REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.12814985
Júlia Famelli Ferret1
Jhainieiry Cordeiro Famelli Ferret2
Sandra Cristina Catelan-Mainardes3
RESUMO
O transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM) é uma especificação de transtorno depressivo que se inicia após o período ovulatório e é restrito ao gênero feminino. Seus sintomas manifestam-se através de mudanças físicas, emocionais e comportamentais, interferindo nos âmbitos acadêmicos e sociais. O objetivo do presente artigo foi entender a percepção sobre o TDPM em ambiente universitário e o seu impacto no desempenho acadêmico das universitárias. A metodologia utilizada baseou-se nas literaturas das bases de dados PubMed e EBSCO e em uma pesquisa quantitativa por meio de um questionário adaptado do WHOQOL-100. O instrumento de coleta de dados foi estruturado em duas partes: questões iniciais do perfil sociodemográfico e questões finais modificadas do WHOQOL-100, às quais permitiram avaliar a percepção individual do TDPM. O questionário foi formatado em um formulário digital do Google Forms enviado ao público-alvo de modo online, por meio das redes sociais, e obteve 103 respostas, o que permitiu a geração de gráficos e tabelas. A análise e organização dos dados coletados utilizou o Software Excel, o teste qui-quadrado, a frequência absoluta e a porcentagem. Como resultado, observou-se que apenas 20,38% (n=21) das participantes apresentaram conhecimento pleno sobre o transtorno, demonstrando que é um tema pouco disseminado. Ao fim desta pesquisa entendeu-se que a percepção sobre o TDPM em ambiente universitário e o seu impacto no desempenho acadêmico é relativamente baixa, o que reflete no distanciamento dos pacientes ao seu respectivo tratamento, além de gerar sentimentos como não pertencimento social em quem sofre com o transtorno.
PALAVRAS-CHAVE: Disforia pré-menstrual; Performance universitário; Compreensão.
ABSTRACT
Premenstrual dysphoric disorder (PMDD), is a specification of depressive disorder that begins after the ovulatory period and is restricted to females. Its symptoms manifest themselves through physical, emotional and behavioral changes, interfering in academic and social areas. The objective of this article was to understand the perception of PMDD in a university environment and its impact on the academic performance of university students. The methodology used was based on literature from the PubMed and EBSCO databases and on quantitative research using a questionnaire adapted from the WHOQOL-100. The data collection instrument was structured in two parts: initial questions on the sociodemographic profile and final questions modified from the WHOQOL-100, which allowed to assess the individual percepciono f PMDD. The questionnaire was formatted in a Google Forms digital form sent to the target audience online, through social networks, and received 103 responses, which allowed the generation of graphs and tables. The analysis and organization of the collected data used Excel Software, the chi-square test, absolute frequency and percentage. As a result, it was observed that only 20,38% (n=21) of the participants had a full knowlledge about the disorder, demonstrating that is a topic that is not too widespread. At the end of thist research, it was understood that the perception of PMDD in a university environment ant is impact on academic performance is relatively low, which reflects the distancing of patients from their respective treatment, in addition to generating feelings like lack of social belonging in those who suffer whit the disorder.
KEY-WORDS: Premenstrual dysphoria; University performance; Understanding.
1 INTRODUÇÃO
O transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM) é uma especificação de transtorno depressivo, estrito ao gênero feminino, que se inicia após o período ovulatório e encerra após a menstruação (DSM-5, 2013, p.171). A sintomatologia é clínica e envolve alterações emocionais e cognitivas, sendo que, dentre os principais sintomas, destacam-se alteração de humor repentina, irritabilidade, disforia e dificuldade de concentração, sendo mais intensos quando comparados com o temperamento pré-menstrual e a síndrome pré-menstrual (Le J et al. , 2020). Embora o TDPM seja caracterizado por sintomas fisiológicos vividos durante o ciclo menstrual, sendo uma variação intensa da tensão pré-menstrual (TPM), esse tema ainda é desvalorizado e banalizado pela sociedade, percebido como frescura ou drama é considerado como “loucura feminina” (Aparecida. V. , 1998). Esse bloqueio social afeta principalmente o processo informativo sobre a fisiologia e as causas do transtorno, o que distancia cada vez mais as pacientes do respectivo tratamento e gera um sentimento de invalidação e não pertencimento social, fato que pode diminuir mais a qualidade de vida do que o próprio TDPM.
