PANORAMA EPIDEMIOLÓGICO DO CRESCIMENTO DA DENGUE NO BRASIL DURANTE A COVID 2019

EPIDEMIOLOGICAL OUTLOOK OF DENGUE GROWTH IN BRAZIL DURING COVID-2019

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11555223


Anna Clara de Sousa Marques1; Ana Letícia Muniz Saraiva²; Ludmila de Sousa França3; Orientador: Astério Magalhães Filho4.


RESUMO: Introdução: A dengue, uma doença viral transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, é uma preocupação de saúde pública no Brasil devido à sua endemia e sintomas graves. A transmissão é favorecida pelo clima tropical, urbanização e mobilidade populacional. A pandemia de COVID-19 exacerbou os desafios, sobrecarregando os sistemas de saúde e prejudicando medidas de controle. Objetivos: Este estudo visa compreender a correlação entre os aumentos dos casos de dengue e a COVID-19 no Brasil, avaliando seus impactos na saúde pública e propondo estratégias integradas de prevenção e resposta. Metodologia: Este estudo investiga o perfil epidemiológico da dengue durante a pandemia de COVID-19, analisando dados de 2019 a 2022 coletados do SINAN. Utiliza uma abordagem retrospectiva para avaliar tendências e associações, assegurando princípios éticos e confidencialidade dos dados, apesar das limitações de subnotificação e dados secundários.Resultados: O Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) monitora casos de doenças na lista nacional de notificação obrigatória. Profissionais de saúde relatam cada caso diagnosticado durante a semana epidemiológica em que ocorre, usando formulários específicos em todos os níveis de atendimento à saúde. Este estudo descreve os aspectos epidemiológicos da dengue no Tocantins, que registrou 45.979 casos prováveis de 2019 a 2022. Discussão: O estudo revela uma flutuação nos casos de dengue no Tocantins de 2019 a 2022, influenciada pelo surgimento da COVID-19. Adaptações no sistema de saúde e desafios diagnósticos levaram à subnotificação. A dengue afeta predominantemente mulheres jovens economicamente ativas. As áreas urbanas, especialmente Palmas, Araguaína e Porto Nacional, enfrentaram a maior incidência. A falta de desagregação de dados rural-urbanos destaca a necessidade de vigilância aprimorada e intervenções direcionadas. Os achados destacam a necessidade de equilibrar a resposta à COVID-19 com o controle de doenças endêmicas, defendendo esforços contínuos de prevenção da dengue e formulação de políticas baseadas em evidências para conter a epidemia no Brasil.

Palavras-chave: Covid-19. Dengue. Pandemias.

ABSTRACT: Introduction: Dengue, a viral disease transmitted by the Aedes aegypti mosquito, is a public health concern in Brazil due to its endemic nature and severe symptoms. Transmission is favored by tropical climate, urbanization, and population mobility. The COVID-19 pandemic has exacerbated challenges, overburdening healthcare systems and impairing control measures. Objectives: This study aims to understand the correlation between increases in dengue cases and COVID-19 in Brazil, assessing their impacts on public health and proposing integrated prevention and response strategies. Methodology: This study investigates the epidemiological profile of dengue during the COVID-19 pandemic, analyzing data from 2019 to 2022 collected from SINAN. It uses a retrospective approach to evaluate trends and associations, ensuring ethical principles and data confidentiality, despite the limitations of underreporting and secondary data. Results: The Notifiable Diseases Information System (SINAN) tracks cases of diseases on the national mandatory notification list. Health professionals report each diagnosed case during the epidemiological week it occurs, using specific forms across all healthcare levels. This study describes the epidemiological aspects of dengue in Tocantins, which reported 45,979 probable cases from 2019 to 2022. Discussion: The study reveals a fluctuation in dengue cases in Tocantins from 2019 to 2022, influenced by the emergence of COVID-19. Health system adaptations and diagnostic challenges led to underreporting. Dengue predominantly affects economically active young women. Urban areas, notably Palmas, Araguaína, and Porto Nacional, faced the highest incidence. Lack of rural-urban data disaggregation highlights the need for improved surveillance and targeted interventions. The findings underscore the necessity of balancing COVID-19 response with endemic disease control, advocating for sustained dengue prevention efforts and evidence-based policymaking to curb the epidemic in Brazil.

