REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10358376
Amanda França Pereira
Orientador: Prof. Esp. Carlos Augusto Barboza Toledo
RESUMO
Nas instituições hospitalares, uma das maiores prioridades é garantir a segurança dos pacientes. A falta de clareza nas prescrições põe em risco a saúde dos pacientes, e tendo em vista a gravidade do assunto, torna-se necessário que mais pesquisas com essa temática sejam elaboradas, por isso a elaboração desse estudo. Baseando-se nesses aspectos, o presente artigo possui como objetivo principal, fazer o levantamento bibliográfico sobre as os principais fatores de risco para a ocorrência de erros de prescrição no âmbito hospitalar brasileiro. Foi realizada uma pesquisa de revisão integrativa da literatura de caráter exploratório descritivo. Toda a busca ocorreu de maneira organizada nas bases de dados MEDLINE, LILACS e SCIELO. Os principais erros de prescrição encontrados nesta revisão foram: ausência da via de administração, dosagens erradas, medicamentos errados, concentração erradas, presença de prescrição com nome comercial, siglas, abreviaturas inapropriadas, códigos ou números e nome incompleto do paciente. No concernente aos principais fatores de risco para a ocorrência de erros de prescrição no âmbito hospitalar temos: prescrições manuais; falta de preparo e de conhecimento dos profissionais, estresse, sobrecarga de trabalho e falha na comunicação. Após a realização deste estudo foi possível concluir que no ambiente hospitalar, o uso de medicamentos requer cuidados intensivos e uma minuciosa observação por parte das equipes de saúde, especialmente se tratando das análises de prescrições, para que futuros erros possam ser evitados.
Palavras-chave: Erros de prescrição. Hospital. Cuidado em saúde.
ABSTRACT
In hospital institutions, one of the highest priorities is to ensure patient safety. The lack of clarity in prescriptions puts the health of patients at risk, and given the seriousness of the issue, it is necessary for more research on this topic to be carried out, hence the preparation of this study. Based on these aspects, the main objective of this article is to carry out a bibliographical survey on the main risk factors for the occurrence of prescription errors in Brazilian hospitals. An integrative literature review research of an exploratory and descriptive nature was carried out. The entire search took place in an organized manner in the MEDLINE, LILACS and SCIELO databases. The main prescription errors found in this review were: absence of the route of administration, wrong dosages, wrong medications, wrong concentrations, presence of a prescription with a commercial name, acronyms, inappropriate abbreviations, codes or numbers and incomplete name of the patient. Regarding the main risk factors for the occurrence of prescription errors in the hospital environment, we have: manual prescriptions; lack of preparation and knowledge of professionals, stress, work overload and communication failure. After carrying out this study, it was possible to conclude that in the hospital environment, the use of medicines requires intensive care and thorough observation by healthcare teams, especially when it comes to analyzing prescriptions, so that future errors can be avoided.
Keywords: Prescription errors. Hospital. Health care.
1 INTRODUÇÃO
Falhas associadas aos cuidados de saúde representa uma preocupação mundial, sendo a quinta causa de óbitos no Brasil e a terceira nos Estados Unidos. Nesse contexto, os erros de prescrição representam uma preocupação constante no ambiente hospitalar, tanto para os profissionais da área da saúde, quanto para as próprias organizações e principalmente os próprios pacientes, pois apesar da maioria dos fármacos passarem uma certa seguridade em relação a sua margem terapêutica, outros devem ser administrados com cautela, devido aos altos riscos inerentes as suas particularidades de uso. 1
No geral, o processo para a utilização de um fármaco dentro do ambiente hospitalar é complexo, multidisciplinar, interligado e interdependente, envolvendo basicamente três etapas: prescrição, dispensação e administração medicamentosa. Em cada uma dessas etapas é necessário haver uma eficaz comunicação entre os profissionais envolvidos (médicos, farmacêuticos e enfermeiros respectivamente), somente assim, o paciente poderá ter um tratamento medicamentoso tranquilo, com ausência de erros. 2, 3
Houve nos últimos anos um aumento significativo do número de reações adversas nas próprias instituições hospitalares, provenientes de erros de prescrição. Mensurando esse o impacto na recuperação do paciente, torna-se relevante identificar a natureza desses eventos e os seus fatores predisponentes. De acordo com a literatura, os erros de prescrição; são considerados os mais graves, devido à enorme ocorrência nos indivíduos hospitalizados. 1, 2, 4, 5
Toda e qualquer falha na prescrição, preparação ou administração do medicamento, comprometerá o tratamento e por conseguinte, a recuperação do paciente. Portanto, para que esses tipos de falhas sejam evitadas é necessário que as prescrições sejam padronização, com algumas adequações fundamentais: elegibilidade, uniformização das nomenclaturas, a correta descrição das doses, os intervalos, tempo do tratamento etc. Por isso, faz-se necessário a solicitação do farmacêutico hospitalar, que tecnicamente é o profissional mais qualificado para otimizar, prevenir, detectar e corrigir Problemas Relacionados aos Medicamentos (PRM). 6,7
Os erros de medicação são totalmente preveníveis e evitáveis, basta que as equipes de saúde procurem determinar soluções para que essas falhas sejam reduzidas, evitando a ocorrência de riscos e danos à saúde dos pacientes. 1,8 Nesse contexto, a seguinte pergunta norteadora foi desenvolvida: “quais são os principais fatores para a ocorrência de erros nas prescrição nas instituições hospitalares?”
