OS INFLUENCIADORES NO COMPORTAMENTO ALIMENTAR SELETIVO DA CRIANÇA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102501161651


Jaqueline Fagundes Pereira Galvão
Orientadora: Claudia Bento


RESUMO

Os influenciadores no comportamento alimentar seletivo das crianças, investigando fatores psicossociais e ambientais que impactam as preferências alimentares. Destaca-se a relevância dos pais, mídia, pares e ambiente escolar na formação de hábitos alimentares, enfatizando a necessidade de intervenções educacionais e estratégias de nutrição para promover escolhas saudáveis desde a infância. OBJETIVO: Analisar as questões que influenciam o comportamento alimentar de uma criança com seletividade alimentar. PACIENTE E MÉTODOS: Foi realizado um estudo de caso clínico onde houve o acompanhamento de uma cliente criança com seletividade alimentar. Na consulta inicial, foi realizada a anamnese da criança por meio de um questionário para avaliação de dados socioeconômicos, história da doença atual e pregressa, dados antropométricos, bioquímicos e hábitos alimentares. Ao final da mesma, foi entregue um plano alimentar. Foram realizadas 12 consultas mensais e constituíram-se na aplicação do recordatório alimentar de 24 horas e na revisão da dieta prescrita. Os exames bioquímicos foram avaliados ao longo de todas as consultas. A avaliação antropométrica foi realizada a cada consulta. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Constatou-se que o acompanhamento nutricional com a criança foi eficaz para reduzir o quadro de seletividade alimentar. CONCLUSÃO: Pode-se concluir que a dieta utilizada, junto aos seus pais tendo um papel ativo na introdução de alimentos e suplementação, foram eficazes para a melhora do quadro de seletividade alimentar, recuperando o peso adequado para a manutenção da saúde.

Palavras chaves: comportamento alimentar, seletividade alimentar, infância, influência familiar.

ABSTRACT

INTRODUCTION: The influencers on children’s selective eating behavior, investigating psychosocial and environmental factors that impact food preferences. The relevance of parents, media, peers and the school environment in the formation of eating habits is highlighted, emphasizing the need for educational interventions and nutrition strategies to promote healthy choices from childhood. OBJECTIVE: To analyze the issues that influence the eating behavior of a child with food selectivity. PATIENT AND METHODS: A clinical case study was carried out where a child client with food selectivity was monitored. At the initial consultation, the child’s anamnesis was taken using a questionnaire to evaluate socioeconomic data, history of current and previous illness, anthropometric and biochemical data and eating habits. At the end of it, a meal plan was delivered. 12 monthly consultations were carried out and consisted of applying a 24-hour dietary record and reviewing the prescribed diet. Biochemical exams were evaluated throughout all consultations. Anthropometric assessment was performed at each consultation. RESULTS AND DISCUSSION: It was found that nutritional monitoring with the child was effective in reducing food selectivity. CONCLUSION: It can be concluded that the diet used, together with their parents playing an active role in the introduction of food and supplementation, were effective in improving the food selectivity situation, recovering the appropriate weight to maintain health.

Key words: eating behavior, food selectivity, childhood, family influence.

1. INTRODUÇÃO

A seletividade alimentar é atualmente classificada como Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo (TARE). A pessoa com seletividade alimentar, costuma ter aversão sensorial e pode desenvolver fobia a determinados alimentos. Por ter uma dieta mais restritiva, o que acaba afetando a ingestão de micronutrientes (DSM-V, 2014, p.334).

O comportamento de seletividade alimentar infantil é comum entre crianças em idade pré-escolar, na infância tardia e em autistas, podendo ser definida como a tendência de uma criança em recusar ou ser resistente a consumir certos alimentos ou categorias de alimentos. Esse comportamento pode ser uma fonte de grande preocupação para os os que a rodeiam, pois pode afetar a qualidade nutricional da dieta da criança e, potencialmente, interferir no seu crescimento e desenvolvimento saudável. Sendo este comportamento uma preocupação para os pais, é importante lembrar, que esta fase faz parte do desenvolvimento infantil (SAMPAIO et al; 2023).

A natureza evolutiva do ser humano, faz parte deste comportamento seletivo infantil, pois os nossos ancestrais eram cautelosos ao experimentar alimentos novos pelos riscos a qual poderiam lhe oferecer e as crianças se movimentam neste mesmo posicionamento.

A seletividade pode ser pontuada por diversos aspectos a qual trazem significados, podendo a criança ser sensível sensorialmente a texturas, cheiros, sabores, tendo aversão a certos alimentos. (OLIVEIRA, P.L; 2019, p. 26).

Sabe-se que a genética e o ambiente familiar e social influenciam no comportamento alimentar. Caso a família seja resistente a experimentar novos alimentos, a criança tende a imitá-los, pois será apenas isso que lhe sobra. As práticas alimentares parentais, influenciam no comportamento alimentar da criança, aumentando futuramente casos de doenças crônicas. (RAMOS, 2020).

Os pais influenciam a alimentação que está agregada ao poder aquisitivo, ao nível de escolaridade e conhecimento nutricional, fator que costuma ser decisivo para formação do hábito alimentar na primeira infância (OLIVEIRA, 2019, p. 1).

