PANORAMA GERAL DO MODAL FERROVIÁRIO BRASILEIRO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10252463


Matheus Vinicius Maia Lima


INTRODUÇÃO

No Brasil, o modal ferroviário se destaca por conseguir atender com eficácia e rapidez o transporte de cargas, isso, associado a baixo custo e elevada segurança. Essas são características essenciais para um modal e o que traz grande destaque ao sistema ferroviário.

Com manutenção de ferrovias de baixo custo e índices de acidentes baixos, a quantidade de cargas que podem ser transportadas sobre trilhos é significante.

Porém, mesmo com grandes características positivas, o modal ferroviário não se desenvolveu como esperado a se tornar um dos modais mais utilizados, assim fazendo a malha ferroviária existente no Brasil ser ínfima comparada à extensão do país.

O sistema ferroviário perdeu força e investimentos, no governo de Juscelino Kubitschek, onde a forma encontrada de atrair investimentos estrangeiros foi a instalação de montadoras estrangeiras de automóveis. Como consequência, foram necessários investimentos em rodovias. 

Segundo (POMPERMYER) O País se afastou dos trilhos nos anos 1950, com o plano de crescimento rápido do presidente Juscelino Kubitschek, que priorizou rodovias. A construção de ferrovias era lenta para fazer o Brasil crescer “50 anos em cinco”, como ele queria. “Em seis meses, você faz 500 quilômetros de estrada de terra. Isso em ferrovia leva três anos”

Com o desenvolvimento incessante do modal rodoviário, o modal ferroviário, que antigamente era considerado o meio mais viável para transporte de cargas, hoje, segundo dados da CNT, com 30.576 km de ferrovias, 29.165 são de concessões. Com isso, a privatização do modal ferroviário também foi um dos fatores decisivos para a sua não evolução no Brasil. Assim, ficando muito abaixo quando comparado o uso do modal ferroviário com países desenvolvidos, qual o caso da Rússia e dos Estados Unidos.

REFERENCIAL TEÓRICO

Será feito um breve levantamento de posicionamentos sobre o transporte ferroviário e sobre a sua devida relevância para um país, em especial, autores que tratem sobre a situação ferroviária brasileira.

MATERIAIS E MÉTODOS 

Com base no tema: análise do sistema ferroviário brasileiro, iniciou-se o trabalho. A princípio, realizou-se um levantamento em literaturas, artigos, tese de doutorado, anuais e entre outras literaturas que fomentasse a confecção de um referencial teórico, e que pudesse ser utilizado como parâmetro para o artigo em questão.

Por conseguinte, analisou-se de maneira minuciosa os anuais de transportes apresentados pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT), e pela Agência Nacional dos Transportes Terrestres (ANTT), com base no Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil. 

Através desse levantamento, foi possível elaborar uma profunda revisão sobre os dados apontados nos respectivos anuais de transportes para que, em seguida, realizássemos o levantamento qualitativo do sistema ferroviário brasileiro.

Após a análise geral, determinou-se os dados qualitativos mais relevantes e que contemplasse com mais conhecimento o estudo, para que os autores do mesmo se debruçassem sobre o respectivo tema. Por fim, apresentou-se as considerações finais, uma revisão do parâmetro modal ferroviário no Brasil. 

O desenvolver do trabalho é esquematizado conforme a tabela abaixo:

Tabela 01: Esquematização dos materiais e métodos

RESULTADOS

Os resultados obtidos serão apresentados conforme dados de anuários da Confederação Nacional do Transporte (CNT), da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e do Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil. 

A extensão total da malha ferroviária no Brasil em dezembro de 2016, último dado divulgado até a então data, é de 30576 km, sendo 29165 km operando em forma de concessões, e estão dispostas no território nacional conforme o mapa abaixo. 

MAPA 01 – Disposição da Malha Ferroviária no Brasil

Fonte: Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil (2017)

Comparando esse último dado de extensão de malha com anos anteriores, conforme o gráfico abaixo, podemos perceber que o crescimento da malha ao longo do tempo é consideravelmente pequeno e oscilante.

GRÁFICO 01 – Malha Ferroviária ao Longo dos Anos

Fonte: Autoria própria com base em dados divulgados pela Confederação Nacional do Transporte.

