REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8274931
Francisco José de Oliveira Santos Neto1
Andrielle Oliveira Zanella2
Clarissa Silva Cubel3
Camilla Mendes Ferrari4
Ceres Maria Duarte Montenegro5
Esther Mendonça dos Santos6
Edylla Barbosa Lins Aroucha7
Ingrid Sarmento Leite8
Isabelly Cavalcanti Barboza9
Juliana Miranda da Silva10
Júlia Machado Barros11
Lidiane Ladeia Malheiros Souto12
Márcio Lima Saldanha13
Nadson Caldas de Aquino14
Peterson Vieira de Assis Filho15
Sara Araújo de Quental16
Sara Almeida Pereira Leite17
RESUMO
A automedicação é um problema de saúde que o Brasil enfrenta na atualidade. Muitos são os fatores que influenciam isso, haja vista que essa problemática não teve seu início recentemente. Tendo em vista aprimorar os conhecimentos acerca desse tema, o presente artigo procurou versar sobre a automedicação no país, buscando suas causas, consequências para a saúde individual e pública, além de dados da atual situação do Brasil quanto a automedicação. Utilizou-se para a pesquisa a revisão da literatura sobre o tema nas plataformas Pubmed e SCIELO. Como resultado, foi observado que a indústria farmacológica avançou significativamente em relação ao controle químico para o benefício da saúde mas, em contrapartida a esse progresso, a educação medicamentosa não acompanhou o fenômeno, uma vez que o mau hábito da automedicação denota uma realidade brasileira. Ratifica-se, também, que fatores conjunturais interferem diretamente nessa prática, a medida que a idade, o sexo, a região, a cultura e o comportamento são nuances que caracterizam o perfil dos que fazer uso da automedicação. Assim, constatou-se que o brasileiro não se mostra preocupado com os eventos adversos que a automedicação pode causar – ou, muitas vezes, não tem conhecimento acerca dos riscos dela em sua saúde -, importando-se, apenas, com a redução dos sintomas pontuais.
PALAVRAS-CHAVE: Automedicação; Saúde pública; Impactos; Brasil.
ABSTRACT
Self-medication is a health problem that Brazil faces today. There are many factors that influence, has the vision of a problem has not been your last. In order to improve knowledge about this topic, this article sought to address self – medication in the country, seeking its causes, consequences for individual and public health, and data on Brazil ‘s current situation regarding self – medication. We used the literature review on the subject in the Pubmed and SCIELO platforms. As a result, it was observed that the pharmacological industry advanced significantly in relation to the chemical control for the benefit of health, but in counterpart to this progress, drug education did not follow the phenomenon, since the bad habit of self-medication denotes a Brazilian reality. It is also confirmed that conjunctural factors interfere directly in this practice, as age, sex, region, culture and behavior are nuances that characterize the profile of those who use self-medication. Thus, it was observed that the Brazilian is not worried about the adverse events that self-medication can cause – or is often not aware of the risks of it in his health -, only being concerned with the reduction of symptoms punctual
KEYWORDS: Self-medication; Public health; Impacts; Brazil.
1. INTRODUÇÃO
O começo da idade contemporânea trouxe diversas problemáticas relacionadas à saúde no âmbito dos medicamentos. Com isso, os fármacos começaram a circular na sociedade, como forma de capitalização ou de saúde pública, e surge a consequência dessa demanda: a automedicação como uma segunda via para aliviar os sintomas das doenças. De acordo com Arrais et al (2018, p. 2), medicamentos são importantes bens sociais e sua utilização pela população brasileira é alta e influenciada por vários fatores. (apud CARVALHO, MF et al., 2005).
Na perspectiva de Oliveira et al. (2018, p. 2), a automedicação pode ser descrita como a prática de seleção e utilização de medicamentos isentos de prescrição ou a reutilização de medicamentos previamente prescritos sem supervisão de um profissional habilitado. (apud LOCQUET et al., 2017). “As descrições de boas ou más experiências usando a medicação são divulgadas e passam a criar um sistema de referência acessível para validação por meio da experiência empírica direta.” (PONS et al., 2017, p.6)
A utilização de medicamentos é influenciada pela estrutura demográfica, fatores socioeconômicos, comportamentais e culturais, perfil de morbidade, características do mercado farmacêutico e pelas políticas governamentais dirigidas ao setor (COSTA et al., 2017, p. 2 apud OLIVEIRA; XAVIER; ARAÚJO, 2012).
