OS EFEITOS DAS MUDANÇAS  CLIMÁTICAS E OS IMPACTOS DA ROTA DO MAR  DO NORTE NO COMÉRCIO INTERNACIONAL 

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7339651


Gabriel Nascimento Cruz
Isadora Vergara Tavares
João Almeida Santos


RESUMO. Este artigo mostra como as mudanças climáticas afetaram a fauna e a flora na região do Ártico, as  consequências geopolíticas e a possibilidade da abertura de uma nova rota marítima no Mar do Norte. O Ártico  está sendo a região mais afetada pelo aquecimento global e com isso teve uma grande redução das áreas  cobertas por gelo marinho, e não menos importante a elevação do nível do mar, que ameaça a existência dos  microestados insulares. O artigo também abordará o que é uma rota marítima, e uma breve história linear do  comércio internacional, como se formou a rota do Mar do Norte, onde se abriu uma possível passagem de  navegações no verão e sua possível facilitação do comércio marítimo entre a China, a Rússia e a vizinha  Noruega, com seus interesses comerciais no mercado pesqueiro e de gás natural, mas zelando  conscientemente o comércio exterior de forma sustentável. O desenvolvimento desse artigo tem como  fundamento a coleta de dados qualitativos, de natureza básica, de objetivo exploratório baseada na pesquisa  bibliográfica, dessa maneira, os dados utilizados para apoiar esse trabalho foram coletados em materiais já  publicados, como livros, artigos acadêmicos, periódicos, relatórios e sites oficiais de órgãos governamentais. 

Palavras-chave. Ártico, Rotas Marítimas, Mudanças Climáticas 

ABSTRACT. This article shows how climate change has affected the fauna and flora in the Arctic region, the  geopolitical consequences and the possibility of opening a new sea route in the North Sea. The Arctic is being  the region most affected by global warming and with that there has been a large reduction in the areas covered  by sea ice, not least the rise in sea level, which threatens the existence of island microstates. The article will  also address what a maritime route is, and a brief linear history of international trade, how the North Sea route  was formed, where a possible passage of navigations in the summer was opened and its possible facilitation of  maritime trade between the China, Russia and neighboring Norway, with their commercial interests in the  fishing and natural gas market, but consciously looking after foreign trade in a sustainable way. The  development of this article is based on the collection of qualitative data, of a basic nature, with an exploratory  objective based on bibliographic research. reports and official websites of government agencies. 

Keywords. Arctic, Maritime Routes, Climate Change

INTRODUÇÃO 

A região do Ártico sempre foi conhecida pelo seu extremo frio, com poucos  habitantes e invernos escuros, porém com as mudanças climáticas, recentes observações  analisaram que nem todos esses fatores ambientais trarão efeitos negativos, por exemplo,  o surgimento de uma nova rota marítima ligando o Ártico ao oceano Pacífico ao Atlântico,  abrindo assim novas fronteiras para o comércio marítimo. Ao mesmo tempo, esse artigo  abre caminho a outras observações como os problemas relacionados às mudanças climáticas  na região do Ártico causadas pelo aquecimento global, a rota do mar do Norte, sua definição,  seus aspectos econômicos e os interesses de outros países sobre ela. Estruturado em 3  partes, a primeira parte do artigo irá examinar as consequências que a região do Ártico vem  sofrendo com as mudanças climáticas decorrentes do aquecimento global e como isso  afetará a fauna e a flora da região. A segunda parte, abordará o surgimento da rota marítima,  descoberta pelo navegante Vasco da Gama conhecido como Caminho para as Índias, dando  início a chamada Era das grandes navegações. Será abordado também na segunda parte do  artigo, a rota do mar do Norte, seu surgimento, sua trajetória e as consequências para o  contexto em que se encontram as navegações na região. Na terceira parte será direcionada  a questões econômicas, em particular, a da região do Ártico. Será discutido o potencial do  Ártico no comércio internacional, suas atividades de exploração e também algumas barreiras  que impedem essa prática de exploração. Por fim, o presente artigo mostra os interesses da  China nessa nova abertura da rota do mar do Norte, sendo que para esse país isto é viável  porque é uma grande compradora de petróleo extraído na região. Será também abordada  as possíveis alternativas que a abertura da rota do Mar do Norte pode trazer no comércio de  petróleo e gás natural da Rússia para os países da União Europeia. Concluindo, o artigo  apresenta a definição e função do Conselho do Ártico, o foro responsável pelas questões  relacionadas à região do Ártico. Buscando discutir essas questões, este artigo tem como  objetivo analisar quais as implicações para o comércio marítimo, decorrentes da redução da  camada de gelo no Oceano Ártico e expor quais os benefícios e como será o futuro da  navegação no comércio internacional com a abertura da nova rota do mar do Norte.

