OS ACIDENTES COM PERFUROCORTANTES NO TRABALHO DE ENFERMAGEM HOSPITALAR

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10560994


Jeniffer Anastácio do Amaral;
Lumá Fernandes Sabará;
Maria Terezinha Silva Neta


RESUMO

Os profissionais de enfermagem são o grupo ocupacional mais numeroso da área de saúde, sendo que no Brasil representam aproximadamente 70% dos profissionais de saúde. O presente trabalho teve como objetivo identificar os aspectos que se relacionam aos acidentes com perfurocortantes no Brasil, considerando as variáveis que se relacionam ao perfil dos profissionais e os dados quanti-qualitativos inerentes a estas ocorrências. Quanto aos acidentes de trabalho no setor de enfermagem, indica-se que entre os anos de 2012 e 2021 ocorreram, apenas entre as atividades de atendimento hospitalar, 547.934 eventos, sendo este o setor com maior número de ocorrências. Considerando a série histórica entre os anos de 2012 e 2022, a categoria dos técnicos de enfermagem foi a que mais sofreu acidentes de trabalho com CAT registrada no Brasil, respondendo por 6% das ocorrências. Os auxiliares de enfermagem representaram 83.845 acidentes, e os enfermeiros foram vítimas em 70.902 ocorrências. De modo geral, os acidentes com perfurocortantes no trabalho de enfermagem hospitalar são mais frequentes entre os técnicos de enfermagem, que representam a categoria com maior número de profissionais em atividade. Os acidentes ocorrem principalmente no ambiente hospitalar, e são mais comuns entre as mulheres, com idade entre 26 e 50 anos. Os trabalhadores da saúde estão mais expostos aos riscos de acidentes com materiais perfurocortantes e, além das lesões diretas, esses acidentes também podem causar a transmissão de doenças infecciosas. Os acidentes com perfurocortantes podem ser causados por uma combinação de fatores, incluindo falta de experiência, falta de concentração, pressa, excesso de tarefas, emergências, não uso de equipamentos de proteção individual (EPIs), redução da equipe e estresse.

Palavras-chave: Perfurocortantes. Acidentes de Trabalho. Enfermagem.

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como tema os acidentes com perfurocortantes no trabalho de enfermagem em ambiente hospitalar. Entre os profissionais que integram o setor da saúde e que se incorporam as elevadas estatísticas situam-se os componentes das equipes de enfermagem. 

Prioritariamente, os estudos que se relacionam à saúde ocupacional no campo da enfermagem são voltados à realidade dos hospitais, diante da gravidade dos problemas ocorridos nesses estabelecimentos, dada a exposição aos riscos e à variedade das cargas. Verifica-se que nos hospitais as ações preventivas são geralmente normativas e pontuais, não atuando no sentido da conscientização dos trabalhadores (Felli; Baptista; Karino, 2015).

Nesse sentido, evidenciam-se os riscos que se relacionam aos acidentes com perfurocortantes. Os trabalhadores da enfermagem estão mais propensos a se ferir com materiais perfurocortantes do que outras categorias de trabalhadores. Isso ocorre devido à sua rotina de trabalho cansativa, da manipulação frequente desses materiais e da falta de uso de EPIs. Além das lesões físicas, esses acidentes também podem transmitir doenças infecciosas (Silva et al., 2010, Cofen, 2017, Freitas et al., 2020). 

Considerando os acidentes de trabalho com perfurocortantes entre os profissionais da equipe de enfermagem, quais são as práticas preventivas passíveis de adoção para a minimização destas ocorrências? Diante da extensão dos riscos e de sua diversidade, tem-se a importância da atuação multidisciplinar, com o trabalho de áreas como a Engenharia de Segurança do trabalho, a Engenharia Clínica e as demais áreas técnicas participantes, entre outras. 

O presente trabalho tem como objetivo identificar os aspectos que se relacionam aos acidentes com perfurocortantes no Brasil, considerando os dados quali-quantitativos inerentes a estas ocorrências.

