PERCEPTION OF KNOWLEDGE AND USE OF CONTRACEPTIVE METHODS BY ADOLESCENTS AT A SCHOOL IN CEILÂNDIA – DF
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202410280929
Ana Luiza Vilela Braga Rossi1
Prof.ª. Dra. Tatiana Fonseca2
Resumo
A adolescência é a época da vida de transição da infância para a idade adulta, de novas experiências, de necessidade de pertencimento, de decisões que influenciarão o resto da vida. É um período da vida repleto de modificações, dúvidas, incertezas, alterações estruturais e de maturação, seja ela física ou psíquica. Estas modificações corroboram o aumento da vulnerabilidade com o consequente comportamento de risco, como as relações sexuais desprotegidas, podendo culminar em gravidez não planejada e não desejada e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Este trabalho tem como objetivo avaliar o conhecimento de adolescentes sobre os métodos contraceptivos. Trata-se de um estudo observacional, analítico e transversal, com coleta de dados de alunos de ensino médio de escola pública em Ceilândia-DF. Foram incluídos 77 adolescentes que atenderam aos critérios de inclusão no presente estudo, sendo que a mediana da idade foi de 16 anos (14 a 18 anos). Em relação aos dados demográficos, 64,9% eram do sexo feminino, sendo que 89,6% se consideraram cisgênero; 53,2% tinham acompanhamento na UBS ou em outro local de saúde; entre as pessoas que residem junto com o participante, em 79,2% dos casos era a mãe, 51,9% eram irmão(s) e em 33,8% dos casos era o pai. Em somente 32,5% dos casos os pais moravam juntos. Cerca de 76,6% dos adolescentes informaram que tinham um bom diálogo com as mães; 39% com os pais e 59,7% informaram que tinham também diálogo com outros cuidadores. Em relação ao local no qual obtiveram conhecimento sobre os métodos anticoncepcionais, 50,6% dos adolescentes citaram as redes sociais e 36,4%, profissionais de saúde. Os achados do presente estudo reforçam a importância de políticas públicas que promovam educação sexual abrangente e o acesso facilitado a métodos contraceptivos eficazes, com o objetivo de reduzir as taxas de gravidez precoce e risco de infecções sexualmente transmissíveis.
Palavras-chave: Método contraceptivo. Anticoncepcional. Gravidez. Infecções Sexualmente Transmissíveis.
1 INTRODUÇÃO
A adolescência é um período de transição repleto de transformações biológicas, emocionais e sociais que influenciam significativamente a saúde e o comportamento sexual dos jovens. Durante essa fase, as primeiras experiências sexuais tendem a ocorrer, geralmente sem o preparo devido ou conhecimento sobre os riscos associados, como a gravidez precoce e as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) (Azevedo, et al. 2018b; Brasil, 1996; Brasil, 2007; Melo et al. 2022; Morais et al. 2023; Vieira et al. 2020). A vulnerabilidade dos adolescentes a esses problemas está diretamente ligada a fatores como a falta de educação sexual adequada, barreiras no acesso a métodos contraceptivos, influências socioeconômicas e culturais, bem como a pressão dos parceiros e a falta de suporte familiar (Chandra-Mouli, et al. 2014; SBP, 2018).
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), para critérios relacionados à saúde, a adolescência compreende a faixa etária entre 10 e 19 anos, sendo essa uma fase crítica para o desenvolvimento de comportamentos que podem impactar a saúde reprodutiva ao longo da vida. Nesse contexto, a promoção da saúde sexual e reprodutiva torna-se essencial, no qual há necessidade do fornecimento de informações precisas sobre contracepção e quanto ao acesso a métodos contraceptivos seguros e eficazes. No entanto, diversos estudos apontam que os adolescentes, especialmente em países de baixa e média renda, enfrentam dificuldades consideráveis para obter esses recursos de maneira eficiente (Arruda et al. 2020; Bitzer et al. 2016; Chandra-Mouli et al., 2014; Finotti, 2015; FEBRASGO 2017).
Além disso, a educação sexual nas escolas, muitas vezes, é inconveniente ou inexistente. A falta de programas estruturados de educação sexual, que abordam questões de forma integral como o uso correto de contraceptivos, a prevenção de ISTs e o planejamento familiar, perpetua a vulnerabilidade dos adolescentes. No Brasil, a abordagem de temas relacionados à sexualidade nas escolas ainda enfrenta barreiras culturais e religiosas, que dificultam a implementação de programas abrangentes e eficazes (FEBRASGO, 2017; Morais et al. 2023). Como resultado, muitos adolescentes acabam recorrendo a fontes de informação menos confiáveis, como redes sociais e amigos, o que amplia a desinformação sobre o tema (Morais et al. 2023).
Outro fato é que o início precoce da vida sexual entre adolescentes é um fenômeno observado globalmente e, no Brasil, a idade média da primeira relação sexual situa-se em torno dos 15 anos (Arruda et al., 2020). Esse comportamento, muitas vezes, está associado a práticas sexuais desprotegidas e ao uso inconsistente de métodos contraceptivos, o que aumenta o risco de gravidez precoce e ISTs. Além disso, o uso de substâncias como álcool e drogas durante as relações sexuais também é um fator que contribui para comportamentos de risco (Moura et al., 2018). Ao mesmo tempo, a pressão para se adequar às expectativas sociais e a busca por acessibilidade entre os amigos podem levar os adolescentes a iniciar a vida sexual precocemente, muitas vezes sem o preparo emocional e cognitivo (Galvão et al., 2018).
