REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8237311
¹Pedro Ivo Torquato Ludugerio
¹Natalia Pereira cordeiro
¹Nara Ferreira dos Santos
¹Willian dos Santos Silva
¹Edna Marques Bezerra Da Hora Vidal
²Francisco Canuto de Souza Junior
³Maria Misrelma Moura Bessa
4Leilany Dantas Varela
5Tayenne Maranhão de Oliveira
6Sharlene Maria Oliveira Brito
RESUMO
Objetivo: Discutir a percepção dos usuários acerca do atendimento ofertado por um serviço especializado no tratamento e diagnóstico das ISTs. Método: Trata-se de um estudo descritivo com abordagem qualitativa, no qual, foi realizada uma pesquisa a respeito da percepção dos usuários sobre o atendimento ofertado por um serviço especializado no tratamento e diagnóstico das ISTs na região do Cariri. Resultados: Os indivíduos que concordaram em participar da pesquisa, seis eram do sexo biológico feminino e dois do sexo biológico masculino, entre os participantes do sexo feminino, houve variação entre 27 e 58 anos, já no sexo masculino, a variação foi de 40 e 42 anos. Conclusão: Os usuários assistidos no SAE – infectologia expressaram opiniões favoráveis quanto aos serviços prestados pela unidade. Destacaram especialmente o bom tratamento oferecido pelos profissionais e a humanização do cuidado. Esses aspectos são considerados fatores importantes para a adesão e permanência dos usuários na instituição.
Descritores: Virus da Imunodeficiência Humana. Acolhimento. Profissionais de Saúde. Infecções Sexualmente Transmissíveis. Sistema Único de Saúde.
INTRODUÇÃO
As infecções sexualmente transmissíveis – ISTs fazem parte de um grupo de doenças, causados por microrganismos (vírus, bactérias ou protozoários) que possuem como principal forma de transmissão o contato sexual (oral, vaginal ou anal) com indivíduo infectado sem a utilização de métodos preventivos¹. De maneira menos comum, as ISTs também podem ser disseminadas por meio da transmissão vertical, ou através do contato de mucosas, ou pele não íntegra². Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) são identificados mais de um milhão de novos casos de ISTs curáveis e não curáveis em todo o mundo³.
As ISTs são caracterizadas como um grave problema de saúde pública, visto que, situam-se entre as razões mais comuns de doenças no mundo, impactando os sistemas de saúde e fragilizando a qualidade de vida das pessoas². No Brasil, cerca de um milhão de pessoas afirmaram ter diagnóstico médico de Infecção Sexualmente Transmissível, esse fato pode estar relacionado a precariedade dos serviços de saúde e a fragilidade da implantação da educação sexual nas escolas, tanto por obstáculos dos responsáveis, quanto por negligência dos gestores locais4
Em 1940 começou-se a implementar os modelos que possibilitam avaliar a qualidade dos serviços em saúde, a partir desses modelos, avaliar o desempenho dos locais que prestam serviços em saúde tornou-se imprescindível. Mensurar a satisfação dos pacientes com os atendimentos que lhe são ofertados é mais que necessário, tendo em vista que avaliação dos usuários possibilita o aprimoramento dos serviços5.
Malus⁶, sugere que o contentamento dos pacientes com o serviço é um entendimento complexo, complicado de se discutir, porém, pode-se buscar o entendimento a partir das perspectivas daqueles que são atendidos6. De acordo com Matias⁷, a qualidade da assistência prestada aos clientes deve atender às suas necessidades na totalidade, estabelecendo vínculos nos âmbitos emocionais, culturais e sociais7.
O contentamento dos usuários que utilizam os serviços de infectologia no território nacional ainda é pouco debatido, embora a avaliação da qualidade das ações e serviços desenvolvidos seja uma ferramenta extremamente importante para a continuidade das ações5. Conforme o Jornal do Cariri (2022), pacientes que utilizam o Serviço de Assistência Especializada em Infectologia – SAE Infectologia destacaram sua insatisfação ao utilizem os serviços da referida unidade, manifestaram seu descontentamento com a qualidade dos serviços prestados e, principalmente, com o atendimento oferecido, demonstrando a vulnerabilidade no que diz respeito a privacidade dos usuários, acolhimento e o preparo dos profissionais8.
Supõe-se que os clientes buscam nas unidades de saúde, através dos profissionais, atos ou ações que resolvam, ou pelo menos amenizem, as complicações que os levaram a procurar o serviço, contudo, caso haja uma lacuna nessas ações, isto pode gerar um retardo por parte do usuário na busca pelo atendimento/serviço9.
Os profissionais de saúde que atuam no Sistema Único de Saúde (SUS) devem romper os paradigmas inertes relacionados ao atendimento dos pacientes e agregar uma nova forma de acolhimento, de entender as necessidades e dúvidas do paciente e agir na concepção de mudança e modificação do modelo assistencial. O acolhimento dentro das unidades de saúde precisa adotar estratégias que visem atender as reais necessidades dos usuários, desenvolvendo atividades efetivas e direcionadas a garantia do acesso aos serviços de forma humanizada10.
Diante do exposto, surgiu o interesse em entender a percepção dos usuários no que tange ao atendimento ofertado por um serviço especializado em infectologia e os principais fatores que interferem negativamente na procura por estes serviços.
Perante a problemática supracitada, compreender a percepção dos usuários do serviço de saúde pode ser o primeiro passo para propor soluções que possibilitem um aumento na procura pelos serviços, e sucessivamente favoreçam um diagnóstico precoce, proporcionando uma melhor qualidade de vida aos pacientes.