Keywords: Covid-19. Dengue. Pandemics.

1 INTRODUÇÃO

A Dengue é uma doença viral transmitida principalmente pelo mosquito Aedes aegypti, caracterizada por uma variedade de sintomas, que incluem febre alta, dores musculares e articulares, além de possíveis complicações graves em casos mais severos (Barroso et al. 2020). No Brasil, a dengue é uma preocupação constante devido à sua endemia e ao impacto significativo que exerce sobre a saúde pública e a qualidade de vida das comunidades afetadas. A doença tem sido objeto de estudos e esforços de controle por décadas, desde o seu primeiro caso em Recife no ano de 1685 e dada sua prevalência em regiões tropicais e subtropicais ao redor do mundo (Menezes et al. 2021). A transmissão é realizada através da picada do vetor, transmitindo o vírus para a corrente sanguínea, manifestando em cerca de 7 dias os sintomas de febre, dores de cabeça e nas articulações, além de possíveis erupções cutâneas. Em casos graves, a dengue pode evoluir para dengue grave ou choque hemorrágico, condições que requerem tratamento médico imediato e podendo ocasionar sintomas até mesmo fatais se não forem adequadamente gerenciadas (Harapan et al. 2020).

Um fator que corrobora para a propagação da dengue no Brasil é a condição climática, uma vez que o clima tropical e subtropical favorece a reprodução do vetor Aedes aegypti. Durante as estações chuvosas, há um aumento na incidência de casos devido ao aumento de locais propícios para a proliferação do Aedes aegypti, uma vez que, além de oferecerem um ambiente ideal para a transmissão do vírus, esses climas aumentam a vulnerabilidade das populações expostas (Andrioli et al. 2020). Além disso, as mudanças climáticas globais podem impactar a distribuição geográfica do mosquito vetor e o padrão sazonal da doença, tornando a dengue uma ameaça ainda mais premente em muitas partes do mundo. Conforme o estudo realizado por Menezes et al. (2021), no início do ano de 2020 o número de casos de dengue registrados ultrapassou mais de 1,6 milhão nas Américas, com destaque para o Brasil que representa 65% desse índice (1.040.481 casos).

Cabe destacar também a mobilidade urbana como um fator de disseminação da dengue, pois facilita o deslocamento de pessoas entre áreas afetadas e saudáveis, geralmente saindo das áreas rurais em direção às áreas urbanas, permitindo que o vírus se espalhe rapidamente (Costa, 2022). Populações vulneráveis, como aquelas em condições de pobreza ou com acesso limitado a serviços de saúde, estão particularmente em risco devido a condições de moradia precárias, saneamento básico escasso e a falta de recursos para medidas de prevenção adequadas, reafirmando a concepção de que a desigualdade estrutural também é um fator contribuinte para a progressão da dengue (Dos Santos Alves et al. 2021).

Nesse meandro, a pandemia de COVID-19 também desempenhou um papel significativo como fator agravante. Diante dos esforços para concentrar seus recursos no combate ao coronavírus, o sistema de saúde, previamente deficiente, enfrentou desafios na manutenção de programas de controle de vetores e da notificação de casos oriundos da dengue (Mascarenhas, 2020). Além disso, medidas de distanciamento social e restrições de mobilidade contribuíram para a diminuição de ações de controle do vetor da dengue, considerando que as visitas domiciliares realizadas por agentes de saúde voltadas para a inspeção de criadouros e para a pulverização de casas, foram interrompidas (Brasil, 2020).

