REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202501300729
Nelson Pinto Gomes1; Elisabete Soares de Santana2; Gebes Vanderlei Parente Santos3; Brian Gabriel Bentes Maia4; Bianca Annichini de Oliveira5; Luan Cruz Barreto6; Jennirys Gonzaga Silva7; Chiara Luana Gomes Coutinho Barros8; Juciany Martins Medeiros Salvador9; Thayana Patrícia Freitas de Castro10
RESUMO
A análise dos impactos psicológicos da violência, conforme exposta nos estudos selecionados, revela a complexidade e a durabilidade dos efeitos do abuso e trauma na saúde mental das vítimas. Os transtornos psicológicos como TEPT, transtornos de ansiedade e depressão foram comumente associados às diversas formas de violência, incluindo física, sexual e psicológica, e mostraram-se duradouros, afetando a qualidade de vida das vítimas por muitos anos após o evento traumático. Além disso, os efeitos do trauma não se limitam ao impacto imediato, mas se manifestam ao longo do tempo, sendo particularmente devastadores em crianças e adolescentes, que muitas vezes não desenvolvem habilidades adequadas para lidar com o sofrimento emocional. A resiliência psicológica desempenha um papel fundamental no processo de recuperação, mas não ocorre de forma automática, dependendo de diversos fatores como apoio social e acesso a recursos terapêuticos. A violência psicológica e sexual, que frequentemente são subestimadas, também demonstraram ter um impacto profundo na saúde mental das vítimas, alterando sua percepção de si mesmas e dificultando a formação de relações saudáveis. A eficácia das intervenções psicoterapêuticas, como a terapia cognitivo-comportamental, foi comprovada, mas é essencial que essas abordagens sejam adaptadas às especificidades culturais e contextuais das vítimas para garantir sua eficácia. Por fim, os estudos indicam que a prevenção da violência e a conscientização pública são ferramentas cruciais para mitigar os efeitos psicológicos do abuso. No entanto, apesar dos avanços no tratamento e entendimento das consequências psicológicas da violência, ainda existem lacunas significativas na implementação de políticas públicas e no acesso a serviços de saúde mental, especialmente em áreas vulneráveis e entre populações marginalizadas. É imprescindível que haja uma integração eficaz entre saúde mental e políticas públicas, com foco na formação de profissionais qualificados e na criação de redes de apoio que proporcionem um ambiente seguro e acolhedor para as vítimas, garantindo que recebam o apoio necessário para sua recuperação.
Palavras-chave: Abuso, Saúde Mental, Trauma Psicológico, Transtornos Psicológicos, Violência.
ABSTRACT
The analysis of the psychological impacts of violence, as presented in the selected studies, reveals the complexity and longevity of the effects of abuse and trauma on the mental health of victims. Psychological disorders such as PTSD, anxiety disorders, and depression were commonly associated with various forms of violence, including physical, sexual, and psychological abuse, and proved to be long-lasting, affecting victims’ quality of life for years after the traumatic event. Furthermore, the effects of trauma are not limited to immediate impacts but manifest over time, being particularly devastating for children and adolescents, who often lack the necessary skills to cope with emotional distress. Psychological resilience plays a fundamental role in the recovery process, but it does not occur automatically, depending on several factors such as social support and access to therapeutic resources. Psychological and sexual violence, often underestimated, also demonstrated a profound impact on victims’ mental health, altering their self-perception and hindering the development of healthy relationships. The effectiveness of psychotherapeutic interventions, such as cognitive-behavioral therapy, has been proven, but it is essential that these approaches are tailored to the cultural and contextual specificities of the victims to ensure their efficacy. Finally, the studies indicate that violence prevention and public awareness are crucial tools to mitigate the psychological effects of abuse. However, despite advances in the treatment and understanding of the psychological consequences of violence, significant gaps remain in the implementation of public policies and access to mental health services, especially in vulnerable areas and among marginalized populations. It is imperative to establish effective integration between mental health and public policies, focusing on the training of qualified professionals and the creation of support networks that provide a safe and welcoming environment for victims, ensuring they receive the necessary support for their recovery.
Keywords: Abuse, Mental Health, Psychological Trauma, Psychological Disorders, Violence.