2 METODOLOGIA

 Trata-se de uma revisão narrativa de literatura, cuja base de com subsidio em livros e artigos científicos a respeito do tema. A pesquisa tem o caráter qualiquantitativo, por se ater às variáveis tanto quantitativas quanto qualitativas inerentes ao assunto. 

O entendimento de que quantidade e qualidade não são opostas tem levado um número crescente de estudiosos a defender a combinação de metodologias quantitativas e qualitativas em uma mesma pesquisa. Essa vertente tem sido denominada de pesquisa quali-quantitativa, quanti-qualitativa, métodos mistos, métodos múltiplos ou estudos triangulados. Embora com nomes diferentes, todas essas denominações compartilham o mesmo propósito: a integração metodológica (Souza; Kerbauy, 2017).

 O levantamento foi realizado a partir da submissão dos descritores “acidentes”, perfurocortantes” e “Enfermagem”, nas bases Scielo e BVS, por meio do operador booleano and. Os critérios de inclusão foram a pertinência ao tema proposto, a publicação realizada em sua totalidade e o idioma, sendo admitidos somente trabalhos em língua portuguesa. 

Não foram incluídos trabalhos de graduação e resumos. A partir da leitura dos títulos e resumos das publicações, foram selecionados 27 artigos, publicados no período entre 2003 e 2023. Além deles, foram utilizadas publicações com dados a respeito do tema, realizadas pelo Conselho Federal de Enfermagem, bem como pela plataforma Smartlab e dados do Ministério da Previdência Social a respeito dos acidentes de trabalho com perfurocortantes. Foi também utilizada como referência uma dissertação de mestrado.

3 PERFIL DO PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM NO BRASIL

A Enfermagem é o grupo ocupacional mais numeroso da área de saúde, representando cerca de 59% da força de trabalho em todo o mundo e 56% na América. No Brasil, os enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem representam aproximadamente 70% dos profissionais de saúde (Oliveira et al., 2020).

 O Brasil contava, de acordo com as estatísticas divulgadas pelo Conselho Federal de Enfermagem, com 1.804.535 profissionais de Enfermagem, entre enfermeiros (23%), técnicos de enfermagem e auxiliares de enfermagem (77%). A equipe de enfermagem é predominantemente feminina, com 85,1% de mulheres e

14,4% de homens. Quanto às faixas etárias dos profissionais, verifica-se que 78% situam entre 26 e 50 anos, com a prevalência da faixa etária entre 31 e 35 anos (20,30%) (COFEN, 2017). Quanto ao tempo de experiência dos profissionais de Enfermagem, os dados podem ser observados no Gráfico 1:

Gráfico 1 – Tempo de experiência dos profissionais da equipe de enfermagem

Fonte: Adaptado de Cofen (2017)

O grupo com mais de 20 anos de experiência representa apenas 13,6%% do total. 23,8% está na faixa de 11 a 20 anos de trabalho. A faixa de 21 a 30 anos de experiência é a segunda maior, com 10,5% do total. O grupo com menos de 2 anos de experiência é o terceiro maior, com 6,9% do total (COFEN, 2017). 

Quanto a formação profissional dos enfermeiros, 31,4%, antes de se graduarem, realizaram curso técnico ou de auxiliar de Enfermagem. Entre estes, 86,1% exerceram uma destas duas ocupações antes de se formarem e atuarem como Enfermeiros. 53,2% dos enfermeiros realizaram algum curso de complementação e 80,1% havia concluído ou estavam fazendo curso de pós-graduação (COFEN, 2017).