1. MUDANÇAS CLIMÁTICAS: O QUE SÃO? 

Mudanças climáticas, alterações do clima ou mudança do clima é um conjunto de  alterações referentes a radiação solar, movimentos orbitais da terra, de origem animal e do  homem gerando emissões em massa de gases, provocando o que conhecemos como efeito  estufa. As mudanças climáticas decorrentes do aquecimento global, oriundas da  intensificação do efeito estufa que vem sendo acarretadas pelo homem estão cada vez mais presentes atualmente, influenciando nosso modo de viver e o meio ambiente. Em  particular, a sensível região do Ártico no qual o tema será abordado é o local afetado que  responde mais rápido a essas mudanças causando elevados aumentos de temperaturas  (apud IPCC; SOUZA Jr, 2015). Segundo o site EcoDebate (2020), o Ártico está aquecendo  duas vezes mais rápido que a média global, com efeitos profundos no clima e nos padrões  climáticos do resto do mundo. 

2. COMO AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS AFETARÁ O ÁRTICO? 

Os principais efeitos que esse aquecimento atmosférico traz para o Ártico são o  degelo do permafrost, (solo feito de terra, gelo e rochas congeladas) onde o degelo libera  grandes quantidades de CO2 e CH4 na atmosfera intensificando o efeito estufa, conforme  gráfico 1. As consequências são: a migração dos peixes para outro local, devido ao  aumento da temperatura do ar prejudicando a atividade econômica do território, que  depende dessa fonte de renda; a redução dos volumes das geleiras causando o aumento  do nível do mar; a migração da vegetação fazendo com que os animais que dependem  desse alimento migrem também; o derretimento de áreas congeladas no verão causando  problemas na navegação aumentando a imprevisibilidade sobre os pedaços de gelo  contidos no mar possibilitando assim acidentes e por fim permite-se a descoberta de novas  atividades de extração (SOUZA Jr, 2015). Embora aparentemente deserto, o Ártico abriga  sob o seu gelo e no fundo do mar uma rica fauna aquática e várias aves marinhas, ambos  formam a biota marinha. A biota marinha ártica, contém espécies únicas e esses animais  precisam de temperaturas baixas para sobreviverem, logo o aumento de temperatura do  ambiente prejudica a biota marinha que é composta por fauna aquática e animais. O urso  polar é um dos animais prejudicados por esse aumento de temperatura, pois seu ambiente natural deve ser composto por gelo espesso que também serve de abrigo e de proteção.  Com as alterações climáticas e intensas chuvas na primavera, muitas tocas foram  destruídas causando a morte dos ursos tendo sua população diminuída (SOUZA Jr, 2015).  As focas, principalmente a espécie foca anelada na qual é a mais afetada por essas  mudanças pois as mães deixam seus filhotes em tocas profundas no gelo e vão caçar, com  a desintegração do gelo marinho pode ocorrer a separação da mãe com seus filhotes  deixando-os vulneráveis a ataques de predadores. Outro fator que ocorre com a espécie  anelada é que dificilmente as focas vão para terra firme, com o derretimento do gelo elas  serão obrigadas a mudar drasticamente seu estilo de vida (ACIA, 2004). Com o aumento da  temperatura dos oceanos, os peixes têm a tendência de migrar para o Norte, entre o  Oceano Pacífico e o Atlântico. Especialistas acreditam que essa migração levou a extinção  de muitas espécies e outro fator que pode ocorrer é a disputa por áreas de pesca na qual  os peixes estão localizados nas Zonas Econômicas Exclusivas (ZEE) causando conflitos entre  os territórios envolvidos (SOUZA Jr, 2015). Em contrapartida de todos esses pontos  negativos que mencionamos no texto acima, as mudanças climáticas podem também ter  pontos positivos favorecendo a abertura de novas rotas marítimas, em especial a rota do  Norte que promete ligar os oceanos Pacífico e Atlântico em um curto período e distância.  Outras causas das alterações climáticas e o aumento do nível do mar, onde alguns  Microestados insulares como as Ilhas Maldivas, Tuvalu, e Kiribati-Small Islands Developing  States (Sids), os quais, pela elevação do nível do mar decorrente do derretimento das  calotas polares, correm o risco de serem os primeiros Estados dentro da história a perder  seus elementos constitutivos clássicos, quer pelo desaparecimento do seu território ou  pela inviabilização deste para manter a vida humana (LAZZARI, 2015). Segundo o Banco  Mundial, além da submersão desses países, haverá também o êxodo das populações em  que neles habitam, provocando o deslocamento de cerca de quase 700.000 pessoas. 

