OS RISCOS DE ENDOCARDITE BACTERIANA EM TRATAMENTOS ENDODÔNTICOS MAL SUCEDIDOS: UMA REVISÃO DE LITERATURA.

REGISTRO DOI:10.69849/revistaft/th102412151301


Sofia Diniz Aguiar¹
Ana Caroline de Mesquita²
Mariana Lopes de Moraes³ 
Orientador: Aline Batista Gonçalves Franco


RESUMO:

Esse estudo caracterizado como revisão de literatura integrativa baseia-se no entendimento acerca da endocardite bacteriana, uma vez que ela é uma infecção séria do endocárdio, frequentemente causada por microrganismos que penetram na corrente sanguínea através da cavidade oral. Este texto explora a conexão entre a endocardite e o tratamento endodôntico, salientando os fatores de risco, sintomas clínicos, diagnóstico e tratamento da doença. A prevenção desta complicação grave depende fortemente de uma equipe multidisciplinar especializada e de uma higiene bucal adequada. A literatura atual e relevante sobre o assunto é citada, destacando a necessidade de mais pesquisas para estabelecer uma ligação direta entre o tratamento endodôntico e a endocardite. O objetivo deste trabalho é analisar os principais elementos desta relação e alertar para os perigos de um tratamento endodôntico mal executado. A conscientização sobre esses riscos é crucial para evitar complicações graves como a endocardite bacteriana. Portanto, é essencial que os pacientes entendam a importância de um tratamento endodôntico bem-sucedido e de uma boa higiene bucal. Desta forma, essa revisão integrativa sintetiza estudos recentes de forma meticulosa, abrangendo bases como BVS, Google Scholar e PubMed. Foram aplicados critérios de inclusão/exclusão para garantir relevância. A análise crítica identifica tendências e lacunas, contribuindo para avanço científico e orientando futuras investigações.

PALAVRAS-CHAVE: Prevenção de doenças, Endocardite bacteriana, Endodontia.

ABSTRACT:

This study, characterized as an integrative literature review, is based on the understanding of bacterial endocarditis, a serious infection of the endocardium, often caused by microorganisms that enter the bloodstream through the oral cavity. This text explores the connection between endocarditis and endodontic treatment, highlighting risk factors, clinical symptoms, diagnosis, and treatment of the disease. The prevention of this severe complication strongly depends on a specialized multidisciplinary team and proper oral hygiene. The current and relevant literature on the subject is cited, emphasizing the need for more research to establish a direct link between endodontic treatment and endocarditis. The aim of this work is to analyze the main elements of this relationship and to alert about the dangers of poorly executed endodontic treatment. Awareness of these risks is crucial to avoid serious complications like bacterial endocarditis. Therefore, it is essential that patients understand the importance of successful endodontic treatment and good oral hygiene. This way, this integrative review synthesizes recent studies meticulously, covering databases such as BVS, Google Scholar, and PubMed. Inclusion/exclusion criteria are applied to ensure relevance. Critical analysis identifies trends and gaps, contributing to scientific advancement and guiding future research.

KEYWORDS: Disease prevention, Bacterial endocarditis, Endodontics.

INTRODUÇÃO

A Endodontia, uma técnica frequentemente empregada para a prevenção, diagnóstico e terapêutica das enfermidades da polpa e do periápice, tem como objetivo preservar o elemento dentário na arcada e restabelecer uma saúde biológica, clínica e radiologicamente monitorável. Contudo, este procedimento, aparentemente rotineiro, pode desencadear complicações a nível cardíaco. As lesões de origem endodôntica provocam uma vasodilatação dos tecidos do periápice, criando um acesso facilitado de microrganismos na corrente sanguínea (Cintra, 2015), podendo originar uma infecção sistêmica denominada septicemia.

