PARTICIPAÇÃO DO PAI NO GRUPO DE GESTANTES: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

THE PARTICIPATION OF FATHER IN THE PREGNANT GROUP: AN EXPERIENCE REPORT

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10635110


CHEDID, GRACE REITER1
COELHO, DIOELEN
V. BORGES SOUZA DE AQUINO2


RESUMO 

A presença do companheiro da gestante durante o acompanhamento de pré-natal é fator que permite a rediscussão do papel do pai na gestação visando implementar uma mudança de paradigma familiar onde ele deixa de ser mero “provedor” e passa a ser protagonista nos cuidados necessários no decorrer de todo o processo da gestação, parto e cuidados com o recém-nascido. A atuação do enfermeiro em ações educativas individuais para o casal, com reafirmação e incremento no Grupo de Gestantes, empodera o genitor com informações que até então lhe eram desconhecidas e acabavam deixando o pai como mero espectador do binômio mãe-bebe. Nesse sentido, este estudo objetiva relatar a experiência vivenciada pela enfermeira no Grupo de Gestantes, contemplado no programa Estratégia de Saúde de Família, na cidade de Dourados/MS. A metodologia envolve abordagem qualitativa de cunho descritivo de um relato de experiência da enfermeira em que os companheiros acompanharam as gestantes em reunião no grupo de gestantes, após convite na consulta de pré-natal do casal. Os resultados revelaram o fortalecimento do vínculo entre o casal, entre eles e a equipe de ESF, com melhor aproveitamento das ações educativas.  

Palavras-chave: Educação em saúde; Grupo de Gestantes; Papel do Pai. 

ABSTRACT 

The presence of father during the prenatal is a factor that allows the discussion of the father’s role in pregnancy in order to implement a family paradigm shift from being a mere “provider” and becoming a protagonist in the necessary care in the entire process of gestation, childbirth, and care of the newborn. The nurse’s role in individual educational actions for the couple, with reaffirmation and increase in the group of pregnant women, empowers the parent with information that until then was unknown to him and end up leaving the father as a mere spectator of the binomial mother-baby. In this sense, this study aims to report the experience lived by the nurse in the Group of Pregnant women contemplated in the Family Health Strategy program, in the city of Dourados/ MS. The methodology involves a descriptive approach of an experience report of the nurse in which the husband accompanied the pregnant woman in a meeting in the group of pregnant women, after an invitation to the couple’s prenatal visit. The results revealed the strengthening of the bond between the couple, between them and the ESF team, with better use of educational actions. 

Keywords: Health education; Group of Pregnant Women; Role of the Father.

INTRODUÇÃO 

A gravidez e o papel do enfermeiro 

A gravidez compreende intensas alterações fisiológicas no organismo feminino. Entretanto, o evento não pode ser resumido a um emaranhado de mudanças fisiológicas. 

Isso porque, a gestação provoca profunda alteração no núcleo familiar e não se pode desconsiderar esta repercussão no campo das ações de enfermagem. 

Por isso, a atuação do enfermeiro nesse âmbito tem que compreender os aspectos fisiológicos, os aspectos sociais e familiares da gravidez, numa visão integral do fenômeno, abordagem esta que é essencial para o sucesso das ações de enfermagem (SOUZA et al, 2013). 

Assim, o objeto que se almeja abordar neste relato de experiência, em linhas gerais, reside no impacto da gestação no núcleo familiar com destaque para o papel do companheiro no grupo de gestantes, numa visão humanizada do processo gestacional, bem como a relação do enfermeiro com estas importantes nuances, especialmente para sua tarefa de prevenção de agravos e promoção da saúde. 

A esse respeito, é importante lembrar que o SUS, fundamentado no princípio da integralidade, busca visualizar o paciente em sua totalidade. 

A integralidade e sua relação com a enfermagem foram pontos abordados por FRACOLLII et al (2011, p.6): 

(…) Quando se analisa o objeto e a finalidade, bem como os meios e instrumentos do processo de trabalho da enfermeira na Atenção Básica, fica claro que este é recortado de maneira mais ampliada, ou seja, os fenômenos sobre os quais a Enfermagem se debruça não são fenômenos apenas biológicos ou patológicos, são também fenômenos sociais e de interações.  Outra questão presente nas formas como as enfermeiras vêm a integralidade operacionalizada é a organização do trabalho na Atenção Básica através da Estratégia Saúde da Família.

Como se observa do pensamento acima retratado, a atuação do profissional enfermeiro considerando alguns fenômenos sociais é uma abordagem afinada com uma visão integral e humanizada do paciente.  