A falta de acesso aos serviços de saúde devido à sobrecarga dos sistemas de saúde durante a pandemia também ocasionou um subdiagnóstico e subnotificação dos casos de dengue, exacerbando o problema (Dos Santos et al. 2020). Essa interação entre a pandemia de COVID-19 e o aumento dos casos de dengue destaca a necessidade de abordagens integradas e coordenadas para o controle de doenças transmitidas por vetores, visando mitigar os impactos dessas duas importantes ameaças à saúde pública.

O aumento dos casos de dengue tem impactos significativos na saúde das comunidades afetadas, sobrecarregando os sistemas de saúde e causando perdas econômicas devido ao absenteísmo no trabalho e aos custos relacionados ao tratamento da doença. Nesse contexto, medidas de controle e prevenção são essenciais para mitigar o impacto da dengue. A coincidência espaço-temporal dos aumentos dos casos de dengue com a pandemia de COVID-19 colocou ainda mais pressão nos serviços de saúde, destacando a necessidade de abordagens integradas e coordenadas para lidar com essas duas importantes ameaças à saúde pública.

1.1 JUSTIFICATIVA

Este estudo visa compreender a correlação entre os aumentos dos casos de dengue e a pandemia de COVID-19 no Brasil, considerando os impactos dessa interação na saúde pública. A coexistência dessas doenças apresenta desafios significativos para os sistemas de saúde e as comunidades afetadas. Por meio de análises epidemiológicas e avaliação das medidas de controle, espera-se contribuir para o desenvolvimento de estratégias integradas de prevenção e resposta, visando mitigar os impactos negativos desses surtos simultâneos e fortalecer a capacidade de saúde pública do país.

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 GERAL

Analisar a correlação entre a COVID-19 e o crescimento dos casos de dengue no Brasil durante essa pandemia.

1.2.2 ESPECÍFICOS

  1. Identificar as regiões do Tocantins mais afetadas pelo aumento dos casos de dengue durante o período da pandemia de COVID-19.
  2. Analisar os fatores ambientais, sociais e de saúde pública que podem influenciar a correlação entre os aumentos dos casos de dengue e COVID-19.
  3. Investigar os impactos da pandemia de COVID-19 nas estratégias de controle e prevenção da dengue, bem como suas repercussões na vigilância epidemiológica e no diagnóstico da doença.

2 METODOLOGIA

Este estudo tem como objetivo investigar o perfil epidemiológico do crescimento da dengue durante a pandemia de COVID-19. Para atingir esse propósito, uma abordagem metodológica rigorosa foi adotada, envolvendo diversas etapas de coleta, análise e interpretação de dados.

O desenho do estudo é de natureza epidemiológica, baseado em análise retrospectiva dos casos de dengue reportados no Brasil durante o período coincidente com a pandemia de COVID-19. Os dados foram coletados a partir do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), nos quais foram analisados fatores relacionados aos casos de dengue no período de 2019 a 2022, incluindo número total de por ano, cidade mais prevalente, idade, sexo, região e zona geográfica.

A análise estatística dos dados será realizada utilizando métodos apropriados para estudos epidemiológicos, tais como análise descritiva para caracterização dos casos, análise de tendências temporais para identificação de padrões de crescimento da dengue ao longo do período estudado para investigar associações entre a incidência de dengue e fatores como medidas de controle da COVID-19, sazonalidade, entre outros.

Este estudo será conduzido com base no uso de bancos de dados epidemiológicos já existentes, não envolvendo a coleta direta de dados de pacientes ou a intervenção em sua saúde. Portanto, não haverá a necessidade de consentimento informado dos participantes, uma vez que os dados são agregados e anonimizados antes de serem disponibilizados para pesquisa. Será garantido o respeito aos princípios éticos da pesquisa científica, assegurando a confidencialidade e o uso responsável dos dados disponíveis. Este estudo seguirá as diretrizes éticas estabelecidas pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) e outras instâncias regulatórias pertinentes, em conformidade com as normas nacionais e internacionais de proteção à privacidade e aos direitos dos participantes.

