ÓBITOS POR NEOPLASIA DE PÊNIS: 2000 A 2023

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202503262202


Isabel Longo de Oliveira Monteiro, Carolina Araújo Silva, Lígia Luana Freire da Silva, David da Silva Roza, Lucas de Sousa Macedo, Ana Laura Vieira Limirio, Maria Clara Souza Pinheiro 


INTRODUÇÃO

A neoplasia peniana, embora rara, é uma condição importante devido ao seu impacto na saúde masculina. O câncer de pênis é mais comum em países em desenvolvimento, com fatores de risco como infecção por HPV, fimose e higiene inadequada. O carcinoma espinocelular é o tipo histológico mais frequente. Quando diagnosticado precocemente, o prognóstico é mais favorável, com opções de tratamento que variam de ressecções locais a penectomia, dependendo do estágio da doença. OBJETIVOS: O objetivo do presente trabalho foi realizar o levantamento epidemiológico acerca dos óbitos por neoplasia de pênis, entre o período de 2000 a 2023 no Brasil. METODOLOGIA: O presente estudo trata-se de um estudo epidemiológico ecológico, descritivo, transversal e retrospectivo. Os dados foram coletados a respeito dos casos novos notificados no Sistema de Informação de Mortalidade (SIM). A coleta dos dados foi realizada em 2025, sendo selecionados os dados relativos aos óbitos por neoplasia de pênis. Utilizou-se as variáveis: número de óbitos por região, distribuição anual, faixa etária, raça, estado civil e escolaridade (CID C60). RESULTADOS: Entre 2000 a 2023 houveram 8.560 óbitos devido a neoplasia de pênis no Brasil. Sendo a distribuição dos casos por região: i) Região Norte: 767 (9%), ii) Região Nordeste: 2.863 (33,4%); iii) Região Sudeste: 3.098 (36,2%), iv) Região Sul: 1.155 (13,5%) e v) Região Centro-Oeste: 677 (7,9%). Os anos de 2023, 2022 e 2021 foram os anos com maior número de óbitos, respectivamente. A distribuição racial dos óbitos se deu: i) branca: 3.866 (45,1%), 2) preta: 609 (7,1%), 3) amarela: 29 (0,3%), 4) parda: 3.588 (41,9%), 5) indígena: 38 (0,4%), 6) ignorado: 430 (5,2%). A faixa etária dos óbitos se deu: i) 1 a 4 anos: 1 (0,01%), ii) 10 a 19 anos: 6 (0,09%), iii) 20 a 29 anos: 124 (1,4%), iv) 30 a 39 anos: 543 (6,3%), v) 40 a 49 anos: 1.154 (13,5%), vi) 50 a 59 anos: 1.751 (20,4%), vii) 60 a 69 anos: 1.882 (22%), viii) 70 a 79 anos: 1.633 (19,1%), ix) 80 anos e mais: 1.457 (17%), x) idade ignorada: 9 (0,1%). O estado civil dos óbitos se deu: 1) solteiro: 2.181 (25,5%), 2) casado: 4.044 (47,2%), 3) viúvo: 911 (10,6%), 4) separado judicialmente: 463 (5,4%), 5) em branco: 961 (11,3%). O grau de escolaridade dos pacientes se deu: i) nenhuma: 1.707 (20%), ii) 1 a 3 anos: 2.049 (23,9%), iii) 4 a 7 anos: 1.737 (20,3%), iv) 8 a 11 anos: 861 (10%), v) 12 anos e mais: 243 (2,8%), vi) ignorado 1.963 (22,9%). CONCLUSÃO: Entre 2000 a 2023 houveram 8.560 óbitos devido a neoplasia de pênis no Brasil. Sendo a Região Sudeste com o maior número de óbitos (36,2%). Em relação a distribuição anual, os anos de 2023, 2022 e 2021 foram os anos com maior número de óbitos, respectivamente. Sendo a raça branca e parda, as raças com maior número de óbitos. A faixa etária é de 60 a 69 anos com maior número de óbitos. O estado civil (47,2%) e escolaridade de 1 a 3 anos (23,9%) com o maior número de óbitos no período analisado.