Gráfico 1 – Alerta ao degelo causado pelas mudanças climáticas

Fonte: Zachary Labe 

3. O QUE É UMA ROTA MARÍTIMA E SEU SURGIMENTO 

Segundo Arnaud (2019) “A rota marítima é a rota real entre A e B, quando o fluxo se refere  à constatação de que um produto considerado como tendo sido produzido num ponto A foi  transportado até um ponto B”. A rota marítima surge como conceito para explicar o trajeto percorrido pelos navios para fins de expedição e comércio. Para Zanella (2010), até o  século XV o comércio de especiarias entre a Europa e a Ásia era feito somente pelo Mar  mediterrâneo. Devido às dificuldades de transportar as mercadorias, como o custo  elevado, a distância percorrida, e o fechamento dos estreitos que ligavam o Oriente ao  Ocidente, devido aos impasses políticos entre a civilização cristã e islâmica, foi necessário  que os navegantes dos reinos e impérios europeus descobrissem outros caminhos que os  levariam até às Índias. Os pioneiros nessa jornada foram os portugueses e espanhóis. Em  1498, o navegante português Vasco da Gama descobriu um caminho até às Índias através  do Oceano Índico contornando o Cabo da Boa Esperança pela África do Sul até Calicute, o  que levou ao marco da chamada Era das Grandes Navegações. 

4. O QUE É A ROTA DO MAR DO NORTE? 

A rota do Mar do Norte é uma rota marítima localizada entre o litoral russo e a região do  Ártico, conforme figura 1. Ela surgiu em decorrência do degelo, que foi provocado pelas  mudanças climáticas que atingiram o Ártico derretendo as calotas polares. Segundo (OLIVEIRA, ASSIS, 2017): “ Esta trajetória conecta a Europa e o leste Asiático através do  Norte da massa terrestre euroasiática, evitando-se, assim, o Oceano Índico e os seus mares  e baias adjacentes. ” Em 2017 pela primeira vez um navio comercial trafegou a rota sem o  auxílio de um navio quebra-gelo. O futuro da rota do Mar do Norte no comércio  internacional ainda é incerto, apenas previsões, sem um consenso da comunidade  científica em relação ao que acontecerá com a região do Ártico até a primeira metade do  século 21. 

Figura 1 – Mapa da Rota do Mar do Norte 

Fonte: Laurelle (2014) 

