PAPEL DA ENFERMAGEM NO TRATAMENTO EMERGENCIAL DE LESÕES POR QUEIMADURAS: UMA REVISÃO DE LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102410141454


João Pedro Gomes Do Nascimento1
Sara Custódio Peixoto da Silva2
Renata Bezerra dos Santos Costa3
Rayssa Alcântara Alvarez Silva4
Andressa Ritchelly Aires da Silva Ferreira5
Juliana Jaime Castanheira6
Maria Luiza de Freitas Serafim7
Inara Sabrina Ferreira dos Santos8
Beatriz Souza da Fonseca9
Rafaela Barbosa da Silva10
Erilane Caroline Fernandes Cunha11
Emilleny Silva Brandão Leal12
Flávia Nanci Costa Fernandes13
Thalita Fernandes de Lima Azevedo Freitas14
Ana Cristina Lopes Freire15


RESUMO

A pele é o maior órgão do corpo humano, pesa aproximadamente 4 kg e mede aproximadamente 2 m² (metros quadrados). Sua principal função é garantir proteção e revestimento ao corpo. As queimaduras, são lesões traumáticas que comprometem a integridade da pele e de demais tecidos, dependendo do seu grau e extensão. As queimaduras podem ser causadas por agentes térmicos, químicos, radioativos e elétricos, podendo comprometer parcialmente ou integralmente a função das estruturas afetadas pela lesão, estruturas essas como pele e anexos, músculos, tendões e tecido ósseo. A Enfermagem detém um papel importantíssimo para o tratamento inicial a essas lesões. É fundamental que a equipe de enfermagem tenha o conhecimento de diferenciar os graus de queimadura e avaliar a extensão da lesão e identificar os principais planos de cuidado para cada grau de queimadura associando a seu agente causador. Além disso, a assistência ao paciente com queimaduras em unidades na emergência é muito complexa, é preciso ter competência, habilidade, conhecimento e estar atualizado em técnicas e novas tecnologias para o cuidado ao paciente com queimaduras, visando contribuir para a diminuição da taxa de mortalidade, menor número de complicações, sequelas físicas e psicológicas. O objetivo desse trabalho foi realizar um levantamento bibliográfico sobre o papel da enfermagem no tratamento de lesões por queimaduras nas emergências e unidades de pronto atendimento. Como metodologia, foi realizada uma revisão integrativa de literatura acerca do assunto, nas bases de dados Scielo (Scientific Electronic Library Online), Biblioteca Virtual Em Saúde e a Revista Brasileira De Queimaduras. Com isso, através desse trabalho, deseja-se produzir conhecimento técnico-cientifico acerca do papel e desempenho da enfermagem na atenção emergencial ao paciente vítima de queimaduras.

Palavras-chave: Emergência; Enfermagem; Queimaduras.

1 INTRODUÇÃO

As lesões por queimaduras são traumas que lesionam tecidos orgânicos, causados por agentes químicos, biológicos, térmicos, radioativos e elétricos. As queimaduras representam o quarto tipo de trauma mais comum no mundo, no Brasil, elas são uma das principais causas de incapacidade parcial ou definitiva (Costa.,et al, 2022 ).

Durante o processo de queimadura, na sua fase aguda, ocorrem mudanças fisiológicas perceptíveis, como má perfusão dos tecidos e redução da função orgânica. Os processos fisiopatológicos da fase aguda da queimadura englobam processos cardiovasculares, hidroeletrolíticos e comprometem também o volume sanguíneo e mecanismos pulmonares. Contudo, o surgimento dessas alterações é dependente da proporção e da extensão da área comprometida. As lesões que não ultrapassam 25% da área corporal produzem uma resposta local, já as queimaduras que ultrapassam os 25% de área corporal queimada podem gerar respostas sistêmicas, como o choque hipovolêmico, devido à perda de líquidos, assim podendo comprometer a vida do paciente (Smeltzer e Bare, 2002). 