Cabe salientar que a gravidez na adolescência é uma das principais consequências das práticas sexuais desprotegidas e do uso inadequado de métodos contraceptivos. A gravidez precoce não representa apenas um risco para a saúde física e emocional dos adolescentes, mas também pode ter consequências sociais devido a evasão escolar. No Brasil, a taxa de gravidez entre adolescentes é alta, especialmente em regiões de baixa renda ou do interior, tendo em vista que nestes lugares o acesso a serviços de saúde e educação sexual pode ser limitado (Béria et al. 2020; Lopes et al., 2020; SBP 2019a; SBP 2019b; Sousa et al. 2018). Os fatores de risco para a gravidez na adolescência são multifacetados e incluem tanto determinantes individuais quanto contextuais. Adolescentes de baixa renda, com baixa escolaridade e que vivem em ambientes familiares disfuncionais são mais propensos a engravidar precocemente, uma vez que enfrentam barreiras adicionais ao acesso à informação sexual e recursos de saúde (Galvão et al. 2018). Além disso, a gravidez na adolescência está frequentemente associada ao menor uso de medicamentos profiláticos (ácido fólico e sulfato ferroso) e ao atraso no início do pré-natal, assim como complicações obstétricas (parto prematuro, restrição de crescimento intrauterino), maior mortalidade neonatal e menor duração do aleitamento materno (Belfort et al. 2018; Nava et al. 2020).
A prevenção da gravidez e de ISTs na adolescência compreende não apenas a promoção do acesso a métodos contraceptivos, mas também a educação sexual abrangente e o fortalecimento dos serviços de saúde voltados para adolescentes (Lopes et al. 2020). De acordo com o manual da FEBRASGO (2017), a educação sexual deve ser vista como uma ferramenta fundamental para a prevenção da gravidez precoce e de ISTs, devendo abordar tanto aspectos biológicos quanto sociais e emocionais da sexualidade. Programas educacionais que incentivam o diálogo aberto sobre sexualidade, contracepção e relacionamentos saudáveis são essenciais para equipar os adolescentes com as informações necessárias para tomar decisões informadas.
Neste sentido, é importante a realização de estudos que possam avaliar o conhecimento dos adolescentes sobre o uso de métodos contraceptivos, no qual corrobora para realização de políticas públicas que contribuam para prevenção de gravidez precoce e diminuição do risco de contraírem infecções sexualmente transmissíveis.
2 METODOLOGIA
Trata-se de um estudo transversal analítico. Com adolescentes entre 14 a 19 anos, do ensino médio e de escola pública de Ceilândia. Foram excluídos alunos que, visualmente ou sob diagnóstico clínico, tenham qualquer comprometimento cognitivo que dificulte o entendimento do funcionamento desta pesquisa. Foram excluídos também os alunos que não se sentirem confortáveis em permitir que entremos em contato com seus cuidadores para solicitar a participação deles no estudo.
A análise dos dados ocorreu a partir do programa Microsoft Excel 2019 Office. Foi realizada uma análise inicial para identificação de erros de digitação, de classificação, fazendo correções quando necessário. Foram consideradas as seguintes variáveis: idade, sexo, estado civil, acompanhamento em sistema de saúde, quantidade de pessoas em domicílio, situação conjugal dos pais, diálogo com cuidador, autoestima, uso de drogas lícitas e ilícitas, menarca, sexarca, conhecimento e uso dos métodos contraceptivos passados e atuais, determinantes para escolha do método contraceptivos.
O presente estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde (FEPCS), sob o CAAE: 78167123.0.0000.5553 e número de protocolo: 7.090.177.
3 RESULTADOS
Foram incluídos 77 adolescentes que atenderam aos critérios de inclusão no presente estudo, sendo que a mediana da idade foi de 16 anos (14 a 18 anos).
Em relação aos dados demográficos, 64,9% dos adolescentes eram do sexo feminino, sendo que 89,6% da amostra se consideraram cisgênero; 7,8% eram casados ou moravam juntos; 53,2% tinham acompanhamento na UBS ou em outro local de saúde; 44,2% tinham entre 4 e 5 pessoas residindo na mesma casa que o adolescente; entre as pessoas que residem junto com o participante, em 79,2% dos casos era a mãe, 51,9% eram irmão(s) e em 33,8% dos casos era o pai. Em somente 32,5% dos casos os pais moravam juntos (Tabela 01).
Cerca de 76,6% dos adolescentes informaram que tinham um bom diálogo com as mães; 39% informaram que tinham com os pais e 59,7% informaram que tinham também diálogo com outros cuidadores (Tabela 01).
