OS IMPACTOS DO TRATAMENTO DE CÂNCER DE MAMA NA SAÚDE MENTAL FEMININA

THE IMPACTS OF BREAST CANCER TREATMENT ON FEMALE MENTAL HEALTH

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10723093


Suzana Mioranza Bif¹; Zenir Evangeline Paster Teixeira Silvério²; Thainara Bento Deziderio³; Maria Luiza Azambuja Locatelli4; Giovanna Cassol de Souza5; Jessica Jamali Lira6; Roberta Vasconcellos Souza de Oliveira7; Beatriz Ferraz Siqueira8; Ana Paula Ribas Pohlmann9; João Francisco Teixeira Tavares10; Débora Galego de Paula¹¹; Larissa de Carvalho Silva¹²; Alceu Carlos de Souza Júnior¹³; Sarah Ferreira Ramos14.


Resumo

O câncer de mama é uma doença altamente temida pelas mulheres, uma vez que impacta significativamente sua condição física, social e emocional. O diagnóstico é vivenciado tanto pela paciente quanto pela família como um momento de intensa angústia, onde a possibilidade de morte e mutilação se faz presente de maneira marcante. Tendo em vista a complexidade do impacto psicológico causado pelo câncer de mama, é crucial destacar que a descoberta da neoplasia pode desencadear uma intensa crise existencial para a mulher, afetando não apenas sua condição física, mas também aspectos sociais e emocionais. Este estudo constitui uma revisão de literatura destinada a analisar e sintetizar as informações disponíveis sobre o impacto psicológico do câncer de mama em mulheres. Com especial ênfase na realidade brasileira e nas estratégias de saúde mental, a pesquisa baseia-se em fontes de dados confiáveis, como PubMed, Scielo e o Ministério da Saúde do Brasil. Relatórios, diretrizes e informações oficiais relacionadas ao impacto psicológico do câncer de mama foram obtidos no site oficial do Ministério da Saúde do Brasil, abrangendo boletins, guias de apoio psicológico e estratégias de controle dessa condição no país. Estudos indicam que, ao receberem o diagnóstico de câncer de mama, mulheres e suas famílias inicialmente focam na sobrevivência. Subsequentemente, a preocupação se estende ao tratamento e às condições financeiras, enquanto durante o tratamento, surgem inquietações sobre a mutilação, desfiguração e impactos na vida sexual. Observou-se interesse sexual diminuído devido a efeitos colaterais como menopausa precoce, diminuição da libido e alterações hormonais, tornando o ato sexual doloroso e inibindo o orgasmo. O câncer de mama e seu tratamento afetam a identidade feminina, gerando baixa autoestima, inferioridade e medo de rejeição do parceiro. Em grupos de apoio psicológico, mulheres expressam, inicialmente, preferir a morte à remoção da mama, sugerindo que a falta do seio representa, inicialmente, uma morte simbólica. Intervenções eficazes na saúde da mulher frente ao câncer de mama exigem uma abordagem abrangente. Além do cuidado clínico, é crucial integrar suporte psicológico contínuo para lidar com os impactos emocionais e psicossociais. A compreensão dos significados culturais atribuídos à mama e ao corpo feminino é essencial para personalizar as intervenções, promovendo uma adaptação mais suave à nova realidade.

Palavras-chave: impacto psicológico do câncer de mama; saúde mental da mulher com câncer de mama; estratégias de apoio psicológico para mulheres com câncer de mama.

1. INTRODUÇÃO

O câncer de mama é uma doença altamente temida pelas mulheres, uma vez que impacta significativamente sua condição física, social e emocional. O diagnóstico é vivenciado tanto pela paciente quanto pela família como um momento de intensa angústia, onde a possibilidade de morte e mutilação se faz presente de maneira marcante. Sentimentos como raiva, tristeza, inquietação, ansiedade, angústia, medo e luto são comuns entre as mulheres diagnosticadas. Cada paciente experimenta de forma única essa jornada, considerando seu diagnóstico e os aspectos psicossociais envolvidos, podendo recorrer à negação como um mecanismo de defesa nessa circunstância desafiadora (Ramos; Lustosa, 2009).