Desta forma, percebe-se a importância de identificar os fatores que interferem na busca pela realização de testes rápidos no serviço especializado, principalmente, relacionados a mitos e tabus sobre a testagem e a abordagem da equipe de atendimento. Nesta perspectiva, considerando a relevância do diagnóstico precoce das ISTs e a magnitude dos dados no cenário da saúde pública, a identificação de fatores impeditivos ou facilitadores para a realização das testagens, podem implicar no aperfeiçoamento do atendimento por parte dos profissionais de saúde, bem como na ampliação dos diagnósticos que demonstrará o real cenário epidemiológico.
O interesse em procurar o Serviço Especializado em Infectologia da região pode gerar aflição por parte dos pacientes, pois atravessa a barreira do estigma e o medo dos pacientes em ter sua sorologia exposta. A partir do exposto, objetivou-se discutir a percepção dos usuários acerca do atendimento ofertado por um serviço especializado no tratamento e diagnóstico das ISTs/HIV/AIDS na região metropolitana do Cariri.
MÉTODO
Trata-se de um estudo descritivo com abordagem qualitativa, no qual, foi realizada uma pesquisa a respeito da percepção dos usuários sobre o atendimento ofertado por um serviço especializado no tratamento e diagnóstico das ISTs/HIV/AIDS na região metropolitana do Cariri.
O trabalho foi desenvolvido no Serviço de Assistência Especializada em Infectologia – SAE Infectologia, localizado na região metropolitana do Cariri, na cidade de Juazeiro do Norte, no sul do Estado do Ceará. Neste local são atendidos pacientes através da Política Nacional de DST/HIV/AIDS, estão disponíveis na instituição consultas com médicos infectologistas, serviço de enfermagem que disponibiliza testes rápidos para HIV, Hepatites B e C e sífilis, atendimentos psicológicos, assistentes sociais, como também a dispensação de medicamentos para o tratamento de Doenças Infectocontagiosas. Oito indivíduos, identificados pelos numerais de 1 a 8, concordaram em participar da pesquisa. Foram utilizados como critérios de inclusão possuir idade igual ou superior a 18 anos. Foram excluídos da pesquisa pacientes impossibilitados de exercer o consentimento livre e esclarecido em decorrência de razões físicas e/ou psicológicas, bem como pacientes menores de 18 anos. Os dados foram coletados no decorrer do mês de março de 2023 mediante entrevista semiestruturada, foi utilizado como instrumento de coleta um questionário aplicado em pesquisa do Ministério da Saúde (1999) (ANEXO 2). O questionário utilizado foi composto por 15 perguntas abertas, que buscaram compreender um pouco mais da percepção dos pacientes que utilizam o serviço. Os pacientes foram abordados enquanto aguardavam as consultas na sala de espera.
Os diálogos foram transcritos na íntegra e apreciados consoante o método de Giorgi, este modelo empírico-compreensivo visa aprender a respeito da experiência rotineira do ser humano, e a maneira como é vivenciada, então, é realizada uma análise reflexiva a respeito da consciência do investigador. Para a fenomenologia, a consciência está geralmente interligada com as ideias de intencionalidade, sentido e existência, e está determinada para muito além da ligação intelectiva entre o indivíduo e objeto11.
Buscou-se, através desta pesquisa, identificar como o fenômeno do atendimento, é captado pelos usuários do serviço, considerando as noções a respeito da função estruturante: como os indivíduos estruturam seu estilo de vida, os fatores que interferem na assistência médica, e o que significam as coisas12. É através da percepção e análise do sentido do fenômeno que universo fenomenológico se expressa, evidência, elucida e explana os arcabouços cotidianos do mundo-vida, permitindo que transpareça a descrição. Pensando neste contexto, utilizou-se a obra filosófica Fenomenologia da Percepção, de Maurice Merleau-Ponty (2011), pois considera a percepção como uma ideia primordial para compreender a vivência individual dos sujeitos13.
Desse modo, este trabalho tem como conhecimento de percepção os modelos particulares de angústia da realidade, que de acordo com Merleau-Ponty (2011), são levados pela incerteza, tendo a realidade como pré-reflexiva, visto que a percepção, diante da perspectiva do autor, não é um conhecimento do mundo, muito menos um ato ou tomada de decisão definida13.
Esta fenomenologia também caracteriza-se pela ambiguidade, fundamentada no conhecimento de que a experiência é vivida intersubjetivamente, em sincronia, e sucede na junção do universal, com o particular. Desse modo, esta fenomenologia é relevante para o reconhecimento da percepção dos usuários acerca do atendimento ofertado por um serviço especializado no tratamento e diagnóstico das ISTs/HIV/AIDS na região metropolitana do Cariri, considerando que, apesar de serem experiências globais e comuns, as percepções implicadas aos indivíduos são privados.
Por abordar assuntos acerca do atendimento ofertado pelo serviço, toda a coleta foi realizada individualmente, em espaço reservado, os pacientes que concordaram em participar da pesquisa foram identificados através da letra (I) de indivíduo, e numerados com algarismos arábicos. Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Amapá – UNIFAP com parecer favorável de número 67699423.1.0000.0003 (ANEXO 1).
RESULTADOS
Em relação aos indivíduos que concordaram em participar da pesquisa, seis eram do sexo biológico feminino e dois do sexo biológico masculino, entre os participantes do sexo feminino, houve variação entre 27 e 58 anos (média de 41 anos), já no sexo masculino, a variação foi de 40 e 42 anos (média de 41 anos). Em relação à ocupação, três declararam não possuírem vínculos trabalhistas e cinco declararam possuir vínculo trabalhista.