Mundialmente, o TDPM afeta cerca de 1-8% das mulheres em idade fértil (Le J et al. , 2020), enquanto que no Brasil acomete em torno de 17% das mulheres, um número significativamente maior (Tiranini L et al. , 2022). Os critérios diagnósticos são claros: além de estarem presentes na semana antecedente da menstruação ao menos cinco dos sintomas, – diminuição do interesse pela rotina, dificuldade de concentração, sensação de sobrecarga, inchaço das mamas, dores articulares ou musculares, hipersonia ou insônia, sensação de ganho de peso, acentuação da labilidade afetiva, da irritabilidade, da raiva, do humor deprimido, da ansiedade, da letargia e da alteração de apetite – também deve ocorrer melhora dias após o início menstrual e minimização dos efeitos na semana posterior (DSM-5, 2013).
A busca por justificativas para a etiologia do TDPM inclui várias propostas. Os fatores fisiológicos como as alterações hormonais e de neurotransmissores, bem como psicológicos e ambientais parecem estar envolvidos, mas não há desfecho preciso que justifique. O padrão dos sintomas do TDPM sugere uma relação entre os hormônios femininos e o neurotransmissor serotonina. Há uma semelhança expressiva entre o TDPM e os quadros depressivos, fato este que desencadeou protocolos para tratamentos farmacológicos com objetivo de equilibrar os níveis de serotonina. Dessa maneira, o Transtorno Disfórico Pré-Menstrual pode ser atrelado à predisposição genética, fatores ambientais como alimentação e sedentarismo, fatores internos como a sensibilização do sistema nervoso central perante as mudanças dos níveis hormonais, ou pela própria fisiologia ovariana, fato que demonstra a improbabilidade da existência de uma causa única para o desenvolvimento do transtorno disfórico pré-menstrual (Valadares, G. C. et al. ,2006).
Em relação ao tratamento, algumas substâncias podem ser administradas em períodos do ciclo menstrual para a redução dos sintomas. Dentre os possíveis recursos terapêuticos, destacam-se os inibidores seletivos de receptação de serotonina (ISRSs), classe de antidepressivos administrados 14 dias antes da menstruação, e a Leuprolida, regido mensalmente com dosagem específica (Carlini SV; Deliiannidis KM. 2020). Os princípios ativos dos inibidores seletivos de receptação de serotonina eficazes para o TDPM são a sertralina, a fluoxetina, a paroxetina e o escitalopram (Carlini SV; Deliiannidis KM. , 2020) e funcionam inibindo o transportador de serotonina nos neurônios pré-sinápticos, aumentando, assim, o tempo de ação do hormônio nos neurônios pós-sinápticos (Chu A; Wadhwa R. , 2022). Essa classe de medicamento é aplicada de maneira oral e apresenta menos riscos de efeitos colaterais, pis possuem baixo poder efetivo sobre outros neurotransmissores (Chu A; Wadhwa R. , 2022), sendo, portanto, bem indicados para o tratamento de TDPM. Por outro lado, existem contra indicações relacionadas ao uso conjunto de outros medicamentos moduladores da serotonina pois pode culminar em síndrome da serotonina. A Leuprolida é um medicamento que age a favor do hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH) e, com o uso contínuo, diminui o estrogênio nas mulheres. É administrado por via subcutânea ou intramuscular, com dosagens específicas para o tempo de tratamento em meses e possui ampla variedade de efeitos colaterais, sendo contraindicados à mulheres que estão amamentando, pacientes com predisposição a perda óssea ou com insuficiência cardíaca (Swayzer DV; Gerriets V. , 2023).
