REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8348320
Andressa Maria Corrêa Prado
Débora Cocate
Stefani Gonçalves
Wellington Silva De Carvalho
Orientador (a): Prof.ª Drª Denise de Fátima Rodrigues
RESUMO
Um felino, macho, em situação de rua, foi atendido em clínica particular, apresentando quadro de rinotraqueíte, foi instituído protocolo com antibióticos e após melhora, começou apresentar quadro de doença renal. Ao serem realizados exames sanguíneos para dosagem de ureia e creatinina, foi diagnosticado com doença renal crônica em estágio II sendo utilizado a terapia com ozônio como um potencial adjuvante ao tratamento de doença renal crônica em associação ao protocolo terapêutico tradicional, com uso de medicações alopáticas e homeopáticas. O paciente apresentou melhora e a doença foi estabilizada, com isso o protocolo ficou apenas com a ozonioterapia e homeopatia. Temos no presente estudo o destaque da ozonioterapia, suas possíveis vantagens terapêuticas, vias de aplicação, modo de ação, protocolos terapêuticos e contribuir para pesquisas futuras.
Palavras-chave: Renal, Doença, Crônica, Tratamento, Gatos
ABSTRACT
A male street cat, suffering from rhinotracheitis, was treated at a private clinic. After initially responding to antibiotics, the cat developed kidney disease. Blood tests for urea and creatinine levels revealed stage II chronic kidney disease. Ozone therapy was introduced as an adjunctive treatment alongside conventional therapies, including allopathic and homeopathic medications. The patient showed improvement, and the disease was stabilized, leading to the adoption of a treatment protocol comprising solely ozone therapy and homeopathy. This study highlights the role of ozone therapy, its potential therapeutic benefits, administration routes, mechanisms of action, therapeutic protocols, and its potential contributions to future research.
Keywords: Renal, Disease, Chronic, Treatment, Cats
INTRODUÇÃO
No Brasil, a população de gatos é estimada em cerca de 33,6 milhões e cada vez mais, essa espécie vêm se tornando componentes valiosos na estrutura familiar. Esse cenário desperta maior atenção e conscientização dos tutores em relação ao comportamento, bem-estar e a saúde destes animais, resultando no aumento nos atendimentos em clínicas e hospitais veterinários, bem como na especialização de profissionais e estudos destinados exclusivamente aos felinos. (FETT, 2021; ABINPET, 2023)
Dentre as diversas patologias associadas aos gatos domésticos, as principais envolvem o sistema urinário, que inclui cálculos renais, obstruções e doença renal (VALENTE, 2019). Um fator que pode estar relacionado é a ingestão de água, segundo MANCUSO (2021) os gatos possuem menor ingestão de água quando comparados com cães, com agravante em indivíduos com doenças que causam polidipsia ou poliúria, como a diabetes mellitus e doença renal crônica.
A doença renal pode ser classificada em duas categorias, doença renal crônica (DRC) e injúria renal aguda (IRA). A doença renal crônica possui elevada importância na causa de morbidade e mortalidade em animais de companhia (CARDOSO, 2020). FETT (2021) em seus estudos sobre causas de morte nos gatos na região metropolitana de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, entre 2017-2020, totalizando 336 necropsias conclui que 26,6% dos óbitos estão relacionados a doenças crônicas degenerativas, sendo a doença renal crônica como a principal condição nessa categoria, em concordância com estudos anteriores (TOGNI, 2018; WITHOEFT, 2019).
A doença renal crônica é caracterizada pela falência renal por um período prolongado, na qual observa-se alterações estruturais devido a perda de néfrons (MAZZUTI & FERREIRA, 2021). Os néfrons, são unidades funcionais dos rins e responsáveis pela filtração e absorção das substâncias presente no sangue, quando degenerados são substituídos por tecido conjuntivo fibroso. Dessa forma, os néfrons remanescentes realizam ações compensatórias assegurando as funções renais preservadas. Contudo, sofrem sobrecarga funcional e ao longo da vida do animal perdem a sua função, por isso, é caracterizada como uma patologia gradual, irreversível e silenciosa (CARDOSO, 2020). MANCUSO (2021), salienta que esta alteração possui grande impacto na diminuição da qualidade e expectativa de vida dos gatos.
