OSTEOGÊNESE IMPERFEITA: UMA REVISÃO SOBRE AVANÇOS NO TRATAMENTO

OSTEOGENESIS IMPERFECTA: A REVIEW OF ADVANCES IN TREATMENT

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202506091543


Luiz Henrique Guedes Moretz-Sohn1
Mauricio Cupello Peixoto2


RESUMO

O presente estudo teve como objetivo analisar os avanços recentes no tratamento da osteogênese imperfeita, uma doença genética rara caracterizada pela fragilidade óssea e alterações no tecido conjuntivo. Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, na qual foram utilizados os descritores “Osteogenesis Imperfecta”, “Treatment”, “Therapy”, “Bone Density”, “Bisphosphonates”, “Gene Therapy”, “Collagen”, “Fractures”, “Bone Strength” e “Bone Disorders”, combinados pelo operador booleano “AND”, nas bases de dados National Library of Medicine (PubMed) e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Foram incluídos artigos publicados entre os anos de 2016 e 2025, sendo excluídos os que apresentavam duplicidade ou não atendiam à temática central da pesquisa. Após a triagem, foram selecionados 22 estudos para análise. Os resultados indicaram que os tratamentos tradicionais com bifosfonatos continuam sendo amplamente utilizados, com benefícios na densidade mineral óssea e redução do risco de fraturas. No entanto, terapias emergentes, como terapia gênica, o uso de anticorpos monoclonais e abordagens com células-tronco, demonstraram resultados promissores em estudos recentes, apontando para uma mudança no paradigma terapêutico da doença. Conclui-se que, embora ainda em fase experimental, esses avanços representam perspectivas relevantes para o futuro do manejo clínico da osteogênese imperfeita.

Palavras-chave: Osteogênese imperfeita. Tratamento. Doenças ósseas.

ABSTRACT

The present study aimed to analyze recent advances in the treatment of osteogenesis imperfecta, a rare genetic disorder characterized by bone fragility and connective tissue abnormalities. This is an integrative literature review, in which the following descriptors were used: “Osteogenesis Imperfecta,” “Treatment,” “Therapy,” “Bone Density,” “Bisphosphonates,” “Gene Therapy,” “Collagen,” “Fractures,” “Bone Strength,” and “Bone Disorders,” combined using the Boolean operator “AND” in the National Library of Medicine (PubMed) and the Virtual Health Library (BVS) databases. Articles published between 2016 and 2025 were included, while duplicates and studies not related to the central theme were excluded. After screening, 22 studies were selected for analysis. The results indicated that traditional treatments with bisphosphonates continue to be widely used, offering benefits in bone mineral density and reducing the risk of fractures. However, emerging therapies such as gene therapy, the use of monoclonal antibodies, and stem cell approaches have shown promising results in recent studies, pointing to a shift in the therapeutic paradigm of the disease. It is concluded that, although still in the experimental phase, these advances represent relevant prospects for the future clinical management of osteogenesis imperfecta.

Keywords: Osteogenesis imperfecta. Treatment. Bone diseases.

RESUMEN

El presente estudio tuvo como objetivo analizar los avances recientes en el tratamiento de la osteogénesis imperfecta, una enfermedad genética rara caracterizada por la fragilidad ósea y alteraciones en el tejido conectivo. Se trata de una revisión integrativa de la literatura, en la que se utilizaron los descriptores “Osteogénesis Imperfecta”, “Treatment”, “Therapy”, “Bone Density”, “Bisphosphonates”, “Gene Therapy”, “Collagen”, “Fractures”, “Bone Strength” y “Bone Disorders”, combinados con el operador booleano “AND” en las bases de datos National Library of Medicine (PubMed) y Biblioteca Virtual en Salud (BVS). Se incluyeron artículos publicados entre los años 2016 y 2025, excluyéndose aquellos duplicados o que no abordaban el tema central de la investigación. Tras la selección, se analizaron 22 estudios. Los resultados indicaron que los tratamientos tradicionales con bifosfonatos siguen siendo ampliamente utilizados, con beneficios en la densidad mineral ósea y en la reducción del riesgo de fracturas. Sin embargo, terapias emergentes como la terapia génica, el uso de anticuerpos monoclonales y los enfoques con células madre han mostrado resultados prometedores en estudios recientes, señalando un cambio en el paradigma terapéutico de la enfermedad. Se concluye que, aunque todavía en fase experimental, estos avances representan perspectivas relevantes para el futuro del manejo clínico de la osteogénesis imperfecta.

