ÓBITOS POR HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA E PREVALÊNCIA DE OBESIDADE NO BRASIL

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8125100


Guilherme Japiassú de Alencar;
Laércio Pol-Fachin.


RESUMO

Introdução: A obesidade é uma doença crônica grave que apresenta como principal característica o acúmulo exagerado de gordura corporal, responsável por comprometer a saúde do indivíduo. A hipertensão arterial é uma condição em que a pressão arterial se mantém frequentemente acima de 140/90 mmHg. Esta doença não apresenta cura, porém o uso de medicamentos permite o tratamento. Objetivo: Avaliar a prevalência de obesidade e hipertensão e sua relação com gênero e idade no Brasil nos anos de 2011 a 2021, considerando o número de óbitos. Os dados epidemiológicos foram obtidos no banco de dados do Departamento de Informática do SUS (DATASUS). Para a realização do estudo foram incluídos os dados referentes a pacientes com idade de 20 a 89 + anos, cujo diagnóstico contemplado na categoria de Hipertensão ou obesidade. Resultados: No que se refere ao número de óbitos por hipertensão o estudo identificou dados de 297.171 óbitos por hipertensão nos anos de 2011 a 2021. No ano de 2011, foi constatado um total de óbitos de 23.223 por hipertensão. Em relação à obesidade, foram identificados dados de 2,8 milhões de casos associados a essa patologia na última década. Deste total, 62,5% dos óbitos foram em mulheres, e 47,5% em homens. Conclusão: O estudo sugere que a obesidade é mais comum no sexo feminino e em pessoas com mais de 50 anos, número de óbitos por hipertensão de 2011 a 2021, e que desse total a número maior entre as mulheres que os homens.

PALAVRAS CHAVES: Obesidade. Hipertensão. Datasus. Óbitos

ABSTRACT

Introduction: Obesity is a serious chronic disease that presents as its main characteristic the exaggerated accumulation of body fat, responsible for compromising the health of the individual. High blood pressure is a condition where blood pressure is often above 140/90 mmHg. This disease has no cure, but the use of medications allows treatment. Objetive: Evaluate the prevalence between obesity and hypertension and its relationship with gender and age in Brazil in the years 2011 to 2021, considering the number of deaths. Epidemiological data were obtained from the database of the Department of Informatics of SUS (DATASUS). For the accomplishment of the study were included the data referring to patients aged from 20 to 89 + years, whose diagnosis contemplated in the category of Hypertension or obesity. Results: Regarding the number of deaths from hypertension, the study identified data from 297,171 deaths from hypertension in the years 2011 to 2021. In 2011, a total of 23,223 deaths due to hypertension were found. Regarding obesity, data from 2.8 million cases associated with this pathology in the last decade were identified. Of this total, 62.5% of the deaths were in women, and 47.5% in men. Conclusion: The study suggests that obesity is more common in females and people over 50, the number of deaths from hypertension from 2011 to 2021, and that this total is higher among women than men.

KEYWORDS: Obesity. Hypertension. Datasus. Deaths

1 INTRODUÇÃO

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2020, aproximadamente 2,3 bilhões de adultos em todo o mundo estavam com excesso de peso, dos quais mais de 650 milhões eram classificados como obesos. Esses números representam um aumento significativo em comparação com décadas anteriores e destacam a crescente prevalência da obesidade como um problema de saúde global.

É considerado como excesso de peso o índice de massa corporal (IMC) maior do que 25. A pessoa obesa tem IMC maior do que 30. O IMC é calculado pelo peso em quilograma dividido pelo quadrado da altura em metros. De acordo com a Organização, a avaliação antropométrica nutricional de adultos deve ser feita a partir da relação entre peso e altura. Para a OMS, quem tem o Índice de Massa Corporal (IMC) abaixo de 18,5 kg/m² pode ser classificado com déficit de peso. Já os que têm o IMC igual ou acima de 25kg/m² podem ter excesso de peso e, igual ou acima de 30 kg/m², obesidade (OMS, 2020).

