PANDEMIA DA COVID-19: O AUMENTO DOS CASOS DE ANSIEDADE E DEPRESSÃO NA COMUNIDADE UNIVERSITÁRIA

COVID-19 PANDEMIC: THE INCREASE IN CASES OF ANXIETY AND DEPRESSION IN THE UNIVERSITY COMMUNITY

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202410231303


Beatriz Ferreira Alves de Oliveira1;
Daniel de Oliveira Munhóz2;
Daniela Cristina Gonçalves Aidar3


RESUMO

A pandemia da COVID-19 se estabeleceu como um desafio sanitário ao nível global, com isso a OMS definiu que medidas de enfrentamento fossem implementadas o mais rápido possível para que não houvesse incidência de novos casos da doença. As autoridades governantes estabeleceram a restrição obrigatória ao funcionamento de grande parte dos locais onde pudesse haver aglomeração de pessoas, como, por exemplo, shoppings, escolas e universidades. No que se refere à comunidade universitária, essas restrições repercutiram significativamente em suas vidas, impactando de várias maneiras […]. Diante disso, o objetivo da presente pesquisa é evidenciar, por meio de estudos, o aumento de casos de ansiedade e depressão em universitários durante e após a pandemia. O presente estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura, cuja função é delimitar resultados de estudos anteriores sobre o assunto proposto. A pesquisa foi realizada nas seguintes bases de dados: Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), Portal Scielo, Google Acadêmico e o site OPAS/OMS. Com o início da pandemia da COVID-19, as universidades restringiram seu funcionamento devido ao distanciamento social, mudando completamente o cenário estudantil. Diversos estudos realizados durante a pandemia destacaram as repercussões na saúde mental da comunidade acadêmica, revelando sentimentos prevalentes de impotência, angústia, medo de perder familiares e amigos, irritabilidade e tristeza, aumentando a suscetibilidade a ansiedade, depressão e outros transtornos. Portanto, é crucial um enfoque emergente na saúde mental no período pós-pandemia, pois os fatores de risco continuam a impactar significativamente diversas áreas da sociedade.

Palavras-chave: Pandemia, Covid-19, Universitários, Saúde Mental. 

ABSTRACT

The COVID-19 pandemic has established itself as a health challenge at a global level, with the WHO defining that response measures should be implemented as quickly as possible so that there is no incidence of new cases of the disease. The governing authorities established mandatory restrictions on the operation of most places where there could be crowds of people, such as, for example, shopping malls, schools and universities. With regard to the university community, these restrictions had a significant impact on their lives, impacting them in several ways […]. Therefore, the objective of this research is to highlight, through studies, the increase in cases of anxiety and depression in university students during and after the pandemic. The present study is an integrative review of the literature, whose function is to delimit results from previous studies on the proposed subject. The research was carried out in the following databases: Virtual Health Library (VHL), Scielo Portal, Google Scholar and the PAHO/WHO website. With the start of the COVID-19 pandemic, universities restricted their operations due to social distancing, completely changing the student scenario. Several studies carried out during the pandemic highlighted the repercussions on the mental health of the academic community, revealing prevalent feelings of impotence, anguish, fear of losing family and friends, irritability and sadness, increasing susceptibility to anxiety, depression and other disorders. Therefore, an emerging focus on mental health in the post-pandemic period is crucial as risk factors continue to significantly impact diverse areas of society.

Keywords: Pandemic, Covid-19, University Students, Mental Health.

1. Introdução

Em 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu um alerta de Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII) advindo do surto do novo coronavírus. Após esse alerta, o mundo se modificou, todos os contextos – físico, mental, espiritual e social – foram assolados. Devido à gravidade do que vinha-se enfrentando, a OMS caracterizou o evento como uma pandemia, tendo em vista a existência do surto em vários países e em diversas regiões (Marques; Silveira; Pimenta, 2020). 