Palabras clave: Osteogénesis imperfecta. Tratamiento. Enfermedades óseas.

INTRODUÇÃO

A osteogênese imperfeita (OI) é uma doença genética rara do tecido conjuntivo, cuja principal característica é a fragilidade óssea, resultando em fraturas recorrentes com traumas mínimos ou até mesmo na ausência de trauma. Trata-se de uma condição heterogênea, que pode ser herdada de maneira autossômica dominante, autossômica recessiva ou, mais raramente, como forma recessiva ligada ao X. Em cerca de 60% dos casos familiares únicos, a condição decorre de variantes de novo ou de variantes patogênicas herdadas de um dos pais com mosaicismo somático e/ou germinativo, o qual pode estar presente em até 16% das famílias (GLORIEUX et al., 2024; HARADA et al., 2020).

O defeito primário na maioria dos casos de OI envolve a síntese do colágeno tipo I, proteína estrutural essencial para a resistência óssea e a integridade de diversos tecidos conjuntivos. Como consequência, a doença possui manifestações clínicas amplas e sistêmicas, com impacto predominante no sistema esquelético, mas também envolvendo pele, dentes, olhos, audição, musculatura e sistema respiratório (NICOL et al., 2018). A gravidade e o espectro das manifestações clínicas variam conforme o tipo de OI, sendo a classificação de Sillence (tipos I a IV, posteriormente expandida) a mais utilizada na prática clínica.

As principais manifestações incluem fraturas frequentes, deformidades ósseas progressivas, baixa estatura, atraso no desenvolvimento motor e de crescimento. Outras características incluem escleras azuladas, dentinogênese imperfeita, frouxidão ligamentar, hipotonia muscular, perda auditiva (por alterações nos ouvidos médio e/ou interno), insuficiência respiratória por malformações torácicas e, em casos graves, insuficiência cardíaca congestiva. Nos tipos letais ou mais graves, alterações ósseas podem ser detectadas ainda no primeiro trimestre da gestação, por meio de ultrassonografia pré-natal, enquanto as formas leves podem só ser suspeitadas tardiamente durante a gravidez ou após o nascimento, diante de achados clínicos compatíveis com displasia esquelética (PALOMO et al., 2016; ZAMBRANO; FÉLIX; MELLO, 2019).

O diagnóstico da OI envolve a integração de dados clínicos, radiológicos e moleculares. A anamnese e o histórico familiar são fundamentais, sobretudo na presença de fraturas de repetição com baixa energia. Exames de imagem, como radiografias, evidenciam alterações típicas, incluindo osteopenia, deformidades, encurvamento de ossos longos e fraturas em diferentes fases de consolidação. A confirmação genética por meio de testes moleculares é atualmente o padrão-ouro para diagnóstico, podendo também ser realizada a partir de biópsia óssea em situações específicas (GLORIEUX et al., 2017; LIU et al., 2024).

O tratamento da osteogênese imperfeita, ao longo dos anos, tem sido sintomático e de suporte, com foco na prevenção de fraturas, no aumento da densidade mineral óssea e na promoção da mobilidade e qualidade de vida. Os bisfosfonatos são amplamente utilizados, com evidências sólidas de eficácia na redução de fraturas e melhora da DMO, especialmente em crianças (LI et al., 2019; XU et al., 2016).

Nos últimos anos, no entanto, terapias inovadoras vêm sendo estudadas, como o uso de anticorpos monoclonais anti-esclerostina (setrusumabe), o denosumabe (inibidor do RANKL) e a terapia com células-tronco mesenquimais, demonstrando resultados promissores em ensaios clínicos (INFANTE et al., 2021; LIU et al., 2024). Além disso, estratégias não farmacológicas como exercícios físicos supervisionados, treinamento com vibração de corpo inteiro e suplementação com vitamina D e cálcio são importantes no manejo multidisciplinar da doença (AL ARAB et al., 2025; HÖGLER et al., 2017).

