REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202506071356
Iwry Adryo Bandeira Santos1
Juan Diego Costa Carvalho2
Luiza Frota Ximenes3
Maria Tereza Rios Soares4
José Neomar de Souza Filho5
Francisca Nayra Brito Silva6
Orientadora: Prof.ª Me. Maria Alcineide Dias Araújo7
RESUMO
O uso da placa palatina de memória em crianças com trissomia do 21 tem como objetivo promover melhorias na função orofacial, particularmente na postura habitual da língua e dos lábios. A síndrome de Down geralmente está associada a hipotonia muscular e alterações na motricidade oral, o que pode afetar negativamente funções como a fala, a deglutição e a respiração. A placa palatina de memória é um dispositivo que se adapta ao palato e oferece estímulos sensoriais e proprioceptivos, promovendo uma reorganização funcional das estruturas orais. Estudos sugerem que o uso desse dispositivo pode ajudar a melhorar o tônus muscular, a postura da língua e o fechamento labial, favorecendo o desenvolvimento das funções orais. A estimulação proporcionada pela placa pode induzir uma postura mais adequada da língua e dos lábios, o que impacta positivamente no desenvolvimento da fala e na eficiência da deglutição, além de auxiliar na respiração nasal, reduzindo a respiração oral. Assim, o uso da placa palatina de memória, aliado à terapia miofuncional, tem se mostrado uma abordagem promissora para aprimorar a qualidade de vida e o desenvolvimento global de crianças com trissomia do 21.
Palavras-chaves: Placa palatina de memória. Crianças. Trissomia do 21.
ABSTRACT
The use of the memory palatal plate in children with trisomy 21 aims to improve orofacial function, particularly the habitual posture of the tongue and lips. Down syndrome is commonly associated with muscle hypotonia and changes in oral motor skills, which can negatively affect functions such as speech, swallowing, and breathing. The memory palatal plate is a device that adapts to the palate and provides sensory and proprioceptive stimulation, promoting functional reorganization of the oral structures. Studies suggest that the use of this device can help improve muscle tone, tongue posture, and lip closure, supporting the development of oral functions. The stimulation provided by the plate may encourage a more appropriate posture of the tongue and lips, which positively impacts speech development and swallowing efficiency, as well as assists in nasal breathing, reducing mouth breathing. Thus, the use of the memory palatal plate, combined with myofunctional therapy, has proven to be a promising approach to enhance the quality of life and overall development of children with trisomy 21.
Keywords: Palatal memory plate. Children. Trisomy 21.
1. INTRODUÇÃO
A Trissomia do cromossomo 21, também conhecida como Síndrome de Down (SD), é uma condição genética caracterizada por uma alteração cromossômica que resulta na presença de um cromossomo 21 adicional. Essa condição provoca diversas modificações congênitas que afetam o crescimento físico, mental e craniofacial, resultando em características específicas como traços faciais distintivos, disfunções motoras e hipotonia muscular. Durante as divisões celulares, chamadas mitose e meiose, a separação dos cromossomos geralmente ocorre de forma regular, garantindo que cada célula receba uma cópia de cada cromossomo. No entanto, em casos de não-disjunção, um par de cromossomos não se separa corretamente, resultando na formação de uma célula com um cromossomo extra. Na Síndrome de Down, esse processo pode ocorrer de várias formas, levando à presença de uma cópia extra do cromossomo 21 (Moreira et al., 2000).
De acordo com o Ministério da Saúde, a incidência dessa condição é de cerca de 1 em cada 700 nascidos vivos, totalizando aproximadamente 270 mil pessoas com Síndrome de Down no Brasil. A SD representa cerca de 18% do total de pessoas com deficiência intelectual, tornando-se a alteração genética mais comum (Almeida et al., 2022). Indivíduos com SD estão propensos a uma série de complicações de saúde, como cardiopatias congênitas (40%), hipotonia (100%), problemas de audição (50 a 70%), distúrbios de visão (15 a 50%), alterações na coluna cervical (1 a 10%), disfunções da tireoide (15%) e obesidade, além do envelhecimento precoce. Embora a síndrome não seja letal em sua essência, ela pode ser considerada geneticamente letal quando se considera que 70-80% dos casos são diagnosticados em recém-nascidos, com uma eliminação prematura de parte dos casos (Moreira et al., 2000).
Entre as características clínicas observadas na Síndrome de Down, Castillo Morales em 1982 classifica os distúrbios patológicos das crianças com T21 em primários e secundários. Entre os primários estão a hipotonia da língua, que aparece aumentada, a diminuição do tônus dos músculos bucinador e orbicular da boca, além de má oclusão devido à posição incorreta da língua. Essas características impactam as funções estomatognáticas, como respiração, mastigação e deglutição (Silva et al., 2002). Já as patologias secundárias são aquelas resultantes do mau funcionamento de estruturas orais e respiratórias, como a subluxação da mandíbula, respiração oral, distúrbios fonoarticulatórios e infecções respiratórias (Almeida et al., 2023).
A hipotonia muscular, presente na Trissomia 21, dificulta o desenvolvimento orofacial e resulta em limitações funcionais nas atividades de sucção, respiração, mastigação e fala. A placa palatina de memória (PPM), projetada para corrigir a posição habitual da língua, tem mostrado eficácia nas funções motoras orais, especialmente quando aplicada nos primeiros dias de vida. Ela contribui para melhorias no tônus muscular e no vedamento labial (Almeida et al., 2022). Além disso, a terapia comportamental, focada em resolver questões psicológicas, tem como objetivo reestabelecer um funcionamento psicologicamente adequado e satisfatório para os indivíduos (Lettner, 2012).
Quando aplicada precocemente, a terapia comportamental visa prevenir o aparecimento de características secundárias da Síndrome de Down, que surgem devido ao não tratamento das alterações primárias. O tratamento envolve um exame funcional detalhado realizado por equipes multiprofissionais, incluindo profissionais de odontologia, fonoaudiologia e fisioterapia, com foco no corpo e nos pontos neuromotores da face (Lettner, 2012).