Tabela 1: Dados sociodemográficos
n | % | |
Sexo | ||
Feminino | 50 | 64,9 |
Masculino | 27 | 35,1 |
Gênero | ||
Feminino cis | 44 | 57,1 |
Masculino cis | 25 | 32,5 |
Masculino trans | 1 | 1,3 |
Não binário | 1 | 1,3 |
Não informado | 6 | 7,8 |
Idade | ||
14 | 3 | 3,9 |
15 | 3 | 3,9 |
16 | 12 | 15,6 |
17 | 51 | 66,2 |
18 | 8 | 10,4 |
Estado Civil | ||
Casado | 4 | 5,2 |
Mora junto | 2 | 2,6 |
Solteiro | 71 | 92,2 |
Acompanhamento na UBS ou em outro local de saúde | ||
Sim | 41 | 53,2 |
Pessoas moram na sua casa (Contando com o participante) | ||
1 | 1 | 1,3 |
2 a 3 | 27 | 35,1 |
4 a 5 | 34 | 44,2 |
>5 | 15 | 19,5 |
Quem são | ||
Mãe | 61 | 79,2 |
Irmão(s) | 40 | 51,9 |
Pai | 26 | 33,8 |
Avó(s) | 9 | 11,7 |
Padrasto | 8 | 10,4 |
Tio(s) | 6 | 7,8 |
Primo(s) | 4 | 5,2 |
Companheiro(a) | 2 | 2,6 |
Madrasta | 2 | 2,6 |
Filha | 1 | 1,3 |
Tias | 1 | 1,3 |
Pais moram juntos | ||
Sim | 25 | 32,5 |
Tem um bom diálogo com a mãe | ||
Sim | 59 | 76,6 |
Tem um bom diálogo com o seu pai | ||
Sim | 30 | 39,0 |
Diálogo com outro cuidador | ||
Sim | 46 | 59,7 |
Avô(ó) | 8 | 17,4 |
Tio(a) | 7 | 15,2 |
Irmão(ã) | 5 | 10,9 |
Padrasto/madrasta | 4 | 8,7 |
Mãe | 3 | 6,5 |
Em relação aos dados sobre o estilo de vida dos adolescentes incluídos no estudo, cerca de 15,6% tinham autoestima baixa e 16,9% não souberam responder. Além disso, 29,9% já fumaram ou fumam cigarro; 57,1% já fumaram ou fumam cigarro eletrônico; 55,8% já usaram ou usam narguilé; 81,8% já beberam ou bebem bebidas alcoólicas; 27,3% já usaram ou usam drogas ilícitas, sendo que neste grupo, a maconha foi a droga ilícita usada em 95,2% dos casos e lança-perfume em 23,8% (Tabela 02).
Tabela 2: Dados sobre o estilo de vida
n | % | |
Autoestima | ||
Alta | 52 | 67,5 |
Baixa | 12 | 15,6 |
Não sei responder | 13 | 16,9 |
Fumou ou fuma cigarro | ||
Já usou | 16 | 20,8 |
Uso | 7 | 9,1 |
Nunca usei | 54 | 70,1 |
Fumou ou fuma cigarro eletrônico | ||
Já usou | 28 | 36,4 |
Uso | 16 | 20,8 |
Nunca usei | 33 | 42,9 |
Já usou ou usa narguilê | ||
Já usei | 35 | 45,5 |
Uso | 8 | 10,4 |
Nunca usei | 34 | 44,2 |
Já bebeu ou bebe (bebidas alcoólicas) | ||
Já usei | 43 | 55,8 |
Uso | 20 | 26,0 |
Nunca usei | 14 | 18,2 |
Já usou ou usa drogas ilícitas | ||
Já usei | 15 | 19,5 |
Uso | 6 | 7,8 |
Nunca usei | 56 | 72,7 |
Drogas ilícitas usa ou já usou | ||
Maconha | 20 | 95,2 |
Lança perfume | 5 | 23,8 |
Crack | 1 | 4,8 |
Cocaína | 1 | 4,8 |
Ecstasy / MDMA | 1 | 4,8 |
Heroína | 1 | 4,8 |
LSD | 2 | 9,5 |
Em relação aos dados referentes à primeira menstruação e início da vida sexual, a mediana de idade da primeira menstruação foi de 11,7 anos (9 a 15 anos); a mediana do primeiro beijo dos adolescentes foi de 12,3 anos (5 a 17 anos), sendo que 9,1% dos adolescentes ainda não tinham dado o primeiro beijo/ficada; a mediana da primeira relação sexual foi de 14,5 anos (12 a 17 anos), sendo que 41,6% dos adolescentes ainda não tinham tido a primeira relação sexual (Tabela 03).
Tabela 3: Dados sobre início da vida sexual
n | % | |
Idade da primeira menstruação | ||
9 anos | 3 | 6,0 |
10 anos | 4 | 8,0 |
11 anos | 11 | 22,0 |
12 anos | 16 | 32,0 |
13 anos | 7 | 14,0 |
14 anos | 5 | 10,0 |
15 anos | 1 | 2,0 |
Não menst. | 1 | 2,0 |
Idade do primeiro beijo/ficada | ||
5 anos | 1 | 1,3 |
7 anos | 4 | 5,2 |
8 anos | 2 | 2,6 |
9 anos | 5 | 6,5 |
10 anos | 1 | 1,3 |
11 anos | 4 | 5,2 |
12 anos | 16 | 20,8 |
13 anos | 11 | 14,3 |
14 anos | 10 | 13,0 |
15 anos | 6 | 7,8 |
16 anos | 8 | 10,4 |
17 anos | 2 | 2,6 |
Não teve | 7 | 9,1 |
Idade da primeira relação sexual | ||
Não teve | 32 | 41,6 |
Teve relação sexual | 45 | 58,4 |
12 anos | 3 | 6,7 |
13 anos | 6 | 13,3 |
14 anos | 9 | 20,0 |
15 anos | 14 | 31,1 |
16 anos | 10 | 22,2 |
17 anos | 2 | 4,4 |
Em relação aos dados sobre métodos anticoncepcionais, os métodos mais conhecidos foram a camisinha masculina (87%), o anticoncepcional hormonal oral (59,7%), a camisinha feminina (53,2%) e o anticoncepcional hormonal injetável (62,3%). Em relação ao local no qual obtiveram conhecimento sobre os métodos anticoncepcionais, 50,6% dos adolescentes citaram as redes sociais e 36,4% citaram os profissionais de saúde (Tabela 04).
