OS EFEITOS DE TÉCNICAS FISIOTERAPÊUTICAS NO MÚSCULO ESTERNOCLEIDOMASTÓIDEO EM CRIANÇAS COM DIAGNÓSTICO DE TORCICOLO MUSCULAR CONGÊNITO

THE EFFECTS OF PHYSIOTHERAPY TECHNIQUES IN THE STERNOCLEIDOMASTOID MUSCLE IN CHILDREN WITH A DIAGNOSIS OF  CONGENITAL MUSCULAR TORCICOLIS 

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8346474


Júlia Andretto Buscacio1
Ludmilla Lima Campos1
Marcelle Roberta Santos Mayrinck Almeida1
Mariana Henrique Nogueira1
Orientador: Otávio Henrique Azevedo Campos2


RESUMO 

Introdução: O Torcicolo Muscular Congênito (TMC) é uma alteração no músculo  esternocleidomastóideo (ECOM) que pode se manifestar no período neonatal ou em  lactente. Objetivo: identificar os efeitos das técnicas fisioterapêuticas no tratamento  de crianças portadoras de Torcicolo Muscular Congênito. Método: Trata-se de um  estudo de revisão sistemática que utilizou as seguintes bases de dados: Biblioteca  Virtual em Saúde (BVS), PubMed e SciELO, por meio das buscas dos descritores Newborn; Torticollis e Physical Therapy. Os critérios de inclusão foram: 1) artigos que  abordem técnicas fisioterapêuticas para tratamento do TMC; 2) crianças de 0 a 3 anos.  Os critérios de exclusão foram: 1) casos de intervenções que não sejam consideradas  fisioterapêuticas; 2) artigos que se repetem nas bases de dados. De modo a garantir  uma análise mais precisa dos resultados quanto a qualidade metodológica utilizada  pelos autores, foi utilizada a escala PEDro. Resultados: De acordo com o critério de  seleção dos artigos nas bases de dados foram recuperados 880 estudos a partir da  aplicação dos critérios de inclusão e exclusão; obteve-se como resultado 6 artigos  para a discussão. Discussão: As técnicas promoveram melhora na espessura do  músculo ECOM e ganho de amplitude de movimento (ADM) de cabeça e pescoço. No  entanto, é importante que o diagnóstico seja precoce para que o tratamento seja  iniciado o mais breve possível, promovendo melhora no prognóstico. Conclusão: Pode-se concluir que o alongamento é a técnica com maior eficácia para o tratamento  de crianças com diagnóstico de Torcicolo Muscular Congênito, podendo ser associado  a terapias coadjuvantes como aplicação de microcorrentes, mobilização de tecidos  moles e a orientação domiciliar. 

Palavras-chave: Recém-Nascido; Torcicolo; Fisioterapia.

ABSTRACT 

Background: Congenital Muscular Torticollis (CMT) is an alteration in the  sternocleidomastoid (SCM) muscle that can manifest in the neonatal period or in  infants. Objective: to identify the effects of physical therapy techniques in the  treatment of children with Congenital Muscular Torticollis. Methods: This is a  systematic review study that used the following databases: Virtual Health Library  (VHL), PubMed e Scielo, through the descriptor searches: Newborn; Torticollis e  Physical Therapy. The inclusion criteria was: 1) articles that approach  physiotherapeutic techniques for the treatment of CMT; 2) children 0 to 3 years old.  The exclusion criteria was: 1) cases of interventions that are not considered  physiotherapeutic ; 2) articles that are repeated in the databases. In order to ensure a  more precise analysis of the results regarding the methodological quality used by the  authors, the PEDro scale was used. Results: According to the selection criteria of the  articles in the databases, 880 studies were retrieved, from the application of the  inclusion and exclusion criteria, resulting in 6 articles for discussion. Discussion: The  techniques promoted improvement in the thickness of the SCM muscle and gain in  range of motion of the head and neck. However, it is important that the diagnosis be  made early so the treatment can be started as soon as possible, promoting an  improved prognosis. Conclusions: It can be concluded that stretching is the most  effective technique for the treatment of children diagnosed with Congenital Muscular  Torticollis, and can be associated with supporting therapies such as: microcurrent  therapy, soft tissue mobilization and home guidance. 

