Pensamento Crítico aplicado à Enfermagem: da teoria à aplicabilidade no exercício de profissionais de Enfermagem

Critical Thinking in Nursing: from theory to applicability in the practice of Nursing professionals

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10428508


Amanda Martins Vanderley1
Daniel Eterno Gomes de Souza2
Maria Clara Gomes da Silva3
Rebeca Ferreira de Souza4
Ludmila de Paula Zago5
Dayse Edwiges Carvalho6
Iolanda Alves Braga7
Lia Vieira Bino8
Paula Carolina Bejo Wolkers9
Newton Ferreira de Paula Júnior10


RESUMO

Introdução: A Enfermagem corresponde à aplicação de práticas humanas, seja ao indivíduo, família ou coletividade, por meio de fundamentações teóricas em associação aos estados de    saúde e doença, junto a condicionantes interrelacionados como relações interpessoais, profissionais, aspectos ético-sociais e biológicos, em interface com  assistências direta e indireta ao paciente-cliente-usuário de forma particular e contextual, a exigir da equipe de Enfermagem, especificamente do enfermeiro, o exercício de habilidades e competências e, dentre elas, a execução do Pensamento Crítico. Objetivo: Discorrer acerca do Pensamento Crítico no contexto da Enfermagem. Referencial teórico: O Pensamento Crítico mostra-se como uma ferramenta de auxílio no exercício do cuidado, no tocante ao estímulo da significância das condutas direcionadas aos contextos experimentados em saúde, por meio do conhecimento teórico e empírico adquiridos e constantes, conforme a constância das práticas clínicas, desde a graduação, tornando o enfermeiro apto e seguro em suas atitudes, a transmitir credibilidade tanto para a equipe quanto para o paciente, em prol da qualidade dos resultados em saúde nos níveis de atenção ao usuário. Considerações Finais: Depreende-se, portanto, a relevância da implementação do emprego do Pensamento Crítico desde a graduação, para que as práxis sejam executadas com base no holismo em interface ao repertório teórico e empírico, a fim de configurar o cenário dos atendimentos prestados, bem como sua avaliação por meio de instrumentos específicos e seu exercício por metodologias ativas.

Palavras-chave: Pensamento Crítico, Raciocínio Clínico, Habilidades de Pensamento, Enfermagem.

ABSTRACT

Introduction: Nursing corresponds to the application of human practices, whether to the individual, family or community, through theoretical foundations in association with health and disease states, along with interrelated conditions such as interpersonal, professional relationships, ethical-social and biological aspects, in interface with direct and indirect assistance to the patient-client-user in a particular and contextual way, requiring the Nursing team, specifically the nurse, to exercise skills and competencies and, among them, the execution of Critical Thinking. Objective: Discuss Critical Thinking in the context of Nursing. Theoretical reference: Critical Thinking is shown to be a tool to assist in the exercise of care, in terms of stimulating the significance of behaviors directed to contexts experienced in health, through theoretical and empirical knowledge acquired and constant, according to the constancy of practices clinics, since graduation, making nurses capable and confident in their attitudes, transmitting credibility to both the team and the patient, in favor of the quality of health results at the levels of care for the user. Final Considerations: Therefore, the relevance of implementing the use of Critical Thinking since graduation can be inferred, so that praxis is carried out based on holism in interface with the theoretical and empirical repertoire, in order to configure the scenario of care provided, as well such as its evaluation through specific instruments and its exercise through active methodologies.

Key words: Critical Thinking, Clinical Reasoning, Thinking Skills, Nursing.1 Acadêmico (a) do curso de Enfermagem – Universidade Estadual de Goiás (UEG), Unidade Universitária Itumbiara2 Enfermeiro (a) – Docente do curso de Enfermagem – Universidade Estadual de Goiás (UEG), Unidade Universitária Itumbiara3 Enfermeira- Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU)4 Técnica de Enfermagem- Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU)5 Enfermeira- Docente do curso de Medicina- Universidade Federal de Catalão (UFCAT) 

INTRODUÇÃO

A Enfermagem é definida como a junção entre a arte e a ciência da prática do cuidado e do manejo assistencial, embasando-se no repertório empírico, histórico e científico, este prevalecendo e fomentando a estrutura da profissão hodiernamente. A Enfermagem corresponde à aplicação de práticas humanas, seja ao indivíduo, família ou coletividade, por meio de fundamentações teóricas em associação aos estados  de saúde e doença, junto a condicionantes interrelacionados como relações interpessoais, profissionais, aspectos ético-sociais e biológicos, em interface com  assistências direta e indireta ao paciente-cliente-usuário de forma particular e contextual, a exigir da equipe de Enfermagem, especificamente do enfermeiro, o exercício de habilidades e competências e, dentre elas, a execução do Pensamento Crítico (PC) (LIMA DJM, 2005).