Em relação aos adolescentes que já tiveram relação sexual (58,4%), 73,3% citaram que usaram camisinha masculina em algum momento da vida e 26,7% disseram que usaram o anticoncepcional hormonal oral; 44,4% disseram que usaram algum método anticoncepcional antes da primeira relação sexual, sendo que entre esses, 95% usaram camisinha masculina e 35% usaram anticoncepcional hormonal injetável (Tabela 04).
Cerca de 42,2% informaram que os métodos anticoncepcionais variam se estão em um relacionamento sério; 57,8% referiram que a opinião do(a) parceiro(a) foi o fator determinante para a escolha do método utilizado e 44,4% informaram que foi a opinião dos cuidadores. Cerca de 24,4% mencionaram que a camisinha já rasgou e 11,1% disseram que esqueceram de tomar a pílula ou injeção. Cerca de 77,8% dos adolescentes que têm relação sexual afirmaram que já fizeram sexo sem proteção (sendo 35,6% alegaram que o motivo seria a diminuição da sensibilidade e 46,7%, que esqueceram). Cerca de 71,1% informaram que o método anticoncepcional utilizado atualmente é a camisinha masculina, sendo que, desses, 75,6% usam regularmente algum método anticoncepcional (Tabela 04).
Tabela 4: Dados sobre início da vida sexual
n | % | |
Métodos anticoncepcionais que conhece | ||
Camisinha masculina | 67 | 87,0 |
Anticoncepcional hormonal oral | 46 | 59,7 |
Camisinha feminina | 41 | 53,2 |
Anticoncepcional hormonal injetável | 48 | 62,3 |
Dispositivo intrauterino (DIU) de cobre | 38 | 49,4 |
Vasectomia | 34 | 44,2 |
Dispositivo intrauterino (DIU) hormonal | 28 | 36,4 |
Laqueadura | 23 | 29,9 |
Implante hormonal subcutâneo | 10 | 13,0 |
Anel vaginal | 8 | 10,4 |
Adesivo cutâneos com hormônio | 7 | 9,1 |
Não conheço nenhum | 5 | 6,5 |
Diafragma | 2 | 2,6 |
Espermicidas | 2 | 2,6 |
Esponja vaginal | 2 | 2,6 |
Onde obteve conhecimentos sobre métodos anticoncepcionais | ||
Redes sociais | 39 | 50,6 |
Profissionais da saúde | 28 | 36,4 |
Amigos | 26 | 33,8 |
Escola | 19 | 24,7 |
Sites de busca | 14 | 18,2 |
Mãe | 8 | 10,4 |
Família | 3 | 3,9 |
Podcast | 1 | 1,3 |
Trabalho | 1 | 1,3 |
Pai | 1 | 1,3 |
Métodos anticoncepcionais já utilizados porem algum momento da sua vida | ||
Camisinha masculina | 33 | 73,3 |
Anticoncepcional hormonal oral | 12 | 26,7 |
Anticoncepcional hormonal injetável | 7 | 15,6 |
Camisinha feminina | 3 | 6,7 |
Dispositivo intrauterino (DIU) hormonal | 1 | 2,2 |
Dispositivo intrauterino (DIU) de cobre | 1 | 2,2 |
Iniciado algum método anticoncepcional antes da primeira relação sexual | ||
Sim | 20 | 44,4 |
Camisinha masculina | 19 | 95,0 |
Anticoncepcional hormonal injetável | 7 | 35,0 |
Anticoncepcional hormonal oral | 3 | 15,0 |
Camisinha feminina | 2 | 10,0 |
Vasectomia | 1 | 5,0 |
Dispositivo intrauterino (DIU) hormonal | 1 | 5,0 |
Métodos anticoncepcionais variam se está em um relacionamento sério | ||
Sim | 19 | 42,2 |
Fator determina a escolha do método utilizado | ||
Facilidade de conseguir acesso | 6 | 13,3 |
Custo financeiro | 2 | 4,4 |
Medo de algum responsável descobrir | 3 | 6,7 |
Medo dos efeitos colaterais | 10 | 22,2 |
Custo financeiro | 1 | 2,2 |
Opinião do(a) parceiro(a) | 26 | 57,8 |
Facilidade de usar | 11 | 24,4 |
Opinião dos amigos | 5 | 11,1 |
Opinião dos cuidadores | 20 | 44,4 |
Questões religiosas | 1 | 2,2 |
Problema no método anticoncepcional escolhido | ||
Camisinha rasgou | 11 | 24,4 |
Esqueceu de tomar a pílula ou injeção | 5 | 11,1 |
Nunca teve | 22 | 48,9 |
Teve relação sexual sem proteção | ||
Sim | 35 | 77,8 |
Diminuição das sensações | 16 | 35,6 |
Esquecimento | 21 | 46,7 |
Acredita não ter chance de engravidar ou pegar Infecção Sexualmente Transmissível (IST) | 8 | 17,8 |
Influência do parceiro por preferir sem | 6 | 13,3 |
Acredita saber o período de ovulação no ciclo menstrual | 4 | 8,9 |
Método anticoncepcional utilizado atualmente | ||
Camisinha masculina | 32 | 71,1 |
Anticoncepcional hormonal oral | 10 | 22,2 |
Anticoncepcional hormonal injetável | 9 | 20,0 |
Dispositivo intrauterino (DIU) hormonal | 4 | 8,9 |
Camisinha feminina | 3 | 6,7 |
Não utilizo nenhum | 3 | 6,7 |
Como é seu uso | ||
Regular | 34 | 75,6 |
Irregular | 10 | 22,2 |
4 DISCUSSÃO
A gravidez na adolescência e ISTs ainda é um problema significativo de saúde pública, especialmente em países em desenvolvimento como o Brasil. De acordo com dados de estudos recentes e da Organização Mundial da Saúde (OMS), a gravidez precoce está associada a um conjunto de desafios para o adolescente e o recém-nascido, incluindo maior vulnerabilidade socioeconômica, abandono escolar, e maior risco de complicações obstétricas (Azevedo et al. 2019a; FEBRASGO, 2017; Sousa et al. 2018; Lopes et al. 2020).