Além disso, constata-se que a mídia possui grande relevância para a automedicação, uma vez que, por ofertar uma diversidade informativa – que nem sempre é fidedigna – incita a autonomia medicamentosa, já que o consumidor, comumente online, busca a praticidade da informação instantânea, subjetivando a qualidade da pesquisa. “O problema chave atual não é a falta de informações suficientes sobre tópicos de saúde, mas a qualidade dessas informações. Incentivos eficazes para a qualidade não estão disponíveis.” (SCHWEIM; ULLMANN, 2015, p. 3).
Na perspectiva de Palodeto e Fischer (2018, p. 254), a inserção dos medicamentos demanda a investigação das peculiaridades dos grupos sociais, a fim de identificar e mitigar vulnerabilidades. Muitas das estáticas apontam preferência por medicamentos que minimizem as dores físicas ou neurológicas. De acordo com Oliveira et al (2018, p. 6) dentre os medicamentos, os analgésicos (como dipirona e paracetamol) foram os mais consumidos por automedicação.
Nesse contexto, considerando os poucos estudos publicados com representatividade nacional, a educação em saúde seria uma via para diminuir os impactos da automedicação na saúde pública do país. Na ótica de Lee et al (2017, p. 4), a alfabetização em medicação é uma parte da educação em saúde que requer mais habilidades para praticar. “Alfabetização de medicamentos foi desenvolvido com base no modelo de alfabetização em saúde da Nutbeam, que inclui três níveis de alfabetização em saúde: Nível I é alfabetização funcional, Nível II é alfabetização interativa e Nível III é alfabetização crítica” (LEE, et al 2017, p. 4).
Diante disso, os impactos das automedicações são refletidos nos gastos da saúde pública para reverter os casos de intoxicação e de tratamentos dos casos mais sérios. Dessa forma, o maior investimento na área da promoção da saúde, por parte do governo, minimizaria os problemas da automedicação no país. A Atenção Primária em Saúde como parte e como coordenadora de uma rede de atenção à saúde deve estar preparada para solucionar a quase totalidade dos problemas mais frequentes que se apresentam no âmbito dos cuidados primários. (COSTA CMFN et al., 2017, p. 2).
Aqui nós apresentamos uma revisão da literatura integrativa de caráter descritivo, contribuindo para discussões sobre os impactos da automedicação na saúde pública brasileira; abordando suas causas e consequências.
2. METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão da literatura integrativa de caráter descritivo, contribuindo para discussões sobre os impactos da automedicação na saúde pública brasileira; abordando suas causas e consequências. Para o desenvolvimento da revisão literária, foram determinadas algumas etapas: a elaboração da questão de pesquisa, a busca na literatura, a categorização e a avaliação dos estudos, a análise e o esclarecimento dos resultados e um resumo do conhecimento. Além disso, o artigo foi adotando critérios de inclusão: língua portuguesa e inglesa. O levantamento e a seleção dos artigos foram feitos nas plataformas de pesquisa Pubmed e Scientific Eletronic Library online (SCIELO), no período de abril a junho de 2019. Na PUBMED e SCIELO, os artigos foram encontrados usando os seguintes descritores de saúde, utilizando o operador booleano “AND”: “self-medication” AND “problem”, retornou 429 artigos, “self-medication” AND “brazil”, retornou 156 artigos. Após a leitura dos títulos e resumos, foram selecionados sete artigos os quais continham as informações necessárias para o desenvolvimento dos objetivos da revisão, sendo 5 Pubmed e 2 SCIELO.
3. RESULTADOS
Foram utilizados sete artigos (Quadro 1), publicados em diferentes bases de dados, e concluiu-se que a automedicação é um fator constante na vida dos brasileiros. O uso de medicamentos sem receita médica, “prescritos” por vizinhos ou familiares – ou ainda aqueles que já foram prescritos por médicos e que os pacientes, ao apresentarem os mesmos sintomas da época, reutilizam a receita sem ter uma consulta prévia para saber se realmente trata-se da recorrência daquela enfermidade – é preocupante.
