OS RISCOS DO USO DE ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO ESTERÓIDES PELO PACIENTE DIABÉTICO NO BRASIL

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202410192240


Catherine Pimentel Soares
Bárbara Lane Campos de Almeida Gomes
Orientador: Sebastian Rinaldi


RESUMO

Introdução: A diabetes mellitus (DM) é uma doença crônica não transmissível que tem como característica a hiperglicemia, os tipos de diabetes têm sintomas e tratamentos diferentes e pode causar diversas complicações crônicas, destacam-se nesse artigo a nefropatia diabética e as doenças cardiovasculares. Os anti-inflamatórios são divididos em duas classificações: os esteróides e os não esteróides (AINEs). Os AINEs podem tratar inflamação, dor, edema, osteoartrites, artrite reumatoide e distúrbios musculoesqueléticos, mas causam efeitos colaterais, alguns deles podem causar problemas no sistema renal e no sistema cardiovascular, sistemas que já podem estar em risco de sofrer complicações no paciente diabético. Apesar desses efeitos, alguns AINEs são Medicamentos Isentos de Prescrição (MIP) e isso facilita a automedicação e uso irracional desses medicamentos. Objetivo: Analisar os riscos relacionados ao uso AINEs por diabéticos no Brasil. Metodologia: O método foi uma pesquisa descritiva e quantitativa feita por meio de revisão bibliográfica. Conclusão: Devido a prevalência de diabéticos no Brasil e o uso comum de AINEs sem prescrição, é necessário que os diabéticos evitem a automedicação e sejam conscientizados e orientados por profissionais da área da saúde.

Palavras-chave: anti-inflamatórios não esteróides, MIPs, diabetes, complicações

ABSTRACT

Introduction: Diabetes mellitus (DM) is a chronic non-communicable disease characterized by hyperglycemia. The types of diabetes have different symptoms and treatments and can cause various chronic complications. Diabetic nephropathy and cardiovascular diseases stand out in this article. Anti-inflammatories are divided into two classifications: steroids and non-steroids (NSAIDs). NSAIDs can treat inflammation, pain, edema, osteoarthritis, rheumatoid arthritis, and musculoskeletal disorders. Still, they cause side effects, some of which can cause problems in the renal system and cardiovascular systems, systems that may already be at risk of suffering complications in diabetic patients. Despite these effects, some NSAIDs are Over-the-Counter Medications (OTC) and this facilitates self-medication and irrational use of these medications. Objective: To analyze the risks related to the use of NSAIDs by diabetics in Brazil. Methodology: The method was descriptive and quantitative research through a bibliographic review. Conclusion: Due to the prevalence of diabetics in Brazil and the common use of non-prescription NSAIDs, diabetics must avoid self-medication and be made aware and guided by health professionals.

Keywords: nonsteroidal anti-inflammatory drugs, MIPs, diabetes, complications

OBJETIVOS

Objetivo Geral

  • Analisar os riscos relacionados ao uso de anti-inflamatórios não esteróides (AINEs) por diabéticos no Brasil.

Objetivos Específicos

  • Descrever o que é a diabetes, quais são os tipos existentes e quais são suas possíveis complicações;
  • Informar o que são os anti-inflamatórios não esteróides, seus mecanismos de ação e seus principais efeitos colaterais;
  • Relacionar os riscos do uso de AINEs ao paciente diabético;
  • Relatar sobre a facilidade de compra de alguns AINEs que são Medicamentos Isentos de Prescrição (MIPs) e
  • Avaliar o uso de AINEs entre pacientes diabéticos no Brasil.

METODOLOGIA 

Essa é uma pesquisa descritiva e quantitativa feita por meio de revisão bibliográfica. Ela tem como público-alvo os pacientes diabéticos que fazem o uso irracional de AINEs para que estes entendam os riscos de complicações aumentados devido à diabetes.                               

Para cumprir esse objetivo, foi feito um levantamento de dados em livros, relatórios de saúde pública, diretrizes e bases de dados acadêmicos como o Google Acadêmico e SciELO. Foram utilizadas as palavras-chave: “inflamação”, “anti-inflamatórios não esteróides”, “diabetes”, “complicações”, “automedicação”. Junto a algumas delas, foi adicionada a palavra “Brasil” para filtrar o resultado. Em bases de dados acadêmicos, foram colocados filtros para obter resultados apenas em português e entre os anos de 2010 e 2024.