Tabela 1 – Perfil sociodemográfico, segundo sexo, idade e ocupação. Juazeiro do Norte, CE, Brasil, 2023.
Fonte: Dados da pesquisa, 2023
Em posse das entrevistas transcritas na íntegra, foram efetuadas múltiplas leituras na intenção de capturar todos os sentidos das exposições realizadas pelos indivíduos, bem como a captura dos discursos em suas totalidades e a partir de tal análise, buscou-se possibilitar a aproximação com a vivência dos participantes da pesquisa. Dessa forma, as unidades foram agrupadas, dando origem a cinco categorias:
Categoria 1 – Motivação e Conhecimento dos Pacientes sobre os Serviços e Testes Rápidos;
Nesta categoria indagou-se sobre a busca dos pacientes pelo serviço, o motivo que os levaram a procurar o serviço, e se os mesmos já conheciam os serviços que ali eram ofertados e foram obtidas as seguintes respostas:
Neste tópico todos os entrevistados informaram que já eram pacientes do serviço, e estavam retornando para consultas, para receber medicações e usufruir dos demais serviços ofertados pela unidade, o que ficou evidenciado nas respostas:
“É que eu faço tratamento para HIV, ai hoje eu tenho a consulta marcada com a médica para pegar a receita e medicação.(i7)”
“Porque eu sou uma mulher que tenho relacionamentos fora, sou uma mulher casada e tenho relacionamentos fora, para me prevenir, segurar, o macho ter segurança, para me prevenir das ists.(i8)”
Quando perguntados sobre o conhecimento a respeito dos testes rápidos, se os mesmos vieram encaminhados de outra unidade ou se já conheciam o SAE – Infectologia, foram obtidos os seguintes retornos:
“Conheço os testes, é porque quando eu vim para aqui, minha menina já tinha gastado muito comigo, quando descobrimos minha doença, aí quando eu cheguei lá no HEMOCE, o médico do HEMOCE descobriu que eu tava com calazar, aí quando eu marquei o exame de sangue o bioquímico que eu estava comcalazar, aí quando eu cheguei no hospital Dr Maurício descobriu que eu tava com HIV também.(i1)”
Categoria 2 – Avaliação do Atendimento
Conforme a avaliação dos sujeitos entrevistados sobre o atendimento ofertado pela unidade obteve as seguintes afirmações:
“Muito bem, graças a Deus, Dr Maurício me tratou muito bem e eu queria dr Maurício aqui de volta, tudim me trata bem.(i1)”
“Excelente, o trabalho de vocês é excelente, simpatia ao extremo, boa vontade ao extremo, e simplicidade em primeiro lugar, e respeito a todos em primeiro lugar também.(i3)”
Quando indagados sobre a diferença dos atendimentos recebidos na rede primária de saúde do município, observou-se uma insatisfação por parte dos sujeitos quando comparado com o atendimento ofertado pelo Serviço de Referência em Infectologia, foram obtidas as seguintes respostas:
“Não nós outros era bom porque tinha reunião de nós ‘tudim’, eu e a turma aqui a gente gosta de reunião, tinha palestras com nós, de primeiro tinha ,nós merece né, uma reunião pra cada um contar seus problemas né?(i1)”
“Completamente diferente, vocês disponibilizam pra gente atenção e respeito.(i3)”
“Com certeza, acho que sim, o atendimento aqui é melhor.(i4)”
“Não, só melhor né, que no PSF tem mais dificuldade pra atender a gente de que aqui.(i5)”
“É muito louvável, a gente chegar num espaço, ser bem acolhida, bem recepcionado, ter retorno profissional. Prevenir e esclarecer pra gente poder se cuidar. Eu fui muito bem recebida, muito bem acolhida, mas eu já procurei ubs do bairro onde eu não me sentia segura, por conta da minha condição, porque não tem a ética, sigilo, de profissionais por morar no bairro, às vezes você vai buscar o serviço por ta com alguma suspeita de ist, e aquela coisa é exposta, aí, por motivos de segurança eu preferi buscar o centro de infectologia. (i8)”
Os demais entrevistados demonstraram opiniões favoráveis aos atendimentos recebidos nas Unidades Básicas de Saúde, bem como no SAE – Infectologia.
Categoria 3 – Percepções e sentimentos experimentados no atendimento;
Nesta categoria serão expostas as falas dos entrevistados relacionadas aos sentimentos experimentados durante o atendimento, bem como, as angústias e estigmas enfrentados rotineiramente:
“Na minha opinião é o preconceito, eu vivo isso na minha casa, eu tenho um irmão que sempre que ele se embriaga ele grita, e ele não consciência de que o que aconteceu comigo pode acontecer com qualquer um.(i3)”
“Num tomar cuidado, porque eu não era mulher de programa, eu num vivia fazendo programa, ganhando dinheiro, mas marido era muito bonito, era um morenão, ‘ar’ mulher num podia ver um moreno, ele pegou, só que eu mim desgostei dele porque ele não falou o que ele tinha.(i1)”
“Só que tem casos que não é da natureza do paciente que tá passando por aquele problema, no caso a minha filha eu não sei ainda o que é, mas os médicos estão em busca e dra. Cristina passou a biópsia e já vai fazer dia 21 pra saber a gravidade da bactéria que minha filha tem. (i5)”
Categoria 3.1 – Qualidade das informações prestadas;
Nesta categoria os indivíduos foram questionados a respeito da qualidade das informações prestadas pelos profissionais da unidade. Quando perguntados a respeito do que eles acharam da conversa que tiveram com os profissionais, obtivemos as seguintes respostas:
“No momento eu tive algumas dúvidas, mas de pois fui adquirindo as respostas.(i2)”
“Eu não tenho nem palavras para descrever, muito boa a conversa.(i3)”
“foi muito…ele foi muito bem…me recepcionou bem, me direcionou bem, pediu que eu ficasse retornasse caso aparecesse outras ISTs.(i8)”
Quando abordados a respeito do objetivo dos atendimentos obtivemos as seguintes respostas:
“Muito bem, até agora não tenho o que dizer não, num sei da manhã pra depois.(i1)”
Ao levantar questionamentos sobre o objetivo dos atendimentos, a maioria dos entrevistados sinalizou para qualidade de vida, relação essa, que pode influenciar na continuidade do tratamento.