A obesidade é uma doença crônica grave que apresenta como principal característica o acúmulo exagerado de gordura corporal, responsável por comprometer a saúde do indivíduo. Esse acúmulo pode ser resultado, por exemplo, de um consumo excessivo de calorias ou até falta de exercícios físicos. Entretanto, apesar do estilo de vida ser um fator importante, considera-se a obesidade como uma doença de etiologia multifatorial, ou seja, não causada por apenas um fator. Desse modo, podemos dizer que a obesidade é complexa e envolve fatores biológicos, históricos, socioeconômicos, psicossociais e culturais (DIAS JUNIOR; VERONA, 2019).

De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2020, realizada pelo Ministério da Saúde do Brasil, aproximadamente 25,7% da população adulta brasileira (18 anos ou mais) tinha hipertensão arterial. Esse percentual corresponde a cerca de 31,1 milhões de pessoas (BRASIL, 2011).

A hipertensão arterial é uma condição em que a pressão arterial se mantém frequentemente acima de 140/90 mmHg. Esta doença não apresenta cura, porém o uso de medicamentos faz com que a pressão retorne a valores normais. Além do uso de medicamentos, o tratamento inclui melhoria nos hábitos de vida (OMS, 2012).

O excesso de sobrepeso, em conjunto com a obesidade são condições cada vez mais prevalentes em todo o mundo, como também no Brasil. Em 2022, cerca de 6,7 milhões de Brasileiros apresentam a condição de obesidade. Esta enfermidade está associada a várias comorbidades, incluindo a hipertensão. A hipertensão arterial é uma condição crônica que afeta um total de, aproximadamente, de 36 milhões de pessoas no Brasil, e é uma das principais causas de doenças cardiovasculares (LOPES et al., 2018).

A obesidade e a hipertensão são mais comuns em certos grupos demográficos, como pessoas de meia-idade e idosos, e em mulheres. Quando associadas podem causar uma diminuição da qualidade de vida do indivíduo, além de aumentar o risco de mortalidade (SERAVALLE; GRASSI, 2017).

O presente estudo tem por objetivo, avaliar a prevalência entre a obesidade e a hipertensão e sua relação com gênero e idade no Brasil nos anos de 2011 a 2021, considerando o número de óbitos. Através desse estudo prospectivo epidemiológico de dados secundários utilizando dados do Departamento de Informática do SUS (Datasus) e outras bases de dados, para análise de dados secundários.

2 MÉTODOS

Os dados epidemiológicos foram obtidos no banco de dados do Departamento de Informática do SUS (DATASUS). Para a realização do estudo epidemiológico descritivo por meio de dados secundários, foram incluídos os dados referentes a pacientes com idade de 20 a 89 + anos, cujo diagnóstico contemplado na categoria de Hipertensão ou obesidade. As estimativas populacionais foram obtidas a partir dos censos demográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Foram incluídos dados que investigaram a prevalência de óbitos por hipertensão e sua relação com a prevalência da obesidade em diferentes grupos demográficos, incluindo homens e mulheres de diferentes idades, nos anos de 2011 a 2021.

3 RESULTADOS

No que se refere ao número de óbitos por hipertensão, o estudo identificou dados de 297.171 óbitos por hipertensão nos anos de 2011 a 2021. Desse total de casos, 159.807 foram em mulheres e 137.364 casos em homens (Tabela 1). No ano de 2011, foi constatado um total de óbitos de 23.223 por hipertensão. Enquanto em 2021 foi descrito um número de 39.964, ou seja, um aumento de 72,08 % nesses 11 anos. Com passar dos anos, o número de óbitos em ambos os gêneros demonstrou um aumento significativo e crescente, sendo 76,08% no sexo masculino e 68% no sexo feminino, entre os anos de 2011 a 2021.

