REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10152877
Darianna Rocha Reis1
Rosileide Alves2
RESUMO
Introdução: A dor lombar ou lombalgia crônica é um quadro que se caracteriza como uma síndrome incapacitante e dor, que persiste por mais de três meses a partir do seu primeiro episódio de dor aguda, se instala de forma gradativa tornando difícil a identificação de seu início, com momentos de melhora e piora. Objetivo: realizar uma revisão de literatura para compreender a influência da Terapia Manual no tratamento da lombalgia crônica, evidenciando possíveis melhorias dos sintomas relatados pelos pacientes diagnosticados com essa patologia. Metodologia: Revisão integrativa nas bases de dados Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), Literatura Latino-Americana em Ciências da Saúde (LILACS) e Scientific Electronic Library Online (SCIELO) com a captação de 6 artigos científicos com assuntos relacionados a dor lombar crônica e a terapia manual. Resultados: Todos os artigos pesquisados nas bases de dados utilizaram aplicações distintas de terapia manual para dor lombar crônica, grande parte relatou resultados positivos com essa intervenção. Considerações finais: As evidências apontam a terapia manual como um método seguro e viável para o tratamento de dor lombar crônica, reduzindo a dor e melhorando a funcionalidade dos pacientes.
Palavras-chave: dor lombar, fisioterapia, terapia manual.
ABSTRACT
Introduction: Low back pain or chronic low back pain is a condition that is characterized as a disabling syndrome and pain, which persists for more than three months after the first episode of acute pain, sets in gradually, making it difficult to identify its onset. , with moments of improvement and worsening. Objective: to carry out a literature review to understand the influence of Manual Therapy in the treatment of chronic low back pain, highlighting possible improvements in the symptoms reported by patients diagnosed with this pathology. Methodology: Integrative review in the Virtual Health Library (VHL), Latin American Literature in Health Sciences (LILACS) and Scientific Electronic Library Online (SCIELO) databases, capturing 6 scientific articles on subjects related to chronic low back pain and manual therapy. Results: All articles searched in the databases used different applications of manual therapy for chronic low back pain, most of which reported positive results with this intervention. Final considerations: Evidence points to manual therapy as a safe and viable method for treating chronic low back pain, reducing pain and improving patients’ functionality.
Keywords: low back pain, physiotherapy, manual therapy.
1 INTRODUÇÃO
Dor lombar, também conhecida como lombalgia, é um dos problemas de saúde mais recorrentes em adultos. Sua definição é descrita como dor e desconforto situados acima da linha glútea superior e abaixo do rebordo costal, existindo ou não a ocorrência de dor referida no membro inferior. Esse problema acomete cerca de 80% dos adultos em algum momento da vida (ALMEIDA; KRAYCHETE, 2017).
A classificação dos tipos de lombalgia é feita de acordo com o período de duração dos seus sintomas, podem ser agudas, subagudas ou crônicas. As lombalgias agudas se apresentam a partir de um trauma ou inflamação de tecidos moles, seu início é repentino e sua duração é menor que seis semanas. As subagudas, por sua vez, perduram por um período entre seis e doze semanas (CAMPOS; FERREIRA; MORAIS, 2018).
Conforme Zavarize et al. (2014) a lombalgia crônica é um quadro que se caracteriza como uma síndrome incapacitante e dor, que persiste por mais de três meses a partir do seu primeiro episódio de dor aguda, se instala de forma gradativa tornando difícil a identificação de seu início, com momentos de melhora e piora.
Suas causas possuem duas classificações: específicas, quando são decorrentes de fraturas, osteoporose e hérnia de disco; inespecíficas, onde não se identifica um fator etiológico conhecido, porém esses casos estão fortemente relacionados ao excesso de peso e/ou as posturas inadequadas (BOTTAMEDI et al., 2016).
Magalhães (2016) afirma que existem outras possíveis causas para a dor lombar crônica inespecífica, que são: características sociodemográficas, realização de trabalhos pesados ou repetitivos, postura de trabalho estática ou sentada, fatores genéticos, idade, desequilíbrio ou fadiga muscular do tronco, além da correlação desses com fatores psicológicos e sociais.
O tratamento da lombalgia ainda é desafiador para os profissionais da área de saúde, seu enfoque consiste na adoção de técnicas que demonstrem eficácia para a melhoria da dor e da incapacidade funcional associada. Nos últimos anos, muitos tratamentos conservadores vêm demonstrando evidências positivas, no entanto, adoção de um tratamento específico ainda não foi constatado de forma definitiva (FRASSON, 2016).