O PC compreende o processo de desenvolvimento individual na realização de aplicações mediante análise e avaliação de informações adquiridas procedentes da observação e de constatações experimentais, sendo constituído por: problema, propósito, questão em foco, bases empíricas e quadros de referência (ENDERS BC, et al., 2004). Também é nomeado como pensamento analítico, raciocínio clínico, pensamento crítico reflexivo, resolução de problemas e raciocínio diagnóstico (ALVES E, et al., 2014). Aplicado à Enfermagem, contextualiza-se o Processo de Enfermagem (PE) como uma das faces de aplicabilidade do PC, essencialmente a etapa diagnóstica, por exemplo, que é tida como um julgamento intencional resultante em interpretação, análise, avaliação e inferência, além de explanação das evidências que embasam a tomada de decisão das circunstâncias contextuais (BITTENCOURT DGKG; CROSSETTI OGDM, 2013).

O exercício do PC implementa os serviços assistenciais e de cuidados diferencialmente, e, na equipe   de Enfermagem, compõe-se de delegações diferentes, sendo: gestão e gerenciamento de excelência quanto às atividades realizadas pelo enfermeiro, como também  nas práticas clínicas em instituições de saúde; melhor compreensão e execução atualizada e embasada de procedimentos aos técnicos de Enfermagem; e estímulo na discussão de casos clínicos e tomada de decisões frente a diferentes contextos aos acadêmicos e estagiários de Enfermagem. Sendo assim, tem-se que os profissionais de saúde, a enfatizar o enfermeiro, devem ser capazes de tomar decisões, visando ações efetivas pelo custo-benefício entre a assistência segura e o dimensionamento de recursos físicos, materiais e  financeiros (LUIZ FS, et al., 2020).

Nesse sentido, a pesquisa objetivou discorrer acerca do Pensamento Crítico no contexto da Enfermagem. Assim, buca-se responder a seguinte questão norteadora: “Como se apresenta a produção do conhecimento acerca do pensamento crítico no contexto da enfermagem?”

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O PC é dado por um processo complexo e abrangente no contexto da educação em Enfermagem em seu   desenvolvimento, visto que é requerida, tanto do profissional quanto do acadêmico, a capacidade de realizar interfaces com situações clínicas, interpretá-las e, por intermédio de uma concepção holística e um domínio conceitual, promover a elaboração de uma resposta frente ao contexto em questão (RYAN M e COLLONNY D, 2023).

Compreende-se que, para a formulação prévia de pontuações e tomada de decisões acerca de uma determinada ocorrência, constitui-se como importante embasamento teórico ativo junto a uma ampla ótica clínica proveniente de um sequenciamento acadêmico e empírico construído na instituição educativa sob intermédio do corpo docente, instigando a significação de providências aplicadas e procedimentos executados em articulação com o conteúdo lecionado na graduação, tornando-os pertinentes e necessários na composição do exercício de condutas em meio operacional, visando resultados positivos em saúde.

Os problemas de cada paciente são únicos, um produto da saúde física, estilo de vida, cultura, relacionamento com família e amigos, ambiente de vida e experiências (POTTER AP, et al., 2013). Para se tornar um enfermeiro sensível ao holismo, é necessária a compreensão, no encontro de cuidado no qual está presente, de todas as facetas apresentadas pelo paciente-cliente-usuário (RIEGEL F, et al., 2020). A prática de decisões clínicas deve ser sustentada pela concepção de particularidade aplicada ao indivíduo, propiciando a humanização na prestação do atendimento, de modo que cada intervenção tenha pilares metodológicos centrados na ciência do cuidado e da assistência, consoante habilidades inerentes ao enfermeiro e domínios disciplinares associados como anatomia, fisiologia, ética, legislação e semiologia.

