REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202505261906
Issamara de Lima Jardini Barbosa1
Lidiane de Melo2
Izabelly Cristhyni Araújo de Moraes3
Professora Responsável: Laura de Moura Rodrigues4
Professor Responsável: Fabricio Vieira Cavalcante5
RESUMO
A incontinência urinária de esforço (IUE) é uma condição prevalente que afeta principalmente mulheres, comprometendo sua qualidade de vida em aspectos físicos, emocionais e sociais. Este trabalho teve como objetivo analisar o papel da fisioterapia no tratamento da IUE, destacando as técnicas mais utilizadas e seus efeitos na recuperação funcional das pacientes. Foi realizada uma revisão narrativa da literatura, com seleção de cinco estudos publicados entre 2019 e 2020, abordando intervenções fisioterapêuticas como o Treinamento Muscular do Assoalho Pélvico (TMAP), eletroestimulação, biofeedback e métodos combinados. Os resultados evidenciaram que o TMAP é a principal abordagem conservadora, apresentando eficácia tanto em protocolos isolados quanto associados a outras técnicas, promovendo redução dos sintomas e melhora da qualidade de vida. Além disso, a adesão ao tratamento e o acompanhamento profissional foram apontados como fatores essenciais para o sucesso terapêutico. Conclui-se que a fisioterapia é fundamental no manejo da IUE, oferecendo uma alternativa segura, eficaz e acessível para as mulheres acometidas por essa condição.
Palavras-chave: Incontinência urinária de esforço; fisioterapia; treinamento muscular do assoalho pélvico; eletroestimulação; biofeedback.
ABSTRACT
Stress urinary incontinence (SUI) is a prevalent condition that primarily affects women, impairing their physical, emotional, and social quality of life. This study aimed to analyze the role of physiotherapy in the treatment of SUI, highlighting the most commonly used techniques and their effects on patients’ functional recovery. A narrative literature review was conducted, selecting five studies published between 2019 and 2020, which addressed physiotherapeutic interventions such as Pelvic Floor Muscle Training (PFMT), electrostimulation, biofeedback, and combined methods. The results demonstrated that PFMT is the main conservative approach, effective both in isolated protocols and when combined with other techniques, promoting symptom reduction and improved quality of life. Additionally, treatment adherence and professional supervision were identified as essential factors for therapeutic success. It is concluded that physiotherapy is fundamental in managing SUI, offering a safe, effective, and accessible alternative for affected women.
Keywords: Stress urinary incontinence; physiotherapy; pelvic floor muscle training; electrostimulation; biofeedback.
1. INTRODUÇÃO
A incontinência urinária de esforço (IUE) é uma condição comum, caracterizada pela perda involuntária de urina durante atividades que aumentam a pressão intra-abdominal, como tosse, espirros, risos, levantamento de peso ou exercícios físicos. Essa disfunção afeta, em grande parte, mulheres, especialmente após a menopausa, e tem como principais causas o enfraquecimento do assoalho pélvico, condições decorrentes de gestações múltiplas, partos vaginais, e o processo de envelhecimento. Embora a incontinência urinária de esforço não seja uma ameaça direta à vida, ela compromete significativamente a qualidade de vida das mulheres acometidas, atingindo aspectos físicos, emocionais e sociais, muitas vezes resultando em isolamento social e baixa autoestima (LIMA; GUANABARA, 2023, p. 2).
Globalmente, a incontinência urinária é uma questão de saúde pública, afetando milhões de pessoas de todas as idades e gêneros, mas com prevalência significativamente maior entre as mulheres. Estima-se que, no Brasil, mais de 26% das mulheres idosas sofrem de algum grau de incontinência urinária, embora esse número possa ser subestimado, uma vez que muitas mulheres não buscam tratamento, seja por vergonha ou pela crença errônea de que a perda de urina é uma consequência inevitável do envelhecimento (LIMA; GUANABARA, 2023, p. 2). Esse estigma e a falta de informação adequada sobre o tratamento contribuem para o agravamento do quadro, tornando-se fundamental a disseminação de informações sobre as alternativas de tratamento eficazes.
A fisioterapia, reconhecida pela Sociedade Internacional de Continência desde 2005 como a abordagem de primeira linha no tratamento conservador da IUE, tem se mostrado uma opção eficaz e não invasiva. O tratamento fisioterapêutico tem como principal foco o fortalecimento da musculatura do assoalho pélvico, por meio do treinamento muscular específico, como o Treinamento Muscular do Assoalho Pélvico (TMAP), também conhecido como exercícios de Kegel. Esses exercícios visam restaurar o controle sobre a continência urinária, fortalecendo os músculos responsáveis pelo suporte dos órgãos pélvicos e reduzindo a frequência e intensidade das perdas urinárias. Além disso, o tratamento fisioterapêutico proporciona uma melhoria significativa na qualidade de vida das pacientes, uma vez que as técnicas empregadas promovem o bem-estar físico, emocional e social (LIMA; GUANABARA, 2023, p. 5).