A endocardite é uma patologia notoriamente complexa em seu diagnóstico, devido à multiplicidade de suas manifestações e na estratégia terapêutica, o que demanda a formação de uma equipe multidisciplinar especializada em endocardite, composta por profissionais de várias especialidades. É crucial a participação de infectologista, microbiologista clínico, cardiologista, cirurgião cardíaco, neurologista e radiologista, sendo desejável o suporte de outras especialidades conforme a necessidade de cada caso. Sua incidência tem se elevado nas últimas décadas, principalmente em função do envelhecimento populacional, pelo aumento do número de indivíduos submetidos à terapia renal substitutiva, pela maior prevalência de pacientes com próteses valvares e dispositivos elétricos cardíacos implantados e também em virtude dos progressos tecnológicos incorporados nos procedimentos diagnósticos e terapêuticos invasivos, além da atual “epidemia” do uso de drogas recreativas por via intravenosa, que representa um sério problema de saúde pública em alguns países. (GARCIA-CABRETA E, et al., 2013; DE SOUSA SANTOS et al., 2024).

Entretanto, apesar de todos os avanços alcançados no diagnóstico e no tratamento da endocardite, sua mortalidade continua alarmantemente alta. Assim, a persistência desse exacerbado aumento do número de óbitos pode ser explicada pelo aumento de pacientes com maior idade, frágeis, com múltiplas comorbidades e questões fisiológicas que podem alterar o sucesso do tratamento endodôntico, porém, não se pode ignorar o fato de que as etapas mal realizadas para o sucesso endodôntico também é um grande empecilho para o sucesso do tratamento e evitar essa patologia calamitosa. (GARCIA-CABRETA E, et al., 2013).

Os microrganismos circulantes se fixam em tecidos na superfície endotelial do coração, próteses ou dispositivos cardíacos implantáveis, ocasionando uma inflamação do endocárdio, a Endocardite Infecciosa (EI). As vegetações correspondem a acúmulos fibrino-plaquetários, colonizados por microrganismos e células inflamatórias (BARROSO MG, et al., 2014). As áreas mais frequentemente afetadas pela EI são as válvulas cardíacas, principalmente aquelas localizadas no lado esquerdo do coração (válvula mitral e válvula aórtica), sobretudo se já apresentam lesão ou refluxo. (BARROSO MG, et al., 2014).

Ademais, a cavidade oral é a principal via de entrada das bactérias no organismo, com cerca de 40% dos casos de EI originados na cavidade oral (SILVA et al., 2022; CINTRA, 2015). Outro fator a ser analisado é que a EI é uma patologia rara, porém grave, cuja incidência é estável há 40 anos. Sua incidência é de 5 a 7 casos por 100.000 habitantes por ano em países industrializados. É caracterizada por alta mortalidade e morbidade. A taxa de mortalidade é entre 15 e 25% e (significativamente maior se o germe em questão for um estafilococo) e a taxa de mortalidade nos 4 anos subsequentes à EI é de cerca de 40%. (CINTRA, 2015).

Por estes aspectos, faz-se necessário analisar as principais literaturas, mais relevantes e atuais, sobre os riscos de endocardite bacteriana em tratamentos endodônticos mal sucedidos e os fatores fisiológicos, formas de tratamento e prevenção acerca dessa patologia acometida pós tratamento odontológico que afeta o organismo do indivíduo, podendo resultar em óbito ou complicações cardiovasculares.

METODOLOGIA

 A presente revisão integrativa da literatura  foi conduzida através de uma busca meticulosa e direcionada em artigos relacionados ao tema selecionado, nas principais plataformas de pesquisa acadêmica disponíveis, incluindo o Portal Regional da BVS, Scielo, LILACS e PubMed. Os critérios de inclusão foram estipulados com base em filtros, considerando a data de publicação mais recente, até 14 anos de publicação. Para uma melhor compreensão dos avanços e da relevância para o assunto em questão, posteriormente filtrados para aqueles que contêm as palavras-chave em seu título. Os critérios de exclusão foram artigos com mais de 14 anos de publicação e irrelevantes para a produção científica deste trabalho. As palavras-chave utilizadas foram: Prevenção de doenças, endocardite bacteriana e endodontia.