Diante da compreensão de que as alterações no posicionamento da língua em pacientes com Síndrome de Down são frequentes e podem afetar diversas funções, como a fala e a oclusão dentária, esta pesquisa foi estruturada para responder à seguinte pergunta: “Em pacientes com Síndrome de Down, quais são os benefícios do uso de placa palatina de memória em relação à saúde oral e à função?” A motivação para este estudo surge do interesse em explorar mais profundamente a aplicação da PPM, já que durante a graduação foi percebida a ausência de discussões e práticas relacionadas a essa abordagem terapêutica, destacando a importância de investigar sua efetividade e potencial impacto na qualidade de vida desses pacientes.
2. OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
Realizar uma revisão integrativa da literatura acerca do uso e dos efeitos da placa palatina de memória em crianças com trissomia 21.
2.2 Objetivos específicos
a) Identificar quais são os perfis epidemiológicos dos pacientes que fizeram uso da PPM;
b) Analisar quais os possíveis benefícios do uso da PPM;
c) Identificar o tempo e intervalo de uso da PPM.
3. REFERENCIAL TEÓRICO
3.1 Histórico e etiologia da Síndrome de Down
A trajetória histórica da SD começa no século XIX, John Langdon Down foi o primeiro a caracterizar esta condição em 1866. Posteriormente, em 1932, um médico oftalmologista na Holanda teorizou que a síndrome poderia ser o resultado de uma anomalia cromossômica. Quase cem anos após sua descrição inicial, descobriu-se que a maioria das pessoas afetadas pela SD possui um conjunto de 47 cromossomos, devido a um cromossomo acrocêntrico adicional, o cromossomo 21 (Da Silva e De Sousa, 2001).
A síndrome de Down representa a causa genética mais prevalente de variação no desenvolvimento intelectual, incidindo em aproximadamente 1 a cada 650 nascimentos. A identificação precisa da variante citogenética é fundamental para a elaboração de estratégias de aconselhamento genético apropriadas. Esta síndrome é caracterizada pela ocorrência de trissomia no cromossomo 21, a qual pode apresentar-se sob três formas distintas à luz da citogenética: trissomia regular, translocação ou mosaicismo (Garduno et al., 2013; Veríssimo, 2021).
3.1.1 Trissomia do cromossomo 21
A trissomia do cromossomo 21 é a causa mais comum da Síndrome de Down, representando aproximadamente 95% dos casos. Essa condição ocorre quando o cromossomo 21 não se separa corretamente durante a formação das células sexuais, podendo ocorrer tanto nos óvulos quanto nos espermatozoides. Consequentemente, um óvulo fertilizado recebe três cópias do cromossomo 21 em vez dos dois habituais (Figura 01), resultado de um fenômeno conhecido como não disjunção cromossômica. Essa trissomia é então transmitida para todas as células do organismo em desenvolvimento (Paskulin et al., 2011).
Figura 1 – Cariótipo representativo da trissomia do cromossomo 21
Fonte: FREESVG (2022).
3.1.2 Mosaicismo
O mosaicismo é uma condição genética caracterizada pela presença de duas ou mais populações de células com diferentes configurações genéticas dentro do mesmo organismo. Na Síndrome de Down, este fenômeno manifesta-se quando algumas células do corpo possuem um número normal de cromossomos (46), enquanto outras têm um cromossomo extra no par 21, totalizando 47 cromossomos, conforme representado na Figura 02 (Rodrigues et al., 2020; Veríssimo, 2021).
Figura 2 – Esquema celular da Síndrome de Down por mosaicismo
Fonte: Adaptada de Children’s Hospital of Philadelphia: About Down Syndrome.
Esta forma é a menos frequente de apresentação da Síndrome de Down, afetando cerca de 1 a 2% dos pacientes e é causada por uma segregação irregular do cromossomo 21 logo após a fertilização do óvulo. Essa irregularidade ocorre nas primeiras divisões celulares que se seguem à fecundação. Como resultado, forma-se uma heterogeneidade celular, onde células com trissomia do cromossomo 21 coexistem com células com a configuração cromossômica normal (Rodrigues et al., 2020; Veríssimo, 2021; Garduno, 2013).
Este processo resulta em uma distribuição desigual de células normais e trissômicas em diferentes regiões do corpo (Veríssimo, 2021). Tal variação nas células confere à Síndrome de Down, em sua forma mosaico, sintomas geralmente menos acentuados quando comparados aos da trissomia regular do cromossomo 21, onde cada célula do corpo carrega um cromossomo 21 suplementar (Rodrigues et al., 2020).
O impacto do mosaicismo na gravidade e na manifestação dos sintomas da Síndrome de Down varia significativamente. Algumas pessoas com essa condição podem apresentar sintomas menos graves da síndrome, enquanto outras podem exibir características mais típicas da condição. Esta diversidade nos sintomas ressalta a complexidade do mosaicismo e seu papel crucial na manifestação clínica da Síndrome de Down (Rodrigues et al., 2020).
3.1.3 Translocação Robertsoniana
A translocação Robertsoniana, uma forma de alteração cromossômica observável na Síndrome de Down, ocorre entre cromossomos acrocêntricos, caracterizados por um braço significativamente maior que o outro devido à localização do centrômero próximo a uma das extremidades. Neste processo, um cromossomo perde seu braço longo e outro o braço curto. Após esta troca, forma-se um cromossomo composto apenas por braços longos e outro apenas por braços curtos, sendo este último geralmente degradado. Esse erro pode surgir durante a divisão celular germinativa que forma os gametas ou por uma não-disjunção mitótica nas primeiras divisões do zigoto. O resultado é a formação de gametas com 23 cromossomos, incluindo um cromossomo 14 anormalmente unido ao cromossomo 21 pela banda q, originando zigotos com 46 cromossomos. Essa condição específica é responsável por cerca de 2,5% dos casos de Síndrome de Down, como ilustrado na Figura 03 (Moreira, 2000).
Figura 3 – Cariótipo de translocação para a Síndrome de Down apresentando translocação Robertsoniana nos cromossomos 14 e 21
Fonte: Wikipedia
3.2 Características Fenotípicas da Síndrome de Down
Na Síndrome de Down, a expressão fenotípica pode variar significativamente de indivíduo para indivíduo. No entanto, certos sinais e características são bastante prevalentes e desempenham um papel crucial no diagnóstico clínico (Veríssimo, 2021).