Palavras-Chave: “Pênis”; “Neoplasia” ; “Epidemiologia”. 

INTRODUÇÃO

A neoplasia peniana, embora rara, é uma condição importante devido ao seu impacto na saúde masculina. O câncer de pênis é mais comum em países em desenvolvimento, com fatores de risco como infecção por HPV, fimose e higiene inadequada. O carcinoma espinocelular é o tipo histológico mais frequente. Quando diagnosticado precocemente, o prognóstico é mais favorável, com opções de tratamento que variam de ressecções locais a penectomia, dependendo do estágio da doença.

A conscientização sobre essa condição é fundamental para a prevenção e o diagnóstico precoce, especialmente em áreas com altas taxas de infecção por HPV. Além disso, a melhoria das estratégias de tratamento tem potencial para aumentar a qualidade de vida dos pacientes.

OBJETIVOS

O objetivo do presente trabalho foi realizar o levantamento epidemiológico acerca dos óbitos por neoplasia de pênis, entre o período de 2000 a 2023 no Brasil.

METODOLOGIA

O presente estudo trata-se de um estudo epidemiológico ecológico, descritivo, transversal e retrospectivo. Os dados foram coletados a respeito dos casos novos notificados no Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), os quais encontram-se disponíveis no banco de dados online do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). 

A análise estatística dos dados foi realizada por meio do uso de frequências relativas com auxílio do programa Excel e o Tabwin 3.6. 

A coleta dos dados foi realizada em 2025, sendo selecionados os dados relativos aos óbitos por neoplasia de penis. Utilizou-se as variáveis: número de óbitos por região, distribuição anual, faixa etária, raça, estado civil e escolaridade (CID C60). 

Em conformidade com a Resolução no 4661/2012, como o estudo trata-se de uma análise realizada por meio de banco de dados secundários de domínio público, este não foi encaminhado para apreciação de um Comitê de Ética em Pesquisa.

RESULTADOS

Entre 2000 a 2023 houveram 8.560 óbitos devido a neoplasia de penis no Brasil. Sendo a distribuição dos casos por região: i) Região Norte: 767 (9%), ii) Região Nordeste: 2.863 (33,4%); iii) Região Sudeste: 3.098 (36,2%), iv) Região Sul: 1.155 (13,5%) e v) Região Centro-Oeste: 677 (7,9%) (Tabela 1). A Região Sudeste foi a com o maior número de óbitos. 

Tabela 1. Distribuição dos óbitos por neoplasia de pênis, no Brasil, entre 2000 a 2023. 

Fonte: Datasus.

A distribuição anual dos óbitos se deu: 1) 2000: 208 (2,4%), 2) 2001: 209 (2,4%), 3) 2002: 223 (2,6%), 4) 2003: 237 (2,7%), 5) 2004: 268 (3,1%), 6) 2005: 246 (2,9%), 7) 2006: 277 (3,2%), 8) 2007: 295 (3,4%), 9) 2008: 328 (3,8%), 10) 2009: 307 (3,6%), 11) 2010: 363 (4,2%), 12) 2011: 328 (3,8%), 13) 2012: 373 (4,3%), 14) 2013: 396 (4,6%), 15) 2014: 386 (4,5%), 16) 2015: 402 (4,7%), 17) 2016: 408 (4,7%), 18) 2017: 444 (5,2%), 19) 2018: 454 (5,3%), 20) 2019: 458 (5,3%), 21) 2020: 463 (5,4%), 22) 2021: 478 (5,6%), 23) 2022: 482 (5,6%), 24) 2023: 525 (6,1%) (Gráfico 1). Sendo os anos de 2023, 2022 e 2021 os anos com maior número de óbitos, respectivamente. 

Gráfico 1. Distribuição dos óbitos anualmente por neoplasia de pênis, no Brasil, entre 2000 a 2023. 

Fonte: Datasus.

A distribuição racial dos óbitos se deu: i) branca: 3.866 (45,1%), 2) preta: 609 (7,1%), 3) amarela: 29 (0,3%), 4) parda: 3.588 (41,9%), 5) indígena: 38 (0,4%), 6) ignorado: 430 (5,2%). Sendo a raça branca e parda, as raças com maior número de óbitos (Tabela 2). 