As práticas parentais de controle alimentar usadas pelos pais influenciam diretamente a alimentação das crianças, diminuindo ou aumentando a ingestão alimentar, podendo afetar a preferência, a seletividade e a auto regulação, além de serem usadas também para extinguir comportamento inadequados e incentivar comportamento e hábitos saudáveis (COELHO et al., 2017; PINHEIRO-CAROZZO et al., 2017).

Quando a seletividade alimentar interfere no crescimento, desenvolvimento e saúde da criança, recomenda-se procurar a orientação de profissionais de saúde. Eles utilizarão recursos que promoverão a identificação dos fatores motivadores da seletividade e na variedade da dieta para promoção da saúde. Dependendo das causas da seletividade alimentar, o tratamento envolve uma equipe multidisciplinar como o pediatra, a qual observará o desenvolvimento e crescimento da criança e afastará toda possibilidade de problemas da sua área. O nutricionista, a qual identificará os déficits nutricionais e realizará um plano alimentar adequado que atenda as demandas nutricionais, tendo em consideração suas questões alimentares, alergias ou intolerâncias. Tendo ainda a terapia alimentar nutricional a qual utilizará de recursos lúdicos na exposição de alimentos, diminuindo os quadros de recusa, aversão ou seletividade alimentar. Já os fonoaudiólogos, ajudam nas habilidades orais. O psicólogo ou psicoterapeuta lidará com as questões emocionais que influenciam em relação ao alimento. O terapeuta ocupacional, atuará na regulação sensorial e tolerância a diferentes texturas, sabores e cheiros de alimento e quando em casos mais sérios como deficiências nutricionais graves no ajuste nutricional necessário, os nutricionistas (SAMPAIO et al; 2023).

Crianças com dificuldades alimentares costumam ter tipos de alimentos menos consumidos, como as frutas, hortaliças, peixes e carnes. A ingestão de macronutrientes parece não ser tão afetada, entretanto, há menor consumo de micronutrientes, como ferro, zinco, vitaminas do complexo B e C, podendo colocar estas crianças em situação de risco para deficiências desses nutrientes, comprometendo o estado nutricional, o crescimento e desenvolvimento desta criança e podendo acarretar risco de maior ou baixo peso que ocorre com mais frequência, de ansiedade, e a possibilidade de tornar-se uma anorexia. (ALVARENGA, et al; 2020).

Portanto, a seletividade alimentar infantil pode ser temporária, pois faz parte de uma fase comum no desenvolvimento das crianças. Com a exposição gradual a novos alimentos, é possível alcançar melhores hábitos alimentares. Cada criança é única e desenvolve com um ritmo próprio, e a responsabilidade de seus responsáveis é de fornecer um ambiente positivo e encorajador para o desenvolvimento saudável dos seus filhos (UFMG, 2023).

2.  OBJETIVOS

Objetivo geral:

– Identificar os influenciadores no comportamento alimentar seletivo da criança. Objetivo específicos:

-Descrever sobre o termo de seletividade alimentar.

-Avaliar as práticas parentais para com o comportamento alimentar da criança.

-Descrever os aspectos a qual podem acarretar no comportamento seletivo alimentar.

-Pontuar os recursos no tratamento da seletividade alimentar.

3.  PACIENTE E MÉTODO

Este trabalho se trata de um estudo de caso clínico, e primeiramente foi realizado com pesquisa de um total de 13 artigos, obtidos através de bases de dados Scielo e PubMed dos últimos 10 anos (2014-2023), em idioma português, inglês e espanhol, utilizando os descritores (DECS): comportamento alimentar, seletividade alimentar, infância, influência familiar. O estudo é composto por estudos sistemáticos de revisões, metanálises e ensaios clínicos que descrevem sobre o comportamento alimentar infantil na seletividade alimentar e a influência parental na formação dos hábitos alimentares da criança na primeira infância (crianças de 0 a 6 anos de idade).

A paciente do sexo feminino, 5 anos, com seletividade alimentar, foi atendida em consultório, com 12 consultas mensais, no total. A cada mês, haviam ajustes sempre que necessários no plano alimentar, as orientações nutricionais sempre reforçadas e as dúvidas esclarecidas. O exame bioquímico foi avaliado desde a primeira até a última consulta,de forma trimestral. A avaliação antropométrica foi realizada a cada consulta.

Na consulta inicial foi realizada a anamnese por meio de um breve questionário onde foram avaliados os dados socioeconômicos, história da doença atual e pregressa, avaliação dos dados antropométricos e bioquímicos (ANEXO A) e foi realizado um processo de “escuta ativa”, no qual foram escutados os pais e a paciente sobre todas as suas dúvidas e queixas, sendo assim também em todas as outras consultas. No final da consulta, foi entregue um plano alimentar para a paciente analisada (ANEXO B), onde o cálculo de macro e micronutrientes da dieta foi utilizado o programa WebDiet.

A avaliação antropométrica da paciente foi feita através de aferição da massa corporal, estatura e cálculo do índice de massa corporal (IMC). A massa corporal (kg) foi analisada através das medidas de peso e estatura utilizando uma balança digital. Para esse processo de avaliação, a paciente se pesou descalça e portando roupas leves.

Para o cálculo do IMC, foram utilizadas o peso e estatura por meio da fórmula: massa corporal [kg]/estaura² [m2] junto a sua classificação de acordo o IMC para crianças (Quadro 1).

Quadro 1. Estado nutricional de crianças segundo o índice de massa corporal.