Nas instituições hospitalares, uma das maiores prioridades é garantir a segurança dos pacientes, sendo esse um princípio fundamental para o cuidado em saúde. Assim, uma importante questão que tem sido alvo de debates é o aumento da ocorrência dos erros de prescrições, problema que lamentavelmente tem se tornado frequentemente devido à alta demanda de medicamentos prescritos. A falta de clareza nas prescrições põe em risco a saúde dos pacientes, e tendo em vista a gravidade do assunto, torna-se necessário que mais pesquisas com essa temática sejam elaboradas, por isso a elaboração desse estudo.
Baseando-se nesses aspectos, o presente artigo possui como objetivo principal, fazer o levantamento bibliográfico sobre as os principais fatores de risco para a ocorrência de erros de prescrição no âmbito hospitalar brasileiro.
2 METODOLOGIA
Foi realizada uma pesquisa de revisão integrativa da literatura de caráter exploratório descritivo. Toda a busca ocorreu de maneira organizada, pretendendo contribuir para uma completa compreensão do tema estudado. Foram utilizados periódicos nacionais pertinentes ao assunto, acessados eletronicamente nas bases de dados MEDLINE, LILACS e SCIELO durante o período de três meses (setembro a novembro de 2023).
Este tipo de pesquisa compreendeu sete fases: a escolha do tema, identificação e localização dos artigos nas bases de dados específicas, leitura do título e do artigo completo com acesso em PDF (formato portátil de documento), compilação, análise, interpretação e por último a redação.
Para a estratégia de busca foram utilizados a combinação dos seguintes Descritores em Ciências da saúde (DeCS), e usando o booleano ‘AND’ para a pesquisa dos termos: erro, prescrição, hospital, Brasil, error, prescription, hospital, Brazil (Quadro 1).
Quando 1: Controle dos artigos encontrados nas bases de dados da BVS e Scielo.
DESCRITORES E SUAS COMBINAÇÕES | MEDLINE | SCIELO | LILACS | TOTAL |
Erro AND Prescrição AND Hospital AND Brasil | 37 | 03 | 31 | 71 |
Error AND Prescription AND Hospital AND Brazil | 28 | — | 45 | 73 |
TOTAL | 65 | 03 | 76 | 144 |
Fonte: Pesquisadora, 2023.
Para a seleção dos materiais, houve ainda a aplicação de alguns critérios, onde foram inclusas publicações científicas disponíveis na integra, em língua portuguesa e inglesa, com acesso eletrônico livre, entre os anos de 2013 e 2023, abordando os fatores de risco para a ocorrência de erros de prescrição hospitalar no Brasil.
Por sua vez, foram exclusas todas as publicações em formas de teses, monografias, artigos incompletos, duplicados, laboratoriais, de opinião/autoridade, que não abordasse o tema proposto e com data inferior à que foi estabelecida (inferior a 2013).
Os artigos foram selecionados pelo critério de admissão inicial e posteriormente realizou-se a leitura de seus resumos aplicando os critérios de inclusão/exclusão. As etapas deste estudo foram conduzidas de forma independente pela pesquisadora e as discordâncias foram resolvidas em consenso a partir da leitura completa dos artigos. Fez-se o uso de quadros para a apresentação da análise de dados dos artigos incluídos para a revisão.