Nesse contexto, um olhar humanizado da enfermagem sobre o processo gestacional é tema atual e cuja concretização tem se buscado por meio de vários programas governamentais, a exemplo da REDE CEGONHA3

Para a implementação dessa abordagem integral da gestação, com especial atenção aos fenômenos sociais que orbitam o parto, os enfermeiros integrantes das equipes de Estratégia de Saúde de Família são um dos alicerces fundamentais para a captação precoce, acolhimento e acompanhamento de gestantes (além de outras importantes funções como identificação de problemas, classificação de riscos e etc.). 

A Estratégia de Saúde da Família no processo gestacional 

A Estratégia de Saúde da Família (ESF) consubstancia: 

(…) estratégia de reorientação do modelo assistencial que se propõe a desenvolver ações individuais e coletivas, de acompanhamento e promoção de saúde. 
O profissional enfermeiro é considerado apto a realizar consultas de pré-natal, no acompanhamento de gestantes com baixo risco obstétrico, sendo atribuídas a ele inúmeras ações como: solicitações de exames; abertura do sistema de informação de saúde (SIS); realização de exame obstétrico, encaminhamentos necessários, preparo para o parto, orientações com cuidados sobre o recém-nascido e sobre a amamentação; vacinação; e também a promoção de vínculo entre mãe e bebê  (DUARTE e ALMEIDA, 2014, p.2)   

A ESF tem como diretriz ser a porta de entrada preferencial para o sistema de saúde, com a realização de ações de promoção de saúde e prevenção de agravos, mediante a atuação de equipe multiprofissional.  É importante mencionar que a ESF constitui a principal iniciativa do Brasil para fortalecer a APS4.

O acompanhamento integral da gravidez, em todos os seus aspectos, exige do enfermeiro da ESF o desempenho de sua vital função de prevenção de doenças e de promoção de saúde, com a realização de ações educativas. 

 A realização de ações educativas para a promoção da saúde na gravidez, em especial no pré-natal, é o norte que guiará este estudo, com atenção prioritária ao grupo de gestantes na ESF, às repercussões sociais do parto e ao papel do pai (ou companheiro) neste processo.  

De acordo o Ministério da Saúde (2012) o objetivo do acompanhamento pré natal é garantir o desenvolvimento da gestação, realizando atividades educativas e preventivas, inclusive com a abordagem de aspectos psicossociais, para permitir o parto de um recém-nascido saudável, sem impacto para a saúde materna. 

Sobre a importância do acompanhamento pré-natal pelo enfermeiro, é importante destacar: 

Ressalta-se que a educação em saúde no pré-natal é um meio para que os profissionais da saúde, especialmente os enfermeiros que realizam a primeira consulta de pré-natal possam dotar as mulheres e seus familiares de conhecimentos, além de esclarecerem as dúvidas, contribuindo com a autonomia do cuidado (DUARTE, BORGES e ARRUDA, 2011, p. 2)

A respeito disso, o MINISTÉRIO DA SAÚDE (2012), chegou a elencar 10 passos para um pré-natal de qualidade na atenção básica. Para o propósito deste trabalho é de relevo o 4º passo que prevê a criação de “rodas de gestantes” e o 6º passo que prevê a participação incisiva do pai no pré-natal. 

Neste ponto, anote-se que GONÇALVES E WATANABE (2010) e PIRES et al (2015) lembram que o trabalho do enfermeiro com grupos é importante não apenas para a valorização da saúde, mas também para a valorização da cidadania, com uma inserção mais profunda na sociedade daquela parturiente, e subsequente fortalecimento dos vínculos comunitários do núcleo familiar que está a passar por uma profunda transformação. 

Os grupos de gestantes e a participação do pai

O papel educativo que é exercido nos grupos de gestantes deve ir além da mera orientação sobre a gestação, com suas alterações fisiológicas e cuidados com o recém nascido. 

O espaço do grupo de gestante pode, na verdade, ser um ambiente propício para trazer o pai do bebê à participação efetiva, rediscutindo o seu papel no processo gestacional.  

A respeito disso, cumpre lembrar que um dos objetivos da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (art. 4, VIII da portaria GM/MS 1.944 de 27 de agosto de 2009) é a realização de ações educativas quanto à paternidade. Tem-se, inclusive, denominado tais ações educativas como “Pré-Natal do Parceiro”. 

Assim, o papel do enfermeiro como orientador e facilitador das reuniões dos grupos de gestantes deve abranger a necessária rediscussão do papel do pai no processo gestacional, com a proposta de alteração do paradigma de mero “provedor” para um participante mais ativo da gestação. 