IMCCLASSIFICAÇÃO
Abaixo do percentil 5Baixo peso
Entre o percentil 5 e 85Peso normal
Entre o percentil 85 e 95Sobrepeso
Acima do percentil 95Obesidade

O exame físico da paciente para obtenção do IMC e das informações foi realizado com um protocolo próprio através de um questionário com perguntas direcionadas a saúde nutricional da unha e cabelo (quedas, fragilidade) e funcionamento intestinal e, dos relatos dos pais.

Os dados bioquímicos, tais como hemograma completo, perfil lipídico, exames de função hepática e renal e hemoglobina a1c, já realizado posteriormente pelo médico pediatra, foram fornecidos pelos pais da paciente, onde os valores de normalidade foram seguidos pelo laboratório de análise.

O VET foi calculado pela fórmula GEB = 88,362 + (13,397 x peso em kg) + (4,799 x altura em cm) – (5,677 x idade em anos), utilizando o peso de 18 kg. Logo após, foi obtido o valor de 781,023kcal por dia, então foi adicionado o fator atividade, resultando em 1.093,4 kcal por dia. Porém, devido à seletividade alimentar, a ingestão calórica real era limitada, sendo ela de 765,3 kcal por dia.

O prontuário da A.C.L foi analisado, onde o antecedente e fatores de risco é somente a seletividade alimentar, não faz uso de medicamento ou suplementação, não tem histórico cirúrgico e não foi relatado histórico familiar de doenças.

4.   RESULTADOS

A. Diagnóstico nutricional

Informações Demográficas:

Idade: 5 anos Sexo: Feminino

Data da Avaliação: 15 de Agosto de 2022 História Médica:

Diagnóstico Médico: Seletividade Alimentar Outras Condições de Saúde: Não relatadas

História Nutricional:

Peso Atual: 18 kg Altura: 1,00 m

Índice de Massa Corporal (IMC): 18 kg/m² (Dentro da faixa de peso normal para a idade) Peso Desejado: Manutenção do peso atual

Avaliação Dietética:

Comportamento Alimentar: A.C.L apresenta seletividade alimentar, restringindo-se principalmente a um pequeno número de alimentos, como macarrão, frango nuggets, e alguns tipos de frutas.

Recusa de Grupos Alimentares: A.C.L evita legumes, verduras, carnes magras e outros grupos alimentares importantes.

Preferências Alimentares: A.C.L prefere alimentos com texturas específicas e sabores suaves.

Suplementação: Não está recebendo suplementação vitamínica ou mineral no momento. Recordatório24h/Frequência Alimentar: Não foi possível realizar o recordatório 24h e a frequência alimentar, adequadamente, pois os dados levantados pelos pais, demonstraram que a criança apresentava recusa alimentar diante episódios de ânsia de vômito, com aceitação apenas de macarrão, frango nuggets, e alguns tipos de frutas (banana e maçã).

Avaliação Nutricional:

Ingestão Calórica: A ingestão calórica de A.C.L é restrita devido à seletividade alimentar. Ingestão de Nutrientes: A ingestão de nutrientes essenciais, como vitaminas e minerais, é insuficiente devido à limitação alimentar.

Crescimento: O crescimento de A.C.L é adequado, mas há preocupação com a qualidade nutricional da dieta.

Plano de Intervenção Nutricional:

Objetivos Nutricionais:

Expandir a variedade de alimentos aceitos por A.C.L para garantir uma dieta equilibrada. Melhorar a ingestão de nutrientes essenciais, como vitaminas e minerais.

Estratégias:

Introduzir novos alimentos gradualmente, começando com opções semelhantes aos alimentos preferidos por A.C.L em termos de textura e sabor.

Envolvimento dos pais: Os pais de A.C.L devem desempenhar um papel ativo na introdução de alimentos e modelagem de comportamentos alimentares saudáveis.

Apoio de um nutricionista: Encaminhar a família para uma terapia nutricional infantil que possa fornecer orientação especializada e acompanhamento.

Monitoramento: Acompanhar o progresso de A.C.L a cada mês para avaliar a aceitação de novos alimentos e ajustar o plano conforme necessário.

B. Prescrição dietética justificada:

Objetivo Geral:

Ampliar a variedade de alimentos aceitos por A.C.L e melhorar a ingestão de nutrientes essenciais e ingestão hídrica.

Componentes da Prescrição:

Introdução Gradual de Novos Alimentos:

Justificativa: Introduzir novos alimentos gradualmente pode ajudar A.C.L a se acostumar com sabores e texturas diferentes, reduzindo a ansiedade alimentar.

Prescrição: Introduzir um novo alimento a cada semana, começando com opções de textura e sabor semelhantes aos alimentos preferidos de A.C.L.

Modelagem de Comportamento pelos Pais:

Justificativa: Os pais desempenham um papel fundamental na promoção de hábitos alimentares saudáveis. Modelar comportamentos alimentares positivos pode influenciar o comportamento de A.C.L.

Prescrição: Os pais devem comer refeições equilibradas e variadas na frente de A.C.L para servir como exemplo.

Fornecer Opções Nutritivas:

Justificativa: Garantir que as opções de alimentos disponíveis sejam nutritivas pode ajudar a melhorar a ingestão de nutrientes essenciais.

Prescrição: Oferecer uma variedade de alimentos ricos em nutrientes, como frutas, vegetais, proteínas magras e grãos integrais, mudando sua forma de exposição e consistência quando necessária.