Além do tratamento farmacológico também existem medidas não medicamentosas, de eficácia comprovada e segura, tais como acupuntura e fitoterapias, que são capazes de aliviar expressivamente os sintomas físicos, como dores nas mamas, e levemente os sintomas psicológicos, como irritabilidade. É válido ressaltar que essas formas de tratamento não revelaram evidências de efeitos colaterais consideráveis. Dentro da acupuntura diferentes métodos são aplicados, tais como acupuntura coreana, tradicional, método com auriculo ponto Shenmen e técnica de moxabustão, sendo que a última foi considerada com maior taxa de alívio dos sintomas gerais. As sessões de tratamento por acupuntura não são limitadas a períodos específicos da menstruação e podem ser realizadas durante ou fora da fase lútea, ademais, um tratamento com 2 à 4 sessões é suficiente para aliviar até 77,8% dos sintomas. Em contrapartida, a fitoterapia pode ser realizada em forma sólida, como pós ou comprimidos, e em forma líquida, com os compostos Vitex Agnus, Xiao yao san, Ginkgo biloba, Cirsium japonicum, Hypericum perforatum e Elsholtzia splendens, sendo que cada componente apresenta uma taxa diferente para melhora de cada sintoma específico (Jang SH, et al).
Diante do exposto, é concludente que, por ocasionar inúmeras mudanças fisiológicas e emocionais, pode ter impacto significativo na cognição. O TDPM pode modular os avanços intelectuais de acadêmicas e interferir, portanto, em seu processo educacional.
A partir da conexão entre esses dois aspectos, é imprescindível os questionamentos: Qual a percepção que as universitárias têm sobre o TDPM? O que causa o transtorno disfórico pré-menstrual? Quais as consequências sobre o rendimento acadêmico? Sendo assim, o presente estudo pretende apresentar a percepção dos acadêmicos sobre a influência do TDPM no desempenho universitário.
2 DESENVOLVIMENTO
2.1 JUSTIFICATIVA
O transtorno disfórico pré-menstrual é uma alteração hormonal que ocorre durante a fase lútea do ciclo menstrual e culmina em mudanças emocionais, comportamentais e físicas. Com isso, existe a necessidade de entender suas consequências, principalmente na vida acadêmica, e elucidar seus tratamentos, a fim de empoderar a parcela de mulheres brasileiras que sofre com TDPM para que possam aumentar suas qualidades de vida.
2.2 OBJETIVOS
Objetivo Geral: Entender a percepção sobre TDPM em ambiente universitário e o seu impacto no desempenho acadêmico.
Objetivos Específicos:
Esclarecer causas, consequências e tratamentos para o TDPM.
Alertar por meio das mídias digitais a percepção sobre o transtorno.
Indicar medidas não farmacológicas para a melhora na qualidade de vida das acadêmicas
2.3 METODOLOGIA
2.3.1 Delineamento da Pesquisa
Trata-se de um estudo metodológico transversal quantitativo, realizado com usuárias das redes sociais digitais (Facebook, Instagram, WhatsApp) e e-mail
2.3.2 Participantes
Participaram desse estudo estudantes universitários que utilizam as redes sociais digitais citadas. O critério de inclusão eram: ser usuária das redes sociais, estar cursando curso superior e possuir 18 anos ou mais. Os critérios de exclusão foram: ter menos de 18 anos e/ou não cursar ensino superior. Os usuários que não deram o aceite online no Termo de Consentimento Livre e esclarecido (TCLE) serão excluídos.
2.3.3 Instrumentos
O instrumento para coleta de dados foi um formulário enviado de modo online, disponível no link: https://forms.gle/wMV6s38JGHCwjGBF8. Foi estruturado em duas partes:
I Questões relacionadas ao perfil sociodemográfico (sexo, idade, área de graduação);
II Avaliação da percepção TDPM através da adaptação do instrumento WHOQOL-bref contendo questões indicativas de como as estudantes percebem o TDPM, conforme segue:
1) O questionário teve 5 perguntas para a entrevistada julgar como verdadeiro ou falso:
A. O TDPM é fisiológico (normal ao ciclo menstrual), portanto todas as mulheres passam ao menos uma vez no mês (mito)
B. O TDPM é acentuado por práticas normais de atividade física (mito)
C. O TDPM é causado apenas por fatores genéticos (mito)
D. O TDPM afeta o desempenho de realizar atividades diárias (verdade)
E. O TDPM é exagero feminino (mito)
2) Além das afirmativas acima, o questionário teve outras 11 questões para as entrevistadas assinalarem:
- Em que medida você acha que a dor física, durante o TDPM, atrapalha os estudos?
- O quanto o TDPM atrapalha a concentração?