Quanto aos técnicos e auxiliares de enfermagem, 57,7% possui o Ensino Médio completo e 11,5% o curso superior completo. Entre esses profissionais, 2% possuem até o primeiro grau completo. A formação de 72% dos técnicos e auxiliares de enfermagem ocorreu em instituições privadas e 41,4% realizaram um ou mais cursos de capacitação. Destes, 45,8% fizeram cursos de atualização, 31,1% de aperfeiçoamento e 23% de especialização. Ainda entre técnicos e auxiliares de enfermagem, 63,7% haviam feito ou estavam fazendo curso superior na época do levantamento. A prevalência é do curso de Enfermagem, com 84,3%, mas outras áreas apresentam um percentual significativo, como Serviço Social, com 7,5%, Biologia, com 3%, Fisioterapia e Direito com 2,8%, Pedagogia e Psicologia, com 2,4% (COFEN, 2017). 

Quanto às fases da vida profissional, que podem ter influência significativa no que diz respeito a diversos outros aspectos, como remuneração, condições de trabalho, entre outros, trata-se de uma variável importante a ser analisada. 45,6% dos profissionais atuantes situa-se nas etapas pós-formação e de maturidade profissional (COFEN, 2017).

As jornadas de trabalho, comumente adotadas no mercado da enfermagem, são em sistema de plantão, 12/36 horas, ou os profissionais trabalham 30, 40 ou 44 horas por semana. De modo geral, a distribuição destes profissionais, conforme a jornada de trabalho, sugere que 43,37% labora entre 31 e 60 horas semanais e acima 61 horas por semana, 13,9% (COFEN, 2017). 

 Outro ponto importante, sobre o perfil dos profissionais da enfermagem é o salário, observando especificamente a realidade dos enfermeiros, muitos profissionais recebem salários muito baixos, independentemente do setor em que trabalham. No setor privado, 49% dos enfermeiros tinham renda mensal de até R$ 3.000,00. Na filantropia, esse percentual era de 46,5%, na educação, 44,9%, e no setor público o percentual era um pouco menor, de 37%. Tais salários podem ser considerados baixos para a importância do trabalho dos enfermeiros. No Brasil, 11,2% dos profissionais de enfermagem possuem outras atividades fora do contexto da Enfermagem. Quanto aos enfermeiros, 9,3% afirmam ter atividades fora do setor (COFEN, 2017). O perfil dos profissionais de enfermagem é de importante observação para as análises diversas acerca do exercício das diversas profissões que compõem o setor, considerando os acidentes de trabalho no setor.

 De modo geral, no Brasil, a equipe de profissionais de enfermagem é predominantemente feminina. A faixa etária predominante é de 26 a 50 anos e com o tempo de profissão entre 11 e 20 anos. A carga horária prevalente situa-se entre 31 e 60 horas semanais. Os resultados apresentados são convergentes aos identificados por Oliveira et al. (2020), que consideram que a força de trabalho na Enfermagem é relativamente jovem, com 38% dos profissionais em idade inferior a 35 anos e 90% do sexo feminino.

 Santos et al. (2023) identificaram que apesar da relevância da profissão, apenas 40% dos profissionais tiveram condições de fazer alguma capacitação profissional após a formação, devido aos baixos salários e às jornadas exaustivas.

Isso pode favorecer a estagnação dos profissionais, que tendem a se manter na carreira por receio de perder direitos e benefícios. No entanto, há uma grande parcela de profissionais que demonstram comprometimento com a carreira. Cerca de 30% dos auxiliares e técnicos cursaram graduação para se tornar enfermeiro, e a maioria absoluta (85%) deseja seguir os estudos para chegar ao nível superior.

3 OS ACIDENTES DE TRABALHO NO SETOR DE ENFERMAGEM

3.1 ASPECTOS GERAIS

Abordando especificamente os acidentes de trabalho no setor da saúde, indica-se que entre os anos de 2012 e 2021 ocorreram, apenas entre as atividades de atendimento hospitalar, 547.934 eventos, sendo este o setor com maior número de ocorrências (Smartlab, 2022). 

Considerando a série histórica entre os anos de 2012 e 2022, a categoria dos técnicos de enfermagem foi a que mais sofreu acidentes de trabalho com CAT registrada no Brasil, respondendo por 313.654 casos. Os auxiliares de enfermagem representaram 83.845 acidentes, e os enfermeiros foram vítimas em 70.902 ocorrências (Smartlab, 2023).