Tendo em vista a complexidade do impacto psicológico causado pelo câncer de mama, é crucial destacar que a descoberta da neoplasia pode desencadear uma intensa crise existencial para a mulher, afetando não apenas sua condição física, mas também aspectos sociais e emocionais. A vivência do diagnóstico, permeada pela possibilidade de morte e mutilação, provoca uma gama de emoções, incluindo raiva, tristeza, inquietação, ansiedade, angústia, medo e luto (Silva, 2008).

A identidade feminina, profundamente ligada à mama enquanto símbolo de feminilidade, prazer, sensualidade e maternidade, enfrenta um abalo significativo diante da necessidade de enfrentar o câncer de mama. Ao longo do processo da doença, desde o diagnóstico até o tratamento, as mulheres enfrentam perdas significativas, passando por um doloroso período de elaboração do luto e desapego. A aceitação e convivência com um corpo marcado por uma nova imagem tornam-se desafios, impactando áreas como atividades sexuais, vida social e, em alguns casos, a vida laborativa (Santichi et al., 2012).

A perspectiva de recorrência da doença, a incerteza sobre o sucesso do tratamento e a própria incerteza da vida são elementos que desestruturam a mulher, conforme destacado por Vieira, Lopes e Shimo (2007). As representações sociais associadas ao câncer são, em sua maioria, negativas, contribuindo para a visão destrutiva e estigmatizada da doença (Pinho et al, 2007).

O preconceito social em relação ao câncer de mama leva muitas pacientes a manterem segredo sobre a doença, temendo o estigma e a rejeição (Tiemi, 2023). Nesse contexto, a rede de apoio social, proveniente da família, amigos, trabalho e serviços de saúde, emerge como um fator protetor e recuperador da saúde. A religião também desempenha um papel complementar no apoio, favorecendo a aceitação da doença e contribuindo para a melhoria da qualidade de vida da paciente, conforme apontado por Hoffmann, Muller e Frasson (2006).

O relacionamento entre os membros da família após a descoberta da doença, embora possa apresentar aumento de atenção e cuidado, muitas vezes é vivenciado de maneira negativa pela própria mulher, resultando em depressão, isolamento e vergonha. O papel do médico é crucial, pois uma relação empática pode influenciar positivamente o modo como o diagnóstico é comunicado e, consequentemente, o sucesso do tratamento. O diagnóstico precoce, além de melhorar a expectativa de cura, torna o processo menos invasivo e desgastante.

Estratégias focalizadas na resolução do problema, como planejamento, postura ativa, busca por informações e auto-cuidado, combinadas com pensamentos positivos e religiosos, surgem como meios eficazes para manter o autocontrole diante da situação. Diante da crise representada pelo adoecimento, a oportunidade de reflexão para mudanças existenciais positivas é evidente, culminando em uma reavaliação de valores e condutas.

Em resumo, este artigo busca proporcionar uma visão abrangente e fundamentada cientificamente sobre o impacto psicológico do câncer de mama nas mulheres. Ao integrar estratégias terapêuticas inovadoras, o objetivo é promover uma abordagem mais eficaz e personalizada, visando otimizar os desfechos psicológicos para as mulheres afetadas.

2. METODOLOGIA 

Este estudo constitui uma revisão de literatura destinada a analisar e sintetizar as informações disponíveis sobre o impacto psicológico do câncer de mama em mulheres. Com especial ênfase na realidade brasileira e nas estratégias de saúde mental, a pesquisa baseia-se em fontes de dados confiáveis, como PubMed, Scielo e o Ministério da Saúde do Brasil. A busca por artigos foi conduzida utilizando termos como “impacto psicológico do câncer de mama”, “saúde mental da mulher com câncer de mama”, “estratégias de apoio psicológico para mulheres com câncer de mama” e termos correlatos. A seleção considerou apenas estudos publicados desde 2010 até o presente, visando abranger informações atualizadas e relevantes.