Apenas casos confirmados de dengue no Brasil entre os anos de 2019 e 2022, com base em critérios laboratoriais ou clínicos estabelecidos, são considerados para análise, excluindo casos que apresentem lacunas significativas de informações, como dados demográficos incompletos ou registros temporais ausentes, são excluídos da análise. Essa medida visa mitigar possíveis vieses e garantir a integridade dos dados utilizados neste estudo, garantindo a precisão e a confiabilidade dos dados epidemiológicos utilizados neste estudo.

É importante ressaltar que este estudo apresenta algumas limitações, tais como a dependência de dados secundários sujeitos a subnotificação e inconsistências, bem como a impossibilidade de estabelecer relações causais devido à natureza observacional do estudo.

3 RESULTADOS

O Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) é abastecido através da notificação e investigação dos casos de doenças e agravos incluídos na lista nacional de doenças de notificação compulsória. Cada caso diagnosticado deve ser reportado durante a semana epidemiológica em que ocorre pelos profissionais de saúde da vigilância, utilizando uma ficha específica, em todos os três níveis de atenção à saúde. Neste estudo em questão, o objetivo foi descrever os aspectos epidemiológicos dos pacientes diagnosticados com dengue.

Durante o período de 2019 a 2022, o estado do Tocantins registrou um total de 45.979 casos prováveis de dengue conforme apresentado na figura 1.

Durante os 4 anos de estudo da amostra, o estado do Tocantins demonstrou uma variação irregular na notificação de casos de dengue. Em 2019, foram notificados 13.727 casos, enquanto em 2020, esse número caiu para 1.916 casos. Posteriormente, houve um aumento progressivo, atingindo o pico de 20.757 casos notificados em 2022 conforme a figura 1.

Tabela 1. Dez cidades do estado do Tocantins com maior número de casos de Dengue notificados no período de 2019 a 2022. Fonte: SINAN, 2023.

Município de notificação2019202020212022Total
Total13727191695232075745979
PALMAS533950942661185122000
ARAGUAÍNA1745341135513374780
PORTO NACIONAL1348326775762638
PARAÍSO DO TOCANTINS5681051047991577
GURUPI28220528305820
ARRAIAS4865035173744
FORMOSO DO ARAGUAIA4291838190675
LAGOA DA CONFUSÃO2932425226568
COLINAS DO TOCANTINS105341185541
TOCANTINÓPOLIS1382232281473

As principais cidades notificadas no estado do Tocantins em ordem decrescente são: Palmas, Araguaína, Porto Nacional, Paraíso do Tocantins, Gurupi, Arraias, Formosa do Araguaia, Lagoa da Confusão, Colina do Tocantins e Tocantinópolis, conforme apresentado na tabela 1.

Além disso, o estudo também investigou o método utilizado para confirmar o diagnóstico. Verificou-se que, para 29.455 casos, o método clínico-epidemiológico foi empregado, enquanto para 14.099 casos, o método laboratorial foi escolhido. Somando-se a isso, as classificações dos casos notificados em sua totalidade, mostrou-se que 45.979 casos, 42404 casos foram identificados como Dengue, 988 casos como Dengue com sinais de alarme, 57 casos como Dengue grave, 2.493 casos como inconclusivos, conforme dados selecionados pelo SINAN no ano de 2023.

De acordo com a Figura 3, o número de casos prováveis de dengue é predominantemente maior entre mulheres em todos os anos, exceto em 2020, quando o número de casos entre homens e mulheres foi igual.

A faixa etária economicamente ativa se destacou, com 17.289 casos registrados entre 20 e 39 anos, e 8.471 casos entre 40 e 59 anos ao longo do período estudado, conforme mostra a Figura 4. Além disso, durante os anos de 2019 a 2022, dos 988 casos de dengue com sinais de alarme, foram registrados 296 casos na faixa etária de 20-39 anos, 176 na faixa etária de 40 a 59 anos.