Keywords: Newborn; Torticollis; Physical Therapy.

1 INTRODUÇÃO 

O Torcicolo Muscular Congênito (TMC) é uma alteração no músculo  esternocleidomastóideo (ECOM) que pode se manifestar no período neonatal ou em lactente.1 É caracterizado por um encurtamento do músculo ECOM e uma inclinação  da cabeça para o lado ipsilateral. Além disso, a cabeça faz uma rotação para o lado contralateral, o que pode causar acometimentos funcionais como escoliose,  alterações na simetria facial, atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, problemas  oftalmológicos, problemas respiratórios e plagiocefalia.1,2 Sua incidência é de 1:250 nascidos vivos, sendo o terceiro distúrbio ortopédico mais comum uma anormalidade que acomete mais os meninos, o lado direito é o mais afetado.1,4,5 

O músculo ECOM está localizado na face anterolateral do pescoço, sendo  biarticular, com inserção proximal no manúbrio do esterno e terço médio da clavícula. Sua inserção distal ocorre no processo mastoide do osso temporal e é inervado pelo nervo acessório espinhal (inervação motora) e nervos cervicais (inervação  proprioceptiva). As fibras musculares são paralelas e ascendentes e essa disposição  está associada à ação motora do músculo. Dessa forma, na contração unilateral é  possível flexionar a cabeça e rotacionar para o lado oposto e na contração bilateral é possível realizar elevação da cabeça e flexão do pescoço em relação ao tórax. Ademais, é um músculo auxiliar da mecânica respiratória.3 

A etiologia da doença ainda é desconhecida, todavia existem hipóteses que  incluem traumas no parto, posicionamento intrauterino, isquemia, oclusão venosa, hereditariedade e síndrome compartimental. A literatura descreve algumas condições obstétricas e perinatais como fatores de risco para o surgimento do TMC, como  gestações gemelares, primeiro filho e parto distócico.1,5 

O diagnóstico é clínico, realizado através da inspeção e palpação da região da  cervical, onde pode haver a presença de um nódulo na porção média do músculo esternocleidomastóideo, que pode surgir entre 10 e 14 dias de vida e pode evoluir de tamanho entre 2 a 4 semanas. O diagnóstico é confirmado após a presença de  limitação do movimento de pescoço, rotação da cabeça do lado contralateral e  inclinação para o lado ipsilateral. Os exames de tomografia computadorizada, ultrassonografia e ressonância magnética são complementares e podem auxiliar para o fechamento da diagnose.4

A fisioterapia tem um papel fundamental no tratamento do TMC, é importante na redução da inclinação da cabeça, no aumento da amplitude de movimento e  diminuição da espessura da massa tumoral do músculo esternocleidomastóideo afetado. Além disso, também se mostra importante na prevenção de outras complicações como a plagiocefalia.6 No tratamento do TMC, são utilizadas diversas  técnicas fisioterapêuticas que podem trazer benefícios clínicos, tais como  alongamento, exercícios de posicionamento domiciliar, terapia de microcorrentes, mobilização, exercícios de fortalecimento muscular, exercícios de controle postural, massagem e eletrotermofototerapia.7 Baseado nisso, este estudo tem como objetivo identificar os efeitos das técnicas fisioterapêuticas no tratamento de crianças  portadoras de Torcicolo Muscular Congênito.  

2 MÉTODO 

O presente estudo trata-se de uma revisão sistemática em que foi apresentada uma síntese dos resultados obtidos em pesquisas que visam responder à pergunta: quais são os efeitos das técnicas fisioterapêuticas no músculo esternocleidomastóideo em crianças diagnosticadas com Torcicolo Muscular Congênito? A pergunta foi  elaborada através da estratégia PICO, a qual orienta sobre a construção da pergunta de pesquisa e, consequentemente, uma melhor busca bibliográfica. A estratégia é formada pelos seguintes componentes: (P) população, (I) intervenção, (C) comparação e (O) desfecho.7 Para a formulação da pergunta apresentada foram utilizados os seguintes elementos: 1. População: Crianças com diagnóstico de Torcicolo Muscular Congênito; 2. Intervenção: técnicas fisioterapêuticas; 3.  Comparação: não se aplica e 4. Desfecho: efeitos de técnicas fisioterapêuticas no  ECOM de crianças diagnosticadas com Torcicolo Muscular Congênito. Esta é uma  revisão do tipo secundária com o objetivo de identificar a eficácia das técnicas  fisioterapêuticas no músculo esternocleidomastóideo de crianças com Diagnóstico de  Torcicolo Muscular Congênito. A revisão sistemática seguiu os seguintes critérios: 1. Redigir uma questão de investigação utilizando a estratégia PICO; 2. Elaborar um  protocolo de investigação e efetuar o seu registro; 3. Aplicar os critérios de inclusão e  exclusão; 4. Traçar uma estratégia de pesquisa e buscar na literatura com a finalidade  de encontrar os estudos; 5. Selecionar estudos; 6. Avaliar a qualidade dos estudos; 7. 

