O USO FITOTERÁPICO DA AYAHUASCA NO TRATAMENTO DE TRANSTORNOS MENTAIS: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

THE HERBAL USE OF AYAHUASCA IN THE TREATMENT OF MENTAL DISORDERS: A LITERATURE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202502070111


Lavynia Ferreira Nunes1, Abilio Strutz Medeiros1, Alana Almeida Lobão Lopes1, Laysa Teixeira Reis1, Letícia Rezende de Aguiar1, Vitória Miranda Alves1, Sarah Lais Rocha1, José Walter Lima Prado1


RESUMO

Objetivo: Explorar o uso terapêutico da Ayahuasca em pacientes diagnosticados com transtornos mentais. Métodos: A presente revisão da literatura buscou responder o seguinte problema:  “Quais são as evidências científicas envolvidas no uso terapêutico da ayahuasca no tratamento de transtornos mentais?”. Foram usados os descritores “Mental Disorders”, “Ayahuasca” e “Banisteriopsis” para pesquisa nas bases de dados PubMed/MEDLINE, Periódicos CAPES e BVS, pela seguinte fórmula de pesquisa: “Mental Disorders AND (Ayahuasca OR Banisteriopsis)”. Incluíram-se estudos observacionais e experimentais sobre o uso fitoterápico da ayahuasca no contexto dos transtornos mentais, publicados entre 2019 e 2024, desde que completos. Excluíram-se artigos duplicados, não relacionados ao objetivo e que tangenciasse o tema. Resultados: Dos 201 artigos encontrados, após análise completa 22 satisfizeram os critérios definidos. O uso da ayahuasca no tratamento de transtornos mentais possui um cenário com prognósticos favoráveis, haja vista o mecanismo de ação dos componentes, bem como os efeitos observados nos pacientes. Entretanto, os estudos alertam para a escassez de pesquisas para maior elucidação científica. Considerações finais:  O presente estudo analisa a ayahuasca no tratamento de transtornos mentais, enfatizando os benefícios já observados e relatados. A ayahuasca é promissora, mas necessita de evidências sólidas e mais pesquisas para otimizar benefícios e minimizar riscos no que tange ao uso psicoterapêutico.

Palavras-chave: Ayahuasca; Psicoterapia; Desordens neurológicas.

ABSTRACT

Objective: To explore the therapeutic use of Ayahuasca in patients diagnosed with mental disorders. Methods: This literature review sought to answers the following question: “What is the scientific evidence involved in the therapeutic use of ayahuasca in the treatment of mental disorders?”. The descriptors “Mental Disorders”, “Ayahuasca” and “Banisteriopsis” were used to search the PubMed/MEDLINE, CAPES and BVS databases, using the following search formula: “Mental Disorders AND (Ayahuasca OR Banisteriopsis)”. Observational and experimental studies on the herbal use of ayahuasca in the context of mental disorders, published between 2019 and 2024, were included, as long as they were complete. Duplicate articles, those unrelated to the objective and those that touched on the theme were excluded. Results: Of the 201 articles found, after complete analysis, 22 met the defined criteria. The use of ayahuasca in the treatment of mental disorders has a scenario with favorable prognoses, given the mechanism of action of the components, as well as the effects observed in patients. However, the studies warn of the lack of research for greater scientific elucidation. Final considerations: The present study analyzes ayahuasca in the treatment of mental disorders, emphasizing the benefits already observed and reported. Ayahuasca is promising, but requires solid evidence and more research to optimize benefits and minimize risks regarding psychotherapeutic use.

Keywords: Ayahuasca; Psychotherapy; Neurological disorders.

INTRODUÇÃO

A Ayahuasca é uma bebida proveniente da mistura da decocção da videira Banisteriopsis caapi, conhecida entre as comunidades tradicionais como “cipó” com a Psychotria viridis que são as folhas, a qual vem sendo utilizada há mais de dois milênios por comunidades nativas do baixo Amazonas, territórios que hoje fazem parte de países do norte da América do Sul, como o Brasil (Matos, 2022).