As estatísticas de acidentes de trabalho no Brasil indicam poucas variações quanto aos eventos ocorridos, se considerados os setores públicos (11%), privado (10,7%) e filantrópico (10,8%), além do setor de ensino (3,3%) (COFEN, 2017). 

De modo geral, a discussão a respeito dos acidentes de trabalho no setor de enfermagem envolve, além dos aspectos que dizem respeito ao perfil dos profissionais, abordado no presente tópico, a observação de variáveis tanto quantitativas quanto qualitativas a estas ocorrências, destacando a proteção contra acidentes de trabalho com perfurocortantes.

De acordo com dados do Ministério do Trabalho e Emprego, estima-se que ocorram cerca de 385.000 acidentes com objetos perfurocortantes por ano, excluindo trabalhadores não registrados na CLT. Mesmo com um número significativo de casos não notificados, o total de eventos registrados entre 1988 e 2013 foi de 14.566.870 (Gouveia et al., 2019).

3.2 A PROTEÇÃO CONTRA ACIDENTES COM PERFUROCORTANTES

Os trabalhadores da saúde estão mais expostos aos riscos de acidentes com materiais perfurocortantes, devido à sua rotina de trabalho exaustiva, à manipulação frequente desses materiais e à falta de adesão às medidas de segurança recomendadas, como o uso de equipamentos de proteção individual (EPI). Além das lesões diretas, esses acidentes também podem causar a transmissão de doenças infecciosas, como hepatite B, hepatite C e vírus da imunodeficiência humana (HIV). A baixa percepção dos riscos e a baixa utilização de EPI são problemas comuns em todas as categorias profissionais que lidam com materiais perfurocortantes (Freitas et al., 2020). 

Pesquisa realizada por Silva et al. (2010) identificou que 85,41% dos profissionais de Enfermagem que tiveram acidentes com perfurocortantes, em um hospital universitário do Estado de São Paulo, são do sexo feminino, e essa realidade se justifica pelo fato de que a maioria dos profissionais de enfermagem são mulheres, 85,1%. O menor índice, de 1,3% ocorre entre os atendentes de Enfermagem (COFEN, 2017).

Silva et al. (2017) analisaram, na literatura nacional e internacional, quais são os riscos ocupacionais a que os trabalhadores de enfermagem estão expostos em UTI. As autoras identificaram que os acidentes com perfurocortantes são causados por uma combinação de fatores, incluindo falta de experiência, falta de concentração, pressa, excesso de tarefas, emergências, não uso de EPIs, redução da equipe e estresse.

Nesse sentido, as intervenções necessárias para a melhoria das condições de trabalho envolvem o desenvolvimento de um ambiente laboral favorável para a assistência; a disponibilidade de insumos; o adequado relacionamento entre os profissionais e destes com o público; a organização do trabalho; o adequado dimensionamento profissional; a compreensão dos riscos ocupacionais aos quais os profissionais estão expostos; o conhecimento, a disponibilidade e o fomento ao uso dos equipamentos de proteção (Fernandes et al., 2021). Importa compreender que as dificuldades para o exercício profissional no âmbito da saúde não são restritas aos enfermeiros, se estendendo para toda a equipe.

Segundo Ciorlia e Zanetta (2004), trabalhadores com mais tempo de serviço tendem a se arriscar mais, pois desenvolvem uma autoconfiança que pode levá-los a negligenciar as medidas de segurança. 

Em contrapartida, Rodrigues (2017), aponta em seu estudo que os profissionais com menos tempo de experiência são os que mais se acidentam. Além disso, observou ainda que os acidentes são mais frequentes durante o dia e que a sala de medicação é o local onde ocorrem mais acidentes. Os profissionais com menos de 30 anos de idade são os que apresentam maior risco de acidente, com 2,36 vezes mais possibilidades de sofrerem acidentes.