- O quanto essas pessoas precisam de algum tratamento médico para seguir suas vidas diariamente?
- Em que medida você acha que o TDPM afeta a prática de atividades de lazer?
- O quanto o TDPM afeta o sono?
- O quanto o TDPM afeta o desempenho de atividades relacionadas à faculdade?
- O quanto você acredita que os sintomas do TDPM afetam o desempenho em provas?
- O quanto o TDPM pode afetar as relações pessoais?
- Com que frequência as pessoas durante o TDPM podem sentir sentimentos negativos tais como mau humor, desespero, ansiedade ou depressão?
- Como você avaliaria a qualidade dos estudos de alguém com TDPM?
- Como você avaliaria a qualidade de vida de quem sofre com esse transtorno?
2.3.4 Procedimento e análise de dados
O tratamento dos resultados, a interferência e a interpretação dos principais achados basearam-se nas respostas do questionário e foram colocados em quadros descritivos, tabulados com auxílio da plataforma Google Forms, por meio de planilhas, que possibilitaram o manejo de dados e integralidade das informações coletadas. A análise dos resultados foi feita por meio da estatística descritiva, sendo acrescentados testes inferenciais (Qui-quadrado) para comparar a frequência das respostas, de acordo com a faixa etária das participantes, com nível de significância estabelecido em (p<0,05).
2.3.5 Aspectos Éticos:
O projeto foi enviado ao Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CEP) e ao Comitê de Ética em Pesquisa da Unicesumar (CEP/CONEP) para as respectivas deliberações. Os participantes que concordaram com a pesquisa assinaram e aceitaram de forma online o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
2.4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM) é caracterizado como um transtorno depressivo exclusivamente associado ao sexo feminino (DSM-5, 2013) que não possui uma etiologia única ou determinada, podendo ser atrelado a fatores intrínsecos, como a genética e a fisiologia ovariana, e a fatores extrínsecos, como a alimentação e a prática de atividades físicas. Os possíveis tratamentos farmacológicos incluem os inibidores seletivos de receptação de serotonina (ISRSs) que devem ser administrados dias antes da menstruação, ou Leuprolida, administrado mensalmente. Tratamentos não medicamentosos, como acupuntura e fitoterapia, tem comprovações científicas de alívio de sintomas sem apresentar efeitos adversos graves.
A prevalência mundial do TDPM é relativamente baixa, acometendo 1-8% da população geral, entretanto, a prevalência nacional desse transtorno atinge aproximadamente 17% das mulheres brasileiras sendo, portanto, relevante para o público feminino brasileiro, especialmente estudantes universitárias, visto que grande parte das acadêmicas está em período fértil, sendo consideradas como grupos de risco para o desenvolvimento do transtorno (TIRANINI; NAPPI, 2022).
Este estudo teve como finalidade entender a percepção do TDPM no desempenho acadêmico de universitárias e, para isso, foi realizada esta pesquisa com 103 participantes do gênero feminino, acima de 18 anos e em idade fértil. As questões estavam em ordem e os resultados foram apresentados em forma de tabelas e gráficos que ilustram os achados desse estudo. As tabelas foram expostas conforme a faixa etária.
A tabela 1 apresenta as características das participantes em relação à idade. O grupo foi estratificado em três subgrupos com idades de 18 a 20 anos, de 21 a 30 anos e acima de trinta anos. A maior proporção das participantes tem idade entre 21 e 30 anos (55,34%), com o grupo com idade entre 18 e 20 anos representando 26,21% do total e as acadêmicas com idade superior a 30 anos representando 18,45% da amostra.
Categorizado por faixa etária | Frequência (n) | % |
de 18 a 20 anos | 27 | 26,21 |
de 21 a 29 anos | 57 | 55,34 |
30 anos ou mais | 19 | 18,45 |
Total | 103 | 100 |
Tabela 1. Característica das participantes da pesquisa (n=103)
As tabelas 2 a 6 indicam as respostas das 5 questões sobre “verdade” e “mito”, categorizadas pela faixa etária.
