PANORAMA DA SÍFILIS GESTACIONAL EM UMA CIDADE DO INTERIOR DO TOCANTINS: PREVALÊNCIA E FATORES DE RISCO

OVERVIEW OF GESTATIONAL SYPHILIS IN A CITY IN THE INTERIOR OF TOCANTINS: PREVALENCE AND RISK FACTORS

PANORAMA DE LA SÍFILIS GESTACIONAL EN UNA CIUDAD DEL INTERIOR DE TOCANTINS: PREVALENCIA Y FACTORES DE RIESGO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202505301442


Ana Cristina Menezes Lima¹
Mariana Melo Pontes²
Maria Eduarda Soares Maia³
Márcio Gabriel de Andrade Teixeira⁴
Ana Carolina Sobota Vasconcelos⁵


RESUMO:

Este estudo teve como objetivo analisar a prevalência da sífilis gestacional no município de Porto Nacional – TO entre os anos de 2018 e 2023, identificando os principais fatores de risco associados à infecção com base em dados epidemiológicos e sociais. Trata-se de um estudo epidemiológico descritivo, com delineamento seccional, fundamentado em dados secundários provenientes do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC). Foram consideradas variáveis como ano de diagnóstico, faixa etária, cor/raça, nível de escolaridade e forma clínica da doença, sendo as análises realizadas por meio de estatística descritiva e testes de associação utilizando o software BioEstat 5.0. No total, foram registrados 147 casos no período analisado, com maior prevalência em 2022 (3,71%) e redução em 2023 (1,63%). Observou-se predominância de casos entre gestantes pardas, com idade entre 20 e 39 anos e com escolaridade correspondente ao ensino médio completo ou incompleto. As formas clínicas mais frequentes foram a sífilis primária e a latente. Os resultados evidenciam que a sífilis gestacional continua sendo um problema relevante de saúde pública no município, com sua ocorrência associada a fatores sociais e falhas na assistência pré-natal, ressaltando a necessidade de estratégias intersetoriais para a redução da transmissão vertical.

PALAVRAS-CHAVES: Atenção primária. Fatores de risco. Gestação. Saúde pública. Sífilis.

ABSTRACT:

This study aimed to analyze the prevalence of gestational syphilis in the municipality of Porto Nacional, Tocantins, Brazil, between the years 2018 and 2023, identifying the main risk factors associated with the infection based on epidemiological and social data. It is a descriptive epidemiological study with a cross-sectional design, using secondary data from the Notifiable Diseases Information System (SINAN) and the Live Birth Information System (SINASC). Variables such as year of diagnosis, age group, race/skin color, educational level, and clinical stage of the disease were considered. Analyses were conducted using descriptive statistics and association tests in the BioEstat 5.0 software. A total of 147 cases were recorded during the study period, with a peak in 2022 (3.71%) and a reduction in 2023 (1.63%). Most cases occurred among brown-skinned pregnant women aged 20 to 39 years with complete or incomplete secondary education. The most frequent clinical forms were primary and latent syphilis. The findings indicate that gestational syphilis remains a significant public health issue in the municipality, with its prevalence associated with social determinants and shortcomings in prenatal care. Intersectoral strategies are necessary to reduce vertical transmission.

KEYWORDS: Primary health care. Risk factors. Pregnancy. Public health. Syphilis.

RESUMEN:

Este estudio tuvo como objetivo analizar la prevalencia de la sífilis gestacional en el municipio de Porto Nacional, Tocantins, Brasil, entre los años 2018 y 2023, identificando los principales factores de riesgo asociados a la infección con base en datos epidemiológicos y sociales. Se trata de un estudio epidemiológico descriptivo con diseño transversal, utilizando datos secundarios del Sistema de Información de Agravos de Notificación (SINAN) y del Sistema de Información sobre Nacidos Vivos (SINASC). Se consideraron variables como el año del diagnóstico, grupo de edad, raza/color de piel, nivel educativo y estadio clínico de la enfermedad. Los análisis se realizaron mediante estadística descriptiva y pruebas de asociación en el software BioEstat 5.0. Se registraron un total de 147 casos en el período analizado, con un pico en 2022 (3,71%) y una disminución en 2023 (1,63%). La mayoría de los casos ocurrieron en mujeres embarazadas pardas, de entre 20 y 39 años, con educación secundaria completa o incompleta. Las formas clínicas más frecuentes fueron la sífilis primaria y la latente. Los resultados indican que la sífilis gestacional sigue siendo un problema importante de salud pública en el municipio, con una prevalencia asociada a determinantes sociales y deficiencias en la atención prenatal. Se requieren estrategias intersectoriales para reducir la transmisión vertical.