“Qualidade de vida né? (i2)”
“Orienta bem o paciente e sempre nunca faltar a consulta e tomar a medicação certinho.(i7)”
Os indivíduos foram questionados sobre sua opinião em relação à conversa com os profissionais, como eles classificam o que foi mais importante, se os profissionais utilizam um linguajar de fácil entendimento, como também se os pacientes tinham dificuldades de cumprir as orientações no dia a dia, e obtivemos as seguintes respostas:
“Não, é só a gente se esforçar e tomar remédio pra não morrer.(i1)”
“Tipo ela me esclarecer como eu posso me cuidar e cuidar dopróximo. Nos primeiros dias sim, mas depois foi entendendomais.(i2)”
“Bom, pra mim tudo foi importante, mas o mais importante é que as dúvidas que eu tenho, as dúvidas vão ser tiradas, porque eu to cuidando da minha filha, ela já passou por mais de oito médicos, nenhum passou um exame detalhado, e aqui graças a Deus tudo foi mais fácil, sempre que eu peço ajuda as pessoas que trabalha aqui acha um jeito de encaixar ela, e eu acho que atende bem.(i5)”
Também foram perguntados sobre como se sentiram durante o aconselhamento, se estavam a vontade ou se houve dificuldades e obtivemos as seguintes respostas:
“Tive algumas dificuldades de realizar algumas perguntas.(i2)”
“Fiquei um pouco receosa, tímida, porque sou meio tímida, de expor o que estava se passando, acontecendo comigo, só que depois eu fui me soltando, criando segurança, porque às vezes a gente fica insegura.(i8)”
Os demais entrevistados informaram estarem plenamente à vontade durante o atendimento e que não houve dificuldades durante o aconselhamento.
Também foram abordados a respeito das perguntas realizadas durante o atendimento, se haviam sanado todas as dúvidas e obtivemos as seguintes respostas:
“Eu perguntei tudo, porque quando cheguei aqui eu cheguei morta, cheguei com HIV, calazar, sífilis, ‘enemia’ (anemia) e com ‘apatite’ (hepatite), tudo isso tava no meu corpo, sabe com quantos kg eu vim pra aqui? 38kg, eu num tava mais nem andando, eu fui ‘mimbora’ com os braços duros.(i1)”
Categoria 4 – Percepção e Conscientização dos Indivíduos sobre Prevenção e Riscos;
Nessa categoria, os participantes expressaram seu entendimento sobre o tema, abordando questões como a importância da prevenção, a falta de responsabilidade em relação aos cuidados, a necessidade de se conscientizar e buscar orientação, além de mencionarem o uso ou a falta do uso de preservativos como fator de risco:
“Bom senso, né, é isso, né? Muita gente não tem, e tem relação sexual sem preservativo, sem se cuidar. (i2)”
“Tem várias coisas, não se prevenir, utilização do preservativo e muitas outras coisas também, são várias coisas.(i4)”
“Eu acho assim, a pessoa mesmo é que tem que se conscientizar e evitar, né, tem várias formas de evitar, porque o básico, o essencial, os médicos sempre dizem, ensinam, né, faz como agente evitar, então tem que ser o próprio paciente.(i5)”
“Falta de responsabilidade ne, e ter mais confiança em vocêmesmo,nãonaspessoas.(i6)”
“Os riscos é quando vc não se previne, não busca orientação, não usa preservativo.(i8)”
Categoria 5 – Sugestões de Melhorias
Para finalizar as entrevistas, os participantes foram perguntados sobre o que poderia melhorar nos aconselhamentos realizados pelos profissionais, bem como no serviço na totalidade e foram obtidos os seguintes retornos:
“Botar reunião, conversar com os pacientes, dialogar, fazer as rodas de conversa.(i1)”
“Eu não sei nem te responder, o programa em si ele interage com a gente e faz com que nos‘ interajamos’ com ele, então para mim não tá faltando nada.(i3)”
“Que sejam feitas campanhas todos os meses, para buscar informação, prevenção, porque muitas vezes as pessoas não conhecem, tem aquele preconceito, discriminação, não conhece o serviço. Seria importante realizar rodas de conversa nos equipamentos do sistema de saúde, educação e ampliar o horário de funcionamento, a maioria de nós trabalha e às vezes não tem como vir para cá no horário normal.(i8)”
DISCUSSÃO
Os dados sociodemográficos relacionados a identidade de gênero/sexo biológico apresentados nesta pesquisa diferem das informações coletados no estudo desenvolvido por Guerreiro¹⁴, no qual 58,97% dos participantes da pesquisa eram do sexo masculino, com idades entre 20 e 24 anos. Já em relação à situação trabalhistas, este estudo evidenciou que a maioria dos participantes possuía vínculo empregatício14.