Coletar dados; 8. Sintetizar dados e avaliar a qualidade das evidências; 9. Apresentar  os resultados – publicação.8 

Para a seleção dos artigos, foi realizada uma revisão sistemática da bibliografia  com auxílio dos principais mecanismos de busca científica existentes nas bases de  dados eletrônicas Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), PubMed e SciELO. Para a  estratégia de busca, foram utilizados os seguintes filtros na plataforma BVS: texto  completo, idiomas inglês e português, anos 2013 a 30 de abril de 2023; na plataforma  Pubmed: texto completo, idioma português e inglês, anos 2013 a 30 abril de 2023 e  na plataforma SciELO: todos, idioma português, anos 2013 a 30 abril de 2023. Os  DeCS foram combinados para as buscas nas plataformas descritas das seguintes  formas: 1) Newborn AND Torticollis; 2) Torticollis AND Physical Therapy; 3) Newborn  AND Physical Therapy; 4) Newborn AND Physical Therapy AND Torticollis com o  operador boleano AND.  

Foram aplicados os seguintes critérios de inclusão: 1) artigos que abordam  técnicas fisioterapêuticas para tratamento do TMC; 2) crianças de 0 a 3 anos. Os  critérios de exclusão foram: 1) casos de intervenções que não sejam consideradas  fisioterapêuticas; 2) artigos que se repetem nas bases de dados. De modo a garantir  uma análise mais precisa dos resultados quanto a qualidade metodológica utilizada  pelos autores, foi utilizada a escala PEDro. 

A seleção dos artigos foi realizada por pesquisadores independentes, de forma  individual e confidencial; após a seleção, as informações foram cruzadas. Os artigos  foram selecionados pelo título e resumo, aqueles que apresentaram clareza foram  lidos na íntegra. Após a apuração, os critérios de inclusão e exclusão foram aplicados.  

A qualidade metodológica dos artigos foi avaliada pela escala PEDro, que tem  como objetivo investigar a eficácia de intervenções em fisioterapia. Dessa maneira, todos os artigos selecionados para o trabalho responderam às seguintes indagações: a) Os critérios de elegibilidade foram especificados?; b) Os sujeitos foram  aleatoriamente distribuídos por grupos (num estudo cruzado, os sujeitos foram  colocados em grupos de forma aleatória de acordo com o tratamento recebido)?; c) A  alocação dos sujeitos foi secreta?; d) Inicialmente, os grupos eram semelhantes no  que diz respeito aos indicadores de prognóstico mais importantes?; e) Todos os  sujeitos participaram de forma cega no estudo?; f) Todos os terapeutas que  administraram a terapia fizeram-no de forma cega?; g) Todos os avaliadores que  mediram pelo menos um resultado-chave, fizeram-no de forma cega?; h) 

Mensurações de pelo menos um resultado-chave foram obtidas em mais de 85% dos  sujeitos inicialmente distribuídos pelos grupos?; i) Todos os sujeitos a partir dos quais  apresentaram mensurações de resultados receberam o tratamento ou a condição de  controle conforme a alocação ou, quando não foi esse o caso, fez-se a análise dos  dados para pelo menos um dos resultados-chave por “intenção de tratamento”?; j) Os  resultados das comparações estatísticas intergrupos foram descritos para pelo menos  um resultado-chave?; k) O estudo apresenta tanto medidas de precisão como  medidas de variabilidade para pelo menos um resultado-chave? Cada questão  respondida com “sim” obtém 1 ponto, se a resposta for “não”, 0 pontos, variando de 0  a 11 pontos, em que foram considerados os artigos de melhor qualidade aqueles com  score ≥6.  