3.2.1 Características físicas gerais
Indivíduos afetados podem apresentar uma série de características físicas distintas, incluindo diástase dos músculos dos retos abdominais, acompanhada por hérnia umbilical. Adicionalmente, observa-se frouxidão ligamentar e hipotonia generalizada. No que tange às extremidades, é comum o afastamento entre o primeiro e o segundo dedo dos pés, bem como a presença de pé plano (Figura 4). As mãos frequentemente exibem clinodactilia do quinto dedo (Figura 5), caracterizada por um curvamento, e braquidactilia, que se refere aos dedos curtos. Outro sinal notável é a prega simiesca, uma prega palmar única (Figura 6), que é outra característica marcante nesses indivíduos (Da Silva e De Sousa.; 2001; Veríssimo, 2021).
Figura 4 – Características nos pés de indivíduos com trissomia 21
Fonte: https://www.cesdcampinas.org.br/qual-o-melhor-tipo-de-calcado-para-o-seu-filho
Figura 5 – Sindactilia cutânea e óssea
Fonte: Harry Pachajoa, MD, PhD
Legenda: (A) Sindactilia cutânea dos terceiros e quartos dedos bilateralmente, além de clinodactilia do quinto dedo. (B) Radiografia das mãos revela sindactilia óssea das falanges proximais dos dedos afetados.
Figura 6 – Representação da prega simiesca em região palmar
Fonte: https://image.slidesharecdn.com/sndromededown-17-161123165553/85/Sindromede-down-10-320.jpg
3.2.2 Características craniofaciais e orais da SD
Dentre as características craniofaciais comuns na Síndrome de Down, destacam-se várias que são particularmente identificáveis (Figura 7). Entre elas, o crânio apresenta-se achatado e os cabelos são notavelmente finos. A face, por sua vez, é caracterizada por ser aplanada, com nariz curto e base achatada. Além disso, a protrusão lingual é frequente, juntamente com orelhas de implantação baixa e pavilhão auricular pequeno (Paiva, Melo, Frank, 2018; Veríssimo, 2021).
No que se refere aos olhos, as pregas palpebrais oblíquas e o epicanto, uma prega cutânea no canto medial do olho, são sinais distintivos. Outras características incluem a sinofris, que é a união das sobrancelhas, e um pescoço curto e grosso. Estes elementos são extremamente comuns e servem como importantes guias para o diagnóstico clínico (Paiva, Melo, Frank, 2018; Veríssimo, 2021).
Figura 7 – Características craniofaciais comuns na Síndrome de Down
Fonte: UNA-SUS/UFMA 2021
Legenda: (1) Pregas palpebrais oblíquas para cima; (2) Epicanto (prega cutânea no canto interno do olho); (3) Sinófris (união das sobrancelhas); (4) Base nasal plana; (5) Orelhas de implantação baixa e pavilhão auricular pequeno; (6) Cabelo fino; (7) Protusão lingual; (8) Excesso de tecido adiposo no dorso do pescoço.
No que diz respeito às características orais, os indivíduos afetados por esta síndrome exibem diversas alterações bucais e funcionais, as quais podem influenciar significativamente os cuidados de saúde e a higiene oral (Usui et al., 2020).
Os indivíduos afetados podem exibir uma série de características bucais distintas, incluindo um palato ogival e estreito, maxila atrésica, e uma projeção lingual notável. Adicionalmente, observa-se frequentemente retrognatia mandibular, com a mandíbula e a cavidade bucal sendo notavelmente pequenas. A língua, frequentemente grande e fissurada, pode também manifestar glossite migratória benigna (Da Silva e De Sousa, 2001; Usui et al., 2020; Veríssimo, 2021).
Complementarmente, esses indivíduos geralmente apresentam boca aberta com grande salivação, lábio inferior revertido, elevação do lábio superior em inatividade e deiscência do ângulo da boca. Esse conjunto de alterações podem afetar negativamente a fala, a oclusão e o sistema estomatognático (Pinheiro et al., 2018).
3.3 Placa palatina de memória como alternativa de cuidado na SD
Os bebês com Síndrome de Down frequentemente apresentam um distúrbio orofacial que pode estar presente desde o nascimento ou tornar-se mais evidente ao longo do primeiro ano de vida. Essa condição é caracterizada pela hipotonicidade dos músculos periorais, lábios e mastigatórios, juntamente com uma protrusão da língua, seguida por uma protusão ativa posterior da língua. Esses problemas podem levar a dificuldades com sucção, deglutição, salivação excessiva e desenvolvimento dentário. Estratégias de intervenção precoce, que combinam a Terapia Manual Orofacial de Castillo-Morales com o uso de uma placa palatina especialmente projetada, a PPM, têm mostrado benefícios significativos. Essa abordagem pode melhorar a função orofacial, a aparência facial e prevenir condições secundárias, como pseudoprognatismo, doenças dentárias, maloclusões, hábito de boca aberta e pseudomacroglossia (Limbrock, Fischer-Brandies e Avalle, 1991).
A PPM é um dispositivo empregado para auxiliar no desenvolvimento da fala e da alimentação em indivíduos com SD. Sua função reside em exercer pressão sobre o palato, estimulando a musculatura oral e promovendo uma melhor posição da língua durante a fala e a alimentação. Essa estimulação pode contribuir para melhorar a articulação, a velocidade e a clareza da fala, além de facilitar a mastigação e a deglutição de alimentos. É prudente manter expectativas realistas em relação aos resultados do uso da Placa Palatina de Memória, pois os benefícios podem variar de acordo com cada criança, e seu uso deve integrar uma abordagem terapêutica abrangente (Pinheiro et al., 2018).
A PPM é confeccionada pelo dentista a partir de um molde da arcada superior do paciente. Ela é equipada com um botão estimulador para a língua e elevações na região do vestíbulo oral para os lábios (Figura 8). Recomenda-se seu uso em casos de língua hipotônica em posição habitual interdental ou Inter labial, bem como lábio superior hipotônico e sem vedamento. A aplicação eficaz dessa abordagem exige uma colaboração estreita entre o dentista e o fonoaudiólogo (Giacchini et al., 2013).
