OSSEODENSIFICAÇÃO: UMA REVOLUÇÃO NAS TÉCNICAS DE IMPLANTODONTIA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202505310450


Pedro Vitor de Araujo Alves
Manoella Miranda de Morais
Orientador: João José Cossatis


RESUMO

A implantodontia representa um avanço significativo dentro da odontologia moderna ao possibilitar a reabilitação oral por meio da restauração de funções essenciais como mastigação, fonética e estética, contribuindo para uma melhor qualidade de vida dos pacientes. Entre os fatores determinantes para o sucesso dos implantes dentários destaca-se a osseointegrção, diretamente influenciada pela qualidade óssea, pela técnica cirúrgica, pelo tipo de implante utilizado e pelas condições sistêmicas do paciente. Visando melhorar a estabilidade primária dos implantes e preservar o tecido ósseo, desenvolveu-se em 2012 a técnica de osseodensificação, proposta por Salah Huwais, que se diferencia das osteotomias tradicionais por não remover osso, mas compactá-lo com o uso de brocas específicas. Essa abordagem promove o aumento da densidade óssea e favorece o imbricamento mecânico entre o implante e o tecido receptor, otimizando os resultados cirúrgicos. O presente artigo realiza uma revisão de literatura sobre a osseodensificação, abordando seus princípios, aplicações clínicas, benefícios, limitações e possíveis intercorrências. Também são discutidas comparações com técnicas convencionais da implantodontia, evidenciando o avanço dos protocolos e os ganhos proporcionados menos invasiva e biomecanicamente mais eficiente.

Palavras-chave: Osseodensificção; Implantes dentários; Ossseointegração; Estabilidade primária; Implantodontia

ABSTRACT

Implant dentistry represents a significant advancement in modern dentistry by enabling oral rehabilitation through the restoration of essential functions such as mastication, speech, and aesthetics, thereby contributing to improved patient quality of life. Among the key factors for the success of dental implants is osseointegration, which is directly influenced by bone quality, surgical technique, implant design, and the patient’s systemic health. Aiming to enhance primary implant stability and preserve bone tissue, the osseodensification technique was developed in 2012 by Salah Huwais. Unlike conventional osteotomies, this method does not remove bone but compacts it using specially designed drills. This process increases local bone density and promotes mechanical interlocking between the implant and the receptor site, improving surgical outcomes. This article presents a literature review on the osseodensification technique, addressing its principles, clinical applications, advantages, limitations, and potential surgical complications. It also compares osseodensification with traditional implant techniques, highlighting the evolution of surgical protocols and the benefits provided to patients through a less invasive and biomechanically more efficient approach.

Keywords: osseodensification; dental implants; osseointegration; primary stability; implant dentistry.

1.     INTRODUÇÃO

    A odontologia, além de promover saúde bucal e sistêmica, visa devolver função, estética e fonética ao paciente a fim reabilitá-lo e providenciar qualidade de vida. Diante disso e com os avanços tecnológicos, diversos tratamentos têm sido desenvolvidos e utilizados com objetivo de preservar ou substituir os dentes e estruturas associadas. Na implantodontia, são utilizadas várias técnicas para promover a reabilitação oral através dos implantes dentários, com a finalidade de recuperar a função do sistema estomatognático de acordo com a necessidade do paciente tratado, preservando a integridade das estruturas nobres intrabucais e recuperando a estética.1

       Atualmente, um alto índice de sucesso ao se utilizar implantes dentários endósseos é documentado na literatura, compartilhando conhecimento e protocolos que auxiliam o tratamento cirúrgico e pós-operatório a serem mais previsíveis, seguros e estáveis, possibilitando o alcance dos resultados desejados. Dentre os fatores que influenciam as capacidades biomecânicas dos implantes estão a macro/microgeometria do implante, modificações na nanosuperfície e técnicas de osteotomia empregadas. Além dessas, outras variáveis como: densidade óssea, volume ósseo e contato osso/implante contribuem para que ocorra o fenômeno da osseointegração, fundamental para que se obtenha sucesso clínico.