RESUMEN
El análisis de los impactos psicológicos de la violencia, según lo expuesto en los estudios seleccionados, revela la complejidad y la duración de los efectos del abuso y el trauma en la salud mental de las víctimas. Los trastornos psicológicos como el TEPT, los trastornos de ansiedad y la depresión se asociaron comúnmente con diversas formas de violencia, incluidas la física, sexual y psicológica, y demostraron ser persistentes, afectando la calidad de vida de las víctimas durante años después del evento traumático. Además, los efectos del trauma no se limitan al impacto inmediato, sino que se manifiestan a lo largo del tiempo, siendo particularmente devastadores en niños y adolescentes, quienes a menudo carecen de habilidades adecuadas para afrontar el sufrimiento emocional. La resiliencia psicológica desempeña un papel fundamental en el proceso de recuperación, pero no ocurre de forma automática, ya que depende de diversos factores como el apoyo social y el acceso a recursos terapéuticos. La violencia psicológica y sexual, a menudo subestimadas, también demostraron tener un impacto profundo en la salud mental de las víctimas, alterando su percepción de sí mismas y dificultando la formación de relaciones saludables. La eficacia de las intervenciones psicoterapéuticas, como la terapia cognitivo-conductual, ha sido comprobada, pero es esencial que estas estrategias se adapten a las especificidades culturales y contextuales de las víctimas para garantizar su efectividad. Por último, los estudios indican que la prevención de la violencia y la sensibilización pública son herramientas cruciales para mitigar los efectos psicológicos del abuso. Sin embargo, a pesar de los avances en el tratamiento y la comprensión de las consecuencias psicológicas de la violencia, aún existen brechas significativas en la implementación de políticas públicas y en el acceso a servicios de salud mental, especialmente en áreas vulnerables y entre poblaciones marginadas. Es imprescindible lograr una integración efectiva entre la salud mental y las políticas públicas, centrándose en la formación de profesionales cualificados y en la creación de redes de apoyo que proporcionen un entorno seguro y acogedor para las víctimas, garantizando que reciban el apoyo necesario para su recuperación.
Palabras clave: Abuso, Salud Mental, Trauma Psicológico, Trastornos Psicológicos, Violencia.
INTRODUÇÃO
A violência, em suas diversas formas, representa uma das maiores ameaças à saúde mental das vítimas, gerando efeitos psicológicos duradouros que podem afetar a qualidade de vida de maneira profunda e prolongada. O trauma psicológico resultante da violência não se limita a um sofrimento temporário, mas molda a psique do indivíduo, podendo gerar consequências ao longo da vida. A relação entre abuso, trauma e saúde mental é amplamente documentada na literatura científica. Estudos apontam que as vítimas de violência frequentemente enfrentam uma combinação de fatores biológicos, psicológicos e sociais que dificultam a recuperação (Araújo et al., 2024). Ao longo das últimas décadas, a compreensão de como as experiências traumáticas influenciam a saúde mental tem sido aprimorada, com enfoque no desenvolvimento de estratégias terapêuticas eficazes para lidar com essas questões.
A violência doméstica, o abuso sexual, a violência física e psicológica são os tipos mais comuns de experiências traumáticas que podem desencadear transtornos como o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), a depressão, a ansiedade e distúrbios de comportamento (Ferreira et al., 2021). Essas condições, muitas vezes debilitantes, podem ter um impacto negativo nas capacidades cognitivas, emocionais e sociais dos indivíduos, levando-os a dificuldades no desempenho de atividades diárias e na interação com outros membros da comunidade. O trauma não se restringe ao momento do evento violento, mas pode provocar mudanças duradouras nas estruturas cerebrais, dificultando a recuperação emocional e psicológica a longo prazo. Em muitos casos, esses efeitos continuam a se manifestar de maneira intensa e debilitante, anos após a ocorrência do abuso.
Além dos efeitos imediatos do trauma, as vítimas de violência frequentemente enfrentam uma perpetuação do sofrimento ao longo do tempo. As reações psicológicas, como o medo constante, a desconfiança, a sensação de impotência e a incapacidade de estabelecer vínculos saudáveis, podem interferir em vários aspectos da vida das vítimas. Miranda et al. (2023) discute como a violência, especialmente a traumática, altera as redes de afeto e as capacidades de regulação emocional dos indivíduos, afetando sua capacidade de se reconectar com a vida cotidiana e de construir relações sociais de apoio. Esse ciclo de sofrimento e isolamento pode fazer com que as vítimas se vejam presas em um espiral negativo, com dificuldade para acessar os recursos de apoio necessários.