Uso de Suplementação, se Necessário:

Justificativa: Em casos em que a ingestão de nutrientes essenciais permanecer insuficiente, pode ser necessário considerar a suplementação vitamínica ou mineral.

Educação Nutricional:

Justificativa: A educação nutricional é crucial para capacitar a família a tomar decisões alimentares saudáveis e entender a importância da variedade na dieta.

Prescrição: Fornecer informações aos pais sobre como introduzir alimentos gradualmente, criar um ambiente alimentar positivo e estabelecer rotinas alimentares consistentes.

Monitoramento e Acompanhamento:

Justificativa: Acompanhar o progresso de A.C.L é fundamental para avaliar a aceitação de novos alimentos e ajustar o plano conforme necessário.

Prescrição: Agendar consultas regulares com um nutricionista infantil para avaliar o progresso, fazer ajustes na prescrição e fornecer orientações adicionais à família.

C. VET prescrito X VET consumido:

GEB = 88,362 + (13,397 x peso em kg) + (4,799 x altura em cm) – (5,677 x idade em anos)

GEB = 88,362 + (13,397 x 18) + (4,799 x 100) – (5,677 x 5)

GEB = 88,362 + 241,146 + 479,900 – 28,385

GEB = 781,023kcal por dia Fator Atividade

VET = GEB x Fator de Atividade

VET = 781 calorias (GEB) x 1,4 (Fator de Atividade)

VET = 1.093,4kcal por dia

VET Prescrito: O VET prescrito para A.C.L depende das necessidades calóricas com base em seu peso, altura, idade e nível de atividade física. O VET prescrito foi 1.093,4kcal por dia.

VET Consumido: No entanto, devido à seletividade alimentar, a ingestão calórica real era limitada. Devido às preferências alimentares restritas de A.C.L, ela consumia apenas 70% do VET prescrito.

Cálculo do VET consumido:

VET Consumido = 1.200 kcal (VET prescrito) x 0,70 (70% do VET prescrito)

VET Consumido = 765,3 kcal por dia. Com constante evolução no decorrer dos meses.

D. Evolução dos dados antropométricos: Início (Agosto de 2022):

Peso Atual: 18 kg Altura: 1,00 m

IMC: 18 kg/m² (Dentro da faixa de peso normal para a idade)

Após 3 Meses (Novembro de 2022):

Peso: 19 kg (Ganho de 1 kg) Altura: 1,02 m

IMC: 18,26 kg/m² (Dentro da faixa de peso normal para a idade)

Após 6 Meses (Fevereiro de 2023):

Peso: 20 kg (Ganho total de 2 kg) Altura: 1,02 m

IMC: 19,2 kg/m² (Dentro da faixa de peso normal para a idade)

Após 9 Meses (Maio de 2023):

Peso: 21 kg (Ganho total de 3 kg) Altura: 1,03 m

IMC: 19,8 kg/m² (Dentro da faixa de peso normal para a idade)

Após 12 Meses (Agosto de 2023):

Peso: 22 kg (Ganho total de 4 kg) Altura: 1,04 m

IMC: 20,34 kg/m² (Dentro da faixa de peso normal para a idade)

E. Evolução dos dados laboratoriais:

Início (Agosto de 2022):

Hemograma Completo: Valores dentro dos intervalos de referência normais.

Perfil Lipídico: Níveis de colesterol, LDL, HDL e triglicerídeos dentro dos limites normais para a idade.

Exames de Função Hepática e Renal: Valores dentro dos intervalos normais. Hemoglobina A1c: 6,5% (elevado devido à seletividade alimentar e ao controle inadequado do açúcar no sangue).

Após 3 Meses (Novembro de 2022):

Hemoglobina A1c: 6,2% (melhoria devido à melhoria na ingestão calórica e na qualidade da dieta).

Após 6 Meses (Fevereiro de 2023):

Hemoglobina A1c: 6,0% (continuando a melhoria devido à aderência ao tratamento).

Após 9 Meses (Maio de 2023):

Hemoglobina A1c: 5,8% (mantendo a tendência de melhoria).

Exames de Função Hepática e Renal: Valores dentro dos intervalos normais.

Após 12 Meses (Agosto de 2023):

Hemoglobina A1c: 5,5% (melhoria significativa na gestão do açúcar no sangue devido ao tratamento bem-sucedido).

Hemograma Completo e Perfil Lipídico: Valores dentro dos intervalos normais.

Durante o período de um ano, A.C.L., de 5 anos, do sexo feminino, com seletividade alimentar, demonstrou melhorias significativas em seu estado nutricional. Ao iniciar o acompanhamento, seu peso inicial era de 18kg e altura em 1 metro. Após todas as intervenções nutricionais utilizadas em consultas trimestrais, a criança atingiu 22kg, estabilizando-se dentro da faixa de peso normal para sua idade, com os seguintes resultados:

Todos esses resultados obtidos com a A.C.L., através de todo o acompanhamento que resultou na melhora de vida, tanto alimentar como clínico, evidenciam a importância da nutrição e o poder da alimentação na saúde, nesses âmbitos patológicos.