QUADRO 1: Referências selecionadas para a escrita da revisão
Artigo | Autores | Principais Causas |
Media influence on risk competence in self-medication and self-treatment | SCHWEIM, ULLMANN | Busca de informações imediatas na internet, divulgação irrestrita de inovações diagnósticas e descobertas científicas, por parte da mídia. Superficialidade no conhecimento, autonomia medicamentosa, ausência de qualidade informativa, mercado da informação. Formação educacional em saúde, Credibilidade de provedores individuais, melhoria da competência da mídia. |
Predisposing factors to the practice of self-medication in Brazil: Results from the National Survey on Access, Use and Promotion of Rational Use of Medicines (PNAUM) | PONS et al | Influência pela experiência prévia e familiaridade com medicamentos, indivíduos com baixa auto avaliação em saúde. |
Perfil de medicamentos utilizados para automedicação por idosos atendidos em um centro de referência | OLIVEIRA et al | Reduzir e aliviar os sintomas de espasmos musculares, alívio da dor. Interação medicamentosa, comprometimento da coordenação e do equilíbrio, confusão mental, déficit cognitivo. Vetar a venda de medicamentos sem receita. |
Use of medicines by patients of the primary health care of the Brazilian Unified Health System | COSTA et al | Oferta inadequada de medicamentos e a não execução compulsória das prescrições médicas, bem como a baixa escolaridade, a experiência anterior satisfatória, a disponibilidade do produto em casa e a indicação por profissionais de farmácia. Altos índices de morbidade e mortalidade Escolaridade, qualidade informativa |
Inappropriate self-medication among adolescents and its association with lower medication literacy and substance use | LEE el at | Informações limitadas e baixo conhecimento sobre o uso de medicamentos: baixa alfabetização em saúde. Comportamentos de riscos entre os adolescentes, mistura de álcool com medicação. Aumentar a criticidade e curiosidade dos consumidores, elevar a educação em saúde medicamentosa, discutir o uso de medicação com os profissionais da saúde. |
Prevalência da automedicação no Brasil e fatores associados | ARRAIS el at | Demora e baixa qualidade do atendimento nos serviços de saúde; Veiculação de medicamento isentos de prescrição na mídia; crença que os remédios resolvem tudo. Intoxicações medicamentosas e reações adversas; e o possível dos gastos em saúde. O maior acesso aos serviços médicos; o maior investimento por parte do governo na área da promoção do uso racional de medicamentos e o emprego de suas estratégias na formação dos futuros profissionais de saúde. |
A representação da medicamentação sob a perspectiva da Bioética | PALODETO MFT; FISCHER ML | A indústria farmacêutica frequentemente disponibiliza novas drogas, cujo enaltecimento das promessas de cura muitas vezes omite informações sobre o processo de pesquisa, produção, distribuição e efeitos colaterais. O uso racional de medicamento prevê a medicação responsável, condicionada à orientação profissional direcionando o medicamento correto, na dose correlata, para o paciente certo e produzindo o efeito terapêutico almejado. |
Sob a óptica de Oliveira et al. (2018, p.2), o uso indevido de medicamentos pode acarretar em problemas de saúde, pois uma “consequência da automedicação é o aumento da resistência resultante do uso inadequado de antimicrobianos”. (apud BALBUENA; ARANDA; FIGUERAS, 2009). Além disso, essa prática é perigosa, pois podem ocorrer interações entre medicamentos.
