PERCEPÇÃO DA EQUIPE PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM E DOS PAIS SOBRE O PROCESSO SAÚDE-DOENÇA DE RECÉM-NASCIDOS INTERNADOS EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8201634


Bruna Larissa Fernandes Pereira1
Vitória Fernanda Fernandes Nascimento2
Nádia Rodrigues Furtado Galeno3
Amabilly Thaissa de Sousa Ribeiro4
Giovanna Vitória Aragão de Almeida Santos5
Elyssandra Keila Da Costa Veloso6
Alan Jefferson Alves Reis7
Amanda Sousa Rodrigues8
Maria Gabriela Santos Ribeiro9
Vyrna Rebeca de Carvalho Alves10


RESUMO

O objetivo deste estudo é identificar a percepção da equipe profissional de enfermagem e dos pais sobre o recém-nascido internado na Unidade de Terapia Intensiva diante do processo saúde-doença. Trata-se de uma Revisão Integrativa, de estudo qualitativo e estudo observacional, relato de casos nos idiomas: inglês, português e espanhol, onde realizou-se uma peer review e para a formulação da questão norteadora utilizou-se a estratégia PICo. Desse modo, com base nos artigos incluídos neste estudo, os pais têm uma dificuldade na locomoção até o hospital, pela dificuldade no uso de transporte público e questões financeiras, o que acaba dificultando o cuidado diário com recém-nascido internado na UTI neonatal. Alguns pais também questionam a falta de apoio da equipe de enfermagem na inclusão dos pais do sexo masculino, e acabam se achando menos importante, já outros pais acham a equipe de enfermagem, indispensáveis na assistência ao recém-nascido, tornando mais fácil o cuidado e a ajuda no emocional da mãe. É de suma importância, que a equipe de enfermagem conserve e assegure o vínculo mãe/pai e bebê, deixando os mesmos inteirados a situação clínica de seu filho, tornando a comunicação entre eles e a equipe de enfermagem de fácil acesso. Conclui-se que há casos de pais que têm dificuldade financeira ao se locomover até o hospital, outros pais que possuem uma rotina de trabalho intensa e não conseguem estar presencialmente no hospital atualizados de todas as informações. Além disso, apurou-se uma troca de informações entre pais e equipe no manejo do cuidado ao RN. Assim, é necessário que a equipe multiprofissional, sobretudo a equipe de enfermagem, tenha um olhar atento para a criança que está sendo cuidada, disponibilizando um atendimento especializado, deixando a família ciente de todos os cuidados ali prestados. Portanto, os pais devem participar diretamente do cuidado com o recém-nascido, criando vínculo entre eles, onde possam compartilhar experiências e melhorando a assistência, juntamente com a equipe de enfermagem.

Palavras-chaves: Recém-nascido, Equipe de enfermagem, Assistência.

ABSTRACT

The objective of this study is to identify the perception of the professional nursing team and parents about the newborn hospitalized in the Intensive Care Unit in the face of the health-disease process. This is an Integrative Review, with a qualitative study and observational study, case reports in the languages: English, Portuguese and Spanish, where a peer review was carried out and for the formulation of the guiding question the PICo strategy was used. Thus, based on the articles included in this study, parents have difficulty getting to the hospital, due to the difficulty in using public transport and financial issues, which ends up making daily care for the newborn hospitalized in the NICU difficult. Some parents also question the lack of support from the nursing team in the inclusion of male parents, and end up thinking that they are less important, while other parents find the nursing team indispensable in providing care to the newborn, making it easier to care for and help the mother emotionally. It is extremely important that the nursing team preserves and ensures the mother/father and baby bond, letting them know the clinical situation of their child, making communication between them and the nursing team easy to access. It is concluded that there are cases of parents who have financial difficulties when traveling to the hospital, other parents who have an intense work routine and cannot be in person at the hospital updated with all the information. In addition, there was an exchange of information between parents and staff in the management of care for the NB. Thus, it is necessary that the multidisciplinary team, especially the nursing team, have a close look at the child being cared for, providing specialized care, making the family aware of all the care provided there. Therefore, parents must participate directly in the care of the newborn, creating bonds between them, where they can share experiences and improve care, together with the nursing team.

Keywords: Newborn, Nursing team, Assistance.