No total foram selecionados 144 artigos, e após leitura do título foram descartados (98 publicações) materiais duplicados e que não contemplavam o objetivo deste trabalho. Assim, restaram 46 publicações. Logo, realizou-se a leitura dos resumos, onde foram selecionados 18 artigos que posteriormente foram analisados na íntegra, ficando somente 07 artigos para serem discutidos neste trabalho (LILACS – n=03/42,8%/ SCIELO – n=03/42,8%/ MEDLINE – n=01/14,2%).
Figura 1: Fluxograma do Processo de Seleção de Estudos.
Fonte: Pesquisadora, 2023.
03 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Como fora mencionado na seção “metodologia”, os resultados extraídos foram distribuídos no Quadro 1, nele consta os títulos dos trabalhos selecionados, os autores, ano de publicação, objetivos, tipo de estudo, amostra, banco de dados e principais resultados descritos por cada autor.
Na variável “data de publicação” e “tipo de estudo”, os dados mostraram uma predominância de artigos publicados no ano de 2016 (n=02/28,5%), sendo a maioria estudos transversais (n=03/42,8%) e descritivos (n=03/42,8%). Em relação as amostras, os resultados foram extraídos de prontuários (n=03/42,8%), prescrições (n=02/28,5%), notificações de eventos adversos (n=01/14,2%) e entrevistas com funcionários do hospital (n=01/14,2%).
Quadro 2: Classificação e descrição dos artigos selecionados.
Título | Autores | Ano | Objetivos | Tipo de estudo | Amostra | Banco de dados | Principais resultados |
Análise de erros de prescrição em um Hospital da região sul do Brasil | Jacobsen et al., 7 | 2015 | Analisar os erros de prescrição em um hospital da região sul do Brasil. | Estudo transversal. | Dois mil seiscentos e oitenta e sete prescrições, | SCIELO | Foram detectados os seguintes erros: posologia incompleta na maioria, ausência de forma farmacêutica, presença de abreviaturas, ausência de idade, ausência de concentração, ausência do carimbo do profissional, ausência de leito, presença de código, siglas ou número, ilegibilidade, ausência do número de inscrição no Conselho profissional, presença de rasuras, nome incompleto do paciente, ausência de data, ausência de via de administração e ausência de assinatura do profissional. |
Fatores de risco para erros de medicação na prescrição eletrônica e manual | Volpe et al.,2 | 2016 | comparar as prescrições eletrônicas e manuais de um hospital público do Distrito Federal, identificando os fatores de risco para ocorrência de erros de medicação | Estudo descritivo-exploratório, | Cento e noventa prontuários manuais e 199 eletrônicos, com 2027 prescrições cada | LILACS | Na comparação com a prescrição manual, observou-se redução significativa dos fatores de risco após implantação da eletrônica, em itens como “falta da forma de diluição” (71,1% e 22,3%) e “prescrição com nome comercial” (99,5%/31,5%), respectivamente. Por outro lado, os fatores de risco “não checar” e “falta de CRM do prescritor” aumentaram. A ausência de registro de alergia e as ocorrências em relação aos medicamentos são equivalentes para os dois grupos. Evidenciou-se ainda nas prescrições médicas a falta de apresentação, via, diluição, frequência, presença de prescrição com nome comercial e siglas e abreviaturas inapropriadas. |
Avaliação de prescrições e análise da ocorrência de interações medicamentosas | Carvalho et al., 9 | 2016 | Verificar a adequação das prescrições hospitalares quanto aos aspectos técnicos e legais, avaliando o perfil das interações medicamentosas clinicamente relevantes, em prescrições médicas de pacientes internados em um hospital escola do interior do Estado de São Paulo. | Estudo retrospectivo | Duzentos prontuários | MEDLINE | A maior parte das prescrições que foram avaliadas apresentou não conformidade para a dispensação correta de fármacos. Os principais erros destacados pelos autores foram: ilegibilidade (15,48%), medicamentos com nomes comerciais (82,58%), não constava nas prescrições a via de administração (6,45%), não havia a correta informação sobre a posologia (5,16%) e as dosagens dos fármacos (0,64%). |