Em relação aos benefícios de uma participação ativa do companheiro da gestante no processo gestacional pode-se ressaltar:  

A participação e o apoio afetivo oferecido pelo pai do bebê, auxilia a mulher a tolerar com maior facilidade as dores e ansiedade do trabalho de parto, traz vantagens como: diminui o tempo do trabalho de parto, número de analgésicos e medicações que induzem a dilatação, o uso de fórceps, reduz a sensação de dor, os números de cesarianas e o tempo de internação dos recém-nascidos nos hospitais, assim como, melhora a impaciência da mulher (PETITO et al, 2015, p. 4)

A participação incisiva do pai no processo de gestação pode contribuir, ademais, para o fortalecimento dos laços familiares, especialmente na nova forma e estrutura que o núcleo passará a ter com o parto esperado. 

A respeito disso, o MINISTÉRIO DA SAÚDE (2016) bem ressaltou as contribuições de RIBEIRO e colaboradores, os quais afirmam que as mudanças da sociedade levaram à idealização de um “novo pai”, o qual além de provedor da família, assumiria, de forma igualitária o cuidado com o filho.  

Bem por isso, o Ministério da Saúde chegou a construir em seus manuais uma estruturação para a recepção do homem durante o processo gestacional. 

A ideia foi arquitetada em cinco passos: a) Chegada do homem no serviço do SUS (informações sobre sua participação no pré-natal, parto e puerpério); b) Realização do atendimento, incluindo exames de rotina e testes rápidos; c) Atualização do cartão de vacinas; d) Trabalho com temas voltados para o público masculino; e) participar ativamente do pré-parto, parto e puerpério, além dos cuidados com a criança.    

Na concepção que se almeja formar, o “quarto passo” no pré-natal do parceiro, preconizado pelo Ministério da Saúde, poderia passar por um processo de adequação e aprimoramento.  

Em vez de trabalhar com temas específicos para o universo masculino, de forma segregada, preferível seria inserir os companheiros nas “rodas de gestantes”, porque tal metodologia fortalece o casal e consolida seus laços.  

A própria ideia de temas voltadas ao universo masculino e temas voltados ao universo feminino é algo a ser superado, sendo aconselhável que passe a se trabalhar com a ideia de temas voltados ao universo do bebê e do processo gestacional (parto e puerpério), com abordagem para o casal como ente unitário (por mais que em algum momento haja divisão específica de tarefas). 

A ideia acima defendida, justamente de abordar o processo gestacional (parto e puerpério) para o casal, mediante a inclusão de ambos nos grupos de gestantes, visa concretizar a ideia de “gravidez do casal”, sendo este o objetivo que se almeja discutir no presente trabalho.   

MATERIAIS E MÉTODOS 

O presente estudo tem cunho descritivo, com natureza qualitativa, sendo um relato de experiência, com base na prática desta enfermeira no grupo de gestantes da equipe de Estratégia de Saúde da Família, na cidade de Dourados/MS. 

 Todas as gestantes e seus companheiros são convidados nas consultas de rotina para participarem dos grupos que ocorrem mensalmente.  

O convite também é feito pela recepção, quando as gestantes comparecem à Unidade de Saúde por diversos motivos, e de modo domiciliar pelas Agentes Comunitárias de Saúde (ACS). 

As atividades são realizadas em uma Unidade de Saúde, a qual abriga duas equipes de ESF. Uma das equipes é de responsabilidade desta enfermeira.  

As reuniões têm como público-alvo as gestantes e seus familiares, atendidos pelas duas equipes de ESF na UBS mencionada, pois o trabalho é feito de forma cooperativa e as enfermeiras da Unidade de Saúde se alternam na responsabilidade de ministrar e organizar as atividades do grupo, com forte apoio das ACS. 

Para melhor qualidade nos encontros com as gestantes e seus familiares são providenciados materiais e equipamentos extras, além de lanches, folhetos educativos e brindes.  

Todos os itens citados são custeados ou providenciados pela própria equipe de trabalho ou então são levantadas doações. A ideia de distribuição de brindes é uma estratégia que já foi defendida por DALMOLIN et al (2015) e PIO et al (2014) como um meio de garantir maior interesse das gestantes nos grupos. 

Os encontros dos grupos de gestantes recebem colaboradores, universitários e profissionais multidisciplinares de forma esporádica. 

As reuniões ocorrem uma vez ao mês, sempre na última quinta-feira, no período vespertino, na sala de reunião da própria da Unidade de Saúde. 