INTRODUÇÃO

Os avanços em tecnologia e medicina neonatal possibilitam a sobrevivência – do ponto de vista médico – de bebês mais jovens, menores e mais complexos. Por isso, parcerias entre pais de prematuros e os profissionais envolvidos no seu cuidado são cada vez mais necessários (AHMANN, 2004; GOLDSON, 2002). Isso é particularmente relevante nos cuidados de enfermagem prestados a recém-nascidos (RN) internados em unidades de terapia intensiva neonatal (UTIN), pois os enfermeiros estão em contato diário e constante com os bebês que precisam de cuidados especializados (AHMANN, 2004; GOLDSON, 2002).

Com o objetivo de garantir uma atenção integral e humanizada ao recém-nascido em situação de risco, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (PNAISC) foi instituída no Brasil em 2015. Dentre as ações propostas pela política, recomenda-se que a assistência ao recém-nascido que recebe alta da UTIN seja fornecida tanto pela Atenção Primária à Saúde (APS) quanto por um ambulatório de seguimento especializado (BRASIL, 2015). 

O modelo de assistência compartilhada tem como meta a qualidade ao cuidado oferecido ao recém-nascido e aos familiares envolvidos no processo saúde-doença em todos os níveis de atendimento (MARTINS et al., 2015). No entanto, apesar da intenção de estabelecer uma conexão entre os serviços de saúde para promover uma abordagem contínua e humanizada, isso ainda representa um desafio que requer soluções efetivas para a troca de informações clínicas entre os serviços (REIS et al., 2015).

Há um grande desafio em fornecer cuidados intensivos de suporte para bebês na UTIN, visando maximizar suas chances de sobrevivência, ao mesmo tempo em que se tenta minimizar qualquer sofrimento potencial que possa ser experimentado tanto pela criança quanto pelos pais. Para estes últimos, a possibilidade de morte no início da vida pode ser extremamente angustiante, especialmente quando confrontados com um diagnóstico que ameaça ou limita a vida do bebê, e precisam tomar decisões difíceis (REIS et al., 2015).

Apoiar os pais durante esse processo é fundamental, seja durante a estabilização de um quadro clínico ou de uma morte e processo de luto pacíficos.  Durante o curso de tratamento, pode haver uma mudança na percepção de alguns pais, quando eles sentem que os fardos de tratamento superam os benefícios e que a intervenção adicional é excessiva (FREITAG, 2015). Portanto, é importante que a equipe de enfermagem esteja atenta às perspectivas dos pais no processo de saúde-doença dos recém-nascidos internados na UTIN e às demandas e necessidades das famílias, de forma acolhedora, proativa e empática.

A exemplo, segundo estudos presentes na literatura científica, alguns pais decidem retirar as terapias de suporte de vida com base na percepção própria de que seu bebê está em sofrimento (HAWARD et al., 2000; MCHAFFIE; LYON; HUME, 2001; MORO, 2011). Os pais têm influência direta na continuidade ou interrupção do tratamento de seus bebês na UTIN, o que impacta no processo de saúde-doença, já que possuem autonomia sobre os cuidados dos filhos e são relevantes para o cuidado em saúde (HAWARD et al., 2000; MCHAFFIE; LYON; HUME, 2001; MORO, 2011).

Ademais, os pais recebem recursos e informações para obter um maior senso de controle sobre os cuidados de seus filhos e sua vida familiar. No entanto, os pais muitas vezes descrevem a unidade de terapia intensiva neonatal como um lugar avassalador e assustador. Sentimentos de perda de controle sobre o que acontece em relação ao bebê são comumente relatados (FLYNN; MCCOLLUM, 1993;SWEENEY, 1995).

Durante a necessidade de internação dos recém-nascidos em UTINs, as mães enfrentam a difícil tarefa de aprender a lidar com um ambiente desconhecido, onde seus bebês são cuidados por profissionais que não são elas mesmas. Essas internações podem se estender por semanas ou mesmo meses, dependendo da condição médica e da idade gestacional (IG) do recém-nascido. As experiências das mães durante esse período estão documentadas na literatura, permeando a compreensão dos desafios, dores e superação que enfrentam (HOLDITCH-DAVIS; MILES, 2000). 

Isso ocorre devido à diferença entre o nascimento de um bebê saudável e o de um bebê prematuro. Enquanto o primeiro é um evento celebrado pela família, o segundo deixa os pais com sentimentos de tristeza e medo. Os pais de bebês prematuros são frequentemente confrontados com questões de sobrevivência, atrasos no desenvolvimento e desafios futuros, em vez de planejamento de longo prazo (GRIFFIN; ABRAHAM, 2006; BERNS et al., 2007; BROEDSGAARD; WAGNER, 2005).