  1. OBJETIVOS
OBJETIVOS GERAIS

Analisar a literatura mais recente sobre o tema em questão e compreender o que é a endocardite e como ela afeta as funções sistêmicas no organismo dos indivíduos.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Realizar uma busca na literatura sobre o acometimento das infecções, como ocorrem, como evitá-las, prevenção e tratamento, de modo a entender os conceitos e preparar os estudantes de odontologia e os cirurgiões dentistas para eventuais problemas semelhantes em seus atendimentos clínicos.

REVISÃO DE LITERATURA
      4.1 ENDOCARDITE BACTERIANA

A endocardite infecciosa é uma condição primária caracterizada pela presença de micro-organismos, como bactérias ou fungos, na superfície endotelial das câmaras e válvulas cardíacas. É uma séria ameaça à saúde cardíaca (REIS et al., 2016). Sobretudo, acomete principalmente indivíduos com cardiopatias congênitas ou adquiridas.

Além disso, a relação entre a patogênese da endocardite e a bacteremia é notável. A origem da bacteremia pode estar associada a infecções periodontais, procedimentos dentários e até mesmo hábitos diários, como escovação e uso do fio dental (SOUZA et al., 2016). É relevante mencionar que a bacteremia, que se caracteriza pela presença de bactérias na corrente sanguínea, pode ocorrer de forma espontânea ou durante procedimentos dentários, colocando em risco especialmente os pacientes com anomalias nas válvulas cardíacas (LAFAURIE et al., 2019).

Em relação à disseminação das bactérias, ela dependerá da fixação muscular e do ponto de infecção. Se a disseminação ultrapassar as inserções musculares, é possível que atinja os espaços faciais e distais, resultando em complicações mais graves, como sinusite, obstrução das vias aéreas, trombose do seio cavernoso, abscesso cerebral ou até mesmo a morte (ORRETT; OGLE, 2017).

Ademais, a principal bactéria associada ao estado de saúde bucal precário e à endocardite infecciosa é o Streptococcus viridans (LAFAURIE et al., 2019). Quando essa bactéria alcança o coração, forma-se uma massa amorfa composta por fibrina e plaquetas nas estruturas cardíacas, onde colônias de micro-organismos e células inflamatórias se desenvolvem, gerando a característica lesão chamada vegetação . Portanto, a manutenção da saúde bucal desempenha um papel fundamental na prevenção desta grave condição cardíaca. (REIS et al., 2016; LIMA et al., 2024).

4.2 AGRAVAMENTO DO QUADRO DE SAÚDE POR INFECÇÕES ENDODÔNTICAS

A negligência na realização de procedimentos endodônticos, focalizados na terapêutica de agravos e patologias que acometem a polpa dentária e as raízes dos dentes, pode suscitar uma miríade de implicações gravosas para o organismo. Em um primeiro escopo, quando uma intervenção endodôntica se revela deficiente, é possível que se manifestem dor incessante e recorrência de infecções como desdobramentos de considerável monta. Não obstante, são passíveis de ocorrer danos nos tecidos circunvizinhos, os quais comprometem tanto a integridade quanto a arquitetura do dente em questão. Essa degradação pode, em algumas ocasiões, culminar na necessidade de extração dentária, procedimento frequentemente árduo e dispendioso. (SAILTO D, et al., 2012).

Numa segunda vertente, a execução inadequada de endodontias pode acarretar a disseminação da infecção para além da região dental, afetando outros órgãos e tecidos do corpo. Isso pode desencadear o desenvolvimento de abscessos, os quais são bolsas supurativas dolorosas, edema e, em certos casos, a formação de cistos dentro dos ossos, gerando deformações e a reabsorção óssea. Tais condições são incapacitantes e, frequentemente, demandam tratamento suplementar, inclusive intervenções cirúrgicas. (SAILTO D, et al., 2012; PAPPEN FG, et al., 2010).