Foram selecionadas 38 referências para serem utilizadas para a realização deste artigo, incluindo livros, diretrizes, legislação, artigos científicos e trabalhos de conclusão de curso. Antes disso, outras fontes de informação foram lidas, mas não foram selecionadas por duplicidade ou por não atender ao objetivo do tema.

JUSTIFICATIVA 

O uso de anti-inflamatórios não esteróides possui efeitos colaterais gastrointestinais, renais e cardiovasculares, sendo importante que seu uso não ocorra de forma indiscriminada. Porém, alguns AINEs são medicamentos isentos de prescrição e isso facilita o seu uso irracional por causa da facilidade de acesso. Tendo em vista que o paciente diabético já possui um risco de desenvolver problema renal e cardiovascular, o uso de AINEs para esses pacientes deve ser mais cauteloso.

INTRODUÇÃO

Segundo a International Diabetes Federation (IDF) ou Federação Internacional de Diabetes (2021), a prevalência de diabetes em adultos com idade entre 20 e 79 anos é de 537 milhões (10,5% população global). O Brasil ocupa o ranking em 6º lugar, com 15,7 milhões de pessoas com diabetes entre 20-79 anos.

O Diabetes Mellitus é uma doença metabólica que tem como principal característica a hiperglicemia. A classificação dessa doença inclui: diabetes mellitus tipo 1 (DM1), deficiência de insulina por destruição autoimune das células betas do pâncreas ou por natureza idiopática; diabetes mellitus tipo 2 (DM2), relacionado à resistência à insulina e secreção; diabetes mellitus gestacional (DMG), identificada durante a gravidez; e outros tipos específicos que surgem por condições como doenças pancreáticas, infecções ou uso de medicamentos (Sociedade Brasileira de Diabetes, 2019).

A DM é caracterizada pela má absorção de insulina ou sua produção insuficiente, esse hormônio que tem a função de regular os níveis glicêmicos no sangue e de quebrar as moléculas de glicose para que esta se transforme em energia e ocorra o funcionamento do organismo humano. Além disso, o MS esclarece que o DM1 e DM2 têm sintomas em comum como fome e sede frequentes e vontade de urinar várias vezes, entretanto têm outros diferentes. Entre eles, pode-se citar que a DM1 pode causar perda de peso, enquanto a DM2 não (MINISTÉRIO DE SAÚDE, 2024).

A DM pode causar diversas complicações crônicas para o paciente diabético, essas complicações são divididas em: microvasculares (que acometem pequenos vasos) e macrovasculares (que acometem grandes vasos). As complicações microvasculares são a neuropatia diabética, retinopatia diabética e nefropatia diabética. Enquanto as macrovasculares podem desencadear doença vascular periférica, infarto agudo do miocárdio e acidente vascular encefálico (CASTRO et al., 2021).

A inflamação é classificada como uma resposta imune do organismo. Ela se inicia pela fase aguda e sua duração costuma ser curta. Quando a fase aguda está consolidada, surgem os sinais da inflamação: calor, rubor, edema, dor e perda de função do tecido ou órgão inflamado. Essa resposta costuma ser motivada por uma ação que pode prejudicar o organismo. Quando o agente causador da inflamação é eliminado, a inflamação aguda e seus sinais somem. Entretanto, se a inflamação não for controlada, ela pode se tornar crônica (ABREU, 2017).

Os anti-inflamatórios são divididos em dois grupos: os esteróides e os não esteróides, abreviados como AINEs (CUNHA et al.). Esses fármacos podem tratar inflamação, dor, edema, osteoartrites, artrite reumatoide e distúrbios musculoesqueléticos pela inibição da síntese de prostaglandinas, por meio do bloqueio da ciclooxigenase 1 (COX-1) e ciclooxigenase 2 (COX-2) ou COXIBEs. Alguns desses medicamentos conseguem ser seletivos, bloqueando apenas uma delas (SANTOS et al., 2021). Existe também a COX-3, uma variação da COX-1, que pode ser encontrada no coração e sistema nervoso central (SNC), porém ainda há pesquisas para obter mais informações sobre suas funções (SANDOVAL et al., 2017).