Por outro lado, em relação ao aspecto que envolve profissional, paciente e família, as rotinas e as normatizações presentes no contexto hospitalar permeiam e afetam a relação de profissionais de saúde e usuários (SILVA; SÁ; MIRANDA, 2014; FRELLO; CARRARO, 2014), Isso é evidenciado pela falta de valorização do diálogo como ferramenta essencial para fortalecer as relações, promover a responsabilidade mútua e o engajamento de todos os envolvidos, além de favorecer a construção conjunta dos processos de cuidado relacionados aos RNs ( DUARTE et al., 2013; SILVA; SÁ; MIRANDA, 2014; FRELLO; CARRARO, 2014). 

Acerca disso, prova-se a pertinência da necessidade da comunicação clara, efetiva e transparente entre o que a equipe sabe e entende como necessários aos cuidados ao RN e o que os pais pensam e entendem dessas ações que precisam ser tomadas conforme decisão da equipe de enfermagem, por exemplo. Com isso, o objetivo deste estudo é identificar a percepção da equipe profissional de enfermagem e dos pais sobre o recém-nascido internado na Unidade de Terapia Intensiva diante do processo saúde-doença.

METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão integrativa, que é a mais ampla abordagem metodológica referente às revisões, permitindo a inclusão de estudos experimentais e não-experimentais para uma compreensão completa do fenômeno analisado. Combina, também, dados da literatura teórica e empírica, além de incorporar um vasto leque de propósitos: definição de conceitos, revisão de teorias e evidências, e análise de problemas metodológicos de um tópico particular. A ampla amostra, em conjunto com a multiplicidade de propostas, deve gerar um panorama consistente e compreensível de conceitos complexos, teorias ou problemas de saúde relevantes para a enfermagem (WHITTEMORE; KNAFL, 2005). Realizou-se uma peer review e para a formulação da questão norteadora utilizou-se a estratégia PICo, de modo que o P corresponde à população “Profissionais de enfermagem e pais de recém-nascidos internados em UTI”, I corresponde à intervenção “Percepção do processo saúde-doença” e Co é referente ao “Internação na UTI”. Assim, obteve-se a seguinte questão: “Qual a percepção da equipe de enfermagem e dos pais sobre o processo saúde-doença de recém-nascidos internados em Unidade de Terapia Intensiva?”. Desse modo, esta revisão foi realizada com base nas seguintes etapas: 1) Formulação do problema; 2) coleta de dados e procura da literatura; 3) avaliação dos dados; 4) análise de dados; e 5) apresentação e interpretação dos resultados (WHITTEMORE; KNAFL, 2005). Diante disso, realizaram-se buscas em bases de dados  durante o mês de fevereiro de 2023. Na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), utilizou-se os Descritores em Ciências da Saúde/ Medical Subject Headings  (DECS/MeSH) (NICU, Mother, Patient’s perspective). Para operacionalizar a busca, utilizou-se o operador booleano AND, seguindo a sequência: NICU AND Mother AND Patient’s perspective. A busca resultou em 20 artigos. Com a aplicação dos filtros Base de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Sistema Online de Busca e Análise de Literatura Médica (MEDLINE),Base de Dados de Enfermagem (BDENF) e Centro Nacional de Informação de Ciências Médicas da Cuba (CUMED); Assunto principal: Unidade de Terapia Intensiva Neonatal, mães; Tipo de estudo: pesquisa qualitativa, estudo observacional, relato de casos; Idiomas: Inglês, português e espanhol, encontrou-se 6 artigos. Após a leitura exploratória, incluíram -se 2 artigos por possuírem título e resumo condizentes com a proposta temática. Posteriormente, realizou-se uma leitura seletiva destes artigos até então previamente selecionados. Após isso, ambos os artigos foram incluídos neste estudo por atenderem à questão norteadora proposta. Utilizou-se a biblioteca eletrônica Scielo a partir da seguinte estratégia de busca: NICU AND  Perspective AND Mother, sendo que estes descritores foram selecionados a partir dos descritores DECS/MeSH (Biblioteca Virtual em Saúde), exceto o “Perspective “ que, embora não esteja disponível na BVS, proporcionou um achado relevante para este estudo. Com esta estratégia, encontrou-se 1 artigo que respondeu à questão norteadora após uma leitura seletiva deste. Utilizou-se, também, a base de dados Scopus, com o objetivo de ampliar ainda mais os achados, na qual utilizou-se os Decs/MeSH NICU AND Mother AND Patient’s perspective, encontrando-se 32 artigos. Após a aplicação dos filtros destinados a mostrar apenas Artigos e a Área de matéria “Enfermagem”, encontrou-se 11 artigos. Após a leitura exploratória e seletiva dos artigos, incluíram-se 3 artigos pertencentes à base de dados Scopus. Os critérios de inclusão foram artigos que responderam à questão norteadora, artigos disponíveis nas bases de dados e estudos originais. Excluíram-se artigos indisponíveis gratuitamente nas bases de dados, artigos duplicados, artigos de revisão e artigos que não possuem uma metodologia adequada. Não foi usado filtro temporal para a ampliação dos achados  e possibilidade de avaliação das percepções a partir dos anos. Para a análise metodológica dos artigos incluídos, aplicou-se um instrumento adaptado do Critical Appraisal Skill Program (CASP), o qual possui 10 itens na pontuação: 1) objetivo claro e justificável; 2) metodologia adequada; 3) apresentação e discussão teórica e metodológica procedimentos; 4) seleção adequada da amostra; 5) coleta de dados detalhada; 6) relação entre pesquisador e pesquisado; 7) ética preservada aspectos; 8) análise rigorosa e fundamentada de dados; 9) apresentação e discussão do resultados e 10) contribuições, limitações e indicações de novas questões de pesquisa. Para cada item, é atribuído o valor 0 (zero) ou 1 (um), e o resultado final é a soma das pontuações, com uma pontuação máxima de 10 pontos. Os artigos selecionados foram classificados de acordo com as pontuações: nível A – 6 a 10 pontos (boa qualidade metodológica e viés reduzido) ou nível B – pelo menos 5 pontos (qualidade metodológica satisfatória, mas com maior risco de viés) (TOLEDO; TAKAHASHI; DE-LA-TORRE-UGARTE-GUANILO, 2011). Diante disso, os 6 artigos incluídos ao final da busca receberam pontuação classificada como nível A. A seguir, o quadro metodológico (figura 1) ilustra a qualidade das evidências encontradas, cuja leitura configura-se da seguinte forma: A (Adequado) e I (Inadequado).

