OTIMIZAÇÃO DO MOTOR FLEX COM USO DE COMBUSTÍVEL E35

OPTIMIZATION OF THE FLEX-FUEL ENGINE WITH THE USE OF E35 FUEL

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10148945


Renata Behaker
Enrique Yuji D`Agostino Yamamoto
Leandro Klinger Nasi
Carlos Lopez Noriega1


Resumo:  Emissões e eficiência energética são os pontos que hoje são questionáveis nos motores a combustão interna, por isso cada dia mais se aproxima a implementação dos veículos elétricos. Partindo dessa realidade, como alternativa para a continuação dos motores a combustão flex fuel, o estudo foi elaborado com base em referências bibliográficas sobre adição de etanol anidro na composição da gasolina C e tendências mundiais sobre a produção de etanol. O objetivo é analisar a adição de etanol anidro compondo um combustível E35, propondo assim apresentar reflexões e análises sobre as vantagens dessa alteração em quesitos como desempenho do motor e emissões. Com essas análises entendemos que para conseguirmos otimizar o motor flex fuel visando obter valores de autonomia e emissões mais atrativas, não somente a alteração do combustível é necessária, bem como também é fundamental a execução de simulações para adequação dos valores de taxa de compressão e avanço de ignição, listando como um próximo passo. 

Palavras chaves: Motor a combustão. Flex fuel. Etanol anidro. Desempenho. Emissões.

Abstract: Emissions and energy efficiency are today questionable points regarding internal combustion engines, that explain why the implementation of electric vehicles is getting closer every day. Based on this reality, as an alternative to the continuation of flex fuel combustion engines, the study was prepared based on bibliographic references on the addition of anhydrous ethanol in the composition of C gasoline and world trends on ethanol production. The objective is to analyze the addition of anhydrous ethanol composing an E35 fuel, thus proposing to present reflections and analyzes on the advantages of this change in issues such as engine performance and emissions. With these analyses, we understand that in order to be able to optimize the flex fuel engine, seeking for more attractive autonomy and emissions values, not only is it necessary to change the fuel, but it is also essential to run simulations to comply with the fuel effective rate values and ignition advance. combustion, listing as a next step. 

Keywords: Combustion engine. Flex fuel. Anhydrous ethanol. Performance. Emissions.

1 INTRODUÇÃO

Atualmente o Brasil é um dos poucos países no mundo que utiliza gasolina com um percentual elevado de etanol anidro em sua mistura. No ano 2000, esse percentual girava em torno de 20%. Com o lançamento da tecnologia flex, em 2003, nome que vem exatamente da flexibilidade de utilizar dois tipos de combustíveis e é capaz de identificar se está sendo injetado gasolina ou etanol com sensores na injeção eletrônica (RODRIGUES, 2017), o percentual obrigatório de etanol na composição da gasolina nas bombas de combustíveis subiu para 25% de acordo com o Projeto de Lei 4120/08, do deputado Gilmar Machado. Nos dias de hoje, esse percentual gira em torno de 27% baseado na Lei 8.723/9 (GAMA, 2021). Embora os motores flex ocupem boa parte da nossa frota, mesmo que essa tecnologia não consiga uma performance 100% eficiente quando falamos em consumo e desempenho, ainda assim a mesma é predominante nos projetos novos e em carros 0Km. Essa inovação tem como princípio proporcionar uma liberdade ao cliente na escolha do combustível que mais atenda a sua necessidade naquele momento do abastecimento. O avanço da tecnologia proporcionou que os motores apresentassem uma evolução em taxa de compressão e calibração, enquanto o combustível não acompanhou o mesmo progresso, tornando-se menos eficiente para atender a demanda dos novos veículos fabricados. A ideia então apresentada seria combinar a otimização do Hardware e a implementação de combustível E35 que é a mistura de 35% de etanol com 65% de gasolina, como evolução da gasolina convencional E27, regulamentada como uma mistura obrigatória no Brasil, provando que com o aumento de etanol anidro que é basicamente uma menor concentração de água 0,5% na composição da gasolina (RAÍZEN, 2022) podemos atingir melhores valores de consumo, desempenho e até melhorando níveis de emissões de gases poluentes. 