Na formação profissional, na perspectiva do referencial holístico e da abordagem dialógica de competência no currículo integrado, o foco está na ação (CHIRELLI QM E SORDI DLRM, 2020). A posse do conhecimento implica uma autonomia de ação, ao permitir respeitabilidade e confiabilidade entre os profissionais, solução das necessidades dos pacientes e atuação racional e eficaz perante a instituição (FENTANES CRL, et al., 2011). Em reflexo ao contexto prático, exemplifica-se em processo de admissão um    paciente que recebe um diagnóstico que exige a implantação de precauções por contato. Ao acionar o PC, é ciente que, acima de precauções específicas, prevalece a precaução padrão a todos pacientes, o que deve ser de conhecimento do enfermeiro e sua equipe; a providência de uma implementação terapêutica adequada às condições clínicas manifestadas (utilizar de equipamentos de uso exclusivo, luvas e aventais descartáveis, dentre outros); a comunicação à equipe e aos colaboradores da instituição e do setor de permanência do paciente, haja a vista a gravidade da doença e seu potencial de contaminação, que podem gerar transtornos financeiros e materiais na gestão. Comprova-se, então, a importância do uso de equipamentos de proteção individual (EPI) tendo em vista que a precaução padrão deve ser seguida por todos os profissionais da saúde, independente do diagnóstico do paciente. Essa precaução consiste na higienização das mãos antes e após o contato com qualquer paciente e no uso de avental, luvas de procedimento, máscara cirúrgica e óculos de proteção quando houver risco de respingo ou não com secreções e fluídos dos pacientes-clientes-usuários (SILVA DMFL, et al., 2021).

A capacidade de pensar criticamente é ampliada por meio da obtenção de novos conhecimentos advindos  da prática de Enfermagem, e continuada por meio de exercícios e outros meios que a estimulem. Assim sendo, o PC pode ser distinguido em três níveis, considerando os diferentes estágios onde se encontram estudantes e profissionais da área, e por onde transitam conforme ascendem em suas carreiras e consequentes experiências práticas (SAYLOR e KATAOKA-YAHIRO, 1994).

O PC básico, equivalente ao primeiro nível, corresponde a um passo inicial para o desenvolvimento do raciocínio. Nele, pensamentos são concretos e baseiam-se em regras ou princípios a serem seguidos, e respostas corretas são buscadas para a resolução de problemas complexos. O estudante ou profissional de Enfermagem não possui experiência suficiente para prever formas de individualizar procedimentos. Na realização de um cateterismo vesical, opta por seguir o manual da unidade em que atua para confirmar o modo de inserção do cateter de Foley, e não faz adaptações para atender as necessidades que o paciente- cliente-usuário pode ter, como ajustes no posicionamento para redução de dor ou limitações quanto à mobilidade (POTTER PA, 2013; PEIXOTO AF, et al., 2021). Em pacientes do sexo feminino  com fratura de membros inferiores, a posição ginecológica ou litotômica, necessária para a realização do procedimento, pode não ser possível, requerendo PC por parte do Enfermeiro para adequação.

No segundo nível, que corresponde ao PC complexo, profissionais são caracterizados como criativos e inovadores e pesam benefícios e riscos de decisões antes de tomá-las para a resolução de problemas. Consideram diferentes abordagens para a mesma terapia, e separam-se de especialistas, olhando além da opinião destes e examinando escolhas de modo independente. A exemplificar, se um paciente  realiza uma cirurgia e apresenta quadro álgico, porém se recusa a aderir à terapia analgésica proposta, o estudante ou profissional de Enfermagem pode, pensando crítica e complexamente, compreender a razão da  relutância do paciente, dialogar sobre a importância da reabilitação e propor alternativas que, simultaneamente, satisfaçam-no, melhorem a algia e não prejudiquem o processo recuperatório (POTTER PA, 2013; SAYLOR e KATAOKA-YAHIRO, 1994).

O profissional de Enfermagem, no Compromisso, terceiro nível do PC, dispõe de maior conhecimento e experiência, e é capaz de antecipar quando fazer escolhas sem ajuda. Além de considerar as complexas alternativas que representam um problema, faz escolhas baseando-se nas opções disponíveis e as apoia, mesmo que a conduta envolva aguardar, retardar ou adiar uma ação até um momento posterior. Outrossim, aceita e assume a responsabilidade pelas decisões tomadas (POTTER PA, 2013).

Os processos gerais do PC sobre-excedem o campo da Enfermagem, abarcando método científico, resolução de problemas, processo decisório, raciocínio diagnóstico, inferência clínica e tomada de decisões clínicas, fatores esses essenciais à práxis, visto que pensar e refletir de maneira crítica concede a compreensão das incongruências conjunturais, e possibilita um direcionamento clínico (POTTER; PERRY, 2021).

