tempo ou cargo. Como critérios de exclusão considerou-se: profissionais que não estavam atuantes por motivos de licença-maternidade ou médica.

O estudo teve como benefício auxiliar o profissional envolvido a adquirir um olhar abrangente e diferenciado sobre o tema e dessa forma contribuir para a categoria da profissão, sendo uma fonte para uma linha de estudo mais profunda que pode ser desencadeada posteriormente, trazendo melhorias para a prática de puericultura.

Posteriormente à coleta dos dados, os mesmos foram organizados em planilhas do excel, gerando gráficos para facilitar a visualização dos resultados, analisados por meio de estatística descritiva para apreciação quantitativa. Já o material qualitativo foi apurado de acordo com a análise de conteúdo.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A infância

A criança é um ser complexo, em constantes transformações, que apresenta uma sequência esperável e regular de crescimento físico e de desenvolvimento neuropsicomotor, porém, que sofre influência de fatores intrínsecos e extrínsecos provocando variações de um indivíduo para outro. A palavra infante que vem do latim infans, que significa incapaz de falar. Normalmente, define o período que vai do nascimento até aproximadamente dos 2 aos 3 anos de idade (BRASIL, 2002).

A infância constitui uma das fases mais importantes na saúde da criança pois nesse período ocorrem processos vitais: adquire experiências e habilidades cada vez mais complexas e elabora valores de referência. A conjunção desses fatores a prepara para o seu desempenho futuro (REICHERT APS, et al., 2012). Segundo Brasil (2002), a infância é dividida nos seguintes períodos: pré-natal que vai da concepção ao nascimento; período neonatal de 0 a 28 dias; primeira infância ou lactente de 29 dias a 2 anos; segunda infância ou pré escolar de 2 a 6 anos e escolar de 6 a 10 anos.

Puericultura

A puericultura é um conjunto de normas e atitudes sobre o cuidado infantil, que se torna imprescindível para a criança se tornar um adulto saudável. Cuidar de crianças implica em promover um acolhimento generoso, escuta atenta, diálogo, vínculo e responsabilização (OLIVEIRA FFS, et al., 2013). Os primeiros anos da vida são primordiais, para o desenvolvimento cognitivo, psicológico, emocional e físico, e que acontece de forma mais rápida o desenvolvimento cerebral, ficando mais suscetíveis a influências, tornando assim essencial o cuidado integral da criança (GOES FGB, et al., 2018).

Desta forma, a assistência se torna contínua, com o intuito de promoção, prevenção de saúde e avanços no marco de crescimento e desenvolvimento. A cada consulta de puericultura será verificado o desenvolvimento cognitivo, motor, peso, perímetro cefálico, estatura e cartão de vacina (SUTO CSS, et al., 2014). Por esta razão se ressalta o crescimento e desenvolvimento infantil adequado, garantindo assim a promoção da saúde da criança. No entanto, provém dificuldades, pois requer de conhecimentos técnico-científicos para subsidiar os profissionais nas necessidades exigidas (GOES FGB, et al., 2018).

Nos serviços de atenção básica, por meio da organização por equipe e território, tem-se a possibilidade de um acompanhamento contínuo, ou seja, a mesma equipe que acompanhou o pré-natal seguirá acompanhando a puericultura da criança, criando vínculo entre os profissionais e a família. (BRASIL, 2012). Assim, se torna fundamental múltiplos profissionais para a realização da consulta de puericultura, como enfermeiros e médicos, trabalhando de forma transversal ou conjunta, ampliando a rede de atenção à saúde da criança. (CAMPOS RMC, et al., 2011; VIEIRA VCL, et al., 2012)

A assistência da enfermagem na puericultura

O Decreto Federal nº 94.406/1987 regulamenta a Lei nº 7.498/86 sobre o exercício da enfermagem, respaldando o enfermeiro a desempenhar as atividades de sua competência. Assim, podendo prestar um atendimento e planejamento individualizado, realizar consultas de enfermagem, organizar, coordenar, executar e avaliar serviços de assistência. Na consulta de puericultura o enfermeiro deve atuar na realização da anamnese e do exame físico completo, além das orientações necessárias, como, a importância do aleitamento materno, higiene, orientar sobre os fatores de riscos e avaliar o crescimento e desenvolvimento da criança (COLOMBO, 2012).