Entre os jovens, a incidência das infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) segue uma tendência similar à observada em outras faixas etárias. A sífilis é uma das mais comuns, o que, por consequência, tem levado a um crescimento nos casos de sífilis congênita (SBP, 2018), que poderia ser prevenido com o diagnóstico e tratamento corretos da gestante durante o pré-natal. Outras doenças, como o herpes e o HIV, também podem ter a transmissão vertical evitada, desde que sejam adotadas as medidas preventivas adequadas no momento do parto.
Neste sentido, a educação sexual e o acesso a métodos contraceptivos foram identificados como intervenções fundamentais para mitigar esses riscos. No entanto, muitos adolescentes ainda enfrentam barreiras na aquisição do conhecimento sobre sua saúde reprodutiva e acesso aos métodos contraceptivos (Arruda et al., 2020; Azevedo et al. 2019a; Azevedo et al. 2019b).
O presente estudo buscou avaliar o conhecimento dos adolescentes sobre métodos contraceptivos e suas práticas sexuais. Além de compreender como fatores referentes ao diálogo familiar, ao acompanhamento médico e ao ambiente escolar influenciam o comportamento sexual e a tomada de decisão dos adolescentes sobre o uso de contraceptivos.
4.1 Perfil Demográfico dos Adolescentes
Os dados demográficos dos adolescentes incluídos no estudo indicam que a maioria dos participantes eram do sexo feminino (64,9%) e cisgêneros (89,6%), com uma média de idade de 16 anos. A maior parte dos adolescentes viviam em lares com quatro a cinco pessoas, sendo que em 79,2% dos casos a mãe era a cuidadora principal. Esses achados são consistentes com a literatura, que destaca que a figura materna frequentemente desempenha um papel central na educação sexual dos filhos, o que gera sobrecarga de responsabilidade e chance do tema sexualidade não ter a valorização necessária frente às diversas demandas (Azevedo et al. 2019b; González et al. 2020; Morais et al. 2023; Santos et al., 2018).
A literatura sugere que adolescentes em lares com menos apoio familiar ou com pais que não dialogam abertamente sobre sexualidade tendem a ter maior vulnerabilidade a comportamentos de risco, como relações sexuais desprotegidas e falta de uso de contraceptivos (González et al. 2020; Morais et al. 2023; Sousa et al., 2018; Vieira et al. 2020). No presente estudo, 76,6% dos adolescentes disseram ter um bom diálogo com a mãe, enquanto apenas 39% disseram ter a mesma relação com o pai. Esse fator pode explicar a alta prevalência de adolescentes que dependem de outros cuidadores para obter informações, conforme indicado por 59,7% dos participantes.
Além disso, a condição socioeconômica é frequentemente associada à gravidez na adolescência. O estudo conduzido por Galvão et al. (2018) demonstra que adolescentes de baixa renda têm maior probabilidade de engravidarem precocemente devido à menor exposição à educação sexual e barreiras no acesso a métodos contraceptivos. Esse padrão foi apresentado no presente estudo, em que 53,2% dos adolescentes relataram acompanhamento em uma unidade básica de saúde (UBS), mas ainda assim revelaram lacunas no conhecimento sobre contracepção.
4.2 Conhecimento e uso de métodos contraceptivos
O conhecimento sobre métodos contraceptivos entre adolescentes tem se mostrado ser um fator determinante para a prevenção de gravidezes não planejadas e a redução das taxas de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) (Cardoso et al. 2022; Melo et al. 2022). No estudo em questão, foi identificado que a camisinha masculina (87%) e o anticoncepcional hormonal oral (59,7%) são os métodos contraceptivos mais conhecidos pelos adolescentes. No entanto, há uma significativa falta de conhecimento sobre outros métodos, como o implante hormonal subcutâneo (13%) e o diafragma (2,6%). Isso se alinha com a literatura revisada, que destaca como os adolescentes muitas vezes têm um entendimento limitado sobre as diversas opções de contracepção disponíveis, optando pelos métodos mais tradicionais ou aqueles que são indicados pelos colegas/companheiros.
A discrepância no uso de métodos contraceptivos entre adolescentes também foi identificada como um problema importante. Apesar da maioria dos adolescentes ter conhecimento sobre os preservativos, a taxa de uso consistente, regular e correto durante todas as relações sexuais é baixa. Muitos adolescentes dizem não usar o preservativo devido a fatores como a diminuição da sensibilidade, o esquecimento ou confiança no parceiro como razões para não o utilizar consistentemente (Morais et al. 2023; Vieira et al. 2020). Arruda et al. (2020) cita que o uso inadequado ou constante de métodos contraceptivos entre adolescentes está frequentemente ligado à falta de educação sexual estruturada e à desinformação sobre os riscos de ISTs e a eficácia dos contraceptivos. A revisão da FEBRASGO (2017) também aponta que muitos adolescentes são influenciados por mitos e informações equivocadas, como a crença de que usar dois preservativos simultaneamente oferece maior proteção ou que o método do coito interrompido é eficaz para prevenir gravidezes.