4 DISCUSSÃO

Por meio da coleta dos dados, percebeu-se que houve uma queda na quantidade de casos de dengue em 2020 em relação ao ano anterior no estado do Tocantins, voltando a aumentar progressivamente até 2022. Nesse contexto, o início de dezembro do ano de 2019 foi marcado pelo surgimento da COVID-19 que gerou uma pandemia em março do ano seguinte, levando ao isolamento social da população em todos os estados brasileiros com a finalidade de tentar reduzir o número de casos de COVID-19, já que a doença se mostrava ser fatal. A alteração observada nos dados epidemiológicos da dengue em 2020 apoia a hipótese de uma possível subnotificação dos casos no país, resultante da pandemia de COVID-19 e do isolamento social durante esse período (De Paiva et al, 2023).

Além disso, outros fatores estão relacionados à adaptação do sistema de saúde para enfrentar a pandemia de COVID-19 durante esse período de pandemia, como a sobrecarga das unidades de saúde, a interrupção das campanhas de vacinação e a alteração no comportamento de saúde da população. Assim, houve uma ocultação dos dados epidemiológicos referentes às doenças sazonais, como a dengue. Adicionalmente, a semelhança dos sintomas relatados pelos pacientes pode ter contribuído para a subnotificação de muitos casos dessas doenças entre os anos de 2019 e de 2020 (Pinto et al, 2023)

Notou-se também que o principal método diagnóstico foi clínico, sem a utilização de exames diagnósticos. Assim, o diagnóstico essencialmente clínico da dengue pode ser bastante desafiador para os médicos, principalmente devido à semelhança dos sintomas dessa doença com os de outras infecções virais, como chikungunya, Zika, leptospirose e febre tifoide. Esses desafios de diagnóstico são exacerbados pelo fato de que todas essas doenças podem apresentar febre, dores de cabeça, mialgias e artralgias, sintomas comuns entre elas, a exemplo da dengue, da chikungunya e da Zika transmitidas pelo mesmo vetor, o mosquito Aedes aegypti, e compartilham muitos sintomas iniciais, como febre alta, erupções cutâneas e dores articulares. Assim, para diferenciar essas condições, os médicos dependem de uma combinação de critérios clínicos e testes laboratoriais. O diagnóstico laboratorial da dengue pode incluir testes sorológicos para detectar anticorpos IgM e IgG ou testes de detecção de antígenos virais por métodos de PCR. A história de viagem recente a áreas endêmicas e a exposição a mosquitos também são fatores importantes na avaliação clínica (Mayo Clinic, 2022).

Essas dificuldades destacam a importância de melhorias contínuas nos métodos de diagnóstico e na capacitação dos profissionais de saúde para reconhecer as sutis diferenças entre essas doenças. O desenvolvimento de testes rápidos e específicos para cada uma dessas infecções é crucial para garantir um diagnóstico preciso e um tratamento adequado, minimizando a morbidade e a mortalidade associadas a diagnósticos incorretos (Mayo Clinic, 2022) .

Notou-se também que a dengue atinge predominantemente mulheres jovens economicamente ativas no estado do Tocantins, sobretudo entre 20 a 39 anos. Esse fato pode decorrer do maior contato com os mosquitos Aedes aegypti, os transmissores da doença. Nesse contexto, estudos sugerem que hormônios sexuais, como os estrogênios, podem desempenhar um papel significativo na modulação da resposta imunológica, uma vez que pesquisas indicam que os estrogênios podem aumentar a expressão de certos receptores virais nas células hospedeiras, tornando as mulheres mais suscetíveis à infecção por alguns vírus, incluindo o vírus da dengue. Além disso, fatores sociais desempenham um papel fundamental na maior incidência de dengue entre as mulheres devido à maior probabilidade de serem responsáveis pelas tarefas domésticas, o que as expõe a um maior risco de picadas de mosquitos transmissores durante as atividades diárias (Souza et al, 2019).

