OS IMPACTOS DAS REDES SOCIAIS NA SAÚDE MENTAL DOS ADOLESCENTES

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202411301509


SANTOS, Aldineia Oliveira dos1
NUNES, Amanda Scazuza2
COSTA, Thailane Cerqueira3
FARIA, Hytalo Mangela de Sousa4


Resumo:

O artigo explora como o uso excessivo das redes sociais afeta a saúde mental dos adolescentes, destacando que a crescente dependência dessas plataformas tem levado os jovens a priorizarem interações virtuais em detrimento das relações reais, o que pode resultar em sentimentos de solidão, ansiedade e depressão. O uso prolongado das plataformas também prejudica a concentração e afeta os hábitos de sono, comprometendo o desempenho escolar e o bem-estar geral. Embora as redes sociais ofereçam benefícios como a conexão entre pessoas e o acesso à informação, o texto alerta para os riscos do uso excessivo, que pode desconectar os adolescentes da realidade e prejudicar seriamente sua saúde mental. Além disso, incentiva a busca pela inteligência emocional, conceito de Goleman que apresenta ferramentas úteis para uma vida emocionalmente estável.

Palavras-chave: Saúde mental; Redes sociais; Impacto das redes sociais a saúde mental; Adolescência; Equilíbrio; Inteligência Emocional.

Abstract:

The article explores how the excessive use of social networks affects the mental health of adolescents, highlighting that the growing dependence on these platforms has led young people to prioritize virtual interactions to the detriment of real relationships, which can result in feelings of loneliness, anxiety and depression. Prolonged use of platforms also impairs concentration and affects sleeping habits, compromising school performance and general well-being. Although social networks offer benefits such as connection between people and access to information, the text warns of the risks of excessive use, which can disconnect teenagers from reality and seriously harm their mental health. Furthermore, it encourages the search for emotional intelligence, Goleman’s concept that presents useful tools for an emotionally stable life.

Key-words: Mental health; Social media; Impact of social networks on mental health; Adolescence; Balance; Emotional Intelligence.

1. INTRODUÇÃO

O avanço tecnológico tem proporcionado um acesso precoce e crescente a dispositivos eletrônicos e consequentemente às redes sociais virtuais, o que tem gerado preocupações na comunidade acadêmica, especialmente em relação aos impactos dessa exposição no aprendizado e nas competências interpessoais das novas gerações. A adolescência, fase crucial para o desenvolvimento emocional, torna-se um período ainda mais delicado devido à intensa interação com as mídias sociais.

Por um lado, a internet e as plataformas sociais oferecem diversas oportunidades, como a interação social, o aprendizado e a formação de identidade, facilitando a comunicação e a troca de informações. No entanto, o uso excessivo dessas plataformas e dispositivos pode ter efeitos adversos, afetando o desenvolvimento cognitivo e social dos jovens. Souza e Cunha (2019) ao apresentar sobre os impactos das redes sociais virtuais, demonstram que o tempo excessivo dedicado ao mundo digital pode prejudicar o sono, a atenção, a autoestima, a socialização e até mesmo a empatia dos adolescentes.

Outro aspecto destacado é o impacto negativo das redes sociais no comportamento dos jovens. O uso inadequado das plataformas digitais pode resultar em ataques verbais e mal-entendidos, levando a conflitos e afetando negativamente a saúde mental dos indivíduos envolvidos. A exposição a situações de agressão verbal online está associada a um aumento nos casos de depressão e alterações no comportamento, conforme evidenciado pelas pesquisas de Silva e Silva (2017) e Souza e Cunha (2019).

A relação entre as mídias sociais e a saúde mental tem sido amplamente discutida por especialistas, que alertam para os riscos do uso excessivo das ferramentas digitais. Embora a comodidade proporcionada pela tecnologia seja inegável, seu uso constante pode prejudicar as relações humanas e contribuir para o desgaste psicológico dos jovens (Silva e Silva, 2017). A rápida disseminação das tecnologias digitais e sua inserção na vida cotidiana dos adolescentes tem gerado preocupação quanto ao impacto negativo no desenvolvimento psicossocial dessa faixa etária.