Figura 8 – Placa palatina e estimuladores sensoriais de lábio e língua
Fonte: Carvalho, 2022. Legenda: (A) Vista Frontal e (B) Vista da parte inferior.
A literatura atesta resultados positivos na melhoria das alterações dos órgãos fonoarticulatórios em indivíduos com trissomia 21 submetidos à terapia fonoaudiológica. Dentre as diversas abordagens terapêuticas disponíveis, destaca-se a Terapia de Regulação Orofacial, desenvolvida por Castillo-Morales. Essa abordagem fundamenta-se em um programa de estimulação neuromuscular que pode ser complementado pelo uso da PPM (Giacchini et al., 2013).
A maioria dos estudos sugere que a PPM seja usada por períodos que variam de 30 minutos a 2 horas, de duas a quatro vezes ao dia. Evita-se o uso contínuo para prevenir a habituação da criança ao dispositivo e a subsequente perda de sensibilidade ao estímulo. Recomenda-se, ainda, aumentar gradualmente o tempo de uso da placa. Entretanto, nenhum estudo investigou como a duração diária de uso da PPM influencia os resultados. Castillo-Morales recomenda a remoção da placa durante as refeições para não interferir negativamente na experiência sensorial durante a alimentação (Morales, 2002).
3.4 Desafios e Limitações da Placa Palatina de Memória
Embora a Placa Palatina de Memória seja amplamente utilizada na Síndrome de Down para facilitar o desenvolvimento da fala e da alimentação, sua aplicação não 24 está isenta de desafios. Indivíduos com trissomia 21 podem enfrentar dificuldades na articulação devido à anatomia peculiar da boca e das vias aéreas superiores, o que pode resultar em uma fala mais lenta. Além disso, a clareza da fala pode ser prejudicada, dificultando a compreensão por parte de outras pessoas. Adicionalmente, podem surgir dificuldades na mastigação e deglutição de alimentos, acarretando possíveis problemas nutricionais e de saúde. Por fim, é comum observar seletividade alimentar em algumas crianças, que preferem certos tipos de alimentos e rejeitam outros (Pinheiro et al., 2018).
Ressalta-se que a adaptação à PPM pode representar um desafio significativo, pois nem todas as crianças se adaptam facilmente a esse dispositivo. Essa dificuldade pode ser particularmente desafiadora para pais e terapeutas, enfatizando a importância crítica de garantir a manutenção adequada da placa para assegurar sua eficácia (Morales., 2002). Para enfrentar esses desafios, uma abordagem multidisciplinar envolvendo fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, dentistas e outros profissionais se faz necessário
4. METODOLOGIA
4.1 Tipo de estudo
Este estudo apresenta uma abordagem descritiva e qualitativa, adotando o método de revisão integrativa. De acordo com Souza, Silva e Carvalho (2010), a revisão integrativa é uma metodologia de pesquisa que facilita a síntese de conhecimentos e a integração dos resultados de estudos relevantes na prática clínica. A revisão integrativa da literatura estabelece critérios rigorosos para a coleta de dados, análise e apresentação dos resultados, utilizando um protocolo de pesquisa previamente elaborado e validado (Lanzoni e Meirelles, 2011).
4.2 Etapas da revisão
A seguinte pesquisa seguiu a metodologia proposta por Botelho, Cunha e Macedo (2011), na qual revisão integrativa é composta por seis etapas essenciais no processo de elaboração, conforme demonstrado no fluxograma 1.
Figura 9 – Etapas da revisão integrativa
Fonte: Adaptado de Botelho, Cunha e Macedo (2011).
4.2.1 Primeira Etapa: Pergunta norteadora e estratégia de busca
Nesta etapa foi definida a pergunta norteadora que orienta o tema do estudo, representando um momento crucial para a revisão. Ela estabelece quais estudos serão incluídos, além de determinar as estratégias para identificação e coleta de informações de cada estudo selecionado. Portanto, essa fase especifica quais pesquisas serão avaliadas e quais resultados serão analisados e mensurados (Souza, Silva e Carvalho, 2010; Sousa, 2010).
Para a elaboração da pergunta norteadora, foi aplicada a estratégia PICO, conforme descrita por Melnyk e Fineout-Overholt (2015) e apresentada no Quadro 1. Com base no contexto do estudo, o tema de pesquisa foi definido, resultando na seguinte questão norteadora: “Em pacientes com Síndrome de Down (P), quais são os benefícios do uso da placa palatina de memória (I) em relação à saúde oral e à função (O)?”.
Quadro 1 – Aplicação da estratégia PICO na formulação da pergunta norteadora
Fonte: Autoria própria (2024).
A estratégia de busca foi desenvolvida utilizando descritores e seus termos alternativos, incluindo “Down Syndrome” e “Trisomy 21,” “memory palatal plate” “Dentistry,” “Pediatric Dentistry,” e “Orthodontics” Esses termos foram combinados com operadores booleanos, como AND e OR, para otimizar a pesquisa nas bases de dados.
A busca foi estruturada da seguinte forma: ((Down Syndrome OR Trisomy 21) AND (memory palatal plate OR palatal plate) AND (Dentistry OR Pediatric Dentistry OR Orthodontics)).
4.2.2 Segunda Etapa: Definição dos critérios de inclusão e exclusão
Nesta etapa, foi realizada a busca nas bases de dados, de forma abrangente e diversificada. Isso envolve a consulta a bases eletrônicas, a busca manual em periódicos, o uso das referências citadas nos estudos selecionados, o eventual contato com pesquisadores e a utilização de material não publicado (Souza, Silva e Carvalho, 2010).
Para garantir a validade interna da revisão e permitir a generalização das conclusões de forma confiável e abrangente, é essencial definir critérios claros de amostragem. Esses critérios, delineados pela definição dos critérios de inclusão e exclusão dos estudos, devem estar alinhados com a pergunta norteadora e os resultados de interesse. Isso assegura que a seleção dos estudos seja conduzida de forma transparente e coerente, contribuindo para a robustez e a representatividade dos achados da revisão (Souza, Silva e Carvalho, 2010).