Entretanto, esses AINEs têm determinados efeitos colaterais, como efeitos gastrointestinais: diarreia, dor abdominal, azia, lesões e úlceras gástricas, comprometimento renal e insuficiência cardíaca se associado ao uso de diuréticos (LIMA et al., 2022). Ademais, os AINEs também podem causar cefaleias, zumbidos, tonturas, trombocitopenia, neutropenia, anemia aplásica e insuficiência hepática (FONTES, 2022).

Apesar de seus possíveis efeitos adversos, alguns AINEs são Medicamentos Isentos de Prescrição (MIP), ou seja, podem ser comprados sem prescrição médica (KO, 2018). Em análise de algumas pesquisas, pôde-se concluir que os anti-inflamatórios não esteróides são os segundos mais utilizados em automedicação no Brasil (FERREIRA et al., 2021).

DESENVOLVIMENTO

Diabetes Mellitus – Tipo 1 e Tipo 2

A Diabetes Mellitus (DM) é uma doença crônica não transmissível e sua principal característica é a hiperglicemia, condição na qual o nível de glicose está acima do que é considerado normal no sangue. Essa doença se manifesta em dois tipos: diabetes mellitus tipo 1 (DM1) e diabetes mellitus tipo 2 (DM2), esses dois diferenciam-se em sintomas e tratamento (CASARIN et al., 2022). 

Os sintomas da DM1 incluem poliúria (excesso de urina); polifagia (fome exagerada); polidipsia (sede intensa); perda de peso; cansaço; cetonuria e cetoacidose diabética (ABREU, 2019). Já a DM2 possui micção frequente, fadiga, sede e fome excessiva, feridas que demoram a cicatrizar, visão embaçada, formigamento e dor ou dormência nas mãos e/ou pés. Além disso, pode ocorrer depressão, inibição da função sexual e algumas doenças infecciosas da pele (SANTOS et al., 2023). Segundo o Ministério da Saúde (2023), 5 a 10% dos diabéticos são do tipo 1 e 90% são do tipo 2.

As complicações da Diabetes Mellitus 

De acordo com Neves (2019), algumas das complicações que as diabetes podem causar são problemas renais, lesão nos olhos, danos nos nervos, amputações de membros inferiores, doença coronariana, acidente vascular cerebral e doença vascular periférica, afetando em torno de 30-50% das pessoas com essa doença crônica.

É fundamental explicar que, quando o DM não é controlado, há um risco mais elevado de desencadear várias complicações ao portador, complicações podem provocar outros problemas, pois tornam o indivíduo mais vulnerável a infecções. Outros fatores, como o surgimento gradual dos sintomas ou a progressão do DM e a baixa conscientização sobre a doença, podem fazer com que o distúrbio passe despercebido por um longo período, permitindo o desenvolvimento de complicações crônicas (CASTRO et al., 2021).

  • A Nefropatia Diabética

A Nefropatia Diabética (ND) é uma complicação microvascular crônica que desgasta gradualmente a função dos rins devido a alterações em sua estrutura que levam à proteinúria (presença anormal de proteínas na urina). Essa complicação é a principal causa de insuficiência renal crônica em pessoas que começam hemodiálise e afeta em torno de 10 a 40% dos pacientes diabéticos. Além disso, a ND pode aumentar o risco de mortalidade em até 100 vezes em portadores de DM2 e em 5 vezes em casos de DM1 (MACIEL et al., 2019).

Em relação à ND, ela ocorre devido aos elevados níveis de glicose no sangue. Por causa desse nível, os rins aumentam sua capacidade de filtração, sobrecarregando o sistema e resultando na eliminação de proteínas pela urina, principalmente a albumina. A ND tem a característica de > 0,5 g/dia de proteína na urina. Em casos mais graves, pode-se observar 4 g/dia (AZEVEDO et al., 2022).