3 RESULTADOS 

A tabela 1 contém variáveis importantes dos estudos selecionados, com nome dos autores, ano de publicação, score na PEDro, objetivo, tipo de estudo, número de  participantes, intervenção e conclusão. Os estudos foram nomeados pela letra “A” e  organizados na tabela de acordo com o ano de publicação.  

Tabela 1: Variáveis dos Estudos Selecionados

AUTOR/ ANO/ SCORE NA  PEDROOBJETIVO TIPO DE ESTUDON° DE PARTICIPANTES INTERVENÇÃO CONCLUSÃO
A1 – Lee I (2014) 
Comparar os efeitos do alongamento manual e intervenção de controle postural em lactentes com Torcicolo Muscular Congênito e investigar  os fatores que predizem a duração do tratamento.Estudo randomizado e controlado.76 bebês.O Grupo 1 incluiu 38 bebês que  receberam intervenção de  controle postural. O Grupo 2 incluiu 38 lactentes que receberam alongamento manual.Não houve diferença entre esses tratamentos  em relação à duração do tratamento e à  alteração da espessura do tumor  esternocleidomastóideo. Bebês com Torcicolo  Muscular Congênito que foram tratados  anteriormente tiveram um tempo de tratamento  mais curto.
A2 – Kwon DR,  Park GY (2014) 
Comparar os efeitos de uma combinação de  exercícios terapêuticos e ultrassom com ou sem terapia adicional com microcorrentes em lactentes com Torcicolo  Muscular Congênito envolvendo todo o  músculo esternocleidomastóideoEstudo randomizado e controlado por placebo.20 participantes.Grupo 1 composto por 10 bebês que receberam exercícios terapêuticos apenas com ultrassom e Grupo 2 composto por 10 bebês que receberam o mesmo tratamento com terapia de microcorrente.Conclui-se que a terapia com microcorrente pode aumentar a eficácia do exercício  terapêutico com ultrassom no tratamento do  Torcicolo Muscular Congênito. 
A3 Giray,E., Karadag-Saygi, E., Mansiz-Kaplan, B.,  Tokgoz, D., Bayindir, O., e  Kayhan, O. (2016). 
Investigar os efeitos da bandagem cinesiológica e diferentes tipos de aplicação de técnicas associadas a exercícios terapêuticos no tratamento de TMC.Estudo piloto  randomizado , simples cego.33 participantes.Grupo 1 recebeu apenas exercícios. Grupo 2, exercícios associados ao uso da  bandagem cinesiológica aplicada no lado afetado, usando técnica de relaxamento muscular. Grupo 3, exercícios associados ao uso da bandagem cinesiológica dois lados, usando técnica de facilitação neuromuscular no lado não afetado e técnica de inibição no lado afetado.Não há nenhum efeito aditivo na aplicação de  bandagem cinesiológica em pacientes com TMC.
A4 – He L, Yan X,  Li J, Guan B, Ma  L, Chen Y, Mai J,  Xu K (2017) 
6
Comparar a eficácia a curto prazo de duas  dosagens de tratamento de alongamento nos resultados clínicos em  lactentes com Torcicolo Muscular Congênito. Estudo prospectivo randomizado  controlado. 50 participantes.Cinquenta crianças com Torcicolo Muscular Congênito foram aleatoriamente divididas em um grupo que recebeu um total de 100 alongamentos e  outro que recebeu um total de 50 alongamentos para o músculo esternocleidomastóideo afetado.O tratamento de alongamento de 2 dosagens  pode efetivamente melhorar a inclinação da  cabeça, a amplitude de movimento passiva  cervical e o músculo esternocleidomastóideo em  lactentes com Torcicolo Muscular Congênito. 
A5- KeklicekH, Uygur F (2018) 
Investigar se o uso de  técnicas de mobilização  de tecidos moles para  tratar Torcicolo Muscular  Congênito em bebês  com inclinação leve a  moderada da cabeça foi  eficaz ou não.Estudo  randomizado  e controlado.29 participantes.Grupo de controle recebeu um  programa domiciliar básico  (posicionamento, manuseio,  alongamento, fortalecimento e  adaptação ambiental). O grupo  de estudo recebeu o programa  domiciliar associado a técnicas  de mobilização de tecidos  moles.As técnicas de mobilização de tecidos moles  para tratar TMC são eficazes na obtenção de  resultados positivos mais rápidos. 
A6- Song Rak  Kwon Parque Gi Young 2021 
Identificar um método  de fisioterapia eficaz  para crianças com CMT  menores de 3 meses de  idade; dentre as formas  de tratamento foram  utilizadas as seguintes  técnicas: manuseio para  tratamento de  movimento ativo ou  ativo-assistido,  tratamento de  alongamento passivo e  termoterapia. Ensaio  clínico  randomizado  simples-cego61 participantesCada grupo recebeu um  tratamento de 30 minutos. O  Grupo 1 recebeu movimento  ativo ou ativo-assistido, o Grupo  2, exercícios de alongamento  passivo e o Grupo 3 fez apenas  termoterapia.A técnica de alongamento passivo foi mais  eficaz do que a termoterapia. 
Fonte: Os autores (2023)