Quanto as localizações mais afetadas pela dengue destacam-se as cidades de Palmas, Araguaína e Porto Nacional, destacaram-se como as localidades com o maior número de casos notificados. Esses municípios, por serem os mais populosos e economicamente ativos do estado, apresentam condições que favorecem a transmissão da dengue, como maior densidade populacional e infraestrutura urbana que pode acumular água parada, criando criadouros para o mosquito Aedes aegypti. De acordo com Silva et al. (2021), os casos destacam-se nas áreas urbanas devido aos fatores predisponentes ao surgimento das arboviroses emergentes no Brasil, dentre eles a mudança climática, desmatamento e ocupação desordenada. A concentração de casos nessas áreas urbanas sugere que intervenções específicas e direcionadas nesses locais podem ser mais eficazes na redução da incidência da doença.

Infelizmente, não foi possível realizar uma análise comparativa entre as zonas urbana e rural, pois os dados disponíveis não estavam desagregados por essas categorias. Essa limitação impede uma compreensão mais detalhada da distribuição da dengue no estado e dificulta a formulação de políticas de saúde pública que considerem as particularidades de cada região. A obtenção de dados mais detalhados e específicos no futuro é essencial para aprimorar o entendimento epidemiológico da dengue em Tocantins e para o desenvolvimento de estratégias de controle mais eficazes e direcionadas.

O conhecimento detalhado do panorama epidemiológico da dengue no Tocantins revela como o aumento dos casos durante a pandemia de COVID-19 pode estar relacionado ao redirecionamento de recursos e atenção para o controle do coronavírus, potencialmente resultando em uma diminuição nas atividades de prevenção e controle da dengue. Esse cenário enfatiza a necessidade de equilibrar as respostas a emergências de saúde pública sem negligenciar doenças endêmicas como a dengue.

Além disso, o estudo reforça a importância de que instituições e políticas públicas mantenham um foco contínuo na prevenção da dengue para garantir o controle dessa epidemia no Brasil. Implementar estratégias eficazes e sustentáveis, promover campanhas educativas e melhorar a infraestrutura urbana são medidas essenciais para reduzir a incidência da dengue. Políticas públicas bem planejadas, baseadas em dados epidemiológicos sólidos, são fundamentais para enfrentar os desafios impostos pela dengue e proteger a saúde da população, mesmo em tempos de crises sanitárias.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa sobre a dengue no Tocantins durante 2019 a 2022 evidencia a influência significativa de fatores externos, como a pandemia de COVID-19, na dinâmica da doença. Em 2020, houve uma queda notável nos casos de dengue, seguida por um aumento gradual nos anos subsequentes. Este padrão sugere que a pandemia redirecionou recursos e atenção do sistema de saúde, resultando em menor foco nas medidas de prevenção e controle da dengue. O impacto das medidas de isolamento social e a sobrecarga das unidades de saúde provavelmente contribuíram para a subnotificação dos casos, evidenciando a necessidade de estratégias de saúde pública que possam manter o equilíbrio entre diferentes emergências sanitárias.

A pesquisa também revelou os desafios no diagnóstico preciso da dengue durante o período de pandemia, onde os sintomas semelhantes entre várias infecções virais complicaram o trabalho dos profissionais de saúde. A dependência de diagnósticos clínicos, sem suporte adequado de exames laboratoriais, aumentou a dificuldade em distinguir a dengue de outras doenças virais. Isso aponta para a necessidade urgente de aprimoramento nos métodos de diagnóstico e maior capacitação dos profissionais de saúde, além da implementação de tecnologias diagnósticas mais acessíveis e específicas que possam diferenciar claramente entre essas infecções.

Por fim, observou-se que fatores como alta densidade populacional e infraestrutura urbana que favorece o acúmulo de água parada são críticos para a proliferação do mosquito transmissor. Esses achados indicam a importância de intervenções localizadas e contínuas em áreas urbanas para o controle efetivo da dengue. Ademais, a falta de dados desagregados por zonas urbanas e rurais limitou a análise detalhada da distribuição da doença, ressaltando a necessidade de uma coleta de dados mais precisa e abrangente para apoiar a formulação de políticas públicas mais eficazes e direcionadas.

REFERÊNCIAS

ANDRIOLI, Denise Catarina; BUSATO, Maria Assunta; LUTINSKI, Junir Antonio. Características da epidemia de dengue em Pinhalzinho, Santa Catarina, 2015-2016. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 29, p. e2020057, 2020.