       A osseointegração, conceito introduzido por Per-Ingvar Branemark, ampliou as opções de reabilitação em pacientes parcial e totalmente edêntulos. Esse fenômeno pode ser definido como contato estabelecido sem a interposição de tecido não ósseo entre osso remodelado normal e um implante, acarretando uma transferência sustentada e distribuição de carga do implante para dentro do tecido ósseo”.1 De forma geral, a osseointegração é definida como uma conexão estrutural e funcional direta entre o osso vivo e a superfície do implante2, o que contribui significativamente  para a estabilidade secundária do implante e é essencial para o sucesso da prática. Antecedendo esse processo de remodelação óssea, existe a estabilidade primária, a qual é obtida imediatamente após a implantação e é dependente do imbricamento mecânico entre a superfície do implante e o osso circundante. Por fim ocorre a estabilidade terciária, que é a adaptação do biomaterial à região peri-implantar referente a distribuição e dissipação das cargas de mastigação.3

    A obtenção de cada um desses estágios de estabilidade também depende de fatores como: técnica cirúrgica, qualidade/quantidade óssea, inflamação, infecção pós-operatória, tabagismo, material e superfície do implante e o estado imunológico e nutricional do paciente que irá receber o tratamento.2

    Em 2012, Salah Huwais introduziu a técnica de osseodensificação (OD), que propõe um método de não extração óssea, caracterizado por uma baixa deformação plástica do osso. A técnica consiste em densificar a periferia do alvéolo cirúrgico, preservando assim o volume ósseo e aumentando sua densidade. Huwais utilizou as brocas “Densah Burs”, que, ao contrário das brocas convencionais para osteotomias, não extraem osso durante o preparo. O objetivo é preservar o tecido ósseo, compactando e “auto-enxertando” o osso particulado durante o processo. Consequentemente, há um aumento da plasticidade e da expansão óssea, mantendo a integridade e expandindo a crista alveolar, favorecendo assim um melhor imbricamento mecânico durante a estabilidade primária.4’5

    Por esses motivos, a técnica de osseodensificação se destaca como uma inovação, mostrando-se eficiente ao proporcionar uma melhora significativa na estabilidade primária do implante e em osteotomias quando comparada com os métodos convencionais.6

    Sendo assim, esse trabalho tem como objetivo revisar na literatura a técnica de osseodensificação (OD) em implantes dentários bem como sua eficiência e aplicações, a fim de abordar a evolução nos protocolos adotados pelos implantodontias e demonstrar como ocorre o processo de preparação óssea e os mecanismos de osseointegração propostos na técnica de OD. Também busca-se analisar as indicações e contraindicações da técnica ao fazer uma comparação com os métodos convencionais aplicados em implantodontia, bem como examinar as vantagens da utilização da técnica e a causa das possíveis intercorrências cirúrgicas e pós-operatórias a ela associadas.

2.    METODOLOGIA

       O presente estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura, com o objetivo de reunir, analisar e sintetizar estudos relevantes sobre a técnica de osseodensificação aplicada à implantodontia. A coleta de dados foi realizada nas seguintes bases de dados eletrônicas: PubMed/MEDLINE, SciELO.

       Foram incluídos nesta revisão trabalhos que envolvessem estudos em humanos, estudos randomizados, longitudinais e estudos comparativos publicados nos idiomas português e inglês, no intervalo de 2010 a 2025. Optou-se por realizar uma análise das publicações de maneira sistemática, priorizando identificar as principais contribuições na literatura sobre o tema. Para serem selecionados, os artigos deveriam abordar diretamente a técnica de osseodensificação voltada à instalação de implantes dentários ou abordar conhecimentos referentes a implantodontia que fossem utes para a elucidação do tema.

       Foram excluídos da amostra estudos in vitro, ensaios clínicos e estudos observacionais, publicações em idiomas diferentes de português e inglês, estudos que não abordassem a osseodensificação como foco principal na implantodontia e aqueles com metodologia incompleta.