O estudo randomizado e controlado de Lee (2014) iniciou-se com 76  participantes lactentes <6 meses de idade com Torcicolo Muscular Congênito. Foram  divididos em Grupo 1, que recebeu a intervenção de controle postural (n=38); e Grupo  2, que recebeu alongamento manual (n=38). Embora a pesquisa tenha apresentado  algumas limitações, foi comprovado que não houve diferença entre a eficácia, duração  de tratamento e espessura do tumor. Além disso, foi concluído que quanto mais  precocemente é iniciado o tratamento, menor seu tempo de duração.  

Keklicek e Uygur (2018) realizaram um trabalho que verificou a eficácia da  mobilização de tecidos moles em bebês de 0 a 6 meses com Torcicolo Muscular  Congênito. O tamanho da amostra foi de 29 bebês que foram divididos em Grupo  controle, que recebeu um programa domiciliar básico (n=15) e Grupo de estudo, que recebeu o programa domiciliar associado à mobilização de tecidos moles (n=14). Ao  final do tratamento, ambos os grupos apresentaram melhoras significativas; entretanto, o Grupo 2 obteve resultados mais rápidos pelo fato de ter sido submetido  ao programa domiciliar associado à mobilização de tecidos moles 3 vezes por  semana.  

Giray et al. (2016) selecionaram 33 lactentes de 3 a 12 meses que foram  alocados em 3 grupos. O Grupo 1, composto por 11 bebês, recebeu apenas  exercícios; o Grupo 2, composto por 12 bebês, recebeu exercício + bandagem de  cinesiologia aplicado no lado afetado; e por fim, o Grupo 3 composto por 10 bebês  recebeu exercício + bandagem de cinesiologia aplicada em ambos os lados. O estudo  concluiu que a bandagem cinesiológica não trouxe benefícios aos exercícios para  tratamento do TCM.  

He et al. (2017) compararam duas dosagens de alongamento no músculo  esternocleidomastóideo afetado em bebês com TMC mais jovens que 3 meses. Os 50  participantes foram divididos em um grupo que recebeu o alongamento 100 vezes e  outro grupo que recebeu o alongamento 50 vezes. Foi concluído que é provável que  o tratamento de alongamento de 100 vezes comparado ao de 50 vezes apresenta  uma melhora significativa na inclinação de cabeça e na amplitude de movimento  passivo cervical.  

O estudo prospectivo randomizado controlado por placebo A2 (2014) dividiu 20  lactentes em dois grupos. O Grupo 1 (n=10) recebeu exercícios terapêuticos apenas  com ultrassom e o Grupo 2 (n=10) recebeu o mesmo tratamento adicionado à terapia de microcorrentes. Foi concluído que a terapia de microcorrentes pode gerar um  aumento na eficácia do exercício terapêutico com ultrassom para o tratamento de  TMC, além disso a amplitude de movimento rotacional cervical aumentou  significativamente no Grupo 2.  