A consulta de enfermagem voltada para a criança tem como propósito prestar assistência sistematizada de enfermagem, de forma integral e individual, identificando problemas de saúde-doença, atuando e avaliando cuidados que auxiliam para a promoção, proteção, recuperação e reabilitação da saúde. Utilizando uma sequência sistematizada de ações: histórico de enfermagem e exame físico, diagnóstico de enfermagem, plano terapêutico ou prescrição de enfermagem, e avaliação da consulta (CAMPOS RMC, et al., 2011).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Primordialmente, cabe ressaltar que foram entregues 16 questionários, todos com retorno, representando 94% dos profissionais enfermeiros do curso de Enfermagem, restando um (6%) profissional que se encontrava ausente devido licença maternidade.

Durante a análise dos resultados buscou-se pontuar os elementos que permitem conhecer os principais benefícios da consulta de puericultura realizada pelo profissional enfermeiro e as dificuldades encontradas, apontadas pelos entrevistados.

O primeiro bloco do questionário visa realizar o reconhecimento do perfil do profissional das seguintes variáveis: gênero, idade, tempo de atuação como enfermeiro e atuação atual (Quadro 1).

Quadro 1 – Reconhecimento do perfil profissional

Fonte: Caldeira AG, et al., 2022

É evidente que as profissionais do sexo feminino retrata maior número dentro da amostra, 10 (63%), enquanto o sexo masculino representa 37%. Quando se fala da faixa etária temos predominância de 30 a 39 anos, representando 63% do quadro, evidenciando um perfil predominantemente jovem na enfermagem e a feminilização da categoria. Machado MH, et al. (2016), afirma que a profissão de enfermagem se tornou majoritariamente feminina devido a cultura e tradição, as mulheres eram historicamente relacionadas com o ato de cuidar  (Quadro 1).

Com relação ao tempo de atuação, grande parte dos profissionais – 7 (44%) atuam de 6 a 10 anos na área. Segundo Machado MH, et al. (2016), esse período da vida profissional pode ser nomeado como “Maturidade profissional”, sendo essa a 3° fase, onde se encontram preparados, qualificados e inseridos no mercado de trabalho  (Quadro 1).

No que se diz a atuação atual temos maior predominância de docente/preceptor de estágio – 9 (57%), seguido por docente/preceptor de estágio/corpo administrativo – 3 (19%) e preceptor de estágio/enfermeiro assistencialista – 2 (12%)  (Quadro 1). A docência vem se tornando cada vez mais uma opção para atuação do enfermeiro, sendo uma oportunidade dentre as diversas possibilidades que a profissão proporciona. Formação que inicialmente é voltada para a assistência à saúde, permite assumir a sala de aula para a formação teórica de novos enfermeiros (FONSECA JPS e FERNANDES CH, 2017)

Por outro lado, a preceptoria de estágio deve auxiliar o estudante na aplicação da teoria na atividade prática, além de, identificar as fragilidades, estimular a participação e a autoaprendizagem. O preceptor possui grande importância na formação do profissional , norteando sua evolução (FERREIRA FC, et al., 2018). No segundo bloco do questionário foram feitos questionamentos sobre o roteiro da Consulta de puericultura, as dificuldades encontradas e os benefícios resultantes da prática de puericultura.

Gráfico 1 – Pontos mais importantes do roteiro da consulta de puericultura

Fonte: Caldeira AG, et al., 2022

Em relação a realização da consulta de puericultura quando solicitado que marcassem 5 (cinco) pontos mais importantes do roteiro – 16 (100%) dos entrevistados apontaram o acompanhamento da vacinação, equivalente a 20% dos resultados. Segundo Gaiva MAM, et al. (2019), em todas as consultas são realizadas orientações sobre a importância da vacinação e uma avaliação sistemática do calendário vacinal, esclarecendo para as mães quais vacinas e em qual idade a criança deve ser vacinada (Gráfico 1).

