PARTICIPAÇÃO DOS FAMILIARES NO CUIDADO EM SAÚDE MENTAL DE JOVENS E CRIANÇAS ACOMPANHADOS POR CAPSI: UMA REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202501081558


Amarante, Kellen Patrícia Félix
Silva, Sheila Rosa da
Orientadora: Resende, Tania Inessa Martins de


RESUMO

No âmbito infantojuvenil, o CAPSi se configura como um espaço privilegiado para o acompanhamento terapêutico de crianças e adolescentes que apresentam transtornos mentais graves, buscando a reabilitação do indivíduo e a ampliação de suas redes de apoio. Neste contexto, a participação ativa dos familiares das crianças e adolescentes acompanhadas no serviço se revela como um componente essencial do cuidado. O objetivo desse artigo foi realizar uma revisão integrativa da literatura sobre a participação de familiares de crianças e adolescentes atendidos nos CAPSi. A coleta de dados foi realizada por meio de busca eletrônica na base de dados PubMed, utilizando os descritores “saúde mental”, “crianças e adolescentes”, “famílias”, “grupos” e “CAPSi”. O período de publicação considerado foi de 2019 a 2024, abrangendo os últimos cinco anos, com a coleta dos dados ocorrendo no mês de novembro segundo semestre de 2024. Os resultados revelaram que todos os mais de 80% dos artigos selecionados foram pesquisa de campo. Na etapa de categorização, os artigos selecionados foram divididos 3 categorias: ‘‘Percepção dos familiares sobre seu papel no cuidado em saúde mental infantojuvenil’’, ‘‘Interação e comunicação entre profissionais de CAPSi e familiares dos usuários’’ e ‘‘Desafios e especificidades do envolvimento familiar no acompanhamento em saúde mental de jovens e crianças e adolescentes’’. Os resultados indicaram que, apesar dos avanços na abordagem psicossocial, ainda existem desafios significativos, como a falta de alinhamento entre as expectativas familiares e os serviços de saúde, barreiras de comunicação, dificuldades estruturais e logísticas que limitam a continuidade do cuidado.

Palavras-chave: Saúde mental. Crianças e adolescentes. Famílias. CAPSi.

INTRODUÇÃO

A atenção à saúde mental de crianças e adolescentes é um dos desafios mais complexos no campo da saúde pública, exigindo abordagens interdisciplinares e integração de diversos atores sociais. Os Centros de Atenção Psicossocial Infanto-juvenil (CAPSi), instituídos no Brasil como parte da Política Nacional de Saúde Mental, desempenham um papel fundamental no cuidado a essa população, oferecendo serviços especializados, continuados e territorializados.1 No âmbito infanto-juvenil, o CAPSi se configura como um espaço privilegiado para o acompanhamento terapêutico de crianças e adolescentes que apresentam transtornos mentais graves, buscando não apenas a reabilitação do indivíduo, mas também a promoção de seu desenvolvimento integral e a ampliação de suas redes de apoio.1,2

Neste contexto, a participação ativa dos familiares das crianças e adolescentes se revela como um componente essencial do cuidado em saúde mental.3 Famílias frequentemente desempenham um papel central no apoio emocional, logístico e terapêutico aos jovens em tratamento, funcionando como extensão do cuidado promovido pelos profissionais do CAPS.4 A abordagem dos familiares pelos profissionais de saúde deve considerar a dinâmica familiar, os desafios enfrentados por esses cuidadores e a importância de fortalecê-los como coparticipantes no processo terapêutico. Estudos sugerem que a colaboração efetiva entre profissionais e famílias está associada a melhores desfechos terapêuticos, incluindo a adesão ao tratamento, redução de recaídas e maior qualidade de vida para o paciente e seus familiares.5

Dada a relevância desse tema, torna-se imprescindível investigar como a literatura científica tem abordado a participação ativa dos familiares no contexto do CAPS infanto-juvenil. Atualizar os profissionais que atuam nos CAPS com informações científicas robustas contribui para a qualificação do cuidado ofertado, além de promover a construção de um modelo de atenção à saúde mental mais humanizado e eficaz.