       A seleção dos estudos foi realizada em duas etapas. Primeiramente, procedeu-se à leitura dos títulos e resumos, com o objetivo de identificar os artigos que se enquadravam aos critérios estabelecidos. Em seguida, os artigos pré-selecionados foram lidos na íntegra para confirmação de sua elegibilidade. As conclusões e resultados extraídos dos trabalhos foram analisadas, interpretadas e apresentadas como síntese do conhecimento.

3.     REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

       A osseodensificação é uma técnica utilizada na implantodontia para preparar o leito ósseo sem remover estrutura óssea, mas sim compactando e condensando o osso ao redor do local da perfuração. Desenvolvida por Salah Huwais, um implantodontista palestino-americano, em 2013, essa abordagem inovadora tem como propósito aumentar a densidade óssea, proporcionando uma base mais estável para a inserção dos implantes, melhorando sua estabilidade primária e favorecendo a osseointegração.6’7

    A osseointegração é influenciada por diversos fatores, incluindo o material e o tratamento da superfície do implante, o tipo de osso, a técnica cirúrgica utilizada, o design da prótese e os cuidados do paciente. A estabilidade do implante resulta da conexão mecânica direta entre sua superfície e o osso ao redor, sendo classificada em estabilidade primária, secundária e terciária.8 A estabilidade primária corresponde à fixação mecânica inicial do implante no osso, sem micromovimentos. Já a estabilidade secundária está relacionada ao processo de osseointegração, no qual o implante se une ao osso circundante. Por fim, a estabilidade terciária ocorre quando o osso ao redor se adapta funcionalmente ao implante sob carga.

        A técnica de osseodensificação, desenvolvida por Salah Huwais, é especialmente benéfica em ossos de baixa densidade, como os classificados nos tipos III e IV. Esses tipos ósseos são frequentemente encontrados na região posterior da maxila, onde a densidade óssea é menor. A osseodensificação aumenta a estabilidade primária dos implantes nessas áreas, promovendo uma melhor compactação óssea e preservação da estrutura óssea existente.6 Além disso, um estudo in vivo realizado em 2016 concluiu que a osseodensificação aumentou a estabilidade primária do implante e manteve a estabilidade secundária, aumentando a porcentagem de volume ósseo ao redor dos implantes em comparação com a perfuração tradicional.9

     Uma técnica que explora intensamente o osso medular por meio de um preparo com fresas especiais que preservam a estrutura óssea. Utilizando movimentos manuais combinados com alta irrigação e velocidade, essa abordagem gera ondas de deslocamento de líquido e distribui a força de maneira uniforme, permitindo que o osso se deforme de forma mais elástica do que plástica. O formato inovador das fresas faz com que a pequena quantidade de osso removida seja redistribuída para as laterais e para o ápice da broca, criando um autoenxerto enquanto promove a compactação óssea ao redor de toda a perfuração.10´11

       Diferente das técnicas convencionais de perfuração óssea, que removem tecido ósseo, a osseodensificação preserva e compacta o osso existente, tornando-o mais resistente e capaz de suportar melhor a carga do implante. Isso permite a colocação de implantes em áreas com menor densidade óssea, reduzindo a necessidade de enxertos ósseos e facilitando procedimentos como carga imediata. Para alcançar esse resultado, a técnica utiliza brocas “Densah Burs”, que possuem fresas de formato especial, podendo ser aplicada para expandir a crista óssea e melhorar a ancoragem dos implantes, resultando em melhores resultados funcionais e estéticos. Elas têm 4 ou mais lâminas com um ângulo de inclinação negativo, fazendo com que as bordas da broca compactem suavemente o osso ao invés de cortar. 7

Figura 1: Design das brocas de densificação. 

Fonte: Versah LLC (www.versah.com).

    A borda cortante em formato de cinzel e a haste cônica possibilitam que as brocas penetrem mais profundamente no local da osteotomia, enquanto o aumento progressivo do diâmetro da broca ajuda na expansão gradual do local.  Em uma rotação no sentido horário (modo de corte), as brocas são utilizadas para penetrar no osso até a profundidade desejada da osteotomia. Depois, as rotações no sentido anti-horário (modo de densificação) geram uma camada densa e robusta de tecido ósseo ao longo das paredes e da base da osteotomia.

