OS BENEFÍCIOS DO CLAMPEAMENTO TARDIO DE CORDÃO UMBILICAL NO RECÉM-NASCIDO: UM ESTUDO REFLEXIVO

THE BENEFITS OF DELAYED CLAMPING OF THE UMBILICAL CORD IN THE NEWBORN: A REFLECTIVE STUDY

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8323038


Melina Even Silva da Costa1; Carolina Pereira Moreno2; Leticia Olivatto de Almeida3; Mell Macedo Cohen4; María Clara Ribeiro Ogura5; Raissa Caetano Façanha Mendes6; Sarah França Ferreira Cruz7; Renato Fernandes Pereira8;Daiana Tolota da Silva9; Marcela Luciana Ricardo de Oliveira10; Lincoln de Lima Carvalho11; Clhyvyam Stefany Cândido Paulino12; Carla Karoline de Jesus Oliveira13; Yasmin Castilho Matsumoto14; Laura Botta Tonissi15; Caroline Ruas Gonçalves16; Kleyton Pereira de Lima17.


RESUMO

Introdução: O clampeamento do cordão umbilical é um procedimento simples, o qual traz inúmeros benefícios e não ocasiona riscos para o binômio mãe-filho. No entanto, o clampeamento pode ser realizado de forma imediata, o qual deve ser feito até os primeiros 60 segundos após o nascimento ou de forma tardia, após o primeiro minuto de vida do recém- nascido, a depender das suas condições apresentadas ao nascer. Objetivo: identificar sobre os benefícios do clampeamento do cordão umbilical para os recém-nascidos. Método: Trata-se de um estudo descritivo de cunho reflexivo, construído por base de uma revisão de literatura, elaborada a partir da busca de publicações presentes nas bases de dados MEDLINE e LILACS, indexadas na Biblioteca Virtual em Saúde. A busca de documentos em formato eletrônico ocorreu no período de março de 2023. As palavras-chave utilizadas foram clampeamento de cordão umbilical, recém-nascido e enfermagem obstétrica. Identificaram-se 180 estudos. Em seguida para seleção e análise dos estudos que compuseram a amostra final contou-se como critério de inclusão estudos que versassem apenas sobre os benefícios do clampeamento de cordão umbilical para os recém-nascidos. Resultados e Discussão: Foram selecionados 12 artigos, para uma melhor análise foi construído um quadro sinóptico com os trabalhos encontrados. Os resultados dos estudos demonstraram que a espera da secção tardia do cordão umbilical comparado à prática do clampeamento imediato fornece uma melhora nos resultados neonatais, uma vez que a secção tardia aumenta os níveis de transfusão placentária para o recém-nascido, provocando a elevação dos níveis de hemoglobina neonatal, possibilitando assim um maior fluxo de hemácias para os órgãos vitais e a estocagem de ferro, reduzindo o risco de anemia ferropriva na infância. Conclusão: A secção tardia do cordão umbilical acarreta benefícios ao recém-nascido, contudo, ressalta-se a necessidade da adoção dessa prática pelos profissionais de saúde durante o processo de parto.

Palavras- chave: Clampeamento; Cordão umbilical; Enfermagem obstétrica

ABSTRACT

Introduction: Umbilical cord clamping is a simple procedure that brings many benefits and does not pose risks to the mother-child binomial. However, clamping can be done immediately, which should be done within the first 60 seconds after birth, or later, after the newborn’s first minute of life, depending on its conditions at birth. Objective: to identify the benefits of umbilical cord clamping for newborns. Method: This is a descriptive, reflective study, built from a literature review, from the search for publications present in the MEDLINE and LILACS databases, indexed in the Virtual Health Library. The search for documents in electronic format took place in March 2023. The keywords used were umbilical cord clamping, newborn and obstetric nursing. 180 studies were identified. Then, for the selection and analysis of studies that, with the placement of the final sample, there was the conclusion of studies that dealt only with the benefits of clamping the umbilical cord for newborns. Results and Discussion: 12 articles were selected, for a better analysis a synoptic table was built with the works found. The results of the studies showed that waiting for the late interruption of the umbilical cord compared to the practice of immediate clamping provided an improvement in neonatal outcomes, as the late interruption increases the levels of placental transfusion for the newborn, in line with the levels of neonatal hemoglobin, thus allowing a greater flow of red blood cells to the crying organs and the storage of iron, avoiding the risk of iron deficiency anemia in childhood. Conclusion: Delayed sectioning of the umbilical cord brings benefits to the newborn, however, the need for this practice to be adopted by health professionals during the delivery process is highlighted.

Keywords: Clamping; The umbilical cord; obstetric nursing

INTRODUÇÃO

A deficiência de ferro e a anemia constituem a carência nutricional mais severa e frequente no mundo. Além de afetar um número elevado de crianças e mulheres em países em desenvolvimento, é a única carência que também atinge estes grupos populacionais em países desenvolvidos. Depois das gestantes, as crianças menores de dois anos são as mais atingidas (VAIN, 2015).