A pandemia da COVID-19 se estabeleceu como um desafio sanitário ao nível global, com isso a OMS definiu que medidas de enfrentamento fossem implementadas o mais rápido possível para que não houvesse incidência de novos casos da doença. Dentre as diversas medidas implementadas, o distanciamento/isolamento social foi o que mais prevaleceu, considerando-se que a doença também é transmitida pelo contato pessoal próximo (Filho et al, 2023). 

De acordo com Aquino et al (2020), “o distanciamento social envolve medidas que têm como objetivo reduzir as interações em uma comunidade, que pode incluir pessoas infectadas, ainda não identificadas e, portanto, não isoladas.” Nessa perspectiva, as autoridades governantes estabeleceram a restrição obrigatória ao funcionamento de grande parte dos locais onde pudesse haver aglomeração de pessoas, como, por exemplo, shoppings, escolas e universidades (Oliveira et al, 2023).

No que se refere a comunidade universitária, essas restrições repercutiram significativamente em suas vidas, impactando de várias maneiras, tendo como exemplo, o distanciamento social que provocou alterações em suas rotinas (transição para a educação remota, a interrupção da rotina acadêmica, a adaptação aos novos modelos de aprendizagem, preocupação com a vida financeira) levando ao aumento dos níveis de estresse, ansiedade e depressão entre os estudantes (Augusto et al, 2022).

Em 2023, a OMS declarou o fim da Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII) referente à COVID-19, entretanto, os efeitos ainda permeiam na sociedade (OPAS/OMS, 2023). Como prova disso, estudos evidenciam que a frequência de casos de ansiedade, estresse e depressão vem aumentando gradativamente, principalmente entre jovens, podendo estar associado a infecção pelo SARS-CoV-2 e/ou também ao impacto advindo de toda a mudança de cenário (Grelle, 2023).

 Nesse contexto, justifica-se a escolha desse tema devido ao impacto que a pandemia tem deixado na saúde mental das pessoas, especificamente da comunidade universitária. Além disso, a pesquisa pode contribuir com os serviços de saúde mental, bem como fornecer informações que instiguem o desenvolvimento de intervenções e estratégias para atendimento a esse público.

O estudo é relevante no que tange que sua realização pode trazer avanços que reúna olhares para a comunidade em geral, mas principalmente para esse público, pois, para que o acadêmico tenha um desenvolvimento e um desempenho proveitoso, é necessário que sua saúde física e mental esteja estável. Diante disso, o objetivo geral da presente pesquisa é evidenciar, por meio de estudos, o aumento de casos de ansiedade e depressão em universitários durante e após a pandemia. 

2. Metodologia

O presente estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura, cuja função é delimitar resultados de estudos anteriores sobre o assunto proposto. Para realizar esse trabalho, estabeleceu-se um cronograma programático de cinco fases, são elas: identificação do tema e elaboração do objetivo da pesquisa; busca na literatura; definição dos critérios de inclusão e exclusão; coleta de dados e análise dos estudos que fundamentou os resultados e discussão. Com isso, a pesquisa foi realizada nas seguintes bases de dados: Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), Portal Scielo, Google Acadêmico e o site OPAS/OMS. Para realizar a busca de literaturas, foram utilizadas as seguintes palavras-chave: ansiedade, depressão, saúde mental, pandemia, pós-pandemia, covid-19, universitários e acadêmicos. A seleção dos trabalhos para embasamento teórico da pesquisa procedeu-se por critérios de inclusão baseados no tempo em que foram publicados, entre 2020 e 2023 e estudos que estavam escritos em português. 

Foram excluídos artigos científicos que não atenderam aos objetivos do estudo, não correspondendo ao ano de inclusão e artigos em outros idiomas. Ressalta-se que, por se tratar de uma revisão integrativa, não foi necessário solicitar aprovação do Comitê de Ética para realização do estudo e declara-se que não há conflito de interesses. 

3. Resultados e Discussão

Referencial Teórico 

Os artigos utilizados na construção deste trabalho, estão representados na tabela 1, para facilitar a visualização e a compreensão dos temas de cada periódico consultado. A tabela apresenta uma síntese dos artigos (autoria/ano de publicação; título e resultados/conclusões obtidos na pesquisa) organizados conforme o ano de publicação, onde então apresentados os 14 estudos selecionados. 