  • As Doenças Cardiovasculares

A hiperglicemia crônica pode acarretar em disfunção endotelial, fator principal da aterosclerose, condição vinculada a doenças como doença arterial coronariana (DAC) e acidente vascular cerebral (AVC). Ademais, ela promove respostas inflamatórias e radicais livres, o que leva ao estresse oxidativo, acelerando a progressão aterosclerótica e disfunção endotelial. Já a resistência à insulina modifica o metabolismo lipídico, o que aumenta os lipídios circulantes e favorece a formação de placas de aterosclerose (BEZERRA et al., 2024).

As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte em pessoas diabéticas, sendo responsáveis por cerca de metade dos óbitos relacionados à doença em muitos países. A DM eleva o risco de DAC e AVC em 2 a 4 vezes em comparação a quem não tem diabetes (BERALDO et al., 2021).        

Os anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs)

Os anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) inibem as enzimas COX-1 e COX-2, seletivos ou não. A COX-1, presente em vários tecidos, é essencial para a manutenção do estado fisiológico normal, como o controle do fluxo de sangue nos rins e funções do sistema cardiovascular. Já a COX-2 é ativada em processos inflamatórios pelas citocinas, endotoxinas ou fatores de crescimento, isso gera prostaglandinas indutoras, que causam edema, rubor, febre e dor (OLIVEIRA et al., 2019).

Os AINEs possuem ação analgésica, antitérmica e anti-inflamatória por meio da inibição da COX-1 (constitutivas) e a COX-2 (indutíveis) ou apenas de uma delas. A inibição destas pode levar a danos teciduais, principalmente da COX-1, pois ela confere proteção gástrica e renal (CUNHA, et. al). Entretanto, o uso de AINEs seletivos (COXIBES) que inibem apenas a COX-2, reduzem a produção de prostaciclina (PGI2), que diminui o risco de trombose, enquanto a produção de tromboxano A2 (TXA2) pelas plaquetas continua. Esse desequilíbrio aumenta o risco de trombose e eventos cardiovasculares, como oclusão vascular, principalmente em pacientes com histórico de DCV (GODOY et al., 2020).

O mecanismo de ação dos AINEs

Quando ocorre uma lesão celular, desencadeia-se uma série de eventos que resultam na formação de prostaglandinas e tromboxanos. Depois dessa lesão, citocinas inflamatórias ativam a enzima fosfolipase A2, que degrada os fosfolipídios das membranas e libera o ácido araquidônico (AA). Então, ocorre a oxidação do AA em hidroperoxi endoperóxido (PGG2) e sua posterior redução em hidroxi endoperóxido (PGH2), que é transformado em prostaglandinas (PGD2, PGE2, PGF2 e PGI2 (prostaciclina)) e tombroxano (TXA2) (SANDOVAL et al., 2017 e ARMELIN, 2010).

Em resumo, o AA é convertido em prostaglandinas e prostaciclinas, que participam do processo inflamatório e sensibilizam vias dolorosas centrais e periféricas. Os AINEs agem bloqueando a COX, impedindo essa conversão e, dessa forma, reduzindo a inflamação e a dor (SANDOVAL et al., 2017). 

Figura 1: Mecanismo de ação dos anti-inflamatórios não esteróides (AINES).

Fonte: adaptado de BATLOUNI, 2010 e ARMELIN, 2010.

Classificação dos AINEs

Os AINEs podem ser classificados de acordo com o seu grupo químico ou de acordo sua seletividade de inibição das enzimas COXs (TEIXEIRA, 2014). 

Figura 2: Seletividade de alguns anti-inflamatórios não esteróides (AINES).

Fonte: adaptado de RANG, 2020.

AINEs isentos de prescrição no Brasil

Os Medicamentos Isentos de Prescrição (MIPs) são medicamentos que podem ser adquiridos diretamente pelos consumidores em farmácias e drogarias, sem a necessidade de receituário médico. Esses medicamentos estão disponíveis para autosserviço, com acesso facilitado, ao contrário dos medicamentos de tarja vermelha (sujeitos a prescrição) ou tarja preta (sujeitos a controle especial) (MARINHO et al., 2021).