Diante dos avanços terapêuticos e do impacto sistêmico da OI, torna-se essencial revisar e sistematizar os achados científicos mais atuais. Assim, esta revisão integrativa tem como objetivo analisar os avanços recentes no tratamento da osteogênese imperfeita, com foco nas abordagens terapêuticas farmacológicas e não farmacológicas, evidenciando seus efeitos clínicos e implicações na qualidade de vida dos pacientes.

METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, método que permite a síntese de estudos relevantes sobre um determinado tema, proporcionando maior compreensão do conhecimento produzido e identificando lacunas que podem orientar futuras pesquisas. Esse tipo de revisão é especialmente útil para reunir resultados de estudos com diferentes delineamentos, integrando evidências de forma sistemática e crítica (WHITTEMORE; KNALF, 2005).

A elaboração deste trabalho seguiu as seguintes etapas metodológicas: definição do problema de pesquisa; estabelecimento dos critérios de inclusão e exclusão; busca sistematizada nas bases de dados; seleção e análise dos estudos; extração e categorização dos dados; e, por fim, apresentação dos resultados.

A pergunta norteadora foi: “Quais são os avanços recentes no tratamento da osteogênese imperfeita?”. Para a busca dos estudos, foram utilizadas as seguintes bases de dados eletrônicas: PubMed e BVS. A busca foi realizada entre os anos de 2024 e 2025, com uso dos descritores controlados em português e inglês, combinados por meio do operador booleano AND: “Osteogênese Imperfeita” OR “Osteogenesis Imperfecta” AND “tratamento” OR “treatment” AND “avanços” OR “advances”.

Foram incluídos artigos disponíveis na íntegra, publicados entre os anos de 2016 e 2025, em português, inglês ou espanhol, que abordassem tratamentos da osteogênese imperfeita, sejam eles farmacológicos, não farmacológicos ou terapias emergentes. Foram excluídos estudos duplicados, cartas ao editor, revisões narrativas, dissertações, teses e artigos que não abordavam diretamente o tratamento da doença.

A seleção dos estudos foi realizada em três etapas: (1) leitura dos títulos, (2) leitura dos resumos e (3) leitura dos textos completos, a fim de garantir que os critérios de elegibilidade fossem atendidos. Após a seleção, os dados extraídos foram organizados em um quadro sinóptico contendo: título, autores e ano de publicação e principais resultados. A análise dos dados foi feita de forma descritiva e interpretativa, buscando evidenciar os principais avanços no tratamento da osteogênese imperfeita.

RESULTADOS

A busca resultou em um total de 127 artigos, sendo 69 provenientes da base de dados PubMed e 58 da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Inicialmente, foram aplicados os critérios de inclusão, selecionando-se apenas os artigos publicados entre os anos de 2016 e 2025, o que reduziu o número para 33 artigos no PubMed e 27 na BVS. Em seguida, foram excluídos os artigos que não abordavam diretamente o tema proposto, restando 23 artigos do PubMed e 15 da BVS. Após a remoção de dois artigos duplicados entre as bases, totalizaram-se 22 artigos elegíveis para compor esta revisão, conforme apresentado na Figura 1.

Figura 1: Fluxograma

Fonte: Próprio Autor.

A análise dos 22 estudos selecionados revelou importantes avanços terapêuticos e de suporte no manejo da OI. Entre as intervenções farmacológicas, destacaram-se os bisfosfonatos (alendronato, pamidronato, zoledronato e neridronato), os quais demonstraram eficácia em aumentar a densidade mineral óssea (DMO) e reduzir o risco de fraturas em crianças, adolescentes e adultos com OI. Zoledronato mostrou-se mais eficaz que o alendronato em crianças, enquanto o pamidronato apresentou bons resultados com um protocolo modificado. O neridronato também contribuiu para o aumento da DMO em um estudo aberto de longa duração.