Os estudos realizados Araújo e Silva (2014), Rodrigues (2017) e Ferreira et al. (2021), identificaram que os técnicos de enfermagem são os que mais se acidentam, 52,6%, 48,2% e 60%, respectivamente. 

Os resultados dos estudos podem contribuir para a implementação de programas de orientação e prevenção de acidentes com materiais perfurocortantes. Esses programas devem capacitar os profissionais de enfermagem sobre os riscos associados a esses acidentes e as medidas de prevenção (Ferreira et al., 2021). 

Devido à alta frequência de acidentes de trabalho e aos diversos riscos aos quais os trabalhadores estão expostos, é importante elaborar estratégias de prevenção desde o momento da admissão do trabalhador na empresa. Essas estratégias devem visar à mudança de comportamento e conscientização dos trabalhadores sobre a importância de conhecer os riscos a que estão expostos, bem como a importância do uso de EPIs, do conhecimento do fluxo de notificação de acidentes, da notificação e abertura do Comunicação de Acidente do Trabalho (CAT) como instrumento de estudo do acidente, para identificar e eliminar a origem causadora dos acidentes, e para fornecer suporte sobre as condutas a serem tomadas após o acidente e o acompanhamento sorológico (Santos et al., 2011).

Verçosa, Monteiro e Ferreira (2014) realizaram um estudo, em um hospital universitário, que identificou uma alta incidência de acidentes com perfurocortantes entre profissionais de enfermagem. Dos profissionais entrevistados, 17,8% tinham o hábito de descartar perfurocortantes em recipientes inapropriados, 40% haviam sofrido algum acidente com perfurocortantes na instituição e 61,1% dos perfurocortantes estavam contaminados por sangue. Os acidentes foram causados principalmente por descuido/falta de atenção (77,8%) segundo os autores. 

As medidas de segurança pós-acidente são importantes, mas não são tão eficazes quanto as medidas de segurança pré-exposição. É essencial que os trabalhadores da saúde notifiquem imediatamente os acidentes aos sistemas adequados e que participem de ações de Educação em Saúde para reduzir os riscos ocupacionais e promover a saúde dos profissionais expostos (Freitas et al., 2020).

Os procedimentos de descarte de material e os procedimentos invasivos, de modo geral, têm como principais categorias afetadas os auxiliares de enfermagem e os técnicos. Os fatores individuais podem aumentar as possibilidades de acidentes. É necessário um trabalho de educação permanente, com a utilização de recomendações padronizadas quanto à precaução, uso de equipamentos de proteção individual e o descarte adequado de materiais (Guimarães et al., 2022).

Nesse sentido, a prevenção de acidentes de trabalho em hospitais é uma preocupação que deve ser compartilhada por profissionais e instituições. Os profissionais devem estar conscientes da necessidade de conhecer e aplicar as normas de biossegurança, e as instituições devem garantir um ambiente seguro para o trabalho. Os profissionais de saúde, principalmente os de enfermagem, estão mais expostos a acidentes de trabalho com material biológico, principalmente com agulhas e instrumentos cortantes. Esses acidentes podem causar a transmissão de infecções, como HIV, hepatite B e hepatite C. O risco de contaminação pelo HIV é baixo, de cerca de 0,3%. No entanto, o risco de contaminação pelo vírus da hepatite B é alto, variando de 37 a 62%, dependendo da presença do antígeno HbeAg no paciente-fonte. O risco de contaminação pelo vírus da hepatite C é intermediário, variando de 0 a 7% (Lima; Pinheiro; Vieira, 2007).

Um estudo com profissionais de enfermagem do Estado do Piauí mostrou que quase 47,9% deles sofreram um acidente com perfurocortante durante o trabalho. Os acidentes com agulha foram os mais comuns, com 77,0%. Entre os profissionais, os Técnicos (67,0%), Auxiliares (70,0%) e Enfermeiros (75,0%) não notificaram o acidente, sendo que, em média, 89,4% não adotaram medidas de prevenção (Araújo; Silva, 2014).