Segundo a Agência de Vigilância Sanitária – ANVISA (2021), na instrução normativa in nº 86, publicada em março de 2021, os anti-inflamatórios não esteróides que são MIPs são o aceclofenaco (creme dermatológico); ácido acetilsalicílico; diclofenaco dietilamônio (gel e solução dermatológica); diclofenaco sódico (gel), flurbiprofeno (pastilha); ibuprofeno; naproxeno e paracetamol (acetaminofeno). Alguns desses também estão presentes em MIPs que fazem associação deles com outros compostos. Neste artigo, serão abordados os AINES que são MIPs na forma farmacêutica comprimido ou cápsula.

  • Ácido acetilsalicílico

A aspirina (AAS) é o mais antigo anti-inflamatório não esteróide (RANG et al., 2016). O ácido acetilsalicílico (AAS) possui características anti-inflamatórias, analgésicas e antipiréticas, podendo ser indicado para o aliviar de dores leves à moderadas. Seu mecanismo de ação se explica pela inibição da enzima prostaglandina endoperóxido H sintase (PGHS) ou COX. Farmacologicamente, pode ser associado à analgésicos opioides para tratar dores relacionados ao câncer, distúrbios articulares inflamatórios como artrite reumatoide, febre reumatoide. Além disso, ajuda a reduzir ataques isquêmicos e prevenir trombose (LIMA et al., 2018). 

Entre seus efeitos adversos, é comum algum sangramento gástrico discreto (com doses terapêuticas); tontura, surdez e tinido (com grandes doses); acidose respiratória não compensada com acidose metabólica (em doses tóxicas); síndrome de Reye em crianças, uma encefalite pós-viral rara e aumento de risco de hemorragia se associada com varfarina (RANG et al., 2016).

  • Ibuprofeno

O ibuprofeno pode tratar a inflamação, a dor e a febre. Entre suas finalidades de uso, pode-se citar a artrite reumatóide, osteoartrite, dor muscular e dismenorreia primária (SEABRA, 2015). Os efeitos adversos mais frequentes incluem distúrbios gastrointestinais, que afetam cerca de 30% dos pacientes, podendo variar de desconforto gastrointestinal (GI) até sangramentos ou ativação de úlceras gástricas. Em casos de superdosagem, há risco de convulsões, coma, insuficiência renal e parada cardiorrespiratória. Em comparação ao ácido acetilsalicílico (AAS), seus efeitos no trato GI são menos intensos (ASSUNÇÃO et al., 2022).

  • Naproxeno

O naproxeno é usado para o alívio de dor leve a moderada, febre baixa e para condições inflamatórias como osteoartrite, artrite reumatoide, artrite idiopática juvenil e espondilite ancilosante. Além disso, também pode tratar dismenorreia primária, tendinite, bursite, gota aguda. No Brasil, esse medicamento é indicado apenas para uso em adultos (ZAROS, 2020).

  • Paracetamol

O paracetamol não apresenta efeito anti-inflamatório. Além disso, ele não estimula o início de úlcera e não intervém na agregação das plaquetas, se diferindo dos outros medicamentos dessa classe. Todavia, ele possui propriedade analgésica e antitérmica assim como outros AINEs. É importante ressaltar que ele é um fármaco tóxico para o fígado, sendo esse um dos seus principais efeitos colaterais. Um antídoto para superdosagem desse fármaco seria a N-acetilcisteína (MÜHLBAUER, 2016). 

Automedicação no Brasil

De acordo com o MS (2012), se automedicar consiste na ação de tomar remédios sem consultar um médico para prescrição. Essa prática tem como objetivo ser uma solução para o alívio rápido de alguns sintomas, mas pode trazer consequências como agravar uma doença ao inibir seus sintomas; aumentar a resistência de microrganismos no caso de antibióticos; interação medicamentosa (anulando ou potencializando o efeito de outro medicamento de uso concomitante); reações alérgicas; dependência; perigo de intoxicação e óbito. Entre as causas, está a facilidade de comercialização de remédios; a própria cultura e o amplo acesso a informações médicas disponíveis.