Tabela 1. Quadro metodológico acerca da qualidade das evidências encontradas.

Título do artigoPontuação dos artigos segundo o instrumento Critical Appraisal Skill Program (CASP)
Itens12345678910
Descontinuidade do seguimento ambulatorial de crianças de risco: perspectiva das mãesAAAAAAAAAA
Reconhecimento materno na Unidade de Cuidado Intensivo NeonatalAAAAAAAAAA
Percepções dos pais enlutados sobre o sofrimento do bebê na UTINAAAAAAAAAA
Partnerships between mothers and NICU professionals: Provision of Care, Information Exchange,and RelationshipsAAAAAAAAAA
Provision of Social Support: Perspective of Parents with Premature BabiesAAAAAAAAAA
Autonomia deu um erro: Um estudo intercultural das experiências dos pais no intensivo neonatalAAAAAAAAAA

Fonte: Autora, 2023.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram utilizados seis artigos para a construção deste estudo, seguindo a metodologia adotada. A Tabela 2 apresenta a caracterização geral desses estudos incluídos.

Tabela 2. Caracterização geral dos artigos incluídos.

TítuloAutor e Ano de publicaçãoTipo de estudoRelevância do estudo para a pesquisa
Descontinuidade do seguimento ambulatorial de crianças de risco: perspectiva das mãesDINIZ et al., 2019Estudo exploratório, qualitativoO artigo identifica aspectos que contribuem para a descontinuidade do seguimento ambulatorial de crianças egressas de UTIN, sob a perspectiva materna.
Reconhecimento materno na Unidade de Cuidado Intensivo NeonatalWERNET et al., 2015.Estudo qualitativoAnalisa as experiências maternas em Unidade de Cuidado Intensivo Neonatal, com foco nas relações de reconhecimento.
Percepções dos pais enlutados sobre o sofrimento do bebê na UTINFORTNEY et al., 2019Estudo quantitativoAnalisa as percepções dos pais enlutados sobre o sofrimento infantil na UTIN.
Partnerships between mothers and NICU professionals: Provision of Care, Information Exchange,and RelationshipsBRUNS, MCCOLLUM, 2002Estudo descritivoExamina as perspectivas de mães, enfermeiras e neonatologistas sobre a importância e a implementação de práticas na UTIN relacionadas ao cuidado, troca de informações e relacionamentos no contexto do cuidado centrado na família.
Provision of Social Support: Perspective of Parents with Premature BabiesKIM, 2018Estudo qualitativoOs atuais sistemas de apoio social para pais de bebês prematuros tendem a dar mais atenção às mães do que aos país. Como o pai também desempenha um papel crítico no cuidado de um bebê prematuro, é necessário avançar na compreensão das preocupações e necessidades paternas sobre apoios sociais que devem apoiar melhor os pais.
Autonomia deu um erro: Um estudo intercultural das experiências dos pais no intensivo neonatalORFALI; GORDON, 2004Estudo qualitativoExamina as experiências dos pais na tomada de decisões médicas e enfrentamento de ter um bebê gravemente doente na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) a partir de uma perspectiva transcultural (França vs. EUA).