A aparição constante da tecnologia tem transformado a maneira como a educação é vivida e praticada. Os alunos, além de dependerem da escola e dos professores, agora têm acesso a uma vasta gama de informações na internet. Essa integração entre o mundo digital e o real tem gerado uma influência crescente sobre o comportamento dos jovens, tanto no ambiente escolar quanto no familiar e social, criando um cenário em que o uso excessivo das redes sociais pode afetar a saúde mental e o bem-estar geral dos adolescentes.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O ser humano, ao longo de toda sua trajetória está incluso em meios sociais, seja no ambiente familiar, escolar, profissional, quanto muitos outros. Kurt Lewin (1890) (apud, Pasqualini; Martins Filho, 2021) nos apresenta a importância desses grupos como parte do espaço vital e através deles assumimos responsabilidades e a partir delas vamos desenvolvendo nossos gostos, valores e visão de mundo.

Segundo Jean Piaget (1999) a adolescência é uma fase do desenvolvimento humano marcada por profundas transformações biológicas, psicológicas e sociais, o que a torna uma etapa crítica para o estabelecimento de uma saúde mental

equilibrada. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a saúde mental na adolescência refere-se ao bem-estar psicológico dos jovens e à sua capacidade de lidar com as demandas da vida diária, desenvolver relações saudáveis e alcançar o seu potencial (OMS, 2018).

Em “identidade versus confusão de papéis”, Erik Erikson (1968) disserta que na adolescência os indivíduos enfrentam conflitos que necessitam de resoluções para que continue o desenvolvimento humano de modo saudável. Nesta fase o adolescente busca sua identidade, explorando diferentes papeis e valores, em que essa “confusão de papéis” pode surgir se esse processo for mal resolvido.

A confusão de papéis é entendida como parte do processo de conquista da identidade, no qual, a mente do adolescente passa por um momento de experimentação entre infância e a vida adulta, entre a moral aprendida pela criança e a ética a ser desenvolvida no adulto (Erikson, 1976).

Durante esse período, em virtude das pesquisas e teorias de Piaget (1999) e Erikson (1968), os adolescentes enfrentam desafios significativos, como a busca por identidade, mudanças hormonais, pressões sociais e acadêmicas. No qual, sem uma devida atenção a essas mudanças, pode-se resultar em quadros emocionais e psicológicos, como depressão, ansiedade, transtornos alimentares e/ou estresse.

No decorrer desse processo de descoberta em si mesmo, o sujeito tenta definir sua identidade e para isso, muitas vezes se compara com outros adolescentes ou com figuras importantes em sua vida, como amigos, pais ou celebridades. O que reforça os estudos de Kurt Lewin (1890) ao demonstrar a importância dos grupos para o crescimento ou evolução do sujeito, seja ele físico, psicológico ou social.

Levando em consideração o foco no desenvolvimento emocional, através desta teoria é perceptível a importância da atenção a esta fase do desenvolvimento humano, tendo visto que essa troca de papéis, quando não ocorrida de forma saudável, fere o bem-estar psicológico do adolescente, trazendo conflitos que podem se transformar em transtornos emocionais que dependendo do nível o afetaram em várias áreas de sua vida.

O Bem-Estar Psicológico (BEP) engloba fatores como satisfação com a vida, altos níveis de afeto positivo e baixos níveis de afeto negativo, sendo essencial para a qualidade de vida e o funcionamento saudável do indivíduo. Esse conceito, desenvolvido através da pesquisa de Diener (1984), pós a segunda guerra mundial, busca compreender como as transformações sociais impactam a qualidade de vida, evidenciando a importância de indicadores que mensuram o bem-estar em uma sociedade em constante mudança.

Esse equilíbrio favorece uma interação emocional e social positiva, permitindo o desenvolvimento tanto individual quanto coletivo, e refletindo um estado de bem-estar além da simples ausência de transtornos psicológicos. Dessa forma, o BEP não se limita à ausência de distúrbios, mas reflete um estado positivo de funcionamento psicológico que favorece o desenvolvimento pessoal e social.

O bem-estar na sociedade não se limita apenas ao social presencial. Souza e Cunha (2019) compreendem que a reflexão sobre os conflitos que a dependência tecnológica tem causado aos adolescentes, sendo esses os conflitos familiares, a falta de diálogo, isolamento, entre outros, que vem afetando esse bem-estar tanto social quanto individual.

