OBESIDADE: FATORES SOCIAIS, ECONÔMICOS E CULTURAIS NA PREVALÊNCIA DE SOBREPESO ENTRE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202411301034


RESENDE, Isabel de Castro1
DUARTE, Manuella Simplicio Viana1
DE CARVALHO, Paula Simplicio Viana2
DE CARVALHO, Sara Simplicio Viana2
DE CARVALHO, Clara Simplício Viana3
VIANA, Magda Rogéria Pereira4
DA SILVA, André Gonçalves4


RESUMO

Cerca de 30% dos universitários apresentam sobrepeso ou obesidade, com maior prevalência entre os homens, o que aumenta o risco de doenças crônicas, como hipertensão e diabetes. Este estudo teve como objetivo identificar os fatores sociais, econômicos e culturais que contribuem para a prevalência de sobrepeso e obesidade entre estudantes universitários. A pesquisa trata-se de uma revisão integrativa descritiva, abrangendo artigos publicados entre 2019 e 2024, que investigavam essa prevalência com foco em aspectos sociais, econômicos e culturais. Foram excluídos artigos fora do período, dissertações, estudos de caso, intervenções farmacológicas e duplicados. Com base na pesquisa, foram selecionados oito artigos relevantes. Os resultados indicam que a obesidade entre universitários é influenciada por padrões alimentares inadequados, sedentarismo e fatores culturais, com variações nas taxas de prevalência em diferentes regiões. A discussão abordou dois tópicos principais: “Interseccionalidade e obesidade: fatores sociais, econômicos e culturais” e “A Prevalência da Obesidade entre Estudantes Universitários”. Conclui-se que a obesidade entre estudantes universitários é influenciada por uma gama de fatores sociais, econômicos e culturais, indicando a necessidade de uma abordagem interseccional para compreender as desigualdades nessa prevalência. Foram evidenciados altos índices de obesidade associados a padrões alimentares inadequados e falta de atividade física, com fatores como acessibilidade a alimentos saudáveis, pressão acadêmica e influências culturais impactando de maneira significativa as escolhas e os comportamentos de saúde dos jovens.

Palavras-chave: Obesidade. Estudantes. Fatores de risco.

INTRODUÇÃO

A obesidade tem se tornado um dos maiores desafios de saúde pública global, conforme destacado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que a define como o acúmulo excessivo de gordura corporal prejudicial à saúde (OMS, 2024). Projeções indicam que, até 2030, aproximadamente 57% da população adulta mundial poderá estar com sobrepeso ou obesidade, refletindo a crescente complexidade desse problema. Esse aumento não se deve apenas a fatores biológicos, mas também a mudanças significativas nos padrões de alimentação e atividade física. Os jovens adultos, especialmente os estudantes universitários, são particularmente vulneráveis a essas transformações, colocando esse grupo no centro das discussões sobre prevenção e intervenção (Oliveira et al., 2020).

O período universitário representa uma fase crucial de transição para a independência, onde os jovens passam a ter maior autonomia sobre suas escolhas alimentares e hábitos diários. Contudo, essa liberdade muitas vezes coincide com o desenvolvimento de comportamentos pouco saudáveis, como dietas inadequadas e redução da atividade física. Estima-se que cerca de 30% dos universitários estejam com sobrepeso ou obesidade, com uma prevalência mais elevada entre os homens. Esse aumento gradual de peso ao longo dos anos acadêmicos eleva o risco de doenças crônicas, como hipertensão e diabetes, com consequências para a saúde a longo prazo (Peltzer et al., 2014).

Além dos aspectos comportamentais, a pressão social em torno da imagem corporal impacta significativamente a vida dos universitários. Muitos jovens se deparam com expectativas sociais relacionadas à aparência física, o que frequentemente leva à insatisfação corporal e à adoção de hábitos alimentares inadequados. A busca por um padrão estético alinhado às normas sociais pode desencadear dietas restritivas ou práticas prejudiciais, agravando o risco de ganho de peso e afetando negativamente a saúde mental e física (Sidek; Hanapiah, 2018).

Essa situação é ainda mais complexa quando se considera a interseccionalidade, que destaca como fatores como classe social, raça, gênero e orientação sexual interagem e influenciam as experiências individuais com a obesidade e os comportamentos alimentares. Dessa forma, compreender essa interseccionalidade é fundamental para abordar as desigualdades no acesso à informação e aos recursos para um estilo de vida saudável (Oliveira et al., 2020).

