OCORRÊNCIA DE NOTIFICAÇÕES PARA O TESTE DE PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL NA REDE DATASUS NO PERÍODO PANDÊMICO

OCCURRENCE OF NOTIFICATIONS FOR THE CENTRAL AUDITORY PROCESSING TEST IN THE DATASUS NETWORK IN THE PANDEMIC PERIOD

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202503262136


Carla Marcela Faedda1,
Soraya Cardozo Freitas Rezende2,
João Junio Santos Da Silva3,
Hugo Amilton Santos De Carvalho4


RESUMO

A Fonoaudiologia está inserida no Sistema Único de Saúde (SUS), e tem participação determinante no cumprimento dos objetivos do SUS, atuando de forma multidisciplinar nos cuidados relacionados à saúde pública no Brasil. O DATASUS disponibiliza informações que podem servir para subsidiar análises objetivas da situação sanitária, tomadas de decisão baseadas em evidências e elaboração de programas de ações de saúde. Objetivo: Analisar a proporção de atendimentos dos testes avaliativos de processamento auditivo central (PAC), realizados pelo SUS no período pré e pós pandêmico, registrados do sistema DATASUS TabNet e assim, mapear as notificações para o teste de PAC durante a pandemia COVID-19. Métodos: Os dados foram extraídos da plataforma DATASUS-TabNet, referentes às notificações registradas pelos profissionais de fonoaudiologia no referido sistema. Na geração dos dados, foi escolhida a categoria “assistência à saúde, e colhidos os dados dos registros de produção ambulatorial (SIASUS) por local de atendimento e por abrangência geográfica, referente ao período de janeiro de 2019 a dezembro de 2022.Trata-se de uma pesquisa do tipo quantitativa, retrospectiva e transversal de natureza descritiva. Resultados: conforme os dados, apurou-se no Brasil, o ano de 2020, (ano crítico da pandemia), apresentou uma queda significativa de registros de realização dos testes avaliativos de PAC no sistema DATASUS. Num comparativo com o ano de 2019 constatou-se uma redução de 11% dos registros. Em contrapartida, houve um aumento de 27% nos registros realizados entre os anos de 2020 e 2021. Com destaque para a região do Nordeste, que obteve o maior registro de procedimentos em todos os períodos analisados. Em contraste com a região norte, que obteve o menor número de registros realizados nos sistemas DATASUS. Conclusão: A pandemia da COVID-19 causou um impacto significativo na quantidade de registros dos testes avaliativos de PAC realizados no Brasil, com uma queda acentuada dos registros em 2020 em comparação com 2019. No entanto, os dados indicam que a situação se estabilizou nos anos seguintes.  Não obstante, deve ser levada em consideração a possibilidade da falta de registros dos exames no sistema, que deve ser feita pelos profissionais que realizam a avaliação, além da defasagem no número de profissionais em cada região. 

Palavras-chave: Processamento auditivo; DATASUS; Fonoaudiologia; COVID-19; 

ABSTRACT

Speech Therapy is part of the Unified Health System (SUS) and plays a crucial role in achieving SUS’s objectives, working in a multidisciplinary manner in public health care in Brazil. DATASUS provides information that can support objective analyses of the health situation, evidence-based decision-making, and the development of health action programs. Objective: To analyze the proportion of central auditory processing (CAP) evaluation tests conducted by SUS in the pre- and post-pandemic periods, recorded in the DATASUS TabNet system, and thus map the notifications for the CAP test during the COVID-19 pandemic. COVID-19. Methods: The data were extracted from the DATASUS-TabNet platform, referring to the notifications recorded by speech therapy professionals in the aforementioned system. In the data generation, the category “healthcare assistance” was chosen, and the data from outpatient production records (SIASUS) were collected by service location and geographical coverage, referring to the period from January 2019 to December 2022. This is a quantitative, retrospective, and cross-sectional descriptive study. Results: according to the data, it was found that in Brazil, the year 2020 (the critical year of the pandemic) showed a significant drop in the number of records of PAC evaluation tests in the DATASUS system. In comparison with the year 2019, there was a reduction of 11% in the records. On the other hand, there was a 27% increase in the records made between the years 2020 and 2021. With a highlight on the northeastern region, which recorded the highest number of procedures in all analyzed periods. In contrast with the northern region, which recorded the lowest number of entries in the DATASUS system. Conclusion: The COVID-19 pandemic caused a significant impact on the number of PAC evaluation test records conducted in Brazil, with a sharp decline in records in 2020 compared to 2019. However, the data indicate that the situation stabilized in the following years. However, the possibility of a lack of exam records in the system, which should be done by the professionals conducting the evaluations, as well as the shortage of professionals in each region, must be taken into consideration.