Erros no processo de medicação: proposta de uma estratégia educativa baseada nos erros notificados | Menegueti et al., 10 | 2017 | Caracterizar os erros no processo de medicação notificados por meio do sistema eletrônico de um hospital geral de grande porte e propor uma estratégia educativa e problematizadora com o intuito de minimizar a ocorrência deste tipo de evento adverso | Estudo descritivo | Duzentos e dezoito notificações de eventos adversos caracterizados como erros ou quase erros no processo de medicação. | LILACS | Os eventos adversos foram, em sua maioria, erros de prescrição, dentre eles temos: erros na dosagem prescrita do medicamento, via de administração, paciente errado, apresentação do medicamento prescrita ou cadastrada incorretamente, atraso na dispensação, medicamento prescrito em duplicidade, |
Taxas de erro de prescrição e dispensação de um hospital publico especializado em urgência e trauma | Oliveira et al. 11 | 2018 | Estimar a prevalência de erros de prescrição e dispensação, bem como verificar os tipos de erros mais frequentes em Hospital especializado em Urgência e Trauma. | Estudo transversal | Mil oitocentos e noventa e sete prescrições | SCIELO | Os erros de prescrição mais frequentes foram omissão de diluente (40,00%) e omissão do volume de diluição (34,00%) os quais, cumulativamente, respondem por cerca de 80,00% desses erros. |
Erros de medicação em unidades de pronto atendimento: prontuário eletrônico, barreira eficaz? | Vaidotas et al. 12 | 2019 | Comparar os erros de medicações de duas unidades de pronto atendimento | Estudo transversal | Foram analisados os prontuários (a quantidade não foi especificada), de duas unidades de saúde | SCIELO | Houve mais erros de medicações nas unidades com prontuário convencional. Os principais foram: Medicamento errado, Dose errada, Concentração errada e Medicamento contraindicado para o paciente. |
Erro de medicação: concepções e Conduta da equipe de enfermagem | Siman et al., 13 | 2021 | Compreender concepções e condutas da equipe de enfermagem frente ao erro de medicação na clínica médica. | Estudo de abordagem qualitativa, descritivo | Dezessete enfermeiros do sexo feminino e 2 do sexo masculino; apresentando idade entre 23 a 53 anos. | LILACS | Os tipos de erros apontados nos depoimentos dos participantes foram relacionados: omissão de dose, dose imprópria, concentração errada, medicamento errado, formulação da dose errada, via errada de administração, velocidade errada, duração errada, horário errado, paciente errado e administração de medicamentos deteriorados |
Fonte: Pesquisadora, 2023.
A prescrição medicamentosa é destinada exclusivamente ao paciente; ela pode ser definida como sendo um documento preparado por um profissional legalmente habilitado, contendo informações farmacoterapêuticas específicas, sobre um determinado medicamento que será dispensado. Tem sido bastante observado nos hospitais a necessidade urgente desses documentos serem padronizados e devidamente avaliados em relação a sua qualidade, com o intuito de evitar possíveis falhas. 14
Os principais erros de prescrição encontrados nesta revisão estão distribuídos na Tabela 1. Os de maior evidência foram: ausência da via de administração (n=04/57,1%), dosagens erradas (n=04/57,1%), medicamentos errados (n=03/42,8%), concentração erradas (n=03/42,8%), presença de prescrição com nome comercial, siglas, abreviaturas inapropriadas, códigos ou números (n=03/42,8%) e nome incompleto do paciente (n=03/42,8%).
Tabela 01: Principais erros de prescrição encontrados nos artigos selecionados.