O tratamento da lombalgia requer uma abordagem multidisciplinar, envolvendo médicos, fisioterapeutas, educadores físicos, enfermeiros e psicólogos, visando a diminuição da dor e a promoção do bem-estar e das atividades funcionais do indivíduo. A fisioterapia atua na reabilitação e na prevenção das complicações decorrentes da lombalgia, seu plano de tratamento deve ser realizado de acordo com o diagnóstico e as causas da patologia (LIRA, 2023).
Dentro de diversos tratamentos fisioterapêuticos disponíveis na literatura destaca-se: neuroestimulação elétrica transcutânea, o ultrassom, ondas curtas, exercícios físicos que envolvam atividades aeróbicas, mobilização articular da coluna, alongamento e relaxamento, fortalecimento, massagens, terapia manual, entre outros (TOLENTINO, 2016).
A terapia manual, de acordo com Costa (2019), consiste em um procedimento utilizado por fisioterapeutas no tratamento de afecções, usando como recursos as próprias mãos para fazer movimentos otimizando a ativação muscular, amplitude do movimento, redução da dor entre outros benefícios visando a melhoria da qualidade de vida do paciente.
Dessa forma, Angeli (2019) explica que ela é altamente recomendada no âmbito da dor lombar crônica, tendo em vista que abrange diferentes técnicas de intervenção, como a mobilização, a manipulação vertebral, a liberação miofascial e a massagem, sendo que cada técnica apresenta características e objetivos específicos.
Assim, a importância dessa pesquisa consiste em contribuir para o direcionamento da escolha de opções terapêuticas viáveis para aplicação por parte dos profissionais da área de fisioterapia na dor lombar crônica. Portanto, o objetivo do presente artigo é demonstrar os efeitos da Terapia Manual no tratamento da lombalgia crônica.
2 METODOLOGIA
A fim de obter embasamento teórico para a elaboração do presente trabalho, foi realizada uma busca bibliográfica através de revisão integrativa nas bases de dados Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), Literatura Latino-Americana em Ciências da Saúde (LILACS) e Scientific Electronic Library Online (SCIELO) para a captação de artigos científicos que apresentassem como abordagem assuntos relacionados a dor lombar crônica e terapia manual. A busca foi realizada através dos seguintes descritores: dor lombar, fisioterapia, terapia manual.
As publicações incluídas foram as que abordavam a dor lombar crônica tratada com terapia manual de forma independente ou aliada a outras técnicas fisioterapêuticas, entre os anos de 2013 e 2023, nos idiomas inglês e português, disponíveis na íntegra para leitura. Foram excluídas as publicações que não atendiam aos interesses do estudo por tratarem de dor lombar aguda ou dor cervical, por não possuírem a terapia manual como tratamento, por não estarem disponíveis na íntegra de forma gratuita ou duplicados.
Os trabalhos foram avaliados e selecionados de forma independente, foram retiradas as duplicatas (estudo publicado em duas ou mais bases de dados). Com base nos títulos e resumos foram excluídos aqueles que não tinham relação com a temática da revisão. A partir dessa pré-seleção, foram analisados os textos na íntegra, considerando os critérios de inclusão e exclusão definidos, dessa forma foram selecionados 6 artigos para compor este estudo. A figura 1 mostra o quantitativo de obras encontradas nas bases de dados.
Figura 1. Fluxograma da pesquisa
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os estudos selecionados para a presente pesquisa foram apresentados de forma descrita e listados em forma de quadro, apresentando ano, autor, tema, base de dados e principais resultados.