A tabela 2 apresenta os resultados da afirmação A: “O TDPM é fisiológico (normal ao ciclo menstrual), portanto todas as mulheres passam ao menos uma vez no mês”. Percebe-se que esta questão obteve mais respostas considerando como “verdade”, sendo assim, a taxa de erros foi maior em relação aos acertos, uma vez que o TDPM é uma patologia derivada do transtorno depressivo, não sendo considerada fisiológica e, portanto, não é universal à todas as mulheres. O grupo jovem teve menor proporção de erros em comparação aos outros.
A tabela 3 procurou identificar como os participantes percebiam a influência da prática de atividade física sobre o TDPM, por meio do julgamento da alternativa B: “O TDPM é acentuado por práticas normais de atividade física”. A alternativa B teve altas taxas de acertos, onde mais de 85% das participantes de todos os grupos assinalaram “mito”, o que demonstrou o entendimento de que práticas normais de atividade física não possuem relação com o desenvolvimento do TDPM. Nota-se também que a maior taxa de acertos foi do grupo de mais de 30 anos, alcançando 100% de respostas corretas.
Os resultados da alternativa C – “O TDPM é causado apenas por fatores genéticos” – estão expostos na tabela 4, os quais foram semelhantes ao da questão B, com altas taxas de acertos em todos os grupos e, para isso, a grande maioria das participantes assinalou a alternativa como “mito”, apontando o conhecimento sobre uma causalidade não única relacionada ao desenvolvimento do transtorno. Nota-se novamente que o grupo de mais de 30 anos acertou em totalidade, alcançando os 100% de acertos.
Os dados da alternativa D – “O TDPM afeta o desempenho de realizar atividades diárias” – foram expostos na tabela 5, mantendo semelhança com os resultados da alternativa B. Acertos acima de 88% em todos os grupos, sendo que no grupo de mais 30 anos houve totalidade de acertos novamente. Com essa questão, as participantes expressaram reconhecer as consequências do transtorno, que impactam a rotina diária das mulheres que sofrem com ele.
A tabela 6 expõe os dados da alternativa E – “O TDPM é exagero feminino”. Seguindo a tendência já observada nas questões anteriores, todos os grupos exibiram altos índices de acerto, sendo 85% a porcentagem aproximada do grupo de menos acertos (grupo mais jovem) e 100% a porcentagem do grupo de mais acertos (grupo 30 anos mais).
O teste ꭓ2 (qui-quadrado) não revelou diferenças significativas na proporção de respostas entre as diferentes faixas etárias para as 5 questões de “verdadeiro” ou “mito”
Faixa etária até 20 anos | Frequência (n) | % |
Mito | 12 | 44,44 |
Verdade | 15 | 55,56 |
Total | 27 | 100 |
Faixa etária de 21 até 29 anos | ||
Mito | 24 | 42,11 |
Verdade | 33 | 57,89 |
Total | 57 | 100 |
Faixa etária 30 anos ou mais | Frequência (n) | % |
Mito | 8 | 42,11 |
Verdade | 11 | 57,89 |
Total | 19 | 100 |
Tabela 2. Respostas à questão A – “O TDPM é fisiológico (normal ao ciclo menstrual), portanto todas as mulheres passam ao menos uma vez no mês”
Faixa etária até 20 anos | Frequência (n) | % |
Mito | 23 | 85,19 |
Verdade | 4 | 14,81 |
Total | 27 | 100 |
Faixa etária de 21 até 29 anos | Frequência (n) | % |
Mito | 50 | 87,72 |
Verdade | 7 | 12,28 |
Total | 57 | 100 |
Faixa etária 30 anos ou mais | Frequência (n) | % |
Mito | 19 | 100,00 |
Verdade | 0 | 0,00 |
Total | 19 | 100 |
Tabela 3. Respostas à questão B – “O TDPM é acentuado por práticas normais de atividade física”
Faixa etária até 20 anos | Frequência (n) | % |
Mito | 25 | 92,59 |
Verdade | 2 | 7,41 |
Total | 27 | 100 |
Faixa etária de 21 até 29 anos | Frequência (n) | % |
Mito | 51 | 89,47 |
Verdade | 6 | 10,53 |
Total | 57 | 100 |
Faixa etária 30 anos ou mais | Frequência (n) | % |