Os temas são selecionados sempre com enfoque em repassar às pessoas informações sobre o processo gestacional, parto e cuidados com recém-nascido. Também foi enfatizado o acolhimento do pai e a inserção dele neste processo educativo.  

As atividades realizadas adotam a forma “de roda de conversa”, a qual possibilita a interatividade entre as gestantes e o companheiro (ou familiares), além do contato próximo com o enfermeiro facilitador, tudo para se repassar as informações necessárias, executando as dinâmicas e as trocas de experiências. 

Com relação à participação do pai no grupo de gestantes, serão abordados alguns aspectos observados, tais como a relação que se estabeleceu entre o genitor e a grávida, a relação do casal com o grupo, além da relação de todos eles com os enfermeiros e o sucesso do processo educativo.  

RESULTADOS E DISCUSSÃO 

A experiência que será relatada envolve a atuação profissional desta enfermeira com a inserção de companheiros de grávidas em grupos de gestantes realizados em Unidade Básica de Saúde, numa equipe de ESF, na cidade de Dourados/Mato Grosso do Sul. 

As grávidas são inseridas nos grupos de gestantes no decorrer da gestação. O grupo possui em torno de 20 gestantes, além dos acompanhantes esporádicos das grávidas.  

As solicitações de que companheiros de grávidas atendidas participassem de reuniões dos grupos de gestantes partiu desta enfermeira, durante a consulta de enfermagem realizada no acompanhamento pré-natal. 

No decorrer do encontro do grupo de gestantes, com a participação dos companheiros convidados, quatro aspectos distintos puderam ser observados: a relação entre o casal, a relação do casal com o grupo, a relação do casal com os profissionais da equipe de ESF e a eficiência das ações educativas com a participação do genitor do bebê.  

Em relação a cumplicidade entre os casais, desde o início se observou que a inserção do genitor do bebê no grupo de gestantes, pareceu ter sido um marco para a criação do novo paradigma pai-mãe-bebê. O pai pareceu ter se tornado um ator mais participativo no processo gestacional, resultado direto da presença no decorrer do pré natal e no grupo de gestantes.  

Em que pese alguns dos temas dos grupos estarem mais ligados diretamente às mulheres (como, por exemplo, a discussão feita sobre a respiração no trabalho de parto), a participação dos pais dos bebês mostrou-se bastante útil para enraizar a ideia de que “a gravidez é do casal”, abordagem mais humanizada e que propicia a criação de vínculos entre o homem e o bebê desde o início da gestação. 

A relação entre os casais parece ter sido fortalecida com a participação do pai no grupo de gestantes. 

No que concerne à relação entre o casal e o grupo, o que se observou é que a realização das “rodas de gestantes” parece ser um fator facilitador para a inserção do núcleo familiar que está sendo formado na comunidade, mesmo com o pai se apresentando tímido e levemente deslocado no começo das atividades. 

Outro ponto que também foi notado é que a participação do genitor no grupo de gestantes, junto com a grávida, aparentou ter sido fator que fortaleceu o estreitamento de laços entre o casal acolhido e a equipe multidisciplinar. A formação dessa cumplicidade e confiança entre pacientes e profissionais é algo importante para um acompanhamento de sucesso no pré-natal. 

ANTUNES et al. (2014) bem destacou que a presença paterna durante o parto ainda não é realidade nos serviços de saúde, em que pesem os inegáveis benefícios deste acompanhamento, cabendo, assim, que os enfermeiros atuem para alterar essa realidade. 

Um aspecto que também se observou diz respeito à efetividade da ação educativa realizada no grupo de gestantes com a presença do pai do bebê.  

Como dito acima, a presença do pai terminou gerando uma mudança de paradigma, com ele sendo um ator ativo do processo gestacional.  

Neste ponto, convém destacar que PETITO et al (2015) bem observou que muitas vezes o período pós-parto gera um certo distanciamento entre o homem, a mulher e o RN, em razão do foco das atenções em tal momento estar voltado quase que exclusivamente para o recém-nascido e a mulher. Em tal aspecto, a inclusão do homem nas rodas de gestante pode ser de grande valia, pois a compreensão de todas as nuances da gestação e parto pode levar a uma melhor aceitação deste momento, o que foi observado na prática neste relato de experiência. 

Além disso, houve o fortalecimento do vínculo entre o casal, com uma inserção comunitária mais profunda e o estreitamento dos laços com a equipe de ESF. 

RESENDE et al (2014), a respeito disso, enfatizou a importância de que o pai vivencie momentos de intimidade com seu bebê, de modo a contribuir para a formação do vínculo com seu filho.   