Na perspectiva do PC geral, o método científico é um instrumento de abordagem sistemática que possibilita a resolução de problemas. Essa abordagem concede ao enfermeiro a possibilidade de avaliação e contestação da materialidade por meio de cinco etapas: identificação do problema, coleta de dados, elaboração, teste e avaliação de hipóteses. Assim, norteia a decisão de um conjunto de ações e intervenções a serem adotadas por enfermeiros frente a problemas (POTTER; PERRY, 2021).

A tomada de decisão constitui-se como um processo hegemônico centralizado na resolutividade de problemas e hipóteses. Contudo, dada a complexidade das questões, tais condutas são substratos de um sistema de crenças, valores e experiências, que necessitam ser ponderadas em cada situação, pois tais elementos do campo da subjetividade proporcionam maior propriedade na tomada de decisão (EDUARDO, 2015).

O PC específico, cuja abordagem metodológica é consubstancialmente clínica, evidencia o raciocínio diagnóstico e a inferência como elementos que se complementam na prática clínica. Frente à situação clínica, o enfermeiro necessita obter dados pertinentes ao paciente-cliente-usuário, que contemplem sua totalidade, ou seja, o paciente-cliente-usuário como elemento central, família e coletividade. Deste modo, é fundamental a análise criteriosa, a organização e a interpretação dos dados que vão subsidiar a inferência clínica. Baseando-se na verificação de inferências clínicas, elabora-se a construção de padrões de dados que vão possibilitar o levantamento de hipóteses diagnósticas (BITTENCOURT, 2013).

A tomada de decisões clínicas pauta-se em resolução de problemas. No entanto, não é cerceada ao raciocínio diagnóstico quando o objetivo da abordagem é compreender múltiplos aspectos do paciente- cliente-usuário. A equipe de enfermagem possui relação constante e direta com o paciente-cliente-usuário a depender da circunstância clínica (BAPTISTA, 2018). Tal fator proporciona ao enfermeiro a experiência e a possibilidade de compreender o paciente-cliente-usuário em todas as dimensões, o que possibilita uma tomada de decisão abrangente, concreta e adequada.

A aptidão para pensar criticamente permite a articulação da capacidade de aprimorar a prática clínica e minimizar erros em julgamentos clínicos. Inúmeros autores empenham-se na busca de desenvolvimento de estratégias que possibilitem a instrução do PC. Nesse contexto, expõe-se um método voltado ao julgamento na prática de enfermagem, sendo constituído por cinco elementos subsequentes ao PC: base do conhecimento, experiência, o PE como competência, atitudes e normas (KATAOKA-YAHIRO; SAYLOR, 1994). Seu aporte conceitual proporciona capilaridade ao conhecimento do profissional enfermeiro, decorrendo maior competência no planejamento e na avaliação de resultados.

A base específica de conhecimento do enfermeiro é o primeiro elemento do método. O conhecimento proporciona um esteio que possibilita maior desenvoltura à força de trabalho da enfermagem (POTTER; PERRY, 2021). Nesse contexto, considerando que a educação em enfermagem é propriamente generalista, é fundamental compreender que a construção de conhecimento do enfermeiro decorre de uma multiplicidade de aspectos que englobam a qualidade do ensino básico de enfermagem, educação continuada, graus acadêmicos, interesse próprio em consulta a literaturas e práticas. Contudo, partindo do pressuposto que a enfermagem como o campo de saber compreende o indivíduo em um amplo aspecto, considerando sua origem e natureza, a construção de um conhecimento extenso e concreto, está diretamente associada a capacidade de pensar criticamente no cuidado e na assistência de enfermagem.

A experiência é outro elemento de valor citável, tendo em vista que a enfermagem possui uma robustez em termos de práxis. Usualmente, a prática clínica no ensino em enfermagem possui uma abordagem microscópica, o que desencadeia alguns entraves, na prática profissional, visto que a conjuntura é permeada de aspectos políticos, sócio-culturais e burocráticos (SILVA, 2010). Essa experiência possibilita compreender, a partir da observação e exercício de análise, os aspectos multidimensionais que envolvem o paciente-cliente- usuário. Tal fator gera grande contribuição na construção da força de trabalho do enfermeiro, o que permite melhor desempenho no planejamento de trabalho, avaliação de prioridades e reconhecimento precoce de mudanças em padrões clínicos.

O PE, expresso como um substrato da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), caracteriza- se em um referencial teórico-metodológico que orienta a práxis. É o terceiro elemento do método, sendo fundamental a articulação com os aspectos do PC. Assim, entende-se que para consubstanciar a práxis, é imprescindível o desenvolvimento de habilidades cognitivas, interpessoais e atitudinais do profissional (BITTENCOURT, 2013).