A evolução dos motores a combustão flex contam com tecnologias que possibilitaram o aumento da taxa de compressão, porém carecem da inovação do combustível comercializado, ainda não acompanhando as inovações do hardware para atingir níveis de consumo e desempenho almejados. O estudo proposto irá analisar o comportamento do combustível E35 e as possíveis calibrações de motores flex com esse cenário. Independente da determinação de uma nova taxa, é esperado que se use este trabalho posteriormente para estudos de melhorias ou desenvolvimento do produto viabilizando a continuação de motores à combustão. 

O etanol é considerado um combustível frio com características antidetonantes, diferentemente da gasolina. Com o acréscimo de etanol na gasolina, o combustível tem um comportamento mais resistente à detonação, desta forma permitindo maiores taxas de compressão antes de se iniciar a combustão. Esse fator é muito importante para entendermos a ligação entre o desempenho do combustível versus a taxa de compressão do motor, visto que quanto maior a taxa de compressão, significa que o combustível será mais comprimido. Adotando uma porcentagem de 35% de etanol anidro na gasolina, possibilitamos que a gasolina comum se torne menos detonante, e dessa forma aproveitando melhor a taxa de compressão do motor em questão de desempenho de combustão, resultando na potência gerada. Então, com o uso de combustível E35, a calibração do motor deve ser refinada especialmente o avanço de ignição quando o combustível escolhido para uso for a gasolina, possibilitando otimização do hardware com aumento da taxa de compressão para que o consumo de etanol seja melhorado.

1 JUSTIFICATIVA

A evolução dos motores a combustão flex contam com tecnologias que possibilitaram o aumento da taxa de compressão, porém carecem da inovação do combustível comercializado, ainda não acompanhando as inovações do hardware para atingir níveis de consumo e desempenho almejados. O estudo proposto irá analisar o comportamento do combustível E35 e as possíveis calibrações de motores flex com esse cenário. Independente da determinação de uma nova taxa, é esperado que se use este trabalho posteriormente para estudos de melhorias ou desenvolvimento do produto viabilizando a continuação de motores à combustão.

1.2 OBJETIVOS

Avaliar os ganhos com o aumento de etanol anidro na gasolina, levantando opções de combustíveis a serem utilizados e apontando os próximos passos referentes à calibração de motores.

Propor alternativas para os veículos a combustão interna a fim de otimizar seu desempenho de acordo com o objetivo principal.

Analisar e compartilhar dados confiáveis das vantagens do aumento da porcentagem de etanol na gasolina, bem como seu impacto socioeconômico no país.

Comparar dados de emissão de poluentes e parâmetros físicos dos combustíveis avaliados visando atingir menores impactos ambientais.

2 MATERIAIS E MÉTODOS 

Realizou-se uma revisão narrativa de literatura, com diversos tipos de documentos sendo eles artigos, teses, dissertações e textos on-line. Com esse método foi possível adquirir uma ampla descrição sobre o assunto, porém não esgotando todas as fontes de informação, visto que sua realização não é feita por busca e análise sistemática dos dados, mas também pelo conhecimento adquirido durante o curso da graduação. Sua importância está na rápida atualização dos estudos sobre a temática.

Foram utilizados trabalhos obtidos a partir da busca com os termos “teor de etanol na gasolina”, “motores flex”, “gasolina”, “vantagens do etanol” e “eficiência do combustível” no endereço eletrônico Google Acadêmico. Selecionaram-se os estudos que apresentavam a descrição do método no título e no corpo do texto de forma abrangente, de modo a contribuir com sua caracterização. Foram identificados e incluídos XX estudos, entre os quais há outros métodos de revisão bibliográfica e testes em laboratórios.

Optou-se pelo embasamento teórico dos benefícios e resultados de testes encontrados nos estudos para determinação da proposta deste artigo.

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 

Em 2015, diante da possibilidade da determinação do aumento do etanol anidro na gasolina de 25% para 27,5% pelo governo federal, a Petrobras fez um estudo com misturas de gasolina-etanol de 22, 25, 27,5 e 30% de etanol anidro (VILELLA, 2015). Esse estudo foi realizado em automóveis e motos com motores à gasolina, sem alteração nos parâmetros de taxa de compressão e avanço de ignição e abordou os parâmetros de emissões, dirigibilidade, partida a frio, retomadas de velocidade, potência e autonomia.

Segundo FOGAÇA (2023), escritora da matéria Combustíveis Fosseis, atualmente a maior parte da demanda mundial de energia, que representa cerca de 75%, é suprida por meio da utilização de combustíveis fósseis, que são aqueles originados da decomposição de organismos animais e vegetais durante milhares de anos em camadas profundas do solo ou do fundo do mar. Os principais combustíveis fósseis são o petróleo, o gás natural e o carvão, sendo o petróleo o de maior comércio.  