Uma análise conjunta de todas essas observações permite concluir que a ação educativa realizada no grupo de gestantes com a presença do genitor é mais eficiente do que o padrão tradicional, apenas com a presença das gestantes.   

É possível afirmar que o genitor que foi inserido no grupo de gestantes desempenhou um papel ativo e participativo durante todo o processo gestacional quando comparado com os demais genitores que não participaram desses grupos. 

CONCLUSÃO 

A importância dos grupos educativos 

A análise feita permitiu concluir que os grupos educativos na saúde, aqui incluídos os grupos de gestantes, são marco essencial para as atividades de cunho educativo, especialmente para a prevenção de agravos e promoção da saúde. 

Eles são um meio paralelo para as práticas assistenciais, contribuindo para uma melhor construção de vínculo (FRANCO; SILVA; DAHER, 2011). 

O conceito de promoção em saúde não é novo, pois já está definido há décadas na Carta de Ottawa, como sendo um processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação nesse processo. 

Entretanto, a implementação da promoção em saúde deve ser alvo de um olhar atento dos profissionais de enfermagem e, no processo gestacional, a melhor oportunidade para isto é por meio dos grupos de gestantes, o que ficou constatado através da experiência realizada. 

A importância dos grupos de gestantes com presença do pai 

Com base na ideia de que a ação educativa possui importância ímpar, e com o objetivo de alcançar melhores resultados nessa ação é que se enfatiza a importância do pai do bebê nos grupos de gestantes. 

O resultado do acolhimento do genitor em “rodas de gestante” gera o empoderamento pelo pai das informações necessárias ao desempenho responsável de sua atuação.  

Uma participação ativa do pai durante a gestação é fator que interfere na relação entre o genitor e seu filho, uma vez que o homem constrói um vínculo afetivo antes do nascimento (BENAZZI; LIMA; SOUSA, 2011).  

Cria-se, com isso, um ambiente mais favorável ao parto, construindo-se o trinômio mãe-pai-bebê. 

Nesse contexto, a abordagem da ideia de que a gravidez é do casal, e não apenas da mulher, representa uma mudança de paradigma que deve nortear a ação desde a primeira consulta do enfermeiro no pré-natal, valorizando esse parceiro no monitoramento dos cuidados prescritos como também na avaliação de sinais e sintomas apresentados na gestação. 

Em última análise, o acolhimento do companheiro nos grupos de gestante é mais uma forma de se implantar a humanização no processo gestacional (em todos os seus sintomas e cuidados inerentes). 

Desse modo, não se pode desconsiderar que a presença do pai do bebê durante a gestação é fator que interfere, de modo decisivo, no processo gestacional.  

Tamanha a importância do genitor do bebê, que sua ausência pode ser vista com um fator de risco para a gestante (FERREIRA, 2014) 

Sendo assim, o que se verificou é que a ação educativa pelo enfermeiro e profissionais apoiadores no pré-natal, por meio dos grupos de gestantes com a presença paterna, foi extremamente efetiva para a prevenção de agravos e promoção de saúde. 


3É uma estratégia do Ministério da Saúde que visa implementar uma rede de cuidados para assegurar às mulheres o direito ao planejamento reprodutivo e a atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério, bem como assegurar às crianças o direito ao nascimento seguro e ao crescimento e desenvolvimento saudáveis. Esta estratégia tem a finalidade de estruturar e organizar a atenção à saúde materno-infantil no País e será implantada, gradativamente, em todo o território nacional, iniciando sua implantação respeitando o critério epidemiológico, taxa de mortalidade infantil e mortalidade materna e densidade populacional. (…)São quatro os componentes da Rede Cegonha:  (http://dab.saude.gov.br/portaldab/ape_redecegonha.php, acesso em 20/10/2017, às 12h).
4A APS é atualmente definida como um conjunto de ações de promoção e proteção à saúde, prevenção de agravos, diagnóstico, tratamento, reabilitação e manutenção da saúde nas dimensões coletiva e individual, por meio de ações gerenciais e sanitárias participativas e democráticas, trabalho em equipe, responsabilização sanitária, base territorial e resolução dos problemas de saúde mais frequentes e relevantes em determinado contexto

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 1Bacharel em Enfermagem. Discente do Programa de Pós-Graduação em Obstetrícia Multidisciplinar da FCV/Maxpós/Dourados-MS.
 2Bacharel em Enfermagem. Mestre em Biologia Geral/Bioprospecção pela UFGD, Especialista em Gestão Pública/UFGD, MBA em Auditoria em Saúde pela UNINTER.