As atitudes são o quarto elemento do método, sendo expressas como elementos centrais na abordagem de um pensador crítico e tidas como norteadoras da prática clínica com abordagem dinâmica e extensa na tomada de decisão (POTTER; PERRY, 2021). Menciona-se confiança, pensamento independente, justiça, responsabilidade e autoridade, assunção de riscos, disciplina, perseverança, criatividade, curiosidade, integridade e humildade.

Normas para o PC é o quinto elemento do método, subdividido em padrões inter-relacionados: intelectuais e profissionais. Os padrões intelectuais correspondem a 14 elementos determinantes e condicionantes do pensamento racional. São eles: clareza, precisão, especificidade, acuidade, relevância, plausibilidade, consistência, logicidade, profundidade, amplitude, completude, significância, adequação e justeza. Quando aplicados, exercem uma orientação dinâmica e meticulosa no PE, subsidiando a prática clínica, permitindo o uso preciso do PC, isento de precipitações (POTTER; PERRY, 2021).

Os padrões profissionais, por sua vez, associam-se a preceitos éticos com base em evidências, e preceitos de responsabilidade profissional, que se associam diretamente à qualidade da assistência (POTTER; PERRY, 2021). O paciente-cliente-usuário, objeto central da prática clínica, possui sistemas de crenças, valores, princípios e ideias. Assim, o cuidado por parte do enfermeiro pensador crítico requer atenção quanto à tomada de decisão em um prisma que aborde conjunturas além das relacionadas a conhecimentos científicos.

O objeto central da prática clínica, o paciente-cliente-usuário, possui um vasto sistema de crenças, valores, convicções, princípios e ideais. Logo, o cuidado requer do enfermeiro, como pensador crítico, ao tomar decisões, uma atenção além da aplicação estrita dos conhecimentos científicos.

Também para desenvolvimento e uso do PC, é de extrema valia o uso de critérios baseados em evidências, que se baseiam em resultados de investigações ou padrões direcionados à otimização da assistência e do cuidado prestado ao paciente-cliente-usuário. A exemplificar, as taxonomias de enfermagem são construídas com base em revisões sistemáticas de evidências científicas, que podem ser utilizadas em diversos campos de atuação em enfermagem. A articulação com essas taxonomias proporciona um direcionamento na avaliação e elaboração de estratégias frente às situações clínicas (LEMOS, 2020).

Entretanto, determina-se como desafio a aplicação das habilidades relacionadas ao PC. Assim sendo, destacam-se ferramentas para enfatizar o uso e tornar o PC continuado por intermédio da estimulação rotineira no exercício da equipe. A ação estimulante pode partir de enfermeiros em cargos de coordenação

ou gestão, direcionando treinamentos ou instituindo afazeres rotineiros que incite o exercício do PC de toda a equipe.

Em primeiro plano há o diário reflexivo, meio teórico utilizado para o desenvolvimento de PC e reflexão, esclarecendo conceitos e descrevendo experiências clínicas, explorando percepções visuais e aplicando a teoria na prática (POTTER PA, 2013).

Em segundo plano, de realização prática, reuniões regulares com colegas para discussão e análise de experiências de trabalho demonstram eficácia valorosa. O diálogo permite questionamentos, exposição de perspectivas distintas e compartilhamento de ocorridos, o que, consequentemente, desenvolve o PC reflexivo (POTTER PA, 2013).

Estimulando e estruturando ideias, e representando visualmente problemas e intervenções, mapas conceituais sintetizam idealmente dados, diagnóstico, intervenções, medidas avaliativas e necessidades de pacientes-clientes-usuários. A depender da ascensão de estudantes e profissionais nos níveis de PC, os mapas tornam-se mais abrangentes, detalhados e integrados (POTTER PA, 2013).

Visando à promoção de habilidades como análise, síntese, avaliação e diferentes abordagens de uma mesma situação, usufrui-se de questionamentos, que direcionam as suposições de estudantes, especificamente (CROSSETTI MG et al., 2009).

Em outro plano, sob a mesma perspectiva, estudos de caso estimulam o ensino recorrendo a situações- problemas, bem como sintetizando e testando hipóteses. Por consequência, facilita a reflexão e a ação participativa (CROSSETTI MG et al., 2009).