Tabela 2. Distribuição racial dos óbitos por neoplasia de pênis, no Brasil, entre 2000 a 20

A faixa etária dos óbitos se deu: i) 1 a 4 anos: 1 (0,01%), ii) 10 a 19 anos: 6 (0,09%), iii) 20 a 29 anos: 124 (1,4%), iv) 30 a 39 anos: 543 (6,3%), v) 40 a 49 anos: 1.154 (13,5%), vi) 50 a 59 anos: 1.751 (20,4%), vii) 60 a 69 anos: 1.882 (22%), viii) 70 a 79 anos: 1.633 (19,1%), ix) 80 anos e mais: 1.457 (17%), x) idade ignorada: 9 (0,1%) (Tabela 3). Sendo a faixa etária de 60 a 69 anos com maior número de óbitos. 

Tabela 3. Distribuição por faixa etária dos óbitos por neoplasia de pênis, no Brasil, entre 2000 a 2023. 

O estado civil dos óbitos se deu: 1) solteiro: 2.181 (25,5%), 2) casado: 4.044 (47,2%), 3) viúvo: 911 (10,6%), 4) separado judicialmente: 463 (5,4%), 5) em branco: 961 (11,3%) (Tabela 4). 

Tabela 4. Distribuição por faixa etária dos óbitos por neoplasia de pênis, no Brasil, entre 2000 a 2023. 

O grau de escolaridade dos pacientes se deu: i) nenhuma: 1.707 (20%), ii) 1 a 3 anos: 2.049 (23,9%), iii) 4 a 7 anos: 1.737 (20,3%), iv) 8 a 11 anos: 861 (10%), v) 12 anos e mais: 243 (2,8%), vi) ignorado 1.963 (22,9%) (Gráfico 2). Sendo a escolaridade de 1 a 3 anos a mais prevalente. 

Gráfico 2. Distribuição dos óbitos anualmente por neoplasia de pênis, no Brasil, entre 2000 a 2023. 

DISCUSSÃO:

A neoplasia peniana, embora rara, apresenta dados de incidência e mortalidade que revelam importantes desigualdades regionais e sociais no Brasil. De 2000 a 2023, o país registrou um total de 8.560 óbitos devido a câncer peniano, com a Região Sudeste sendo a mais afetada, acumulando 36,2% dos casos. Este dado está em consonância com a literatura, que aponta uma maior concentração de casos nas áreas urbanas e regiões mais desenvolvidas, como é o caso do Sudeste, embora em países em desenvolvimento como o Brasil, as taxas sejam mais altas em regiões menos favorecidas (Giuliano et al., 2018). A Região Nordeste, com 33,4% dos óbitos, reflete um desafio adicional relacionado à falta de acesso a cuidados médicos adequados e à menor adesão à vacinação contra o HPV, um fator de risco conhecido para o câncer peniano (Rogers & Hansel, 2019).

A distribuição racial dos óbitos também revela desigualdades significativas. A maior parte dos óbitos ocorreu entre indivíduos brancos (45,1%) e pardos (41,9%), o que pode refletir as características demográficas da população brasileira, mas também indica uma disparidade no acesso ao diagnóstico precoce e ao tratamento entre diferentes grupos raciais. Estudos anteriores sugerem que, enquanto a incidência de câncer peniano é maior entre os homens de grupos socioeconômicos mais baixos, as disparidades raciais e de classe social podem amplificar esses índices, devido a fatores como a falta de acesso à saúde e a educação em saúde pública (Liu et al., 2020).

Em relação à faixa etária, a maior mortalidade ocorreu entre homens de 50 a 69 anos, com um pico aos 60-69 anos (22% dos casos), seguido de 70 a 79 anos (19,1%). Isso é consistente com estudos que demonstram que o câncer peniano é predominantemente diagnosticado em adultos mais velhos, muitas vezes após anos de exposição a fatores de risco como a infecção crônica por HPV e condições preexistentes como fimose (Rogers & Hansel, 2019). Essa faixa etária também reflete uma tendência de maior morbidade associada à falta de rastreamento e diagnóstico precoce.