Keywords: Auditory processing; DATASUS; Speech Therapy; COVID-19; 

1 INTRODUÇÃO

A Lei 8.080, de 19 de setembro de 1990, instituiu o Sistema Único de Saúde, cuja missão é deliberar sobre as condições para a promoção, organização, funcionamento, proteção e recuperação da saúde. (1)

Os atendimentos no SUS são realizados através das Unidades Básicas de Saúde, que, após a consulta com o médico especialista da Secretaria de Estado de Saúde, encaminha o paciente para a Rede de Atenção à Saúde, a fim de realizar os exames complementares e encaminhar ao atendimento terapêutico indicado. (1)

A Fonoaudiologia está inserida no Sistema Único de Saúde (SUS), e tem participação determinante para cumprir os propósitos do SUS, atuando de forma multidisciplinar nos cuidados relacionados à saúde pública no Brasil.(2)

O Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) surgiu em 1991 com a criação da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), pelo Decreto 100 de 16.04.1991, publicado no D.O.U. de 17.04.1991 e retificado conforme publicado no D.O.U. de 19.04.1991.(3)

É um órgão da Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa do Ministério da Saúde, e é o sistema de referenciamento de atendimentos realizados pelo SUS nos diversos âmbitos de atendimento médico-hospitalar do sistema público de saúde. (3)

O DATASUS está presente em todas as regiões do país por meio das Regionais que executam as atividades de fomento e cooperação técnica em informática nos principais estados brasileiros. O DATASUS disponibiliza informações que podem servir para subsidiar análises objetivas da situação sanitária, tomadas de decisão baseadas em evidências e elaboração de programas de ações de saúde. (3,4)

No âmbito da Fonoaudiologia, desde novembro de 2008, a Comissão de Saúde do Conselho Federal de Fonoaudiologia passou a publicar a análise de procedimentos realizados pelo fonoaudiólogo na tabela do Sistema Único de Saúde, assim os dados dos atendimentos fonoaudiológicos passaram a ser acrescidos no sistema DATASUS, a fim de ajudar a alimentar o sistema de dados proporcionado a melhoria de informações para monitorar, avaliar e planejar ações e serviços de saúde no Brasil. (5)

Dentre os principais cuidados fonoaudiológicos estão os atendimentos voltados para a audição. Para esse estudo, em destaque, os dados referentes ao registro da atuação fonoaudiológica no âmbito da realização dos testes de para avaliação do processamento auditivo central (PAC). (6).

O Conselho Federal de Fonoaudiologia com o apoio da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa) e da Academia Brasileira de Audiologia (ABA), criou um Guia de Orientação, Avaliação e intervenção no Processamento Auditivo Central, que preceitua princípios basilares para a realização da avaliação do PAC, quais sejam, a realização do exame por um fonoaudiólogo especializado, a bateria de testes escolhidos deve ser individualizada de acordo com a queixa do paciente, sua idade, capacidade cognitiva e intelectual, além do local apropriado, equipamento calibrado e condição acústica adequada seja dentro da cabina acústica ou sala tratada acusticamente devidamente calibrada, além da prévia realização de exames audiológicos básicos, quais sejam, audiometria tonal, vocal, timpanometria, imitanciometria. E mesmo que os resultados dos exames auditivos básicos estejam dentro dos padrões de normalidade pode haver alteração do PAC. (7)