TABELA 1: Síntese dos artigos que foram selecionados esta pesquisa após os critérios de exclusão e inclusão.

AUTORIA/ANO DE PUBLICAÇÃOTÍTULORESULTADOS/CONCLUSÃO
GRELLE, L. C. E (2023)Sintomas de Ansiedade e Depressão pós-COVID-19.A frequência da ansiedade foi estimada em 26,7% e a da depressão em 16,0%. Houve associação significante entre os sintomas de ansiedade e pior condição socioeconômica e dos sintomas de depressão com pior condição econômica e indivíduos não obesos.
OLIVEIRA E. N. et al. (2023)COVID-19 e saúde mental: preocupações de estudantes do ensino superior do estado do Ceará.Os resultados apresentaram validação estatisticamente significativas tanto para a Escala global quanto para as dimensões primárias. À vista desse panorama, constata-se o quanto a pandemia e o isolamento social repercutiram em emoções de medo e preocupação, sendo estes sentimentos que interferiram negativamente na saúde mental dos acadêmicos pesquisados.
FOLY, R. B. M.; BELLEMO, A. I. S (2023)Sofrimento psíquico em alunos de graduação da área da saúde pós pandemia.A repentina reestruturação do ensino frente a pandemia gerou uma readaptação da rotina bem como os novos desafios do ensino remoto, ocasionando sofrimento psíquico devido grandes cobranças da universidade. Existindo a necessidade de maior atenção para estudantes a fim de ajudá-lo a passar por esse período.
FILHO, J. D. S. et al. (2023)O IMPACTO DA PANDEMIA DA COVID-19 NA SAÚDE MENTAL DE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS. Dentre os sintomas mais relatados no período da quarentena, estavam medo e ansiedade (ambos com 74,2%), seguidos por insegurança (69,7%).
AUGUSTO, C. et al. (2022)O impacto do isolamento devido à COVID-19 em estudantes de enfermagem.Foram reportados níveis de ansiedade com significado clínico. Foi referido maior satisfação com o apoio da instituição de ensino e menor com o Serviço Nacional de Saúde. A ausência às atividades letivas teve impacto negativo na aprendizagem e no aproveitamento escolar. O isolamento dos estudantes teve impacto na ansiedade e na aprendizagem.
BAPTISTA, C. J. et al. (2022)COVID-19 e saúde mental: Fatores associados à depressão, ansiedade e estresse em uma comunidade universitária.Os resultados de regressão quasi-Poisson demonstram que histórico de distúrbio mental, piora do estado emocional e dificuldades financeiras estão associados a altos escores dos três desfechos. Ainda, praticar atividade que proporciona bem-estar e possuir computador em casa estão associados negativamente a escores altos de depressão. Assim, mudanças do ensino presencial para o remoto podem ter implicações negativas na saúde mental de comunidades universitárias.
OLIVEIRA, E. N. et al. (2022)Covid-19: repercussões na saúde mental de estudantes do ensino superior.Os resultados mostraram que 21,2% dos alunos tiveram suas atividades canceladas, sem expectativa de retorno. A maioria, 77,2%, relatou preocupação com a morte de parentes e conhecidos pela Covid-19. O estado geral de saúde mental médio, medido pelo inventário, foi de 48,8. Esse resultado sugere que os alunos tiveram sua saúde mental afetada pelas condições impostas pela pandemia.