Além disso, um fator interessante identificado no estudo foi o papel das redes sociais como principal fonte de informação sobre métodos contraceptivos para 50,6% dos adolescentes, superando a orientação realizada por profissionais de saúde (36,4%) e a escolar (24,7%). Isso revela um cenário preocupante, em que os adolescentes estão obtendo informações sobre sua saúde sexual em plataformas que não podem oferecer conteúdo validado cientificamente. Santos et al. (2018) também demonstram que a educação sexual fornecida nas escolas ainda não é insuficiente para cobrir todas as dúvidas dos adolescentes, o que pode levá-los a buscar informações em fontes não confiáveis.
É importante destacar também que o conhecimento inadequado e o uso inconsistente de métodos contraceptivos têm consequências diretas para a saúde reprodutiva dos adolescentes. O estudo de Belfort et al. (2018) revelou que o baixo uso de contraceptivos entre adolescentes está diretamente relacionado ao contágio de ISTs, à gravidez precoce e ao aumento de riscos obstétricos, como o baixo peso ao nascer e às complicações neonatais. No presente estudo, embora uma parte significativa dos adolescentes tenha conhecimento básico sobre métodos contraceptivos, a falta do uso contínuo e correto pode demonstrar a necessidade de maior acompanhamento deste público para ampliar o conhecimento deste sobre comportamento sexual.
4.3 Comportamento Sexual e Riscos
Os comportamentos sexuais dos adolescentes também foram analisados no estudo, com foco no início da vida sexual, uso de métodos contraceptivos e fatores de risco associados às práticas sexuais. A mediana da idade da primeira relação sexual foi de 14,5 anos, e cerca de 58,4% dos adolescentes incluídos no estudo já tinham iniciado a vida sexual. Esses achados são consistentes com estudos anteriores que indicam uma tendência ao início precoce da atividade sexual entre adolescentes brasileiros (FEBRASGO, 2017; Moura et al., 2018; Morais et al. 2023; Vieira et al. 2020).
O início precoce da vida sexual é frequentemente associado a comportamentos de risco, como a prática de sexo desprotegido e o uso inadequado de métodos contraceptivos. No presente estudo, foi revelado que 44,4% dos adolescentes adquiriram algum método contraceptivo antes da primeira relação sexual, sendo o preservativo masculino o método mais utilizado (95% entre os que obtiveram algum método). No entanto, o uso contínuo e correto desses métodos nas relações subsequentes foi irregular, com muitos adolescentes relatando episódios de sexo desprotegido, o que aumenta o risco de gravidez indesejada e ISTs.
Esses comportamentos de risco refletem uma combinação de fatores, incluindo a falta de informações apropriadas sobre contracepção e a pressão social para se envolver em atividades sexuais precocemente. O estudo de Moura et al. (2018) destaca que adolescentes que iniciaram a vida sexual mais cedo tendem a enfrentar maiores desafios em manter práticas sexuais seguras, muitas vezes devido à influência de pares e à falta de apoio familiar. Essa influência social também foi evidenciada no presente estudo, no qual 57,8% dos adolescentes informaram que a opinião do parceiro foi o fator determinante para a escolha do método contraceptivo utilizado.
Além disso, o uso de substâncias, como o álcool e o cigarro eletrônico, também foi identificado como um comportamento de risco comum entre os adolescentes. Cerca de 81,8% dos adolescentes afirmaram já ter consumido bebidas alcoólicas, e 36,4% já usaram cigarro eletrônico. O consumo dessa substância está frequentemente associado a comportamentos impulsivos e ao uso inconsistente de métodos contraceptivos, aumentando o risco de gravidez indesejada e exposição a ISTs (González et al. 2020; Moura et al., 2018; Morais et al. 2023). Esses dados demonstram a necessidade de promover programas de conscientização não apenas sobre contracepção, mas também sobre os riscos associados ao uso destas substâncias e suas consequências para a saúde sexual.
4.4 A Influência do diálogo familiar e escolar
O diálogo familiar e escolar desempenha um papel crucial na educação sexual dos adolescentes e na promoção de comportamentos sexuais saudáveis. No presente estudo, a maioria dos adolescentes relatou ter um bom diálogo com suas mães (76,6%), enquanto apenas 39% afirmaram ter o mesmo tipo de relação com o pai. Esses achados sugerem que, embora as mães desempenhem um papel central na educação sexual, a falta de envolvimento do pai pode limitar as perspectivas da compreensão mais ampla dos adolescentes sobre o tema.
Estudos anteriores demonstram que o diálogo aberto entre pais e filhos sobre sexualidade está associado ao uso mais consistente de métodos contraceptivos e à redução de comportamentos de risco (González et al 2020; Morais et al 2023; Sousa et al. 2018; Vieira et al 2020). Santos et al. (2018) aponta que adolescentes que discutem questões de sexualidade com seus pais têm maior probabilidade de usar preservativos e outros métodos contraceptivos em todas as relações sexuais. No entanto, a falta de comunicação ou a abordagem moralista dos pais pode levar os adolescentes a buscar informações em fontes não confiáveis, como redes sociais ou amigos, o que pode resultar em desinformação.
O papel da escola na educação sexual também foi destacado no presente estudo, com 24,7% dos adolescentes relatando que obtiveram informações sobre contracepção em suas instituições de ensino. Embora as escolas sejam uma importante fonte de informação, uma porcentagem relativamente baixa de adolescentes identificaram a escola como sua principal fonte de conhecimento sugerindo que a educação sexual ainda não é suficientemente abrangente ou eficaz nessas instituições de ensino. A literatura reforça essa lacuna, com estudos apontando que as escolas brasileiras ainda carecem de programas estruturados de educação sexual, focados não apenas na prevenção da gravidez, mas também na promoção de comportamentos saudáveis e no fortalecimento da autonomia dos adolescentes (Azevedo et al 2019b; FEBRASGO, 2017; Chandra -Mouli et al., 2014; Melo et al. 2022).