O PAC compreende ao conjunto de habilidades auditivas centrais, que permite que o indivíduo consiga identificar a fonte sonora e sua localização no espaço; realizar a discriminação auditiva, distinguindo um som do outro; discriminação de figura fundo, reconhecendo sons competitivos; fechamento auditivo, habilidade de conseguir reconhecer a fala ou o som mesmo que parte deste esteja faltando e os aspectos temporais, como mudanças na fala, rimas, pausas e velocidade silábica, ou seja segmentais e suprassegmentais da fala. (8)

A desordem no funcionamento do sistema auditivo nervoso central, pode ser indício para o diagnóstico do Transtorno do Processamento Auditivo (TPAC), que, refere-se a um transtorno do neurodesenvolvimento, em que o indivíduo detecta o som, mas tem dificuldades em interpretá-los, ou dificuldade em processar a informação de forma correta. A avaliação do PAC faz diagnóstico da normalidade ou não das habilidades auditivas centrais. (8)

O TPAC, caracteriza-se como resultado de um baixo padrão de desempenho e pode coexistir com outras comorbidades, ou seja, outras condições de síndromes, transtornos ou distúrbios que impliquem na dificuldade auditiva, linguística, comportamental e cognitiva do indivíduo. O seu diagnóstico é multidisciplinar. (8)

A percepção precoce da integridade desse sistema ajuda na identificação de eventuais dificuldades nas habilidades auditivas, transtornos de linguagem, aprendizagem e comunicação. A correta detecção orienta o paciente e o profissional, a fim de adequar o melhor trabalho terapêutico. Além de colaborar na distinção de outras comorbidades, mesmo que possam coexistir de forma concomitante.(8)

A sociedade ainda sofre com as consequências da Pandemia causada pelo vírus SARS-CoV-2, conhecida também como Coronavírus ou Covid-19, que surgiu na cidade de Wuhan, na China, em dezembro de 2019, rapidamente se espalhando para o mundo, chegando no Brasil com o primeiro infectado registrado no dia 26 de fevereiro de 2020, tendo registrado até o momento, mais de 37 milhões de casos no país e 699 mil mortos. (SVS/MS, 2023). (9)

O COVID-19 ocasionou uma síndrome viral respiratória, que em muitos pacientes, por agravamento do quadro da saúde, tiveram que fazer uso de medicamentos cujos efeitos colaterais poderiam ocasionar lesão às estruturas mecânicas e sensoriais da função auditiva, além do uso de suporte mecânico de ventilação, hemodiálise por um período prolongado. (9)

Os mecanismos de instalação da perda auditiva viral, que incluem infecções das vias aéreas superiores, podem causar comprometimento da orelha média, gerando perda auditiva condutiva, diferente da situação em que há invasão virótica na orelha interna, podendo provocar lesão da cóclea e/ou do nervo auditivo. Além disso, até hoje ainda não se sabe quais são as sequelas neurológicas que de fato o vírus pode ocasionar nos indivíduos. (10)

Em fevereiro de 2022, a Organização Mundial de Saúde (OMS), realizou uma pesquisa global a fim de averiguar a situação da prestação de serviços essenciais de saúde vitais durante a pandemia de COVID-19, onde ficou registrado que as interrupções nas prestações desses serviços foram severamente impactadas.(11)

A importância do sistema DATASUS se infere diretamente no processo dinâmico de estratégica de saúde, a fim de, com a informação acessível, estabelecer escala de prioridades, ampliar a disseminação de saúde para melhorar o atendimento dos usuários, profissionais, gestores, prestadores de saúde, organizações públicas e privadas.

No atual cenário, os dados são de fundamental importância para analisar os atendimentos e as necessidades anteriores a propagação global do COVID- 19, os ocorridos durante a pandemia, e para traçar estratégias para as sequelas pandêmicas, a fim de evitar erros e preparar para situações semelhantes no futuro.

O objetivo deste estudo analisa a proporção de atendimentos dos testes avaliativos de processamento auditivo central realizados pelo SUS no período pré-pandêmico e pós pandêmico, realizando a comparação dos dados que foram registrados do sistema DATASUS TabNet.