Em um levantamento de dados feito em 2021, foi possível concluir que os principais sintomas que levam à automedicação são dores musculares, dores articulares, gripes, resfriados, azia, cólica abdominal, diarreia e efeitos gastrointestinais. No mesmo estudo, foi constatado que os medicamentos analgésicos/antitérmicos representaram 50% do uso em automedicação, seguidos pelos AINEs com 35%, 4% antibacterianos de uso sistêmico, 4% antigripais e outros medicamentos. Concluiu-se também que os AINEs como paracetamol ou paracetamol + associação foram utilizados frequentemente como relaxantes musculares, enquanto os AINEs como AAS, diclofenaco, ibuprofeno, dipirona foram os mais usados para dores (FERREIRA et al., 2021).

  • Automedicação por diabéticos no Brasil

Em um estudo de 2013, foram avaliados os medicamentos mais vendidos do Brasil para identificar quais poderiam causar alteração glicêmica de forma direta e indireta. Os resultados mostraram que cerca de 47% dos medicamentos analisados são potencialmente perigosos para diabéticos, principalmente na classe dos AINEs, anticoncepcionais e anti-hipertensivos. Nesse estudo, percebeu-se que o 2º maior grupo de medicamentos que apresenta restrição quanto ao uso por diabéticos foram os AINEs e os anti-hipertensivos, representando em torno de 33% dos medicamentos com restrição. Alguns dos medicamentos não tinham informações sobre o seu risco para os diabéticos, nesse cenário, os AINEs destacaram-se ficando em 1º lugar, o que poderia levar ao consumo sem o esclarecimento do usuário e causar complicações futuras (GOMES et al., 2013).          

Outro estudo, feito em São Paulo com 25 voluntários portadores de diabetes e pré-diabéticos acompanhados por 1 ano, buscou verificar como a atenção farmacêutica poderia influenciar na qualidade de vida desses pacientes utilizando a metodologia Dáder, entretanto também acabou fazendo um levantamento sobre a automedicação deles. Na pesquisa constatou-se que 76% dos participantes consumiam medicamentos sem serem orientados por um médico ou farmacêutico, sendo os AINEs o grupo mais utilizado (MERLINI et al., 2019).

Figura 3: Medicamentos oriundos da automedicação pelos voluntários.

Fonte: MERLINI et al., 2019.

CONCLUSÃO

Conclui-se que o uso de anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) são necessários para o alívio de inflamação, dor, edema, osteoartrites, artrite reumatoide e distúrbios musculoesqueléticos, entretanto possui efeitos colaterais que podem causar danos à saúde de pacientes diabéticos e não diabéticos. Entre esses efeitos, estão problemas gastrointestinais, renais e cardiovasculares, mas alguns desses medicamentos são isentos de prescrição, fato que facilita o uso irracional dessa classe terapêutica.

O paciente diabético possui o risco de diversas complicações, entre elas está a nefropatia diabética e doenças cardiovasculares, elas podem se desenvolver quando a glicemia está descontrolada ou porque o portador não sabe que possui a diabetes e, por consequência, não a trata. Essas complicações podem ser agravadas pelo uso dos AINEs.

Tendo em vista a prevalência de diabéticos no Brasil e o uso comum de AINEs sem prescrição, é necessário que os diabéticos evite a automedicação e sejam conscientizados por profissionais da área da saúde acerca dos riscos e orientados a fazerem o uso de outras classes de medicamentos com menos riscos sempre que possível.

REFERÊNCIAS

ABREU, L. B. O uso da laserterapia na modulação do processo inflamatório. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação – Faculdade de Ciências Agrárias e da Saúde), Lauro de Freitas, 2017. 

ABREU, M. C. Diabetes mellitus tipo 1: sinais, sintomas, diagnóstico e repercussão na criança e no adolescente. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação – Faculdade de Medicina, Centro Universitário UNIFACIG). Minas Gerais, 2019. 

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANTÁRIA. Instrução normativa in nº 86, 12 de março de 2021 – Define a lista de medicamentos isentos de prescrição. 

ARMELIN, P. R. G. Modelagem molecular de derivados pirimidínicos e estudos de docking nas enzimas ciclooxigenases 1 e ciclooxigenases 2. Dissertação de mestrado (Mestrado – Universidade Federal de São Carlos). São Carlos, 2010. 