Um estudo de Aragão et al. (2019) identificou os procedimentos com os maiores índices de acidentes de trabalho com materiais perfurocortantes em profissionais de saúde. Os resultados mostraram que os acidentes mais comuns são: reencape de agulha (30%), administração de medicamentos (21,1%), manuseio incorreto de perfurocortantes (13,15%) e punção vascular (13,15%). Mendonça et al. (2015) também identificou, o reencape de agulhas, como a principal fonte de exposição a acidentes para a equipe de enfermagem em uma UTI. 

Um estudo realizado em um hospital de grande porte na Amazônia Legal revelou que a incidência de acidentes com perfurocortantes entre profissionais de saúde é alta. A equipe de enfermagem foi responsável por 75,97% dos casos, sendo as agulhas com lúmen o principal agente causador (Soares et al., 2018). 

Silva et al. (2016) buscaram conhecer os fatores de risco relacionados aos acidentes com materiais perfurocortantes presentes no trabalho dos técnicos de enfermagem do setor de atendimento de urgência de um hospital público. Os resultados apontaram que as situações de urgência e emergência, a falta de adesão aos EPIs, o descuido e o armazenamento inadequado do material perfurocortante são os principais fatores de risco. A conclusão do estudo foi que as condições de trabalho no setor de urgência precisam ser revistas, a fim de minimizar os riscos ocupacionais durante o desenvolvimento dos procedimentos de enfermagem.

Felipe, Fortes e Soane (2013) identificaram que os acidentes com perfurocortantes são um problema importante para os profissionais de enfermagem. A sobrecarga de atividades do setor e a não adesão ao uso de EPI são fatores que contribuem para a ocorrência de acidentes. O treinamento em serviço, o aperfeiçoamento técnico e a atualização profissional são importantes para minimizar os riscos de acidentes de trabalho.

Verifica-se que, nos hospitais, as ações preventivas são geralmente normativas e pontuais, não atuando no sentido da conscientização dos trabalhadores (Felli; Baptista; Karino, 2015). Ressalta-se, inclusive, a obrigatoriedade da implementação do plano de prevenção.

O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), por meio da Portaria nº 1.748 de 30 de agosto de 2011, alterou a Norma Regulamentadora nº 32, tornando obrigatória a implementação do Plano de Prevenção de Riscos de Acidentes com Materiais Perfurocortantes em serviços de saúde. A Comissão de Prevenção de Acidentes com produtos perfurocortantes, de formação obrigatória, é um grupo de profissionais da área de saúde e segurança do trabalho. O objetivo da comissão é reduzir o risco de acidentes com materiais perfurocortantes, que podem causar exposição a agentes biológicos. Entre suas atribuições situa-se a capacitação aos funcionários sobre como usar produtos com dispositivos de segurança, que são aqueles que têm mecanismos para evitar que a pessoa sofra danos em caso de acidente. Além disso, cabe à comissão criar normas e procedimentos para orientar o trabalho dos funcionários que estão em tratamento de doenças infectocontagiosas. Essas normas devem ser revisadas periodicamente para garantir a segurança dos funcionários (Viana, 2014).

Nesse sentido, a prevenção contra acidentes envolve a estrita atenção às normas de segurança. A NR 32 é uma norma regulamentadora do MTE que estabelece diretrizes básicas para a proteção da segurança e da saúde dos trabalhadores em serviços de saúde. Entre as medidas previstas pela norma estão o

uso de EPI, a higienização das mãos, a vacinação contra hepatite B, tétano e difteria, e a substituição de materiais perfurocortantes por outros com dispositivo de segurança. A Portaria nº 939, de 2008, complementa a NR 32, determinando que as empresas tenham dois anos, a partir da data de sua publicação, para substituir os materiais perfurocortantes por outros com dispositivo de segurança (Brasil, 2008).