A Sociedade Internacional de Interesse Renal (International Renal Interest Society – IRIS) classifica a doença renal crônica em quatro estágios, considerando o tempo de evolução e a presença de marcadores de lesão renal, como a creatinina sérica, a partir da classificação é possível instituir o protocolo terapêutico mais adequado. É necessário que seja realizado de duas a três coletas com o paciente estável. Assim, o estágio I compreende animais não azotêmicos, com valores abaixo de 1,6 mg/dl; o estágio II, azotemia leve, considera valores entre 1,6 e 2,8 mg/dl; o estágio III, azotemia moderada, com valores entre 2,9 e 5,0 mg/dl e o estágio IV, azotemia severa, com valores superiores a 5,0 mg/dl (SANDOVAL, 2018; IRIS, 2019).
Diversos fatores podem ser associados a doença renal crônica em felinos, como a idade avançada, pois o envelhecimento naturalmente promove o declínio da função renal. VALENTE (2019) destaca que a doença renal pode acometer animais em qualquer idade e sexo. Contudo, gatos idosos ou geriátricos, superior a 7 anos, possuem maior associação com a doença renal crônica. Além disso, outras causas relacionam-se a doença renal crônica, como doenças infecciosas, parasitária, alterações imunomediadas, quadros de hipotensão ou hipertensão, neoplasias, obstruções urinárias, manejo nutricional inadequado e caráter congênito, como a doença renal policística, que acomete principalmente gatos persas e mestiços de persa (CRIVELLENTI, 2015; CARDOSO, 2020).
O tratamento é baseado em estratégias para o diagnóstico precoce e medidas preventivas, e também ações que permitam a não progressão da doença, visando a sobrevida do animal e a manutenção da qualidade de vida. Ações especificas como o controle dos sinais clínicos do trato gastrointestinal, aqueles relacionados a desidratação, anemia, hipocalemia, hipocalcemia, acidose metabólica e terapia nutricional compõem os protocolos terapêuticos (CRIVELLENTI, 2015; VALENTE, 2019; CARDOSO, 2020).
Na DRC, um fator que contribuí na progressão da doença em 60% dos animais é a hiperfosfatemia (retenção de fosforo) e o hiperparatireoidismo renal secundário (HRS), tendo o parartomônio (PHT), como a principal toxinina urêmica, com isso o uso de quelantes de fósforo como o hidróxido de alumínio, comercialmente conhecido como Mylanta Plus® (Johnson&Johnson), deve ser considerado no tratamento terapêutico (BARTGES, 2012).
O uso homeopático do medicamento Pró-Rim® (Homeopet), têm sido eficientes para que a DRC não evolua, seu mecanismo de ação ajuda no restabelecimento das funções renais, estabilizando os níveis de ureia e creatinina, além de não haver contraindicação em seu uso por não ter toxidez em sua composição (ALMEIDA, 2016).
Assim, considerando proporcional melhor qualidade e expectativa de vida para os animais, o estudo de terapias eficientes e seguras para o tratamento da doença renal crônica se torna uma área de grande interesse e aplicação na Medicina Veterinária. Como terapia integrativa, o uso de ozônio vem se destacando com bom desfecho clínico e baixo custo (CARREIRO, 2021).
O gás ozônio possui propriedades oxidativas, sendo capaz de oxidar compostos orgânicos e inorgânicos, pode ser utilizado em processos industriais, tratamento de águas, produção de alimentos, tratamentos estéticos, produção de gases e efluentes. No âmbito medicinal, está associado ao combate de doenças inflamatórias, infecciosas e isquêmicas, prolongando a qualidade de vida de pacientes (ABOZ, 2023).
A ozonioterapia demonstra uma abordagem terapêutica, aliada aos tratamentos convencionais, favorável no tratamento de diversas doenças. O mecanismo da ação do ozônio no organismo animal no tratamento da doença renal, pode ser variado, considerando os possíveis benefícios que podem ser proporcionados, como efeito anti-inflamatório, antimicrobiano, antifúngicos, regeneradores de tecidos e potencializadores do sistema imunológico. A literatura cita várias aplicabilidades na Medicina Veterinária, tanto para grandes quanto para pequenos animais, tais como em cicatrização de feridas, úlceras, queimaduras, condições dermatológicas, tratamento para trombocitopenia e na oncologia (WOLLHEIM, 2020; CARREIRO, 2021; KLEIN, 2021; COSTA, 2022; ROCHA, 2022; SILVA, 2023).
