OSTEONECROSE DOS MAXILARES: UMA REVISÃO DE LITERATURA SOBRE AS ABORDAGENS TERAPÊUTICAS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102410160935


José Artur Alves da Silva[1]
Rebeca Dalla Rosa[2]
Rafael Jorge Valente[3]
Israel Henrique Teixeira Leite[4]
Alejandro Marco Bravo Lambert[5]
Sáthyla Lander Cândida Marques[6]


Resumo

A osteonecrose dos maxilares é uma condição associada ao uso de bisfosfonatos, denosumabe e antiangiogênicos. Inicialmente atribuída apenas aos bisfosfonatos, agora sabe-se que outras medicações também estão envolvidas. A etiologia ainda é incerta, com infecções e inflamações desempenhando um papel importante. A American Association of Oral and Maxillofacial Surgeons (AAOMS) classifica a condição em quatro estágios, desde assintomática até casos graves com necrose extensa e fraturas. O tratamento varia conforme a gravidade, desde manejo conservador com clorexidina até intervenção cirúrgica. A terapia fotodinâmica (PDT) surge como uma nova opção promissora. Destaca-se a importância da avaliação odontológica preventiva para reduzir riscos dessa patologia.

Palavras-chave: Osteonecrose dos maxilares. Medicamentos. Abordagens terapêuticas

INTRODUÇÃO

A osteonecrose dos maxilares é uma condição óssea que pode ser desencadeada pelo uso de medicamentos prescritos para o tratamento de osteoporose e tumores malignos. Inicialmente, acreditava-se que a condição estava associada exclusivamente ao uso de bisfosfonatos, entretanto, pesquisas recentes indicam que outros fármacos, como o denosumabe (antirresorptivo) e o bevacizumabe (antiangiogênico), também estão implicados em seu desenvolvimento (SALES; DA CONCEIÇÃO, 2020). Os bisfosfonatos são amplamente utilizados para tratar doenças esqueléticas, prevenindo a atividade osteoclástica e, consequentemente, a perda óssea. No entanto, um de seus principais efeitos adversos é a osteonecrose dos maxilares, que pode surgir após procedimentos odontológicos invasivos ou traumas locais (VILELA-CARVALHO et al., 2018). Essa condição, embora rara, apresenta um impacto significativo na qualidade de vida dos pacientes devido à sua etiopatogenia multifatorial, ainda não completamente compreendida. Uma hipótese é que infecções e processos inflamatórios desempenhem um papel importante em sua gênese (MACIEL et al., 2023).

Do ponto de vista radiográfico, a osteonecrose apresenta uma aparência complexa, resultante de uma combinação de esclerose óssea e destruição ao redor da crista alveolar e dos dentes, com predomínio de padrões radiopacos e escleróticos (OLIVEIRA et al., 2021). Contudo, ainda não há um consenso sobre o mecanismo preciso de desenvolvimento da osteonecrose induzida por medicamentos, e a literatura continua a investigar possíveis terapias e protocolos de tratamento (CARVALHO et al., 2018).

METODOLOGIA

Para realizar uma revisão de literatura sobre as abordagens terapêuticas da osteonecrose dos maxilares relacionada ao uso de medicamentos, foi realizada uma busca sistemática nas principais bases de dados científicas, incluindo Scielo e Google Acadêmico. As palavras-chave utilizadas foram “Osteonecrose dos maxilares”, “Medicamentos” e “Abordagens terapêuticas”, que foram combinadas com o operador booleano AND para refinar a pesquisa e garantir que os resultados fossem específicos e relevantes ao tema proposto.

A pesquisa focou em artigos publicados nos últimos sete anos para assegurar que as informações fossem atualizadas, com ênfase nos estudos que abordavam as diferentes terapias para o tratamento da osteonecrose dos maxilares. Foram incluídos estudos que tratavam de pacientes submetidos a tratamentos com bisfosfonatos, denosumabe e antiangiogênicos, além de abordagens terapêuticas conservadoras, cirúrgicas e alternativas, como a terapia fotodinâmica (PDT).

Os critérios de exclusão aplicados eliminaram artigos que não tratavam diretamente das abordagens terapêuticas ou que focavam em outros tipos de osteonecrose. Também foram excluídos estudos não originais, como revisões de literatura, privilegiando-se artigos que apresentassem dados empíricos. Ao final do processo de seleção, foram revisados e incluídos 7 estudos que atenderam a todos os critérios de inclusão e que apresentavam relevância para o objetivo do estudo.

RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS

A classificação da osteonecrose relacionada a medicamentos nos maxilares (MRONJ), conforme a American Association of Oral and Maxillofacial Surgeons (AAOMS), divide a condição em quatro estágios, variando de ausência de exposição óssea visível (estágio 0) a casos graves com necrose extensa e complicações como fraturas patológicas (estágio 3) (RUGGIERO et al., 2022). Embora não exista um protocolo único de tratamento, muitos estudos têm sugerido diferentes abordagens terapêuticas. O tratamento conservador, com uso de clorexidina e monitoramento, é indicado para casos assintomáticos, mas intervenções cirúrgicas podem ser necessárias em estágios mais avançados, como no caso relatado por Santos et al. (2020), onde uma paciente inicialmente foi tratada de forma conservadora, mas a progressão da condição exigiu cirurgia após cinco meses.

Além disso, é fundamental que os pacientes submetidos a terapias com agentes antiangiogênicos ou bisfosfonatos sejam avaliados odontologicamente antes do início do tratamento, para prevenir complicações e evitar a necessidade de intervenções invasivas que possam precipitar a osteonecrose (CAMINHA et al., 2019). Entre as terapias alternativas emergentes, a terapia fotodinâmica (PDT) tem se mostrado promissora por ser não invasiva, proporcionar conforto ao paciente e apresentar ação antimicrobiana eficaz, sem o risco de resistência bacteriana associado à antibioticoterapia (SOUZA et al., 2019).