Entre as terapias mais recentes, o denosumabe foi avaliado em três estudos, demonstrando-se eficaz e seguro tanto em crianças quanto em adultos, com melhora da densidade óssea e menor risco de hipocalcemia em comparação ao zoledronato. O setrusumab, anticorpo anti-esclerostina, também apresentou resultados promissores, promovendo aumento da DMO e redução de fraturas, com confirmação por tomografia de alta resolução. O BPS804, outro anticorpo anti-esclerostina, foi eficaz em adultos com OI moderada.

No campo das terapias celulares, estudos com infusões de células-tronco mesenquimais (MSCs) demonstraram potencial para induzir resposta pró-osteogênica em crianças, sendo também bem aceitas por médicos e pais, embora com ressalvas éticas, especialmente no contexto pré-natal.

Quanto às intervenções não farmacológicas, a atividade física adaptada e o treinamento com vibração corporal apresentaram benefícios na função motora, muscular e óssea de crianças com OI. Além disso, a suplementação com vitamina D em altas doses mostrou impacto positivo na DMO, e uma intervenção nutricional contribuiu para o aumento da ingestão de cálcio em pacientes pediátricos.

Por fim, terapias intraoperatórias, como o uso de ácido tranexâmico durante procedimentos com hastes telescópicas, demonstraram reduzir significativamente a perda sanguínea, e o bloqueio do TGF-β em modelos experimentais indicou melhora na qualidade óssea, apontando para novas possibilidades terapêuticas.

Esses achados reforçam a importância da abordagem multidisciplinar e personalizada no tratamento da osteogênese imperfeita, integrando intervenções farmacológicas, fisioterapêuticas, nutricionais e, futuramente, genéticas e celulares.

Tabela 1: Características dos artigos incluídos.

TítuloAutor(es)AnoPrincipais Resultados
Evaluation of the benefits of adapted physical activity in children and adolescents with osteogenesis imperfecta: the MOVE-OI trialAl Arab H et al.2025Atividade física adaptada melhorou a função motora em crianças/adolescentes com OI.
Efficacy of intraoperative use of tranexamic acid in reducing blood loss from telescoping nail application in osteogenesis imperfectaElbaseet HM et al.2025Uso intraoperatório de ácido tranexâmico reduziu significativamente a perda sanguínea.
Setrusumab for the treatment of osteogenesis imperfecta: 12-month results from the phase 2b asteroid studyGlorieux FH et al.2024Setrusumab aumentou a densidade óssea e reduziu fraturas após 12 meses.
BPS804 Anti-Sclerostin Antibody in Adults With Moderate Osteogenesis ImperfectaGlorieux FH et al.2017BPS804 foi eficaz em aumentar a densidade óssea em adultos com OI moderada.
Monthly intravenous alendronate treatment can maintain bone strength in osteogenesis imperfecta patientsHarada D et al.2020Alendronato mensal manteve a força óssea após tratamento com pamidronato.
Stakeholder views and attitudes towards prenatal and postnatal transplantation of fetal mesenchymal stem cellsHill M et al.2019Pais e médicos apoiam o uso de células-tronco mesenquimais para OI, com ressalvas éticas.
The Effect of Whole Body Vibration Training on Bone and Muscle Function in Children With Osteogenesis ImperfectaHögler W et al.2017Treinamento com vibração corporal melhorou a função muscular e óssea.
Non-invasive quantification of bone (re)modeling dynamics in adults with osteogenesis imperfecta treated with setrusumabHosseinitabatabaei S et al.2025Tomografia de alta resolução mostrou melhora na remodelação óssea com setrusumab.
Safety and efficacy of denosumab in children with osteogenesis imperfect–a first prospective trialHoyer-Kuhn H et al.2016Denosumabe foi eficaz e seguro em crianças com OI, melhorando a densidade óssea.
Treatment with neridronate in children and adolescents with osteogenesis imperfectaIdolazzi L et al.2017Neridronato aumentou a densidade óssea em estudo aberto de 3 anos.
Reiterative infusions of MSCs improve pediatric osteogenesis imperfectaInfante A et al.2021Infusões repetidas de MSCs induziram resposta pró-osteogênica em crianças com OI.
Effects of zoledronic acid on vertebral shape of children and adolescents with osteogenesis imperfectaLi LJ et al.2019Ácido zoledrônico melhorou a morfologia vertebral em crianças com OI.
Efficacy and Safety of Denosumab vs Zoledronic Acid in OI AdultsLin X et al.2024Denosumabe e zoledronato foram eficazes; denosumabe teve menor risco de hipocalcemia.
Safety and Efficacy of Denosumab in Children With Osteogenesis ImperfectaLiu J et al.2024Denosumabe foi eficaz e seguro em crianças com OI.
Zoledronic Acid Versus Alendronate In The Treatment Of Children With Osteogenesis ImperfectaLv F et al.2018Zoledronato foi mais eficaz que alendronato em melhorar a densidade óssea.
Serum Sclerostin Levels in Adults With Osteogenesis ImperfectaNicol L et al.2018Níveis de esclerostina foram mais baixos em adultos com OI; aumentaram com teriparatida.
Evaluation of a Modified Pamidronate Protocol for the Treatment of Osteogenesis ImperfectaPalomo T et al.2016Protocolo modificado de pamidronato foi eficaz e seguro.
Effect of high-dose vitamin D supplementation on bone density in youth with osteogenesis imperfectaPlante L et al.2016Vitamina D em alta dose aumentou a densidade óssea em jovens com OI.
Bisphosphonate Treatment Alters the Skeletal Response to Mechanical StimulationSithambaran S et al.2022Bisfosfonatos alteraram resposta esquelética à estimulação mecânica em crianças com OI.
Targeting TGF-β for treatment of osteogenesis imperfectaSong IW et al.2022Bloqueio do TGF-β melhorou a qualidade óssea em modelo experimental.
The Clinical Characteristics And Efficacy Of Bisphosphonates In Adult Patients With Osteogenesis ImperfectaXu XJ et al.2016Bisfosfonatos foram eficazes em adultos, reduzindo fraturas e aumentando densidade óssea.
Calcium intake improvement after nutritional intervention in paediatric patients with osteogenesis imperfectaZambrano MB et al.2019Intervenção nutricional aumentou a ingestão de cálcio em pacientes pediátricos com OI.