Ademais, a infecção originada na endodontia pode adentrar na corrente sanguínea, adentrando na esfera de bacteremia. Esse processo permite que as bactérias causadoras da infecção se alastrem por todo o corpo, afetando órgãos cruciais, a exemplo do cérebro, das articulações, dos pulmões e do coração. Nos casos mais extremos, essa disseminação pode culminar no desenvolvimento da endocardite bacteriana, quadro potencialmente letal. (SAILTO D, et al., 2012; PAPPEN FG, et al., 2010).

Paralelamente a essas repercussões na saúde, a inépcia em abordar adequadamente as infecções dentárias pode acarretar implicações de ordem estética. A perda dentária advinda de infecções não tratadas é capaz de impactar a estética do sorriso, prejudicando a autoestima do paciente. Adicionalmente, essa perda dentária pode afetar a dicção e a função mastigatória, repercutindo negativamente na qualidade de vida do indivíduo (SAILTO D, et al., 2012; PAPPEN FG, et al., 2010; DE SOUSA SANTOS et al., 2024).

Conquanto, as complicações derivadas de procedimentos endodônticos mal conduzidos não se circunscrevem apenas à saúde bucal, podendo projetar-se por todo o corpo. Portanto, a busca por tratamentos odontológicos de elevada qualidade e a observância rigorosa das orientações pós-tratamento são prementes, a fim de elidir tais sérias complicações (SAILTO D, et al., 2012; PAPPEN FG, et al., 2010; DE SOUSA SANTOS et al., 2024).

 MECANISMOS CAUSADORES DA ENDOCARDITE BACTERIANA POR TRATAMENTO ENDODÔNTICOS MAL REALIZADOS

A mal sucedida conclusão do tratamento endodôntico é frequentemente atribuída a uma complexa gama de fatores. Isso inclui iatrogenias, complicações durante a fase de instrumentação, como perfurações e fraturas de instrumentos, inadequações no tratamento dos canais, falhas no selamento coronário, seja devido a infiltrações ou aplicação excessiva ou insuficiente do material obturador, e a persistência de microrganismos, quer se encontrem no interior ou no exterior do canal radicular. Simultaneamente, deficiências em práticas de assepsia, técnicas de instrumentação inadequadas, canais com morfologia complexa e a presença de inflamação no tecido periapical emergem como fatores que podem influenciar negativamente o resultado do tratamento endodôntico. A detecção de danos na estrutura óssea adjacente ao dente amplia de maneira significativa a probabilidade de insucesso no tratamento endodôntico (Tabassum & Khan, 2016; LOBO, 2024).

No entanto, o preparo dos canais radiculares emerge como uma tarefa notoriamente desafiadora, principalmente devido às complexas peculiaridades anatômicas, à possível perda de canais e às limitações inerentes aos instrumentos endodônticos. Isso torna o tratamento endodôntico mais susceptível a falhas e potenciais erros iatrogênicos. Essa constatação, ao analisar uma amostragem de 5616 molares, apontou a necessidade de retratamentos endodônticos devido às dificuldades na localização do canal MB2, o que resultou em insucessos no tratamento endodôntico (Gambarini et al., 2013; Tabassum & Khan, 2016).

Além disso, a infecção nos canais radiculares tem origem na proliferação de micro-organismos em resposta às condições ambientais no interior desses canais, culminando em uma infecção persistente. O fracasso no tratamento do canal pode ser desencadeado por fatores de natureza microbiana, que incluem a presença de bactérias e fungos, quer estejam no interior ou nas imediações do canal, ou por fatores não microbianos. Situações de inflamação periapical podem surgir como resposta à defesa do organismo diante de procedimentos excessivos, irrigação abundante ou excesso de material obturador no canal radicular (Estrela, 2014; BECKE7R 2024).

Dessa forma, a associação entre a elevada taxa de insucesso no tratamento e a necrose pulpar, uma vez que a infecção já está consolidada e pode persistir, demandando a realização de retratamento endodôntico. Por outro lado, um cenário clínico comum de insucesso nos tratamentos endodônticos, nos quais canais radiculares infectados com Enterococcus faecalis (Ef), ainda que assintomáticos por longos períodos, não respondem ao tratamento endodôntico convencional e são identificados apenas por meio de radiografias periapicais que revelam a presença de lesões periapicais, frequentemente em estágios avançados (FERNANDEZ, et al., 2013; LOPES et al., 2024).