O ensaio clínico randomizado A6 (2021) teve como objetivo verificar o efeito da  intervenção fisioterapêutica na espessura do músculo esternocleidomastóideo e  ângulo de rotação da cabeça. Reuniu 61 lactentes diagnosticados com TCM menores  que 3 meses. Foram divididos em três grupos: Grupo 1 (n=20) tratado com movimento  ativo ou ativo-assistido; Grupo 2 (n=21) tratado com alongamento passivo e Grupo 3  (n=20) tratado com termoterapia. Foi concluído que o alongamento passivo  comparado às outras duas intervenções é mais eficaz para melhorar a rotação da  cabeça de crianças com TMC.  

4 DISCUSSÃO  

Em sua pesquisa, Pagnossim et al. (2008) relataram que quando o lactente é  diagnosticado com TMC, deve imediatamente iniciar o tratamento fisioterapêutico que, além das técnicas realizadas pelos profissionais, necessita da colaboração dos  pais/cuidadores.  

Os estudos de Giray et al. (2016) em A3 investigaram o efeito da bandagem  cinesiológica em 33 lactentes com TMC. Dividiram os grupos em: Grupo 1 – recebeu  apenas exercícios; Grupo 2 – recebeu exercícios associados à bandagem  cinesiológica aplicada no lado afetado usando técnica de relaxamento muscular e  Grupo 3 – recebeu exercícios associados à bandagem cinesiológica aplicada no lado  afetado utilizando técnica de relaxamento e lado não afetado, a técnica de facilitação.  A aplicação da bandagem foi realizada uma vez a cada três dias com uma tensão de  10% a 15% durante o período de 3 semanas. Após a aplicação dos exercícios, Giray  et al. (2016) não obtiveram efeitos aditivos com o uso da bandagem cinesiológica,  todavia o estudo apresenta limitações como o número reduzido de participantes e o  tempo curto de tratamento, o que impossibilitou diferenciar se a melhora ocorreu em  decorrência da intervenção ou se foi de forma espontânea.  

Para Kwon e Park (2014) em A2, o exercício terapêutico com ultrassom  associado à terapia de microcorrente aumentou a amplitude de movimento rotacional  cervical passiva em um mês, dois meses e três meses no Grupo 2 (101,1°) enquanto o Grupo 1 apresentou 86,4°. Thompson et al. (2019) em seu estudo corroboram tal  informação, afirmando que excelentes resultados foram alcançados em pacientes com  TMC em que a rotação cervical e passiva aumentou de 75° para 110°; a flexão cervical  lateral e passiva aumentou de 50º para 70°; e a inclinação da cabeça em repouso  reduzida de 12° para 2° utilizando a terapia de microcorrente associada a  alongamento, fortalecimento e reeducação postural mesmo com parâmetros  diferentes. Dessa forma, foi observado que a terapia de microcorrente relacionada ao  exercício terapêutico melhora o grau de amplitude de movimento de bebês com TMC.  

Paralelamente, He et al. (2017) em A4 afirmaram em seu estudo que o  tratamento com o alongamento pode efetivamente melhorar a inclinação da cabeça,  a amplitude de movimento cervical passivo e o crescimento do ECOM em crianças  com TMC. Concluíram ainda que a intensidade de alongamento influencia no tempo  de recuperação, visto que o grupo submetido aos 100 alongamentos apresentou  melhores resultados. Entretanto, vale ressaltar que a maior parte do alongamento foi  realizada pelos pais através de um protocolo de orientação. Indo ao encontro de Ohman et al. (2010) foi comprovado que quando a técnica é realizada pelos pais  apresenta bons resultados, porém em período maior quando comparado à realização  da técnica pelo fisioterapeuta, isso se dá pelo fato de os pais não possuírem  conhecimento técnico.  

Em seu estudo, Lee et al. (2014) em A1 declararam que a utilização da técnica  do alongamento passivo não é recomendada aos pais/cuidadores, pois a má  aplicação pode ocasionar dor ou desconforto ao bebê. Em oposição, Keklicek e Uygur (2018) em A5 abordaram em sua pesquisa um programa doméstico que consistia em  posicionamento do pescoço e cabeça, estratégias de manuseio, exercícios de  alongamento, fortalecimento e adaptações ambientais. A aplicação da técnica foi  realizada pelos pais/cuidadores dos lactentes, visto que são personalidades presentes  no cotidiano dos pacientes. Dessa maneira, entende-se que a terapêutica do  programa domiciliar conciliada a uma boa orientação é capaz de trazer resultados  satisfatórios no tratamento de TMC.  