Para iniciar a pesquisa, foram estabelecidos os seguintes critérios de inclusão: estudos de casos clínicos, séries de casos e ensaios clínicos randomizados; artigos completos e redigidos em inglês, português ou espanhol. Os critérios de exclusão incluíram: artigos duplicados em diferentes bases de dados, textos que não abordavam aspectos relevantes ao escopo do estudo, artigos de revisão e resumos de congressos. Não houve restrições quanto ao período de publicação.
O quadro 2 apresenta o número de artigos encontrados em cada base de dados pesquisada, bem como os artigos selecionados após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão.
Quadro 2 – Síntese da Busca
Fonte: Autoria própria (2024).
4.2.3 Terceira Etapa: Identificação dos estudos pré-selecionados e selecionados
Esta etapa determina as informações extraídas dos estudos selecionados, além de definir a categorização desses dados. Para tanto, é crucial a utilização de um instrumento de coleta de dados, elaborado previamente, que garanta a extração integral dos dados pertinentes, reduza os riscos de erros na transcrição, assegure a precisão na conferência das informações e sirva como um registro formal (Souza, Silva e Carvalho, 2010; Sousa, 2017).
4.2.4 Quarta Etapa: categorização dos estudos selecionados
Foi aplicado um instrumento de coleta e análise dos dados encontrados nos estudos, visando à organização e obtenção das informações. As variáveis consideradas incluem o título do artigo, autor e ano de publicação, objetivo e metodologia, idade e sexo do paciente, além da forma e duração do uso da PPM, bem como os resultados observados após sua aplicação, apresentados nos quadros 3 e 4 (nos resultados). O Quadro 3 apresenta os estudos selecionados, organizados de acordo com a autoria e ano de publicação, título, tipo de estudo e base de dados em que estão indexados.
Quadro 3 – Categorização dos estudos selecionados
Fonte: Autoria própria (2024)
4.2.5 Quinta Etapa: Análise e Interpretação dos Resultados
Nesta etapa, realizou-se a discussão dos resultados por meio da interpretação e síntese dos principais achados, comparando-os com o referencial teórico. Isso permitiu identificar possíveis lacunas de conhecimento e delimitar prioridades para futuras investigações. Ademais, foi fundamental que o pesquisador assegurasse a legitimidade da revisão integrativa, destacando suas conclusões e inferências, bem como os possíveis vieses (Souza, Silva e Carvalho, 2010). Para tanto, os artigos foram caracterizados e submetidos à leitura integral.
4.2.6 Sexta Etapa: apresentação da síntese da revisão integrativa
Esta etapa final envolveu a redação do documento que detalhou todas as fases do estudo realizado, com o objetivo de permitir a replicação da pesquisa por outros estudiosos. A apresentação da revisão foi objetiva e clara, oferecendo ao leitor a capacidade de avaliar criticamente os resultados. Portanto, foi essencial que o documento incluísse informações detalhadas e pertinentes, todas baseadas em metodologias apropriadas ao contexto da pesquisa. Não se deve omitir nenhuma evidência que seja relevante para a compreensão integral do estudo (Souza, Silva e Carvalho, 2010). Na elaboração do documento, deu-se ênfase à transparência e à minuciosidade no relato dos procedimentos e resultados, assegurando, assim, a integridade e a confiabilidade das conclusões apresentadas.
4.2.7 Aspectos éticos
O estudo está em conformidade com as normas e diretrizes estabelecidas pela Lei nº 9.610 de 19 de fevereiro de 1998, que regula os direitos autorais e do autor, em consonância com a Lei nº 12.853, de 2013 a qual altera, acrescenta e revoga alguns artigos para dispor sobre a gestão coletiva de direitos autorais, e dá outras providências (BRASIL, 1998; BRASIL, 2013).
5. RESULTADOS
O Quadro 4 apresenta os estudos selecionados, organizados de acordo com a autoria e ano de publicação, objetivos/metodologia e resultados. Dos 8 artigos selecionados, 4 são ensaios clínicos randomizados (sendo um deles a continuação de outro, para avaliar a PPM e a fonoterapia), 3 são séries de casos e 1 é um caso clínico.
Quadro 4 – Artigos selecionados no estudo
Autor/ano | Objetivos e metodologia | Resultados |
Almeida et al., 2022. | Este estudo teve como objetivo apresentar os casos de quatro crianças com Trissomia 21, do sexo masculino, com média de idade de 6,7 meses, que utilizaram a placa palatina de memória associada à terapia miofuncional por 6 meses. A análise dos vídeos foi realizada por dois pesquisadores, e a concordância entre eles foi verificada por meio do coeficiente de correlação de Spearman (Rho). Os dados dos participantes foram analisados qualitativamente. | Os principais resultados mostraram melhorias na postura habitual da língua, que passou a ficar mais retraída na cavidade oral, além de melhora no selamento labial. Essas mudanças foram associadas ao uso da placa palatina de memória em conjunto com a terapia miofuncional orofacial. Contudo, o estudo reconhece limitações, como o número reduzido de participantes e o fato de as avaliações terem sido subjetivas, sem métodos objetivos ou padronizados. Além disso, a pandemia de COVID-19 interrompeu o acompanhamento regular dos pacientes, resultando na descontinuação do uso da placa. O estudo recomenda mais pesquisas com maior número de participantes e avaliações mais rigorosas para verificar os benefícios em longo prazo. |
Nascimento et al., 2024. | O artigo tem como objetivo avaliar o impacto da placa palatina modificada na função motora oral de crianças com Trissomia 21 (T21), com idades entre 3 e 4 anos. A metodologia envolveu questionários para avaliar a percepção dos cuidadores sobre a posição da língua e a selagem labial antes e após o tratamento, além de gravações em vídeo para documentar as posturas labiais e lingual. O uso da placa foi orientado para ocorrer quatro vezes ao dia, por 30 minutos, com acompanhamento mensal. | Os resultados do estudo mostraram uma melhora significativa na função motora oral das duas crianças, especialmente na postura da língua e no selamento labial. Isso foi observado tanto nas avaliações clínicas quanto nos relatos dos pais. Após seis meses de uso da placa palatina, as crianças apresentaram melhorias notáveis na manutenção da língua dentro da boca e no fechamento labial, indicando a eficácia da PMP no tratamento dessas questões orofaciais em crianças com mais de dois anos de idade. O estudo acrescenta à literatura limitada a crianças mais velhas com trissomia 21. |