A resposta da sociedade ao trauma também tem um impacto significativo no processo de recuperação das vítimas. Quando a violência é silenciada ou estigmatizada, o medo de julgamento pode impedir que as vítimas busquem ajuda, aumentando a sensação de impotência e perpetuando o ciclo de sofrimento (Santos et al., 2022). A ausência de uma rede de apoio eficaz pode agravar ainda mais a saúde mental da vítima, dificultando o processo de superação. Em contraste, quando o apoio psicológico e a conscientização social são oferecidos de forma adequada, as chances de recuperação aumentam consideravelmente. O fortalecimento de redes de apoio emocional e o incentivo ao acolhimento psicológico são fundamentais para a construção de uma base segura para a cura.
Portanto, os impactos psicológicos da violência são vastos e complexos, exigindo uma abordagem multidisciplinar para tratar as vítimas de maneira eficaz. Psicólogos, psiquiatras e outros profissionais da saúde desempenham um papel crucial na ajuda às vítimas, oferecendo suporte emocional e estratégias terapêuticas que auxiliem na reconstrução da saúde mental e emocional (Costa et al., 2023). A conscientização pública sobre o impacto da violência na saúde mental também é essencial para reduzir o estigma e promover uma resposta social mais empática. A compreensão profunda desses efeitos é um passo crucial para a criação de políticas públicas que promovam a prevenção, o apoio contínuo e a educação em saúde mental, assegurando que as vítimas possam reconstruir suas vidas de maneira saudável e segura (Sales et al., 2020).
O objeto deste estudo é investigar os impactos psicológicos da violência, com ênfase nos efeitos duradouros do abuso e trauma na saúde mental das vítimas. Busca-se compreender como experiências de violência, sejam elas físicas, psicológicas, sexuais ou negligências, influenciam no desenvolvimento de transtornos mentais, como depressão, ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e comportamentos autodestrutivos. Além disso, o estudo explora os fatores que podem agravar ou mitigar esses efeitos, como o suporte social, o acesso a tratamentos psicológicos e psiquiátricos e as condições socioeconômicas. A análise objetiva contribuir para o entendimento das consequências de longo prazo do trauma, promovendo estratégias de prevenção e reabilitação para melhorar a qualidade de vida das vítimas.
METODOLOGIA:
A metodologia deste estudo foi estruturada como uma revisão sistemática da literatura, com o objetivo de avaliar os impactos psicológicos da violência, considerando o efeito duradouro do abuso e trauma na saúde mental das vítimas. A pesquisa foi realizada entre agosto e setembro de 2024 nas bases de dados Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE) e Scientific Electronic Library Online (SCIELO). Para garantir a relevância e a especificidade dos resultados, foram utilizados os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) “Violência”; “Abuso”; “Trauma Psicológico”; “Saúde Mental”; “Transtornos Psicológicos”, combinados com termos relacionados como “Transtornos de Ansiedade”, “Depressão Pós-Traumática”, “Resiliência Psicológica”, “Efeitos Duradouros” e “Cuidado Psicoterapêutico”. A busca foi estruturada com o operador booleano “AND” para assegurar que os artigos encontrados abordassem diretamente a temática da violência e seus impactos na saúde mental, garantindo que os estudos selecionados estivessem alinhados com os objetivos da pesquisa.
Os critérios de inclusão foram cuidadosamente definidos para garantir que os artigos selecionados fossem relevantes e atualizados. Foram incluídos artigos completos, disponíveis gratuitamente nas bases de dados, publicados de 2018 a 2024, em português, inglês ou espanhol, que tratassem dos impactos psicológicos da violência, do abuso e do trauma na saúde mental das vítimas. Os estudos selecionados deveriam abordar de forma clara e aprofundada os efeitos do abuso em diferentes contextos (como violência doméstica, abuso sexual, violência institucional, entre outros), com ênfase no impacto duradouro desses traumas na saúde mental. Também foram considerados artigos que discutissem intervenções psicoterapêuticas, terapias e estratégias de apoio psicológico voltadas para o tratamento de vítimas de violência. Por outro lado, foram excluídos artigos incompletos, pagos, repetidos nas bases de dados, artigos de revisão, estudos publicados em outros idiomas além do português, inglês ou espanhol, e aqueles que não tratavam diretamente da relação entre violência e transtornos mentais.