Fonte: Próprio Autor.

DISCUSSÃO

Avanços significativos têm sido registrados nos últimos anos, tanto em terapias farmacológicas quanto em abordagens não medicamentosas, visando melhorar a qualidade de vida dos pacientes com OI.

Os bisfosfonatos ainda são amplamente utilizados como primeira linha no tratamento da OI, com evidências de eficácia na melhora da densidade mineral óssea e redução de fraturas, principalmente em crianças (HARADA et al., 2020; PALOMO et al., 2016; IDOLAZZI et al., 2017; LI et al., 2019). Estudos comparativos mostram resultados semelhantes entre diferentes fármacos da classe, como alendronato e ácido zoledrônico (LV et al., 2018). Em adultos, a eficácia também é observada, embora os efeitos colaterais e a resposta clínica possam variar (XU et al., 2016).

Alternativas aos bisfosfonatos, como o denosumabe, têm sido avaliadas com resultados promissores. Estudos apontam melhora na densidade óssea em adultos e crianças (HOYER-KUHN et al., 2016; LIN et al., 2024; LIU et al., 2024), embora ressaltem a necessidade de monitoramento rigoroso devido ao risco de rebote após a suspensão do tratamento.

A terapia com anticorpos monoclonais anti-esclerostina também tem mostrado avanços. O BPS804, avaliado em adultos, demonstrou aumento da massa óssea e melhora funcional (GLORIEUX et al., 2017). O setrusumabe, em ensaios clínicos recentes, apresentou resultados positivos quanto à densidade óssea e remodelação (GLORIEUX et al., 2024; HOSSEINITABATABAEI et al., 2025), com potencial para se tornar um marco terapêutico.

Outra abordagem inovadora é o uso de células-tronco mesenquimais, com destaque para o ensaio clínico TERCELOI, que relatou resposta parácrina pró-osteogênica e melhora clínica (INFANTE et al., 2021). Transplantes pré e pós-natais de células fetais mesenquimais também estão sendo estudados, com perspectivas futuras, apesar das implicações éticas e sociais envolvidas (HILL et al., 2019).