Além disso, devido ao alto índice de incapacidade, alta possibilidade de danos permanentes como cicatrizes, perda de função das áreas comprometidas, e o elevado nível de dor que os pacientes com queimaduras estão submetidos durante o tratamento, as sequelas vão além de físicas e passam também a serem psicológicas. Quando as queimaduras afetam áreas expostas como face, couro cabeludo, membros superiores e inferiores, os pacientes em sua maioria apresentam no decorrer do tratamento diminuição de autoestima, sensação de impotência e culpa pelo acidente, dentre outros. Tudo isso leva, se não tratado precocemente, a transtornos de ansiedade e depressão (Rodriguez., et al, 2019).

 Diante disso, é fundamental que a equipe de enfermagem esteja apta a ser a “linha de frente” contra esses tipos de trauma, já que a própria é responsável por realizar a triagem e classificação de risco na emergência. Além disso, realizar todo o processo de cuidado do paciente. O enfermeiro deve ter conhecimento e competência em saber classificar os graus de queimaduras, para estabelecer sua gravidade, levando em consideração extensão, profundidade e agente causador, saber promover um local emocionalmente seguro e prover apoio psicológico a vítima, além de traçar um plano de cuidado adequado, individual e humanizado.

2 METODOLOGIA

Esse trabalho trata-se de uma revisão bibliográfica do tipo integrativa, onde foi utilizado as bases de dados Scielo (Scientific Electronic Library Online), Biblioteca Virtual em saúde e Revista brasileira de queimaduras. Com os descritores: queimaduras, enfermagem, emergência e classificação de risco. Com isso, foram revisados 7 artigos, tendo como critério de escolha: publicação entre os anos 2013-2023 e publicados em português. Dentre os 7 artigos, 4 foram retirados do Scielo, 2 do banco de dados da Revista Brasileira de Queimaduras e 1 da Biblioteca Virtual Em Saúde.

3 REFERENCIAL TEÓRICO

            A pele é um órgão bastante heterogêneo, caracterizado por vários tecidos e estruturas, divididos entre camadas dependentes entre si. É o maior órgão do corpo humano, com, aproximadamente, 2m² de área e correspondente a 15% do peso corporal (Rivitti, 2014). A pele é multifuncional, além de ser essencial à vida, apresenta funções como:  proteção contra agentes patogênicos e várias formas de trauma, incluindo tipos de radiação como térmica e ultravioleta, barreira contra perda de água, regulação de temperatura e sensibilidade. A pele possui uma sequência de camadas, que variam em estrutura, composição celular e propriedades, sendo elas: epiderme, derme e hipoderme ou tecido adiposo (Figura 1).

FIGURA  SEQ Figura \* ARABIC 1-ESTRUTURA DA PELE  

            A pele, quando expostas a agentes radioativos, térmicos, químicos e elétricos, está sujeita a lesões traumáticas conhecidas por queimaduras, essas lesões comprometem a integridade da pele, podendo causar respostas locais como dor intensa, hiperemia, edema, perda de líquidos, formando as conhecidas “bolhas”, até comprometimento da função do tecido acometido. Além disso, as queimaduras quando ultrapassam 25% de área corporal queimada, podem causar respostas sistêmicas, como surgimento de infecções secundárias, febre e consequentemente um choque hipovolêmico devido à perda excessiva de líquidos. As queimaduras, segundo a profundidade da lesão, podem ser divididas em:

  • Queimadura de primeiro grau: a lesão é limitada a epiderme, sendo tratada como lesão superficial, tem como principais características a ausência de secreção e exsudato, e melhora dos sintomas entre três a seis dias depois.
  • Queimadura de segundo grau: pode ser dividida em queimadura parcial superficial e queimadura parcial profunda. Sendo a primeira, podendo atingir toda a epiderme e porção superficial da derme, tendo como sintomas semelhantes a queimadura de primeiro grau, incluindo formação de bolhas e seu processo de cura pode levar três semanas. Já a queimadura parcial profunda atinge toda a derme e anexos, com risco de destruição de terminações nervosas, podendo ser menos dolorosas. Tendo como processo de cura superior a três semanas e deixam cicatrizes.
  • Queimadura de terceiro grau: são queimaduras profundas que comprometem toda a derme e tecidos subcutâneos, podendo comprometer outras estruturas como músculos e estruturas ósseas. Ocorre destruição total dos nervos, glândulas sudoríparas, capilares sanguíneos e folículos presentes. Além disso, são lesões indolores, secas, de aspecto acinzentadas que não curam sem apoio cirúrgico como enxertos e desbridamentos.