A pesquisa tem como objetivo apresentar a relação e impacto que essa dependência tem causado a saúde psicológica desses jovens, tendo em vista que por mais que as redes sociais auxiliam a vida humana em diversos aspectos como educação e segurança, ela também promove um adoecimento mental como ansiedade e/ou depressão (Cunha e Souza, 2019).

Além de outros sinais citados pelas autoras como falta de concentração, falta de diálogo presencialmente e principalmente familiar, o excesso de estresse e/ou raiva que é causado pelas comparações sociais e/ou quando não tem acesso às redes por uma restrição familiar ou escolar, perda do prazer pelas atividades manuais ou sociais ou outros sintomas descritos ao longo do artigo.

Quando os sinais descritos por Sousa e Cunha (2019) não são prevenidos brevemente, pode-se trazer prejuízos ao desenvolvimento social desse indivíduo em formação. Através dos estudos de Goleman (1995) busca-se entender a importância da inteligência emocional e como ela auxilia na prevenção desses transtornos para a continuidade do desenvolvimento de forma equilibrada e alcançando o sucesso subjetivo ao sujeito.

O conceito de inteligência emocional, desenvolvido por Daniel Goleman (1995), refere-se à capacidade de reconhecer, entender, gerenciar e usar eficazmente as emoções, tanto em si mesmo quanto nos relacionamentos interpessoais. Goleman argumenta que a inteligência emocional é tão importante quanto a inteligência intelectual (QI) para o sucesso pessoal e profissional.

Tal pesquisa destaca que quando o sujeito busca o autoconhecimento, compreendendo melhor seus sentimentos e como reage às situações, ele tem a oportunidade de gerenciar essas emoções e usá-las ao seu favor. Deste modo, evita conflitos, diminui o estresse e consegue focar em seus objetivos para alcançar o sucesso (Goleman 1995).

Inclusive, a autorregulação dessas emoções auxilia na prevenção de transtornos psicológicos, como ansiedade generalizada, além do poder de transformar radicalmente ambientes de forma positiva, como apresentado na parte três do livro “Inteligência Emocional: A Teoria Revolucionária que redefine o que é ser Inteligente” de Goleman (1995).

Através dos estudos apresentados, sobre os conflitos da adolescência e como as redes sociais virtuais têm fortalecido o adoecimento mental, foram abordadas tais teorias e mencionado a sua eficácia contra os impactos que as mídias sociais têm causado na saúde mental dos adolescentes e quais ferramentas tem sido utilizadas para sua prevenção.

3 MATERIAIS E MÉTODOS

Este artigo foi desenvolvido a partir de uma revisão bibliográfica, com a seleção de artigos e livros que abordam o tema do uso excessivo das tecnologias por adolescentes. Após uma leitura preliminar, foram escolhidos os materiais mais relevantes para embasar a pesquisa. O método adotado foi o hipotético-dedutivo, proposto por Karl Popper, que envolve a formulação e testagem de hipóteses até que se chegue a uma conclusão cientificamente validada.

A pesquisa segue uma abordagem qualitativa, buscando entender a subjetividade e os fatores subjacentes ao problema do uso excessivo de tecnologias pelos adolescentes. A análise é exploratória e busca ampliar o conhecimento sobre o tema, com foco nos impactos psicológicos e sociais desse comportamento.

Este artigo teve como base os seguintes autores: Karlla Souza e Mônica Cunha sobre os Impactos das redes sociais, Daniel Goleman sobre Inteligência Emocional, Erik Erikson sobre o desenvolvimento psicossocial, Jean Piaget sobre o desenvolvimento humano, Kurt Lewin e a dinâmica de grupos, Zygmunt Bauman sobre a modernidade líquida, Wagner Machado e Denise Bandeira sobre os estudos de bem-estar psicológico de Diener.

Tal abordagem permitiu compreender melhor o fenômeno, com a possibilidade de estudos quantitativos futuros, para complementar a análise com dados estatísticos. Percebeu-se a relevância de investigar a dependência das tecnologias por adolescentes, dada a crescente preocupação com os problemas associados a esse uso excessivo, que afeta a saúde mental e as relações sociais dos jovens.