Por meio da primeira categoria evidenciaram-se os motivos que levaram os indivíduos a buscarem o serviço Especializado em Infectologia. Em sua maioria, os pacientes destacaram que a busca pelo serviço se dava pelo diagnóstico dado, bem como o ‘estilo de vida’, o ‘comportamento de risco’ e a busca pelo tratamento de suas patologias.
Este estudo evidenciou que a maioria dos pacientes que buscou o serviço durante a coleta de dados já conhece o serviço, ou ouviram falar após apresentarem algum sinal de infecção no corpo e procuraram as unidades de saúde do município, onde foram atendidas e encaminhadas para o serviço especializado.
Quando se trata da busca pelo serviço, foi constatado que, um dos indivíduos, apesar de ser uma mulher casada, mantinha relações extraconjugais com os demais parceiros (I8).
De acordo com a teoria fenomenológica de Merleau-Ponty¹³, a percepção e compreensão da experiência vivida são fundamentais para entendermos as complexidades das relações interpessoais, como aquelas descritas no contexto mencionado. A ênfase de Merleau-Ponty¹³ na corporeidade e na interação entre o corpo e o mundo pode nos ajudar a analisar as dinâmicas envolvidas nas decisões das mulheres em relação ao uso de preservativos.
Na experiência vivida dessas mulheres, a confiança nos parceiros desempenha um papel significativo. Elas percebem seus parceiros como idôneos e acreditam que a transmissão do HIV pode ser evitada através de outros meios, como a busca pelo atendimento médico. Essa percepção subjetiva está enraizada em sua corporeidade, nas emoções, nas relações afetivas e nas interações cotidianas.
No entanto, a teoria fenomenológica também nos alerta para a importância de considerar a dimensão situacional e histórica dessas percepções. Merleau-Ponty¹³ nos lembra que a compreensão do mundo não é apenas uma questão individual, mas também é moldada por fatores socioculturais, como normas de gênero, pressões sociais e crenças compartilhadas. Portanto, a relutância dos companheiros em utilizar preservativos devido ao desconforto pode ser entendida como uma resposta influenciada por essas normas e pressões.
Nesse sentido, a teoria fenomenológica de Merleau-Ponty¹³ nos convida a ir além das ações individuais e a explorar as complexidades das relações interpessoais, considerando as experiências vividas e a interação entre os corpos, as percepções e as estruturas sociais. Essa abordagem fenomenológica pode nos ajudar a compreender melhor os fatores subjacentes às decisões das mulheres e dos parceiros no contexto do HIV e da saúde sexual.
Estudo realizado por Rodrigues¹⁵ apresentou o sexo feminino como um grupo vulnerável frente a epidemia do HIV, fato constatado também nessa pesquisa, uma vez que algumas das mulheres entrevistadas afirmaram não utilizar preservativo durante as relações sexuais com seus parceiros, pois confiavam na idoneidade dos mesmos, assim como relataram que seus companheiros não gostavam de utilizar preservativos, pois se sentiam desconfortáveis15.
Ainda sobre a busca pelo serviço, um dos indivíduos relatou sobre o momento da descoberta de sua condição clínica e os motivos que a levaram a procurar o serviço. A participante relata que descobriu sua condição clínica após sua filha realizar um grande investimento financeiro no tratamento dos sintomas que estava apresentando e que recebeu o diagnóstico de uma doença que já tinha lhe debilitado, precisando de atendimento hospitalar, no qual o médico responsável realizou exames relacionados à sorologia e a partir disso, informou-a de sua condição clínica (I1).
Vale destacar que o momento do diagnóstico do HIV é complexo e desencadeia várias reações e sentimentos nos pacientes, que podem ser de caráter psicológico e físico, ocasionados, tanto pelo medo da infecção, pelo estigma existente na sociedade ou pelo nível de conhecimento a respeito das medidas terapêuticas16.
Nicaretta16 ressaltam que os indivíduos ao recebem o diagnóstico do HIV vivenciam diariamente momentos de incertezas e inquietações quanto ao seu futuro, pois a maioria dos pacientes com este diagnóstico correlacionam-no em seu subconsciente com a morte, o que os leva a desenvolver pensamentos negativos relacionados ao medo de conviver em sociedade, vergonha e outros fatores que recaem sobre o paciente em decorrência da história construída em cima de pessoas vivendo com HIV16.
Pode-se destacar que as pessoas que vivenciam o diagnóstico com uma rede de apoio conseguem se adaptar melhor ao tratamento, já quando recebem represálias, julgamentos e discriminações, possuem uma maior chance de interrompê-lo, influenciando diretamente na continuidade do tratamento e em sua qualidade de vida17.
Durante a conversa com uma das participantes da pesquisa, pode-se perceber como o apoio que a mesma recebeu dos familiares (filha) resultou para a continuidade do seu tratamento, como também a ajudou a superar as demais patologias que ela estava apresentando no momento do diagnóstico.
Outro fator importante, identificado nesse estudo, para a permanência do usuário no serviço é a qualidade da assistência prestada. Quando os pacientes foram questionados sobre o atendimento que eles recebiam no serviço, as respostas foram unânimes quanto a excelência do atendimento, mas quando perguntados se existia diferença nos atendimentos ofertados pelos profissionais da Rede de Atenção Básica em Saúde e os profissionais do Serviço de Assistência Especializada em Infectologia – SAE Infectologia, alguns depoimentos se destacaram.