A periodontite apical é uma decorrência da infecção nos canais radiculares, com potencial para intensificar a inflamação e até mesmo provocar alterações na estrutura óssea periapical, resultando em reabsorções ósseas. A presença de periodontite apical em dentes submetidos a tratamento endodôntico está correlacionada a uma elevada taxa de insucesso (Estrela, 2008, BACKER, 2024).

 TRATAMENTO

O processo terapêutico destinado a tratar a endocardite bacteriana contempla duas abordagens principais: a terapia anticoagulante e o procedimento cirúrgico. Importante salientar que a terapia anticoagulante, ao contrário do esperado, não exerce influência significativa na prevenção da embolização em casos de endocardite infecciosa e, em alguns cenários, pode até agravar o risco de hemorragia intracerebral. Assim, seu uso não é uma prática rotineira no tratamento desta enfermidade. Entretanto, para pacientes que utilizam próteses valvares e necessitam de anticoagulação, a manutenção desse tratamento pode ser adotada, desde que sob constante e minucioso acompanhamento médico. É imperativo interromper a anticoagulação de forma temporária se houver manifestações clínicas de comprometimento do sistema nervoso central. (ORRETT; OGLE, 2017; SILVA et al., 2024).

Outrossim, o tratamento cirúrgico emerge como uma alternativa viável e eficaz, reduzindo a taxa de mortalidade em pacientes que apresentam quadros de endocardite infecciosa acompanhados por insuficiência cardíaca refratária, envolvimento perivalvar com formação de abscessos ou uma resposta insatisfatória à terapia antibiótica, mesmo em doses substanciais. Pacientes que se enquadram nesse perfil clínico devem ser prontamente encaminhados para uma avaliação especializada em um centro de cirurgia cardiovascular. Ainda, pacientes com endocardite que afetam próteses valvares também demandam uma avaliação cirúrgica. (ORRETT; OGLE, 2017; SILVA et al., 2024).

Convém destacar que o enfoque terapêutico da endocardite infecciosa pode variar consideravelmente, dependendo do agente etiológico responsável pelo processo infeccioso. (ORRETT; OGLE, 2017).

5. DISCUSSÃO

          De acordo com Reis et al. (2016), “a endocardite infecciosa é uma condição de alta gravidade, caracterizada pela presença de microrganismos, tais como bactérias e fungos, nas estruturas cardíacas.” Os autores enfatizam que esta condição representa “uma ameaça substancial à saúde cardíaca,” especialmente em indivíduos com “cardiopatias congênitas ou adquiridas.” É importante destacar que há um consenso na literatura de que a negligência na higiene bucal desempenha um papel crucial no desenvolvimento da endocardite (SOUZA et al., 2016).

Além disso, Souza et al. (2016) apontam que a relação entre a patogênese da endocardite e a bacteremia é notável. Eles afirmam que “a origem da bacteremia pode estar intrinsecamente ligada a condições patológicas de ordem periodontal, procedimentos odontológicos e até mesmo à cotidianidade das práticas, a exemplo da escovação e do uso do fio dental.” A bacteremia, definida como “a presença de bactérias no fluxo sanguíneo,” pode ocorrer “espontaneamente ou durante intervenções odontológicas,” colocando em risco, sobretudo, os pacientes com cardiopatias valvulares (LAFAURIE et al., 2019).

No que diz respeito à disseminação das bactérias, Orrett e Ogle (2017) explicam que essa propagação depende da “aderência a estruturas musculares e do ponto focal de infecção.” Se houver extrapolação dos limites anatômicos musculares, isso pode resultar em complicações mais graves, como “sinusite, obstrução das vias respiratórias, trombose do seio cavernoso, abscesso cerebral ou até mesmo a morte.”