4. DISCUSSÃO

Através da literatura de Erik Erikson, o bem-estar psicológico de Machado e Bandeira, os Impactos das redes sociais na saúde mental dos adolescentes por Cunha e Souza (2019) e Inteligência Emocional de Daniel Goleman, será abordado as principais ideias e conceitos que constituem tais teorias a fim de levantar reflexões sobre a importância desse tema aos adolescentes da nossa contemporaneidade.

Erik Erikson (1976) foi um psicólogo que propôs uma teoria do desenvolvimento psicossocial baseada em oito estágios ao longo da vida. Cada estágio apresenta características de um conflito central que precisa ser resolvido para que o indivíduo se desenvolva de maneira saudável. O sucesso na resolução desse conflito ao desenvolvimento ou qualidades psicológicas positivas.

Em “identidade versus confusão de papéis”, descrita como fase da adolescência (12 a 18 anos), os indivíduos enfrentam a tarefa de explorar e definir sua identidade pessoal e social. Isso envolve questionar e experimentar diferentes papéis, crenças, valores e objetivos de vida, nos quais ele continua citando que:

É um período da vida em que o corpo muda radicalmente de proporções, a puberdade genital inunda o corpo e a imaginação com toda espécie de impulsos, a intimidade com o outro sexo se inicia e o futuro imediato o coloca diante de um número excessivo de possibilidades e escolhas conflitantes. (ERIKSON, 1968, p.132).

O corpo do sujeito nessa fase da vida, vivência mudanças físicas, comportamentais e psicológicas, havendo conflitos em mais de uma área ao mesmo tempo, exibindo o conflito de papéis descrito por Erikson (1976). É um momento de descobrimento e experimentação em busca de sua identidade e nesse processo compreendemos os estudos de Piaget no qual cita que: “A adolescência é uma transição entre o pensamento concreto e o pensamento formal, onde o sujeito começa a ser capaz de manipular operações lógicas abstratas e deduzir consequências de hipóteses.” (PIAGET, 1972)

Estudos esses que discutiram aspectos do desenvolvimento cognitivo que podem estar relacionados à forma como os adolescentes se comparam com os outros de maneira indireta. Os estudos de Kurt Lewin (1890) sobre a influência que os grupos impactam no desenvolvimento humano, revela que desde o nascimento fazemos parte de um grupo (família), no qual possui um grande poder de influenciar e moldar as percepções iniciais da vida.

Ou seja, desde o nascimento o ser humano é influenciado por grupos, seja ele familiar, religioso, amigos, e afins… Durante a adolescência o sujeito vivencia o desejo pela independência e escolha de quais grupos se inserir, as vezes sendo contrário às influências familiares e acarretando conflitos tantos internos quantos sociais (Silva e Silva, 2017)

Trazendo a reflexão que em ambos os estudos há a conclusão de que a adolescência é um período transacional entre infância e o amadurecimento na busca da independência no qual durante esse período o adolescente sofre com conflitos de papéis, que sendo estes não solucionado de forma que contribua com seu desenvolvimento, afetará sua saúde mental.

Segundo Machado e Bandeira em seu artigo “Bem-estar psicológico: definição, avaliação e principais correlatos” que ressalta a pesquisa de Diener (1984) sobre a necessidade de visualizar as transformações sociais ocorridas pelo fim da segunda guerra mundial e através dela desenvolver indicadores sociais de qualidade de vida. A definição do Bem-Estar Psicológico (BEP) é visto como:

Conjunto de fenômenos que incluem respostas emocionais, domínios de satisfação e julgamentos globais de satisfação de vida. Existem, entretanto, três componentes básicos do BES: satisfação de vida, altos níveis de afeto positivo e baixos níveis de afeto negativo. (DIENER apud, MACHADO e BANDEIRA, 2012)

Na contemporaneidade, resumidamente o BEP é definido como a ausência de doenças mentais. Todavia só é possível ter saúde quando há por completo o bem-estar físico, mental e social (Machado e Bandeira, 2012). Ambos são fundamentais para a capacidade coletiva e individual de cada indivíduo, pois quando há equilíbrio, é nos proporcionado pensamentos, emoções, interações sociais de forma saudável e positiva, bem como a qualidade de vida.