A frota ferroviária é composta por 102069 vagões em circulação, sendo um aumento de 9,6% entre 2013 e 2016. O ano de 2012 registrou o maior número de vagões em circulação desde 2006, 105906.

GRÁFICO 02 – Quantidade de Vagões em Operação 2006 – 2016

Fonte: Anuário da Confederação Nacional do Transporte (CNT) (2017)

Esses vagões podem ser divididos conforme os seus tipos. O Vagão tipo gôndola, ideal para o transporte de minério de ferro, representa 46,8% dos tipos de vagões no ano de 2016.

GRÁFICO 03 – Tipos de vagões em operação – 2016

Fonte: Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil (2017)

Além dos Vagões, a frota ferroviária também é composta por 3046 locomotivas. Em 2015 foi registrado o maior número de locomotivas em operação desde 2006, 3377.

GRÁFICO 04 – Quantidade de Locomotivas em Operação 2006 – 2016

Fonte: Anuário da Confederação Nacional do Transporte (CNT) (2017)

A quantidade de carga transportada por esse modal no ano de 2016, em toneladas úteis (TU), foi de 503,8 milhões, o que representa um crescimento de 2,5% em relação ao ano anterior e de 29,5% em relação ao ano de 2006. 

GRÁFICO 05 – Quantidade de carga transportada em TU 2006 – 2016

Fonte: Anuário da Confederação Nacional do Transporte (CNT) (2017)

Também houve crescimento na movimentação de carga em toneladas por quilômetro útil (TKU). Em 2016 o registrado foi de 341,2 bilhões TKU, representando um crescimento de 2,7% em relação a 2015 e 43,1% em relação a 2006.

GRÁFICO 06 – Quantidade de carga transportada em TKU 2006 – 2016

Fonte: Anuário da Confederação Nacional do Transporte (CNT) (2017)

Ainda falando sobre a movimentação de cargas nesse modal, dados do ano de 2013 nos mostram as mercadorias que mais foram transportadas nas ferrovias brasileiras em toneladas por quilômetro útil. 

Nota-se que a mercadoria que mais utiliza desse modal para o seu transporte é o minério de ferro, representando 73,76% do total de cargas transportadas em TKU em 2013 conforme a Confederação Nacional do Transporte e 78,9% no ano de 2016 conforme o Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil.  

TABELA 01 – Mercadorias transportadas em toneladas por quilômetro segundo tipo de mercadoria – 2013

Fonte: Autoria própria com base em dados divulgados pela Confederação Nacional do Transporte.

Para o transporte do minério de Ferro são utilizados cerca de 2385 km da malha ferroviária, o que corresponde a 8% de toda malha em operação em 2016.

Quanto à quantidade de passageiros transportados no modal ferroviário, o ano de 2016 registrou um total de 1889208, sendo notada uma queda de 9,1% nesse total em relação ao ano de 2015.

GRÁFICO 07 – Quantidade de passageiros transportados 2006 – 2016

Fonte: Anuário da Confederação Nacional do Transporte (CNT) (2017)

Também podemos notar que o modal ferroviário foi responsável no ano de 2016 por 40234 empregos, representando um crescimento de 42,8% nesse número em relação ao ano de 2006.

Já quanto ao total de acidentes, o modal ferroviária mostra-se um meio bastante seguro em comparação com os demais modais de transporte. Conforme dados da ANTT, em 2016 foram registrados 687 acidentes, registrando uma queda de 39,5% nesse número em relação ao ano de 2010. Os principais motivos dos acidentes são descarrilamento e atropelamentos em áreas urbanas, sendo 60% destes acidentes sem nenhuma vítima fatal.

GRÁFICO 08 – Quantidade de acidentes registrados 2010 – 2016

Fonte: Agência Nacional dos Transportes Terrestres (ANTT)

Os investimentos feitos pelas concessionárias durante o período de 2006 até 2015 foi em média de 4,614 milhões de reais por ano. No ano de 2016 até agosto foram computados investimentos na ordem de 3,638 milhões de reais. 