5. ROTA DO MAR DO NORTE SUAS CONSEQUÊNCIAS E ANTECIPAÇÕES

A Rota do Mar do Norte a cada ano vem ganhando força no meio internacional devido ao  degelo, como consequência promete diminuir as distâncias entre três das mais dinâmicas  regiões do planeta: o leste asiático, a Europa e a América do Norte. Essa possibilidade de  novo avanço comercial terá o potencial de modificar a conjuntura econômica internacional,  reduzindo custos logísticos, tanto para exportadores quanto para importadores.  Entretanto, não se trata mais de uma simples hipótese que essa rota irá influenciar o  comércio internacional, mas quando isso irá ocorrer (SOARES DE OLIVEIRA, 2017). Em  relação a geopolítica, o derretimento do gelo desencadeará uma série de eventos como  mudanças econômicas, estratégicas e geoestratégicas, como no caso da Groenlândia que  estrategicamente está localizada entre América do Norte, Europa e Rússia e possui metais de terra raras (neodímio, praseodímio, disprósio e térbio) sendo um dos componentes  usados na fabricação de carros elétricos, computadores e celulares (SCHIONNING, 2020).  Outro evento é o estreito de Bering com cerca de oitenta quilômetros de largura e suas  duas ilhas, a ilha ocidental, Grande Diomedes pertencente ao domínio Russo e a pequena  Diomedes, pertencente ao domínio americano. Onde essas duas nações concordaram em  estabelecer pedágios para navios que atravessarem o estreito, desrespeitando o direito  marítimo estabelecido pela Convenção das Nações Unidas sobre Direito do Mar (CNUDM). 

6. ASPECTOS ECONÔMICOS: POTENCIAL DO ÁRTICO 

Segundo Pereira (2013 Apud USGS, 2008) o Ártico tem um bom potencial para a exploração  energética, com cerca de 13% das reservas não descobertas de petróleo e 30% das reservas  não descobertas de gás natural. Entretanto, há algumas barreiras para essa exploração  devido aos ocorridos no Golfo do México em 2010, que segundo Greenpeace (2014) sob a  região do Golfo do México uma explosão na plataforma da empresa Transocean causou um  vazamento de 895 mil litros de petróleo em alto mar. Ambientalistas têm lutado contra  novas explorações alegando que empresas petrolíferas não possuem competências  técnicas para a retirada do petróleo com segurança. Adiante, o gás de xisto tem se  mostrado como alternativa para a produção de gás natural, embora ambientalistas  também contestam o seu uso por apresentar riscos ao meio ambiente. Dentre as barreiras  apresentadas, há ainda o objetivo dos países desenvolvidos em reduzirem as emissões do  gás de carbono, o que implica diretamente no consumo de hidrocarbonetos. O Ártico  possui recursos naturais valiosos, mas ainda há a incerteza se a exploração dos mesmos  será feita. 

7. O TRANSPORTE RUSSO DE PETRÓLEO E GÁS NATURAL PARA A EUROPA

O petróleo russo exportado para a Europa chega por via marítima, saindo do porto de  Vladivostok, contornando o Oceano Índico, atravessando o Canal de Suez, chegando até a  Europa. Com a passagem aberta pelo Mar do Norte a viagem seria reduzida até metade do  tempo e dos gastos. O transporte de gás natural é feito via gasoduto, passando pela  Ucrânia até chegar aos países da União Europeia. Com os entraves geopolíticos entre Rússia e Ucrânia, a rota do Mar do Norte passaria a ser uma rota alternativa mais segura do  hidrocarboneto. Estima-se que 13% do petróleo mundial e 30% do gás natural não  explorados ainda estão localizados abaixo das camadas de gelo do Ártico, sendo 70% desse  gás natural localizado em território russo (SILVA, COSSUL apud. JÚNIOR et al, 2016). As  reservas de petróleo da Rússia estão concentradas na região da Sibéria Oriental. O  hidrocarboneto é transportado via oleoduto até o porto de Vladivostok, e comercializado  por transporte marítimo para os países da Europa. O trajeto percorrido até o porto de  Roterdã leva cerca de 12 dias. A rota do Mar do Norte permite uma distância menor entre  os dois portos, reduzindo os custos e tempo gastos. 

8. ASPECTOS POLÍTICOS: O CONSELHO DO ÁRTICO 

O conselho do Ártico é um fórum intergovernamental que cuida das questões relacionadas  ao meio ambiente e à sustentabilidade da região. Seus estados membros são Canadá,  Dinamarca, Finlândia, Noruega, Rússia e EUA. O conselho foi criado em 1996 e se reúne a  cada dois anos com o intuito de adquirir conteúdos mais políticos em relação às mudanças  que vêm ocorrendo no Ártico. Quanto a sua navegabilidade, cada vez mais percursos e em  períodos que anualmente têm vindo a crescer, têm lutado a favor de uma importância  político-estratégica mais abrangente para a região ártica e em efeito, aumentando a sua  centralidade geopolítica no quadro cada vez mais ligado com oceanos, como o Atlântico e o  Pacífico. De fato, o aquecimento global e o desaparecimento sucessivo da calota ártica  tornaram a perfuração do fundo do mar do Ártico um projeto cada vez mais acessível;  ainda mais interessante, dada a comprovada abundância de reservas de petróleo e gás no  fundo do mar em grande parte da região (GUEDES, 2016). 