A utilização das redes sociais e da internet tem gerado um debate crescente sobre seus efeitos, especialmente no que diz respeito à saúde mental dos adolescentes. A literatura aponta uma série de impactos negativos que derivam do uso excessivo e do uso problemático dessas tecnologias, afetando de forma significativa o desenvolvimento psicológico e emocional dessa faixa etária. Estudos recentes, como os de Souza e Cunha (2019), abordam os diversos fatores que contribuem para essa problemática, destacando tanto as consequências imediatas quanto as de longo prazo.

Segundo Silva e Silva (2017) (apud Souza e Cunha, 2019), o uso diário da internet pode resultar em conflitos familiares, originados pela diminuição da comunicação entre os membros da família. Além disso, os autores citam que o uso excessivo das redes sociais está associado a relações interpessoais mais superficiais e dificuldades de aprendizagem, contribuindo também para o desenvolvimento de transtornos como ansiedade e déficit de atenção.

Essas observações são reforçadas por Silva e Silva (2017) que apontam o crescente fenômeno do bullying virtual e das agressões verbais online, que podem gerar sérios danos psicológicos aos envolvidos, afetando a autoestima e, em casos mais graves, levando à depressão. Souza e Cunha (2019) enfatizam que:

“O uso problemático de mídias sociais revela um ambiente onde jovens chegam a agredir verbalmente pessoas com ideias e culturas diferentes das suas, que posteriormente podem causar danos psicológicos a outrem. O bullying virtual, as agressões verbais e as mensagens mal interpretadas podem influenciar em mudanças de hábito, discórdias e até desestruturação de famílias, que são alguns dos fatores que aumentaram as taxas de quadros de depressão.” (p. 205)

Essas observações corroboram a ideia de que, embora as redes sociais tenham o potencial de conectar pessoas e permitir trocas sociais instantâneas, elas também podem criar um ambiente tóxico, especialmente quando usadas de forma irresponsável ou imatura.

Percebemos que a crescente digitalização das relações sociais levanta questões sobre como os adolescentes estão preparados para lidar com essas novas formas de interação. A tecnologia oferece um vasto leque de possibilidades de comunicação, mas essa “conectividade instantânea” não parece vir acompanhada de uma maturidade emocional suficiente para gerenciar as complexidades dessas relações (Souza e Cunha, 2019).

A pergunta central aqui é: será que essa facilidade de se desconectar realmente resolve o problema de forma eficaz? Em muitos casos, o adolescente pode recorrer ao distanciamento social como uma forma de evitar o enfrentamento da situação, mas isso não significa que a dor emocional ou os sentimentos de rejeição sejam resolvidos (Sousa e Cunha, 2019). Ao contrário, essa “desconexão” pode agravar o quadro de solidão e insegurança, exacerbando os problemas emocionais que o adolescente já enfrenta.

A metáfora do sociólogo Zygmunt Bauman sobre a “vida líquida” se aplica de forma pertinente ao comportamento das novas gerações, que vivem em um mundo cada vez mais volátil e efêmero. Em sua análise, Bauman (2000) discute como as relações humanas se tornaram mais frágeis e descartáveis, refletindo a dificuldade de construção de laços duradouros em uma sociedade marcada pela rapidez e pela superficialidade das interações.

Comparando esta análise de Bauman (2000) sobre a volatidade em que as novas gerações vem vivendo percebemos que quanto mais acessos e influência as redes sociais têm recebido e promovido, mais ainda essas interações se tornam cada vez mais vagas, desapegadas e vazias de sentimentos genuínos. Confirmando tal conceito, já que ele é marcado por uma constante instabilidade das conexões humanas (Bauman, 2000).

De acordo com Piaget (1972), o adolescente está em uma fase de transição, onde a capacidade de entender e lidar com as complexidades emocionais ainda está em formação. Essa imaturidade pode resultar em sofrimento psicológico, especialmente quando o adolescente não tem os recursos necessários para enfrentar conflitos interpessoais ou compreender as emoções que está vivenciando. Eles buscam experiências intensas, mas muitas vezes carecem das ferramentas necessárias para processá-las de forma saudável.

A Inteligência Emocional (IE), conceito amplamente difundido pelo psicólogo Daniel Goleman (1995), é uma ferramenta que pode contribuir de forma sadia nessa transição da vida. Este conceito refere-se à capacidade de identificar, compreender, regular e utilizar as emoções de maneira eficaz, tanto em nível intrapessoal quanto interpessoal.