2 METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa do tipo quantitativa, retrospectiva e transversal, de natureza descritiva. Visa abordar a análise das informações contidas na base de dados do DATASUS, sobre os atendimentos avaliativos do processamento auditivo central realizados pelo SUS, no período de 2019 a 2022, sendo respectivamente os períodos, pré-pandêmico e pós pico pandêmico. 

Os dados foram extraídos da plataforma DATASUS-TabNet. Na geração dos dados foi escolhida a categoria “assistência à saúde”, com os seguintes procedimentos: produção ambulatorial (SIASUS) por local de atendimento, cujos dados estão disponíveis a partir de 2008. A abrangência geográfica: Brasil por unidade da federação; Linha: região/unidade da federação; Coluna: ano de processamento; Conteúdo: quantidade aprovada. Períodos disponíveis: janeiro de 2019 a dezembro de 2022; Seleções disponíveis: região 1-5; Procedimento: 02110770343 (Testes de processamento auditivo).

Foi realizada uma análise descritiva dos dados em relação ao quantitativo total da produção ambulatorial realizada em cada período pesquisado e unidade da federação, sendo os dados comparados entre si posteriormente, tornando possível mensurar o efeito da pandemia da COVID-19, na solicitação do procedimento de avaliação do processamento auditivo central no sistema único de saúde no Brasil (SUS) por região.

Após o levantamento descritivo de toda amostra, foi realizado o teste não paramétrico de Wilcox para os exames de cada região entre os anos de 2019 e 2020 (pré-pandêmico X pandêmico), 2020 e 2022 (pandêmico X pós- pandêmico), 2019 e 2021/2022 (pré-pandêmico X pós-pandêmico), e por fim, foi utilizado o teste de Friedman de todos os anos 2019, 2020, 2021 e 2022.

3 RESULTADOS

Houve uma queda de registros de exames estatisticamente relevantes entre os anos de 2019 e 2020 (tabela 1). Segundo a análise dos dados coletados, o ano de 2020 registrou a menor quantidade de exames no país (N = 11935) comparado ao ano de maiores registros 2019 (N = 18631). Do ano de 2019 para o ano de 2020 houve uma redução de 6696 exames representando uma queda de 11%. O Nordeste é a região que mais ocorreu registro de procedimentos em todos os períodos da pandemia. O Norte é a região onde houve o menor número de registros. 

No total, foram realizados 18.631 exames em 2019, o maior número registrado no período. Em 2020, observou-se uma queda significativa, com 11.935 exames (19% do total), refletindo o impacto da pandemia. Em 2021, a quantidade de exames aumentou para 15.274 (25%), indicando um processo de recuperação. Em 2022, houve novo crescimento, com 16.231 exames realizados (26%).

Analisando por região:

– Nordeste: Esta região apresentou o maior total de exames realizados, acumulando 27.775 exames entre 2019 e 2022, representando 45% do total. Em 2020, o Nordeste registrou 5.417 exames (45% do total dessa região), destacando-se por sua resiliência, com 7.536 exames em 2021 (49%) e 7.483 em 2022 (46%).

– Norte: O Norte se destacou com a menor quantidade de exames registrados, totalizando apenas 1.642 exames (3%). Em 2020, registrou um aumento para 424 exames (4%), mas a tendência de crescimento não foi sustentável, resultando em 495 exames em 2022 (3%).

– Sudeste: Com 10.861 exames (17%), o Sudeste ficou em terceiro lugar. A quantidade de exames diminuiu para 1.853 (16%) em 2020 e 1.821 (12%) em 2021, recuperando-se em 2022 com 3.022 exames (19%).

– Sul: A região Sul realizou 20.136 exames no total, mantendo uma média estável de 32% em todos os anos analisados. Em 2020, foram registrados 3.822 exames (32%), um ligeiro aumento em 2021 com 5.239 (34%) e uma leve queda em 2022 com 5.129 exames (32%).

– Centro-Oeste: Com 1.657 exames (3%), essa região apresentou uma diminuição notável ao longo do período, com apenas 102 exames registrados em 2022 (1%).