MOURA, A. A. M. et al. (2021)Seria o isolamento social durante a pandemia de COVID-19um fator de risco para depressão?Há uma relação significativa entre vulnerabilidade e adoção de comportamentos de risco durante o isolamento social imposto pela pandemia com sintomas depressivos.
BARROS, G. M. M. et al. (2021)Os impactos da Pandemia do COVID-19 na saúde mental dos estudantes.Constatou-se que a maioria dos estudantes do ensino superior podem apresentar relatos de doenças mentais que podem estar relacionadas à falta de interação social diante do distanciamento obrigatório.
VEIGA D.V; GOMES, J.F. (2021)SAÚDE MENTAL DOS ESTUDANTES DO ENSINO SUPERIOR NO CONTEXTO DE PANDEMIA COVID-19.Percebeu-se que a pandemia e os diversos aspectos relacionados a ela influenciam na vida acadêmica e na saúde dos estudantes, tanto quanto na de seus familiares, provocando reações emocionais negativas, como os sentimentos de frustração, incerteza, angústia emocional, insegurança, culpa, luto, raiva e possíveis transtornos mentais como ansiedade, depressão, estresse e estresse pós-traumático.
TEODORO, M.L.M. et al. (2021)Saúde mental em estudantes universitários durante a pandemia de COVID-19.Os achados mostram que a saúde mental de estudantes universitários pode estar relacionada à interação de vários fatores anteriores à pandemia, bem como da COVID-19.
RIBEIRO, L.S. et al. (2021)Efeitos da pandemia de COVID-19 na saúde mental de uma comunidade acadêmica.Participaram 586 indivíduos: 81% mulheres, 72,8% alunos de graduação e pós-graduação, 58,2% com renda per capita de até 5 salários-mínimos e 90,3% brancos. Os sentimentos mais prevalentes foram: impotência (93,5%), angústia (90,8%), medo de perder familiares, amigos ou conhecidos (90,1%), irritabilidade (85,3%) e tristeza (89,9%). Constatou-se que ser do sexo feminino foi fator de risco para apresentar a maioria dos sentimentos, com exceção da irritabilidade e do tédio.
MARIN, G.A; CAETANO, I.R.A; BIANCHIN, J.M; CAVICCHIOLI, F.L (2021)Depressão e efeitos da COVID-19 em universitários.Foram observados diversos impactos na vida dos estudantes universitários, como também a queda no desempenho estudantil no ensino superior e o agravamento de sintomas depressivos com o confinamento, (P<0,001) em especial naqueles infectados (P<001). O maior sedentarismo, a redução da prática de exercício físico, tempo de sono, piora da dieta auxiliaram no aumento dos sintomas depressivos. O comportamento foi alterado com aumento da reclusão, percepção de risco, e ideação suicida (P<0,001). 
MARQUES, R.C; SILVEIRA, A.J.T; PIMENTA, D.N (2020)A PANDEMIA DE COVID-19:Interseções e desafios para a história da saúde e do tempo presente.Retrospectiva do evento global – pandemia da COVI-19, que marcou a história. 