Apesar dos avanços e da eficácia comprovada do tratamento fisioterapêutico para a incontinência urinária, muitas mulheres ainda não têm acesso a essa modalidade terapêutica, especialmente nos serviços de saúde pública. Em diversos contextos, observa-se a indicação precoce de procedimentos cirúrgicos, muitas vezes sem a devida tentativa prévia de alternativas conservadoras. Esse cenário evidencia a necessidade de maior conscientização sobre os benefícios da fisioterapia e reforça a importância de promover o conhecimento sobre essa abordagem segura, acessível e eficaz. Assim, justifica-se a realização deste trabalho pela necessidade de ampliar a discussão sobre o papel da fisioterapia no tratamento da IUE, promovendo a valorização de técnicas conservadoras que podem evitar intervenções invasivas e melhorar significativamente a qualidade de vida das pacientes.
Diante disso, este trabalho tem como objetivo geral analisar o papel da fisioterapia no tratamento da incontinência urinária de esforço em mulheres, destacando as principais técnicas utilizadas e seus efeitos na recuperação funcional. Como objetivos específicos, busca-se: identificar as técnicas fisioterapêuticas mais utilizadas; avaliar a eficácia do tratamento fisioterapêutico em termos de redução dos sintomas e melhoria da qualidade de vida das pacientes; e discutir os desafios relacionados ao acesso e adesão das mulheres ao tratamento fisioterapêutico.
Portanto, este estudo visa contribuir para a valorização da fisioterapia pélvica como primeira linha de cuidado para mulheres com IUE, reforçando sua importância não apenas no tratamento, mas também na prevenção e na educação em saúde, com vistas à promoção de bem-estar físico, emocional e social.
2 METODOLOGIA
Este trabalho caracteriza-se como uma revisão narrativa de literatura, buscando reunir e analisar informações sobre o papel da fisioterapia no tratamento da incontinência urinária de esforço (IUE). A escolha por este tipo de estudo deve-se à sua capacidade de fornecer uma visão ampla e atualizada sobre o tema, sem a necessidade de coleta de dados primários, concentrando-se na análise crítica de artigos já publicados sobre a temática.
A pesquisa é de caráter quantitativo, uma vez que analisa dados quantitativos encontrados na literatura científica. Os dados foram coletados em bases de dados como LILACS, SCIELO, PubMed e Google Scholar, utilizando os descritores: fisioterapia, incontinência urinária e promoção da saúde. Os critérios de inclusão foram: artigos completos, disponíveis nas línguas portuguesa, espanhola e inglesa, publicados entre 2010 e 2020, e que abordassem de forma específica o tratamento da IUE em mulheres. Foram excluídos resumos, resenhas, artigos duplicados e aqueles indisponíveis na íntegra.
Com base na metodologia adotada, foram selecionados cinco estudos científicos que atendem aos critérios estabelecidos para esta revisão narrativa, todos abordando intervenções fisioterapêuticas no tratamento da incontinência urinária de esforço (IUE) em mulheres. Destes, quatro artigos foram publicados no ano de 2020 e um em 2019, todos disponíveis na íntegra e em conformidade com os critérios de inclusão, como idioma, período de publicação e foco específico no tratamento da IUE feminino.
A escolha por esses trabalhos se deu em razão da atualidade dos dados e da relevância metodológica das pesquisas, que apresentaram abordagens diversas sobre técnicas fisioterapêuticas como o Treinamento Muscular do Assoalho Pélvico (TMAP), o biofeedback, a eletroestimulação e os exercícios combinados. Esses estudos foram analisados comparativamente quanto aos métodos empregados, frequência das intervenções e resultados obtidos em termos de redução dos sintomas urinários e melhora na qualidade de vida das pacientes, compondo a base de evidências que sustenta a discussão do presente trabalho.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram analisados estudos recentes que abordam diferentes estratégias fisioterapêuticas no tratamento da incontinência urinária de esforço (IUE) em mulheres, com foco nos efeitos clínicos e na melhoria da qualidade de vida. As intervenções avaliadas incluem o Treinamento Muscular do Assoalho Pélvico (TMAP), biofeedback, eletroestimulação e métodos combinados. A Tabela 1, a seguir, resume as principais características desses estudos e seus resultados, destacando a eficácia da fisioterapia como abordagem conservadora no manejo da IUE.
Tabela 1 – Estudos selecionados

Entre os estudos analisados, destacam-se aqueles que compararam diferentes formatos de aplicação do Treinamento Muscular do Assoalho Pélvico (TMAP). As pesquisas de Figueiredo et al. (2020) e Dumoulin et al. (2020) avaliaram a eficácia do TMAP realizado individualmente e em grupo, durante um período de 12 semanas. Em ambas as abordagens, foram observadas melhorias significativas na gravidade dos sintomas de incontinência urinária de esforço, bem como ganhos na qualidade de vida das pacientes, sem diferença relevante entre as modalidades de aplicação, o que reforça a versatilidade do TMAP.