Esses dados revelam não apenas as variações significativas no volume de exames realizados em cada região ao longo dos anos, mas também refletem o impacto duradouro da pandemia de COVID-19 sobre os serviços de saúde auditiva no Brasil.

A Tabela 2 mostra os resultados do teste de Wilcoxon, utilizado para comparar a quantidade de exames realizados em diferentes períodos: pré-pandêmico (2019) e pandêmico (2020), assim como nos períodos pós-pandêmico (2021 e 2022). Esta comparação apresenta uma diferença estatisticamente significativa entre o número de exames realizados em 2019 e 2020. Essa redução pode ser atribuída ao impacto direto da pandemia de COVID-19 e às medidas de distanciamento social, que afetaram a realização de exames.

Os resultados do teste de Wilcoxon evidenciam a forte influência da pandemia sobre a realização de exames auditivos em 2020, com um impacto negativo significativo em comparação ao ano anterior. Embora haja sinais de recuperação nos anos subsequentes, a análise demonstra que os níveis de realização de exames ainda não retornaram aos patamares pré-pandêmicos até o final de 2021. Isso evidencia a necessidade contínua de monitoramento e estratégias de recuperação nos serviços de saúde auditiva.

Os resultados da tabela 3 indicam que não há diferenças estatisticamente significativas nas médias de ranks dos exames realizados ao longo dos quatro anos analisados, uma vez que o valor-p é superior a 0.05. Isso sugere que, apesar das flutuações nos números absolutos de exames entre 2019 e 2022, as variações observadas não são estatisticamente relevantes. 

Portanto, a análise indica que a pandemia de COVID-19 e as subsequentes fases de recuperação não resultaram em mudanças significativas nas medições dos exames auditivos ao longo do tempo, o que pode sinalizar a necessidade de intervenções adicionais para revitalizar esse serviço de saúde.

A Tabela 4 apresenta os resultados do teste de Wilcoxon, empregado para comparar o número de fonoaudiólogos ativos durante os períodos pandêmico (2020) e pós-pandêmico (2021 e 2022).

Na comparação entre o ano pós-pandêmico de 2022 e o ano pandêmico de 2020, o teste revelou um valor-Z de -2.023 e um valor-p de 0.043. Esse resultado indica uma diferença estatisticamente significativa (p < 0.05), sugerindo que houve uma recuperação no número de fonoaudiólogos atuantes após a fase crítica da pandemia.

Adicionalmente, ao comparar 2021 com 2020, o valor-Z foi de -1.363, e o valor-p também foi de 0.043. Embora o valor-Z seja menos expressivo comparado ao primeiro resultado, o valor-p indica que esta comparação também alcança significância estatística. Isso sugere que as taxas de fonoaudiólogos ativos apresentaram uma mudança relevante entre esses anos, refletindo a adaptação e o retorno gradual dos serviços de fonoaudiologia após o impacto inicial da pandemia.

Esses achados ressaltam a importância do fortalecimento dos serviços de fonoaudiologia nos anos pós-pandêmicos e a necessidade de estratégias que garantam a continuidade do atendimento à saúde auditiva da população.

Houve uma queda no número de profissionais estatisticamente relevante entre os anos de 2021 e 2020 e uma queda mais fraca, mas ainda estaticamente relevante entre os anos de 2022 e 2020 (tabela 5).

O Gráfico 1 apresenta a relação entre o número de exames realizados e a quantidade de profissionais de saúde em cada região do Brasil, comparando os anos de 2019 e 2022. As regiões incluídas na análise são Nordeste, Norte, Sudeste, Sul e Centro-Oeste, além do total consolidado.

Quando consolidado, o total de exames e profissionais aumentou de 2019 para 2022. O gráfico mostra um progresso positivo no aumento de recursos humanos e na quantidade de serviços prestados nos serviços de saúde, destacando uma resposta favorável às necessidades pós-pandêmicas, embora a demanda por exames continue excedendo levemente o crescimento de profissionais.