Nas refinarias, é possível obter do petróleo os combustíveis gasolina, o óleo diesel, o querosene e o Gás Liquefeito de Petróleo (GLP). Entre esses, a gasolina é a de maior importância econômica. Todos os combustíveis fósseis são formados por compostos orgânicos que, quando queimados, liberam gás carbônico e água, se a combustão é completa. Isso é um grande problema, pois, desde o século XIX, a concentração de gás carbônico na atmosfera vem aumentando cada vez mais, o que tem intensificado o problema do efeito estufa. 

Além disso, a combustão incompleta dos combustíveis fósseis libera o monóxido de carbono, um gás extremamente venenoso que não pode ser lançado na atmosfera.

Além dos combustíveis fósseis, temos opções de combustíveis renováveis, como o etanol, também muito presente comercialmente ao lado da gasolina.

As gasolinas disponíveis para comercialização no Brasil são: gasolina A comum, gasolina A premium, gasolina C comum e gasolina C premium.

A gasolina A é produzida nas refinarias, centrais petroquímicas e formuladores sem adição de etanol anidro, que por sua vez é adicionado conforme estabelecido para compor a gasolina C, esta que irá para os revendedores (postos de combustíveis) disponibilizada para uso nos automóveis. Atualmente, o teor de etanol anidro na gasolina C é de 27% em volume para gasolina C Comum e 25% para gasolina C premium conforme Portaria MAPA nº 75/2015.

Distinguem-se dois tipos de números de octano (popularmente referidos por octanagem). Método MON (Motor Octane Number) ou método Motor – ASTM D2700 – avalia a resistência da gasolina à detonação, na situação em que o motor está em plena carga e em alta rotação. Método RON (Research Octane Number) ou método Pesquisa – ASTM D2699 – avalia a resistência da gasolina à detonação, na situação em que o motor está carregado e em baixa rotação (até 3000 rpm).

Alguns países utilizam a octanagem MON, RON, e outros o Índice de Octanagem IAD = (MON + RON)/2. Para uma mesma gasolina, o RON tem um valor típico superior ao MON de até 10 octanas. Portanto, ao comparar gasolinas de diferentes países é importante verificar se está sendo utilizada a mesma base (MON, RON ou IAD). Por exemplo, 95% a gasolina de octano tem a mesma resistência à auto-ignição como uma mistura de octano a 95% e 5% de heptano.

A gasolina premium possui número de octanas (RON) superior às encontradas na gasolina comum. É indicada para veículos que requeiram ou exijam combustível de maior octanagem para o correto aproveitamento da capacidade automotiva, de acordo com a ANP. 

A gasolina aditivada é a gasolina C automotiva (comum ou premium) acrescida de um detergente/dispersante, não deve ser confundida com gasolinas premium e não são uma categoria de qualidade conforme a regulamentação da ANP. Cada distribuidora é responsável pela comercialização de sua própria gasolina aditivada, que contém um aditivo próprio cuja função primária é manter limpo o motor e evitar ou minimizar a formação de depósitos. 

Por definição da ANP (Resolução Nº 40 DE 25/10/2013), existem dois tipos básicos de etanol: o anidro e o hidratado. O que difere esses dois tipos é a concentração de água: no hidratado, a água pode chegar a 5% e, no anidro, a 0.5%.

Conhecendo essas definições, pode-se dizer que o etanol anidro contém muito mais álcool do que água na composição, o que o torna praticamente um álcool puro. Por isso, ele é destinado a outras finalidades, como a produção de tintas, solventes e para composição da gasolina C, encontrada nos postos de combustíveis. Já o álcool hidratado pode ser usado diretamente como combustível (comercializado nos postos de combustíveis como etanol), contendo mais água na sua composição. 

A gasolina C disponível nos postos de combustível não é uma gasolina pura, tendo 27% da sua composição de etanol anidro. Essa determinação se dá pela lei Nº 8.723 que desde 1993 aponta a quantidade de etanol anidro necessária na composição. Medido em porcentagem, essa quantidade iniciou em 22% e passou por alterações de acordo com as necessidades principalmente ambientais. Em 2021, essa porcentagem alcançou o valor de 27% na gasolina C comum e 25% na gasolina C premium (ANP, 2021).