Ademais, para avaliar a extensão da área comprometida, é utilizado a regra dos nove (Figura 2), podendo ser utilizada em adultos e crianças. Essa regra estabelece que cada parte do corpo cobre 9% da superfície corporal. Para o paciente adulto, a região cefálica e os membros superiores representam, cada um, 9% da superfície corporal, a região do tronco ventral e dorsal e membros inferiores representam 18% cada e a região palmar e perineal 1%. Contudo, para as crianças, a região cefálica representa 21%, os membros superiores representam 9% cada, o tronco ventral e dorsal 18% cada, membros inferiores 12% cada, região perineal e palmar 1%.

FIGURA  SEQ Figura \* ARABIC 2- REGRA DOS NOVE EM CRIANÇAS E ADULTOS  

Diante disso, é fundamental a necessidade de atenção multiprofissional ao paciente vítima de queimaduras. Com isso, a enfermagem é a categoria que passa mais tempo junto ao paciente e que realiza todo o plano de cuidado. Diante da importância que a enfermagem detém no tratamento de vítimas de queimaduras, é extremamente necessário que a equipe esteja preparada e capacitada para identificar e classificar as queimaduras, além de elaborar as intervenções de enfermagem para cada caso. Com isso a tabela a seguir lista os principais cuidados de enfermagem em pacientes queimados nas unidades de pronto atendimento e emergências hospitalares.

TABELA 1- CUIDADOS DE ENFERMAGEM AO PACIENTE QUEIMADO NA EMERGÊNCIA  

Cuidados ImediatosCuidados na Sala de Emergência
Remover roupas, joias, anéis e outros acessóriosAvaliar as vias aéreas (presença de corpos estranhos ) e realizar aspiração, se necessário.
Interromper o processo de queimaduraAdministrar oxigenoterapia, conforme prescrição e indicação médica.
Cobrir lesão com tecido limpoReposição de líquidos e eletrólitos, conforme indicação médica.
Avaliar sinais vitaisRealização do curativo da queimadura, conforme o tipo de queimadura, obedecendo protocolo da instituição.
Realizar classificação de risco conforme o protocolo utilizado na unidade.Planejar e coordenar o plano de cuidado e o processo de enfermagem.
 Monitorar parâmetros hemodinâmicos periodicamente, como PaO² e PaCO²,e saturação.
 Instalar sonda vesical de demora para controle da diurese quando a área comprometida for maior que 20% em adultos e 10% em crianças.
FONTE: ADAPTADO DE CARTILHA PARA TRATAMENTO DE EMERGÊNCIA DAS QUEIMADURAS, 2012.  

4 CONCLUSÃO                                                                             

Diante disso, esse trabalho proporcionou, através de uma revisão de literatura, o levantamento de dados sobre a fisiopatologia das queimaduras, suas classificações e métodos de avaliação da área lesionada, como a regra dos nove. Além disso, destacou o papel da enfermagem no cuidado de pacientes vítimas de queimaduras em emergências, frisando também as principais intervenções da enfermagem no cuidado imediato e mediato a pacientes queimados.

Com isso, fica claro que a enfermagem é fundamental para o tratamento de queimaduras, por ser ela que elabora e executa o plano de cuidado do paciente. Para isso, precisa-se sistematizar a assistência e saber exercer as intervenções de enfermagem em emergências relacionadas a queimaduras, além de saber realizar uma classificação de risco satisfatória, para que ela possa desempenhar sua utilidade na triagem em urgência e emergência.

REFERÊNCIAS

COSTA, Pâmela Cristine et al. Cuidados de enfermagem direcionados ao paciente queimado: uma revisão de escopo. Revista brasileira de enfermagem, [s. l.], 12 dez. 2022. Disponível em: https://www.scielo.br/j/reben/a/vsThRqQXTLVkqRVH6NSLGhd/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 4 dez. 2023.

COSTA, Pâmela Cristine et alProtocolo de cuidados de enfermagem a vítimas de queimadura. 2022. Trabalho de conclusão de curso (Mestrado em prática do cuidado em saúde.) – Universidade federal do Paraná, [S. l.], 2022. Disponível em: https://acervodigital.ufpr.br/handle/1884/80323. Acesso em: 4 dez. 2023.

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