5.5 Repercussões Sociais e de Saúde relacionados a casos de gravidez na adolescência
As repercussões sociais e de saúde relacionadas à gravidez na adolescência, além da falta de uso consistente de métodos contraceptivos são bem documentadas na literatura. Adolescentes que enfrentam uma gravidez precoce geralmente estão em maior risco de desenvolverem resultados negativos tanto para si quanto para seus filhos, incluindo complicações obstétricas, abandono escolar e escassez financeira (Béria et al. 2020; Belfort et al., 2018; Galvão et al., 2018). O presente estudo reflete esse cenário ao identificar que muitos adolescentes relataram comportamentos sexuais de risco, como sexo desprotegido, ou que pararam de usar métodos contraceptivos de forma consistente após as primeiras relações sexuais. Esse comportamento, frequentemente associado à falta de educação sexual adequada e ao desconhecimento dos riscos, aumenta a vulnerabilidade desses adolescentes a uma gravidez precoce e infecções sexualmente transmissíveis.
A gravidez na adolescência está associada a uma série de desafios sociais, principalmente no impacto educacional. Vários estudos indicam que a gravidez precoce muitas vezes resulta no abandono escolar, prejudicando as perspectivas de educação e carreira das jovens mães (Béria et al. 2020; Lopes et al. 2020; Sousa et al., 2018). A evasão escolar decorrente da gravidez foi um dos principais fatores identificados no estudo de Sousa et al., em que adolescentes grávidas relataram dificuldades em conciliar a maternidade com as obrigações acadêmicas. Corroborando para que essas jovens mães tenham menos oportunidades de concluir seus estudos e melhorar suas condições socioeconômicas. Em estudo realizado por Campos (2023), no qual avaliou a gravidez na adolescência e projetos de vida: percepções e experiências dos adolescentes do Itapoã Distrito Federal, o autor salienta que a gravidez na adolescência tem um impacto significativo nos projetos de vida dos jovens, especialmente no que diz respeito à continuidade dos estudos e à busca por melhores oportunidades profissionais. Muitos adolescentes que engravidaram acabam abandonando a escola devido a dificuldades em conciliar a maternidade com a vida escolar, além de enfrentarem barreiras socioeconômicas que dificultam o retorno aos estudos.
A gravidez na adolescência também impacta as condições de vida dos adolescentes e seus familiares. Galvão et al. (2018), destacou que adolescentes que engravidaram enfrentaram repetidamente maiores desafios financeiros e dependem mais de redes de apoio, como os familiares ou o sistema de saúde público. Como demonstrado no presente estudo, no qual observa-se que uma parcela significativa dos adolescentes tem acompanhamento de unidades básicas de saúde (53,2%).
Em termos de saúde, a gravidez precoce está associada a uma série de complicações obstétricas, como parto prematuro, baixo peso ao nascer e maiores taxas de mortalidade neonatal (Belfort et al., 2018). Essas complicações são mais prevalentes entre adolescentes devido à falta de cuidados pré-natais adequados e ao próprio fato de que o corpo do adolescente ainda estar em desenvolvimento, o que aumenta os riscos durante a gravidez. No presente estudo, embora não tenham sido relatados avanços de saúde perinatal específicos, a alta prevalência de sexo desprotegido e o uso inconsistente de métodos contraceptivos indicam um risco elevado de gravidez não planejada, que pode levar a esses desfechos negativos.
Além disso, a exposição a infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) também é um risco significativo quando os adolescentes não usam preservativos de forma consistente. No presente estudo, aproximadamente 77,8% dos adolescentes afirmaram já ter feito sexo sem proteção em algum momento, aumentando o risco de contrair ISTs. Estudos anteriores mostram que a falta de educação sobre a dupla proteção (uso de preservativos junto com outro método contraceptivo) pode agravar esse risco (Cardoso et al. 2022; FEBRASGO, 2017). Além disso, as ISTs na adolescência podem ter consequências graves a longo prazo, incluindo infertilidade, complicações obstétricas e transmissão vertical para o feto ou recém-nascido (SBP, 2018).
Além das repercussões sociais e de saúde física, as consequências emocionais de uma gravidez precoce e da maternidade na adolescência são igualmente importantes. Estudos demonstram que mães adolescentes frequentemente relatam sentimentos de isolamento social, estigma e baixa autoestima, o que pode impactar níveis de seu bem-estar psicológico (Béria et al. 2020; Santos et al., 2018). No presente estudo, 15,6% dos adolescentes afirmaram ter baixa autoestima, enquanto 16,9% não souberam responder sobre o estado de sua autoestima, o que pode indicar uma vulnerabilidade emocional significativa entre esse grupo.
Não obstante, os desafios psicológicos enfrentados pelos adolescentes podem ser agravados pela falta de apoio familiar ou social. Conforme identificado em estudos anteriores, adolescentes que engravidam sem uma rede de apoio forte estão mais propensos a enfrentarem depressão e ansiedade, além de dificuldades em cuidar de seus filhos (Santos et al., 2018). Esses fatores emocionais destacam ainda mais a vulnerabilidade desses jovens e podem perpetuar o ciclo de pobreza e exclusão social, principalmente os do sexo feminino.