A bactéria predominante associada à saúde bucal precária e à endocardite infecciosa é, de acordo com Lafaurie et al. (2019), o Streptococcus viridans. Quando essa bactéria atinge o sistema cardíaco, “pode ocasionar a formação de uma massa disforme composta por fibrina e plaquetas nas estruturas cardíacas, em que colônias de microrganismos e células inflamatórias prosperam, configurando a distintiva lesão denominada ‘vegetação'” (Reis et al., 2016). Portanto, a manutenção da saúde bucal é “fundamental na prevenção dessa grave condição cardíaca” (LAFAURIE et al., 2019).

Quando se trata das complicações resultantes de tratamentos endodônticos mal executados, Sailto et al. (2012) destacam que a negligência na realização desses procedimentos pode resultar em “dor crônica e reincidência de infecções.” Além disso, Pappen et al. (2010) explicam que danos nos tecidos circundantes podem ocorrer, comprometendo tanto a integridade quanto o arranjo arquitetônico do dente em questão. Essa degradação pode, em algumas situações, resultar na necessidade de extração dentária, um procedimento que frequentemente se delineia árduo e oneroso.

Em uma perspectiva mais ampla, Pappen et al. (2010) enfatizam que um tratamento endodôntico deficitário pode permitir a disseminação da infecção para além da região dental, afetando outros órgãos e tecidos do organismo. Essa propagação pode levar ao desenvolvimento de abcessos, os quais constituem bolsas supurativas dolorosas, edema e, em situações específicas, a formação de cistos intrabone.

Além disso, Pappen et al. (2010) explicam que a infecção originária de procedimentos endodônticos pode adentrar o sistema circulatório, adentrando o espectro da bacteremia. Esse desdobramento enseja a dispersão das bactérias causadoras da infecção por todo o corpo, afetando órgãos críticos, como o cérebro, as articulações, os pulmões e o coração. Em situações mais extremas, essa disseminação pode culminar no desenvolvimento da endocardite bacteriana, um quadro de potencial letal.

Paralelamente a essas ramificações sobre a saúde, Ricucci et al. (2010) destacam que a inadequação na abordagem de infecções dentárias pode concitar reflexos na esfera estética. A privação de elementos dentários resultante de infecções não debeladas é capaz de impactar a estética do sorriso, afetando adversamente a autoestima do indivíduo. Além disso, essa carência dentária pode incidir sobre a dicção e a função mastigatória, com repercussões negativas na qualidade de vida do paciente.

Portanto, as complicações advindas de procedimentos endodônticos deficientes transcendem não somente o âmbito bucal, mas podem irradiar por todo o organismo. A busca por tratamentos odontológicos de excelência e a aderência rigorosa às orientações pós-tratamento se revelam cruciais na prevenção de tais sérias ramificações. É de essencial importância reconhecer a conexão entre a saúde bucal e o bem-estar geral, bem como a necessidade de medidas preventivas e corretivas eficazes.

6. CONCLUSÃO

Depreende-se, portanto, que a endocardite bacteriana, uma grave infecção que afeta as válvulas e o revestimento do coração, pode ser desencadeada por bactérias que entram na corrente sanguínea de várias fontes, incluindo a boca, pele, trato urinário ou intestinos. Um tratamento endodôntico mal sucedido é um fator de risco para o desenvolvimento desta doença. A prevenção envolve evitar a contaminação da corrente sanguínea por bactérias, manter uma boa higiene oral, realizar consultas odontológicas regulares e seguir as instruções do dentista sobre o uso de antibióticos. O tratamento depende da gravidade da infecção e envolve antibióticos intravenosos e possivelmente cirurgia cardíaca. É crucial diagnosticar e tratar a endocardite bacteriana prontamente para prevenir complicações graves. As bactérias causadoras de endocardite variam com a fonte da infecção. Portanto, é importante realizar mais pesquisas sobre o tratamento endodôntico e falhas que levam a esta grave patologia que pode resultar em morte.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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