No Brasil, estima-se que aproximadamente 5 milhões de crianças menores de quatro anos sofram de anemia. Na década de 90 cinco inquéritos de base populacional foram realizados em centros urbanos das regiões Nordeste, Sudeste e Sul do país e revelaram altas prevalências de anemia em crianças menores de cinco anos (CERIANI, 2007).

A Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza a realização do clampeamento do cordão umbilical após a cessação total da pulsação, entre um e três minutos após o nascimento, definido como clampeamento oportuno ou tardio. Quando ocorre antes desse período, o clampeamento é definido como precoce/imediato (OPS, 2013).

Dentro deste contexto, segundo o Ministério da Saúde (2007), há três práticas simples que devem ser realizadas logo após o nascimento em recém-nascido saudáveis que irá oferecer um grande benefício para a mãe e para o recém-nascido: a primeira é o contato pele a pele da mãe com o recém-nascido; a segunda é realizada o aleitamento materno e a terceira prática o clampeamento tardio do cordão. Diante disso, o trabalho tem como objetivo, identificar sobre os benefícios do clampeamento do cordão umbilical para os recém-nascidos.

MÉTODO

Trata-se de um estudo descritivo de cunho reflexivo, fundamentado nas evidências científicas publicadas nas bases de dados MEDLINE e LILACS, indexadas na Biblioteca Virtual em Saúde, cuja busca ocorreu no período de março de 2023 por meio da estratégia de busca. As palavras-chave utilizadas foram clampeamento de cordão umbilical, recém-nascido e enfermagem obstétrica. Identificaram-se 180 estudos. Em seguida para seleção e análise dos estudos que compuseram a amostra final contou-se como critério de inclusão estudos que versassem apenas sobre os benefícios do clampeamento de cordão umbilical para os recém-nascidos. Foram selecionados 12 artigos, para uma melhor análise foi construído um quadro sinóptico com os trabalhos encontrados. Após a análise dos artigos e documentos selecionados, estabeleceu-se uma reflexão centrada em dois temas centrais: Os benefícios do clapeamento tardio de cordão para o recém-nascido e as lacunas na produção de conhecimento em estudos nacionais e a falta de consenso clínico.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os benefícios do clapeamento tardio de cordão para o recém-nascido

Dentre os benefícios do clampeamento tardio/oportuno do cordão umbilical para o recém-nascido a termo, pode-se mencionar um acréscimo de 80 ml de sangue da placenta, quando o clampeamento ocorre 60 segundos após o nascimento, aumentando para 100 ml quando há espera de até três minutos para realizar a prática. Ainda, fornece um aporte de ferro no valor de 40 a 50 mg/kg, fato que contribui para a diminuição da deficiência de ferro no primeiro ano de vida (OLIVEIRA et al., 2014).

Além disso, destacam-se maiores taxas de aleitamento materno exclusivo ou predominante após a alta hospitalar e auxílio na manutenção da temperatura corporal e melhores resultados neurológicos são observados em recém-nascidos a termo desde o nascimento até os 4 anos de idade. Apesar dos benefícios evidenciados, ainda se identificam taxas elevadas de clampeamento precoce/imediato, caracterizando protocolo assistencial desatualizado (MÜLLER; ZAMPIERI, 2014).

A deficiência de ferro em crianças causa a anemia e pode provocar diminuição da capacidade cognitiva, distúrbios comportamentais, falta de memória, baixa concentração mental, déficit de crescimento, diminuição da força muscular e da atividade física, além de maior suscetibilidade a doenças infecciosas. Embora vários fatores possam levar à anemia, admite-se que a causa principal, responsável pelas elevadas prevalências da enfermidade na infância, seja uma dieta com pouca quantidade de ferro ou com ferro de baixa biodisponibilidade (OLIVEIRA et al., 2014).

Além da dieta, a deficiência materna do mineral, durante a gestação, pode acarretar redução do estoque de ferro do recém-nascido, uma vez que não há transferência adequada através da placenta, predispondo a criança à anemia. Outros fatores potencialmente de risco para a deficiência de ferro, apontados na literatura, são o baixo peso ao nascer e o sexo masculino. Revisões sistemática, apontam evidências de que o clampeamento tardio comparado ao clampeamento imediato está associado com maior concentração de hemoglobina e menor incidência de anemia aos quatro meses de vida e estoques mais elevados de ferro aos seis meses (CHAPARRO; LUTTER, 2007).

As lacunas na produção de conhecimento em estudos nacionais e a falta de consenso clínico.

O clampeamento do cordão umbilical é um dos cuidados ao recém-nascido que vem passando por um processo de transição sobre o momento oportuno para sua realização, uma vez que pode afetar a qualidade do cuidado ofertado. Pela falta de consenso nas recomendações ao longo dos anos e em função de o clampeamento precoce/imediato anteriormente fazer parte do manejo ativo do terceiro período do parto. Ainda, são obstáculos na necessidade de otimização do tempo nos cuidados ao recém-nascido e a existência de hipóteses de que o clampeamento tardio/oportuno poderia resultar em efeitos negativos para os recém-nascidos, como policitemia e icterícia neonatal (WOH, 2018).