Carneiro; et al., 2024. | O objetivo do estudo foi investigar os efeitos do uso de uma placa palatina no desenvolvimento orofacial de uma criança com síndrome de Down, focando na melhora da função oral, postura da língua e outros aspectos bucais. A metodologia envolveu o acompanhamento de um único caso, com a criança utilizando a placa palatina para melhorar a função orofacial. O progresso foi monitorado por observações clínicas e registros fotográficos, avaliando a postura da língua, função oral e selagem labial antes e após o tratamento, ao longo de um período determinado. | O estudo mostrou que o uso da placa palatina de memória, baseado no método de Castillo Morales, ajudou a melhorar funções orofaciais importantes, como o fechamento labial e a posição correta da língua, abordando problemas comuns, como hipotonia muscular e protrusão da língua. Ao final do tratamento, a criança apresentou um desenvolvimento oral mais harmonioso e funcional. A intervenção precoce com a placa palatina foi considerada um complemento valioso no plano de cuidados multidisciplinar para pacientes com síndrome de Down. |
Ferreira et al., 2024. | O objetivo do artigo é investigar os efeitos da terapia miofuncional orofacial combinada com o uso de uma placa palatina estimulante em crianças com Trissomia 21, focando no desenvolvimento motor oral e nas funções orais dessas crianças. A metodologia envolveu a apresentação de casos clínicos de crianças que receberam a terapia miofuncional e utilizaram a placa estimulante. Os resultados foram avaliados em termos de melhorias nas funções orais e na motricidade oral. | Os resultados mostraram uma melhora significativa na tonicidade labial e lingual, postura da língua e lábios após o uso da placa palatina estimulante e terapia miofuncional. A pesquisa destaca que a abordagem terapêutica beneficiou a alimentação e a função motora oral das crianças. |
Carlstedt, et al., 2007. | O objetivo do estudo foi avaliar os efeitos da terapia com placas palatinas na função motora oral de crianças com síndrome de Down, com foco no impacto dessa terapia na articulação e nas preferências de comunicação ao longo do tempo. A metodologia incluiu a participação de crianças com síndrome de Down submetidas à terapia com placas palatinas, com monitoramento contínuo da função motora oral e articulação. Foram utilizadas gravações de vídeo para documentar as melhorias na função muscular orofacial, além de análises quantitativas e qualitativas dos dados coletados para avaliar as mudanças nas habilidades orais e comunicativas. | Os resultados mostraram que, após 12 meses de tratamento, as crianças que usaram a placa palatina apresentaram um aumento significativo no tempo em que mantinham a boca fechada (p<0.001) e uma diminuição no tempo de protusão inativa da língua (p<0.001) em comparação ao grupo controle. Essas melhorias foram mais evidentes no primeiro ano de terapia, mas ao final dos quatro anos, não houve diferenças significativas entre os grupos em relação a essas variáveis, embora as tendências de tempo de boca fechada e produção inativa da língua ainda mostrassem vantagens para o grupo que utilizou a placa. |
Carlstedt, et al.,2003. | O objetivo do artigo foi investigar os efeitos da terapia com placas palatinas na função motora oral, articulação e preferências comunicativas em crianças com síndrome de Down ao longo de quatro anos. O estudo comparou os resultados de um grupo tratado com placas palatinas com um grupo controle, visando identificar melhorias na postura da língua, atividade labial e desenvolvimento da comunicação oral. A metodologia incluiu um acompanhamento longitudinal de quatro anos, com dois grupos de crianças com síndrome de Down: um grupo submetido à terapia com placas palatinas e outro grupo controle. Os efeitos da terapia foram avaliados periodicamente, por meio de testes padronizados e observações clínicas, focando nas melhorias das funções orais e nas habilidades de comunicação. | Os resultados mostraram melhorias significativas na função motora oral, incluindo fechamento labial, posição da língua e aumento da comunicação. As crianças tratadas apresentaram uma melhor capacidade de manter os lábios fechados e uma posição mais elevada da língua durante a fala. A terapia também demonstrou ajudar na articulação e nas preferências de comunicação das crianças. O acompanhamento foi realizado por meio de exames clínicos e registros em vídeo, com questionários para os pais. |
Carlstedt et al., 1996. | O objetivo do estudo foi avaliar o impacto da terapia com placas palatinas na função muscular orofacial de crianças com síndrome de Down. O estudo comparou um grupo de tratamento com um grupo controle, observando mudanças em variáveis como tempo de boca fechada e protrusão inativa da língua, para determinar a eficácia dessa terapia no aprimoramento da função oral. A metodologia envolveu 29 crianças com síndrome de Down, com uma média de 24 meses de idade, divididas em dois grupos: um grupo de tratamento e um grupo controle. A função muscular orofacial foi monitorada por meio de gravações de vídeo, observando variáveis como “boca fechada”, “língua visível” e “protrusão inativa da língua”. Após 12 meses de terapia, os dados foram comparados entre os grupos para avaliar os efeitos da terapia com placas palatinas. | Os resultados indicaram que, após 12 meses de terapia, o tempo médio em que as crianças mantinham a boca fechada foi significativamente maior no grupo que usou a placa palatina em comparação ao grupo controle. Além disso, a protrusão inativa da língua foi significativamente menor no grupo tratado, sugerindo que a terapia com placa palatina pode ser um complemento eficaz para melhorar a função muscular orofacial em crianças com síndrome de Down. |
Carlstedt et al., 2001. | O estudo teve como objetivo avaliar a função motora oral após 4 anos de terapia com placa palatina em crianças com Síndrome de Down. Participaram 9 crianças no grupo de teste, que receberam a terapia, e 11 crianças no grupo controle, que não receberam a terapia, mas tiveram fisioterapia orofacial. A metodologia incluiu exames extraorais e gravações em vídeo para analisar a face e a função orofacial, avaliando nove variáveis, como as posições dos lábios, língua e expressões faciais, a fim de monitorar as mudanças na função motora oral ao longo do tempo. | Os resultados mostraram que as crianças que utilizaram as placas palatinas apresentaram uma maior tendência a manter os lábios arredondados durante a fala e um aumento significativo na tensão muscular ativa, alcançando 81% do tempo registrado em comparação com 68% no grupo controle. Além disso, foram observadas diferenças estatisticamente significativas entre os grupos em relação à posição de boca aberta e protrusão da língua, indicando que a terapia teve um efeito positivo e duradouro sobre a função motora oral das crianças que a utilizaram. |
Fonte: Autoria própria (2024).