Esta análise sugere que, enquanto houve um crescimento geral nos exames realizados e na quantidade de profissionais, a demanda por exames segue altas e merece atenção contínua para manter a qualidade e a disponibilidade dos serviços de saúde auditiva.

O Gráfico 2 ilustra a relação do número de profissionais de fonoaudiologia por região do Brasil, comparando os anos de 2019, 2020, 2021 e 2022. As regiões analisadas incluem Nordeste, Norte, Sudeste, Sul e Centro-Oeste.

De maneira geral, o número de profissionais de fonoaudiologia nas diversas regiões do Brasil permaneceu estável durante o período de 2020 a 2022. A ausência de dados referentes ao ano de 2019 em algumas regiões impede conclusões sobre mudanças antes do cenário pandêmico. No entanto, a estabilidade observada sugere uma continuidade na alocação de profissionais, sem expansões significativas no período analisado. Este equilíbrio, porém, pode não acompanhar o crescimento da demanda por serviços, necessitando de estratégias para ajustar e suprir as necessidades em saúde auditiva.

4 DISCUSSÃO

Os dados utilizados neste estudo foram coletados publicamente por meio da plataforma DATASUS e centraram-se nos exames realizados por fonoaudiólogos, conforme notificados na referida plataforma. A análise desses dados, que foi organizada em gráficos e tabelas, possibilitou a separação das informações por estado e ano (2019, 2020, 2021 e 2022), abrangendo os períodos pré-pandêmico, pandêmico e pós-pico.

A contribuição dos profissionais de saúde na notificação dos resultados de exames ao DATASUS é crucial, pois esta base de dados fornece informações objetivas e embasadas que ajudam a evidenciar a real demanda por serviços de saúde auditiva em diferentes regiões do Brasil. A partir dessas informações, é possível desenvolver e implementar políticas públicas de saúde que respondam de maneira mais efetiva às necessidades da população.

Os resultados deste trabalho ressaltam a urgência de cuidados voltados à saúde auditiva da comunidade. A análise dos dados pode elucidar a prevalência de problemas auditivos em diversas regiões e suas variações ao longo do tempo. Tais informações são fundamentais para a formulação de políticas públicas apoiadas em evidências, que visem ao planejamento de ações eficazes em relação às necessidades terapêuticas da população atendida.

Ainda assim, destaca-se o impacto negativo que a subnotificação e a falta de profissionais fonoaudiólogos especializados podem ter sobre a saúde da sociedade. A pandemia de COVID-19 trouxe um efeito drástico na realização de exames fonoaudiólogos e em outros serviços de saúde, especialmente durante os períodos de restrição de mobilidade e distanciamento social, conforme demonstrado na Tabela 1.

É plausível que a pandemia tenha influenciado a frequência de notificações de exames, afetando, portanto, os resultados observados neste estudo. A queda no número de exames de Processamento Auditivo Central (PAC) registrados em 2020 em comparação a 2019 pode ser atribuída às medidas restritivas adotadas para conter a propagação do vírus. O isolamento social, o fechamento de clínicas e hospitais, a diminuição da oferta de serviços de saúde e a suspensão das aulas presenciais são fatores que contribuíram para essa queda. Além disso, a crise econômica resultante da pandemia pode ter restringido ainda mais o acesso da população aos serviços de saúde, incluindo os exames de PAC.

Embora a região Nordeste do Brasil tenha apresentado um número maior de exames realizados em todos os períodos da pandemia, essa situação pode ser atribuída a um registro mais rigoroso das notificações nessa localidade. Entretanto, é importante ressaltar que isso não se relaciona diretamente à presença de um maior número de fonoaudiólogos na região. Apesar de haver um quantitativo de profissionais na região Nordeste superior ao verificado em outras partes do Brasil, o número de especialistas cadastrados no CREFONO é quase metade do registrado na região Sudeste.

Foram coletados dados sobre a quantidade de fonoaudiólogos em cada região entre 2020 e 2022, sendo que em 2019 não foi possível obter essas informações. Embora o Conselho forneça dados úteis sobre o total de profissionais registrados por região, a falta de informações específicas no DATASUS sobre os especialistas nas unidades de apoio limita a avaliação da real capacidade de atendimento nessa área. Isso ocorre porque muitas contratações no sistema de saúde baseiam-se na formação de nível superior em fonoaudiologia, sem levar em conta as especializações.