Principais erros de prescrição | Autores | N | % |
Ausência da via de administração | Jacobsen et al.7, Carvalho et al.9, Menegueti et al.10,Siman et al.13, | 04 | 57,1% |
Dosagens erradas | Carvalho et al. 9, Siman et al. 13 Vaidotas et al. Menegueti et al. 10 | 04 | 57,1% |
Medicamento errado | Siman et al. 13 Menegueti et al. 10 Vaidotas et al.12 | 03 | 42,8% |
Nome incompleto do paciente | Siman et al. 13 Menegueti et al. 10 Jacobsen et al. 7 | 03 | 42,8% |
Concentração errada | Jacobsen et al. 7,Vaidotas et al.12, Siman et al. 13 | 03 | 42,8% |
Presença de prescrição com nome comercial, siglas, abreviaturas inapropriadas, códigos ou números | Volpe et al., 2 Jacobsen et al. 7,Carvalho et al. 9 | 03 | 42,8% |
Posologia incorreta ou incompleta | Jacobsen et al. 7,Carvalho et al.9 | 02 | 28,5% |
Ilegibilidade e as dosagens dos fármacos | Jacobsen et al. 7, Carvalho et al.9 | 02 | 28,5% |
Duplicidade de medicamento | Menegueti et al. 10 | 01 | 14,2% |
Duração errada | Siman et al. 13 | 01 | 14,2% |
Omissão de dose | Siman et al. 13 | 01 | 14,2% |
Ausência de forma farmacêutica | Jacobsen et al. 7 | 01 | 14,2% |
Ausência da idade do paciente | Jacobsen et al. 7 | 01 | 14,2% |
Ausência do carimbo do profissional ou o número de inscrição no Conselho profissional ou ainda sua assinatura | Jacobsen et al. 7 | 01 | 14,2% |
Presença de rasuras | Jacobsen et al. 7 | 01 | 14,2% |
Ausência de data | Jacobsen et al. 7 | 01 | 14,2% |
Medicamento contraindicado para o paciente | Vaidotas et al.12 | 01 | 14,2% |
Omissão de diluente e do volume de diluição | Oliveira et al. 11 | 01 | 14,2% |
Fonte: Pesquisadora, 2023.
Conforme os dados apresentados nesta pesquisa, observou-se o fato de que os erros de medicação podem ocorrer nas mais diversas unidades hospitalares, sendo esse um problema desafiador para os órgãos de saúde. Esse assunto tem causado uma série de preocupações a nível global, devido a possibilidade de danos aos pacientes. Por esse motivo, se faz necessário adquirir conhecimento a respeito das tecnologias que visam melhorar o sistema e as práticas de medicação, prevenindo assim a ocorrência desses erros. 15
É alegado por Moura et al.16 a complexidade dos estudos sobre erros de prescrição, pois todos envolvem diversas particularidades (os próprios pacientes, as condições estruturais dos hospitais, as experiências dos profissionais envolvidos sobre os erros mais comuns etc.). Deste modo é imprescindível que os pontos frágeis nesse processo venham ser identificados previamente, para que medidas preventivas possam ser aplicadas, com o propósito de garantir uma maior segurança ao paciente.
Nessa pesquisa, os erros de prescrição relacionado a via de administração foi o resultado de maior destaque encontrado nessa pesquisa, resultado esse que corrobora com o apresentado por Gimenes17. A administração correta de um fármaco tem como principal objetivo oferecer uma assistência de qualidade ao paciente, com segurança e eficácia. Entretanto, nas últimas décadas, milhares de pacientes morreram ou sofreram danos graves por conta do uso de medicamentos que deveriam lhes fazer bem. Esses erros de medicação estão entre os principais eventos causadores de danos a pacientes em todo o mundo. 18
Esse estudo pode demonstrar que as vezes os médicos podem cometer erros ao receitar os medicamentos, especialmente entre grupos de pessoas de risco (crianças, idosos e gestantes). Esses erros podem estar relacionados tanto ao medicamento prescrito, quando as suas dosagens, concentração posologia etc. os principais riscos desse tipo de erro, são as interações medicamentosas, nas quais um fármaco pode aumentar ou diminuir os efeitos de outro medicamento.19
Segundo Jacobsen et al.7 os erros de prescrição têm sido nos últimos anos uma enorme fonte de preocupação para as unidades de saúde. É apontado pela literatura a existência de fatores individuais e ambientais (iluminação, barulho entre ouros), que lamentavelmente acabam contribuindo para a ocorrência dessas erroneidades. Os principais fatores encontrados nesse estudo, para a ocorrência de erros de prescrição no âmbito hospitalar foram: prescrições manuais (n=04/57,1%); falta de preparo e de conhecimento dos profissionais (n=01/14,2%), estresse (n=01/14,2%), sobrecarga de trabalho (n=01/14,2%) e falha na comunicação (n=01/14,2%).
Tabela 02: Principais fatores de risco para a ocorrência de erros de prescrição no âmbito hospitalar.