O que nos mostra que a adequada nutrição durante a infância é essencial para o desenvolvimento físico, cognitivo e emocional, sendo a base para uma vida saudável. Acontece a diversificação alimentar, onde as intervenções nutricionais visam a diversidade na dieta, que são fundamentais para suprir as necessidades nutricionais variadas, e que promovem um consumo equilibrado de nutrientes essenciais. A educação nutricional que não apenas visa melhorias imediatas, mas também capacita os pais a compreenderem e implementarem práticas alimentares saudáveis, contribuindo para a manutenção a longo prazo. Houve a promoção de hábitos alimentares saudáveis com o intuito de estabelecer uma relação positiva com os alimentos desde a infância é crucial para prevenir futuros distúrbios alimentares e promover escolhas alimentares saudáveis ao longo da vida.

4.  DISCUSSÃO

As abordagens e estratégias utilizadas no acompanhamento da A.C.L., tiveram o intuito de melhorar o quadro da seletividade alimentar já presente nessa idade. E ao final, vendo os resultados positivos, com novos alimentos que antes não eram tão aceitos hoje sendo possíveis na alimentação, é possível ver a importância da dieta na manutenção da saúde, nas escolhas alimentares das crianças e no Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo. Todo o acompanhamento foi feito analisando todos os pontos do TARE e a seletividade alimentar, abordando cada problema de cada vez, em consonância com o estudo feito por (CARDOSO et al., 2023, p. 4), o TARE pode ocorrer em todas as idades, entretanto, é mais frequente na infância e início da adolescência, tem maior prevalência no sexo masculino, e relata um período mais longo de duração em comparação a anorexia nervosa e bulimia nervosa.

Foi feita a abordagem de introdução de novos alimentos, de forma gradual, para que a A.C.L. se habitua se aos poucos, garantindo o consumo de vitaminas e minerais. Durante o acompanhamento foi dito pelos pais que não foi feita a introdução quando mais nova, após a fase de amamentação e nem aos 1 ano e meio, pois não havia tanta variedade

alimentar em casa e o que ofertavam e ela recusava de primeira já não ofertavam mais. Sendo assim, trabalhado tudo isso no acompanhamento, até ela ter aceitado uma grande variedade, da forma como deveriam ter feito na época, sendo feita uma educação nutricional com os pais, em concordância com (FAVRETTO et al., 2021, p. 4) onde demonstram em seu trabalho que, o momento da introdução de outros alimentos, modifica a rotina alimentar da criança de forma que ela precisa aprender sobre novos sabores e que a criança só vai aprender a se familiarizar com algum alimento através da ingestão repetida, muitas vezes realizando associações com ambientes afetivos e a sensação de satisfação fisiológica decorrentes da refeição.

Foi feita uma educação nutricional com os pais no primeiro mês, conscientizando da importância no exemplo que eles são, o papel que eles desempenham na formação do paladar da mesma, assim como (FAVRETTO et al., 2021, p. 19) dizem em seu estudo que, a introdução alimentar da criança junto com a família, e, para que isso ocorra da forma correta, é importante que haja a diversificação alimentar e que nesse estágio a criança começa a participar das refeições no grupo familiar, de modo que passa a comer na mesa com os demais, comer o que todos comem e no mesmo horário e se possível sem telas ou distrações. Levar a filha a participar na compra e escolha do alimento e em preparações culinárias. Atitudes propícias para que os pais revejam seus hábitos, com o intuito de aperfeiçoá-los.

Não só saberem o papel que desempenham, é agirem em frente à ela, terem a variedade alimentar, é se alimentarem bem às vistas da criança, o que foi abordado continuamente no acompanhamento, assim como (SIMON et al., 2021, p. 1) visam que as crianças são influenciadas pelo ambiente em que vivem, o qual muitas vezes se constitui pela família e amigos próximos; sendo este um ambiente desagradável, pode contribuir para distúrbios futuros, com repercussões negativas no comportamento alimentar.

Em consultas foi explicado que o comportamento alimentar é construído inicialmente pela família e posteriormente pelos processos psicossociais e culturais onde entra a convivência nos grupos sociais (família, amigos, escola, igreja, comunidade) que podem imprimir no desenvolvimento e nas escolhas alimentares das crianças, como também é descrito no estudo de (BRAGA et al., 2021, p. 2) que intervenções conduzidas no ambiente escolar apresentam resultados positivos e grande aceitabilidade por parte dos estudantes e que o ambiente escolar é importante no cenário de seletividade alimentar, pois possibilita a autonomia e um contato com maior variedade de alimentos (p. 5). Por isso, destaca-se a importância da escola nesse contexto.

5. CONCLUSÃO

Tendo tudo isso em vista, conclui-se que a intervenção nutricional personalizada desempenhou um papel crucial na melhora do estado de saúde da A.C.L., que sofria de seletividade alimentar. A avaliação cuidadosa da ingestão calórica e dos nutrientes essenciais revelou deficiências significativas em sua dieta, o que poderia impactar negativamente seu crescimento e desenvolvimento. A prescrição dietética adaptada às preferências alimentares dela permitiu a introdução gradual de novos alimentos, garantindo a variedade e a adequação nutricional necessária para o seu bem-estar geral.

A análise detalhada de seus dados antropométricos e laboratoriais ao longo do tempo permitiu ajustes adequados na prescrição dietética, garantindo que suas necessidades nutricionais específicas fossem atendidas. Além disso, a aderência ao plano de tratamento, juntamente com a colaboração contínua da família e dos cuidadores, foi essencial para garantir que A.C.L. recebesse o suporte necessário para superar suas restrições alimentares e melhorar sua qualidade de vida.