Quanto aos investimentos do Governo Federal, em 2016 foi investido no transporte ferroviário cerca de 1,147 milhões, correspondente a 6,2% do valor total do investimento em todos os modais de transportes neste ano. Já em 2010 o investimento foi de cerca de 2,541 milhões, correspondente a 12,9% do valor total investido em transportes neste ano.

GRÁFICO 09 – Investimento do Governo Federal nos Transportes 2010 – 2016

Fonte: Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil (2017)

A velocidade média de percurso em quilômetro por hora (km/h) nas ferrovias brasileiras no ano de 2016 conforme dados da ANTT sobre as concessionárias operantes é de 22,33 km/h. 

A concessionária MRS Logística (MRS), teve a maior velocidade média de percurso em 2016, atingindo 35,82 km/h. Já a menor velocidade média de percurso é da concessionária América Latina Logística Malha Oeste (ALLMO) com 12,23 km/h.

A tarifa média praticada nas ferrovias Brasileiras, levando em consideração todos os grupos de mercadorias, em tonelada por mil quilômetros (t./1000 km), em 2016 foi de R$ 68,00. De 2010 para 2016 registrou-se um crescimento de 83,8% no valor dessa tarifa. 

GRÁFICO 10 – Tarifa média nas ferrovias brasileiras levando em consideração todos os grupos de mercadorias 2010 – 2016

Fonte: Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil (2017)

GRÁFICO 10 – Tarifa média nas ferrovias brasileiras por tipo de carga 2016

Fonte: Autoria própria com base em dados divulgados pelo Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil (2017).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Trabalho abordado apresenta informações sobre o panorama das ferrovias no Brasil. Sabemos que as ferrovias exercem um papel de fundamental importância para o desenvolvimento de um país por diversos motivos tais como, baixo custo de frete e manutenção, menor índice de roubos e acidentes, entre outros, porém, de acordo com os dados apresentados podemos concluir que de 2006 a 2016 o crescimento da malha ferroviária brasileira foi de 1.080Km, totalizando uma área total de 30.576KM de malha ferroviária, um valor muito pequeno.

 No ano de 2016 foram registrados 102.043 vagões em operação, os quais podem ser divididos em 5 tipos, Hopper, Plataforma, Tanque, Fechado e Gôndola que representa o maior número deles em operação (46,8%), já as locomotivas em operação no ano de 2016 totalizam o valor de 3.046, tendo um crescimento de 29,5% em relação a 2006. 

No Brasil, o material que mais é transportado por esse tipo de modal são os minérios de ferro. A média de passageiros entre 2009 a 2016 foi aproximadamente 1.470.024 e em 2016 transportou cerca de 1.889.208 pessoas, sendo 9,12% menor do que no ano anterior.

 O investimento do governo dentro das ferrovias é muito baixo se comparado com outros modais, de 2006 a 2015 o valor médio anual de investimento foi de 4,614 milhões de reais por ano.

Tomando em conta todos os dados que foram possíveis obter e tendo o conhecimento da importância das ferrovias, pode-se afirmar que no brasil as instalações ferroviárias apresentam uma estrutura abaixo do necessário e que os números investidos também se fazem inadequados para o seu desenvolvimento. Porém, apesar dos números relativamente pequenos, esse modal vem crescendo ano após ano, e o seu desenvolvimento é extremamente importante para o progresso econômico do País.

REFERÊNCIAS 

Confederação Nacional do Transporte. ANUÁRIO CNT DO TRANSPORTE: Estatísticas consolidadas. Disponível em: <http://anuariodotransporte.cnt.org.br/2017/>. Acesso em: 30 maio 2018.

Confederação Nacional do Transporte. Boletim Estatístico. Disponível em: <http://www.cnt.org.br/Boletim/boletim-estatistico-cnt>. Acesso em: 30 maio 2018.

Agência Nacional de Transportes Terrestres. Ferroviária. Disponível em: <http://portal.antt.gov.br/index.php/content/view/4751/Ferroviaria.html>. Acesso em: 31 maio 2018.

Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil. ANUÁRIO ESTATÍSTICO DE TRANSPORTES: 2010 – 2016. Disponível em: <http://www.transportes.gov.br/images/2017/Sumário_Executivo_AET_-_2010_-_2016.pdf>. Acesso em: 31 maio 2018.