Na etapa inicial da busca, foram identificados 1.350 artigos. Após a aplicação rigorosa dos critérios de inclusão e exclusão, a amostra foi reduzida a 80 artigos, que foram avaliados em profundidade para verificar sua elegibilidade para a análise final. A partir dessa etapa, foram selecionados 30 artigos que forneceram uma contribuição substancial para a compreensão dos impactos psicológicos da violência. A leitura e análise desses estudos foram realizadas de forma criteriosa, com foco na qualidade metodológica, relevância para o tema e abordagens inovadoras no tratamento e na prevenção de transtornos mentais causados por abuso e trauma. Durante a análise, os estudos foram organizados e categorizados conforme suas contribuições específicas para o tema central da pesquisa, levando em consideração aspectos como os diferentes tipos de violência (física, psicológica, sexual, etc.), os mecanismos de coping e resiliência das vítimas, e as intervenções terapêuticas eficazes no tratamento dos efeitos psicológicos do trauma.
Os dados coletados foram organizados em categorias que permitiram uma análise aprofundada das consequências do abuso e trauma na saúde mental das vítimas. Essas categorias incluíram os tipos de violência abordados nos estudos, os efeitos psicológicos a longo prazo do trauma (como o desenvolvimento de transtornos de ansiedade, depressão e transtorno de estresse pós-traumático), os fatores que influenciam a resiliência e a recuperação das vítimas, bem como as abordagens terapêuticas mais eficazes no tratamento desses indivíduos. Além disso, foram analisados os desafios enfrentados pelas vítimas ao longo do processo de recuperação, como estigmatização, barreiras no acesso ao cuidado psicológico e os efeitos das experiências traumáticas no funcionamento social e familiar das vítimas. Esse processo de categorização e análise permitiu uma compreensão abrangente dos impactos psicológicos da violência, fornecendo uma base sólida para as conclusões e recomendações do estudo.
Essa metodologia rigorosa e detalhada permitiu uma análise abrangente dos efeitos duradouros do abuso e trauma na saúde mental das vítimas de violência. Através dessa abordagem, foi possível identificar tanto os avanços nas estratégias de intervenção psicoterapêutica quanto os desafios persistentes no apoio psicológico a essas vítimas. O estudo, ao integrar os conhecimentos das áreas de psicologia, saúde mental e intervenção terapêutica, oferece uma visão holística dos impactos da violência e do abuso, contribuindo para o desenvolvimento de políticas públicas mais eficazes e de práticas clínicas aprimoradas no tratamento de vítimas de trauma.
RESULTADOS E DISCUSSÕES:
A análise dos estudos selecionados revelou uma vasta gama de impactos psicológicos causados pela violência, com destaque para os efeitos duradouros do abuso e trauma na saúde mental das vítimas. Diversos estudos indicaram que os impactos do trauma psicológico variam conforme o tipo de violência vivenciada, com muitos apontando para o desenvolvimento de transtornos psicológicos como transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), transtornos de ansiedade generalizada e depressão maior. Esses transtornos têm mostrado uma prevalência mais alta em vítimas de abuso físico e sexual, e muitos estudiosos, como Jacó et al. (2023), destacam que esses efeitos podem persistir por anos após o evento traumático, afetando a qualidade de vida das vítimas e comprometendo seu funcionamento social e emocional. Tais transtornos frequentemente exigem intervenções terapêuticas intensivas, já que os sintomas podem agravar-se sem o tratamento adequado.
Diversos estudos também revelaram que a violência não se limita ao impacto imediato, mas tem consequências duradouras no desenvolvimento emocional das vítimas, especialmente nas crianças e adolescentes. Gama et al. (2021) destacam que crianças que experienciam abuso físico ou psicológico em seus lares têm uma probabilidade significativamente maior de desenvolver transtornos mentais graves, como transtornos de ansiedade, depressão, e problemas de comportamento. Esses jovens, muitas vezes, não conseguem desenvolver habilidades de enfrentamento adequadas e tendem a carregar as marcas do trauma ao longo da vida adulta. Este fenômeno é muitas vezes exacerbado pelo ambiente social e familiar em que a violência ocorre, perpetuando um ciclo de sofrimento e dificuldades emocionais. Além disso, a violência também está associada ao desenvolvimento de comportamentos autodestrutivos, como automutilação e suicídio, particularmente em adolescentes que não têm acesso a redes de apoio (Lira et al., 2022).