O presente artigo tem como objetivo realizar uma revisão integrativa da literatura sobre a participação ativa de familiares de crianças e adolescentes atendidos nos CAPSi, explorando as estratégias de abordagem utilizadas pelos profissionais, os benefícios associados ao envolvimento familiar no processo terapêutico e as implicações para a prática baseada em evidências.

MATERIAIS E MÉTODOS

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, conduzida com o objetivo de sintetizar o conhecimento científico existente sobre a participação ativa de familiares de crianças e adolescentes atendidos nos Centros de Atenção Psicossocial Infanto-juvenil. A coleta de dados foi realizada por meio de busca eletrônica na base de dados PubMed, utilizando os descritores “saúde mental”, “crianças e adolescentes”, “famílias”, “grupos” e “CAPSi”, combinados com operadores booleanos. O período de publicação considerado foi de 2019 a 2024, abrangendo os últimos cinco anos, com a coleta dos dados ocorrendo no mês de novembro no segundo semestre de 2024.

Os critérios de inclusão para a seleção dos artigos foram: (1) ser um artigo original; (2) estar escrito em língua portuguesa ou espanhola; (3) ter sido publicado no período de 2019 a 2024; e (4) apresentar o texto completo disponível. Inicialmente, foram encontrados 141 artigos após a aplicação dos descritores e filtros. Destes, 39 publicações estavam relacionadas ao tema proposto. Após a leitura integral e aplicação dos critérios de inclusão, a amostra final foi composta por 67 artigos que atenderam plenamente aos requisitos estabelecidos.

Ao término da seleção dos artigos, com a exploração dos textos, foi construído um instrumento base para a organização dos dados, contendo titulo do artigo, nome do periódico e ano de publicação. Para alcançar o objetivo proposto, elegeu-se a técnica de análise de conteúdo temática, seguindo as etapas de pré-análise, com leitura flutuante, etapa de classificação e categorização, com análise e integração dos dados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados, sintetizados no quadro 1, revelaram que todos 5 dos artigos selecionados (83,3%) foram pesquisa de campo e 1 artigo foi relato de experiência. Os anos em que houveram maior número de publicações acerca da temática foram 2019 e  2022 com 2  artigos (33,33%) cada. . Foi publicado 1 artigo (11,1%) em 2020 e 1 artigo em 2023 sobre o tema. Não foram encontradas publicações no ano de 2024 que estivessem dentro dos critérios de inclusão selecionados.

TÍTULO DO ARTIGOANOOBJETIVO DA PESQUISARESUMO DOS ACHADOS
Percepção de familiares quanto ao seu papel no cuidado à criança e ao adolescente usuários de um Caps  infanto juvenil2019Entender  a  família  e  o  papel  do  Centro  de  Atenção  Psicossocial  Infanto  Juvenil  (CAPS IJ) de Apucarana-PR no cuidado à criança e ao adolescente em sofrimento psíquico, na perspectiva dos próprios familiares.Apesar das famílias terem participação essencial no cuidado terapêutico, muitos familiares ainda desconhecem qual o seu real papel no cuidado e tratamento do indivíduo com transtorno mental, além de terem dificuldade de perceber a posição do CAPS neste processo.
Percepções de Familiares sobre uma Rede de Cuidados de Saúde Mental Infantojuvenil2023Analisar a operacionalização de uma rede de Saúde Mental sob a ótica de familiares responsáveis pelo cuidado de crianças em sofrimento psíquico.Os resultados apontam para dificuldades presentes na Atenção Básica em identificar e manejar situações de Saúde Mental Infanto-juvenil, por meio de uma lógica ainda medicalizante.
Relato de experiência – conexões com a família no trabalho na saúde mental infantojuvenil: entre um ideal e o cotidiano2023Analisar um caso com demanda para a saúde mental  através de linhas que indicam possibilidades de enlaces e articulações dos atores envolvidosApesar dos desafios do trabalho com esse público, uma análise da composição das forças que atuam nos diferentes encontros é essencial para a construção de uma prática potente e resolutiva que contribua para a autonomia das famílias de crianças e adolescentes acompanhados nas políticas públicas
Comunicação profissional-familiar em um centro de atenção psicossocial infantil: práticas e dificuldades2019Aanalisar as percepções dos familiares de usuários de um centro de atenção psicossocial infantil, quanto aos fatores facilitadores e às dificuldades na comunicação com os profissionais de saúde.Há necessidade de colaboração entre gestão, equipe e familiares, o que pode contribuir para uma melhor assistência à saúde e para a construção de relações mais solidárias e dialógicas.
Adolescência e saúde mental: a compreensão da família sobre o transtorno mental e sua influência na adesão ao tratamento2022Identificar a compreensão da família sobre a adolescência, o transtorno mental e sua influência na adesão ao tratamentoConsidera-se que a família possui papel essencial no cuidado em saúde mental de adolescentes, sendo sua percepção importante na adesão ao tratamento, agindo assim como efetiva rede de suporte.
Narrativas de familiares de autistas de CAPSi da região metropolitana do Rio de Janeiro: participação, protagonismo e barreiras ao cuidado2020Examinar como os familiares vêm se mobilizando e como avaliam sua inserção no projeto terapêutico dos filhos, dado que este implica necessariamente o apoio aos responsáveis.Uma maior aproximação dos Capsi CAPSi com os familiares – por meio da valorização de suas falas, do acolhimento ao seu sofrimento e do estímulo e respeito a sua auto-organização – pode ser estratégica para a preservação e a consolidação das conquistas da Reforma Psiquiátrica brasileira e para a superação de obstáculos no cumprimento do mandato psicossocial desses serviços