Além dos benefícios para atender as demandas ambientais, como diminuição da emissão de CO2, a adição de etanol anidro na gasolina traz vantagens econômicas e energéticas. 

No ponto de vista econômico, a adição de etanol anidro contribui também para que o preço da gasolina não se eleve tanto com a variação dos custos do petróleo. Além disso, proporciona o aumento da produção de etanol no Brasil, que é o pioneiro na tecnologia de produção por cana-de-açúcar. 

Falando em eficiência energética, uma das grandes vantagens do etanol na composição da gasolina é exercer um papel antidetonante, aumentando a octanagem da gasolina. Quando analisando no sistema, mais compressão esse combustível virá a resistir, conseguindo extrair uma potência maior do sistema. A gasolina pura dissipa mais energia térmica em sua combustão que a gasolina com 20% de etanol em sua composição. Isso se dá pela característica do etanol ser um combustível com menor poder calorífico, ou seja, dissipa menos energia na sua queima. Dessa forma, a gasolina com aumento de etanol em sua composição se torna cada vez mais difícil de entrar em auto combustão, possibilitando que se comprima mais antes da queima (FRANCESQUETT, 2013).

Segundo VILELLA (2015), as conclusões desses testes não identificaram qualquer contraindicação ao aumento de etanol anidro para 27,5%, porém apresentaram algumas oportunidades. Em relação às emissões, a tendência foi de redução de hidrocarbonetos CO, CO2 e NOx, porém para aldeídos o resultado mostrou um aumento em 3 dos 8 veículos testados. Em relação a autonomia, todos os veículos apresentaram uma tendência a redução, ou seja, aumento de consumo. Quanto aos testes de dirigibilidade e partida a frio, alguns veículos apresentaram falhas. E, por último, referente ao teste de retomada de velocidade que foi baseado em 3 faixas de velocidade (40 – 80 km/h, 60 – 100 km/h e 80 – 120 km/h), foram obtidos resultados com variações de 2% para mais ou para menos em relação ao uso da gasolina com 25% de etanol com a alteração da gasolina com teor de etanol anidro para 27%. Ou seja, alguns veículos demonstraram ganho em 2% utilizando E27 do que apresentavam utilizando E25 em determinada faixa de velocidade, enquanto alguns veículos demonstraram uma perda utilizando E27 em relação ao E25. É importante ressaltar que, nesse teste realizado em 2015, não foram envolvidos testes com alteração de taxa de compressão e avanço de ignição.

Um estudo feito por um grupo de pesquisadores no Iraque aponta os resultados da adição de etanol misturado à gasolina em diferentes proporções (10% etanol + 90% gasolina, 20% etanol + 80% gasolina, 30% etanol +70% gasolina, 40% etanol + 60% gasolina) utilizando banho ultrassônico para garantir uma mistura perfeita que, por sua vez, aumentará o conteúdo de energia do combustível (MOHAMMED, 2020).

Nesse estudo realizado pelo grupo citado, utilizou-se um motor de um cilindro, quatro tempos e ignição por centelha para estudar e analisar o efeito da mistura etanol/gasolina na potência, eficiência e gases de escape. Os resultados mostraram que a potência, o consumo específico de freio e a eficiência térmica são melhorados com o aumento da concentração de etanol. Por outro lado, o etanol apresentou efeito negativo na eficiência volumétrica. Além disso, a adição de etanol reduz os gases de escape nocivos. Verificou-se que mais etanol é acompanhado de menos gases de escape, como podemos ver na Figura 21, representando os gases CO como gráfico “a”, CO2 como gráfico “b”, hidrocarbonetos como gráfico “c” e NOx como gráfico “d”. As emissões de CO e CO2 são menores com a mistura de combustível comparadas com a gasolina. As emissões de hidrocarbonetos diminuem conforme o teor de etanol aumenta. Também houve redução em emissão deNOx, apresentando menor valor com mistura de combustível. 

Figura 21 – Comparação de emissões com misturas de etanol X gasolina

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Fonte: Sience Direct (2021)

Finalmente, o número de octanas de pesquisa e o número de octanas do motor são muito com misturas de etanol. Embora o poder calorífico inferior tenha sido maior para a gasolina pura, descobriu-se que todos os outros parâmetros são aprimorados com a adição de etanol ao combustível do motor (MOHAMMED, 2020). Na Tabela 03 abaixo, podemos ver o comparativo resultante do estudo.