A maioria dos entrevistados ressaltou como os profissionais do SAE – Infectologia os trata com respeito e ética, no entanto, no que se refere às unidades básicas de saúde, existe o receio em procurá-las pelo sentimento de falta de sigilo ético. Um dos entrevistados destaca que tem receio de procurar a UBS do seu bairro, pois a maioria dos profissionais de saúde é residente na mesma localidade e, por conta disso, existe o hábito de conversarem entre si, o que pode acabar expondo a sorologia dos pacientes, levando-os a passar por constrangimentos e discriminações (I8).
A unidade escolhida para o desenvolvimento do trabalho, não realiza o tratamento e diagnóstico das ISTs em sua totalidade. O diagnóstico e tratamento das Infecções Sexualmente Transmissíveis curáveis ficam sob responsabilidade das Unidades Básicas de Saúde, desse modo, só é possível retratar a realidade de uma pequena parcela dos usuários do serviço.
Uma das entrevistadas relatou ter sua condição clínica exposta por uma das funcionárias da unidade, o que a levou a procurar outro bairro para morar, pelo preconceito sofrido após a exposição, demonstrando grande angústia em suas falas. Destacou também a importância do sigilo entre os profissionais e pacientes, como também, a importância da desconstrução dos estigmas relacionados às PVHIVs que ainda existem na sociedade (I1). Em relação aos demais indivíduos entrevistados, não demonstraram insatisfação com relação a preconceitos por parte dos profissionais da unidade, como também dos usuários que frequentam o serviço
Visando a garantia do sigilo e a preservação da continuidade da assistência prestada nas Unidades de Saúde, o Ministério da Saúde do Brasil, publicou a Portaria nº 1.820, de 13 de agosto de 2009, onde fica estabelecido os direitos e deveres dos clientes que utilizam os serviços de saúde, destacando-se o que está estabelecido no parágrafo único, inciso II dos direitos do paciente, (…) onde todo e qualquer usuário tem direito a assistência de qualidade, tratamento ininterrupto e integral, cabendo somente a ele a decisão do compartilhamento da sua condição clínica com familiares e/ou acompanhantes18. De maneira complementar e para reafirmar a importância do sigilo relacionado a essas informações, foi sancionada a Lei nº 14.289 de 2022, que obriga os serviços de saúde a manter em completo sigilo as informações a respeito do diagnóstico dos pacientes vivendo com HIV, hanseníase, hepatites crônicas e tuberculose19.
Receber o diagnóstico positivo para o HIV continua atrelado ao receio, ao afastamento do convívio social/familiar e muitas vezes à dificuldade de encontrar emprego, e isso pode refletir na procura pelo conhecimento da doença e seus direitos. Sabendo disso é que se torna indispensável o acolhimento humanizado pelos profissionais, e o repúdio de toda e qualquer forma de descriminação20.
Além disso, outro motivo que influencia diretamente na procura pelos serviços de saúde é a qualidade do acolhimento que os clientes, vivendo com ISTs/HIV/AIDS, recebem nos serviços de saúde. Se não feito de maneira correta, este pode interferir de forma negativa no controle da epidemia de HIV/AIDS, pois a discriminação sofrida pelos pacientes cria uma barreira entre o usuário e o serviço, refletindo de forma negativa, ocasionando uma diminuição considerável na procura de serviços, levando pacientes a um diagnóstico tardio, com um prognóstico desfavorável20.
Um dos indivíduos entrevistados relatou que em um dos serviços que ela havia sido atendida, os profissionais realizavam rodas de conversa, reuniões, e que os pacientes que frequentavam a unidade gostavam desses eventos, pois viam como oportunidade para desabafar sobre os momentos difíceis que estavam passando, como também relatar as histórias de superação como forma de inspiração para os demais pacientes da unidade (I1) Estudos comprovam que as rodas de conversas disponibilizadas para pessoas vivendo com HIV têm possibilitado que os pacientes compartilhem suas experiências e histórias de vida, instigando cada vez mais pessoas a continuarem com o tratamento através do estímulo da troca de saberes e do compartilhamento dos conhecimentos. As rodas de conversa também possibilitam a problematização dos temas relacionados à promoção da saúde, bem como o compartilhamento das informações, a formação da comunicação com base nas necessidades biopsicossociais e epidemiológicas, permitindo que os pacientes desenvolvam sua interação social entre indivíduos de saberes distintos, mas de interesses e motivações comuns21.
Os entrevistados também foram questionados a respeito do objetivo dos atendimentos e embora se tenha respostas diferentes, todas identificaram objetivos reais dos atendimentos ali ofertados. Os Serviços de Assistência Especializada – SAE procura desenvolver assistência clínica, psicossocial, assistência de enfermagem, assistência médica especializada, como também a dispensação dos medicamentos aos usuários do serviço, materiais preventivos, e o desenvolvimento de ações educacionais22.
Posteriormente, foram realizadas perguntas a respeito da importância das informações repassadas pelos profissionais, se eles utilizavam um linguajar de fácil entendimento, e se havia dificuldade de cumprir as orientações nos seus dia a dia, todos afirmaram que não sentiam dificuldade em seguir as instruções, porém, um dos participantes informou que, por conta da correria do dia a dia, algumas vezes acabava não conseguindo seguir as orientações a risca, mas que no geral, não sentia dificuldades.
Quando questionados se ficavam nervosos ou se estavam à vontade, se houve dificuldade em realizar perguntas, e se conseguiram sanar todas as dúvidas, foram obtidas respostas positivas, apesar de alguns dos participantes relatarem que, no momento da consulta, ficaram receosos em questionar o profissional de saúde, mas no decorrer da consulta, conseguiram sanar todas as suas questões.