Um outro achado relevante foi a identificação da violência psicológica como um fator de risco igualmente importante para o desenvolvimento de transtornos mentais, embora seus efeitos muitas vezes sejam menos reconhecidos. A violência psicológica, que inclui abuso verbal, manipulação emocional e controle coercitivo, foi apontada por Quixadá et al. (2022) como uma forma de abuso tão prejudicial quanto a violência física, especialmente em termos de saúde mental. A experiência de viver sob constante ameaça emocional pode levar ao desenvolvimento de transtornos de ansiedade crônica, depressão e transtornos de estresse pós-traumático. Além disso, a violência psicolgica pode destruir a autoestima da vítima, deixando-a vulnerável a um ciclo de dependência emocional e de sofrimento mental contínuo.
Outro tipo de violência que gerou impacto significativo na saúde mental das vítimas foi a violência sexual. Estudos de Aguiar et al. (2024) indicam que as vítimas de abuso sexual, particularmente durante a infância, têm um risco muito maior de desenvolver transtornos como TEPT, transtornos dissociativos, depressão e dificuldades de vinculação emocional. A experiência de abuso sexual na infância altera profundamente a percepção que a vítima tem de si mesma e do mundo ao seu redor. Isso pode afetar a capacidade da pessoa de estabelecer relações interpessoais saudáveis na vida adulta e frequentemente resulta em dificuldades na criação de uma identidade estável. A falta de apoio e a vergonha associada ao abuso sexual também contribuem para a perpetuação do trauma, dificultando a busca por ajuda e tratamento (Araújo et al., 2024).
A resiliência psicológica também foi identificada como um fator crucial na recuperação das vítimas de violência. Diversos estudos, como os de Bruno et al. (2024), sugerem que, apesar dos impactos devastadores da violência, muitas vítimas conseguem se recuperar de forma surpreendente devido à resiliência psicológica. Este fenômeno de resiliência, no entanto, não ocorre de forma automática e depende de diversos fatores, como a qualidade das redes de apoio, a presença de um sistema de suporte social e a existência de recursos terapêuticos adequados. A rede de apoio, como a presença de amigos, familiares e terapeutas, mostrou-se fundamental para a mitigação dos efeitos negativos do trauma e para o processo de recuperação (Alves et al., 2020). Por outro lado, a falta de apoio social e o isolamento podem agravar ainda mais os efeitos do trauma e retardar a recuperação emocional das vítimas.
Fatores sociodemográficos, como idade, gênero e contexto cultural, também desempenham um papel crucial na forma como as vítimas lidam com o trauma e os efeitos da violência. Mulheres e crianças expostas à violência doméstica, por exemplo, têm mostrado ser mais vulneráveis ao desenvolvimento de transtornos mentais, especialmente em contextos de alta pobreza e marginalização social (De Sana et al., 2023). A violência doméstica pode ser ainda mais devastadora quando associada à falta de recursos financeiros e à exclusão social, criando um ciclo de violência difícil de quebrar. A desigualdade social, de acordo com os estudos analisados, amplifica a experiência do trauma, limitando as oportunidades de recuperação e tratamento psicológico das vítimas.
Além disso, a violência estrutural, que inclui aspectos como discriminação e marginalização social, também foi apontada como um fator que pode agravar os efeitos psicológicos do abuso. Estudos indicam que populações marginalizadas, como minorias étnicas e imigrantes, frequentemente experimentam formas de violência estrutural que não são abordadas diretamente pelos sistemas de saúde mental tradicionais. Esses fatores contribuem para uma piora na saúde mental das vítimas, já que a violência social e econômica se soma ao trauma individual (Junior et al., 2023). A exclusão social e as dificuldades no acesso ao cuidado psicoterapêutico agravam a situação, tornando a recuperação ainda mais desafiadora para essas populações vulneráveis.