Quando a broca especializada é utilizada em alta velocidade no sentido anti-horário com irrigação constante (modo de densificação), uma camada densa de tecido ósseo compacto é formada ao longo das paredes da osteotomia. O movimento de bombeamento (entrada e saída) gera uma taxa de estresse suficiente para criar uma tensão que possibilita a pressurização suave das paredes ósseas por meio do bombeamento da solução salina.7

Figura 2: Sentido anti-horário não cortante. 

Fonte: Versah LLC (www.versah.com).

Figura 3: Sentido horário não.

Fonte: Versah LLC (www.versah.com).

      As brocas utilizadas na osseodensificação foram especialmente desenvolvidas para aumentar a densidade óssea, preservando sua estrutura. Diferentemente das brocas convencionais, que removem uma quantidade significativa de osso e podem gerar tensões que ultrapassam o limite de pequenos danos ósseos, essas fresas compactam e redistribuem o tecido ósseo ao longo da osteotomia. Como a unidade de remodelação óssea leva mais de 12 semanas para reparar os danos causados por brocas convencionais, a osseodensificação se destaca por preservar o volume ósseo, aumentar sua densidade e, consequentemente, reduzir o tempo de cicatrização.6’10’11

3.1.         Osseodensificação x Técnica Convencional

       A osseodensificação se diferencia bastante da técnica convencional de preparo do leito implantário, tanto pela forma como o osso é manipulado quanto pelos efeitos biológicos e clínicos observados.12

       Na abordagem tradicional, o preparo é feito com brocas cortantes que removem tecido ósseo para criar espaço para o implante, ou seja, trata-se de um processo subtrativo. Embora esse método seja amplamente utilizado na implantodontia, ele pode comprometer a densidade óssea ao redor do implante, especialmente em regiões onde o osso já é naturalmente mais poroso, como nos tipos III e IV.12’13

    Já a osseodensificação propõe uma estratégia diferente. Com o uso de brocas específicas, como as Densah, e movimentos em sentido anti-horário, o osso trabecular é compactado ao longo da osteotomia, sem ser removido. Esse tipo de perfuração não-subtrativa aumenta a densidade óssea ao redor do implante, o que tem impacto direto na melhora da estabilidade primária, fator que é essencial, principalmente em áreas com baixa densidade óssea.12’13

Figura 4: Preparação da osteotomia usando brocas de densificação. Nota-se que não há osso subtraído da cavidade implantar.

Fonte: Pai et al. (2018)

       Outro ponto forte da técnica é a preservação da estrutura óssea e da vascularização local, aspectos importantes para a osseointegração. Enquanto a técnica convencional pode gerar pequenas fissuras e afetar a arquitetura do osso, a compactação promovida pela OD tende a criar um ambiente mais estável e biologicamente mais favorável à cicatrização e à formação de osso novo.13    Do ponto de vista clínico, a OD ainda oferece outras vantagens. Ela permite a expansão da crista óssea em áreas estreitas e possibilita a elevação do seio maxilar por via interna, o chamado “sinus lift interno”, o que pode evitar a necessidade de enxertos e, consequentemente, diminuir o tempo e o custo do tratamento.12 Além disso, por ser uma técnica menos traumática, o pós-operatório costuma ser mais confortável e com menor chance de complicações.13

       Assim, embora ambas as técnicas sejam válidas e ainda tenham seu espaço na prática clínica, a osseodensificação representa um avanço importante, especialmente para casos em que o osso disponível oferece menos suporte ou quando é necessário garantir maior estabilidade inicial ao implante.12’13

3.2.         Brocas Tradicionais x Brocas Densah

      As brocas tradicionais são cortantes e atuam de forma subtrativa, removendo osso durante a perfuração. Têm ponta afiada e hélices que evacuam o material ósseo, podendo reduzir a densidade ao redor da osteotomia, especialmente em ossos esponjosos.12’13

      Já as brocas Densah, utilizadas na técnica de osseodensificação, funcionam de maneira não-subtrativa quando usadas no sentido anti-horário. Elas compactam o osso lateralmente, aumentando sua densidade e favorecendo a estabilidade primária do implante. Seu design espiral invertido e ponta não cortante permite também a expansão óssea e o levantamento de seio interno, além de preservar a estrutura óssea e a vascularização local.12’13

Figura 5: Brocas de densificação

Fonte: Pai et al. (2018)

Tabela 1: Comparação do Mecanismo de Ação das Brocas Tradicionais e Densah.