Na perspectiva da teoria fenomenológica de Merleau-Ponty¹³, o método de acolhimento, especialmente no contexto das pessoas vivendo com HIV/AIDS (PVHIV/AIDS), revela-se como um momento significativo de interação entre o profissional de saúde e o paciente. Esse encontro incorpora componentes essenciais relacionados ao suporte emocional e educativo, buscando abordar de forma genuína as informações sobre a transmissão do HIV, suas formas de prevenção e as profilaxias disponíveis para tratamento. Ao focar na análise dos riscos, esse processo de acolhimento permite ao profissional e ao paciente mergulharem numa reflexão conjunta acerca dos valores, comportamentos e condutas que permeiam suas vivências.
Através dessa abordagem, o profissional pode compreender a vivência subjetiva do paciente, considerando suas experiências corporais e a interação com o mundo circundante. Ao estabelecer esse vínculo genuíno e empático, o método de acolhimento promove uma comunicação autêntica e uma conexão interpessoal mais profunda, possibilitando o estabelecimento de um relacionamento de confiança e respeito entre o profissional e o cliente, o que, por sua vez, pode fortalecer a adesão ao tratamento e a busca por medidas efetivas de redução de riscos para a saúde do paciente.
No que tange ao conhecimento dos pacientes a respeito dos testes rápidos e sua opinião sobre os fatores de risco para a contração de ISTs/HIV/AIDS, teve-se como resultante uma gama de respostas favoráveis, onde pode-se notar que os usuários tinham conhecimento acerca dos métodos de prevenção de ISTs, dos testes rápidos e da importância de se realizar o tratamento de maneira eficaz. Além disso, algumas respostas ainda evidenciaram o preconceito e a discriminação sofrida por PVHIV.
O desenvolvimento do primeiro Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT), apresentado e aprovado pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (CONITEC), o Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis (2022) instituiu a estratégia de prevenção combinada, que utiliza simultaneamente diferentes abordagens de prevenção (biomédica comportamental e estrutural)24.
As prevenções biomédicas estão direcionadas à redução do risco de infecção pelo vírus do HIV, por meio de intervenções no contato entre o HIV e as pessoas passíveis de infecção. Dentro dessas intervenções, podem ser utilizados métodos convencionais de barreira física ao vírus amplamente disseminados no Brasil, e/ou intervenções farmacológicas baseada no uso da profilaxia pré-exposição (PrEP) e a profilaxia pós- exposição (PEP)24.
As intervenções comportamentais são desenvolvidas por meio de ações que intensifiquem a disseminação de informações e possibilitem o entendimento acerca dos riscos de exposição ao HIV, visando a diminuição, por meio de ações que instiguem a mudança de comportamento das pessoas, comunidade e/ou grupo social que estejam inseridos24.
As ações estruturais foram construídas voltadas as condições e fatores socioculturais que a população esteja inserida, e que, interferem diretamente na vulnerabilidade dos indivíduos ou população específicas ao HIV, tais como, garantia à dignidade humana, preconceitos, estigmas ou qualquer forma de discriminação24.
Na vertente do preconceito e discriminação sofridos por PVHIV, historicamente, a epidemia de HIV estava relacionada diretamente aos homens que mantinham frequente ou esporadicamente, relações sexuais com outros homens (HSH), prostitutas, e consumidores de substâncias ilícitas injetáveis, no entanto, com o passar do tempo, esses estigmas foram sendo desconstruídos. Estudos mostram que, atualmente, o maior número de pessoas infectadas com o vírus do HIV está entre casais heterossexuais25.
Atualmente, ainda existem diversos relatos de preconceitos relacionados às pessoas vivendo com HIV (PVHIV). Um estudo realizado pela Rede Global de Pessoas Vivendo com HIV (2019) revelou que cerca de 64,1% das pessoas entrevistadas pela pesquisa, já sofrem, ou sofreram algum tipo de preconceito, discriminação ou estigma em algum momento da vida, destes, 41% dos participantes afirmaram ter sofrido ou sido alvo de preconceito e discriminação por parte da sua própria família.
Atrelado a isso, tem-se uma reafirmação deste, dado constatada pela fala de uma das participantes (I3) deste estudo, no qual ela afirma ter sofrido descriminação do seu próprio irmão, quando ele, ao ingerir bebidas alcoólicas, a trata de forma diferente, causando constrangimento e angústia para a mesma.
A teoria fenomenológica de Merleau-Ponty oferece uma abordagem rica e relevante para a compreensão da complexidade das experiências vividas pelas pessoas vivendo com HIV/AIDS (PVHIV/AIDS) e dos profissionais de saúde que as atendem. A ênfase na corporeidade, percepção e interação entre os corpos e o mundo pode nos ajudar a explorar os aspectos subjetivos, emocionais e interpessoais envolvidos nas decisões dos pacientes e nas práticas dos profissionais de saúde em relação ao HIV/AIDS.
Por meio da perspectiva fenomenológica, podemos entender como a confiança nos parceiros e a busca pelo atendimento médico podem ser fundamentais na tomada de decisões das PVHIV/AIDS em relação à prevenção, tratamento e vínculo com os serviços de saúde. A corporeidade e a vivência subjetiva dessas pessoas influenciam sua percepção do mundo e moldam suas escolhas e comportamentos relacionados à saúde.
Além disso, a teoria fenomenológica também nos alerta para a dimensão situacional e histórica dessas experiências. As normas de gênero, pressões sociais, estigmas e discriminações enfrentadas pelas PVHIV/AIDS desempenham um papel importante em suas vidas e na forma como elas buscam e se relacionam com os serviços de saúde.