A eficácia das intervenções psicoterapêuticas, em particular a terapia cognitivo-comportamental (TCC), foi amplamente discutida nos estudos analisados. Dias et al. (2020) concluíram que a TCC é uma das abordagens terapêuticas mais eficazes no tratamento do TEPT, ansiedade e depressão em vítimas de violência. Essa abordagem ajuda as vítimas a reestruturar suas respostas emocionais e cognitivas ao trauma, além de proporcionar ferramentas práticas para o enfrentamento do estresse pós-traumático. Embora a TCC seja eficaz, alguns estudos apontam a necessidade de adaptações culturais e contextuais, visto que o que funciona em um ambiente social pode não ser igualmente eficaz em outro. Isso é especialmente relevante quando se trata de vítimas que vivenciam violência em contextos de marginalização ou exclusão (Costa et al., 2023).
Além disso, um obstáculo significativo identificado nos estudos foi o estigma em torno do tratamento psicológico, especialmente em contextos culturais onde a saúde mental ainda é vista com preconceito. Estudos como os de Silva et al. (2024) indicam que muitas vítimas de violência, especialmente em culturas mais conservadoras, têm receio de buscar ajuda devido à vergonha e ao estigma associado ao sofrimento psicológico. Isso impede que muitas vítimas recebam tratamento precoce, o que resulta em uma intensificação dos sintomas e uma recuperação mais difícil. Portanto, os profissionais de saúde precisam trabalhar para reduzir o estigma e aumentar a conscientização sobre a importância do cuidado psicológico (Santos et al., 2022).
A integração de abordagens terapêuticas que combinem psicoterapia com suporte social e intervenção familiar também foi considerada uma prática eficaz. Zamoru et al. (2022) demonstraram que a inclusão de familiares no processo terapêutico pode melhorar significativamente os resultados para vítimas de violência doméstica. Essas abordagens integradas são benéficas porque abordam tanto os aspectos emocionais do trauma quanto as questões sociais e familiares que podem estar afetando a recuperação da vítima. A integração de apoio psicoterapêutico com suporte familiar e social tem mostrado ajudar as vítimas a reconstruir sua confiança e autoestima, promovendo um ambiente mais seguro e saudável para o processo de cura.
A prevenção da violência também foi um tema recorrente nos estudos, sendo apontada como essencial para a redução dos impactos psicológicos da violência. Programas educativos e de conscientização sobre os efeitos da violência e as formas de prevenção têm mostrado sucesso na diminuição da incidência de abusos e na melhoria da saúde mental das vítimas. Da Mata et al. (2021) enfatizam que a educação sobre sinais de abuso e formas de intervenção precoce pode ajudar a proteger as pessoas contra a violência e reduzir as sequelas psicológicas do trauma. A conscientização pública é uma ferramenta vital para enfrentar as causas subjacentes da violência e criar um ambiente mais seguro para as vítimas.
Por fim, os estudos evidenciam que, apesar dos avanços no entendimento dos impactos psicológicos da violência, ainda há lacunas significativas na implementação de políticas públicas e práticas de saúde mental. A escassez de serviços de saúde mental de qualidade, especialmente em áreas rurais e entre populações marginalizadas, continua sendo um obstáculo significativo. A formação de profissionais qualificados e o aumento do acesso aos serviços são medidas essenciais para garantir que todas as vítimas recebam o apoio necessário. Da Silva et al. (2021) destaca que a integração de práticas de saúde mental com políticas públicas de prevenção e apoio social é crucial para fornecer uma resposta eficaz às vítimas de trauma e violência.
CONCLUSÃO:
A malária A violência, em suas diversas formas, tem um impacto profundo e duradouro na saúde mental das vítimas, afetando seu bem-estar emocional e psicológico ao longo de toda a vida. Os estudos revisados confirmam que os transtornos psicológicos mais comuns em vítimas de violência incluem transtornos de estresse pós-traumático, transtornos de ansiedade, depressão e, em alguns casos, transtornos dissociativos. A exposição contínua ao abuso físico, sexual ou psicológico resulta em sérios danos emocionais, com a possibilidade de esses efeitos se perpetuarem por anos, prejudicando a qualidade de vida das vítimas e dificultando sua reintegração plena na sociedade. Além disso, a violência estrutural, frequentemente invisível, também agrava os efeitos do trauma psicológico, especialmente entre populações marginalizadas.