Esse cenário não é exclusivo de estudantes de áreas gerais, mas também afeta aqueles da área da saúde, que, mesmo com maior conhecimento sobre os riscos do sobrepeso e da obesidade, não estão imunes a esses desafios. A pressão acadêmica, aliada à necessidade de gerenciar o bem-estar físico e mental, cria um ambiente em que hábitos prejudiciais se tornam comuns, mesmo entre aqueles que deveriam ter maior conscientização sobre o tema. Isso evidencia a complexidade dos fatores que influenciam o desenvolvimento da obesidade entre universitários (Sidek; Hanapiah, 2018).

Diante desse contexto, este estudo visa identificar os fatores sociais, econômicos e culturais que contribuem para a prevalência de sobrepeso e obesidade entre estudantes universitários.

MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa trata-se de uma revisão integrativa descritiva, em que foi escolhida por permitir a síntese de diferentes estudos científicos, proporcionando uma visão abrangente sobre o tema e possibilitando a identificação de lacunas nas pesquisas. A estrutura metodológica seguiu as etapas descritas por Teixeira et al., (2013), que incluem a definição da questão de pesquisa, seleção de amostras, análise dos achados e interpretação dos resultados.

A questão norteadora da pesquisa foi formulada com base na estratégia PICo, sendo: (P) estudantes universitários, (I) fatores de risco para obesidade (Co) publicações científicas. A questão que guiou a revisão foi: “Quais são os fatores sociais, econômicos e culturais que influenciam a prevalência de sobrepeso e obesidade entre estudantes universitários?”. Esse direcionamento garantiu que os estudos selecionados abordassem tanto a população alvo quanto os fatores determinantes no desenvolvimento do sobrepeso e obesidade neste grupo.

A busca bibliográfica foi realizada nas bases de dados Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE) via PubMed, Base de Dados em Enfermagem (BDENF) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) via Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Os descritores utilizados seguiram os Medical Subject Headings (MeSH) e os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) com combinações de termos como “Obesidade AND estudantes AND fatores de risco”, utilizando operadores booleanos para refinar os resultados. Foram considerados apenas artigos publicados entre 2019 e junho de 2024, em português ou inglês e disponíveis integralmente.

Os critérios de inclusão abrangeram artigos que investigassem diretamente a prevalência de sobrepeso e obesidade entre universitários, com foco nos fatores sociais, econômicos e culturais. Excluíram-se artigos fora do período de estudo, dissertações, estudos de caso, intervenções exclusivamente farmacológicas e artigos repetidos nas bases de dados. A busca resultou em 150 artigos identificados, dos quais 80 foram excluídos por não atenderem aos critérios temporais. Após análise dos títulos e resumos, 25 artigos foram selecionados para leitura integral, dos quais 8 foram incluídos na amostra final por atenderem plenamente aos critérios de inclusão.

A análise dos achados foi realizada por meio da leitura detalhada dos artigos selecionados, utilizando-se a abordagem de análise de conteúdo proposta por Bardin (2016). Essa análise permitiu a identificação de características importantes dos estudos, como a prevalência de sobrepeso e obesidade, as influências sociais, econômicas e culturais observadas e os desafios enfrentados pelos universitários nesse contexto. Os resultados foram organizados de forma descritiva e comparativa, possibilitando a identificação de padrões e lacunas na literatura existente.

Diante desses achados, este estudo busca contribuir para uma compreensão mais ampla dos fatores que influenciam a obesidade entre estudantes universitários, ressaltando a importância de considerar o contexto social, econômico e cultural ao desenvolver políticas e estratégias para enfrentar o crescente problema da obesidade nessa população.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram selecionados oito estudos das bases LILACS, BDENF e MEDLINE, de acordo com critérios que incluíram a adequação ao tema, a disponibilidade de acesso integral e gratuito ao texto, a publicação em português, e o recorte temporal dos últimos cinco anos (2019-2024). O Quadro 1 apresenta uma síntese desses estudos, destacando o título, os autores, o periódico de publicação, o ano de publicação e o objetivo de cada pesquisa, que serão abordados e discutidos ao longo do estudo.

Quadro 1 – Descrição detalhada dos estudos incluídos na revisão.