A esta bebida enteógena foi atribuída tanto significado medicinal, quanto espiritual pelas comunidades indígenas, assim o seu consumo passou a ser mais conhecido e promovido a partir da década de 1930 com a grande migração de nordestinos para a selva amazônica, durante o ciclo da borracha (Pontual et al., 2022). A partir desse contato entre diferentes culturas surgiram expressões sincréticas religiosas como o “Santo Daime”, a “Barquinha” e a “União do Vegetal”, manifestações que auxiliaram para sua popularização para além dos espaços da Amazônia e mais atualmente com relatos de uso até mesmo na América do Norte e Europa (James et al., 2022).

Com a popularização desta substância e com o avançar das técnicas científicas descobriu-se que os efeitos psicoativos da Ayahuasca são provenientes da P. viridis, denominada N -dimetiltriptamina (DMT), bem como da B. casspi, chamada de β-carbolinas (Rodríguez et al., 2022). Nesse contexto, devido a interação entre o DMT, agonista dos receptores serotoninérgicos, há a inibição da sua reabsorção, e a β-carbolina, um alcalóide com capacidade inibidora da MAO-A (monoamina oxidase A periférica), realiza a degradação da DMT antes desta alcançar o cérebro, ou seja, ambas apresentam potencial alucinógeno e a segunda eleva a meia-vida da primeira, assim ao final desse processo tem um aumento nas concentrações dos seguintes neurotransmissores parênquima cerebral: serotonina, dopamina, norepinefrina e epinefrina (Perkins et al., 2023).

Há estudos que relacionaram seu uso com resposta para diversos transtornos mentais como: ansiedade, depressão e até mesmo auxiliando na redução do uso e abuso de substâncias. Além disso, observou-se melhora em padrões de personalidade, principalmente relacionadas ao luto e melhora em padrões executivos de pessoas já conhecidamente portadoras de alguma psicopatologia com nível leve de comprometimento (Gonçalves et al, 2023). Nesse sentido, a possível indicação para uso terapêutico melhor relatada é nos casos de transtornos depressivos, pois o aumento da disponibilidade de serotonina promovido pela ação DMT junto aos receptores 5-HT2A e a inibição reversível da MAO-A são dois efeitos amplamente conhecidas (Zeifman et al., 2020).

Para a finalidade ansiolítica os resultados ainda são contraditórios, pois por mais que existam relatos de melhora significativa em aspectos como pânico, desespero e desesperança, ao realizar a avaliação com uso de escalas já validadas como a STAI os resultados não apontam mudanças significativa, seja para melhora ou piora dos quadros ansiosos, ainda assim são consideradas alterações positivas em aspectos da personalidade (Perkins et al., 2022).

No que tange os efeitos adversos reconhecidos pelo uso dessa substância, tem-se principalmente os gastrointestinais como náuseas, vômito e diarreia, o que dentro do espectro religioso é tido como algo positivo por ser visto como a realização de uma limpeza. Ainda não foram relatadas fatalidades atribuídas ao seu uso e os episódios amplamente divulgados com exacerbações psicóticas foram pouco elucidadas havendo a possibilidade de outros fatores predisponentes para os desfechos desfavoráveis, como por exemplo uso concomitante com outras substâncias psicoativas (Bouso et al., 2022).

Vale ressaltar que o domínio científico sobre a Ayahuasca ainda é recente e que mesmo que o seu viés de uso espiritual seja reconhecido como um processo terapêutico e socialmente tolerado, no âmbito acadêmico os experimentos ainda estão em fase de estudo e mesmo que parte considerável das pesquisas demonstrem resultados otimistas, modelos criteriosos de uso devem ser elaborados, para que passem uma maior segurança e possam trazer benefícios sociais, exemplo disso é o estabelecimento de quantidades toleráveis, melhor forma de apresentação e qualidade na dispensação da Ayahuasca como um medicamento (Perkins et al., 2021).