CaracterísticasBrocas TradicionaisBrocas Densah
Tipo de açãoSubtrativa (remoção de osso)Não-subtrativa(condensação do osso)
Sentido de rotaçãoHorárioAnti-horário (modo densificação)
Design da brocaLâminas cortantes e ponta perfuranteEspiral invertido e ponta não cortante
Destino do osso perfuradoRemovido e eliminadoCompactado lateralmente nas paredes da osteotomia
Efeito sobre a densidade ósseaPode diminuir a densidade localAumenta a densidade óssea ao redor do leito
Impacto na estabilidade primáriaDependente de densidade pré-existenteMelhora a estabilidade primária mesmo emosso tipo III e IV
Preservação da vascularizaçãoParcial com risco de microtraumasMantida, favorecendo cicatrização

3.3.         Vantagens Clínicas e Desvantagens

       A técnica de osseodensificação apresenta diversas vantagens clínicas quando comparada aos métodos tradicionais de preparo ósseo. Entre os principais benefícios estão o aumento da estabilidade primária do implante, o que favorece o sucesso da osseointegração, especialmente em regiões com baixa densidade óssea, como os ossos tipo IV.12 Além disso, a técnica possibilita a instalação imediata de implantes, reduzindo o tempo de tratamento e favorecendo a reabilitação precoce.9

    Outro ponto positivo é a redução da necessidade de enxertos ósseos em determinados casos, devido à capacidade da osseodensificação de compactar o osso ao redor do leito implantado, preservando sua estrutura e densidade. 13 também se observa uma menor taxa de insucesso em regiões com qualidade óssea comprometida, o que amplia as indicações clínicas da técnica.

    Entretanto, é fundamental observar que o processo de compactação óssea e a instalação do implante com altos níveis de torque podem gerar microdanos no tecido ósseo. Caso esses danos ultrapassem o limite fisiológico de tolerância, pode ser necessário um tempo adicional — de até três meses ou mais — para que ocorra a reparação por meio da remodelação óssea. Além disso, a osseodensificação não é indicada para regiões com osso denso (tipos D1 e D2), sendo mais eficiente quando aplicada em ossos de menor densidade, onde sua ação de compactação é mais favorável.14 

3.4.         Limitações e Considerações

    Apesar dos benefícios, a osseodensificação também apresenta limitações que devem ser consideradas. O custo elevado dos instrumentos, especialmente das brocas específicas utilizadas na técnica, pode representar um fator restritivo para muitos profissionais. Além disso, há uma curva de aprendizado significativa, exigindo treinamento adequado e domínio do protocolo cirúrgico para garantir resultados previsíveis.

       Existem ainda contraindicações que precisam ser respeitadas para evitar complicações. A técnica não é indicada em casos de anatomias ósseas muito finas ou quando há proximidade excessiva de estruturas anatômicas nobres. Pelo fato de o osso cortical ser um tecido com pouca plasticidade e baixa capacidade de remodelação, a osseodensificação não é recomendada nesse tipo de osso. Da mesma forma, seu uso deve ser evitado em xenoenxertos, uma vez que esses materiais são compostos apenas por conteúdo inorgânico, apresentando ausência de viscoelasticidade, o que compromete a eficácia do processo.7

    Adicionalmente, a técnica não é indicada para pacientes com múltiplos distúrbios sistêmicos, sistema imunológico comprometido, distúrbios hemorrágicos ou alergia ao titânio, condições que podem interferir negativamente na cicatrização e no sucesso do tratamento.7

4.      DISCUSSÃO

    A técnica de osseodensificação tem se consolidado como uma alternativa promissora à perfuração convencional no preparo do leito implantológico, principalmente em situações de baixa densidade óssea.  A OD promove a compactação óssea sem remoção de estrutura, resultando em aumento da densidade peri-implantar, maior torque de inserção e elevação dos índices de contato osso-implante. Esses resultados também apontam a OD como uma ferramenta valiosa para a instalação de implantes com carga imediata, sobretudo por acelerar o processo de osseointegração e melhorar a estabilidade primária. A técnica é particularmente benéfica em regiões de osso tipo III e IV, onde o risco de micromovimentos e falhas na osseointegração é maior.