TÍTULO DO ARTIGOAUTORESPERIÓDICOANOOBJETIVO DO ESTUDO
University students’ perceptions and factorscontributing to obesity and overweigh in Southern of Morocco.Boukrim etal.,African Health Sciences2021Determinar a prevalência de carga de peso e fatores associados entre estudantes do ensino superior do sexo feminino.
Risk factors of overweight/obesity-related lifestyles in universitystudents: Results from theEHU12/24 studyTelleria-Arambur u; ArroyoIzagaBritishJournal ofNutrition2022Analisar e discutir como as publicações sobre a obesidade infantil no Brasil.
Overweight and obesity among Brazilian healthcare university students:prevalence and associatedfactorsFilho et al.,Archives of Endocrinolo gy and Metabolism2023Avaliar a prevalência de sobrepeso/obesidade e os fatores associados entre estudantes universitários da área da saúde.
Body image dissatisfaction, nutritional status and weight control strategies amonguniversity undergraduates inLagos: a descriptive cross-sectional studyOlatona et al.,The PanAfricanMedicalJournal2023Determinar a prevalência de insatisfação com a imagem corporal, estado nutricional e estratégias de controle de peso, bem como as relações entre esses parâmetros entre estudantes universitários em Lagos, Nigéria.
Prevalence of Obesity andAssociated Dietary Habits among Medical Students at King Khalid University,Southwestern Saudi Arabia.Mahfo uz et al.,Medicina2024Avaliar a prevalência de obesidade e hábitos alimentares associados entre estudantes de medicina na KingKhalid University, Aseer, Arábia Saudita.
Overweight, Obesity, andAssociated Risk Factors among Students at the Faculty of Medicine, Jazan UniversityAlqassimi et al.,Medicina2024Determinar a prevalência de sobrepeso, obesidade e os fatores de risco associados entre estudantes de medicina na Universidade Jazan, na Arábia Saudita.
The relationship between lifestyle habits and obesityamong students in the Eastern province of Saudi Arabia:using the Arab TeensLifestyle (ATLS) questionnaireWoodman et al.,BMCPublicHealth2024Identificar hábitos de estilo de vida que influenciam as taxas de obesidade entre estudantesuniversitários de 18 a 25 anos na Província Oriental do Reino da Arábia Saudita (KSA) usando o questionário ATLS.
Variables associated with the relationship between obesity and mental health amonguniversity students in the GulfCooperation Council countries: a systematic reviewJoma;Abuzerr;AlsoudiFrontPublicHealth2024Entender as variáveis associadas à relação entre obesidade e saúde mental entre estudantesuniversitários nos países do Conselho de Cooperação do Golfo (GCC).

Fonte: Próprios autores (2024).

Na pesquisa realizada, foram identificados oito artigos que abordam a interseccionalidade e a obesidade entre universitários. Os artigos foram distribuídos entre os anos de 2021 a 2024, sendo 1 artigo de 2021, 1 de 2022, 2 de 2023 e 4 de 2024. A discussão a seguir explorará os fatores sociais, econômicos e culturais que contribuem para a prevalência da obesidade entre estudantes universitários, bem como as interações complexas entre essas variáveis e suas implicações para a saúde e bem-estar dessa população.

3.1 Interseccionalidade e obesidade: fatores sociais, econômicos e culturais

Estudos recentes destacam que a obesidade entre estudantes universitários é um fenômeno que reflete não apenas fatores individuais, mas também coletivos. Boukrim et al., (2021) investiga como estudantes do sul de Marrocos percebem a obesidade, evidenciando que as influências culturais, como os ideais tradicionais de corpo e as transformações nos padrões alimentares, são importantes. A rápida urbanização e a transição nutricional, caracterizadas pelo aumento do consumo de produtos industrializados, têm impactos diretos sobre a saúde dos jovens, limitando o acesso a alimentos saudáveis e promovendo hábitos alimentares saudáveis.

Complementarmente, Telleria-Aramburu e Arroyo-Izaga (2022) exploram a relação entre status socioeconômico e escolhas alimentares no contexto universitário. Eles apontam que estudantes com menor poder aquisitivo recorrem frequentemente a alimentos ultraprocessados, que são mais acessíveis financeiramente. A carga horária intensa e a falta de infraestrutura para atividades físicas também são específicas para comportamentos sedentários, aumentando o risco de obesidade entre esses grupos.