Os estudos selecionados cobrem um período que vai de 1996 a 2024, com a maioria das publicações (8 estudos) ocorrendo após 2000, destacando a continuidade da pesquisa sobre o uso da PPM para crianças com Síndrome de Down.
O quadro 5 apresenta um resumo sobre a idade média de início do uso da PPM, o intervalo médio de uso, a quantidade de amostra por estudo e o gênero dos participantes de cada estudo.
Quadro 5 – Síntese quanto a amostra, início e tempo de uso da PPM
Autor/ano | Sexo feminino | Sexo masculino | Idade média de início (meses) | Intervalo de uso médio (meses) | Amostra (n) |
Almeida et al., 2022 | 0 | 3 | 6,17 | 17 | 3 |
Nascimento et al., 2024 | 0 | 2 | 36-48 | 6 | 2 |
Carneiro et al., 2024 | 1 | 0 | 3 meses | 6 | 1 |
Ferreira et al., 2024 | 0 | 4 | 6.7 (± 7.8 meses) | 6 | 4 |
Caristedt et al., 2007 | – | – | 24 | 12 | 29 |
Caristedt et al., 2003 | – | – | 24 | 12 | 29 |
Caristedt et al., 1996 | 3 | 6 | 21-33 | 49-58 | 9 |
Caristedt et al., 2001 | – | – | – | 48 | 9 |
Fonte: Autoria própria (2024).
Dos 8 artigos analisados, 3 não especificaram o sexo dos participantes. Entre os 86 pacientes no total, 4 eram do sexo feminino (4,65%) e 15 do sexo masculino (17,44%). A maior parte dos casos, 67 pacientes (77,91%), teve o sexo não especificado (Gráfico 1).
Gráfico 1 – Gênero dos pacientes dos estudos analisados
Fonte: Autoria própria (2024).
As idades médias de início do uso da PPM nos estudos apresentaram grande variação (Quadro 5). No entanto, entre todos os pacientes com idade relatada, o mais jovem tinha 1,5 meses e o mais velho, 48 meses.
O intervalo médio de uso entre os artigos é de aproximadamente 20,06 meses, sendo o menor intervalo médio de 6 meses e o maior de aproximadamente 4 anos (Quadro 5).
6. DISCUSSÃO
Os resultados analisados a partir dos estudos demonstram a efetividade da PPM no tratamento de disfunções orofaciais em crianças com Síndrome de Down, particularmente em relação à melhora da postura lingual e do selamento labial. De forma consistente, os estudos relataram que o uso da PPM promoveu avanços importantes nas funções orais, como a manutenção da língua dentro da cavidade bucal e a redução de hábitos deletérios, como a protrusão lingual, resultados corroborados por autores como Carlstedt et al. (1996), Carlstedt et al. (2007) e Almeida (2022).
A presença de características craniofaciais específicas em crianças com Síndrome de Down, como macroglossia relativa, hipotonia muscular e palato elevado, impacta diretamente o desenvolvimento de funções fundamentais, como fala, deglutição e respiração. Nesse contexto, a PPM atua de forma a reconfigurar gradualmente a cavidade oral, promovendo ajustes estruturais que facilitam a adequação da postura lingual. Um ponto marcante é a eficácia da PPM em melhorar a postura habitual da língua e o fechamento labial, conforme destacado por Almeida (2022), Nascimento et al. (2024) e Ferreira et al. (2024). Essas alterações são fundamentais para prevenir complicações orofaciais, como má oclusão, problemas respiratórios e dificuldades alimentares, que frequentemente impactam a qualidade de vida dessas crianças. Além disso, os benefícios relatados vão além do campo funcional, incluindo melhorias na alimentação, na fala e no comportamento comunicativo, como observado por Carlstedt et al. (2003) e Carlstedt et al. (2007).
Observou-se, nos estudos analisados, que a intervenção com a placa, associada à terapia miofuncional, contribui significativamente para o fortalecimento dos músculos orofaciais, favorecendo melhorias na coordenação motora e na posição da língua, como evidenciado por Almeida (2022). Esses achados reforçam a importância de intervenções que atuem diretamente na estrutura orofacial para otimizar as funções de fala e deglutição em crianças com Síndrome de Down.
Em relação ao tempo de uso, os estudos variaram desde intervenções mais curtas, como seis meses (Almeida, 2022; Nascimento et al., 2024), até terapias prolongadas por até quatro anos (Carlstedt, 2001; Carlstedt, 2003). De maneira geral, os benefícios foram mais evidentes nos primeiros meses de tratamento, como observado por Carlstedt, (2007), onde o maior impacto na postura lingual e no tempo de boca fechada foi registrado durante o primeiro ano de uso. Contudo, a manutenção dos resultados a longo prazo mostrou-se um desafio, com algumas variáveis retornando aos valores iniciais após a descontinuação do tratamento. Isso aponta para a necessidade de continuidade da terapia e acompanhamento regular, além de estratégias para garantir a manutenção dos benefícios a longo prazo.
Os benefícios do uso da PPM foram amplamente relatados e incluem não apenas melhorias funcionais, como a postura da língua e o fechamento labial (Nascimento et al., 2024; Ferreira et al., 2024), mas também impactos positivos na comunicação e na articulação da fala (Carlstedt et al., 2003; Carlstedt et al., 2007). A associação com a terapia miofuncional orofacial foi destacada em diversos estudos (Almeida, 2022; Ferreira et al., 2024) como um fator potencializador, sugerindo que intervenções multidisciplinares podem otimizar os resultados, e é essencial que os profissionais integrem essas abordagens para otimizar o tratamento.