  Outro ponto a se destacar é a associação entre a OD e a previsibilidade dos implantes de carga imediata. Os trabalhos evidenciam que a aplicação da OD não apenas reduz o tempo de cicatrização, como também favorece a estética e o conforto do paciente, elementos fundamentais em reabilitações protéticas rápidas. Também é ressaltada a capacidade da OD em expandir a crista óssea de forma conservadora, facilitando a instalação de implantes mesmo em rebordos atróficos.

    Contudo, possuem ressalvas importantes quanto à aplicação indiscriminada da técnica. Estudos alertam para possíveis danos microscópicos decorrentes do excesso de compactação, que podem demandar maior tempo para remodelação óssea, especialmente quando aplicados em osso cortical (tipo D1). Também é importante salientar que a técnica exige irrigação abundante e controle rigoroso da temperatura, sob pena de comprometer a viabilidade celular ao redor do implante. Além disso, é importante destacar a necessidade de estudos clínicos de longo prazo que validem os resultados positivos observados em modelos experimentais e de curto prazo.

    Dessa forma, é possível indicar que, apesar de recente, a osseodensificação apresenta benefícios clínicos significativos, principalmente no contexto da implantodontia moderna voltada para a carga imediata. Entretanto, seu uso deve ser criterioso e bem indicado, respeitando-se os limites anatômicos e fisiológicos do tecido ósseo, bem como a experiência do cirurgião com a técnica. 

5.      CONCLUSÃO

    Em suma, os estudos científicos revisados convergem para o entendimento de que a osseodensificação constitui um avanço relevante na implantodontia, sobretudo em contextos de osso de baixa densidade. A técnica promove a compactação óssea por instrumentação não‑subtrativa, gerando um “autoenxerto” ao redor do implante que se traduz em aumento do torque de inserção, elevação dos índices de contato osso‑implante e valores superiores de coeficiente de estabilidade do implante. Esses ganhos biomecânicos tornam a OD particularmente indicada para protocolos de carga imediata, uma vez que aceleram a osseointegração e conferem maior previsibilidade clínica, mesmo em cristas atróficas.

    Entretanto, apesar dos resultados promissores em curto e médio prazo, permanece a necessidade de cautela na sua aplicação. Há evidências de que a compactação excessiva pode gerar microdanos ósseos que retardam a remodelação, especialmente em osso cortical denso, e que o controle de temperatura e irrigação é determinante para evitar necrose térmica. Além disso, a escassez de estudos randomizados e com acompanhamento prolongado limita a consolidação de protocolos padronizados e a compreensão dos desfechos a longo prazo.

    A literatura aponta para um cenário promissor, mas também evidencia a necessidade de mais estudos randomizados controlados e de longo acompanhamento clínico para ratificar os achados existentes. Portanto, é recomendado que futuras pesquisas priorizem desenhos clínicos robustos, com amostras maiores e seguimento estendido, a fim de avaliar não só parâmetros de estabilidade inicial, mas também a manutenção óssea marginal e o sucesso protético ao longo dos anos. Estudos histológicos e biomecânicos complementares também são importantes para elucidar os mecanismos celulares envolvidos na resposta ao autoenxerto compactado.

    Por fim, conclui-se que a osseodensificação representa uma estratégia eficaz e inovadora para otimizar a estabilidade primária e viabilizar cargas imediatas, ampliando as opções terapêuticas em implantodontia. Contudo, sua adoção deve ser pautada em indicação criteriosa, experiência cirúrgica adequada e suporte científico contínuo, de modo a garantir resultados previsíveis e seguros para o paciente.

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