Em síntese, frente aos estudos científicos a Ayahuasca mostra-se como uma substância com potencial a ser explorado como ferramenta terapêutica para pessoas em sofrimento, papel este que já é amplamente desempenhado dentro do contexto religioso, mas que hoje, com o avanço da tecnologia e da acessibilidade, possibilita uma abordagem científica para esclarecimento e fomento do aprimoramento de seus princípios ativos para uma utilização farmacológica segura e bem direcionada. Portanto, o objetivo desse estudo é debater sobre o uso terapêutico da ayahuasca, uma planta alucinógena, dentro do contexto de transtornos mentais, investigando a seguinte questão central: “Quais são as evidências científicas que sustentam a eficácia da ayahuasca no tratamento de transtornos mentais e quais são as considerações clínicas envolvidas no seu uso terapêutico?”

MÉTODOS

Este estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura (RIL), a qual buscou esclarecer o que dizem os estudos e revisões sobre o uso fitoterápico da ayahuasca no tratamento de transtornos psquiátricos, com ênfase no distúrbio depressivo. Inicialmente, os Descritores em Ciências da Saúde/Medical Subjects Headings (DeCS/MeSH) foram consultados, escolhendo-se “Mental Disorders”, “ayahuasca” e “banisteriopsis” como os mais adequados ao objetivo e à pergunta norteadora expostos acima. Com esse três termos, foi feita pesquisa avançada nas bases de dados Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Periódicos CAPES, utilizando o operador booleano AND e OR pela seguinte fórmula de pesquisa: “Mental Disorders AND (ayahuasca OR banisteriopsis)”.

Como critérios de inclusão, foram considerados tanto estudos observacionais (revisões de literatura; revisões sistemáticas; estudos de coorte prospectivos e retrospectivos; estudos transversais; relatos de caso; e séries de casos; multicêntricos e unicêntricos), quanto intervencionais (ensaios clínicos randomizados e não randomizados, e outros estudos experimentais) que tratassem do uso da Ayahuasca no contexto do tratamento de transtornos mentais. Os trabalhos deveriam ser disponibilizados na íntegra. A escala temporal de 2019 a 2024 foi estabelecida. Artigos duplicados, que tangenciaram/fugiram do objetivo e/ou da pergunta norteadora, e/ou trabalhos com metodologia pouco esclarecida foram excluídos.

A análise dos trabalhos seguiu as seguinte etapas: filtragem inicial nas bases de dados (2019 a 2024; estudos observacionais e experimentais; trabalhos completos), seguida de leitura dos títulos e resumos, finalizando-se com a leitura na íntegra e seleção final dos artigos.

RESULTADOS

Em princípio, a etapa de filtragem pelas bases de dados através das suas próprias ferramentas de busca resultou em 201 artigos totais. A seleção fora realizada através da plataforma Rayyan, a princípio foram excluídos os duplicados restando 132 artigos, após a leitura dos títulos e resumos, 110 trabalhos foram excluídos por tangenciamento do tema, por divergirem do objetivo desta revisão bibliográfica ou ainda por se tratarem de estudos não realizados com humanos. Dos 20 trabalhos restantes, foram aprovados em sua totalidade após leitura integral, estudos observacionais (uma revisão sistemática, oito revisões de literatura, um estudo transversal, um estudo longitudinal e um coorte prospectivo) e estudos experimentais (quatro ensaios clínicos não controlados e quatro ensaios clínicos randomizados).

Detalhes mais aprofundados do processo de seleção estão expostos no fluxograma da figura 1. O quadro 2, por sua vez, resume os achados mais relevantes de cada um dos estudos e suas contribuições no entendimento do uso terapêutico da ayahuasca em transtornos mentais.  

Figura 1 – Etapas e resultados da análise dos artigos.

Fonte: Nunes LF, et al., 2024.

Quadro 1 – Características dos artigos elencados para a revisão integrativa.