Dessa forma, o presente trabalho tem por objetivo descrever um caso clínico de um gato, diagnosticado com doença renal crônica em estágio II sendo utilizado a terapia com ozônio como um potencial adjuvante ao tratamento de doença renal crônica em associação ao protocolo terapêutico tradicional, com uso de medicações alopáticas e homeopáticas. Destacando suas possíveis vantagens terapêuticas, vias de aplicação, modo de ação, protocolos terapêuticos e contribuir para pesquisas futuras.
RELATO DE CASO
Felino, macho, resgatado em condição de rua com mais ou menos 6 meses, apresentando criptorquidismo bilateral, castrado após a recuperação de rinotraqueíte. Utilizou antibiótico enrofloxacino 5 mg/Kg (SID) por 10 dias, amoxicilina triidratada 10 mg/kg (BID) por 10 dias e ceftriaxona 15 mg/kg (SID) por 10 dias e anti-inflamatório prednisolona 0,5 mg/kg (SID) por 5 dias e meloxican 0,1 mg/kg (SID) por 5 dias, em fase juvenil, após a pausa de 15 dias para iniciar o tratamento para DRC com homeopatia.
Contudo, o médico veterinário responsável optou por iniciar o tratamento da rinotraqueíte com protocolo homeopático, realizando inalação com 5 ml de solução fisiológica 0,9% e 3 gotas de sálvia tintura mãe por 10 dias, 3 vezes ao dia, após mais 10 dias, 2 vezes ao dia e finalizando com mais 10 dias, 1 vez ao dia.
O animal apresentou melhoras significativas em relação ao quadro de rinotraqueíte, entretanto, iniciou o quadro de insuficiência renal, após o uso de antibióticos. Em exame bioquímico sérico, realizado no dia 23 de maio de 2019, foi observado 1,9 mg/dl de creatinina e 67 mg/dl de ureia. Dessa forma, podemos observar que o animal apresentava condições acima do limite, porém nada muito grave e de acordo, com IRIS (2019) a doença renal poderá ser classificada em quatro diferentes estágios, conforme a concentração sérica de creatinina, e a partir deste estadiamento foi possível instituir um protocolo de atendimento para o animal.
Tabela1 – Classificação da doença renal em animais domésticos.
Tabela 2 – Exames realizados pelo paciente
O paciente foi diagnosticado com DRC, estágio 2 sendo estabelecido o seguinte protocolo de tratamento: 15 dias de acupuntura para rim, soroterapia ozonizada, solução fisiológica de 250 ml, com ozonização a 40 ug/ml por 5 minutos, em dias alternados, por 20 dias, Mylanta Plus® 1 ml (SID); Pró-Rim® 2 borrifadas (BID).
Após os 15 dias iniciais de tratamento o paciente já apresentou melhoras, sendo alterado o protocolo para 4 vezes por semana com ozônio, 3 vezes por semana com ozônio sem o soro normal até chegar à estabilização do paciente. Após o protocolo terapêutico, no exame bioquímico apresentou 1,7 mg/dl de creatinina e 61 mg/dl de ureia, não sendo observado alterações em seus exames posteriores. O animal realiza o tratamento há 4 anos, sendo, o protocolo estabelecido é de 2 soros por semana de 250 ml, ozonizados a 40 ug/ml por 5 minutos, Mylanta Plus® 1 ml (SID) e Pró-Rim® 2 borrifadas (BID), não havendo intercorrências, não sendo necessário alteração da dieta, visto que ele habita com mais 9 felinos e não aceita outra alimentação.
DISCUSSÃO
A doença renal crônica é uma patologia amplamente presente na medicina de felinos. Trata-se de uma condição de natureza progressiva, demandando um tratamento de longa duração e sujeita a uma monitorização contínua. Nesse sentido, os resultados apresentados neste estudo, demonstram a eficiência da utilização da terapia com ozonoterapia no protocolo para suporte ao tratamento de doenças renais, evidenciando os resultados positivos ao longo do tratamento, não havendo reações adversas ou até mesmo contraindicações em seu uso, com a evolução do tratamento é possível estabilizar o paciente e sua eficiência com efeitos anti-inflamatório, antimicrobiano e regenerativo nos tecidos renais, tornam o tratamento eficiente (COSTA, 2022; ROCHA, 2022).