9. OS INTERESSES DA CHINA 

A China vê de maneira positiva a abertura da rota do Mar do Norte, segundo Silva e Cossul  (2021) cerca de 47% do petróleo comprado pelos chineses vem do Oriente Médio e 17% da  África, a rota marítima percorrida dessas regiões até o país asiático passa pelo Estreito de  Malaca, que faz a conexão entre o Oceano Índico até a o Mar do sul da China, segundo  Bueno (2022), é uma região onde há muitos países que apresentam instabilidades políticas e militares com frequência e essas instabilidades colocam em xeque o petróleo  comercializado. A China busca rotas alternativas com mais segurança e menos tempo de  percurso e a rota do Mar do Norte apresenta essas alternativas, diversificando suas rotas  comerciais. Segundo Humpert (2013) quão realistas são esses cenários? A distribuição  geográfica dos principais parceiros comerciais da China e seus investimentos substanciais  em infraestrutura portuária ao longo das rotas comerciais existentes não suportam a ideia  de transporte transartico em grande escala. Além disso, uma nova geração de navios  porta-contêineres e graneleiros ultra grandes oferecerão economias de escala muito  melhoradas e reduzirão os custos ao ponto em que o transporte marítimo no Ártico não  será economicamente viável para a China, mesmo em condições ideais. Para a China, o  transporte transartico pode ser apenas aplicado em seu comércio com a Europa e a Europa  Central, mas em outras regiões incluindo África, Américas e Oriente Médio, mesmo que os  períodos de degelo aumentem devido às mudanças climáticas, não se torna viável o grande  investimento pois suas rotas comerciais estão distantes do Ártico e da Rota do Mar do  Norte. Para a China, seu comércio é de natureza conteinerizada, sendo que: 51% de seu  comércio vai para os vizinhos na região do Pacifico, para a Europa menos que 17,6% e para  o norte da Europa responde a 2% do comércio global da China (INTERNATIONAL TRADE  CENTER, 2012). Portanto, o transporte marítimo do Ártico permanecerá de importância  limitada para a China, assim como para o resto do mundo. O transporte futuro na região  polar consistirá principalmente em transporte de destino sazonal, entregando suprimentos  ao Ártico para sua crescente atividade econômica e transportando os recursos naturais da  região para mercados no leste da Ásia (CONSELHO DO ÁRTICO, 2009). 

10. OS INTERESSES DA NORUEGA 

A região do Ártico é de extrema importância para a Noruega, tanto para a exploração de  recursos energéticos quanto para a formação de identidade nacional para o país nórdico. A  relação da Noruega com o Ártico se inicia no século XIX com a missão de alcançar o Polo  Norte. No início do século XX a região ganhou importância comercial para a indústria da  pesca. O país escandinavo é membro da Otan, e os países do Ocidente consideram que a  Noruega ocupa uma localização geoestratégica sendo responsável por manter uma política  de boa vizinhança com a Rússia, fazendo uma ponte comercial e diplomática entre a União  Europeia e o Estado eslavo. O Estado Norueguês também ambiciona seus próprios  interesses, tentando-se manter como a maior indústria pesqueira da Europa e o terceiro  maior exportador de gás natural do mundo. Para isso, os noruegueses exploram a região  com cautela, de maneira sustentável, respeitando o Acordo de Paris (LAZZARI, 2020). O  Acordo de Paris é um tratado que tem como objetivo estabelecer metas para as nações  que assinaram a se comprometer a reduzir as emissões de carbono na atmosfera. Para isso  será necessário manter o aumento da temperatura abaixo de 2 °C até 2100 nos níveis pré-industriais (PEIXER, 2019). 