Os achados do presente estudo revelam a complexidade dos desafios enfrentados pelos adolescentes em relação ao uso de métodos contraceptivos, suas práticas sexuais e as consequências da gravidez precoce. Embora o estudo tenha mostrado que muitos adolescentes têm algum nível de conhecimento sobre métodos contraceptivos, as lacunas no uso consistente e adequado desses métodos indicam uma necessidade urgente de intervenções educacionais mais eficazes.
Tendo em vista que a educação sexual desempenha um papel central na prevenção da gravidez na adolescência e na redução das taxas de ISTs. Sendo que os achados demonstram uma necessidade de uma abordagem mais ampla e estruturada para a educação sexual nas escolas. Atualmente, apenas 24,7% dos adolescentes afirmaram ter obtido informações sobre métodos contraceptivos em suas escolas, o que sugere que a educação sexual ainda é insuficiente em muitos contextos. Os programas escolares de educação sexual precisam ser ampliados e reestruturados para incluir discussões mais profundas sobre a eficácia dos métodos contraceptivos, mitos comuns sobre o tema e a importância da dupla proteção (Bitzer, J. et al., 2016; Cardoso et al. 2022).
Ampliar o conhecimento dos adolescentes sobre educação sexual no âmbito escolar é extremamente importante, tendo em vista que as redes sociais estão emergindo como a principal fonte de informações sobre este tema. Todavia, apesar dos adolescentes buscarem informações desencontradas nas redes sociais, é essencial que as escolas e os profissionais de saúde também utilizem essas plataformas de forma mais eficaz para divulgar informações corretas e baseadas em evidências. Neste sentido, a criação de campanhas educativas voltadas para que adolescentes venham utilizar redes sociais de forma mais direcionadas para os conteúdos validados, pode ser uma estratégia eficaz para a educação sexual deste público, não obstante, a criação de rodas de conversas com “perguntas anônimas” pode proporcionar um ambiente de conhecimento direcionado às principais dúvidas dos adolescentes.
O diálogo aberto entre pais e adolescentes sobre sexualidade deve ser incentivado, pois esse diálogo é fundamental para a tomada de decisões em relação ao comportamento sexual destes. O presente estudo demonstra que os pais ainda desempenham um papel limitado nas conversas sobre sexualidade. O envolvimento paterno na educação sexual contribui para ampliação das práticas sexuais seguras desses adolescentes (FEBRASGO, 2017). A criação de programas comunitários e sobre educação sexual na adolescência ao pais podem contribuir para facilitar o diálogo entre os pais e os adolescentes.
Outra recomendação fundamental é o fortalecimento do acesso aos serviços de saúde para adolescentes, com foco no aconselhamento contraceptivo e prevenção de ISTs. No presente estudo, 53,2% dos adolescentes afirmaram ser acompanhados por unidades básicas de saúde (UBS), mas observou-se que há lacunas no conhecimento sobre contracepção. As políticas públicas que promovem o acesso a consultas e aconselhamento contraceptivo podem desempenhar um papel crucial na redução das taxas de gravidez precoce. Além disso, a ampliação da oferta de métodos contraceptivos em unidades de saúde, com foco em métodos de longa duração (como DIUs e implantes), pode melhorar a adesão ao uso de contraceptivos entre adolescentes e facilitar o uso da dupla contracepção. Tendo em vista que essa abordagem deve ser reforçada em programas de saúde. A dupla proteção não apenas previne a gravidez indesejada, mas também reduz significativamente o risco de transmissão de ISTs. A literatura destaca a importância de educar os adolescentes sobre essa estratégia, mas também de garantir o acesso fácil e gratuito aos preservativos em escolas e unidades de saúde (FEBRASGO, 2017).
No geral, apesar dos adolescentes terem algum nível de conhecimento sobre métodos contraceptivos, ainda existem lacunas significativas no uso correto e esses métodos consistentes. A gravidez na adolescência e a exposição às ISTs continuam a ser desafios de saúde pública, especialmente em contextos socioeconômicos e de vulnerabilidade. Intervenções educacionais mais robustas, programas de aconselhamento direcionados e a ampliação do acesso a serviços de saúde primária são fundamentais para melhorar os avanços do conhecimento eficaz desses adolescentes sobre relação sexual de risco.
5 CONCLUSÃO
Após o desenvolvimento do presente estudo, foi possível observar que os principais achados indicam que, embora a maioria dos adolescentes tenham algum conhecimento sobre métodos contraceptivos, ainda há lacunas significativas no uso consistente e correto desses métodos. Isso reflete a necessidade urgente de intervenções educacionais direcionadas, tanto no ambiente escolar quanto no familiar, para garantir que os adolescentes estejam devidamente aptos a tomarem decisões sobre sua saúde sexual, tendo em vista que a educação sexual nas escolas foi identificada como insuficiente, com muitos adolescentes recorrendo a fontes de informação menos confiáveis, como redes sociais.
A influência dos parceiros na escolha e uso dos métodos contraceptivos demonstra a vulnerabilidade dos adolescentes a comportamentos de risco.
Políticas públicas que promovam educação sexual abrangente e o acesso facilitado a métodos contraceptivos eficazes, com o objetivo de reduzir as taxas de gravidez precoce e risco de infecções sexualmente transmissíveis são importantes, necessitando serem reforçadas para assegurar conhecimento adequado e facilitar tomada de decisão numa fase tão importante e vulnerável da vida que é a adolescência.
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1 Médica Residente em Pediatria do Hospital Regional da Ceilândia-DF, e-mail: dra.analuizabraga@gmail.com
2 Docente do Curso Superior de Medicina da Universidade Católica de Brasília e Médica Pediatra da Secretaria de Saúde do DF. Mestre em Saúde da Família (Escola FioCruz de Governo).