PALABRAS CLAVE: Atención primaria. Factores de riesgo. Embarazo. Salud pública. Sífilis.

1 INTRODUÇÃO

A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível (IST) causada pela bactéria Treponema pallidum, caracterizada por estágios clínicos distintos e complicações severas quando não tratada. No contexto gestacional, a infecção assume uma preocupação ainda maior devido ao risco de transmissão vertical, resultando em abortos espontâneos, natimortalidade, prematuridade e sífilis congênita. A sífilis congênita, em especial, continua sendo um grave problema de saúde pública, uma vez que pode levar a malformações congênitas, deficiência neurológica e até óbito neonatal (Cavalcante, Pereira e Castro, 2017).

Nos últimos anos, a incidência da sífilis gestacional tem aumentado globalmente. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada ano são registrados cerca de um milhão de casos de sífilis em gestantes, sendo que a maioria das infecções ocorrem em países de baixa e média renda. No Brasil, os números seguem uma tendência preocupante: em 2020, foram notificados 62.599 casos de sífilis em gestantes, refletindo desafios contínuos no diagnóstico precoce e na adesão ao tratamento (Ministério da Saúde, 2020).

O Tocantins tem se destacado entre os estados brasileiros com altas taxas de sífilis gestacional e congênita, especialmente em regiões com menor cobertura de pré-natal e maior vulnerabilidade socioeconômica (Cavalcante, Pereira e Castro, 2017). Fatores como acesso desigual aos serviços de saúde, testagem tardia e falhas no tratamento adequado contribuem para a permanência da infecção na população materna e infantil.

A OMS estabeleceu como meta para 2030 a eliminação da sífilis congênita, reduzindo os casos para menos de 50 por 100.000 nascidos vivos. No entanto, lacunas nas políticas públicas e na estrutura da Atenção Primária à Saúde (APS) dificultam o cumprimento desse objetivo. Isso torna essencial a análise epidemiológica da doença em regiões de alta incidência, como Tocantins, para o desenvolvimento de estratégias mais eficazes (Lima et al., 2023).

A literatura científica tem identificado diversos fatores de risco associados à persistência da sífilis na gestação. Estudos apontam que baixa escolaridade, nível socioeconômico desfavorável, inadequação do pré-natal e falta de testagem precoce são determinantes na incidência e transmissão da doença (Macêdo et al., 2017; Silva et al., 2022). Além disso, falhas na adesão ao tratamento com penicilina e dificuldades no acompanhamento do parceiro sexual representam desafios recorrentes na contenção da sífilis gestacional (Fernandes e Gomes, 2023).

Embora estudos prévios tenham analisado a epidemiologia da sífilis no Brasil, ainda há lacunas no entendimento da distribuição espacial da doença no Tocantins e seus fatores associados (Nogueira; Ananais; Franchi, 2021). A necessidade de investigações que correlacionem dados epidemiológicos locais com falhas estruturais no sistema de saúde é urgente, pois tais estudos podem contribuir para a formulação de políticas públicas mais eficazes na prevenção e controle da sífilis gestacional.

Dessa forma, este estudo tem como objetivo analisar a prevalência da sífilis gestacional no município de Porto Nacional – TO entre os anos de 2018 e 2023, e identificar os principais fatores de risco associados à infecção, com base em dados epidemiológicos e sociais.

2 MATERIAL E MÉTODO

A metodologia deste estudo seguiu um delineamento epidemiológico descritivo do tipo seccional, utilizando dados secundários provenientes do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), acessados por meio do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). O objetivo principal foi determinar a prevalência da sífilis gestacional na cidade de Porto Nacional-Tocantins entre os anos de 2018 e 2023, além de identificar os principais fatores de risco associados à infecção.

O estudo foi realizado exclusivamente com dados obtidos no SINAN, abrangendo todas as notificações de sífilis gestacional de Porto Nacional-Tocantins  dentro do período estabelecido. A população-alvo compreendeu todas as gestantes diagnosticadas com sífilis e registradas no sistema, sendo a amostra equivalente ao total de notificações disponíveis. Foram considerados critérios de inclusão os casos confirmados de sífilis gestacional notificados entre 2018 e 2023 na cidade de Porto Nacional. Como critério de exclusão, foram desconsideradas notificações incompletas ou inconsistentes, bem como registros de gestantes residentes fora da cidade. 

A prevalência da sífilis gestacional foi calculada conforme a fórmula proposta por Wagner (1998):

Neste estudo, a população de referência foi representada pelo número total de nascidos vivos por ano, conforme dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC), adotando-se o multiplicador 102, resultando em valores percentuais. A fórmula foi aplicada tanto para o cálculo da prevalência anual geral, quanto para as prevalências específicas por grupo etário, cor/raça, escolaridade e estágio clínico da doença.