Relatórios, diretrizes e informações oficiais relacionadas ao impacto psicológico do câncer de mama foram obtidos no site oficial do Ministério da Saúde do Brasil, abrangendo boletins, guias de apoio psicológico e estratégias de controle dessa condição no país. A análise dos dados foi realizada de maneira sistemática, com ênfase na identificação de tendências, desafios no diagnóstico e tratamento psicológico, assim como nas políticas de saúde mental implementadas para o controle dessa condição no contexto da Atenção Primária à Saúde. Serão realizadas comparações e sínteses dos dados provenientes das diferentes fontes, visando à elaboração de uma visão abrangente e atualizada sobre o impacto psicológico do câncer de mama em mulheres no Brasil.

Os resultados desta revisão de literatura serão apresentados e discutidos na seção subsequente do artigo, com o intuito de fornecer uma análise crítica do impacto psicológico do câncer de mama em mulheres na Atenção Primária à Saúde no Brasil. Serão abordados os avanços alcançados e os desafios enfrentados no âmbito das políticas de saúde mental, visando contribuir para uma compreensão mais profunda e embasada da abordagem dessa condição no contexto da atenção primária.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS

Estudos indicam que, ao receberem o diagnóstico de câncer de mama, mulheres e suas famílias inicialmente focam na sobrevivência. Subsequentemente, a preocupação se estende ao tratamento e às condições financeiras, enquanto durante o tratamento, surgem inquietações sobre a mutilação, desfiguração e impactos na vida sexual. Estudos prospectivos sobre qualidade de vida pós-mastectomia revelam deterioração não só na imagem corporal, mas também na vida sexual, no trabalho e nos hábitos diários (Lopes et al, 2018).

Mesmo quando o tratamento preserva a mama, a indicação gera medos e crises. No imaginário social, a mama é associada a atos prazerosos, como amamentar, seduzir e acariciar, não harmonizando com a intervenção dolorosa, embora necessária (Majewski, 2012).

Observou-se interesse sexual diminuído devido a efeitos colaterais como menopausa precoce, diminuição da libido e alterações hormonais, tornando o ato sexual doloroso e inibindo o orgasmo. Outros estudos mostram redução da qualidade de vida nos domínios emocional, social e sexual não apenas após 1-2 anos do tratamento, mas também após cinco anos, indicando a necessidade de cuidado psicooncológico contínuo (Silva, 2009).

Os significados da mama na vida da mulher devem ser considerados. A comunicação sobre a remoção da “mama” transmite a perda do “seio”, rico em representações culturais de feminilidade, sexualidade e maternidade. O câncer de mama abala a identidade feminina, exigindo compreensão das mulheres fragilizadas em sua sexualidade, maternidade e feminilidade (Brasil, 2014).

Ao considerarmos os significados do seio na sociedade em relação à maternidade e suas trocas simbólicas e afetivas, sua mutilação representa a impossibilidade de continuar sendo acolhedora e nutridora. A valorização cultural do seio como ícone de apelo sexual aumenta os prejuízos na experiência de sentir-se mulher após o câncer de mama (Oliveira, 2015).

O câncer de mama e seu tratamento afetam a identidade feminina, gerando baixa autoestima, inferioridade e medo de rejeição do parceiro. Em grupos de apoio psicológico, mulheres expressam, inicialmente, preferir a morte à remoção da mama, sugerindo que a falta do seio representa, inicialmente, uma morte simbólica  (Majewski, 2012).

O medo intenso de rejeição em relação ao companheiro, filhos e outros entes queridos reflete a ameaça à identidade de gênero, transcendendo os papéis sociais femininos. A mulher com câncer de mama enfrenta não apenas o sofrimento da doença, mas uma complexa trama de significados atribuídos ao feminino, interferindo nas relações interpessoais, especialmente nas mais íntimas e fundamentais. Integrar esses aspectos nas abordagens de atenção à mulher com câncer de mama é essencial (Lopes et al, 2018).

4. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em síntese, o câncer de mama exerce um impacto profundo na saúde das mulheres, transcendendo o domínio físico e estendendo-se aos aspectos emocionais, sociais e psicológicos. O diagnóstico e tratamento dessa condição desencadeiam uma série de preocupações, desde a sobrevivência até questões relacionadas à identidade feminina, sexualidade e qualidade de vida.

Intervenções eficazes na saúde da mulher frente ao câncer de mama exigem uma abordagem abrangente. Além do cuidado clínico, é crucial integrar suporte psicológico contínuo para lidar com os impactos emocionais e psicossociais. A compreensão dos significados culturais atribuídos à mama e ao corpo feminino é essencial para personalizar as intervenções, promovendo uma adaptação mais suave à nova realidade.

A preservação da identidade feminina, a promoção da autoestima e a mitigação do medo de rejeição são aspectos fundamentais. Intervenções que vão além do tratamento clínico imediato, estendendo-se ao período pós-tratamento, são necessárias para abordar as complexidades emocionais e sociais que persistem ao longo do tempo.

A atenção à mulher com câncer de mama deve ser holística, considerando não apenas a dimensão física da doença, mas também os aspectos psicológicos, sociais e culturais. Integrar essas intervenções no contexto da saúde da mulher é indispensável para proporcionar um cuidado completo e centrado na paciente, visando não apenas a sobrevivência, mas também a preservação da qualidade de vida e bem-estar ao longo de toda a jornada enfrentada por mulheres afetadas por essa condição.

REFERÊNCIAS

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LOPES, J. V. et al. Impact of breast cancer and quality of life of women survivors. Revista brasileira de enfermagem, v. 71, n. 6, p. 2916–2921, 2018.

MAJEWSKI, J. M. et al. Qualidade de vida em mulheres submetidas à mastectomia comparada com aquelas que se submeteram à cirurgia conservadora: uma revisão de literatura. Ciencia & saude coletiva, v. 17, n. 3, p. 707–716, 2012.

RAMOS, B. F.; LUSTOSA, M. A. Câncer de mama feminino e psicologia. Revista da SBPH, v. 12, n. 1, p. 85–97, 2009.

SANTICHI, E. C. et al. Rastreio de sintomas de ansiedade e depressão em mulheres em diferentes etapas do tratamento para o câncer de mama. Psicologia Hospitalar, v. 10, n. 1, p. 42–67, 2012.

SILVA, L. C. DA. Câncer de mama e sofrimento psicológico: aspectos relacionados ao feminino. Psicologia em estudo, v. 13, n. 2, p. 231–237, 2008.

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TIEMI*, R. Preconceito é um problema em casos de câncer de mama na população trans. Disponível em: <https://jornal.usp.br/radio-usp/preconceito-e-um-problema-em-casos-de-cancer-de-mama-na-populacao-trans/>. Acesso em: 19 fev. 2024.

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Disponível em: <https://repositorio.ufpb.br/jspui/bitstream/123456789/1668/1/IRLO%2009122015.pdf>. Acesso em: 19 fev. 2024.


¹Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto UNINASSAU  Campus Cacoal e-mail: suzanamioranzabif@gmail.com 
²Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto UNINASSAU  Campus Cacoa, Rondônial 
³Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto UNINASSAU  Campus Cacoal, Rondônia
4Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto UNINASSAU  Campus Cacoal, Rondônia
5Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto UNIFIMCA  Campus Porto Velho, Rondônia
6Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto UNINASSAU  Campus Cacoal, Rondônia. 
7Formada em Medicina pelo Universidade  UNIGRANRIO  Campus Duque de Caxias, Rio de Janeiro. 
8Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto UNISL  Campus Porto Velho, Rondônia. 
9Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto UNINASSAU  Campus Vilhena, Rondônia. 
10Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto UNINASSAU  Campus Vilhena, Rondônia. 
¹¹Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto UNIFIMCA  Campus Porto Velho, Rondônia
¹²Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto UNIFIMCA  Campus Porto Velho, Rondônia
¹³Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto UNINASSAU  Campus Cacoa, Rondônial 
14Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto UNISL  Campus Porto Velho, Rondônia.