Fonte: Autoria própria, 2024.

Breve retrospectiva

A pandemia de COVID-19 começou em meados de novembro de 2019 na cidade de Wuhan, na província de Hubei, na China. Inicialmente, a doença foi caracterizada como um surto de pneumonia de causa desconhecida. Enquanto os “caos” e a falta de compreensão sobre a natureza do vírus e sua transmissão se instalava, a doença se espalhou rapidamente pelo mundo, levando a uma crise global de saúde pública e impactando profundamente a sociedade, a economia e a política em todo o planeta (Marques; Silveira; Pimenta, 2020).

A COVID-19 é uma doença respiratória causada pelo coronavírus da síndrome respiratória aguda grave 2 (SARS-CoV-2). Os sintomas mais comuns da COVID-19 incluem febre, tosse, dificuldade para respirar, fadiga, perda de paladar ou olfato, dor de garganta, dor de cabeça, dores musculares e corporais, calafrios e congestão nasal. A COVID-19 é transmitida principalmente por meio de gotículas respiratórias quando uma pessoa infectada tosse, espirra ou fala, e pode ser contraída ao tocar em superfícies contaminadas e depois tocar no rosto, especialmente boca, nariz ou olhos (Ministério da Saúde, 2020).

Devido à capacidade de transmissão, as autoridades de saúde implantaram medidas de prevenção para evitar a propagação do vírus, a saber: o uso de máscaras faciais, a lavagem frequente das mãos, o distanciamento social. No entanto, com o surgimento de novos casos, medidas mais rígidas foram adotadas, como, por exemplo, a restrição de funcionamento de diversos ramos, entre eles, as universidades. Essas medidas tiveram impactos significativos em várias áreas na vida das pessoas, sobretudo na saúde mental (Veiga; Gomes, 2021).

O IMPACTO DA PANDEMIA NA SAÚDE MENTAL DOS UNIVERSITÁRIOS: Durante a Pandemia

O início da vida universitária marca uma transição significativa na vida dos ingressantes. Ao entrar na universidade, os estudantes iniciam um processo de adaptação – cotidiano, estudos, amizades, distância familiar e entre outros – com isso, muitos alunos podem apresentar sofrimento emocional – preocupação excessiva, tristeza, medo, estresse e ansiedade – visto que a rotina universitária é exigente e o desempenho estudantil reflete na vida profissional (Barros et al, 2021). 

Com o início da pandemia da COVID-19, o cenário estudantil mudou completamente, dado que as universidades tiveram seu funcionamento restringido em razão do distanciamento social. A transição abrupta de cenários impactou significativamente na vida dos estudantes, uma vez que precisaram se adequar ao ensino remoto, à falta de interação social presencial e às limitações financeiras. Com isso, o medo e a incerteza sobre o futuro aumentaram os níveis de estresse, ansiedade e depressão entre os estudantes (Marin; Caetano; Bianchin; Cavicchioli, 2021).

Para evidenciar as repercussões do evento no contexto da saúde mental da comunidade acadêmica, no decorrer da pandemia diversos estudos foram desenvolvidos. Os resultados encontrados corroboram que sentimento de impotência, angústia, medo de perda de familiares e amigos, irritabilidade e tristeza foram intensamente prevalentes, o que torna esses indivíduos mais susceptíveis a ansiedade, depressão e outros transtornos (Ribeiro et al, 2021).

Para Teodoro et al (2021), parte dos entrevistados de seu estudo já apresentava algum sofrimento psicoemocional no período inicial da quarentena. Fatores como ideação suicida, neuroticismo, doenças, uso de ansiolíticos já evidenciavam a incidência de déficits na saúde mental, assim, com a chagada da pandemia, o impacto da doença na vida, o medo e as incertezas sobre o futuro potencializaram o que já se vinha sofrendo.

Um estudo de Oliveira et al (2022) afirma que, em relação à população geral, a comunidade universitária, especificamente os estudantes, são mais susceptíveis ao desenvolvimento de transtornos mentais ou sofrimento psicoemocional. Diante disso, após a determinação de isolamento social, a saúde mental de muitos universitários foi afetada. Destaca-se que, dentro dos índices de vulnerabilidade para transtornos e sofrimento mental, as mulheres apresentaram-se mais propensas. 

Moura et al (2021) corrobora a afirmação de Oliveira et al (2022) sobre a vulnerabilidade das mulheres, onde evidenciam que durante a pandemia, as taxas para depressão eram constituídas em maior número pelo sexo feminino. Tais índices se davam pela sobrecarga da dupla jornada entre os estudos/trabalhos remotos e a família, em razão do isolamento social.  

Devido aos crescentes índices de ansiedade, depressão e estresse no decorrer do período pandêmico, muitos estudos vêm destacando a necessidade de observação desses casos, visto que tais efeitos podem perdurar por longo prazo, trazendo consequências para o período pós-pandemia (Baptista et al, 2022).

Pós-Pandemia 

Para Foly & Bellemo (2023), o estudante universitário já enfrenta desafios que os tornam susceptíveis a transtornos mentais. Com o decreto de emergência sanitária e a mudança repentina de cenário, muitos estudantes foram afetados emocionalmente por consequências inerentes a pandemia, entretanto, considera-se também fatores do meio acadêmico. 

O impacto da pandemia na saúde mental dos universitários nesse período pós-pandêmico tem sido uma preocupação significativa. À medida que as universidades começam a retornar às atividades presenciais, é importante considerar o impacto contínuo na saúde mental dos estudantes, tendo em vista que a pandemia expôs e exacerbou disparidades existentes em saúde mental, afetando de forma desproporcional essa comunidade (Grelle, 2023).