Goleman (1995) propõe que a IE é composta por cinco componentes principais: (1) autoconsciência emocional, a habilidade de reconhecer e entender as próprias emoções; (2) autorregulação emocional, a capacidade de controlar e redirecionar emoções disruptivas; (3) motivação, o impulso para atingir objetivos com foco e persistência; (4) empatia, a habilidade de compreender as emoções dos outros; e (5) habilidades sociais, a capacidade de gerenciar relações e inspirar os outros.

O autor argumenta que, enquanto a inteligência tradicional (QI) é importante para o sucesso acadêmico e profissional, a inteligência emocional é um fator determinante para o bem-estar psicológico e a eficácia nas interações sociais. O estudo demonstra que indivíduos com altos níveis de inteligência emocional apresentam menor prevalência de distúrbios psicológicos.

Segundo Bar-On (1997), pessoas com maior competência emocional tendem a ter maior resistência ao estresse e a desenvolver estratégias mais eficazes para lidar com adversidades. A autorregulação emocional, por exemplo, ajuda os indivíduos a responderem ao estresse de maneira equilibrada, o que reduz o risco de desenvolvimento de doenças relacionadas ao estresse, como o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e a ansiedade crônica (Goleman, 1995).

Além disso, habilidades como a empatia e a capacidade de estabelecer relações interpessoais saudáveis estão associadas a um maior suporte social, fator protetor contra o isolamento e a solidão, condições que muitas vezes antecedem o desenvolvimento de transtornos como a depressão (Salovey e Mayer, 1990).

Esse conjunto de habilidades tem se mostrado crucial não apenas para o sucesso pessoal e profissional, mas também para a saúde emocional e o bem- estar, particularmente em um cenário onde os adolescentes estão cada vez mais expostos aos desafios psicológicos decorrentes das interações digitais, bem como a dependência delas. As redes sociais, apesar de suas vantagens, têm gerado impactos negativos significativos na saúde mental dos jovens, como citados anteriormente.

Nesse cenário, a inteligência emocional, conforme descrita por Goleman, oferece um conjunto de ferramentas que podem ajudar os adolescentes a navegar de maneira mais saudável no ambiente digital. A autoconsciência emocional, um dos pilares da IE, permite que os indivíduos reconheçam como as interações online estão afetando seus sentimentos e comportamentos.

Quando um adolescente é capaz de identificar emoções negativas geradas por comparações sociais ou pela busca incessante por aprovação nas redes, ele pode tomar medidas para regular essas emoções, evitando que elas evoluam para distúrbios emocionais mais graves, como a depressão ou a ansiedade. Inclusive, Goleman (1995) cita que a “autorregulação emocional é a capacidade de controlar as reações emocionais e comportamentais, especialmente em situações de estresse ou pressão, como ocorre frequentemente nas interações nas redes sociais”.

A autorregulação emocional é essencial no contexto das redes sociais, onde os adolescentes enfrentam constante exposição a críticas. Indivíduos com alta inteligência emocional como os apresentados por Goleman (1995) são mais capazes de controlar suas reações impulsivas, como a busca por validação ou ressentimento, desenvolvendo estratégias para lidar com emoções de forma construtiva. Isso os ajuda a evitar comportamentos prejudiciais, como o isolamento social ou o uso excessivo das plataformas, além de mitigar os efeitos do cyberbullying e da pressão para atender aos padrões de beleza e sucesso amplamente divulgados online.

A empatia e as habilidades sociais também desempenham um papel importante na proteção da saúde mental dos adolescentes. A empatia permite compreender as emoções dos outros, favorecendo interações respeitosas e reduzindo os conflitos nas redes sociais, enquanto as habilidades sociais ajudam a fortalecer o suporte emocional, prevenindo sentimentos de solidão.

Goleman (1995) destaca, ainda, que a motivação intrínseca, um dos elementos da inteligência emocional, pode servir como uma força estabilizadora frente aos desafios das redes sociais. Adolescentes com maior motivação interna tendem a ser  menos dependentes da validação externa e mais focados em

objetivos próprios, o que pode reduzir o impacto de críticas ou da busca incessante por “likes” e seguidores. Esse tipo de motivação ajuda a preservar a autoestima e a saúde mental, permitindo que os adolescentes cultivem um senso de valor pessoal independente da percepção pública nas redes sociais.