Fonte: Autora, 2023.

De acordo com Diniz et al. (2019), estudos mostram que condições sociais e econômicas influenciam no seguimento de ambulatório, já que os pais enfrentam dificuldades logísticas para se deslocar de casa até o hospital, incluindo a falta de transporte público adequado, problemas financeiros para pagar as passagens e impossibilidade de faltar ao trabalho (DINIZ et al.,2019). 

Além disso, é importante ressaltar sobre as práticas que são promovidas para o cuidado, definindo os atendimentos periódicos, pois é de suma importância que a equipe multiprofissional trabalhe de forma adequada para prestar um atendimento especializado. O estabelecimento de vínculos entre a equipe de saúde e a família pode facilitar a compreensão dos cuidados necessários e estabelecer prioridades no agendamento de consultas (DUARTE et al., 2015). 

Em relação a organização de horários dos atendimentos, os pais relatam a incompatibilidade de horários e dificuldade no agendamento, por ser em ordem de chegada e não ter um horário definido na consulta, relataram também a insatisfação dos atendimentos realizados pelos estudantes, devido aos atrasos comuns em consultas (AIRES et al., 2015). 

Desse modo, em consonância com outros estudos nacionais e internacionais, a hospitalização de crianças pré-termo associa-se com insegurança dos pais (FRELLO; CARRARO, 2012; DITTZ; SENA; COELHO, 2011; HURST, 2011; BORSA; NUNES, 2011; COSTA; ARANTES; BRITO, 2010; GORGULHO; RODRIGUES, 2010; FREGRAN; HELSETH, 2009) e tendência ao desequilíbrio emocional (BRAGA; SENA, 2013; AUSTGARD, 2015; BORSA; NUNES, 2011; COSTA; ARANTES; BRITO, 2010; GORGULHO; RODRIGUES, 2010; FREGRAN; HELSETH, 2009). 

Nesse âmbito, as dificuldades maternas relacionam-se ao pouco suporte das equipes de saúde (FRELLO; CARRARO, 2012; COSTA; ARANTES; BRITO, 2010; GORGULHO; RODRIGUES, 2010; FREGRAN; HELSETH, 2009). Assim, os resultados encontrados refletem que a interação entre os profissionais de saúde e os familiares é permeada de desconfortos, sofrimentos e incertezas, com desdobramentos negativos para o reconhecimento, a autonomia e a autoestima da mãe. Nesse sentido, evidencia-se a insegurança dos familiares e propensão ao desconforto emocional, o que deve ser investigado e solucionado a partir de condutas resolutivas da equipe de enfermagem.

Segundo Van Riper, as mães relatam sua satisfação com o atendimento quando recebem um cuidado individualizado e centrado na família, e expressam insatisfação quando não recebem (apud BRUNS; MCCOLLUM, 2002). Portanto, é importante destacar que, para os pais, os enfermeiros são fundamentais no cuidado, acolhimento e incentivo. Eles consideram os profissionais essenciais para incentivá-los durante o cuidado e para desempenhar seu papel no cuidado do recém-nascido.

Os pais de RNs internados em UTINs têm expressado preocupação com a falta de inclusão do pai no cuidado do bebê. Alguns pais relataram a importância de um convívio igualitário entre pai e mãe, sem exclusão, já que alguns deles sentiram-se pouco valorizados no cuidado como pai. (KIM, 2018). Portanto, é crucial garantir a igualdade e a parceria entre os pais de RNs internados em UTINs, de modo que ambos tenham conhecimento dos procedimentos relacionados ao bebê e estejam dispostos a dialogar com a equipe de enfermagem.