Mito | 19 | 100,00 |
Verdade | 0 | 0,00 |
Total | 19 | 100 |
Tabela 4. Respostas à questão C – “O TDPM é causado apenas por fatores genéticos”
Faixa etária até 20 anos | Frequência (n) | % |
Mito | 3 | 11,11 |
Verdade | 24 | 88,89 |
Total | 27 | 100 |
Faixa etária de 21 até 29 anos | Frequência (n) | % |
Mito | 3 | 5,26 |
Verdade | 54 | 94,74 |
Total | 57 | 100 |
Faixa etária 30 anos ou mais | Frequência (n) | % |
Mito | 0 | 0,00 |
Verdade | 19 | 100,00 |
Total | 19 | 100 |
Tabela 5. Respostas à questão D – “O TDPM afeta o desempenho de realizar atividades diárias”
Faixa etária até 20 anos | Frequência (n) | % |
Mito | 23 | 85,19 |
Verdade | 4 | 14,81 |
Total | 27 | 100 |
Faixa etária de 21 até 29 anos | Frequência (n) | % |
Mito | 50 | 87,72 |
Verdade | 7 | 12,28 |
Total | 57 | 100 |
Faixa etária 30 anos ou mais | Frequência (n) | % |
Mito | 19 | 100,00 |
Verdade | 0 | 0,00 |
Total | 19 | 100 |
Tabela 6. Respostas à questão E – “O TDPM é exagero feminino”
As figuras 1 e 2 ilustram o resumo de respostas às 5 questões iniciais, separadas em “mito” ou “verdade”
Figura 1. Proporção (%) de respostas (mito) em ordem crescente apresentadas pelas universitárias às questões do tipo 1 (A, B, C, D e E)
Figura 2. Proporção (%) de respostas (verdade) em ordem crescente apresentadas pelas universitárias às questões A, B, C, D e E.
A figura 1 ilustra a frequência de respostas marcadas como “mito”, em geral, sem separar por grupo etário, em ordem crescente. A afirmativa de que o TDPM é um exagero feminino foi mais frequentemente considerada um mito. Ou seja, as universitárias compreendem que o TDPM afeta as mulheres de diversas formas, impactando as suas rotinas. Na sequência, com mais de 90% das respondentes consideram que o TDPM não é causado apenas por fatores genéticos e mais de 87% compreende que o TDPM não é acentuado pela prática regular de atividades físicas, o que representa um alto índice de acerto pelas participantes sobre a questão B, C e E
A figura 2 indica as respostas consideradas como “verdade”. A maioria das participantes concorda que o TDPM afeta o desempenho de atividades diárias, portanto, a alternativa foi assinalada como “verdade” por 94% das participantes. A alternativa que infere sobre o TDPM ser fisiológico teve respostas divididas, com 57% das universitárias considerando “verdade” e 43% considerando ser um “mito” o que indica uma lacuna de conhecimento do público-alvo sobre o transtorno.
O gráfico a seguir representa as respostas das questões 1 à 8. Como ilustrado, as entrevistadas, em maioria, consideram que o TDPM afeta muito os estudos (68,5%), as relações pessoais (67,6%), o desempenho em provas (64,5%), a concentração (64,8%) e o desempenho em atividades universitárias (62,9%).
Figura 3. Proporção (%) de participantes que consideram que o TDPM afeta muito os seus estudos, relações pessoais, desempenho em provas, a concentração, as atividades da faculdade, a prática de atividades de lazer, que leva a necessidade de tratamento médico e que afeta o sono, classificação decrescente de respostas.
A seguinte imagem (figura 4) apresenta os resultados da resposta 9: “Com que frequência as pessoas durante o TDPM podem sentir sentimentos negativos tais como mau humor, desespero, ansiedade ou depressão?”. Nota-se que a maior proporção das universitárias indicou que o TDPM frequentemente (65%) as afeta negativamente, com mais de um quarto das respondentes indicando que sempre são afetadas negativamente e apenas 7,4% indicando que essa influencia negativa ocorre algumas vezes.
Figura 4. Proporção (%) de participantes de acordo com a percepção de frequência com que o TDPM pode induzir a sentimentos negativos como mau humor, desespero, ansiedade ou depressão.