Em relação ao estado civil, a maioria dos óbitos ocorreu entre os casados (47,2%), seguido pelos solteiros (25,5%). Esse dado pode estar relacionado ao perfil familiar dos pacientes, onde homens casados podem ter maior probabilidade de buscar tratamento quando sintomáticos, embora a falta de conhecimento e o estigma associados à doença ainda sejam barreiras significativas para a procura precoce por cuidados médicos. A literatura também sugere que a falta de suporte social e familiar pode impactar negativamente o prognóstico desses pacientes (Giuliano et al., 2018).

No que diz respeito ao grau de escolaridade, observamos que uma parcela significativa dos óbitos ocorreu entre aqueles com baixa escolaridade, com 43,9% dos casos ocorrendo entre indivíduos com até 7 anos de estudo. Esse dado corrobora estudos que indicam que a baixa escolaridade está intimamente ligada à maior incidência de cânceres relacionados ao HPV, incluindo o câncer peniano. A falta de acesso à informação sobre prevenção e a baixa adesão a campanhas de vacinação contra o HPV são frequentemente mais pronunciadas entre pessoas com menor escolaridade, o que contribui para a maior prevalência da doença em populações vulneráveis (Liu et al., 2020).

A análise da distribuição anual dos óbitos revela uma tendência crescente ao longo dos anos, com um aumento notável nos últimos três anos, com 525 óbitos registrados em 2023 (6,1% do total). Esse aumento pode ser um reflexo de vários fatores, incluindo o aumento da conscientização sobre a doença e a melhoria nos registros de dados, mas também pode refletir uma real piora no acesso ao diagnóstico precoce e ao tratamento, agravada pela pandemia de COVID-19. A interrupção de serviços médicos e a sobrecarga nos sistemas de saúde durante a pandemia certamente afetaram negativamente a detecção e o tratamento de doenças como o câncer peniano (Zhao et al., 2020). 

Os dados apresentados demonstram a complexidade do cenário epidemiológico da neoplasia peniana no Brasil, evidenciando disparidades regionais, raciais e socioeconômicas. As taxas de mortalidade estão fortemente associadas a fatores como a falta de acesso ao diagnóstico precoce, a educação em saúde e a vacinação contra o HPV, o que reforça a necessidade de políticas públicas focadas em saúde preventiva, educação e diagnóstico precoce. Além disso, a crescente tendência de óbitos nos últimos anos destaca a urgência de estratégias para melhorar o acesso à saúde e reduzir as desigualdades no tratamento e na conscientização sobre a doença.

CONCLUSÃO:

Entre 2000 a 2023 houveram 8.560 óbitos devido a neoplasia de pênis no Brasil. Sendo a Região Sudeste com o maior número de óbitos (36,2%). Em relação a distribuição anual, os anos de 2023, 2022 e 2021 foram os anos com maior número de óbitos, respectivamente. Sendo a raça branca e parda, as raças com maior número de óbitos. A faixa etária é de 60 a 69 anos com maior número de óbitos. O estado civil (47,2%) e escolaridade de 1 a 3 anos (23,9%) com o maior número de óbitos no período analisado. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
  1. Giuliano, A. R., et al. (2018). “Human papillomavirus and penile cancer.” Urologic Oncology: Seminars and Original Investigations, 36(9), 515-523. https://doi.org/10.1016/j.urolonc.2018.04.015
  1. Liu, D., et al. (2020). “Risk factors and prognosis of penile cancer.” American Journal of Clinical Oncology, 43(2), 152-157. https://doi.org/10.1097/COC.0000000000000709.
  1. Rogers, L., & Hansel, D. (2019). “Penile Cancer: A Review and Update.” Journal of Urology, 202(3), 501-509. https://doi.org/10.1016/j.juro.2019.03.115.
  1. Zhao, Y., et al. (2020). “Impact of COVID-19 on cancer diagnosis and treatment.” Lancet Oncology, 21(6), 710-713. https://doi.org/10.1016/S1470-2045(20)30324-9