Estudos desenvolvidos no decorrer da pandemia já previam que no futuro (fim da emergência sanitária) os impactos desse evento na saúde mental da população seriam extensos, tendo em vista o aumento nos índices de prevalência de ansiedade, depressão, estresse (Brasil, 2020). 

Como fundamento do supracitado, durante a coletiva de imprensa de lançamento do relatório Nova Agenda para a Saúde Mental nas Américas, o diretor da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) solicitou que “a saúde mental seja colocada no topo das agendas políticas e integrada a todos os setores e políticas, a fim de enfrentar o agravamento das condições de saúde mental nas Américas devido à pandemia da COVID-19 (OPAS/OMS, 2023)”. 

Fica evidente que à necessidade de um olhar emergente sobre o campo da saúde mental nesse período pós pandemia, tendo em vista que os fatores de risco para novos problemas, tendem a causar grande impacto sobre diversas áreas da sociedade. 

4. Considerações Finais

A pandemia da COVID-19 teve um impacto profundo na saúde mental da comunidade universitária, exacerbando significativamente os casos de ansiedade e depressão. As medidas de distanciamento social, o isolamento, a transição para o ensino remoto, a incerteza sobre o futuro e as preocupações com a saúde pessoal e familiar criaram um ambiente de estresse contínuo e intensificado. Estudantes, professores e funcionários enfrentaram desafios sem precedentes que afetaram seu bem-estar emocional e psicológico.

Para lidar com esses desafios, as instituições de ensino superior precisam estar atentas às necessidades de saúde mental de seus estudantes, oferecendo apoio psicológico, serviços de aconselhamento e programas de bem-estar. Além disso, é fundamental promover uma cultura de abertura e aceitação, reduzindo o estigma em torno da saúde mental e incentivando os estudantes a buscarem ajuda quando necessário.

Vale ressaltar sobre a importância do investimento em pesquisa e estudos contínuos sobre o impacto da pandemia na saúde mental dos universitários pós-pandemia, visando um melhor entendimento das necessidades desses jovens e adultos para que se desenvolva estratégias eficazes de apoio. Mediante a isso, ao reconhecer e abordar os desafios enfrentados pelos estudantes universitários, as instituições de ensino promoverão um ambiente mais saudável e favorável ao bem-estar mental.

5. Referências

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BAPTISTA, C. J et al. COVID-19 e saúde mental: Fatores associados à depressão, ansiedade e estresse em uma comunidade universitária. Psico, [S. l.], v. 53, n. 1, p. e41359, 2022. 

BARROS, G. M. M et al. Os impactos da Pandemia do COVID-19 na saúde mental dos estudantes. Research, Society and Development, [S. l.], v. 10, n. 9, p. e47210918307, 2021. 

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FARIA, M. G. A; MARTÍNEZ-RIERA, J. R. Universidades Promotoras da Saúde: desafios no pós-pandemia. Revista Enfermagem UERJ, [S. l.], v. 31, n. 1, p. e76810, 2023. DOI: 10.12957/reuerj.2023.76810.

FILHO, J. D. S. et al. O IMPACTO DA PANDEMIA DA COVID-19 NA SAÚDE MENTAL DE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS. Arquivos de Ciências da Saúde da UNIPAR, [S. l.], v. 27, n. 2, p. 574–592, 2023.

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1Discente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário São Lucas Ji-Paraná – JPR, Ji-Paraná/RO, Brasil. Email: beatrizoliveira010199@gmail.com;
2Discente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário São Lucas Ji-Paraná – JPR, Ji-Paraná/RO, Brasil. Email: danielmunhoz132001@gmail.com;
3Enfermeira, Mestre e Docente no Centro Universitário São Lucas Ji-Paraná – JPR, Ji-Paraná/RO, Brasil. Email: daniela.aidar@saolucasjiparana.edu.br