Tabela 1 – Propriedades físicas dos combustíveis utilizados

Fonte: Adaptado de Science Direct (2021)

O estudo apresentado por Mohammed (2020), comprovou as seguintes afirmações a partir de testes realizados com os combustíveis E10, E20, E30 e E40 em um motor monocilíndrico com valores entre 1500 e 2500 rpm:

  1. Houve um aumento significativo em RON e MON para todos os combustíveis de mistura, mas tem um poder calorífico inferior para gasolina pura.
  2. Ocorreu um aumento de eficiência térmica, quando utilizada a mistura E40, sendo esta melhora de (25,8%) em relação à gasolina.
  3. Notamos que a eficiência volumétrica apresenta comportamento negativo com o aumento da rotação do motor e a diminuição do percentual de mistura de etanol.
  4. A redução máxima no consumo específico de combustível na frenagem com a mistura de combustível foi para a mistura E40, mostra diminuição de 17,21% em comparação com o combustível gasolina. Isso devido a mistura fornecer o efeito de “empobrecimento” da mistura para melhorar a relação de equivalência ar – combustível. 
  5. Há uma redução significativa nas emissões dos gases de escape HC, NOx, CO2  e CO com o aumento da proporção de etanol em relação à gasolina. A queda máxima de emissões de CO foi encontrada em E30 (26,33% a menos), em emissões de CO2 foi encontrada em E40 (25% a menos), em emissões de HC foi encontrada em E40 (31,05% a menos) e em emissões de NOx foi encontrada em E40 (20,91% a menos).

Segundo o Ministério da Infraestrutura (FROTA DE VEÍCULOS, 2023), há uma vasta frota de veículos com motores somente à gasolina ou até mesmo veículos flex, mas com tecnologias mais antigas consideradas popularmente como as primeiras gerações de motores bi combustível produzidos a partir de 2003. De acordo com o Ministério da Infraestrutura (QUANTIDADE DE VEÍCULOS POR UF MUNICÍPIO E COMBUSTÍVEL, ABRIL/2023), existem 98.209.603 veículos movidos a gasolina C ou álcool e gasolina (flex fuel). Dessa quantidade, 60.817.228 são automóveis (FROTA POR UF E TIPO DE VEÍCULO, ABRIL/2023). Se formos utilizar como base os veículos movidos a gasolina C que poderiam ser prejudicados com a alteração da porcentagem de etanol anidro na composição, seriam 49.758.556 veículos afetados, totalizando cerca de 50% da frota atual do país. Os motores mono combustível a gasolina são calibrados de forma a atender uma porcentagem de etanol anidro no combustível de acordo com a legislação vigente. Sendo assim, aumentar o teor de etanol na gasolina de forma agressiva poderia acelerar a desvalorização desses veículos e também a degradação de componentes.  

Falando da questão climática, no Brasil temos uma grande diversidade de temperatura, não só entre as 4 estações do ano, mas também dentre as regiões do país. Considerando as regiões, o aumento dessa porcentagem de etanol anidro também poderia gerar problemas para algumas regiões mais frias, como por exemplo, na região Sul, formada pelos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, cuja temperatura média anual é de 14 ºC (Virtuous Tecnologia da Informação, 2007-2023) sendo que nos locais com altitudes acima de 1.100 m, cai para aproximadamente 10 ºC. Com o uso de um combustível com mais de 50 % da sua composição sendo etanol, isso torna o combustível mais resistente à detonação, prejudicando o funcionamento desses motores nessas características climáticas, principalmente após dias com temperaturas extremamente baixas. A Figura 22 representa a média climática do país, ilustrando as diferenças de temperatura:

Figura 22 – Variação climática no Brasil

Fonte: Bianca Lobo (2017)

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Com base na pesquisa bibliográfica, e na necessidade de otimizar os motores flex-fuel hoje disponíveis no mercado visando emissões, autonomia e potência, encontramos a possibilidade de estudo de um combustível E35, considerando a necessidade de ajuste na calibração dos motores para obtenção de melhores resultados. 

Analisando as vantagens da adição de etanol anidro na gasolina C, o primeiro pensamento para se otimizar o motor a combustão interna é elevar ao máximo a adição do álcool para mais próximo do 100%, devido a características produtivas e químicas que o etanol possui. Porém, devido às características geográficas e sociais do nosso país, encontramos dificuldades de padronizar o uso desse combustível. A tecnologia flex fuel no Brasil é um importante fator para atender a economia, diferenças climáticas e gosto do público. 