As variáveis analisadas incluíram: ano de diagnóstico, faixa etária, cor da pele, nível de escolaridade e forma clínica. Os dados foram organizados e tabulados no Microsoft Excel 2019, e as análises estatísticas descritivas foram realizadas por meio do software BioEstat 5.0, permitindo a geração de tabelas, gráficos e aplicação de testes de associação.

As análises estatísticas descritivas foram realizadas por meio do software BioEstat 5.0, permitindo a geração de tabelas, gráficos e aplicação de testes de associação. Nessa perspectiva, como o estudo utilizou apenas dados secundários disponíveis em bases públicas, não foi necessária a submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), conforme estabelecido pela Resolução 196/96 Conselho Nacional de Saúde (1988). 

3 RESULTADOS

Conforme os dados extraídos do SINAN, no município de Porto Nacional, Tocantins, foram notificados 147 casos de sífilis gestacional no período de 2018 a 2023. Em 2018 e 2019, houve 21 casos em cada ano (14,28%), seguido por um leve aumento em 2020, com 22 casos (14,96%). Em 2021, os registros subiram para 27 casos (18,36%), atingindo o maior número de notificações em 2022, com 38 casos (25,85%). No ano seguinte, 2023, observou-se uma redução no número de casos, totalizando 18 registros (12,24%).

A prevalência da sífilis gestacional também variou ao longo dos anos. Em 2018, foi de 1,76%, aumentando para 1,89% em 2019, seguida por 1,86% em 2020 e 2,42% em 2021. O maior índice foi observado em 2022, com 3,71%, e em 2023, houve uma redução para 1,63%. Os dados evidenciam oscilações no número de casos e na taxa de prevalência, com um pico em 2022 e posterior queda em 2023 (Figura 1).

Com base nos dados analisados no período de 2018 a 2023, observou-se que a prevalência da sífilis gestacional em Porto Nacional, Tocantins, variou entre os diferentes grupos raciais. A maior taxa foi registrada entre gestantes autodeclaradas pardas, atingindo 2,83% em 2022, seguida de 1,88% em 2021 e 1,60% em 2020. Em 2018, a prevalência entre esse grupo foi de 1,09%, apresentando crescimento nos anos seguintes até atingir o pico em 2022, com posterior redução para 1,45% em 2023.

Entre as gestantes pretas, a prevalência oscilou entre 0,08% e 0,50%, com o maior índice registrado em 2018 (0,50%) e a menor taxa em 2020 (0,08%). No grupo das gestantes brancas, os valores variaram entre 0,00% e 0,29%, com ausência de casos em 2019 e 2023, e maior prevalência em 2022 (0,29%). As gestantes autodeclaradas amarelas mantiveram prevalência próxima de zero durante todo o período.

Nessa perspectiva,  prevalência total da sífilis gestacional acompanhou a tendência observada entre gestantes pardas, alcançando o valor mais elevado em 2022 (3,71%) e recuando para 1,63% em 2023. A associação entre cor/raça das gestantes e a ocorrência de sífilis gestacional foi estatisticamente significativa, conforme indicado pelo Teste Exato de Fisher (p < 0,0048, bilateral), evidenciando que a distribuição dos casos por raça/cor não ocorreu de forma aleatória (Tabela 1).

No período de 2018 a 2023, observou-se que a maior prevalência da sífilis gestacional em Porto Nacional, Tocantins, ocorreu entre gestantes com idades entre 20 e 39 anos, faixa etária que apresentou os maiores percentuais em todos os anos analisados. Em 2022, essa faixa atingiu o pico de 3,22%, seguida por 1,97% em 2021, 1,52% em 2020, e 1,34% em 2018, acompanhando a tendência geral de crescimento da doença nesse intervalo etário.

Entre as gestantes de 15 a 19 anos, as taxas de prevalência permaneceram relativamente constantes ao longo dos anos, variando entre 0,34% e 0,49%, com leve aumento em 2022 (0,49%) e repetição do mesmo valor em 2023. Já a faixa de 40 a 59 anos registrou apenas um caso em 2018 (0,08%), e a faixa menor que 15 anos (<15) apresentou apenas um caso em 2023 (0,09%), sendo essas categorias representadas de forma pontual e com baixa magnitude. A análise dos dados reforça a concentração da sífilis gestacional entre mulheres em idade fértil, especialmente no grupo de 20 a 39 anos, que representa a maior carga de notificações ao longo da série histórica (Tabela 1).