Autores (ano)Principais achados
1Rodrigues A, Almeida F, Vieira-Coelho M. (2019).Revisão de literatura. Os autores tiveram como objetivo revisar e discutir o papel endógeno da N,N-dimetiltriptamina (DMT) e seu potencial terapêutico, especialmente no contexto de distúrbios psiquiátricos e uso de substâncias. Nesse sentido, destaca-se que a ayahuasca contém DMT e, assim, embora o papel do DMT endógeno permaneça obscuro, a ayahuasca tem resultados promissores em ansiedade, depressão e dependência de substâncias. Desse modo, visto o bom perfil de segurança, é crucial conduzir mais pesquisas visando desenvolver novos tratamentos para transtornos psiquiátricos.
2Palhano-Fontes F, et al. (2018).Ensaio clínico randomizado, duplo-cego, controlado por placebo. Foi realizado em 29 pacientes com depressão resistente ao tratamento. Os pacientes receberam uma dose única de ayahuasca ou placebo. Os autores avaliaram mudanças em gravidade da depressão com a Escala de Avaliação de Depressão de Montgomery-Åsberg (MADRS) e a escala de avaliação de depressão de Hamilton no início do estudo e em 1 (D1), 2 (D2) e 7 (D7) dias após a dosagem. Foram observados os efeitos antidepressivos significativos da ayahuasca quando comparado com o placebo em todos os momentos. Este estudo traz novas evidências que apoiam a segurança e valor terapêutico da ayahuasca, dosada em ambiente apropriado.
3Ham J, et al. (2018).Revisão de literatura. Os autores tiveram como objetivo revisar os efeitos comportamentais da ayahuasca, possíveis efeitos adversos, mecanismos de ação e potenciais usos clínicos em doenças mentais. O perfil de efeitos colaterais parece ser relativamente leve, e mostra benefícios no tratamento da depressão, ansiedade e vícios em drogas. Assim, mais estudos precisam ser feitos, entretanto, há desafios no estudo de substâncias situadas nas franjas da ciência e da cultura dominante, e obstáculos legais podem desempenhar um papel no atraso do avanço científico.
4Domínguez- Clavé E, et al. (2018).Ensaio clínico não controlado. 45 voluntários preencheram instrumentos de autorrelato projetados para medir a desregulação emocional (Escala de Dificuldades na Regulação Emocional (DERS)) e traços de atenção plena (Questionário de Atenção Plena de Cinco Facetas (FFMQ) – Formulário Curto e Questionário de Experiências (EQ)) antes e 24 horas após a sessão de ayahuasca. No geral, os participantes mostraram melhorias significativas nas subescalas do FFMQ observando, agindo com consciência, não julgando e não reagindo e também melhoraram significativamente na descentralização (escala EQ) e nas subescalas do DERS não aceitação emocional, interferência emocional e falta de controle. As descobertas  sugerem  um  potencial  efeito  terapêutico  na  regulação  emocional  e  atenção  plena.
5Orsolini L, et al. (2016).Revisão de literatura. O estudo tem visão geral e abrangente que enfoca os resultados psiquiátricos após a ingestão de ayahuasca. Nesse contexto, avalia e compara os potenciais benefícios terapêuticos versus os riscos para a saúde associados à ayahuasca, tanto em voluntários saudáveis  como em amostras clínicas. Assim, o objetivo é sintetizar a pesquisa existente para fornecer insights sobre os efeitos da ayahuasca no contexto da psiquiatria psicodélica. Apesar do quantitativo limitado, os achados são homogêneos e promissores.
6Jiménez-Garrido, et al. (2020).Estudo longitudinal. O estudo é um projeto observacional que incluiu dois subestudos e utilizou uma abordagem longitudinal para avaliar os efeitos da ayahuasca na saúde mental e na qualidade de vida dos participantes. O Subestudo 1 foca em pessoas que estão usando ayahuasca pela primeira vez, acompanhando seus sintomas de saúde mental e qualidade de vida antes e depois da experiência inicial, com avaliações feitas após 1 e 6 meses. Outrossim, o subestudo 2: Compara a saúde mental de usuários de ayahuasca de longa data com a de novos usuários, analisando as possíveis diferenças causadas pelo uso prolongado da substância. Os resultados sugerem que a ayahuasca pode oferecer benefícios terapêuticos, especialmente em ambientes controlados.