ASSUNÇÃO, T. C.; JUNIOR, O. M. R. Efeitos adversos no uso indiscriminado de anti-inflamatórios não esteroidais: diclofenaco versus ibuprofeno. Research, Society and Development, v. 11, nº 13, e532111335937, 2022. 

AZEVEDO, G.; FELIZARDO, J. R.; MOSER, M. P.; SAVI, D. C. Fisiopatologia e diagnóstico da nefropatia diabética: uma revisão integrativa. Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v. 5, nº 1, p. 3615-3637, jan./fev. 2022. 

BATLOUNI, M. Anti-Inflamatórios Não Esteroides: Efeitos Cardiovasculares, Cérebro Vasculares e Renais. Revista da Sociedade Brasileira de Cardiologia, São Paulo, v. 94, nº 4, p. 556-563, fev./2010. 

BERALDO, A.; GARCIA, L. H.; VILELA, M. C. C.; BUENO, S. M. Fatores de risco em pacientes portadores de diabetes mellitus a doenças cardíacas. Revista Corpus Hippocraticum, v. 2, nº 1, 2021. 

BEZERRA, L. M. R.; PIRES, C. B. R.; PASSOS, I. T. P.; SANTOS, E. V. M.; MARQUES, C. V. A.; MENDES, Pablo Z. S.; NETA, V. C. M. A.; ARAÚJO, L. V. R. Repercussões Cardiovasculares do diabetes: uma revisão bibliográfica. RECIMA21 – Revista Científica Multidisciplinar – ISSN 2675-6218, [S. l.], v. 5, nº 3, p. e534967, 2024. DOI: 10.47820/recima21.v5i3.4967. 

CASARIN, D. E., DONADEL, G., DALMAGRO, M., OLIVEIRA, P. C., BOLETA-CERANTO, D. C. F., ZARDETO, G. Diabetes mellitus: causas, tratamento e prevenção. Brazilian Journal of Development, Curitiba, v. 8, nº 2, p.10062-10075, 2022. 

CASTRO, R. M. F., SILVA, A., SILVA, A. C., ARAÚJO, B., MALUF, B., FRANCO, J. Diabetes mellitus e suas complicações-uma revisão sistemática e informativa. Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v. 4, nº 1, p.3349-3391, 2021. 

CUNHA, A. M. G., SILVA, F. S., MENEZES, P. M. N., SÁ, M. S. Farmacologia, Manual de Farmácia. Sanar, Salvador, v. 1, 2ª edição, p. 146, 2020.

FERREIRA, F. das C. G., LUNA, G. G. de; IZEL, I. C. M., ALMEIDA, A. C. G. de. O impacto da prática da automedicação no Brasil: Revisão Sistemática. Brazilian Applied Science Review, Curitiba, v. 5, nº 3, p. 1505-1518, mai./jun.  2021

FONTES, L. B. A., NASCIMENTO, T. C., FERRARI, G. A., ALMEIDA, A. C. A., PIVA, L. C. F. Fármacos anti-inflamatórios não esteroidais: uma revisão de literatura. Revista Científica UNIFAGOC, v. VII, nº 2, 2022. 

GODOY, A. F. de; SANTOS, N. S. dos; YOSHIDA, E. H.; ESTANAGEL, T. H. P.; PEREIRA, M. D.; LEITE, R. S. Benefícios e riscos do uso de coxibes. Revista Intersaúde, v. 1, nº 2, 2020. 

GOMES, M. A.; CRUZ, F. A. de O.; FRAGOSO, V. M. de S.; PINTO, G. da C. Análise da automedicação em pacientes com diabetes. Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI, v. 9, nº 16, p. 193-200, 2013. 

INTERNATIONAL DIABETES FEDERATION (IDF). Diabetes Atlas – 10th edition, 2021. 

KO, L. T. Y. A evolução do mercado de anti-inflamatórios não esteroidais (AINES) e o papel do farmacêutico frente à automedicação. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação – Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade de São Paulo). São Paulo, 2018. 

LIMA, A. S.; ALVIM, H. G. de O. Revisão sobre anti-inflamatório não-esteroidais: ácido acetilsalicílico. Revista de Iniciação Científica e Extensão, p. 169-174, 2018. 