Os resultados da pesquisa revelam uma diversidade de tratamentos para a osteonecrose relacionada a medicamentos nos maxilares, destacando a importância do planejamento individualizado, considerando a gravidade do caso e a resposta do paciente.

O quadro 1 compila as principais informações sobre a classificação, tratamento e recomendações para a osteonecrose dos maxilares.

QUADRO 1

AspectosDescrição
Classificação (AAOMS)Dividida em quatro estágios:
Estágio 0: Ausência de exposição óssea visível. Estágio 1: Exposição óssea visível sem sintomas. Estágio 2: Exposição óssea visível com sintomas. Estágio 3: Necrose extensa e complicações (ex. fraturas patológicas). (RUGGIERO et al., 2022)
Abordagens terapêuticasTratamento conservador: Uso de clorexidina e monitoramento para casos assintomáticos. Intervenções cirúrgicas: Necessárias em estágios avançados, conforme evidenciado por Santos et al. (2020).
Avaliação odontológica pré-tratamentoAvaliações são essenciais para pacientes em tratamento com bisfosfonatos ou antiangiogênicos para prevenir complicações e intervenções invasivas que possam agravar a osteonecrose (CAMINHA et al., 2019).
Terapias alternativasA Terapia Fotodinâmica (PDT) se destaca por ser não invasiva, confortável para o paciente e eficaz em ação antimicrobiana, sem o risco de resistência bacteriana associado à antibioticoterapia (SOUZA et al., 2019).

Fonte: Elaborado pelos autores

CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

A osteonecrose dos maxilares, frequentemente associada ao uso de medicamentos como bisfosfonatos e denosumabe, representa um desafio clínico significativo. É crucial que pacientes em tratamento com esses agentes sejam submetidos a uma avaliação odontológica antes do início da terapia, a fim de prevenir complicações graves. O manejo da condição envolve uma variedade de abordagens terapêuticas, que vão desde tratamentos conservadores, como o uso de clorexidina e monitoramento, até intervenções cirúrgicas em casos avançados. A terapia fotodinâmica (PDT) emerge como uma alternativa promissora, destacando-se por sua natureza não invasiva e eficácia antimicrobiana, sem o risco de resistência bacteriana. Em resumo, a osteonecrose dos maxilares demanda uma abordagem multidisciplinar e um acompanhamento rigoroso para otimizar os resultados e a qualidade de vida dos pacientes.

REFERÊNCIAS

CAMINHA, Raquel D. et al. Perfil de risco para osteonecrose dos maxilares associada a agentes antiangiogênicos. Einstein (São Paulo), v. 17, p. eRW4628, 2019.

CARVALHO, Lidia Nunes Vilela et al. Osteonecrose dos maxilares relacionada ao uso de medicações: Diagnóstico, tratamento e prevenção. Revista CES Odontología, v. 31, n. 2, p. 48-63, 2018.

DE JESUS, Adriele Pereira et al. Tratamento cirúrgico para osteonecrose dos maxilares induzida por bisfosfonatos: relatos de casos. Revista da Faculdade de Odontologia-UPF, v. 24, n. 1, p. 22-30, 2019.

DOS SANTOS, Wanderley Barros et al. Osteonecrose dos Maxilares associada ao uso crônico de bisfosfonatos: relato de caso. Revista Eletrônica Acervo Saúde, v. 12, n. 2, p. e2398-e2398, 2020.

MACIEL, Gabriel Bassan Marinho et al. O papel da infecção e inflamação na etiopatogênese da osteonecrose dos maxilares induzida por medicamentos. Revista da Faculdade de Odontologia-UPF, v. 28, n. 1, 2023.

OLIVEIRA, Maria Eduarda de Freitas Santana et al. Aspectos radiográficos da osteonecrose em maxilares por bisfosfonatos. Revista de Odontologia da UNESP, v. 49, n. Especial, p. 57-0, 2021.

RUGGIERO, Salvatore L. et al. American Association of Oral and Maxillofacial Surgeons’ position paper on medication-related osteonecrosis of the jaws—2022 update. Journal of Oral and Maxillofacial Surgery, v. 80, n. 5, p. 920-943, 2022.

SALES, Kauanna Oliveira; DA CONCEIÇÃO, Leandro Silva. A atuação do cirurgião-dentista frente à osteonecrose dos maxilares associada ao uso de bisfosfonatos: uma revisão de literatura. Facit Business and Technology Journal, v. 1, n. 14, 2020.

SOUZA, Smyrna Luiza Ximenes de et al. Terapia fotodinâmia como coadjuvante no tratamento da osteonecrose dos maxilares associada ao uso de medicamentos (OMAM). Rev. Salusvita, Bauru, v. 38, n. 4, p. 1093-1105, 2019.

VILELA-CARVALHO, Lidia Nunes et al. Osteonecrose dos maxilares relacionada ao uso de medicações: Diagnóstico, tratamento e prevenção. CES Odontología, v. 31, n. 2, p. 48-63, 2018.


[1]Graduando em Odontologia pela Universidade de Pernambuco

[2]Graduada em Odontologia pela Faculdade FAPAC ITPAC Porto Nacional

[3]Graduando em Odontologia pela Universidade Paulista

[4]Especialista em Implantodontia pela Faculdade São Leopoldo Mandic

[5]Graduado em Odontologia pela Universidade Estadual de Londrina

[6]Graduada em Odontologia pela Universidade de Rio Verde