Por fim, a figura 5 e 6 ilustram as respostas das questões 10: “Como você avaliaria a qualidade dos estudos de alguém com TDPM?” e 11: “Como você avaliaria a qualidade de vida de quem sofre com esse transtorno?”. Pode ser observado que a maioria assinalou “Ruim” (68,5% e 87%, respectivamente), uma parte significativa de entrevistadas assinalou “normal” (29,6% e 11,1%, respectivamente) e uma pequena parcela assinalou “boa” (1,9%). Com isso, pode-se reafirmar a compreensão da maior parte das participantes sobre os resultados desfavoráveis do TDPM sobre os estudos e sobre a vida como um todo. Evidencia-se que 1,9% de entrevistadas assinalaram “boa”, podendo ser interpretado como uma grande lacuna de conhecimento sobre o tema, o que reforça a importância do trabalho e da divulgação dessas informações para o público.
Figura 5. Proporção (%) respostas sobre a pergunta 10: “Como você avaliaria a qualidade dos estudos de alguém com TDPM?”
Figura 6. Proporção (%) respostas sobre a pergunta 11: “Como você avaliaria a qualidade de vida de quem sofre com esse transtorno?”
Das 103 participantes, apenas 33,98% (n=35) acertaram em totalidade as cinco questões objetivas iniciais (demarcadas como A, B, C, D e E), por conseguinte, demonstraram entendimento, no geral, sobre o transtorno. Entretanto, somente 20,38% (n=21) delas apresentaram acertos nas demais questões, fato que representa a percepção coerente e plena das implicações do TDPM no cotidiano de quem sofre com ele, como exemplo no sono, no lazer, no desempenho em provas e na qualidade de vida como um todo. Por conseguinte, torna-se claro a baixa proporção de reconhecimento completo do transtorno pelas entrevistadas, mesmo com a maioria cursando áreas da saúde tais como medicina e psicologia.
A partir dos resultados apresentados, evidenciou-se que, de modo geral, as participantes apresentaram um conhecimento razoável sobre o assunto e que reconhecem o TDPM como um fator importante e de impacto negativo nas mulheres em idade fértil, além de influenciar o desempenho acadêmico e social. Porém, os acertos não foram integrais e, por isso, pode-se afirmar que existem lacunas de conhecimento do tema em grande parte das entrevistadas, destacando que ainda há a necessidade de maior atenção dedicada a este transtorno. Neste viés, é válido ressaltar que o TDPM é um transtorno pouco atualizado em estudos e pesquisas, o que pode torna decrescente a visibilidade do tema, e consequentemente aumentar os lapsos de entendimento da população.
O reconhecimento global do TDPM como um transtorno de elevado impacto sobre a saúde física e mental é de grande importância para que abordagens apropriadas sejam implementadas e o devido processo de cuidado seja proporcionado, uma vez que, o entendimento do transtorno favorece a empatia e a aceitação da sociedade a este público afetado, proporcionando acolhimento e evitando sentimentos negativos como invalidação e não pertencimento social, de modo a favorecer a busca de tratamentos e melhoria de qualidade de vida dessas mulheres. Dessa maneira, a disseminação de informações pertinentes ao TDPM ao público geral pode ser considerada uma medida não farmacológica que, em longo prazo, contribuirá para uma sociedade íntegra.
Segundo o artigo “Síndrome pré-menstrual: existência, conhecimento e atitude entre estudantes universitárias em Karachi” de 2018, o autor discute o fato de que grande parte das mulheres participantes conhece sobre TPM, mas apenas uma parcela menor conhece sobre o TDPM. O artigo ressalta que apenas 19% das entrevistadas reconheceram o transtorno, mesmo sendo estudantes de medicina, acontecimento que comprova a falta de disseminação global sobre este assunto de grande importância social, assim como os resultados obtidos nesta pesquisa.
Por conseguinte, propõe-se que o TDPM seja objeto de mais estudos e de divulgação, com a finalidade de possibilitar o acesso a conhecimentos e recursos terapêuticos para as mulheres universitárias que necessitem de tal atenção.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho pretendeu entender a percepção sobre TDPM em ambiente universitário e o seu impacto no desempenho acadêmico para empoderar a parcela de mulheres brasileiras que sofre com TDPM a fim de aumentar suas qualidades de vida, a partir de estudo metodológico transversal quantitativo realizado através de um questionário estruturado em duas partes: questões iniciais do perfil sociodemográfico e questões finais modificadas do WHOQOL-100 que foi enviado por e-mail e pelas redes sociais digitais (Facebook, Instagram, WhatsApp) e respondido por mulheres universitárias em idade fértil.