Ademais, O aumento da prevalência de doenças crônicas no país, especialmente a hipertensão arterial, diabetes, artrite/artrose e depressão é resultado do rápido e crescente processo de envelhecimento da população brasileira nos últimos anos. (COSTA CMFN et al., 2017, p. 2). Com isso, é possível perceber que a inserção dos medicamentos demanda a investigação das peculiaridades de grupos sociais, a fim de identificar e mitigar vulnerabilidades. (PALODETO; FISCHER, 2018, pág 254)
Em estudos como o de Oliveira et al. (2018), é possível verificar a presença de duplicidade terapêutica, ou seja, uso de pelo menos dois medicamentos com a mesma indicação, considerando a população de 170 idosos analisada na pesquisa, além de que, dos 137 idosos (80,6%) que utilizavam medicamentos por automedicação, 76 (55,5 %) utilizavam medicamentos que estavam na lista de medicamentos potencialmente inapropriados para idosos, e 78 (56,9%) utilizam medicamentos que apresentavam duplicidade terapêutica com os prescritos. (2018, p. 2-3). Em comparação com as demais faixas etárias, os idosos apresentaram mais comorbidades, usaram mais medicamentos e autorrelataram pior condição de saúde; eram menos escolarizados, relataram pior situação econômica e viviam sozinhos. (COSTA CMFN et al., 2017, p. 1)
Em relação à regulamentação sanitária, a maioria dos medicamentos utilizados por automedicação era classificada como isenta de prescrição. (OLIVEIRA et al., 2018, p. 6). Isso é preocupante, pois a população leiga não tem conhecimento acerca dos medicamentos certos que devem ser administrados para certas doenças, e a mídia, no intuito de vender, apresenta remédios como a solução para todos os níveis de determinada enfermidade, como é o caso dos analgésicos e antitérmicos vendidos para a gripe – sem prescrição médica -, que fazem com que grande parte das pessoas não procure atendimento nas unidades de saúde quando apresentam a doença. Atualmente, informações de saúde apresentadas de forma neutra dificilmente estão disponíveis para consumidores ou pacientes (SCHWEIM, ULLMANN, 2015, pág.4), o que acarreta a piora da situação brasileira quando se trata de automedicação.
4. DISCUSSÃO
É nítido que os medicamentos sempre desempenharam a importante função de aliviar o sofrimento humano. Por intermédio de cicatrizações, do prolongamento ou do retardo de complicações de enfermidades, a ação medicamentosa foi imprescindível para a coexistência do indivíduo com a doença. Isso representou um grande domínio do homem sobre a química em benefício da saúde, sobretudo, primária. Atrelada a essa evolução tecnológica, associam-se os elementos conjunturais que envolvem o processo medicamentoso, uma vez que a condição socioeconômica, a escolaridade, a idade, o sexo, a região territorial, bem como os parâmetros culturais definem o comportamento do indivíduo em relação ao uso da medicação. Nesse contexto, ascende a cultura da automedicação que possui, além das variantes supracitadas, interferências do sistema econômico vigente. “Fatores econômicos, políticos e culturais têm contribuído para o crescimento e disseminação da automedicação no mundo, tornando-se um problema de saúde pública.” (COSTA et al, 2017, p.9)
A partir disso, constata-se que a mídia possui grande relevância para a automedicação, uma vez que, por ofertar uma diversidade informativa – que nem sempre é fidedigna – incita a autonomia medicamentosa, já que o consumidor, comumente online, busca a praticidade da informação instantânea, subjetivando a qualidade da pesquisa. “O problema chave atual não é a falta de informações suficientes sobre tópicos de saúde, mas a qualidade dessas informações.” (SCHWEIM, ULLMANN, 2015, pág.3). Além disso, nota-se que o mercado farmacológico se utiliza constantemente desses recursos de marketing para propagar suas inovações e supostos benefícios químicos para a sociedade, o que atua como um estimulante, já que a regulação midiática é restrita, ao ponto da divulgação excessiva dominar o comércio e controlar o consumidor “Esses anúncios apenas descrevem benefícios e não há esclarecimento quanto aos riscos associados, dando assim à população em geral a ideia de que o produto está livre de riscos.” (OLIVEIRA et al, 2018, p.6). Dessa forma, apesar dos avanços na promoção de saúde, persistem desafios relacionados como a veiculação de propagandas de medicamentos isentos de prescrição médica na mídia, a presença da farmacinha caseira nos domicílios e a crença de que os medicamentos resolvem tudo.