No âmbito cirúrgico, avanços também têm sido descritos. A utilização intraoperatória de ácido tranexâmico durante a colocação de hastes telescópicas demonstrou reduzir significativamente a perda sanguínea, promovendo maior segurança (ELBASEET; ALDEEN; IRAHIM, 2025).

As intervenções não farmacológicas também têm ganhado destaque. O treinamento por vibração de corpo inteiro resultou em melhora da função muscular e óssea em crianças (HÖGLER et al., 2017), e a atividade física adaptada demonstrou benefícios funcionais e psicossociais em jovens com OI (AL ARAB et al., 2025).

No campo da nutrição, a suplementação de vitamina D foi eficaz na melhora da densidade óssea (PLANTE et al., 2016), e intervenções nutricionais mostraram-se úteis para otimizar a ingestão de cálcio, essencial na manutenção da saúde óssea (ZAMBRANO; FÉLIX; MELLO, 2019).

Estudos moleculares têm investigado novos alvos terapêuticos, como o TGF-β, cujo bloqueio se mostrou eficaz na redução da fragilidade óssea em modelos experimentais (SONG et al., 2022). Além disso, análises dos níveis de esclerostina sérica sugerem papel relevante na regulação óssea, podendo ser influenciados por terapias como o teriparatida (NICOL et al., 2018).

A combinação de terapias farmacológicas e não farmacológicas, associada a um acompanhamento multidisciplinar, se mostra fundamental no manejo da OI. No entanto, a heterogeneidade clínica da doença exige tratamentos individualizados e contínua atualização dos protocolos baseados em evidências recentes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente revisão integrativa evidenciou importantes avanços no tratamento da osteogênese imperfeita, refletindo a evolução científica e tecnológica voltada ao manejo dessa doença genética rara. Os bisfosfonatos permanecem como o tratamento de base, principalmente na infância, proporcionando melhora na densidade mineral óssea e redução de fraturas. No entanto, novas terapias vêm sendo estudadas com resultados promissores, como o denosumabe e os anticorpos monoclonais anti-esclerostina, a exemplo do setrusumabe.

Além das abordagens medicamentosas, estratégias inovadoras como a terapia com células-tronco mesenquimais, a modulação de vias moleculares como o TGF-β e o uso intraoperatório de hemostáticos como o ácido tranexâmico demonstraram potencial em diferentes contextos clínicos. Intervenções não farmacológicas, como a atividade física adaptada, a vibração de corpo inteiro e o suporte nutricional adequado, também se mostraram eficazes na melhora funcional e na qualidade de vida dos pacientes.

Apesar dos progressos, a diversidade fenotípica da osteogênese imperfeita exige abordagens terapêuticas individualizadas, além de acompanhamento multidisciplinar contínuo. Os ensaios clínicos em andamento e as descobertas em nível molecular sinalizam um futuro promissor, com perspectivas de tratamentos mais eficazes, personalizados e seguros.

Torna-se essencial o contínuo investimento em pesquisas clínicas e translacionais, bem como a inclusão de pacientes em centros especializados que possam oferecer terapias baseadas em evidências atualizadas, visando promover maior funcionalidade, autonomia e qualidade de vida aos portadores da osteogênese imperfeita.

REFERÊNCIAS

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ELBASEET, H. M.; ALDEEN, A. J.; IRAHIM, A. K. H. Efficacy of intraoperative use of tranexamic acid in reducing blood loss from telescoping nail application in osteogenesis imperfecta: a randomized controlled trial. Orthopaedics & Traumatology: Surgery & Research, [S.l.], v. 111, n. 3, p. 103927, 2025. DOI: https://doi.org/10.1016/j.otsr.2024.103927.

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1Acadêmico(a). Universidade do Grande Rio Afya – Duque de Caxias, RJ, Brasil.
2Docente. Universidade do Grande Rio Afya – Duque de Caxias, RJ, Brasil. Instituição. Universidade do Grande Rio Afya – Duque de Caxias, RJ, Brasil.