Mesmo entre estudantes da área da saúde, que possuem conhecimento teórico sobre os riscos associados ao sobrepeso, a influência de fatores econômicos e sociais continua a ser um desafio. O estresse econômico, combinado com a falta de acesso a alimentos saudáveis, leva muitos a optar por refeições rápidas e industrializadas, que são ricas em calorias, mas pobres em nutrientes (Filho et al., 2023).

Uma pesquisa de Olatona et al., (2023) reforça a complexidade do problema, ao relatar que a insatisfação com a imagem corporal e as estratégias de controle de peso são moldadas pela pressão cultural que valoriza a magreza. A interseccionalidade revela como essas diversas dimensões afetam a forma desigual dos grupos vulneráveis, tornando urgente a adoção de intervenções que abordem essas disparidades.

Mahfouz et al., (2024) acrescenta que a pressão acadêmica e os hábitos alimentares inadequados são importantes para o aumento do sobrepeso. A transição nutricional nas sociedades em rápida urbanização acentua o consumo de alimentos industrializados, enquanto a redução da atividade física agrava a situação. A valorização de corpos robustos como sinais de saúde e prosperidade em algumas culturas pode encorajar comportamentos alimentares não saudáveis.

Alqassimi et al., (2024) trazem uma perspectiva valiosa sobre como fatores interseccionais moldam a saúde dos jovens universitários. Eles destacam que a falta de tempo para preparar refeições saudáveis, juntamente com a acessibilidade de fast food e alimentos processados, resulta em dietas não saudáveis. Estudantes com recursos financeiros enfrentam barreiras adicionais que dificultam o acesso a alimentos nutritivos, levando-os a optar por alternativas mais baratas e menos saudáveis.

Woodman et al., (2024) exploram ainda mais as influências sociais e econômicas nos comportamentos alimentares e níveis de atividade física, enfatizando que as pressões acadêmicas frequentemente prejudicam a adoção de hábitos saudáveis. A relação entre condições financeiras e escolhas alimentares é evidente, com estudantes de baixo poder aquisitivo mais propensos a consumir alimentos ultraprocessados.

Por fim, o estudo de Joma, Abuzerr e Alsoudi (2024) revela que o estigma associado à obesidade prejudica a saúde mental dos estudantes, especialmente em sociedades onde a aparência física é essencial nas interações sociais. O preconceito e o isolamento enfrentados por estudantes obesos são fatores que prejudicam altos níveis de ansiedade e depressão, sublinhando a necessidade de abordagens que integrem múltiplas dimensões da saúde e do bem-estar.

Em suma, a obesidade é uma condição multifacetada que resulta da interação de fatores sociais, econômicos e culturais. Uma abordagem interseccional é fundamental para entender as desigualdades relacionadas à obesidade, pois permite uma análise aprofundada de como questões de classe social, gênero, etnia e contexto ambiental se entrelaçam, afetando as escolhas e comportamentos de saúde das populações.

3.2 A Prevalência da Obesidade entre Estudantes Universitários

A prevalência de obesidade entre estudantes universitários tem se mostrado preocupante, como demonstrado em diversas pesquisas. O estudo de Joma, Abuzzer e Alsoudi (2024) revelou uma taxa média de prevalência de 29,4% entre estudantes dos países do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG). Esse dado reflete uma tendência global e é alarmante, considerando a correlação estabelecida entre obesidade e problemas de saúde mental, como depressão, ansiedade e baixa autoestima. A obesidade, portanto, não afeta apenas a saúde física, mas também tem um impacto significativo na saúde mental dos jovens universitários, o que reforça a importância de estratégias voltadas para o bem-estar físico e psicológico nessa população.

A pesquisa de Woodman et al., (2024) na Arábia Saudita complementa essa visão, mostrando uma prevalência de 17,1% de obesidade entre os participantes. Embora essa taxa seja inferior à de outros estudos, como o de Joma, Abuzzer e Alsoudi (2024), a análise de fatores comportamentais e nutricionais realizada pelos autores sugere que hábitos alimentares e a falta de atividade física são elementos-chave na compreensão das variações regionais nas taxas de obesidade. A Província Oriental, com uma das maiores taxas de obesidade do país, também se destaca pela alta prevalência de obesidade entre as mulheres (25,5%) em comparação com os homens (17,9%).