Constata-se, também, que o uso de medicamentos pela automedicação no Brasil é corriqueiro, principalmente, entre mulheres e indivíduos com pouca informação em saúde, que são influenciados pela experiência prévia e familiaridade com os medicamentos. Para Pons et al (2017, p.2) a prática da automedicação se estende pelo uso de medicamentos sob prescrição e o compartilhamento de medicamentos com membros da família e do círculo social até a reutilização de prescrições antigas e a alteração da dosagem dos medicamentos prescritos. Nesse sentido, alerta-se para as experiências prévias com a medicação, a disponibilidade dela em casa e a recomendação de amigos e familiares como sendo os principais dispositivos para a automedicação. Dentre os grupos suscetíveis à automedicação, os doentes crônicos se destacam, uma vez que eles tendem a apresentar uma maior familiaridade com as medicações podendo levá-los a um maior consumo, principalmente os longevos. “As drogas mais populares entre os idosos foram as do sistema musculoesquelético, que incluem relaxantes musculares de ação central e AINEs.” (OLIVEIRA et al, 2018). Outro fator que corrobora a prática automedicamentosa é a baixa autoavaliação de saúde, isto é, indivíduos que possuem uma percepção negativa de sua saúde e baixa tolerância aos sintomas costumam recorrer à automedicação como forma de sanar esses sinais, como atesta Pons et al (2017, p.8)
Ainda nessa perspectiva, observa-se que a elevada frequência da automedicação entre as mulheres está interligada ao maior autocuidado que elas possuem em relação aos homens. Uma vez que o sexo feminino parece ouvir mais seus corpos e os sinais de doenças. Para Costa et al (2017, p.9), mulheres costumam ter maior preocupação com a saúde e, por isso, buscam os serviços e os programas de saúde ofertados para elas com maior frequência.
Um dos maiores riscos da automedicação é a interação medicamentosa, já que por consequência dela é comum o surgimento de efeitos adversos, como o risco de sangramento, dores intestinais e hemorragias. “Analgésicos, antipiréticos e anti-reumáticos não opioides estão relacionados a 37% das internações hospitalares entre idosos por envenenamento e RAM no Brasil.” (OLIVEIRA et al, 2018). Apesar de serem considerados seguros para os idosos a dipirona e o paracetamol também apresentam riscos quando utilizados indiscriminadamente e sem orientação médica. A perda de equilíbrio, de coordenação, a confusão mental, déficit cognitivo, sedação, hipotensão ortostática, aumento do risco de fraturas e redução da qualidade de vida são considerados eventos adversos ocasionados, possivelmente, pela interação medicamentosa. “É importante evitar o uso dessas drogas por automedicação para manter a qualidade de vida dos idosos, preservar sua funcionalidade e reduzir o risco de efeitos adversos.” (OLIVEIRA et al, 2018, p.6). Em razão disso, fica claro que os pacientes idosos necessitam de uma atenção especial e ações específicas, pois, quando possuem baixa escolaridade – a realidade da grande maioria dos usuários do SUS – têm menor acesso às informações do medicamento, relatando dificuldades no tratamento, o que pode colocá-los em uma situação de vulnerabilidade.
Entre os adolescentes foi observado que geralmente eles não leem os rótulos ou instruções antes de tomar a medicação, costumam tomar medicamentos em doses excessivas e vários ao mesmo tempo. Como o consumo de álcool e o tabagismo é cada vez mais frequente entre os jovens isso atua como um complicador, uma vez que essa associação é potencialmente perigosa. Depreende-se, também, que a formatação das bulas dos remédios configura um empecilho na busca pela informação, pois é resumida a letras minúsculas de difícil entendimento. “…os adolescentes muitas vezes não entendiam as informações em um rótulo ou instruções do medicamento – mesmo aqueles que relataram lê-los antes de tomar a medicação” (LEE et al, 2017, p.8).
Nessa lógica, campanhas de conscientização sobre a automedicação que se destinem apenas aos riscos da prática, como ocasionalmente ocorrem, pouco favorecem para o uso mais responsável dos medicamentos, uma vez que a população ainda continua recorrendo a automedicação sem a consulta ao profissional da saúde – periodicamente. É necessário que exista a construção da educação em saúde dentro das escolas. Sob a óptica de Schweim, Ullmann (2015, pág.3) a maneira pela qual as pessoas absorvem novas informações e implementam tais informações em seu comportamento depende principalmente de sua formação educacional e de seu conhecimento metodológico, configurando, dessa forma, uma tarefa vitalícia, pois o comportamento da informação varia com a idade do pesquisador. Em consonância a Lee et al (2017, p.10) programas de aprimoramento de alfabetização de medicação devem ser desenvolvidos e implementados em escolas e comunidades, já que o maior grau de conhecimento pode elevar a capacidade de usar a medicação adequadamente. Infere-se, ademais, que os farmacêuticos costumam ser a principal fonte de informação sobre a automedicação, então, uma parceria entre governo e farmacêuticos na tentativa proporcionar, por meio deles, uma disseminação educativa proativa que, aliada ao debate por parte do consumidor – incentivado nas escolas – proporcionará uma relação mais coerente, clara e saudável entre pacientes e profissionais da saúde.