Entre os anos de 2018 a 2023, observou-se que a maior proporção de casos de sífilis gestacional em Porto Nacional ocorreu entre gestantes com ensino médio completo, totalizando 48 casos (32,65%). Essa escolaridade foi predominante em praticamente todos os anos analisados, com destaque para 2022 (13 casos), seguida por 2021 (11 casos) e 2020 (7 casos). O ensino médio incompleto representou a segunda maior frequência, com 25 casos (17%), sendo mais recorrente em 2022 (8 casos) e 2018 (4 casos). Também foram identificados 13 casos (8,84%) entre gestantes com ensino fundamental completo e 12 casos (8,16%) com ensino fundamental incompleto (5ª a 8ª série).

As demais categorias apresentaram ocorrência reduzida. Foram registrados 3 casos com 1ª a 4ª série incompleta, 2 casos com 4ª série completa, e apenas 1 caso de analfabetismo, ocorrido em 2018. A educação superior incompleta foi observada em 4 casos (2,72%), distribuídos entre os anos de 2019, 2021 e 2022. Um ponto de destaque é a elevada quantidade de registros classificados como ignorado ou branco, somando 43 casos (29,25%), o que pode indicar falhas no preenchimento das fichas de notificação ou ausência de informação no momento do atendimento (Figura 2).

Entre os anos de 2018 a 2023, a maior parte dos casos de sífilis gestacional notificados em Porto Nacional correspondeu ao estágio primário da infecção, com 73 registros (49,65%), sendo o mais incidente em todos os anos analisados, especialmente em 2022 (21 casos) e 2021 (17 casos). A forma latente da sífilis, caracterizada por ausência de sintomas clínicos visíveis, foi a segunda mais frequente, com 30 casos (20,41%), tendo seu maior número em 2022 (8 casos) e 2021 (7 casos). A sífilis terciária, estágio mais avançado da infecção, foi responsável por 17 casos (11,56%), com registros em todos os anos, com exceção de 2021. Em contrapartida, a sífilis secundária, embora mais contagiosa, apresentou baixa ocorrêcia, com apenas 7 casos (4,76%) em todo o período.

O número de casos com estágio clínico ignorado ou em branco foi expressivo, somando 20 registros (13,60%), o que pode indicar falhas na avaliação clínica no momento da notificação ou ausência de preenchimento adequado no sistema de vigilância. O ano de 2018 concentrou o maior número de registros ignorados (7 casos). Ao relacionar esses dados com o total de nascidos vivos por ano, nota-se que o ano de 2022 apresentou não apenas o maior número absoluto de casos (38), mas também o maior volume nas formas primária e latente, o que sugere possível aumento na detecção precoce da infecção. Os dados reforçam a importância da realização de diagnóstico oportuno e da qualificação das informações registradas nas fichas de notificação, visando o controle mais eficaz da sífilis gestacional (Tabela 3).

4 DISCUSSÃO

O presente estudo evidenciou uma tendência crescente da sífilis gestacional no município de Porto Nacional – TO entre os anos de 2018 e 2022, com redução em 2023. Esse padrão de oscilação também foi verificado em estudo realizado no estado de Mato Grosso, onde a maior prevalência foi registrada em anos recentes, apontando para possíveis melhorias na capacidade de testagem, notificação e diagnóstico precoce (Garbin et al., 2019). Apesar da queda registrada em 2023 no cenário local, não se pode descartar a possibilidade de subnotificação, que aponta fragilidades nos sistemas de vigilância epidemiológica, especialmente em regiões com menor cobertura da atenção primária (Ministério da Saúde, 2020).

A análise por raça/cor demonstrou que a maior parte dos casos ocorreu entre gestantes autodeclaradas pardas, revelando uma associação estatisticamente significativa entre essa variável e a ocorrência da sífilis gestacional. Esse achado é coerente com estudos que destacam que mulheres pardas e negras estão mais expostas a fatores de risco, como barreiras ao acesso aos serviços de saúde e condições socioeconômicas adversas (Macêdo et al., 2017). Ao analisarem dados do Tocantins, Cavalcante, Pereira e Castro (2017) também encontraram resultados similares, reforçando que desigualdades estruturais ainda exercem papel central na determinação do risco de infecção entre diferentes grupos raciais.

Com relação à faixa etária, os dados mostraram uma maior concentração dos casos entre gestantes de 20 a 39 anos, padrão que acompanha a maior taxa de fecundidade e a idade predominante entre as gestantes acompanhadas pelo SUS. Estudos apontam para a mesma faixa como a mais acometida, enfatizando que, além da exposição biológica, questões sociais como falta de planejamento reprodutivo e baixa adesão ao pré-natal contribuem para o risco de infecção (Vilela et al., 2024; Diogo et al., 2025).