Outro estudo relevante é o de Alqassimi et al., (2024), que analisou estudantes de medicina da Universidade Jazan. Com uma prevalência de 28,3% de sobrepeso e obesidade combinados, esse estudo destaca que uma alta proporção de estudantes têm hábitos alimentares inadequados e prática insuficiente de atividades físicas, o que contribui para o aumento da obesidade. A ausência de associações significativas entre a obesidade e fatores sociodemográficos ou comportamentais, exceto a renda familiar, sugere que intervenções mais abrangentes e voltadas para o estilo de vida devem ser implementadas para prevenir a obesidade nesse grupo.

Mahfouz et al., (2024) relataram uma prevalência de 14,6% de obesidade entre os estudantes universitários, números que corroboram com achados de outros estudos internacionais. A similaridade dos dados encontrados entre países como Egito, Índia, Síria e Gana reforça que a obesidade não é apenas uma questão regional, mas sim um problema global que demanda uma abordagem mais efetiva e coordenada para sua prevenção e tratamento.

A correlação entre obesidade e insatisfação com a imagem corporal também é destacada na pesquisa de Olatana et al., (2023), que encontrou uma prevalência de 63,5% de insatisfação corporal entre os participantes. A disseminação global de padrões de beleza que favorecem a magreza, amplificada pelas redes sociais, contribui para esse fenômeno, com implicações significativas na saúde mental dos jovens. Mesmo sem diferença significativa entre os gêneros, essa insatisfação parece ser mais pronunciada entre mulheres em alguns países, como o Brasil e o Irã, onde estudos apontam maior percepção de sobrepeso entre as mulheres e maiores níveis de insatisfação.

No Brasil, Filho et al., (2023) mostraram que a prevalência de obesidade entre estudantes universitários da área da saúde varia de 6,2% a 7,8%, números que, embora menores do que em outras regiões, ainda são significativos. Esse estudo também destaca a associação entre obesidade e fatores como idade, comportamento de fumar e histórico familiar, sugerindo que a obesidade entre estudantes de saúde têm raízes em fatores tanto genéticos quanto comportamentais. As diferenças de gênero também foram evidentes, com homens apresentando maior prevalência de obesidade do que mulheres, uma tendência que foi observada em outros estudos com estudantes universitários.

Por fim, o estudo de Boukrim et al., (2021) analisou a prevalência de obesidade entre estudantes do sexo feminino em instituições de ensino superior e encontrou variações consideráveis dependendo da etnia e do contexto sociocultural. A percepção equivocada de que o sobrepeso é um estado normal entre estudantes saharianos sugere que, além de intervenções médicas, são necessárias ações educativas e culturais para abordar a obesidade de maneira eficaz.

CONCLUSÃO

Este estudo demonstrou que a obesidade entre estudantes universitários é influenciada por uma gama de fatores sociais, econômicos e culturais, indicando a necessidade de uma abordagem interseccional para compreender as desigualdades nessa prevalência. Foram evidenciados altos índices de obesidade associados a padrões alimentares inadequados e falta de atividade física, com fatores como acessibilidade a alimentos saudáveis, pressão acadêmica e influências culturais impactando de maneira significativa as escolhas e os comportamentos de saúde dos jovens.

Além disso, a insatisfação com a imagem corporal e o estereótipo ligado à obesidade revelaram-se questões críticas, afetando tanto a saúde física quanto a mental dos estudantes, o que evidencia a urgência de intervenções abrangentes. O objetivo deste estudo foi atingido ao destacar a importância de ações direcionadas, adaptadas a contextos culturais e sociais específicos.

Para futuras pesquisas, recomendam-se estudos longitudinais que avaliem a eficácia de políticas públicas e intervenções educativas voltadas à promoção de hábitos alimentares saudáveis e à atividade física. Além disso, investigar a relação entre o estigma da obesidade e a saúde mental dos universitários e realizar estudos comparativos entre diferentes contextos regionais e socioculturais poderá fornecer uma base sólida para intervenções de prevenção e apoio à saúde dos jovens.

REFERÊNCIAS

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 1Acadêmica de Medicina – Faculdade Tecnológica de Teresina.
2Acadêmica de Medicina – Centro Universitário Uninovafapi.
3Acadêmica de Medicina – Centro Universitário UNICEUMA
4Docente de Medicina – Faculdade Tecnológica de Teresina