7Uthaug M, et al. (2021).Estudo de ensaio clínico randomizado. O estudo contou com 30 participantes experientes em retiros de ayahuasca na Holanda, Espanha e Alemanha. Eles foram divididos aleatoriamente em dois grupos: 14 receberam ayahuasca e 16 um placebo. Assim, os dados coletados foram analisados  para determinar os principais efeitos do tempo e do tratamento, bem como quaisquer interações entre os dois, para avaliar o impacto da ayahuasca versus placebo nos resultados de saúde mental.
8Sheth R, et al. (2024).Revisão sistemática. Foram selecionados 43 artigos com o objetivo de compreender os potenciais efeitos terapêuticos da ayahuasca para depressão, ansiedade, transtornos alimentares, transtornos de estresse pós-traumático e bem-estar geral. Os resultados sugerem que a ayahuasca é um agente poderoso e, se usada no ambiente correto com a orientação correta, entretanto ainda são estudos preliminares, uma vez que o artigo se baseou em pesquisas e autorrelatos.
9Silva M, Daros G, Bitencourt R. (2020).Revisão de literatura. Diversos estudos demonstram que as doenças neurológicas e psiquiátricas têm como um dos principais mecanismos fisiopatológicos a neuroinflamação. Nesse sentido, a ayahuasca oferece benefícios terapêuticos para tais distúrbios devido ao seu efeito anti-inflamatório cerebral. Dessa forma, tem-se que é uma estratégia promissora para o tratamento de distúrbios, principalmente ansiedade e depressão.
10Alves C, et al. (2022).Ensaio clínico não controlado. Foram analisadas as gravações de Eletroencefalograma (EEG) de 16 pacientes saudáveis ao consumirem ayahuasca. Os dados analisados mostraram mudanças significativas na atividade cerebral após a ingestão de ayahuasca, com a detecção de alterações na conectividade entre regiões do cérebro sendo mais eficaz do que a análise dos dados de EEG brutos. Assim, essa pesquisa mostrou que a ayahuasca pode estar relacionada a processos neurobiológicos que favorecem a neurogênese e a redução da inflamação.
11Shinozuka K, et al. (2024)Revisão de literatura. Este estudo tem como objetivo fornecer uma introdução abrangente para médicos de cuidados primários sobre o uso terapêutico da N,N-dimetiltriptamina (DMT) e da ayahuasca. Ele busca orientar os clínicos sobre os mecanismos de ação, a segurança, e o potencial terapêutico dessas substâncias, especialmente no tratamento de transtornos depressivos, como a depressão resistente a tratamentos. O artigo também aborda as áreas de incerteza e as limitações dos estudos existentes, destacando a necessidade de mais pesquisas.
12Giovanette, et al. (2020).Ensaio clínico não controlado. Os autores tiveram como objetivo avaliar os efeitos de um tratamento residencial de reabilitação para dependência de drogas, que integra a medicina tradicional amazônica (incluindo o uso de ayahuasca) e psicoterapia, sobre os sintomas de depressão e ansiedade em 31 pacientes. A pesquisa mostrou que essa abordagem combinada impacta pacientes com transtornos de dependência de substância e comorbidades de saúde mental, como depressão e ansiedade, de maneira significativa e positiva.
 13 Galvão-Coelho N, et al. (2020). Ensaio clínico randomizado. Os autores tiveram como  objetivo a  avaliação  os biomarcadores inflamatórios sanguíneos: proteína C-reativa e interleucina 6, como uma consequência potencial da ingestão de ayahuasca e sua correlação com os níveis de cortisol sérico e fator neurotrófico derivado do cérebro. Os resultados mostraram que pacientes tratados com ayahuasca mostraram uma correlação significativa entre maiores reduções de proteína C-reativa e menores sintomas depressivos em 48 horas após a ingestão da substância. Entretanto, esses biomarcadores não previram a resposta antidepressiva ou as taxas de remissão.