Quadro 1. Resultados da pesquisa
ANO | AUTOR | TÍTULO | BASE DE DADOS | PRINCIPAIS RESULTADOS |
2014 | KARVAT, J; ANTUNES, J. S; BERTOLINI, G. R. F. | Mobilizações póstero-anteriores da coluna lombar em voluntárias saudáveis. Avaliação da dor ao frio e à pressão: ensaio clínico cruzado. | SCIELO | Ensaio clínico cruzado, com 15 voluntárias que receberam mobilizações póstero-anteriores, variando o nível entre I-IV. As variáveis estudadas foram intensidade de dor ao frio e limiar de dor à pressão. As mobilizações oscilatórias sobre vértebras lombares de indivíduos saudáveis produziram, redução significativa na intensidade de dor ao frio, mas não houve efeito com relação à dor à pressão. |
2017 | TAVARES, F. A. G. | Efeitos imediatos da mobilização articular em comparação com intervenção simulada e controle para intensidade de dor e incapacidade em pacientes com dor lombar crônica: ensaio clínico controlado randomizado. | LILACS | Os presentes resultados demonstraram que a mobilização articular foi eficaz na melhora da incapacidade, intensidade da dor e catastrofização pré e pós-intervenção. Entretanto, na comparação dos efeitos entre os grupos de intervenção foi observada redução significativa na intensidade de dor apenas nos grupos mobilização e sham em relação ao grupo controle. |
2016 | ARINS, M. R. et al. | Cronograma de tratamento fisioterapêutico para dor lombar crônica: influência na dor, qualidade de vida e capacidade funcional. | SCIELO | O programa de exercícios baseado nos princípios da Estabilização Segmentar lombar resultou em benefícios significativos aos pacientes envolvidos. Houve redução da dor, melhora da capacidade funcional e da percepção da QV. A modificação proposta no PSN foi sensível para detectar alterações na percepção da QV destes pacientes. |
2021 | BURNS, S. A. et al. | Ao tratar a dor lombar coexistente e as deficiências do quadril, concentre-se nas costas: adicionar tratamento específico do quadril não produz benefícios adicionais — um ensaio clínico randomizado e controlado. | BVS | A adição de tratamentos voltados para o quadril à fisioterapia lombar habitual não proporcionou benefícios adicionais a curto ou longo prazo na redução da incapacidade e da dor em indivíduos com lombalgia e comprometimento concomitante do quadril. |
2019 | TEYCHENNE, M. et al. | Força geral e condicionamento versus controle motor com terapia manual para melhorar os sintomas depressivos na dor lombar crônica: um estudo de viabilidade randomizado. | BVS | Quarenta homens e mulheres com dor lombar crônica persistente inespecífica foram recrutados para um ensaio clínico randomizado durante para receber controle motor (exercício de baixa dose) e terapia manual, ou treinamento geral de força e condicionamento (exercício de dose moderada). Os sintomas depressivos foram avaliados quinzenalmente durante um período de acompanhamento de 6 meses. A redução dos sintomas depressivos ocorreu com ambos os métodos de tratamento. |
2021 | TOOMEY, D; REID, D; WHITE, S. | Como a terapia manual forneceu uma porta de entrada para uma abordagem de manejo biopsicossocial em um adulto com dor lombar crônica pós-cirúrgica: relato de caso. | BVS | É um estudo de caso que fornece um exemplo de como aplicar os princípios de uma abordagem biopsicossocial no manejo de um paciente que sofre de dor crônica na coluna vertebral no pós-operatório. O paciente demonstrou melhora nas medidas de desfecho autorrelatadas e relatadas pelo clínico, seguindo uma abordagem de reabilitação multimodal psicologicamente informada, que incorporou terapia manual, educação em neurociência da dor e exercícios. |
Todos os artigos pesquisados nas bases de dados utilizaram aplicações distintas de terapia manual para dor lombar crônica, grande parte relatou resultados positivos com essa intervenção.
No estudo de Tavares et al. (2017) e de Toomey, Reid e Branco (2021) foi observado que a terapia manual ocasionou uma redução significativa na intensidade de dor lombar e melhora na incapacidade. No entanto, deve ser associada a outros tratamentos e não utilizada de forma isolada, garantindo assim a melhores resultados.
Os estudos de Arrins et al. (2016) e Karvat, Antunes e Bertolini (2014) entraram em consenso em seus resultados com redução da dor, melhora da capacidade funcional e da percepção da qualidade de vida, suas intervenções consistiram em mobilização e estabilização, através dessas técnicas é possível alcançar o controle da dor de forma efetiva, pois o toque na pele pode ser um poderoso método de modulação da dor, e a velocidade dos estímulos proprioceptivos pode conduzir a inibição de estímulos dolorosos no sistema nervoso central.
Além disso, Toomey, Reid e Branco (2021) afirmam que tem sido demonstrado, em pacientes com esse acometimento, é necessária uma abordagem multimodal de reabilitação que considere não apenas os fatores físicos, mas também cognitivos, emocionais, sociais, psicológicos e de estilo de vida que são mais eficazes na redução da dor.
Somente um estudo não avaliou a redução da dor, foi o de Teychenne et al. (2019) que teve como objetivo examinar a viabilidade de dois protocolos de intervenção, sendo um deles a terapia manual, comumente utilizados na prática clínica para o tratamento da dor lombar crônica, mas com diferentes doses de exercício, sobre sintomas depressivos. Os pacientes passaram a presentar redução nos sintomas depressivos após adotarem o tratamento.
Apenas a pesquisa conduzida por Burns et al. (2021) não encontrou efeitos positivos, eles compararam dois programas de intervenção utilizando terapia manual: adição do tratamento do quadril ao tratamento lombar ou tratamento lombar isolado. Os autores chegaram a conclusão que a adição de terapia manual do quadril ao tratamento de exercícios de fisioterapia lombar usual não proporcionou benefício adicional na redução da incapacidade e da dor no período de um ano.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com a análise feita, conclui-se que as evidências apontam a terapia manual como um método seguro e viável para o tratamento de DLC. Os achados desta revisão têm implicações importantes para os profissionais de fisioterapia e para as pessoas que sofrem com lombalgia. Apesar de algumas preocupações quanto ao uso de terapias manuais poucos efeitos adversos têm sido relatados na literatura.