Nesse sentido, a qualidade do acolhimento e da assistência prestada é essencial para garantir uma relação de confiança entre profissionais de saúde e pacientes. A abordagem fenomenológica ressalta a importância de um diálogo autêntico e empático, que reconheça a singularidade de cada indivíduo e valorize suas experiências e necessidades. Ao considerarmos todas essas perspectivas, podemos compreender como a teoria fenomenológica de Merleau-Ponty contribui para a compreensão mais profunda dos desafios enfrentados pelas PVHIV/AIDS, dos fatores que influenciam suas decisões e das melhorias necessárias nos serviços de saúde. Essa abordagem nos leva a refletir sobre a importância de uma visão holística e sensível à vivência do paciente, além de incentivar ações que promovam a desconstrução de estigmas e preconceitos, visando melhorar a qualidade de vida e o bem-estar dessas pessoas.
No tocante a melhorias para o serviço, o mesmo está passando por reforma e ampliação de sua estrutura, porém nessa reestruturação a farmácia da unidade foi deslocada para o final do prédio, podendo causar um constrangimento e até mesmo afastá- los do serviço, e prejudicar a dispensação dos medicamentos, pois precisaram atravessar a sala de espera, onde os pacientes aguardam consultas com médicos infectologistas, enfermagem, atendimento social e psicológico. É recomendado que a farmácia permaneça no local anterior, pois desta forma, os usuários que chegarem à unidade para retirada dos medicamentos, não precisaram atravessar a sala de espera, evitando angústias, receios e até mesmo, descriminação.
Para finalização das entrevistas, os participantes foram questionados sobre o que poderia ser melhorado nos aconselhamentos realizados pelos profissionais, bem como, no serviço na totalidade. Em sua maioria, os participantes relataram que o serviço não precisava de melhorias, no entanto, alguns indivíduos manifestaram interesse no retorno das rodas de conversas com as PVHIV, e na realização de campanhas de prevenção, reafirmando o que foi discutido no estudo realizado por Costa (2013)21.
Este estudo possui limitações relacionadas aos pacientes que se recusaram a participar da pesquisa, ocasionando uma pequena amostra, o que pode influenciar na interpretação do fenômeno para representar a parcela das pessoas atendidas no serviço.
CONCLUSÃO
Em suma, é possível afirmar que os usuários do SAE – infectologia, entrevistados nesta pesquisa, demonstraram opiniões favoráveis quando se trata dos serviços prestados pela unidade em questão, dando destaque para o bom tratamento oferecido pelos profissionais que trabalham na instituição, e a humanização do cuidado prestado, sendo estes, fatores importantes quando se fala da adesão e permanência dos usuários na instituição.
Em contrapartida, quando se trata do que interfere na satisfação dos pacientes em relação aos serviços prestados no SAE – Infectologia, o fator de destaque é a postura ética de alguns dos profissionais, principalmente em relação à quebra do sigilo profissional, que acaba gerando insegurança nos usuários quanto à exposição de seus diagnósticos.
Consoante a isso, outro fator que impacta diretamente na satisfação dos pacientes em relação ao serviço é a inflexibilidade dos horários e dias de funcionamento da unidade, que só está disponível durante a manhã e à tarde, e não funciona aos sábados e/ou domingos, sendo que, alguns usuários relataram só ter disponibilidade para procurar atendimento durante a noite ou nos finais de semana devido a sua rotina de trabalho.
Por fim, na tangente dos conhecimentos dos usuários acerca dos testes diagnósticos oferecidos na unidade, foi possível perceber que eles possuem um bom conhecimento sobre o assunto, indo além, e demonstrando saber sobre os métodos de prevenção das ISTs e a importância de seu tratamento contínuo e efetivo.
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¹Curso de Graduação em Enfermagem, Centro Universitário Paraíso – UniFAP, Juazeiro do Norte – CE;
E- mail: pedrotorquato@aluno.fapce.edu.br
¹Pedro Ivo Torquato Ludugerio (orcid: 0000-0002-6452-3615)
¹Natalia Pereira cordeiro (orcid: 0000-0001-7016-7701)
¹Nara Ferreira dos Santos (orcid: 0000-0002-2825-3806)
¹Willian dos Santos Silva (orcid: 0009-0007-1513-350X)
¹Edna Marques Bezerra Da Hora Vidal (orcid: 0009-0004-8717-1802)
2Curso de Graduação em Enfermagem, Faculdade Terra Nordeste – FATENE, Caucaia – CE
Francisco Canuto de Souza Junior (orcid: 0009-0004-7862-8700)
3Enfermeira, Doutora em Ciências da Saúde, Centro Universitário Paraíso – UniFAP, Juazeiro do Norte – CE
Maria Misrelma Moura Bessa (orcid: 0000-0003-4867-3485)
4Enfermeira, Mestra em Saúde da Família, Centro Universitário Paraíso – UniFAP, Juazeiro do Norte – CE
Leilany Dantas Varela (orcid: 0000-0002-6317-5807)
5Enfermeira, Mestra em Enfermagem, Centro Universitário Paraíso – UniFAP, Juazeiro do Norte – CE
Tayenne Maranhão de Oliveira (orcid: 0000-0002-5706-7885)
6Enfermeira, Mestra em Bioprospecção Molecular, Centro Universitário Paraíso – UniFAP, Juazeiro do Norte– CE
Sharlene Maria Oliveira Brito (orcid: 0000-0003-4768-3032)