14Bouso J, et al. (2022).Estudo transversal. Objetivou investigar os efeitos adversos associados ao uso de ayahuasca e seu potencial terapêutico em transtornos mentais, analisando dados de 10.836 participantes de mais de 50 países. Os resultados indicaram que, embora a ayahuasca esteja relacionada a uma variedade de efeitos adversos, muitos usuários relataram benefícios significativos para a saúde mental, sugerindo que a experiência com ayahuasca é complexa e multifacetada, com a percepção de que os benefícios podem superar os riscos.
15Santos G, Hallak JE. (2019).Coorte prospectivo. Os autores objetivaram investigar os efeitos da ayahuasca no tratamento de transtornos mentais, com foco em sua eficácia ansiolítica e antidepressiva. Os resultados mostraram que uma única dose de ayahuasca resultou em reduções significativas nos sintomas de pânico e desesperança, além de melhorias rápidas e sustentadas em pacientes com depressão maior resistente ao tratamento. As alterações na perfusão cerebral, observadas por meio de imagens de SPECT, indicaram um aumento na atividade em regiões cerebrais associadas ao processamento emocional, sugerindo que a ayahuasca pode atuar como uma intervenção terapêutica promissora.
16Barabasz-Gem bczyk, Kucia. (2020)  Revisão de literatura. Os autores buscaram abordar as propriedades terapêuticas da Ayahuasca na psiquiatria. O objetivo foi investigar os efeitos da Ayahuasca na conectividade cerebral e os mecanismos biológicos que podem contribuir para seus efeitos antidepressivos. A pesquisa indicou que a Ayahuasca reduz a atividade da Rede de Modo Padrão, frequentemente hiperativa em depressão, e aumenta a disponibilidade de serotonina, além de estimular a neurogênese no hipocampo. Esses resultados sugerem que a Ayahuasca pode ser uma abordagem inovadora para o tratamento da depressão.
17Zeifman, et al. (2020).Ensaio clínico não controlado. O objetivo foi investigar os efeitos da ayahuasca no tratamento de transtornos mentais, especificamente em indivíduos com transtorno depressivo maior (MDD) e suicidabilidade. As avaliações realizadas em múltiplos momentos indicaram que a ayahuasca pode proporcionar benefícios terapêuticos notáveis, especialmente quando administrada em um ambiente seguro e com suporte psicológico adequado. Esses achados sugerem que a ayahuasca pode ser uma intervenção promissora para o tratamento de MDD e suicidabilidade, embora mais pesquisas sejam necessárias para confirmar esses resultados e explorar mecanismos subjacentes.
18Santos R, et al. (2022).Ensaio clínico randomizado. Os autores analisaram os efeitos da ayahuasca no desempenho da fala e na ansiedade de 17 voluntários com transtorno de ansiedade social. Os resultados mostraram que em comparação com o placebo a ayahuasca demonstrou uma melhora na autopercepção do desempenho da fala dos indivíduos ansiosos, ademais fora bem tolerada, produzindo principalmente náuseas, desconforto gastrointestinal e vômitos.
19Maia L, et al. (2023).Revisão de literatura. Foram selecionados estudos sobre o potencial terapêutico da ayahuasca (Aya) em estudos celulares, animais e
  humanos para avaliar seu uso em transtornos psiquiátricos e doenças neurodegenerativas.  As evidências indicam dados consistentes no benefício da Aya no tratamento da depressão, mas há relatos que indicam benefícios para ansiedade, luto, transtornos alimentares, transtorno de personalidade, TEPT, SUD, doença de Parkinson, Alzheimer e doenças físicas graves (câncer e condições crônicas).
20Houle S, et al. (2021).Revisão de literatura. Foram analisados 39 artigos sobre o uso oral da ayahuasca fora de um contexto religioso para verificar os efeitos neuropsiquiátricos. Evidenciou-se uma associação a complicações psiquiátricas e não psiquiátricas, com o relato de 5 mortes, entretanto, as informações indicam benefícios relevantes no tratamento da depressão, ansiedade e outros transtornos de saúde mental.