Principais fatores de risco para a ocorrência de erros | Autores | N | % |
Prescrições manuais | Volpe et al.2,Oliveira et al.11, Vaidotas et al.12 Siman et al. 13 | 04 | 57,1% |
Falta de preparo e de conhecimento dos profissionais | Siman et al. 13 | 01 | 14,2% |
Estresse | Siman et al. 13 | 01 | 14,2% |
Sobrecarga de trabalho | Siman et al. 13 | 01 | 14,2% |
Falha na comunicação | Siman et al. 13 | 01 | 14,2% |
Fonte: Pesquisadora, 2023.
Dentre os principais aspectos que mais potencializam a ocorrência dos erros de prescrição nos hospitais, o sistema de prescrição manual foi o mais mencionado pelos autores. Sobre este assunto, Bohomol e Ramos20 pontuam que uma grande parte das instituições hospitalares, possui profissionais que reclamam da caligrafia dos médicos, apresentando dificuldade para ler ou compreender as prescrições manuais.
No referente a letra ilegível em prescrições, uma pesquisa brasileira constatou que 43,8% dos profissionais reclamam da caligrafia ilegível dos médicos. Outros motivos que justificam a ocorrências desses erros são: falta de preparo e de conhecimento dos profissionais, estresse gerado no ambiente de trabalho, sobrecarga de trabalho, procedimentos inseguros, devido ao cansaço e privação do sono falha, na comunicação da equipe multidisciplinar, dupla jornada de trabalho, todos esses fatores tornam os profissionais de saúde mais vulneráveis.13
Outro fator que aumenta a possibilidade da ocorrência de erros de prescrição nos hospitais, detectado pela pesquisadora no decorrer desta pesquisa, foi o limitado conhecimento por parte dos prescritores. Este é um assunto delicado a se tratar; já que os próprios profissionais da área da saúde acabam não sabendo lidar muito bem com o erro humano, isso acontece pelo fato deles serem ensinados, que os erros são inadmissíveis pois estão acolhendo vidas.20
De acordo com Volpe et al.2 e Vaidotas et al.12 a prescrição eletrônica é uma das principais medidas para prevenção de erros de medicação. Porém, vale a pena mencionar, que a tecnologia de nenhum modo substituirá a atuação dos profissionais de saúde (médicos e farmacêuticos), no entanto, a prestabilidade das prescrições digitadas mencionadas pelos estudiosos, está relacionada as suas vantagens, como por exemplo: a facilidade para leitura (são bem mais legíveis), e o fato delas serem livres de rasuras, pois os erros de digitação podem ser corrigidos.21,22
No entanto, existe algumas desvantagens associadas a prescrição eletrônica, afinal de contas, tratar-se de um projeto complexo, de alto custo, que restringe o número de instituições que o adotam, e ainda apresenta algumas falhas, que podem impactar negativamente a segurança do paciente, ainda que ocorram em menores proporções, algumas delas são: sem revisão, repetição de prescrições de dias anteriores e informações digitadas de forma incorreta. 23, 24, 25
De acordo com Oliveira et al.11 a tecnologia da informação, ao mesmo tempo em que pode reduzir a ocorrência de determinados erros, também pode gerar novos tipos, um importante exemplo é caso o sistema de prescrição eletrônica não seja bem modelado, com requisitos funcionais e restrições bem definidas, para alcançar os objetivos e satisfazer as necessidades dos serviços de saúde. Portanto, politicas institucionais sobre prescrições seguras devem ser bem definidas nos hospitais, no intuito de abolir praticas inadequadas que de alguma forma comprometam a segurança do paciente e a comunicação entre os diversos profissionais envolvidos no processo de medicação.
Segundo Jacobsen et al.7 a atuação do farmacêutico é extremamente importante para a prevenção de erros de prescrição, pois este profissional devido a sua bagagem de conhecimento é quem está mais capacitado para analisar as prescrições antes dos medicamentos serem distribuídos. Desta forma, o farmacêutico pode contribuir para o uso racional de medicamentos, reduzindo falhas e eventos adversos relacionados aos medicamentos prescritos, de modo a proporcionar uma maior qualidade assistencial, além da diminuição de custos.