Os principais resultados positivos evidenciados nos estudos é a redução da dor e a melhora da funcionalidade dos pacientes. Vale destacar também a ênfase dada por alguns autores aos fatores psicológicos que a lombalgia pode trazer e aos benefícios da terapia manual para esses sintomas. Claramente, são necessárias mais pesquisas investigando a eficácia clínica de terapias manuais para pacientes com essa condição crônica.
REFERÊNCIAS
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ARINS, Mariana Regina et al. Programa de tratamento fisioterapêutico para dor lombar crônica: influência sobre a dor, qualidade de vida e capacidade funcional. Revista Dor, v. 17, p. 192-196, 2016.
BOTTAMEDI, Xayani et al. Programa de tratamento para dor lombar crônica baseado nos princípios da Estabilização Segmentar e na Escola de Coluna. Rev Bras Med Trab, v. 14, n. 3, p. 206-13, 2016.
BURNS, Scott A. et al. When treating coexisting low back pain and hip impairments, focus on the back: adding specific hip treatment does not yield additional benefits—a randomized controlled trial. Journal of orthopaedic & sports physical therapy, v. 51, n. 12, p. 581-601, 2021.
CAMPOS, Johnat Ribeiro; FERREIRA, Juliana Barros; DE MORAIS, Karla Cavalcante Silva. A Kinesio Taping® no tratamento da dor em mulheres com lombalgia crônica. Revista InterScientia, v. 6, n. 1, p. 42-54, 2018.
COSTA, Marcela Ralin de Carvalho Deda. Utilização de terapias manuais no tratamento da lombalgia. I Congresso de Ortopedia e Terapia Manual; II Simpósio Sergipano de Fisioterapia Ortopédica e Manual. Sergipe, 2019.
FRASSON, Viviane Bortoluzzi. Dor lombar: como tratar. OPAS/OMS–Representação Brasil, v. 1, n. 9, 2016.
KARVAT, Jhenifer; ANTUNES, Juliana Sobral; BERTOLINI, Gladson Ricardo Flor. Mobilizações póstero-anteriores na coluna lombar em voluntárias saudáveis. Avaliação da dor ao frio e à pressão: ensaio clínico cruzado. Revista Dor, v. 15, p. 21-24, 2014.
LIRA, Erica Machado. Benefícios fisioterapêuticos da terapia manual no tratamento da lombalgia crônica: uma revisão integrativa. Diálogos em Saúde, v. 6, n. 2, 2023.
MAGALHÃES, Mauricio Oliveira. Efeito da terapia cognitivo-comportamental e exercícios versus programa de exercícios supervisionados em pacientes com dor lombar crônica não específica: estudo controlado aleatorizado. 2016. 75 f. Tese de Doutorado (Doutorado em Ciências). Universidade de São Paulo. São Paulo, 2016.
TAVARES, Fernando Augusto Gonçalves et al. Efeitos imediatos da mobilização articular em relação à intervenção sham e controle na intensidade de dor e incapacidade em pacientes com dor lombar crônica: ensaio clínico aleatorizado controlado. Revista Dor, v. 18, p. 2-7, 2017.
TEYCHENNE, Megan et al. General strength and conditioning versus motor control with manual therapy for improving depressive symptoms in chronic low back pain: A randomised feasibility trial. PLoS Um, v. 14, n. 8, p. e0220442, 2019.
TOLENTINO, Flora. Efeito de um tratamento com auriculoterapia na dor, funcionalidade e mobilidade de adultos com dor lombar crônica. 2016. 53 f. Dissertação de mestrado (Mestrado em Desenvolvimento Humano e Tecnologias). Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências de Rio Claro. São Paulo, 2016.
TOOMEY, Davi; REID, Adriano; BRANCO, Steven. Como a terapia manual forneceu uma porta de entrada para uma abordagem de manejo biopsicossocial em um adulto com dor lombar crônica pós-cirúrgica: relato de caso. Revista de Terapia Manipulativa, v. 29, n. 2, p. 107-132, 2021. ZAVARIZE, Sérgio Fernando et al. Dor lombar crônica: implicações do perfil criativo como estratégia de enfrentamento. JMPHC| Journal of Management & Primary Health Care| ISSN 2179-6750, v. 5, n. 2, p. 188-194, 2014.
Darianna Rocha Reis – Acadêmica do curso de Fisioterapia do Centro Universitário Fametro1
Rosileide Alves – Professora Orientadora do curso de Fisioterapia do Centro Universitário Fametro2