Em seguida em empate temos exame físico e entrevista/anamnese representando (19%) dos resultados cada, sendo apontado por 15 (94%) dos participantes da amostra. De acordo com Santos N,et al. (2011), a anamnese nos fornece uma quadro completo atual e pregresso do paciente, descrevendo o indivíduo como um todo, já o exame físico representa um instrumento de grande importância na assistência de enfermagem, onde se procura anormalidades e sinais claros de possíveis problemas de saúde (Gráfico 1).

Em seguida temos, Gráficos: perímetro cefálico (PC), peso, comprimento e IMC – 13 (16%); Marcos do desenvolvimento – 10 (12%); Verificação do sono, repouso, alimentação e eliminações fisiológicas – 7 (9%); Orientação de prevenção de acidentes – 3 (4%) e identificação de queixas – 1 (1%) (Gráfico 1). Os pontos citados no parágrafo são essenciais para atingir o propósito do Programa de Puericultura, que é um dos instrumentos na Estratégia Saúde da Família, no qual deve acompanhar o crescimento e desenvolvimento físico e neuromotor de acordo com a idade (GUBERT FA, et al., 2015)

Gráfico 2 – Grau de dificuldade para permitir a integralidade na realização da consulta de puericultura

Fonte: Caldeira AG, et al., 2022

Dentro da amostra, todos os entrevistados referiram já terem realizado a consulta de puericultura em algum momento da sua vida acadêmica ou profissional, em seguida foram questionados quanto ao grau de dificuldade encontrada para permitir uma atenção integral ao paciente durante sua realização (Gráfico 2).

A prática da puericultura resume-se no monitoramento do desenvolvimento e crescimento da criança, feito de maneira periódica com objetivo de prevenir doenças, promover a saúde e detectar alterações de maneira precoce no processo de evolução da criança (ALVES RMM, et al., 2019). Para que os atendimento sejam realizados com resolutividade é fundamental estrutura e material ao dispor, além de um quantitativo adequado de profissionais (BRITO GV, et al., 2018).

De um total de 16 participantes, 10 ( 62%) alegaram um grau moderado de dificuldade, seguido por – 3 (19%) expuseram facilidade para garantir a integralidade do atendimento e – 3 (19%) manifestaram dificuldade (Gráfico 2).

Gráfico 3 – Dificuldades encontradas na realização da consulta de puericultura no SUS

Fonte: Caldeira AG, et al., 2022

Após estabelecer os níveis de dificuldades encontrados pelos entrevistados, se viu necessário identificar quais estão presentes no dia a dia do enfermeiro, foram listados algumas opções e dado espaço para expor aquelas que não estavam descritas (Gráfico 3).

O índice com maior relevância foi a falta de continuidade do paciente com um percentual de 27%. De acordo com Campos RMC, et al.(2011), parao cuidado ser efetivo, deve-se manter um cuidado recorrente e sistemático, para se ter o desenvolvimento e crescimento preciso da criança (Gráfico 3).

Logo após com 22% a segunda maior dificuldade encontrada pelos entrevistados foi a falta de recursos, seguido pelo excesso de pacientes apontado por 17%, diante da vasta população, onde se observa um declínio no número de quantitativos de profissionais ( 12%) (Gráfico 3).

Segundo Forte ECN e Pires DEP (2017), se tornou frequente encontrar unidades de atenção básica com falta de recursos humanos (médicos, agente comunitário de saúde e profissionais de enfermagem) acarretando em uma deficiência no cadastramento das famílias e a prestação de serviço e um grande déficit de materiais e insumos disponíveis no almoxarifado.

De acordo com os docentes, a falta de cobrança para realização e conflito de papéis, teve uma variável de 5%. Em seguida, é referido a falta de acompanhamento da evolução do paciente diariamente com um percentual de 2%. Vieira VCL, et al. (2012), afirma que neste sentido, para que o usuário procure o serviço de saúde e tenha continuidade no acompanhamento, é necessário e eficaz a criação de vínculo do paciente com os profissionais/serviço de saúde (Gráfico 3).