Outro ponto importante é que, no contexto de internação hospitalar dos RNs, é comum que se desenvolvam vínculos entre os pais e as mães envolvidas nos processos de cuidados dos bebês. Essa interação pode ser ilustrada pela forma como eles tendem a ajudar uns aos outros, compartilhando experiências e informações, o que reforça o suporte efetivo ao RN (KIM, 2018).

Um exemplo de como a colaboração entre pais pode beneficiar os cuidados do RN é descrito por uma mãe que relatou que o pai faz um bom trabalho ao enxaguar o bebê, e que isso é aprimorado e aperfeiçoado diariamente através do diálogo e das orientações adequadas. Além disso, a mãe contou que ela própria consegue amamentar o RN de forma satisfatória, o que lhe dá segurança e confiança, mas que recebeu apoio do pai do bebê quando utilizou a mamadeira para alimentá-lo (KIM, 2018).

Pais que possuem agendas lotadas de trabalho e não conseguem estar presentes na UTIN com a mesma frequência que as mães, buscam atualizações sobre a saúde do bebê por meio de profissionais de saúde via online. Além disso, eles querem se sentir incluídos no processo de cuidado ao filho e ter a oportunidade de se envolver com outros pais de bebês prematuros online. Essa busca por inclusão é evidenciada pela preocupação de alguns pais de serem vistos como cuidadores secundários pela equipe de saúde, mesmo quando estavam presentes (KIM, 2018).

A partir da perspectiva dos profissionais, os profissionais partilham um quadro psicológico comum, não apenas no que diz respeito ao ”vínculo”, mas também à culpa associada ao ”ter um bebê prematuro” e à tendência para ”psicologizar” os comportamentos dos pais (apud ORGALI; GORDON, 2004). 

Os profissionais da enfermagem incentivam as mães a terem contato físico com seus bebês prematuros sempre que possível, mesmo que haja uma distância considerável imposta pela tecnologia médica e pelo cuidado diário. Isso é importante para estabelecer um vínculo afetivo entre mãe e filho (ORGALI; GORDON, 2004). 

Diante disso, é notório o envolvimento e nuances das percepções de pais, mães e equipes de enfermagem, pois estes passam por diferentes experiências, dentro das suas modalidades de atuação e expressam seus sentimentos, satisfações e frustrações de maneiras variadas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo aborda de forma ampla e detalhada os variados contextos e situações relacionados à percepção dos pais e da equipe de enfermagem sobre o processo saúde-doença de RNs internados em unidades de terapia intensiva.

Em conclusão, o estudo revelou que a percepção da equipe profissional de enfermagem e dos pais é essencial para o processo de cuidado em Unidades de Terapia Intensiva Neonatal. A comunicação efetiva e a participação ativa dos pais no cuidado do recém-nascido foram identificadas como elementos fundamentais para a construção de um vínculo afetivo. Além disso, muitos pais enfrentam dificuldades financeiras no transporte.

A equipe de enfermagem desempenha um papel importante no suporte e orientação dos pais durante todo o processo. É necessário que sejam implementadas políticas públicas e estratégias institucionais para minimizar essas barreiras e garantir o acesso equitativo aos cuidados de saúde. Além disso, o estudo destaca a importância da formação e capacitação da equipe de enfermagem para lidar com questões emocionais e psicológicas dos pais durante a internação do recém-nascido.

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1Enfermeira da Maternidade Dona Evangelina Rosa (MDER), brunalarissa707@gmail.com
2Graduanda em Enfermagem pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI), vitoriaffnascimento@live.com
3Especialização em Oncologia Experimental e Clínica pela UFPIEnfermeira do Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão- HUUFMA, nadiarfgaleno@hotmail.com
4Graduanda em Enfermagem pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI), amabillythaissa02@gmail.com
5Graduanda em Enfermagem pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), giovannavitoriasantos@gmail.com
6Graduanda em Enfermagem pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI), elyssandraveloso@aluno.uespi.br
7Enfermeiro do Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas – UFPel/Ebserh, alan.jefferson@ebserh.gov.br
8Graduanda em Enfermagem pela Universidade Estadual do Piauí- UESPI, amandasousa4441@gmail.com
9Graduanda em Enfermagem pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI), mariagabrielaribeiro27@gmail.com
10Graduanda em Enfermagem pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI), vyrnaalves@aluno.uespi.br