Com base nos resultados gerados pela revisão bibliográfica apresentada, reforça-se a ideia de que elevando o teor de etanol anidro na composição da gasolina podemos obter ganhos significativos principalmente em emissões e desempenho de combustão.  Portanto, considerando as condições climáticas do país, estabelecemos a alteração da gasolina C, hoje com 27% de etanol anidro em sua composição, para a gasolina C com 35% de etanol anidro, como melhor opção para implementação atualmente, representando um aumento de 30% em relação ao teor atual e o teor proposto. A tabela abaixo compila os valores de emissões e características das misturas de 0% a 40% de etanol na gasolina, onde pudemos comparar e concluir uma proposta de mistura. 

Tabela 2 – Comparação das misturas de combustível

Fonte: Autoria própria

A tendência do uso dos biocombustíveis deverá ser maior nos países em desenvolvimento, nos quais, cada vez mais são implementadas políticas públicas que favorecem o uso dos biocombustíveis. O Brasil continua sendo destaque no cenário mundial de produção e consumo de biocombustíveis e já possui uma base institucional, arcabouço legal, capacidade instalada, corpo científico de excelência em áreas como biocombustíveis e bioquímica e conhecimento técnico que são ferramentas importantes para a superação de boa parte dos desafios para a ampliação da participação dos biocombustíveis na matriz energética do país (VIDAL, 2021). Sendo assim, podemos considerar que o país tem uma grande oportunidade de implementar opções de combustíveis com maior teor de etanol em sua composição como uma contraproposta aos veículos elétricos.

Entendemos que, não somente o aumento do teor de etanol anidro na gasolina C de 27% para 35% é o suficiente para atingir resultados significativamente atraentes para se manter em uso o motor flex fuel, visto que a taxa de compressão e o avanço de ignição são pontos cruciais na calibração dos motores para atingir parâmetros mais justos de eficiência e controle de emissões. Aumentando a resistividade à combustão do combustível utilizado, a taxa de compressão pode ser elevada sem causar o efeito de detonação pois, segundo LEITE (2014), um combustível com baixo índice de octanagem não resistem a altas razão de compressão, como a gasolina, já acrescentando etanol em sua composição adquiri características menos detonantes, assim também alterando o avanço de ignição, que por sua vez pode ser aproximado do APMS, aproximando a liberação da centelha o mais perto possível do ponto máximo de compressão suportado pelo combustível. Falando em motores flex fuel, quanto maior a taxa de compressão e maior o grau no avanço de ignição, menor a distância de valores obtidos comparando a queima quando abastecido com gasolina C e quando abastecido com etanol hidratado. Dessa forma, o usuário do motor flex fuel sentiria menos as mudanças de comportamento do veículo. No etanol, o motor flex teria chance de se tornar mais econômico, e na gasolina, apresentaria melhora de desempenho em potência do que temos hoje. Com o estudo feito por MOHAMMED (2020), a adição de etanol na gasolina melhorou a potência do motor.

5 CONCLUSÃO 

Este trabalho teve o propósito de sugerir uma melhoria ao motor a combustão interna flex fuel com a implementação do combustível gasolina com acréscimo de etanol anidro na composição para que essa tecnologia se torne uma atrativa opção aos veículos com combustíveis ou elétricos. A proposta foi aumentar o teor de etanol anidro na composição da gasolina de 27% para 35%. O estudo foi embasado através de referências bibliográficas que evidenciaram vantagens do acréscimo do etanol anidro na composição da gasolina C, e também fatores climáticos e socioeconômicos do país. Para atingir uma compreensão da implementação desse novo combustível ser viável foram definidos dois parâmetros principais para a análise. O primeiro parâmetro considerado foi o nível de emissões de gases poluentes, onde foi identificado um resultado positivo. O segundo parâmetro, também com resultados positivos, foi o aumento do índice de octanas do combustível que pode gerar um aumento de desempenho quando a otimização da taxa de compressão e o avanço de ignição podem ser aplicados no motor. Dessa forma, a hipótese de aumento do teor de etanol anidro na gasolina se mostra eficiente e atrativa para a redução de emissões de gases poluentes e também uma melhora no desempenho do motor.

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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1 Professor