Embora a ozonioterapia mostre promessa, é importante compará-la aos tratamentos convencionais usados para DRC em gatos. Tratamentos convencionais incluem medicamentos como quelantes de fósforo como o hidróxido de alumínio, comercialmente conhecido como Mylanta Plus® e terapias homeopáticas, como o medicamento Pró-Rim® (ALMEIDA, 2016). A eficácia desses tratamentos deve ser avaliada em comparação com a ozonioterapia em ensaios clínicos controlados para determinar qual abordagem é mais eficaz em termos de melhoria dos sintomas e sobrevida dos gatos com DRC. Contudo, a evidência do tratamento realizado no relato de caso determina que as abordagens realizadas utilizando medicamentos homeopáticos, alopáticos e a ozonioterapia, foram suficientes para obtermos êxito no tratamento do paciente.
Por fim, é crucial destacar a importância da conscientização dos tutores de gatos sobre a saúde renal. A DRC é uma doença comum em gatos, e muitos tutores podem não estar cientes dos sintomas precoces ou dos tratamentos disponíveis. Educar os tutores sobre a importância da detecção precoce da DRC, bem como das opções de tratamento, pode levar a um diagnóstico mais rápido e a melhores resultados para os felinos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com ROSSIGNOLI & SOUZA (2022), com a pesquisa realizada pela União Internacional Protetora dos Animais (UIPA), na pandemia do COVID-19, a adoção dos gatos aumentou 400%, sendo que 23% destes animais, são os primeiros animais destas famílias, ou seja, parte dessa população não conhece sobre o manejo correto de felinos e muitas vezes estes animais podem estar mais suscetíveis a serem acometidos pela DRC, é importante frisar que um felino feral na natureza caça os seus alimentos que são ricos em água e fisiologicamente os gatos possuem quantidades menores de néfrons, comparados a outras espécies e isso facilita estes animais a possuírem doenças relacionadas ao trato urinário e renal. Contudo, adequando estas informações a nossa realidade e proporcionando um bem-estar aos animais é notório que o tratamento homeopático é eficaz, pode ser realizado a longo prazo e não possuí toxicidade que sobrecarregue os rins principalmente, além de proporcionar ao paciente uma vida estável e longeva. Com o presente estudo também é possível evidenciar a importância de novos estudos sobre uso do ozônio, com o intuito de comprovar os seus benefícios no tratamento da doença.
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, agradecemos a Deus por nos abençoar com a capacidade e saúde necessárias para alcançarmos mais este objetivo. Sabemos que sem Sua graça e orientação, nada disso teria sido possível.
À nossa querida família, que esteve ao nosso lado, nos apoiando e incentivando durante toda essa jornada, a vocês dedicamos nossa eterna gratidão. Sem o amor e apoio de vocês, esse caminho teria sido muito mais difícil.
Aos amigos, tanto os de longa data quanto aos que conhecemos ao longo dessa jornada, agradecemos por todos os momentos de descontração, apoio emocional e pela alegria que trouxeram às nossas vidas.
Não podemos deixar de mencionar nossos professores, em especial a Professora Denise, que com dedicação e carinho nos guiaram e compartilharam conosco seu valioso conhecimento. Suas orientações foram fundamentais para o nosso crescimento acadêmico e pessoal.
Aos Médicos Veterinários que ao longo destes cinco anos nos ensinaram e inspiraram, nossa profunda gratidão. Seu compromisso com a ciência e com o bem-estar dos animais nos motivou a seguir em frente e aperfeiçoar nosso conhecimento.
Por fim, mas com igual relevância, gostaria de expressar nossa gratidão aos seres que nos acompanham nessa jornada: nossos queridos animais, tanto aqueles que já não estão entre nós como os futuros. São eles a nossa maior motivação e recordação constante da necessidade de aprimorarmos nosso conhecimento e habilidades, garantindo sempre o melhor cuidado e bem-estar para esses seres tão especiais.
A todos vocês, nossos sinceros agradecimentos por fazerem parte deste percurso. Cada um de vocês contribuíram de maneira significativa para nossa jornada acadêmica e pessoal. Estamos gratos por tudo que aprendemos e ansiosos para continuar crescendo e contribuindo para a Medicina Veterinária. Obrigado!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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