Outros métodos que podem ser utilizados para a prevenção dessas falhas, estão relacionados a ações educativas (treinamento e capacitação da equipe multidisciplinar). Aqui entra em destaque a imprescindível atuação do farmacêutico hospitalar, pois é ele quem promove a qualidade, segurança e eficácia dos tratamentos farmacológicos, devido ao seu conhecimento farmacoterapêutico. Ele possui a significante tarefa de aplacar os possíveis danos aos pacientes, garantindo assim, o uso seguro e racional dos medicamentos, alertando e prevenindo sobre os erros de medicação. 7, 16, 26
De acordo com Maia et al., 27 e Duarte et al.28 o farmacêutico é o profissional que atuará nas diversas fases do processo de dispensação e monitoramento farmacoterapêutico, fazendo a prevenção de riscos. Por esta razão é importante a sua inclusão na equipe de cuidado a saúde, a fim de diminuir os erros na administração e dispensação de medicamentos, evitando desse modo, que o paciente possa vir a óbito.
04 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após a realização deste estudo foi possível concluir que no ambiente hospitalar, o uso de medicamentos requer cuidados intensivos e uma minuciosa observação por parte das equipes de saúde, especialmente se tratando das análises de prescrições, para que futuros erros possam ser evitados.
Os principais erros de prescrição encontrados nessa pesquisa foram: via errada de administração/ausência dela, nome incompleto do paciente, medicamentos e dosagens erradas, entre outras. Enquanto as prescrições manuais, falta de preparo e de conhecimento dos profissionais, estresse, sobrecarga de trabalho e falha na comunicação, foram os principais fatores de risco para a ocorrência desses erros de prescrição.
Esse monitoramento é essencial, sobretudo na promoção do uso racional de medicamentos, dito isto, o profissional mais indicado para exercer esta tarefa é o farmacêutico hospitalar, profissional devidamente capacitado para analisar as prescrições antes dos medicamentos serem distribuídos, prevenindo assim a ocorrência de riscos ao paciente.
Apesar desse assunto ser bastante delicado, ainda assim, ele precisa ser debatido, afinal de contas, as erroneidades nas prescrições estão se tornando cada vez mais comuns nos hospitais. Assim, para proporcionar uma maior qualidade assistencial, os profissionais da saúde atuantes nos hospitais, precisam ser treinados e devidamente capacitados, somente assim, a probabilidade de falhas será reduzida
REFERÊNCIAS
1. Silva SDJ, Almeida, Fernandes PHR, Perini, E Pádua, Rosa CLMB, Silveira G. Erros de prescrição e administração envolvendo um medicamento potencialmente perigoso. Rev. enferm UFPE on line: Recife, 11(10):3707-17, out., 2017
2. Volpe CRG, Melo EMM, Aguiar LB, Pinho DLM, Stival MM. Fatores de risco para erros de medicação na prescrição eletrônica e manual. Rev. Latino-Am. Enfermagem: 2016; 24:e2742.
3. Vilela RPB, Pompeo DA, Jericó MC, Werneck AL. Custo do erro de medicação e eventos adversos à medicação na cadeia medicamentosa: uma revisão integrativa. J Bras Econ Saúde: 2018; p. 179-189.
4. Passos FSG, Silva MGC. Medicamentos potencialmente perigosos em uma unidade de internamento hospitalar. Fortaleza: 2017; Dissertação; Universidade Estadual do Ceará; p. 110.
5. Pinto LH, Souza H, Carneiro TK. Avaliação da frequência de interações medicamentosas ocorridas com pacientes internados em clínica cirúrgica em um hospital público de Joinville. Vol. XII (2),16–29, 2015.
6. Rêgo MM, Comarella L. O papel da análise farmacêutica da prescrição médica hospitalar. Caderno Saúde e Desenvolvimento: vol.7; nº 4; jan/jun 2015.
7. Jacobsen TF, Mussi MM, Marysabel PTS. Análise de erros de prescrição em um hospital da região Sul do Brasil. Rev. Bras. Farm. Hosp. Serv. Saúde: São Paulo; vol.6; nº 3; 23-26 jul./set. 2015
8. Oliveira SC, Santos AS, Leite ICG. Avaliação da qualidade das prescrições médicas da farmácia municipal de Catalão – Goiás. Rev Med Minas Gerais: 2015; p. 556-561
9. Carvalho BM, Morandi MS, Parro MC, Moreno AH. Avaliação de prescrições e análise da ocorrência de interações medicamentosas. Rev. Cuid. Arte Enfermagem: 2016.
10. Menegueti MG, Garbin LM, Oliveira MP, Shimura CMN, Guilherme C, Rodrigues RAP. Erros no processo de medicação: proposta de uma estratégia educativa baseada nos erros notificados. Recife: Rev. enferm UFPE; maio; 2017.