Tabela 1 – Número total de óbitos no Brasil por hipertensão por gênero

AnoMasculinoFemininoTotal
201110.50112.72223.223
201210.43212.25222.648
201310.87512.62323.498
201410.48812.49322.981
201511.04313.18324.226
201611.78313.35225.135
201711.79013.47325.533
201811.93013.88025.810
201912.08514.47126.556
202017.71219.88537.597
202118.49121.47339.964

Fonte: DataSUS.

Considerando a faixa etária em relação ao número de óbitos foi observado um maior número de óbitos por hipertensão foi a de 80 ou mais anos, seguida pela faixa etária de 70 a 79 anos, mostrando, assim, uma relação diretamente proporcional com a idade e o número de óbitos. A comparação do número de óbitos entre os gêneros também demonstrou na prevalência maior no gênero feminino, com um total de 22.443, correspondendo a um percentual de 7,543%, a mais que o gênero masculino.

Em relação à obesidade, foram identificados dados de 2,8 milhões de casos associados a essa patologia na última década. Deste total, 62,5% dos óbitos foram em mulheres, e 47,5% em homens (Tabela 2). A faixa etária com maior incidência de obesidade no sexo masculino foi a de 35 a 44 anos, seguida pela faixa etária de 45 a 54 anos. No sexo feminino, a maior incidência foi observada na faixa etária de 55 a 64 anos, seguida pela idade entre 45 e 54 anos, demonstrando uma provável correlação com condições fisiológicas da idade, como a menopausa, por exemplo.

Tabela 2 – Percentual de obesos de acordo com o gênero e faixa-etária

18-2431,127,9;34,528,725,6;32,130,027,8;32,4
25-3456,953,1;60,749,346,1;52,553,050,6;55,5
35-4467,764,3;70,855,653,0;58,161,058,9;63,0
45-5465,061,5;68,362,760,3;65,064,061,7;65,7
55-6463,459,9;66,863,060,5;65,063,061,1;65,0
≥6560,657,8;63,459,357,5;61,059,858,2;61,3

Fonte: Inquérito Telefônico (Vigitel), 2006-2019

4 DISCUSSÃO

Os dados obtidos através da pesquisa apontam que a hipertensão e a obesidade são mais comuns em mulheres do que em homens no Brasil, e que a faixa etária com maior incidência é a de 80 a mais anos para a hipertensão, e de 45 a 54 anos para a obesidade.

O estudo evidencia também o extenso número de óbitos por uma dessas condições, ou até mesmo as duas patologias associadas. Indica também um elevado crescimento percentual de brasileiros vem a óbito por quaisquer destas enfermidades. Isso sugere a necessidade de medidas preventivas para amparar a população como um todo, uma vez que essas condições podem ser evitadas com a mudança de estiolo de vida.

Em pensamento convergente com os resultados, a faixa etária a partir dos 44 ansos que deve se tornar alvos de medidas preventivas mais intensas e de tratamento mais efetivos para evitar ou controlar a obesidade e a hipertensão, evitando assim a diminuição percentual do número crescente de óbitos no Brasil.

Os dados encontrados alertam, em síntese, para o aumento das doenças crônicas ligadas à obesidade: diabetes, hipertensão arterial e doenças cardiovasculares, as quais representam dois terços das mortes do mundo (BURGOS et al., 2014). Dados da América Latina mostram que tanto homens quanto mulheres do México, apresentam maior incidência do que nos Estados Unidos. Unindo essa informação com resultados de um estudo inédito, realizado na Ásia, o especialista afirmou que a incidência de hipertensão é maior nos povos não caucasianos (BURGOS et al., 2014).

Em relação à obesidade, essa apresenta ser mais frequente nos Estados Unidos, seguido da Inglaterra. Como principais fatores que contribuem para o desenvolvimento da obesidade e hipertensão, são considerados: genética e o meio ambiente (hábitos alimentares e sedentarismo), o tabaco, o baixo peso ao nascer e o sobrepeso.