O envolvimento ativo da família no processo de tratamento e a educação contínua sobre a importância da nutrição equilibrada e da adoção de hábitos alimentares saudáveis, desempenharam um papel vital na melhoria do estado de saúde de A.C.L.. Ao compreender a natureza da seletividade alimentar e os desafios associados, os pais puderam implementar práticas alimentares positivas em casa, criando um ambiente favorável para a diversificação gradual da dieta dela. A colaboração entre os profissionais de saúde e a família foi fundamental para garantir resultados significativos e duradouros no manejo da seletividade alimentar.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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VITOLO, R. M. Nutrição: da gestação ao envelhecimento. 2º ed. Rio de Janeiro: Rubio, 2015.

ANEXO A

QUESTIONÁRIO PARA COLETA DE INFORMAÇÕES

ANEXO B

PLANO ALIMENTAR

PACIENTE: A.C.L.    DATA: 15/08/2022

Cardápio teórico – feito pela autora deste trabalho:

ANEXO C

PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS RELACIONADOS À SELETIVIDADE ALIMENTAR

O TARE (Transtorno alimentar restritivo evitativo), é considerado um transtorno alimentar descrito no DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais). Destaca-se por um padrão alimentar restritivo ou evitativo que é muito além de uma seletividade comum.

Perspectiva Nutricional

É importante entender que muitas pessoas com TARE, têm uma relação complicada com a comida. Eles costumam evitar certos alimentos por causa de características sensoriais, como texturas que não gostam, sabores que não agradam ou até mesmo a aparência dos alimentos. Além disso, experiências negativas com a comida, como engasgar ou ter uma ocorrência ruim, podem gerar uma versão ainda maior.

Consequências Nutricionais: Essa versão pode levar a problemas sérios, como a falta de nutrientes essenciais, perda de peso e, em crianças, até atrasos no crescimento.

Intervenção Nutricional:

  • É fundamental criar um plano de refeições personalizado, que ajude a garantir que a pessoa esteja consumindo a quantidade adequada de alimentos.
  • Introduzir novos alimentos de forma gradual, respeitando as preferências e restrições da pessoa.
  • Em alguns casos, o uso de suplementos pode ser necessário para monitorar a saúde geral e corrigir deficiências nutricionais.

Perspectiva como Fonoaudiólogo

Uma das questões que frequentemente encontramos é a dificuldade de mastigar e engolir, além de uma sensibilidade oral. Essas dificuldades podem tornar a alimentação um desafio.

Intervenções:

  • Oferecer terapia para ajudar no desenvolvimento de habilidades motoras orais, quando necessário.
  • Realizar um processo de dessensibilização oral, que pode ajudar a pessoa a aceitar novas texturas e consistências dos alimentos.
  • Treinamento de habilidades alimentares para garantir que a alimentação seja mais segura e eficiente.

Perspectiva Médica

As causas do TARE podem variar, e muitas vezes estão ligadas a condições como transtornos do espectro do autismo, ansiedade ou experiências traumáticas, como engasgar com a comida.

Diagnóstico:

  • É essencial realizar uma avaliação abrangente do histórico dietético e médico da pessoa.
  • Também é importante considerar outras condições que podem estar presentes, como disfagia (dificuldade em engolir) ou alergias alimentares.

Tratamento:

  • O tratamento deve ser interdisciplinar, envolvendo nutricionistas, fonoaudiólogos, psicólogos/psiquiatras e, se necessário, gastroenterologistas ou pediatras.
  • Em alguns casos, um medicamento pode ser indicado para tratar transtornos de ansiedade ou outros problemas psiquiátricos.

Abordagem Multidisciplinar

O caminho mais eficaz para tratar o TARE, é reunir uma equipe de especialistas em nutrição, fonoaudiologia, psicologia/psiquiatria e, quando necessário, gastroenterologia ou pediatria. O principal objetivo é ajudar a pessoa a restabelecer uma relação saudável com a alimentação, promovendo o bem-estar físico e emocional.

ANEXO D

ABORDAGEM SOBRE O TARE AOS PAIS

O Transtorno de ingestão alimentar restritiva/evitativa (TARE), é um distúrbio frequentemente negligenciado, podendo ter impacto sério no bem-estar físico e emocional de uma criança ou adolescente, sem um entendimento claro dos pais. No entanto, esse transtorno é muito mais grave do que a “recusa alimentar comum” e merece uma análise cuidadosa, podendo interferir no crescimento, desenvolvimento e até nas interações sociais de uma criança. A seletividade alimentar, pode ter diversas causas e por isso, precisa ser criteriosamente avaliada para que o desenvolvimento do comer seja o objetivo do tratamento (Tabela 1).

Para  um  melhor  conhecimento  dos  pais,  será  abordado  abaixo  alguns  critérios.

O que é TARE e como ele se manifesta?

O TARE é caracterizado por um desejo extremo por alimentos ou grupos de alimentos específicos, levando a uma dieta restrita que as necessidades nutricionais da criança podem não serem suficientemente atendidas. Ele se manifesta das seguintes maneiras:

  • Intolerância sensorial: Rejeição de alimentos com base em textura, cor, cheiro ou sabor.
  • Medo de resultados adversos: Recusa alimentar causada por trauma (por exemplo, engasgo, vômito).
  • Falta de interesse em comer: Não ter interesse em comer de alguma forma, como a recusa de alimentos.
Principais impactos:

Físico:

  • Baixo peso, desnutrição, déficit de crescimento e problemas no sistema imunológico.