No questionário havia espaço para que os entrevistados pudessem colocar de forma livre as dificuldades que não estivessem listadas, resultando nas seguintes respostas: “Falta de salas adequadas (Enfermeiro – nº13)”, “Comunicação, grau de instrução dos pais e/ou acompanhantes, regularidade dos pais/acompanhante para levar às consultas (Enfermeiro – nº06) e “Falta de médico na equipe (Enfermeiro – nº04)” (Gráfico 3).

Segundo Suto CSS, et al. (2014), encontram-se várias unidades básicas de saúde com estruturas físicas precárias, instalações adaptadas e com falta de manutenção. Promovendo um ambiente de fácil contaminação, fora da padronização feita pelo MS. Além do notável déficit de recursos humanos, em especial do profissional médico, e em especial, especializado em saúde da família e comunidade (PIEDADE FL, et al., 2021).

Malaquias TSM, et al. (2015), afirma que os responsáveis pela criança, em grande maioria deixam de levar as crianças para as consultas, por não achar necessário, devido a ausência de doença. Dessa forma, fica claro a falta de comunicação e orientação dos pais para que tenham conhecimento dos benefícios das consultas de CD, assim como as demais ações de saúde oferecidas na unidade.

Gráfico 4 – Principais benefícios resultantes da realização da consulta de puericultura

Fonte: Caldeira AG, et al., 2022

Em se tratando dos benefícios da consulta de puericultura, em um momento do questionário foram solicitados que apontassem os 3 (três) principais benefícios resultantes da realização da consulta de puericultura, de acordo com a sua opinião pessoal e profissional. Com 11 marcações representando (23%) dos resultados obtidos: Aumentar o vínculo entre profissionais, família e criança. Zanardo GM, et al. (2017), afirma que o vínculo entre as partes envolvidas é de extrema importância, possibilitando uma assistência integral e fortalecendo a confiança no profissional (Gráfico 4).

Em seguida tem-se: Acompanhar o desenvolvimento físico e motor – 10 (21%); Manutenção da saúde da criança – 8 (17%); Promover a saúde – 6 (13%) e Acompanhar o Crescimento – 5 (10%) (Gráfico 4). Quando se fala em desenvolvimento infantil, se depara com um processo complexo, dessa maneira, não pode ser negligenciada sua vigilância e estimulação, principalmente nos primeiros anos de vida, avaliando seu crescimento e habilidades adquiridas. Uma estratégia focada na promoção de saúde e prevenção de agravos (VIEIRA DS,et al., 2018).

Logo após, aparece: Detectar e tratar doenças precocemente – 5 (10%) e identificar situações inadequadas no dia-a-dia da criança – 3 (6%). Para Ferreira FA, et al. et al (2019),  a atuação da enfermagem nessa fase da vida é indispensável devido a sua vulnerabilidade, tornando a puericultura uma prática necessária, devido ao seu acompanhamento individualizado e a redução da incidência de doenças (Gráfico 4).

CONCLUSÃO e CONSIDERAÇÕES FINAIS

Constata-se que os profissionais entrevistados compartilham similares pontos de vista em relação a consulta de puericultura, mesmo atuando em tempo e locais diferentes. Apesar do contraste, os principais benefícios da consulta de puericultura realizada pelo profissional enfermeiro são os mesmos, acompanhamento da vacinação, exame físico e entrevista/anamnese, e as dificuldades mais apontadas foram a falta da continuidade do paciente e em seguida a falta de recursos. Desta maneira, entende-se que os enfermeiros entrevistados possuem conhecimento e autonomia, no que concerne a realização da consulta de puericultura, e a importância deste para proporcionar uma assistência individualizada e de qualidade para o paciente.


REFERÊNCIAS

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1Acadêmicos do Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos (UNICEPLAC), Brasília-DF.
E-mail: biancavlimaver@gmail.com

2Orientadora