BARROSO, Iandara Lopes Dias et al. Um estudo sobre a prevalência da dengue no Brasil: Análise da literatura. Brazilian Journal of Development, v. 6, n.8, p. 61878-61883, 2020.

Brasil. (2020g) Ministério da Saúde. Recomendações aos Agentes de Combate a Endemias (ACE) para adequação das ações de vigilância e controle de zoonoses frente à atual situação epidemiológica referente ao Coronavírus (COVID-19).Nota informativa n° 8, de 26 de março de 2020. Brasília,DF:Ministério da Saúde, 2020.Recuperado de https://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2020/marco/30/nota-informativa-ACE-C ovid-19-27mar20.pdf.

COSTA, Matheus Moreira. Investigação dos efeitos da sazonalidade e da mobilidade humana na dinâmica de transmissão da dengue em patches. 2022.

DE PAIVA PAULA, FABIANE ANGÉLICA et al. INCIDÊNCIA DA DENGUE DURANTE A COVID-19. Brazilian Journal of Surgery & Clinical Research, v. 44, n. 2, 2023.

DOS SANTOS ALVES, Mônica; DE ARAÚJO, Wellington Candeia; DA SILVA, Francisco Anderson Mariano. Uma revisão sistemática da literatura: análise sobre desigualdade estrutural em decorrência de casos de dengue e sua influência no cenário brasileiro. Research, Society and Development, v. 10, n. 11, p. e71101119355-e71101119355, 2021.

DOS SANTOS LEANDRO, Cícero et al. Redução da incidência de dengue no Brasil em 2020: controle ou subnotificação de casos por covid-19?. Pesquisa, Sociedade e Desenvolvimento , v. 9, não. 11, pág. e76891110442-e76891110442, 2020

HARAPAN, Harapan et al. Dengue: a minireview. Viruses, v. 12, n. 8, p. 829, 2020.

MASCARENHAS, Márcio Dênis Medeiros et al. Ocorrência simultânea de COVID-19 e dengue: quais dados revelarão? Cadernos de Saúde Pública , v. 36, pág. e00126520, 2020.

MAYO CLINIC. Dengue fever – Diagnosis and treatment. 05 out. 2022. Disponível em: https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/dengue-fever/diagnosis-treatment/drc -20353088. Acesso em: 17 maio 2024.

MENEZES, Ana Maria Fernandes et al. Perfil epidemiológico da dengue no Brasil entre os anos de 2010 à 2019/Epidemiological profile of dengue in Brazil between 2010 and 2019. Brazilian Journal of Health Review,[S. l.], v. 4, n. 3, p. 13047-13058, 2021.

PINTO, Mariana Santos et al. Subnotificação de doenças sazonais na pandemia. Brazilian Journal of Health Review, v. 6, n. 5, p. 20971-20978, 2023.

SILVA, Maria Beatriz Araújo et al. Perfil dos arbovírus dengue, chikungunya e zika no Distrito Sanitário III do município do Recife (Brasil). Revista Brasileira de Meio Ambiente , v. 9, não. 1, 2021.

Souza NC, Barros JE, Ferreira RC, et al. Percepção de mulheres sobre dengue, seus sintomas e métodos de controle: estudo em comunidades de área urbana no Brasil. Cadernos de Saúde Pública. 2019 Jan;35(4):e00168217.

WORLD HEALTH ORGANIZATION. Guidelines for the Clinical Diagnosis and Treatment of Dengue, Chikungunya, and Zika. 24 mar. 2022. Disponível em: https://www.who.int/publications/i/item/guidelines-for-the-clinical-diagnosis-and-treat ment-of-dengue-chikungunya-and-zika. Acesso em: 17 maio 2024.


¹Acadêmica do Curso de Medicina – Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos
2Acadêmica do Curso de Medicina – Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos
3Acadêmica do Curso de Medicina – Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos
4Médico, Geriatra e Professor do Curso de Medicina–Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos(Orientador)