Psicológico:

  • Ansiedade/evitação social relacionada à alimentação, isolamento social (evitar eventos relacionados à comida), problemas de imagem corporal, baixa autoestima (sentir-se diferente dos colegas em relação aos padrões alimentares).

Família:

  • Estresse nos pais, sensação de fracasso em termos de alimentação, assim como brigas familiares.
Sinais de alerta para os pais

Os pais devem observar cuidadosamente se o estilo alimentar de seu filho apresenta alguns destes sinais:

  • Dietas muito restritivas: A criança chega a menos de 10 tipos de alimentos.
  • Perda de peso ou crescimento inadequado: Curva de crescimento não como esperada.
  • Ansiedade ou birras nas refeições: A comida se torna um ponto de discórdia recorrente.
  • Rejeição geralmente rigorosa de certas texturas ou cores: Evitação de alimentos baseada em sensações ou sentimentos táteis relacionados.
  • Problemas médicos comuns: Fadiga, anemia, perda de cabelo, pele seca ou baixa imunidade.
O que os pais devem fazer?
Entenda que isso não é “birra”.

O TARE é um transtorno real e não é “frescura” e nem considerar os pais serem inadequados. Gritar ou pressionar uma criança, pode agravar mais o problema.

Buscar ajuda especializada:

É fundamental adotar uma abordagem multidisciplinar:

  • Especialista em comportamento alimentar e nutricionista: Criar um plano alimentar que respeite a preferência da criança enquanto aborda a introdução de novos alimentos.
  • Fonoaudiólogo: Enfoca problemas de mastigação, deglutição e sensibilidade na boca.
  • Psicólogo/psiquiatra: Explorar possíveis razões emocionais subjacentes, incluindo ansiedade ou aversão alimentar.
  • Pediatra ou gastroenterologista: Excluir possíveis causas médicas e avaliar os efeitos fisiológicos do TARE.
Construir um ambiente alimentar positivo:
  • Sem pressão: Não obrigue a criança a comer; sirva alimentos repetidamente de uma maneira neutra.
  • Seja um modelo: Mostrando que você gosta de alimentos que quer introduzir à criança.
  • Um lugar tranquilo para comer: Crie uma zona livre de distrações e discussões na mesa.
Dessensibilização dos sentidos:

Para crianças com aversões extremas, técnicas de exposição gradual podem funcionar. Por exemplo:

  • Permitir que a criança explore primeiro os alimentos sem comer (sinta ou cheire).
  • Coloque pequenas porções no prato sem necessidade de comê-las, introduzindo gradualmente.

Acompanhar junto à criança, a Escala do Comer, onde como uma pequena escalada , os passos, apresentam a ascensão no desenvolver da aceitação alimentar.

Agora é hora dos pais abordarem quaisquer relatos com paciência e compreensão. Isso inclui:

  • Evitar comparações: Todas as crianças são diferentes e se desenvolvem em seu próprio ritmo. A confiança pode ser causada por uma comparação com irmãos ou amigos.
  • Reconhecer pequenas conquistas: Quando a criança tenta algo novo, celebre, mesmo que não coloque na boca, até porque, na escala do comer, este é o último degrau da escalada.
  • Envolvimento: Permitir que a criança ajude a selecionar e preparar alimentos; isso desperta interesse e independência.
Impacto emocional a longo prazo

Sem intervenção adequada, o TARE pode continuar na adolescência e até na idade adulta. Isso pode criar uma relação disfuncional com os alimentos que, em alguns casos, se desenvolverá em transtornos alimentares mais graves ou isolamento social causado por questões ao comer fora de casa.

Mas com o apoio profissional e familiar correto, a maioria das crianças supera o TARE, aprende a lidar com novos alimentos na dieta e desenvolve uma relação normal com a comida.

Conclusão aos pais

Além disso, considerar o TARE é o primeiro passo para manter seu filho bem. Existem três pilares fundamentais para a melhora dessa condição: reconhecer o quadro e envolver de forma positiva , buscar ajuda multidisciplinar e estabelecer um ambiente alimentar seguro e acolhedor. E lembre-se: isso não é uma corrida rápida para a vitória, mas um processo de cuidado e aprendizado mútuo.

ANEXO D

ESCALA DE COMPORTAMENTO ALIMENTAR EM AUTISMO

Em um estudo realizado por (LÁZARO. et al.,2019), com uma equipe multidisciplinar, criaram uma ferramenta que pudesse ajudar a entender melhor os comportamentos alimentares das pessoas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Essa ferramenta é chamada de Escala de Comportamento Alimentar em Autismo (ECAA), baseada em pesquisas teóricas e também em experiências de pais e cuidadores, o que permitiu identificar comportamentos alimentares que podem ser diferentes do esperado. Com essa informação, podemos oferecer intervenções terapêuticas mais específicas e personalizadas.