Dessa forma, os profissionais de saúde seguem executando rotineiramente o clampeamento precoce/imediato. Destaca-se a relevância desta pesquisa ao identificar lacunas na produção de conhecimento em estudos nacionais, a falta de consenso clínico quanto ao tempo adequado da realização do clampeamento do cordão umbilical, e por se tratar de uma prática essencial na assistência integral ao recém-nascido, com importantes resultados quando realizada no tempo oportuno (MERCER et al., 2017).

A partir de outra ótica relacionada ao clampeamento do cordão umbilical, aspectos negativos foram elencados para compor esta categoria. Nesse sentido, há um aumento no valor de bilirrubina significativo entre as primeiras 72 horas de vida, havendo necessidade de fototerapia para o seu tratamento. Entretanto, autores verificaram que o clampeamento tardio do cordão não demonstrou prevenir a deficiência de ferro ou anemia após os 6 meses de idade (DARMSTADT et al., 2005).

CONCLUSÃO

O clapeamento tardio de cordão umbilical tem divergências entra autores e profissionais da saúde, entretanto foi observado também vários estudos concisos a favor do clampeamento tardio que pode proporcionar um aumento da taxa de hemoglobina, uma maior reserva de ferro e hematócrito, diminuindo assim a anemia nos neonatos, reduzindo as necessidades de transfusões de sangue. 

Esta prática pode proporcionar também uma possível transfusão autóloga de células-tronco trazendo inúmeros benefícios para o neonato no desenvolvimento, sendo uma técnica de baixo custo, forma de benefícios imediatos e a longo prazo, proporcionando uma melhor qualidade de vida tanto para a mãe como para o recém-nascido.

REFERÊNCIAS

CHAPARRO, C. M; LUTTER, C. Além da sobrevivência: Práticas integradas de atenção ao parto, benéficas para a nutrição e a saúde de mães e crianças. Organização Pan-Americana da Saúde: Washington D.C., 2007

CERIANI, C. J. M. Além da sobrevivência: Práticas integradas de atenção ao parto, benéficas para a nutrição e a saúde de mães e crianças. Organização Pan-Americana da Saúde: Washington D.C. Archivos argentinos de pediatría, v. 115, n. 2 p. 188-94, 2007.

DARMSTADT, G. L. et al. Evidencebased, cost-effective interventions: how many newborn babies can we save? The Lancet. 2005.

OLIVEIRA, F. C. C. et al. Tempo de clampeamento e fatores associados à reserva de ferro de neonatos a termo. Revista de Saúde Pública, [s.l.], v. 48, n. 1, p.10-18. 2014. 

OPS. Organização Pan-Americana da Saúde. Além da Sobrevivência: Práticas integradas de atenção ao parto, benéficas para a nutrição e a saúde de mães e crianças. Brasilia. 2013.

WHO. WORLD HEALTH ORGANIZATION. recommendations: intrapartum care for a positive childbirth experience. Geneva: World Health Organization; 2018.

MERCER, J. S. et al. Effects of delayed cord clamping on residual placental blood volume, hemoglobin and bilirubin levels in term infants: a randomized controlled trial. Journal of Perinatology. v.37, n. 3, p. 260- 4.2017

MÜLLER, E.B; ZAMPIERI, M.M. Divergências em relação aos cuidados com o recém-nascido no centro obstétrico. Escola Anna Nery Revista de Enfermagem. 2014. v.18, n.2, p. 247-256. 2014

VAIN, N. E. Em tempo: como e quando deve ser feito o clampeamento do cordão umbilical. Revista Paulista de Pediatria, v. 33, n. 3, p.258-259, 2015


 1Enfermeira formada pela Universidade Regional do Cariri-URCA. Juazeiro do Norte-CE;
2Graduanda em Medicina pela Fundación Héctor Alejandro Barcelo. Argentina;
3Graduanda em Medicina pela Uninove Bauru. Bauru- SP;
4Graduanda em Medicina pela Universidade Nilton Lins. Manaus- AM; 
5Graduanda em Medicina pela Universidad Maria Auxiliadora. Mariano Roque Alonzo/ Paraguay;
6Graduanda em Medicina pela FAMETRO.Manaus- AM;
7Graduanda em Medicina pela Universidade Nilton Lins. Manaus- AM;
8Graduando de Medicina pela Afya Faculdade de Ciências Médicas Garanhuns. Garanhuns/PE;
9Graduanda em Medicina pela Unigranrio. Rio de Janeiro- RJ;
10Graduanda em Medicina pela UNIMAR. Marília- SP;
11Graduando de Medicina pela Afya Faculdade de Ciências Médicas Garanhuns. Garanhuns/PE;
12Graduando de Medicina pela Universidade do grande Rio. Rio de Janeiro- RJ;
13Graduanda em Medicina pela Faculdade Estácio de Alagoinhas. Alagoinhas- BA;
14Graduanda em Medicina pela INIPAR. Umuarama-PR;
15Graduanda em Medicina pela UNIC. Cuiabá- MG;
16Médica formada pelo Centro Universitário UNIFIPMoc. Montes Claros – MG;
17Enfermeiro formado pela Universidade Regional do Cariri-URCA. Caririaçu-CE