De modo distinto e atrativo, despertando curiosidade, o ensino online, junto à aprendizagem interativa, promove feedbacks por meio da comunicação entre diferentes indivíduos, facilitando o aprendizado efetivo, preparando perceptores, estimulando o uso de novas tecnologias e a participação do indivíduo por meio do processo colaborativo (CROSSETTI MG et al., 2009).

Menciona-se também a aprendizagem baseada em problemas, que aumenta o PC, amplia conhecimentos, incentiva a autonomia, avalia o processo de aprendizagem, desenvolve raciocínios e trabalha conceitos (CROSSETTI MG et al., 2009).

Além de continuado, o PC deve ser avaliado em momentos diversos e distintos, utilizando-se de mais de uma estratégia, como instrumentos criados especificamente para o fim em questão, ou que se adequem a ele. A ação também pode ser executada por enfermeiros ocupantes de cargos de coordenação ou gestão, em vista da posição de liderança que move e trabalha junto à equipe, estimulando-a.

Menciona-se o inventário Real World Outcomes, que considerando o cotidiano dos profissionais, permite a mensuração do grau de PC que permeia o raciocínio e a avaliação de comportamentos errôneos por meio de seus resultados negativos, presumindo a ausência de PC. A prova de PC, de Santiuste Berjamo, Ayala, Barriguete, Garcia, González, Rossignoli & Toledo, em síntese, avalia razões e elementos que embasam as ações e sustentam o ponto de vista dos profissionais, considerando a possibilidade de integração de diferentes pontos de vista ou um contraste com a perspectiva correta pelo indivíduo. Há também o Teste de PC Pencrisal, desenvolvido e validado originalmente na população espanhola e demonstrando relevância ao   englobar 35 itens relacionados a situações do cotidiano e propondo problemas de áreas do conhecimento diversas, sendo trabalhados em formato de questões abertas e respostas únicas. Desta forma, avalia habilidades fundamentais de pensamento e modos de reflexão e solução mais relevantes na rotina da ação de profissionais da área.

Outros instrumentos avaliam habilidades específicas, como análise, autorregulação, inferência, indução, dedução, espírito analítico, abertura do pensamento, autoconfiança no PC e outras, evidencia-se California Critical Thinking Skills Test (CCTST), California Critical Thinking Disposition Inventory (CCTDI) e Cornell Critical Thinking (RIEGEL F e CROSSETI MGO, 2018).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O PC configura-se como um julgamento contextual proveniente da junção de conhecimentos e vivências adquiridas que, no prisma da Enfermagem, dão-se pela análise e tomada decisões com explicações baseadas em evidências e situações cotidianas experimentadas. O enfermeiro, como figura gestora do cuidado e da assistência, deve exercer a significação dos procedimentos feitos, condutas tomadas e serviços de gerenciamento ministrados para prestar um atendimento de excelência, considerando o holismo e seus respectivos prismas, como também providenciar o estímulo à ótica crítica pela equipe e colaboradores associados por meio de cursos de capacitação, reuniões periódicas para discussão de casos clínicos, realização de mapas conceituais e outros meios.

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Amanda Martins Vanderley -Acadêmico (a) do curso de Enfermagem – Universidade Estadual de Goiás (UEG), Unidade Universitária Itumbiara
Daniel Eterno Gomes de Souza – Acadêmico (a) do curso de Enfermagem – Universidade Estadual de Goiás (UEG), Unidade Universitária Itumbiara
Maria Clara Gomes da Silva – Acadêmico (a) do curso de Enfermagem – Universidade Estadual de Goiás (UEG), Unidade Universitária Itumbiara
Rebeca Ferreira de Souza – Acadêmico (a) do curso de Enfermagem – Universidade Estadual de Goiás (UEG), Unidade Universitária Itumbiara
Ludmila de Paula Zago – Enfermeiro (a) – Docente do curso de Enfermagem – Universidade Estadual de Goiás (UEG), Unidade Universitária Itumbiara
Dayse Edwiges Carvalho – Enfermeiro (a) – Docente do curso de Enfermagem – Universidade Estadual de Goiás (UEG), Unidade Universitária Itumbiara
Iolanda Alves Braga – Enfermeira- Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU)
Lia Vieira Bino – Técnica de Enfermagem- Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU)
Paula Carolina Bejo Wolkers – Enfermeira- Docente do curso de Medicina- Universidade Federal de Catalão (UFCAT) Newton Ferreira de Paula Júnior – Enfermeiro (a) – Docente do curso de Enfermagem – Universidade Estadual de Goiás (UEG), Unidade Universitária Itumbiara