Apesar dos avanços relatados, algumas limitações devem ser consideradas. Os estudos frequentemente apontaram tamanhos amostrais reduzidos e a ausência de métodos padronizados de avaliação, o que dificulta a generalização dos resultados. Além disso, o uso irregular da PPM devido a fatores como interrupções causadas pela pandemia, como relatado por Almeida et al., 2022, e dificuldades de adesão familiar reforçam a necessidade de estratégias que promovam o engajamento dos cuidadores no tratamento, garantindo maior consistência no uso da placa.
De maneira geral, os resultados evidenciam que a PPM é uma intervenção promissora no manejo das disfunções orais em pacientes com Síndrome de Down, sendo mais eficaz quando aplicada precocemente, por períodos adequados e em combinação com outras abordagens terapêuticas. Estudos futuros com amostras maiores e avaliações padronizadas são recomendados para confirmar a durabilidade dos benefícios e estabelecer protocolos clínicos robustos.
A literatura reforça a importância de intervenções precoces. Crianças tratadas em idades mais jovens parecem responder de forma mais efetiva, como relatado por Carlstedt et al. (1996), que avaliou a eficácia da terapia em crianças com média de 24 meses de idade. A maior plasticidade neuromuscular nesse período pode explicar os resultados mais expressivos. Por outro lado, estudos envolvendo crianças mais velhas, como o de Nascimento et al. (2024), sugerem que o uso da PPM pode trazer benefícios, mesmo em idades mais avançadas, embora os efeitos possam ser menos evidentes a longo prazo.
Outro aspecto relevante é a interação da PPM com terapias complementares. Ferreira et al. (2024) destacam que a combinação da PPM com terapia miofuncional orofacial potencializa os resultados, indicando que abordagens integradas e interdisciplinares podem ser mais eficazes. Este achado reforça a necessidade de um cuidado multidisciplinar para atender às demandas complexas associadas à Síndrome de Down.
Portanto, a PPM demonstra ser uma ferramenta valiosa no manejo das disfunções orofaciais em crianças com Síndrome de Down, especialmente quando utilizada em conjunto com outras terapias. Entretanto, para que seu impacto seja mais bem compreendido, esforços devem ser direcionados para estudos futuros mais abrangentes e rigorosos.
Por fim, é essencial destacar a necessidade de mais pesquisas de longo prazo, com amostras maiores e métodos de avaliação mais padronizados. Embora os resultados sejam promissores, a variabilidade metodológica e o pequeno número de participantes nos estudos limitam a extrapolação das conclusões. Estudos longitudinais, como os conduzidos por Carlstedt et al., (2001 e 2007), fornecem insights valiosos sobre os efeitos duradouros da PPM, mas ainda são necessários mais dados para consolidar a eficácia dessa abordagem terapêutica.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O uso da placa palatina de memória (PPM) em crianças com síndrome de Down, especialmente quando combinado com a terapia miofuncional, demonstrou ser uma abordagem promissora. Essa intervenção favorece o desenvolvimento de habilidades orais-motoras essenciais, como a fala, deglutição e respiração, ao estimular a coordenação e o fortalecimento dos músculos do palato e da língua.
Os resultados indicam que a PPM pode ajudar a posicionar adequadamente a língua e a melhorar a funcionalidade da cavidade oral, o que pode reduzir o risco de problemas futuros, como alterações dentárias, dificuldades respiratórias e deglutição. No entanto, é importante ressaltar que, apesar dos resultados promissores, a utilização dessa intervenção ainda necessita de mais estudos com amostras maiores e acompanhamento a longo prazo para confirmar sua eficácia e segurança.
Ademais, a adesão ao tratamento representa um desafio significativo. O uso contínuo da PPM exige não apenas a cooperação da criança, mas também o engajamento ativo dos cuidadores, que desempenham um papel crucial no sucesso da intervenção. Estratégias para melhorar a aceitação e adesão à terapia, levando em consideração as particularidades comportamentais e sensoriais dessas crianças, são essenciais para garantir a eficácia do tratamento.
Portanto, recomenda-se que futuras pesquisas explorem diferentes protocolos e analisem os efeitos dessa intervenção não apenas nas funções orofaciais, mas também em aspectos gerais do desenvolvimento e na qualidade de vida das crianças com síndrome de Down.
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1Cirurgião Dentista – INTA/UNINTA
E-mail: iwry.bandeira.2000@gmail.com
lattes: http://lattes.cnpq.br/3401642615492816
https://orcid.org/0009-0004-9693-9828
2Acadêmico de Odontologia Graduando – Especialização de Saúde Pública e Saúde da Família UNITEC – NINTA
E-mail: juandcc2015@gmail.com
https://orcid.org/0009-0004-0603-3388
https://wwws.cnpq.br/cvlattesweb/PKG_MENU.menu?f_cod=2191E6E5CCBAFEF3A40259EB1C5477D0#
3Formação Acadêmica: Odontologia (ensino superior incompleto)
Instituição de Ensino: Centro universitário UNINTA
E-mail: luizaximenesfrota@gmail.com
ORCID/ https://orcid.org/0009-0008-3326-8800
Lattes: http://lattes.cnpq.br/6699790413332774
4Formação acadêmica: Acadêmica de odontologia
Instituição de ensino: UNINTA
E-mail: Mariaterezariooos@outlook.com
https://orcid.org/0009-0000-8936-8589
5Cirurgião- dentista – Uninta
E-mail: neomarsouza25@gmail.com
https://orcid.org/0009-0009-7299-8889 https://lattes.cnpq.br/9157332713918618
6Formação Acadêmica: Cirurgiã- Dentista
Instituição de Ensino: Centro Universitário Fametro
Lattes: nayrabritoqueiroz@gmail.com
7Formação acadêmica: Mestre em biotecnologia – PPGB UFC Campus Sobral
E-mail: alcineidedias@alu.ufc.br
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7706-4414
Lattes: http://lattes.cnpq.br/4561548883705758