Quadro 1: Síntese dos artigos selecionados para revisão integrativa

Na etapa de categorização, para melhor discussão dos resultados, os artigos selecionados foram divididos 3 categorias, sendo elas: ‘‘Percepção dos familiares sobre seu papel no cuidado em saúde mental infantojuvenil’’, ‘‘Interação e comunicação entre profissionais de CAPSi e familiares dos usuários’’ e ‘‘Desafios e especificidades do envolvimento familiar no acompanhamento em saúde mental de jovens e crianças e adolescentes’’.

Percepção dos familiares sobre seu papel no cuidado em saúde mental infantojuvenil.

Os artigos analisados que tratavam sobre a percepção dos familiares acerca de seu papel no cuidado em saúde mental infanto-juvenil destacaram que essa participação é essencial e multifacetada, envolvendo aspectos emocionais, afetivos e de corresponsabilização no tratamento. Todos os estudos sobre esse tema foram qualitativos e realizados com famílias de pacientes atendidos nos Centros de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (CAPSi). Estes oferecem evidências importantes sobre o tema, evidenciando tanto as potencialidades quanto os desafios enfrentados por essas famílias no âmbito do cuidado em saúde mental.6,7

Um dos estudos desenvolvidos buscou compreender a percepção das famílias sobre a adolescência, o transtorno mental e sua influência na adesão ao tratamento. O estudo destaca que a relação entre família e transtorno mental é marcada por dificuldade em identificar sinais precoces de sofrimento psíquico, o que muitas vezes retarda a busca por ajuda.6 Outro fator de influência nessa dinâmica que merece destaque são os  estereótipos sociais, como discursos religiosos, que podem criar barreiras para que a família conduza o jovem para o início do tratamento. Apesar disso, pode-se dizer que a maioria dos familiares reconhece sua importância como rede de suporte, mesmo em um contexto de medo e angústia. A corresponsabilidade entre família e serviço de saúde mental foi destacada como um aspecto positivo e essencial para o sucesso do tratamento.6,8,9

Outro estudo reforça esses achados ao evidenciar uma dicotomia percebida pelos familiares entre “cuidado” e “tratamento”. Muitos participantes do estudo em questão atribuíram exclusivamente ao CAPSi o papel de tratamento, desconhecendo o conceito de cuidado em saúde. Essa percepção demonstra a necessidade de maior diálogo entre os profissionais do CAPSi e as famílias, especialmente para alinhar expectativas e orientações sobre o papel de cada ator no processo terapêutico.7

Todos os estudos evidenciaram que, apesar da participação ativa das famílias, ainda há lacunas no entendimento sobre seu papel e no alinhamento com os princípios da Reforma Psiquiátrica Brasileira.6,7 A integração entre serviços de saúde mental e familiares, por meio de práticas inclusivas e dialógicas, é fundamental para melhorar os resultados terapêuticos e promover um cuidado integral.6,7,10

Interação e comunicação entre profissionais de CAPSi e familiares dos usuários.