A agência sanitária das Nações Unidas lembra que, no mundo, doenças cardiovasculares matam anualmente 17 milhões de pessoas, sendo que, desse total, 9,4 milhões de óbitos estão ligados à pressão alta. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH, 2023). A doença atinge, em média, 25% da população brasileira, chegando a mais de 50% na terceira idade e, surpreendentemente, a 5% dos 70 milhões de crianças e adolescentes no Brasil, A hipertensão causa anualmente a morte de 9,4 milhões de pessoas no mundo e é responsável por 45% dos ataques cardíacos e 51% dos derrames cerebrais (OMS, 2012).

Segundo Roger e colaboradores (2011), aproximadamente 70% de adultos americanos são obesos ou apresentam sobrepeso. Dada a importância da relação fisiopatológica entre hipertensão arterial e peso, pode-se esperar um aumento significativo na prevalência da hipertensão com o passar dos anos se a tendência do acréscimo de ganho de peso na população não for estabilizada ou revertida.

Dados recentes da NHANES (2019), indicam que a prevalência de hipertensão entre indivíduos obesos, com um IMC ≥ 30 kg/m², é de 42,5% comparada com 27,8% para indivíduos com sobrepeso (IMC de 25,0 – 29,9 kg/m²) e 15,3% para aqueles com IMC < 25 kg/m².

Além disso, os resultados destacam a importância de intervenções de estilo de vida, como dieta saudável e atividade física regular, para prevenir ou controlar a obesidade e a hipertensão

CONCLUSÃO

O pressente estudo epidemiológico descritivo sugere que a obesidade é mais comum no sexo feminino e em pessoas com mais de 50 anos no Brasil. No que se refere ao número de óbitos por hipertensão o estudo identificou dados de 297.171 óbitos por hipertensão nos anos de 2011 a 2021, e que desse total a número maior entre as mulheres que os homens.

Esclarece também o crescimento elevado no percentual de pessoas que apresentam essas doenças. Esses resultados destacam o número elevado de pessoas que portam essas enfermidades, além da importância de medidas preventivas e de tratamento mais efetivas para evitar ou controlar a obesidade e a hipertensão, especialmente para mulheres pós-menopausa.

REFERÊNCIAS

BRASIL Ministério da Saúde. Plano de ações estratégicas para o enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) no Brasil 2011-2022 [Internet]. Brasília, DF: MS; 2011[acesso 10 nov. 2019]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/plano_acoes_enfrent_dcnt_2011.pdf

BURGOS, P F MA obesidade como fator de risco para a hipertensão. Rev Bras Hipertens vol. 21(2):68-74, 2014.

DIAS JUNIOR CS, VERONA AP. Excesso de peso, obesidade e educação no Brasil. Saúde (Santa Maria). 2019;45(2):1-8. doi: http://doi.org/10.5902/2236583432482

LOPES RD, BARROSO WKS, BRANDAO AA, BARBOSA ECD, MALACHIAS MVB, GOMES MM, et al. The First Brazilian Registry of Hypertension. Am Heart J. 2018 Nov;205:154-7.

NHANES .NATIONAL HEALT AND NUTRITION EXAMINATION SURVERY diponivel em; NHANES – National Health and Nutrition Examination Survey Homepage (cdc.gov)

OMS. Organização Mundial da Saúde. Estatísticas da Saúde Mundial 2012. Geneva: OMS; 2012

OMS. Organização Mundial da Saúde. Obesity and overweight [Internet]. 2020 Apr 1 [acesso 7 nov. 2019]. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/obesity-and-overweight

ROGER V.L, et al. Heart disease and stroke statistics–2011 update: a report from the American Heart Association. Circulation. 2011;123:e18-e20

SBH. SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO disponível em: www.sbh.org.br

SERAVALLE G, GRASSI G. Obesity and Hypertension. Pharmacol Res. 2017;122:1-7. doi: 10.1016/j.phrs.2017.05.013.


Guilherme Japiassú de Alencar
Acadêmico de Medicina pelo Centro Universitário CESMAC
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Laércio Pol-Fachin
Doutor em Biologia Celular e Molecular pelo Centro de Biotecnologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
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