LIMA, R. M., DUARTE, K. P. Anti-inflamatório não Esteróides (AINEs) e automedicação. Research, Society and Development, v. 11, nº 5, e13211527872, 2022. 

MACIEL, R. O.; VASCONCELOS, M. R. S.; ANDRADE, C. R.  de. Nefropatia diabética – incidência e fatores de risco associados. Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v. 2, nº 4, p.  3808-3823, jul./aug. 2019. 

MARINHO, L. N. de S.; MEIRELLES, L. M. A. Os riscos associados ao uso de medicamentos isentos de prescrição. Revista Saúde Multidisciplinar (Mineiros), 2021. 

MERLINI, V. A.; FERNANDES, F. B.; FERNANDES, S. M. de S. Implementação de atenção farmacêutica como ferramenta para prevenção e acompanhamento do diabetes mellitus. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação – Universidade Presbiteriana Mackenzie), 2019. 

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Automedicação. Biblioteca Virtual em Saúde, 2012. 

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Dia Nacional do Diabetes. Biblioteca Virtual em Saúde, 2023.  

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Saúde de A a Z, 2024. 

MÜHLBAUER, M. Paracetamol, um aine particular. Ciência Atual, Revista Científica Multidisciplinar das Faculdades São José, Rio de Janeiro, v. 7, nº 1, p. 02-10, 2016. 

NEVES, R. G.; TOMASSI, E.; DURO, S. M. S.; SAES-SILVA, E.; SAES, M. de O. Complicações por diabetes mellitus no Brasil: estudo de base nacional, 2019. Ciência & Saúde Coletiva, 2023, v. 28, nº 11, p. 3183-3190. 

OLIVEIRA, M. M. C. de; SILVA, M. M. da; MOREIRA, T. L. M.; COUTO, V. F.; COELHO, Y. N.; NUNES, C. P. O uso crônico de anti-inflamatórios não esteroidais e seus efeitos adversos. Revista Caderno de Medicina, v. 2, nº 2, 2019. 

RANG, H. P.; RITTER, J.M.; FLOWER, R.J.; HENDERSON, G. Rang & Dale, Farmacologia. Elsevier, 2016, 8ª edição, p. 767. 

RANG, H. P.; RITTER, J. M.; FLOWER, R.; HENDERSON, G.; LOKE, Y. K.; MacEWAN, D. Rang & Dale, Farmacologia, Elsevier, 2020, 9ª edição, p. 344 – publicado pela Editora Guanabara Koogan Ltda na língua portuguesa, Rio de Janeiro, 2020.

SANDOVAL, A. C.; FERNANDES, D. R.; SILVA, E. A. da; JÚNIOR, A. T. T. O uso indiscriminado dos anti-inflamatórios não esteroidais (aines). Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente (FAEMA), v. 8, nº 2, jul./dez., 2017. 

SANTOS, E. J. da S., FILHO, S. M. da S., GUEDES, J. P. Anti-inflamatórios não esteroides e problemas renais. Research, Society and Development, v. 10, nº 15, e301101522923, 2021. 

SANTOS, V. C. dos; RODRIGUES, A. L. C.; CAJAZEIRA, B. C. R.; FERRARI, C. A.; LIBANIO, G. C.; SANABRIA, T. L.; GUIMARÃES, A. de F.; ISAAC, Y. B. Diabetes Mellitus Tipo 2 – aspectos epidemiológicos, fisiopatológicos e manejo terapêutico. Brazilian Journal of Development[S. l.], v. 9, nº 3, p. 9737–9749, 2023.

SEABRA, C. I. R. Farmacocinética do Ibuprofeno. Trabalho de Conclusão de Curso (Pós-graduação – Universidade Fernando Pessoa), Porto, 2015.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes, 2019-2020, Editora Clannad. 

TEIXEIRA, L. P. Fatores de risco para o desenvolvimento de hipersensibilidade de anti-inflamatórios não esteroidais. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação – Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia), Salvador, 2014. 

ZAROS, Karin Juliana Bitencourt. Analgésicos isentos de prescrição no tratamento da dor. CIMFORMANDO, CRF-PR, 3ª edição, 2020.