A interação e comunicação entre os profissionais de saúde mental e os familiares de crianças e adolescentes atendidos em Centros de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (CAPSi) são componentes essenciais para o sucesso do cuidado em saúde mental. Essa relação exige não apenas habilidades técnicas, mas também posturas dialógicas e humanizadas que valorizem a participação ativa dos familiares no processo terapêutico. No entanto, as pesquisas mostram que ainda existem desafios significativos na construção de um diálogo efetivo e inclusivo entre profissionais e familiares, o que pode comprometer a qualidade do cuidado prestado.11,12

Um dos principais obstáculos na comunicação é a manutenção de modelos tradicionais e hierárquicos, nos quais os saberes técnicos prevalecem sobre as vivências e percepções dos familiares. Esse desequilíbrio frequentemente gera uma relação distante, em que os familiares não se sentem incluídos nas decisões e no planejamento do cuidado. Por outro lado, quando os profissionais adotam uma postura humanizada e fornecem orientações claras, a comunicação se torna um facilitador essencial para o estabelecimento de uma parceria sólida. Isso destaca a necessidade de mudanças estruturais e culturais nos serviços de saúde mental.11,13, 14

Em um dos estudos selecionados, são propostas estratégias para melhorar a comunicação, como a realização de reuniões sistemáticas entre profissionais e familiares e a utilização de ferramentas tecnológicas, como aplicativos de mensagens, para promover maior agilidade e proximidade.11 Além disso, enfatiza-se o papel dos gestores na implementação de programas educativos que promovam uma interação mais próxima e dialógica. De acordo com os autores, essas medidas não apenas fortalecem a relação entre os envolvidos, mas também criam um ambiente mais favorável ao desenvolvimento de práticas de cuidado integradas e efetivas.11,14

A comunicação também é vista como uma tecnologia essencial para o cuidado em saúde mental, com potencial para transformar encontros entre profissionais e familiares em espaços de autonomia e promoção da saúde.14 Para isso, os profissionais devem ser capacitados a enxergar a comunicação como um instrumento de trabalho, e os currículos de formação em saúde mental devem incluir disciplinas que abordem a comunicação como uma competência fundamental. Esse enfoque não apenas melhora o cuidado, mas também contribui para que os familiares se sintam mais preparados e envolvidos no processo terapêutico.11,15

Outro estudo selecionado traz uma reflexão crítica sobre as práticas de saúde mental e o impacto das relações estabelecidas entre profissionais e familiares.12 Ele aponta como as equipes de saúde muitas vezes operam com base em modelos normativos, que desconsideram as particularidades culturais, sociais e econômicas das famílias atendidas. Essa abordagem homogênea dificulta a construção de vínculos genuínos e impede a valorização das singularidades das famílias, reduzindo as possibilidades de autonomia e protagonismo no cuidado. Para superar essa limitação, é necessário que as práticas de saúde mental sejam reconfiguradas, permitindo maior flexibilidade e acolhimento das diversidades.12,13

Outro aspecto abordado neste segundo estudo é a dificuldade de lidar com as vulnerabilidades múltiplas enfrentadas pelas famílias. Essas condições muitas vezes desestabilizam tanto os familiares quanto os próprios profissionais, gerando desafios adicionais para o estabelecimento de uma comunicação eficaz. Nesse contexto, práticas sensíveis e inclusivas são fundamentais para construir relações que possibilitem novas formas de convivência e enfrentamento do sofrimento mental. Sustentar essas práticas exige esforço contínuo das equipes, mas traz benefícios significativos para todos os envolvidos.12