METODOLOGIA 

A metodologia escolhida para ser abordada neste artigo é de origem qualitativa se  tratando de uma revisão bibliográfica estudada a partir de artigos científicos, livros e sites  oficiais publicados nos últimos anos. Portanto, fundamentado no método escolhido,  observa-se segundo Pereira (2011) que uma revisão bibliográfica é o primeiro passo na  construção eficaz de um protocolo de busca de um tema que após executado um  levantamento bibliográfico e se aprofundado no tema é possível servir de auxílio para  futuros trabalhos escolares, na qual esses futuros trabalhos também irão fazer buscas mais  detalhadas chegando a conclusões mais precisas sobre o tema em questão. 

RESULTADOS E DISCUSSÃO 

O resultado obtido pelas pesquisas e leituras, observamos a potência do tema abordado para  o comércio de rede em um mundo globalizado onde requer um curto espaço de tempo e  uma logística imensurável no comércio marítimo. As mudanças climáticas e as possíveis  aberturas de novas rotas como o Mar do Norte assim como o degelo do Ártico ainda se  posicionam como materiais de estudo e debates. Caberá ao Conselho do Ártico monitorar  essas mudanças, usando do bom senso e responsabilidade, sobrepondo os interesses  geopolíticos dos países que fazem parte desse Conselho. O mundo atual onde temas como  meio ambiente, sustentabilidade e preservação dos bens naturais da terra deverá seguir com  cautela e ética as necessidades do comércio internacional marítimo e suas descobertas como: minérios, gases, petróleo e metais de terras raras. Já para a China com seu  crescimento e hoje uma grande potência mundial, a rota do mar do Norte se torna imutável,  pois ao mesmo tempo que a China reduzirá seu tempo em distância e portos limitados, ela  se limitará a uma determinada quantidade reduzida de mercadorias, devido a Rota do Mar  do Norte não comportar navios de grande porte e seus contêineres. Esses novos padrões de  transporte marítimo vão contra o desenvolvimento do Ártico como um importante corredor  de navegação, não apenas para a China, mas também para o resto do mundo, acrescentando  que a Rota do Mar do Norte ainda se torna nos dias atuais inavegável em boa parte do ano  devido ao extremo frio e sua reduzida frota de navios quebra-gelo. Já a Noruega, que  também tem seu território transpassado pela Rota do Mar do Norte possui seus interesses  econômicos e identitários na região, além de ser responsável pela chamada política de boa  vizinhança, mediando os interesses e conflitos entre o Ocidente e Oriente no Ártico. 

CONCLUSÕES  

Os resultados das pesquisas citadas apontam para uma dicotomia no Ártico. Por um lado,  haverá uma significativa mudança no cenário do comércio internacional. Com uma rota  mais curta, redução do tempo e custos, gerando um fluxo de maior escala de mercadorias,  impactando positivamente na economia, principalmente para as duas potências  emergentes como Rússia e China. Já a Noruega mantém interesses em liderar o comércio  de pescado, preservando a sustentabilidade e diplomacia com a Rússia e além da  possibilidade de exploração das novas reservas de petróleo e gás natural, dois recursos  energéticos dos quais há uma demanda para a sociedade. Por outro lado, sabe-se que o  degelo provocará desastres ecológicos e sociais irreversíveis, como o desaparecimento de  espécies de animais, extinção da fauna e flora do Ártico, além do aumento do nível do mar,  causando a submersão de Microestados insulares, forçando as populações locais a se  refugiar em outro país. O tema “Os efeitos das mudanças climáticas e os impactos da rota  do mar do Norte no comércio internacional” abre para um debate ainda em observação e  futuro, se o custo benefício da rota do mar do Norte valerá e sobrepõe aos interesses de  preservação ambiental da região bem como se essa Rota é viável comercialmente para o  mundo e seus interesses. Em contraste, com o grande interesse mundial o transporte marítimo do Ártico ainda não oferece os benefícios da economia de rede e a alta demanda  de contêineres movimentados pelo mundo onde o transporte marítimo é ainda localizado  em países de baixas latitudes, longe da Região do Ártico e da Rota do Mar Norte. Seguindo  a linha de pesquisa, a dicotomia também serve para a China e seu transporte transartico  em grande escala com seu comércio de natureza conteinerizada, pois apenas uma fração  muito pequena de contêineres poderiam ser direcionados através do corredor marítimo do  Ártico. 

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