O reencape de agulhas consiste em colocar uma capa protetora na agulha após o seu uso, para evitar que ela perfure alguém. Materiais perfurocortantes devem ser separados do lixo comum e descartados em recipientes próprios. Esses recipientes devem ser rígidos, resistentes a perfurações, rupturas e vazamentos, e devem ser esterilizados. Eles devem estar identificados com o símbolo internacional de risco biológico, a palavra “perfurocortante” e, se necessário, os riscos adicionais, como químico ou radiológico (Fiocruz, 2004). 

A pandemia de Covid-19 evidenciou a precarização das condições de trabalho dos profissionais de enfermagem no Brasil. De acordo com Galon, Navarro e Gonçalves (2022), 23% das mortes de profissionais de enfermagem em todo o mundo ocorreram no Brasil durante a pandemia, até 31 de março de 2021. As autoras destacam que as condições inadequadas de trabalho já existiam antes da pandemia, mas se agravaram com as demandas da crise sanitária. A sobrecarga de trabalho, a falta de EPI, a falta de recursos essenciais e a desvalorização da categoria são alguns dos fatores que dificultam o exercício das atividades dos profissionais de enfermagem.

No Brasil, é necessário aumentar o investimento na formação profissional de nível superior em enfermagem, bem como ampliar a participação de enfermeiros em posições de liderança política na elaboração e implementação de políticas públicas de saúde. Essas são questões que precisam ser enfrentadas de forma imediata

(Oliveira et al., 2020). Além disso, as políticas de valorização da categoria também são necessárias, considerando que estas iniciativas são imprescindíveis para a motivação e melhor qualidade de vida, resultando na possível redução da quantidade de acidentes de trabalho.

 Ressalta-se que outro conceito que diz respeito às atividades de prevenção contra acidentes no campo da Enfermagem trata-se da biossegurança, que segundo Pretti, Rocha e Dourado (2022), é importante para os profissionais de saúde porque eles estão expostos a riscos ocupacionais. No entanto, mesmo que os profissionais de saúde aceitem as normas de biossegurança, nem sempre as seguem.

Conforme Marziale (2003), a baixa notificação de acidentes com perfurocortantes dificulta o controle desses casos. Isso ocorre porque a subnotificação impede a implementação de ações de prevenção, como a conscientização dos trabalhadores sobre os riscos e a importância da utilização de EPIs. Além disso, a subnotificação também interfere no tratamento dos trabalhadores que sofreram acidentes, pois pode dificultar o diagnóstico precoce e o acesso à quimioprofilaxia, que é um tratamento preventivo contra a infecção pelo HIV e outras doenças.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os profissionais de enfermagem estão mais expostos a acidentes de trabalho com materiais perfurocortantes do que outros profissionais. Esses acidentes podem causar a transmissão de infecções graves, como HIV, hepatite B e hepatite C. Um percentual elevado dos profissionais de saúde já sofreu um acidente com perfurocortante. Os acidentes com agulha são os mais comuns, e a maioria dos profissionais não notificou o acidente ou não adotou medidas de prevenção.

A maioria dos acidentes com perfurocortantes ocorre nas tarefas de reencape de agulhas, manuseio incorreto de perfurocortantes, punção vascular administração de medicamentos. Para prevenir acidentes de trabalho com perfurocortantes, é importante que sejam tomadas medidas, como a conscientização dos profissionais sobre os riscos; bem como adotar procedimentos seguros de trabalho; usar equipamentos de proteção individual, e descartar adequadamente os materiais perfurocortantes.

O treinamento da equipe de enfermagem é essencial para garantir que os profissionais saibam como manipular e descartar adequadamente os materiais perfurocortantes. O treinamento deve ser realizado de forma periódica, com o objetivo de reforçar os conceitos e garantir que os profissionais estejam sempre atualizados. As instituições de saúde devem investir na implementação de programas de treinamento para a equipe de enfermagem quanto aos perfurocortantes, com o objetivo de garantir a segurança dos profissionais e dos pacientes.

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