CONCLUSÃO
De acordo com os achados da literatura, a automedicação é uma prática recorrente entre os brasileiros, de modo que fatores culturais, comportamentais, de gênero, idade e região são variantes determinantes na prática da automedicação. Foram analisados os perfis, as causas, as consequências e as formas de enfrentar a cultura da automedicação e seus impactos na saúde pública do Brasil. Além disto, a disseminação do uso de medicamentos sem receita e inapropriados aumenta o risco de interações medicamentosas, que podem causar eventos adversos e aumentar os gastos, ao longo prazo, com tratamentos de doenças que são causadas por o excessivo uso de medicamentos.
REFERÊNCIAS
SCHWEIM H; ULLMANN M.; Influência da mídia na competência de risco em automedicação e auto-tratamento. Ciência médica alemã: e-journal GMS Alemanha, 9 de jul. 2015. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/pmid/26195923/>. Acesso em: 14 Jun 2019.
PONS EDS, et al. Fatores predisponentes à prática da automedicação no Brasil: resultados da Pesquisa Nacional sobre Acesso, Uso e Promoção do Uso Racional de Medicamentos (PNAUM). PLoS. Estados Unidos, 8 dez, 2017. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/pmid/29220378/>. Acesso em 14 Jun 2019.
OLIVEIRA, Samanta Bárbara Vieira et al. Perfil de medicamentos utilizados para automedicação por idosos atendidos em um centro de referência. Einstein / Instituto de Ensino e Pesquisa Albert Einstein. São Paulo, Nov 29, 2018. Disponível em: <hhttps://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6276811/pdf/1679-4508-eins-16-04-eAO4372.pdf>. Acesso em 14 Jun 2019.
ARRAIS, Paulo Sérgio Dourado et al. Prevalência da automedicação no Brasil e fatores associados. Rev. Saúde Pública, São Paulo, v. 50, supl. 2, 13s, 2016. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102016000300311&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 14 Jun 2019.
PALODETO, Maria Fernanda Turbay; FISCHER, Marta Luciane. A representação da medicamentação sob a perspectiva da Bioética. Saude soc., São Paulo, v. 27, n. 1, p. 252-267, Jan. 2018. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010412902018000100252&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 14 Jun 2019.
LEE, CH. et al. Inapropriado automedicação entre adolescentes e sua associação com menor medicação alfabetização e uso de substâncias. PLoS One. San Francisco, 14 Dez 2017. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29240799>. Acesso em: 15 Jun 2019
Costa, CMFN,et al. Use of medicines by patients of the primary health care of the Brazilian Unified Health System. Rev Saude Publica. São Paulo, 13 Nov 2017. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29160464>. Acesso em: 15 Jun 2019
1Graduando em medicina pela FAMENE
2Graduanda em Medicina pela UNIDERP
3Graduanda em Medicina pela UNIDERP
4Graduanda em Medicina pela FMO
5Graduanda em Medicina pela UNIT/AFYA
6Graduanda em Medicina pela UNIT/AFYA
7Graduando em Medicina pela Uninassau
8Graduanda em Medicina pela UNIT/AFYA
9Graduando em Medicina pela Uninassau
10Graduanda em Medicina pela FITS/AFYA
11Graduando em Medicina pela UNIT/AFYA
12Graduando em Medicina pela UNIT/AFYA
13Graduando em Medicina pela Uninassau
14Graduando em Medicina pela UNIT/AFYA
15Graduando em Medicina pela UNIDERP
16Graduanda em Medicina pela UNINTA
17Graduanda em Medicina pela FITS/AFYA