A inteligência emocional, portanto, oferece uma abordagem preventiva eficaz contra os impactos negativos das redes sociais na saúde mental dos adolescentes. A capacidade de reconhecer, regular e lidar com as próprias emoções, assim como de entender as emoções dos outros, contribui para o desenvolvimento de resiliência emocional, uma habilidade crucial para enfrentar as dificuldades associadas à vida digital.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por fim, através do estudo foi explorado a relevância da teoria do desenvolvimento Psicossocial de Erik Erikson (1976), os conceitos de bem-estar psicológico e inteligência emocional, juntamente com as consequências do uso das redes sociais virtuais na saúde mental dos adolescentes, proporcionando uma reflexão aos desafios que os jovens enfrentam atualmente.

Reconhece-se que essa fase é um período de experimentação e descobertas, no qual conflitos internos e externos podem surgir, especialmente no cenário digital, em que os estímulos de comparação social estão em excesso diariamente. A busca pela identidade e resolução de conflitos de papéis, conforme visto por Erikson (1976), são questões fundamentais que auxiliam na reversão dessas discordâncias e influenciam diretamente no bem-estar psicológico dos jovens.

A definição de Bem-Estar Psicológico (BEP), ressalta a importância do equilíbrio entre as dimensões físicas, emocionais e sociais para um bom desenvolvimento humano, o que se mostra extremamente relevante ao contexto digital e o adoecimento que ele promove quando não acessado equilibradamente. A crescente dependência dessas plataformas pode contribuir para a intensificação de problemas como ansiedade, depressão e isolamento social, conforme evidenciado por estudos de Souza e Cunha (2019).

Em síntese, para que os adolescentes possam navegar de maneira saudável no ambiente digital, é necessário promover o desenvolvimento da inteligência emocional, oferecendo suporte adequado para o autoconhecimento e autorregulação das emoções. As estratégias de promoção dessa habilidade devem ser integradas ao processo educativo e ao acompanhamento psicológico dos jovens, visando reduzir os impactos negativos das redes sociais e contribuir para o bem-estar psicológico duradouro dessa geração. Assim, a construção de habilidades emocionais é um passo crucial para garantir um futuro mais equilibrado e resiliente frente aos desafios que a era digital aponta.

REFERÊNCIAS

Erikson, E. H. (1968). Identity: Youth and Crisis. W. W. Norton & Company.

BAUMAN, Z. Vida líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000.

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PASQUALINI JC.; MARTINS F, R; FILHO A, E. A Dinâmica de Grupo” de Kurt Lewin: proposições, contexto e crítica. SciElo Brasil – Scientific Electronic Library Online. Estudo psicologia. (Natal) [online]. 2021, vol.26, n.2, pp. 161-173. ISSN 1413-294X.DOI: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413- 294X2021000200005> Acesso em: 18/04/2024

SANTOS, Sílvia R. Métodos qualitativos e quantitativos na pesquisa biomédica. J pediatr, v. 75, n. 6, p. 401-406, 1999.

MACHADO, W. DE L.; BANDEIRA, D. R. Bem-estar psicológico: definição, avaliação e principais correlatos. SciElo Brasil – SciElo Brasil – Scientific Eletronic Library Online. Estudos de Psicologia (Campinas), v. 29, n. 4, p. 587–595, dez. 2012. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0103-166X2012000400013>. Acesso em: 04/04/2024

SANTOS, Sílvia R. Métodos qualitativos e quantitativos na pesquisa biomédica. J pediatr, v. 75, n. 6, p. 401-406, 1999.


1Acadêmica de Psicologia, Centro Universitário Maurício de Nassau – UNINASSAU, 01379072@sempreuninassau.com.br

2Acadêmica de Psicologia, Centro Universitário Maurício de Nassau – UNINASSAU, 01519218@sempreuninassau.com.br

3Acadêmica de Psicologia, Centro Universitário Maurício de Nassau – UNINASSAU, 01367290@sempreuninassau.com.br

4Professor orientador Hytalo Mangela de Sousa Faria, Esp. em Saúde Mental e Atenção Psicossocial E-mail: 011210812@prof.uninassau.edu.br