Todos os estudos desta categoria analisados destacam a importância de um cuidado coletivo e participativo, em que as diferenças sejam respeitadas e valorizadas.11,12,13 Ao estabelecer conexões sensíveis e reconhecer as vulnerabilidades das famílias, os profissionais podem transformar a comunicação em uma ferramenta poderosa para o cuidado integral. Isso exige um compromisso constante com a escuta ativa e o diálogo, promovendo não apenas a adesão ao tratamento, mas também o fortalecimento da autonomia dos familiares e usuários.15

Em suma, a comunicação entre profissionais e familiares no CAPSi deve ser compreendida como um processo central e indispensável para o cuidado em saúde mental. Adotar posturas dialógicas e acolhedoras, investir em capacitações e promover a reflexão sobre as práticas adotadas são passos fundamentais para construir uma relação de confiança e corresponsabilidade. Assim, é possível criar um ambiente terapêutico mais inclusivo, que respeite as singularidades das famílias e esteja alinhado aos princípios da Reforma Psiquiátrica Brasileira.16

Desafios e especificidades do envolvimento familiar no acompanhamento em saúde mental de jovens e crianças e adolescentes.

Sobre esse aspecto, estudos destacam que ainda persistem barreiras significativas de acesso que impactam a continuidade do tratamento.17,18 Problemas relacionados ao transporte, às limitações de horários e frequência dos atendimentos, bem como à precariedade do espaço físico, foram frequentemente mencionados por familiares em um estudo.18 Foi identificado que esses desafios estão associados às desigualdades territoriais e às deficiências na infraestrutura pública, refletindo a fragilidade do sistema de saúde em contextos de retrocesso político-econômico no Brasil.17

Uma abordagem integrada que envolva gestores, trabalhadores e familiares é essencial para superar essas barreiras. A valorização das demandas familiares e a promoção de sua auto-organização podem contribuir para a superação de obstáculos, reforçando o papel do CAPSi na garantia de um cuidado efetivo e humanizado.19

Uma especificidade relevante é o fortalecimento do protagonismo dos familiares no cuidado e na busca por direitos. Um estudo realizado na Região Metropolitana do Rio de Janeiro destacou que muitos familiares de crianças e adolescentes autistas atendidos em CAPSi começaram a se envolver em formas distintas de ativismo, exigindo políticas públicas que reconheçam a relevância desses serviços. Esse movimento demonstra uma transição importante: de uma posição passiva para uma atuação mais ativa e engajada no contexto do cuidado.18

Essa participação ativa dos familiares não apenas fortalece a demanda por uma atenção psicossocial de qualidade, mas também estimula os serviços a reconhecerem o sofrimento e as necessidades dessas famílias. O acolhimento desse sofrimento é fundamental para a construção de uma relação de apoio mútuo e para o enfrentamento das dificuldades cotidianas.18,19

CONCLUSÃO

A participação dos familiares de crianças e adolescentes no tratamento nos Centros de Atenção Psicossocial Infantojuvenil é um componente essencial para o sucesso do cuidado em saúde mental. Esta revisão evidenciou que a colaboração entre os profissionais e as famílias fornece melhores avanços terapêuticos, promove a adesão ao tratamento e amplia as redes de apoio, contribuindo para a qualidade de vida tanto da criança/adolescente quanto da família. 

Os resultados indicaram que, apesar dos avanços na abordagem psicossocial, ainda existem desafios significativos, como a falta de alinhamento entre as expectativas familiares e os serviços de saúde, barreiras de comunicação, dificuldades estruturais e logísticas que limitam a continuidade do cuidado. Assim, estratégias de formação e capacitação dos profissionais, práticas dialógicas e maior investimento na infraestrutura e no acolhimento das demandas familiares são fundamentais para consolidar um modelo de atenção mais inclusivo e humano.

Além disso, a valorização do protagonismo familiar, incluindo ações de ativismo e engajamento social, pode contribuir para o fortalecimento dos serviços e a ampliação dos direitos dos usuários. Também, a realização de novos estudos que abordem conjuntamente a perspectiva de famílias, adolescentes e profissionais se faz necessária para a construção de estratégias coletivas que fortaleçam o cuidado em saúde mental.

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