Para se atingir uma compreensão da percepção sobre TDPM em ambiente universitário e o seu impacto no desempenho acadêmico, definiu-se três objetivos específicos. O primeiro concentrou-se em esclarecer causas, consequências e tratamentos para o TDPM, junto com o segundo, que focou em indicar medidas não farmacológicas para a melhora na qualidade de vida das acadêmicas. Verificou-se que o transtorno em menção não é fruto de uma causalidade única e possui etiologias diversas, tais como fatores intrínsecos (genética e função ovariana) e extrínsecos (alimentação e atividade física), além disso, observou-se que as consequências são presentes em inúmeros âmbitos de vida e afetam desde a rotina diária, por exemplo, a qualidade do sono e o desempenho acadêmico, até atividades de lazer e relações pessoais. Sobre os possíveis tratamentos, contemplou-se as vias medicamentosas, incluindo a Leuprolida e os Inibidores Seletivos de Receptação de Serotonina, além das vias não medicinais, exemplificadas pela acupuntura e pela fitoterapia. Depois, dedicou-se em alertar, por meio das mídias digitais, a percepção sobre o transtorno. A análise permitiu concluir que o TDPM tem um baixo entendimento por universitárias em idade fértil e deve ser objeto de mais estudo e divulgação, a fim de atingir pessoas de todas as idades, gêneros e profissões com a finalidade de informar a população para que as mulheres com o transtorno possam se aproximar cada vez mais dos tratamentos disponibilizados e não ficarem coagidas pelo sentimento de invalidação perante a sociedade.
Com isso, a hipótese do trabalho de que o Transtorno Disfórico Pré-menstrual é banalizado e pouco difundido se confirma, pelo motivo da baixa porcentagem de acertos totais no questionário embora tenha sido respondido por mulheres de ensino superior, principalmente de cursos da área da saúde, tais como medicina e psicologia. Sendo assim, a percepção das universitárias sobre o TDPM é razoável, porém há consideráveis lacunas de conhecimento, principalmente sobre as consequências na vida cotidiana. As etiologias são diversas e pouco fundamentadas até o presente momento, e o impacto na vida acadêmica de quem sofre com o transtorno é alto, abrangendo diversos aspectos da vida.
O instrumento de coleta de dados permitiu identificar a perspicácia individual de cada participante da pesquisa sobre o tema proposto, de forma a evidenciar a carência de conhecimento perante um transtorno que acomete aproximadamente 17% da população feminina brasileira e tem um alto impacto em atividades diárias. Perante às informações, propõe-se que, em pesquisas futuras, seja avaliado a percepção populacional geral, incluindo homens e mulheres fora de idade fértil e pessoas de menores graus de educação para que algum dia o tema seja contemplado e bem entendido por todos.
5 AGRADECIMENTO
Agradeço ao Instituto Cesumar de Ciência, Tecnologia e Inovação (ICETI) pela bolsa concedida pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC MED / ICETI), a qual possibilitou o amadurecimento acadêmico e o conhecimento oferecido durante a realização deste trabalho. Agradeço também a todos que participaram dessa pesquisa e foram solícitos para responder o questionário, sua ajuda foi fundamental para o desenvolvimento da pesquisa.
6 REFERÊNCIAS
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1Acadêmica do Curso de Medicina, Campus Maringá-PR, Universidade Cesumar – UNICESUMAR. Bolsista PIBIC/ICETI-UniCesumar. juliafamelliferret@gmail.com
2Orientadora, Mestre, Docente no Curso de Medicina, UNICESUMAR. Pesquisadora do Instituto Cesumar de Ciência, Tecnologia e Inovação – ICETI. sandra.mainardes@unicesumar.edu.br
3Coorientadora, Doutora, Docente no Curso de Psicologia, UNICESUMAR. Pesquisadora do Instituto Cesumar de Ciência, Tecnologia e Inovação – ICETI. jhainieiry.ferret@unicesumar.edu.br