A escolaridade demonstrou padrão relevante, com predominância entre gestantes com ensino médio completo e incompleto. Embora a literatura destaque a baixa escolaridade como fator de risco, os dados locais sugerem que mesmo gestantes com maior nível de instrução formal permanecem expostas à infecção (Silva et al., 2022; Macêdo et al., 2017). Esse paradoxo pode ser explicado por limitações na qualidade da informação durante o pré-natal, falhas na comunicação entre profissionais e pacientes, além da naturalização da sífilis em alguns contextos sociais (Fernandes e Gomes, 2023).

A análise das formas clínicas demonstrou predomínio da sífilis primária e latente, sugerindo que parte das infecções foi diagnosticada em fases iniciais ou assintomáticas. A presença significativa da forma latente – com mais de 20% dos casos – é preocupante, pois pode passar despercebida clinicamente e aumentar o risco de transmissão vertical. Além disso, o alto número de registros com estágio clínico ignorado ou em branco (13,6%) compromete a vigilância epidemiológica e limita a definição de estratégias mais direcionadas (Ministério da Saúde, 2020).

Apesar das recomendações da Organização Mundial da Saúde, que visam a eliminação da sífilis congênita como problema de saúde pública até 2030, os resultados observados indicam que esse objetivo ainda está distante da realidade local (Gonçalves, 2020). Demonstrou-se, em ensaio clínico, que intervenções educativas são eficazes para ampliar a adesão ao tratamento entre puérperas, sugerindo que parte dos esforços deve ser direcionada à educação em saúde e ao empoderamento das gestantes (Lima et al., 2023).

Em suma, os achados deste estudo estão alinhados a evidências nacionais que alertam para a persistência da sífilis gestacional como agravo relevante. Revisões sistemáticas reforçam a importância de uma abordagem intersetorial, com articulação entre vigilância, atenção básica e ações educativas (Mamede, Silva e Almeida, 2021; Andrade et al., 2021). Em Porto Nacional – TO, os dados sugerem avanços pontuais, mas também revelam desafios relacionados à cobertura, qualidade do pré-natal e gestão da informação.

4 CONCLUSÃO

Este estudo evidenciou que a sífilis gestacional permanece como um problema relevante de saúde pública em Porto Nacional – TO, com aumento da prevalência entre os anos de 2018 e 2022, seguido por redução em 2023. A concentração dos casos em gestantes pardas, com idade entre 20 e 39 anos e com escolaridade média, reforça o papel dos determinantes sociais na perpetuação da infecção. Ainda que tenha sido observada maior incidência das formas clínicas primária e latente, o número expressivo de notificações com dados incompletos compromete a precisão das análises epidemiológicas e a efetividade das ações de controle.

Os achados estão em consonância com estudos nacionais que apontam para fragilidades no acompanhamento pré-natal, na adesão ao tratamento e na qualidade da notificação dos casos. Eles também destacam a importância de intervenções educativas, testagem ampliada e abordagem integral da gestante e do parceiro como elementos-chave para a prevenção da transmissão vertical. A redução observada em 2023 pode sinalizar impactos positivos de estratégias locais, mas não elimina a necessidade de vigilância constante e qualificada.

Portanto, conclui-se que o enfrentamento da sífilis gestacional exige ações intersetoriais contínuas, com foco na equidade, na melhoria da qualidade da atenção básica e na capacitação das equipes de saúde. Os resultados aqui apresentados podem contribuir para subsidiar políticas públicas mais eficazes no município e orientar futuras pesquisas que aprofundem as especificidades regionais relacionadas à sífilis durante a gestação.

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¹ Acadêmica de Medicina do ITPAC Porto Nacional – Porto Nacional, TO, Brasil. E-mail: anacristinalm-2001@hotmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0000-0000-0000.
² Acadêmica de Medicina do ITPAC Porto Nacional – Porto Nacional, TO, Brasil. E-mail: marianamelopnt@gmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0000-0000-0000.
³ Acadêmica de Medicina do ITPAC Porto Nacional – Porto Nacional, TO, Brasil. E-mail: madumaia.soares@gmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0000-0000-0000.
⁴ Acadêmico de Medicina do ITPAC Porto Nacional – Porto Nacional, TO, Brasil. E-mail: gabrielmarcio163@gmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0000-0000-0000.
⁵ Professora do curso de Medicina do ITPAC Porto Nacional – Porto Nacional, TO, Brasil. E-mail: carol-vasconcelo@hotmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0000-0000-0000.