No entanto, é importante destacar que a resiliência e o apoio social desempenham papéis cruciais na recuperação das vítimas de violência. A presença de uma rede de apoio emocional, composta por familiares, amigos e profissionais de saúde, pode facilitar significativamente o processo de recuperação. As intervenções psicoterapêuticas, como a terapia cognitivo-comportamental, mostraram-se eficazes no tratamento dos transtornos associados ao trauma, e a integração dessas terapias com o suporte social e familiar é essencial para o sucesso do tratamento. A conscientização e o tratamento precoce são fundamentais para reduzir os efeitos psicológicos da violência, evitando que esses transtornos evoluam e se tornem crônicos.
Por fim, a prevenção da violência deve ser um foco prioritário nas políticas públicas de saúde mental. Programas educativos e de conscientização sobre os efeitos da violência e a promoção de ambientes seguros são estratégias fundamentais para evitar que mais indivíduos se tornem vítimas de abuso. A formação de profissionais de saúde mental qualificados, bem como o aumento do acesso a serviços de apoio psicológico, é crucial para garantir que todas as vítimas de violência recebam o cuidado necessário. A integração das políticas de saúde mental com ações de prevenção à violência é um passo essencial para mitigar os impactos psicológicos e garantir uma sociedade mais saudável e justa para todos.
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1MD, MSC, PhD, Médico Especialista em Psiquiatria pela Ordem dos Médicos portador da cédula profissional n°59515, Membro do Conselho Científico da European Medical Association em Bruxelas como Expert em Psiquiatria, Membro Associado da World Medical Association (WMA), Mestre em Peritagem Médica e Avaliação do Dano Corporal, Mestre em Medicina Forense e Legal, Associado da Associação Portuguesa de Avaliação do Dano Corporal (APADAC) no 1017. PhD Medical Science pela Université Catholique de Louvain UCL na Bélgica.
Email: npgomes5@hotmail.com
https://orcid.org/0009-0000-2549-7402
2Acadêmica em Farmácia
Instituição de formação: Faculdade Santíssima Trindade – FAST
Endereço: Nazaré da Mata – Pernambuco, Brasil
E-mail: elisabetesoares349@gmail.com
https://orcid.org/0009-0000-5773-3879
3Graduando em medicina pela Universidade Federal do Amazonas – UFAM
Manaus-AM
e-mail: tenenteparente@gmail.com
4Graduando em Medicina
Universidade do Estado do Amazonas
Endereço: Manaus, Amazonas, Brasil
E-mail: brianmaia001@gmail.com
5Acadêmica em Enfermagem
Instituição de formação: UNESC – Centro Universitário do Espírito Santo
Endereço: Colatina, Espírito Santo, Brasil
E-mail: bannichini@gmail.com
Orcid: https://orcid.org/0000-0001-8662-0208
6Acadêmico em Ciências Biológicas
Instituição de formação: Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)
Endereço: Jequié, Bahia, Brasil.}
E-mail: luanb1215@gmail.com
Orcid: https://orcid.org/0009-0007-8653-1572
7Acadêmica em Medicina
Instituição de formação: UFVJM – universidade federal do Vale de Jequitinhonha e mucuri
Endereço: Diamantina MG, Brasil
E-mail: jenniryssilva@gmail.com
Orcid: https://orcid.org/0000-0002-9638-3127
8Enfermeira, Pós Graduada em Cardiologia e Hemodinâmica é Enfermagem do Trabalho
Instituição de formação: UNIPÊ – Centro Universitário – Campus João Pessoa
Endereço: Pessoa, Paraíba, Brasil
E-mail: Chiaracoutinho@gmail.com
Orcid: https://orcid.org/0009-0004-9232-1510
9Enfermeira, Pós Graduada em Cardiologia e Hemodinâmica e Especialista em Centro Cirúrgico
Instituição de formação: Faculdade Iguaçu
Endereço: Capanema, Paraná, Brasil
E-mail: nanymartins7@outlook.com Orcid: https://orcid.org/0009-0004-2497-7294
10Enfermeira, Centro Universitário Santo Agostinho 2012; Especialização – Auditoria em Saúde – Faculdade Holística 2023; Vigilância em Saúde – Hospital Sítio Libanês 2016.
Endereço: Teresina Piauí , Brasil
E-mail: thayanaenfpatricia@gmail.com