O estudo de Ptak et al. (2019) explorou os efeitos da associação do TMAP com o treino do músculo transverso abdominal, comparando-o ao TMAP isolado. Os resultados indicaram que a combinação das técnicas proporcionou efeitos mais expressivos, tanto na redução dos sintomas urinários quanto nos aspectos psicossociais, como bem-estar emocional, qualidade do sono e participação social. Esses dados sugerem que integrar exercícios de músculos sinérgicos pode potencializar os resultados da fisioterapia pélvica.
Cavenaghi et al. (2020) investigaram os efeitos do TMAP combinado à eletroestimulação de superfície. Após dez semanas de tratamento, as participantes apresentaram diminuição considerável da frequência e volume das perdas urinárias. A eletroestimulação se mostrou eficaz especialmente para mulheres com dificuldades na execução voluntária das contrações, funcionando como recurso facilitador no processo de fortalecimento muscular.
Por fim, o estudo multicêntrico de Hagen et al. (2020) comparou o TMAP isolado ao TMAP associado ao biofeedback. Ambos os grupos obtiveram avanços na força de contração dos músculos do assoalho pélvico e na redução dos episódios de incontinência. No entanto, não foram identificadas diferenças significativas entre os dois métodos, indicando que, embora o biofeedback possa auxiliar na conscientização muscular, sua adição não necessariamente amplifica os efeitos terapêuticos do TMAP.
Esses achados reforçam que, independentemente da técnica complementar utilizada, o TMAP permanece como o principal recurso conservador no tratamento da IUE. Sua eficácia está bem documentada, tanto em protocolos isolados quanto associados, sendo a escolha de técnicas complementares dependente das características e necessidades de cada paciente.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho evidenciou a relevância da fisioterapia como abordagem conservadora fundamental no tratamento da incontinência urinária de esforço em mulheres. A partir da revisão dos estudos selecionados, foi possível observar que o Treinamento Muscular do Assoalho Pélvico (TMAP) se destaca como o método principal, apresentando resultados consistentes na redução dos sintomas e na melhora da qualidade de vida das pacientes.
Além disso, a associação do TMAP com outras técnicas, como o treino do músculo transverso abdominal, a eletroestimulação e o biofeedback, mostrou potencial para ampliar os benefícios terapêuticos, especialmente em casos que demandam maior conscientização muscular ou força mais desenvolvida. Todavia, a escolha das intervenções deve ser individualizada, considerando as características e limitações de cada paciente.
A adesão ao tratamento, bem como o acompanhamento profissional, foram identificados como fatores-chave para o sucesso da terapia fisioterapêutica. Dessa forma, é imprescindível que os programas de reabilitação incluam orientações claras, suporte contínuo e estratégias que promovam a motivação das pacientes.
Por fim, recomenda-se a realização de estudos futuros que explorem novas modalidades terapêuticas e protocolos otimizados, ampliando o conhecimento científico e contribuindo para o aprimoramento do cuidado à saúde da mulher com incontinência urinária. Este trabalho reforça a importância da fisioterapia como primeira linha de tratamento, com impacto positivo no bem-estar físico e emocional das mulheres acometidas por essa condição.
REFERÊNCIAS
CRUZEIRO DO SUL EDUCACIONAL. Manual da disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso – TCC em Fisioterapia II. São Paulo, 2024.
LIMA, Darla Dias; GUANABARA, Luiz Carlos Rodriguez. Abordagem fisioterapêutica no tratamento da incontinência urinária feminina. XX Simpósio Internacional de Ciências Integradas da UNAERP, Guarujá, 2023. Disponível em https://www.unaerp.br/documentos/5573-abordagem-fisioterapeutica-no-tratamento-daincontinencia-urinaria-feminina/file. Acesso em 20 set. 2024
CAVENAGHI, L. et al. Efeitos de protocolo fisioterapêutico com exercícios do assoalho pélvico e eletroestimulação em mulheres com incontinência urinária de esforço. Revista Brasileira de Fisioterapia, v. 24, p. 123-130, 2020.
DUMOULIN, C. et al. Eficácia do treinamento muscular do assoalho pélvico individual versus em grupo em mulheres idosas com incontinência urinária: um estudo multicêntrico. International Urogynecology Journal, v. 31, n. 5, p. 987-995, 2020.
FIGUEIREDO, S. et al. Comparação entre modalidades de treinamento muscular do assoalho pélvico em mulheres com incontinência urinária de esforço. Fisioterapia em Movimento, v. 33, n. 2, p. 345-353, 2020.
HAGEN, S. et al. Efeitos do biofeedback associado ao treinamento muscular do assoalho pélvico em mulheres com incontinência urinária: estudo multicêntrico randomizado. Neurourology and Urodynamics, v. 39, n. 2, p. 467-475, 2020.
PTAK, L. et al. Impacto do treinamento muscular do assoalho pélvico combinado ao treino do músculo transverso abdominal em mulheres com incontinência urinária de esforço. Journal of Women’s Health Physical Therapy, v. 43, n. 3, p. 125-132, 201
1RGM 27575381
2RGM 28632923
3RGM 34406298