Fase 1: Desenvolvimento da Escala

Realizada uma revisão cuidadosa da literatura científica e conversa com pais de crianças com TEA. A partir dessas conversas, conseguiram definir cinco áreas problemáticas relacionadas à alimentação, como:

  1. Habilidades motoras orais
  2. Seletividade alimentar
  3. Rigidez em relação a variedades alimentares
  4. Ansiedade
  5. Comportamento durante as refeições

Assim, criaram uma versão inicial da escala, que continha 53 itens, organizados nas seguintes categorias (Quadro 1):

  1. Habilidades Motoras de Mastigação
  2. Seletividade Alimentar
  3. Aspectos Comportamentais
  4. Sintomas Gastrointestinais
  5. Habilidades na Hora da Refeição

Fonte: LÁZARO et al (2019)

Fase 2: Validação e Ajustes

Na segunda fase, um grupo de especialistas avaliou a validade do conteúdo da escala e, reduziram a escala para 35 itens, que foram organizados em sete dimensões:

  1. Habilidades Motoras de Mastigação
  2. Seletividade Alimentar
  3. Habilidades na Hora da Refeição
  4. Comportamento Inadequado Relacionado às Refeições
  5. Comportamentos Rígidos Relacionados à Alimentação
  6. Alimentação Oposicional
  7. Distúrbios Digestivos entre alergia e Intolerância Alimentar
Fase 3: Polimento e verificação final

Em uma reavaliação final da escala com 130 participantes, dos quais 90 tinham TEA. Foi testada na validação de 26 itens (tabela 1) que apresentaram um bom nível de consistência interna (alfa de Cronbach geral: 0,867).

Ao final do processo, conseguiram validar 26 itens que foram organizados em sete fatores, representando diferentes aspectos sensoriais, motores, comportamentais e fisiológicos da alimentação. A confiabilidade dos resultados destaca uma forte consistência interna. Isso significa que esta escala é confiável para identificar padrões alimentares alterados e pode ser uma ferramenta importante no planejamento de terapias.

Os fatores associados a seletividade alimentar levantados na entrevista, estão entre estes tópicos:

-Dificuldades para mastigar os alimentos;

-Engole os alimentos sem mastigá-los o bastante;

-Dificuldade para levar o alimento de um lado para o outro da boca com a língua;

-Mastiga os alimentos com a boca aberta;

-Evita comer vegetais cozidos e/ou crus;

-Retira o tempero da comida (ex.: pedaços de coentro, cebolinha ou tomate);

-Evita comer frutas;

-Possui inquietação/agitação motora que dificulta sentar-se à mesa;

-Tem dificuldades de sentar-se à mesa para fazer as refeições (ex.: almoça no chão, sofá, cama);

-Tem dificuldades de utilizar os talheres e outros utensílios;

-Derrama muito a comida na mesa ou na roupa quando se alimenta;

-Bebe, come, lambe substâncias ou objetos estranhos (ex.: sabão, terra, plástico, chiclete);

-Vomita, durante ou imediatamente após as refeições;

-Durante ou imediatamente após as refeições, golfa (trazendo de volta o alimento que engoliu à boca) e mastiga o alimento novamente;

-Come sempre com os mesmos utensílios (ex.: o mesmo prato, garfo, colher ou copo);

-Come sempre no mesmo lugar;

-Quer comer sempre os mesmos alimentos (ex.: se comeu frango hoje, quer amanhã novamente);

-Quer comer alimentos com cor semelhante (ex.: somente quer sucos amarelos – manga, maracujá, laranja);

-Quer comer alimentos sempre da mesma marca, embalagem ou personagem (ex.: bebe suco somente de caixinha, quer somente produtos do Bob Esponja);

-Possui ritual para comer (ex.: os alimentos devem ser arrumados no prato da mesma forma; se o ritual não for obedecido, seu filho se recusa a comer ou fica irritado ou perturbado);

-Sem permissão, pega a comida fora do horário das refeições;

-Sem permissão, pega a comida de outras pessoas durante as refeições;

-Come uma grande quantidade de alimento num período de tempo curto;

-Intolerância ao glúten (o glúten está presente na farinha de trigo, aveia, centeio e cevada);

-Alergia alimentar (ex.: amendoim, frutos do mar);

-Tem intolerância à lactose.

A ELACA (Anexo 1) é inovadora por vários motivos:

  1. Incorporação de múltiplos fatores : Inclui aspectos gastrointestinais e sensoriais, que muitas vezes são deixados de lado por outras escalas.
  2. Foco nos cuidadores : Valoriza as perspectivas dos pais, oferecendo uma visão mais completa do comportamento alimentar das crianças.
  3. Contexto Brasileiro : Foi desenvolvido levando em contato com a realidade cultural e clínica do Brasil.

ECAA se destaca por abordar também distúrbios gastrointestinais e comportamentos ritualísticos.

As contribuições da ECAA são significativas, pois permitem categorizar indivíduos com TEA de acordo com seus fenótipos alimentares, favorecendo intervenções mais direcionadas.

A Escala de Comportamento Alimentar em Autismo (ECAA) é a primeira ferramenta que pode:

  • Caracterizar comportamentos alimentares específicos : Ajudando a diagnosticar e gerenciar distúrbios alimentares em pessoas com TEA.
  • Monitorar a resposta ao tratamento : Facilitando ajustes nas estratégias terapêuticas conforme necessárias.

Esse instrumento representa um grande avanço no cuidado com os comportamentos alimentares de pacientes com TEA, permitindo intervenções mais personalizadas e práticas.

Fonte: LÁZARO et al (2019)