Segundo Song et al. (2021) em A6, o tratamento de alongamento passivo  realizado com o paciente na posição supina executado com flexão lateral e rotação  do lado contralateral pelo terapeuta, mantido por 10 segundos na ADM final do  movimento, foi mais eficaz quando comparados com a termoterapia e movimento ativo  ou ativo-assistido. Após o tratamento, as medições apresentaram diferenças significativas entre os grupos no grau de rotação da cabeça no lado afetado, −20,00  ± 9,00 no Grupo 1, −25,71 ± 4,27 no Grupo 2 e −15,00 ± 4,33 no Grupo 3. Porém o  estudo apresenta limitações que devem ser consideradas como o tamanho pequeno  da amostra e ausência de acompanhamento contínuo, levando à falta de dados sobre  os efeitos a longo prazo. Em contrapartida, Lee et al. (2014) em A1 afirmaram que o  tratamento precoce com alongamento passivo é mais curto e econômico, porém tendo  como experiência a prática clínica, observaram que os bebês resistem a essa técnica. A partir da aplicação do método, observaram que não houve diferença  estatisticamente significativa na espessura do tumor do ECOM e a duração do  tratamento, pois a variação foi de 6,88 ± 1,90 mm para o Grupo 1 e 6,05 ± 2,85 mm  para o Grupo 2. Dessa forma, optaram por aplicar o controle postural, visto que os  bebês sentem menos desconforto e resistência ao manuseio.  

De acordo com Keklicek e Uygur (2018) em A5, utilizaram como forma de  intervenção técnicas de mobilização de tecidos moles, que são divididas em três  fases: 1) mobilização passiva rítmica do ECOM na direção anteroposterior; 2)  mobilização com alongamento e 3) fase 2 + encorajamento do bebê para realizar  rotação cervical ativa para o lado afetado. Os grupos foram avaliados 4 vezes, 6 e 12  semanas durante o tratamento e 18 semanas após a avaliação inicial e obtiveram  como resultado que a via de mobilização de tecidos moles é eficaz e acelera a  recuperação em casos de grau leve e moderado. Por outro lado, Haugen et al. (2011) avaliaram em seu estudo controlado randomizado duplo cego uma amostra de 32  lactentes de 3 a 6 meses, com grau leve a moderado, separados em grupo de  intervenção, que receberam fisioterapia associada à terapia manual e grupo controle, que recebeu apenas a fisioterapia. Os autores se certificaram de que não houve efeito  significativo melhor a curto prazo da associação de terapia manual aos exercícios  terapêuticos do que somente exercícios terapêuticos em pacientes com sintomas  moderados. 

De fato, as técnicas fisioterapêuticas são eficazes no tratamento de crianças  com diagnóstico de TMC. Diante dos estudos, foi possível notar uma melhora na  espessura do músculo ECOM e ganho de ADM de cabeça e pescoço; além disso a  orientação domiciliar possui um papel importante no prognóstico dos pacientes. No  entanto, é importante que o diagnóstico seja precoce para que o tratamento seja  iniciado o mais breve possível, promovendo melhora no quadro clínico. 

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS  

Através dos estudos selecionados, foi possível observar que o tratamento  precoce efetuado antes do primeiro ano de vida acarreta bons resultados, porém  quando realizado antes do primeiro mês de vida, apresenta um melhor prognóstico. A  associação de algumas técnicas, como: alongamento, mobilização de tecidos moles,  orientação domiciliar podem trazer bons resultados para o tratamento de crianças com  diagnóstico de Torcicolo Muscular Congênito. 

No entanto, a partir dos estudos selecionados, é perceptível que as pesquisas  sobre técnicas fisioterapêuticas para o tratamento do TMC são limitadas e a falta de  estudos recentes dificulta a atualização sobre as intervenções mais eficazes. Além  disso, foi observada uma falta de estudos nacionais, o que indica uma carência da  representatividade da população brasileira em relação atividade clínica do Brasil. 

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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