Adicionalmente, deve-se considerar a desigualdade na distribuição de profissionais de saúde pelo país. regiões remotas e com menos recursos frequentemente têm um acesso limitado a esses profissionais, o que pode impactar a oferta de serviços de saúde.

A pandemia também teve um efeito generalizado sobre o setor de saúde, incluindo serviços de diagnóstico. Muitas pessoas adiaram ou evitaram a realização de exames devido ao medo de contrair o vírus, ao fechamento de unidades de saúde e à diminuição do disponível financeiro. Tal cenário pode ter contribuído significativamente para a redução dos exames de PAC em 2020.

Porém, é fundamental ressaltar que os dados disponíveis no DATASUS dependem da inserção ativa dos profissionais. Assim, pode-se inferir que a base de dados utilizada neste estudo pode não refletir com precisão o número real de exames realizados, uma vez que a inclusão de informações por profissionais não ocorre de forma sistemática.

Em resumo, a oferta de serviços de saúde, incluindo os exames de PAC, representa um desafio complexo, que envolve múltiplos fatores. É necessário considerar a distribuição de profissionais de saúde, o financiamento público, a infraestrutura das unidades de saúde e o impacto da pandemia na disponibilidade desses serviços.

Ressalta-se que o exame de PAC é essencial para identificar alterações no processamento auditivo central, as quais podem afetar a aprendizagem, comunicação e qualidade de vida dos indivíduos. Portanto, é imprescindível assegurar que esses serviços de saúde estejam disponíveis e acessíveis para todos, independentemente da região em que se encontram.

É crucial que profissionais de saúde e instituições responsáveis pela gestão dos serviços de saúde continuem monitorando a realização de exames de PAC e outras avaliações audiológicas, garantindo que a notificação das ocorrências de testes e exames seja realizada de maneira eficaz. A disponibilidade desses serviços deve ser assegurada, respeitando todas as medidas de segurança recomendadas pelas autoridades de saúde pública.

5 CONCLUSÃO

Com base na análise dos dados obtidos a partir da plataforma DATASUS, pode-se concluir que houve uma queda significativa no número de exames registrados no Brasil durante o período da pandemia de COVID-19. Essa redução é provavelmente atribuída às medidas de distanciamento social implementadas e à subnotificação de exames no sistema.

As análises estatísticas indicam uma diminuição acentuada no ano de pico da pandemia (2020), seguida por uma estabilização nos níveis de exames realizados em 2021 e 2022. Notavelmente, a região Nordeste se destacou ao registrar o maior número de procedimentos realizados em todos os períodos analisados, enquanto a região Norte apresentou a menor quantidade de notificações.

Além disso, a pesquisa evidenciou uma estagnação no número de profissionais atuantes no serviço público de saúde, o que pode ter impactado a disponibilidade de atendimento e contribuído para a limitação do acesso aos serviços de fonoaudiologia, especialmente em um contexto marcado por um aumento da demanda.

Esses achados ressaltam a necessidade urgente de fortalecer a notificação sistemática dos exames de saúde auditiva e a capacitação dos profissionais de fonoaudiologia. É fundamental que medidas sejam implementadas para garantir a acessibilidade e a qualidade dos serviços de saúde auditiva, especialmente em um cenário pós-pandêmico, onde a recuperação deve ser priorizada. 

REFERÊNCIAS
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1Centro Universitário do Distrito Federal- UDF. orcid: https://orcid.org/0000-0003-4322-5931

2Centro Universitário Planalto do Distrito Federal-UNIPLAN Orcid: https://orcid.org/0009-0004-7983-3589

3Centro Universitário Planalto do Distrito Federal-UNIPLAN.  Orcid: https://orcid.org/0009-0006-9377-4938

4Centro Universitário do Distrito Federal- UDF. Orcid: https://orcid.org/0000-0003-4617-3516