11. Oliveira ST, Farias PO, Drummond BM, Rodrigues LB, Reis PG, Souza LO, et al. Taxas de erro de prescrição e dispensação de um hospital público especializado em urgência e trauma. Rev. Med Minas Gerais: 2018.
12. Vaidotas M, Yokota PKO, Negrini NMM, Leiderman DBD, Souza VP, Santos OFP, Woloske N. Erros de medicação em unidades de pronto atendimento: prontuário eletrônico, barreira eficaz?. São Paulo: Rev. Einstein; 2019; p. 1-5.
13. Siman AG, Tavares ATDVB; Amaro MOF; Carvalho, CA. Erro de medicação: concepções e conduta da equipe de enfermagem. Rev. J. res.: fundam. Care.: jan/dez; 2021.
14. Lima TAM, Gouveia MIS, Pereira LLV, Godoy MF. Erros de prescrições médicas em drogaria. Rev. Infarma Ciências Farmacêuticas. 2016.
15. Vilela RPB, Jericó MC. Implantação de tecnologias para prevenção de erros de medicação em hospital de alta complexidade: análise de custos e resultados. São Paulo: Rev. Einstein; 2019; p. 1-7.
16. Moura SNC, Filha LMVM, Ribeiro AC. Análise de erros nas prescrições médicas em uma unidade de pronto atendimento do município de Juiz de Fora – MG. Revista Escola de Ciências Médicas de Volta Redonda: 2018.
17. Gimenes FRE, Marques TC, Teixeira TCA, Mota MLS, Silva AEBC, Cassiani SHB. Administração de medicamentos, em vias diferentes das prescritas, relacionada à prescrição médica. Rev Latino-Am Enfermagem: 2011; p. 11-7.
18. Brasil. Segurança do Paciente: prescrição, uso e administração de medicamentos. Governo do distrito federal secretaria de estado de saúde. 2019
19. Lynch SS. Erros de medicamento. University of California San Francisco School of Pharmacy 2022
20. Bohomol E, Ramos LH. Erro de medicação: importância da notificação no gerenciamento da segurança do paciente. Rev Bras Enferm.: 2007
21. Vilela RPB, Jericó MC. Medication errors: management of the medication error indicator toward a more safety nursing practice. Rev. J. Nursing: UFPE; vol. 10; nº 1; p. 228-231; 2016.
22. Abreu DPG, Santos SSC, Silva BT, Ilha S. Responsabilidades éticas e legais do enfermeiro em relação à administração de medicamentos para pessoas idosas. Rev. Enferm. Cent.-Oeste Min: vol. 5; nº 3; p. 1905 – 1914; 2015.
23. Nuckols TK, Asch SM, Patel V, Keeler E, Anderson L, Buntin MB et al. Implementing Computerized Provider Order Entry in Acute Care Hospitals in the United States Could Generate Substantial Savings to Society. Rev. Jt Comm J Qual Patient Saf. 2015; p. 341-1.
24. Gimenes FRE, Marques TC, Teixeira TCA, Mota MLS, Silva AEBC, Cassiani SHB. Medication Wrong-Route Administrations in Relation to Medical Prescriptions. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2011; p. 11-7.
25. Gimenes FRE, Teixeira TCA, Silva AEBC, Optiz SP, Mota MLSM, Cassiani SHB. Influência da redação da prescrição médica na administração de medicamentos em horários diferentes do prescrito. Acta Paul Enferm. 2009; p. 380-4.]]
26. Santi t, Beck CLC, Silva RM, Zeitoune RG, Tonel JZ, Reis DAM. Erro de medicação em um hospital universitário: percepção e fatores relacionados. Rev. Enfermería Global: nº 35; Jul.; 2014.
27. Maia JLB, Batista RFL, Rosa MB, Silva JFM, Carneiro S. Fatores associados a erros de dispensação de medicamentos: contribuição à melhoria de sistemas de medicação. Rio de Janeiro: Rev. enferm UERJ; 2019.
28. Duarte JF, Souza FAF, Andrade JM, Carvalho PMM. Avaliação dos Erros de Prescrições da Lista B1 da Portaria 344/98, em uma Farmácia Comunitária no Interior do Estado do Ceará. Rev. Mult. Psic: vol.14; nº 51; p. 451-466; Julho; 2020.