Fonte: Nunes LF, et al., 2024.

DISCUSSÃO

Após análise criteriosa dos resultados, discussões e conclusões dos estudos selecionados, observamos dados consistentes e benefícios no que tange a abordagem terapêutica da ayahuasca no tratamento de transtornos mentais, tais como Transtorno Depressivo Maior (TDM) e Transtorno de Ansiedade. Embora, por vezes, os autores relatam a necessidade de mais estudos experimentais para verificar maiores benefícios e possíveis malefícios, e assim obter dados científicos incontestáveis. 

A constatação das diferentes metodologias dos estudos analisados possibilitou a categorização de sua relevância. Foram consideradas limitações deste estudo o quantitativo de estudos experimentais, principalmente quanto a ensaios clínicos randomizados controlados por placebo,  o que pode ser explicado pelo preconceito enraizado acerca do uso de plantas psicodélicas no meio medicinal. Dessa forma, vê-se uma necessidade de elaborar pesquisas posteriores a essa revisão de forma sistemática e controlada, com o objetivo de adaptar e regularizar o uso terapêutico da ayahuasca no âmbito medicinal, com ênfase na área psiquiátrica.

Um psicodélico: ayahuasca no contexto histórico

A Ayahuasca (Aya) é uma infusão de planta psicoativa usada ritualmente na medicina amazônica, nomeada pela língua quíchua significa videira da alma. Composta por uma mistura de duas plantas: a Banisteriopsis Caapi e a Psychotria Viridis (Giovanetti, et al., 2020 apud McKenna et al., 1984). Para obter o líquido final, de cor marrom e textura espessa, estas são fervidas, e assim seus alcalóides são responsáveis pelas propriedades psicoativas (Giovanetti, et al., 2020 apud McIlhenny et al., 2009; Yritia et al., 2002).

O uso da Aya é relatado há milênios de anos para fins terapêuticos e fins religiosos por grupos indígenas e pela população dos países amazônicos, sendo eles Brasil, Peru, Colômbia e Equador. Entretanto, apenas nas últimas décadas, tem-se expandido sua utilização e tornando-se popular em alguns movimentos religiosos sincréticos, como o Santo Daime no Brasil, com o objetivo de caminhar os seguidores no autoconhecimento e na introspecção (Silva et al.,, 2020 apud Santos et al., 2016; McKenna, 2010). 

O cenário supracitado é retificado por Maia et al. (2023 apud Luna, 2011; Schultes & Hofmann, 1979), que relata historicamente o uso da Ayahuasca em contextos indígenas, relacionado a propósitos espirituais, sociais, culturais e de cura.  Entretanto, sabe-se que apenas a partir da segunda metade do século 20, o seu uso começou a se espalhar para os contextos urbanos, com determinados grupos religiosos brasileiros, e somente em 2010 fora regulamento no Brasil (Maia et al., 2023 apud Labate & Feeney, 2012). 

Nesse contexto, é notório que a discussão sobre o uso do alucinógeno é algo crescente, entretanto muito recente. Para alguns, estudá-los pode ser considerado algo vedado, haja vista o preconceito que cerca a utilização de agentes psicodélicos no câmbio medicinal, entretanto conforme enfatizado por diversos pesquisadores nos últimos anos, compreender os efeitos  específicos de substâncias psicoativas como a Ayahuasca é fundamental, haja vista o  potencial  de  produzir  informações úteis no tratamento de condições psiquiátricas e médicas (Ham et al., 2018).

O uso terapêutico da ayahuasca

De acordo com Rodrigues (et al., 2019), em sua revisão sobre o potencial terapêutico da DMT, ao ingerir essa substância via ayahuasca há a produção de expressões neuroquímicas e comportamentais, como pleitos simpaticomiméticos, declínios na atividade motora (apud Pic-Taylor et al., 2015), comprometimento da função cognitiva (apud Alonso et al., 2015), aumento dos níveis de prolactina e cortisol e redução de linfócitos (apud Dos Santos et al., 2011). Assim, conforme salientado pelo autor supracitado, os psicodélicos são drogas intrigantes, induzindo modificações transitórias, mas intensas, na percepção, nos processos somáticos, volitivos, emocionais e cognitivos, assim a pesquisa sobre o DMT indica-o como uma opção terapêutica eficiente.

No geral, as evidências atuais apoiam uma boa segurança e tolerabilidade após ingestão aguda e prolongada de ayahuasca, sendo náuseas e vômitos são os efeitos adversos mais frequentemente observados, tanto em ambientes rituais quanto experimentais (Orsolini et al., 2020 apud Dos Santos, Balthazar, Bouso, & Hallak, 2016; Labate, Rose e Dos Santos, 2009; Osório et al., 2015; Riba et al., 2001; Sanches et al., 2016). 

De acordo com Sheth (et al., 2024) o uso da ayahuasca e a pesquisa que apoia e detalha seus efeitos sugerem que há várias maneiras pelas quais a ayahuasca impacta o corpo, a mente e o espírito humanos, tornando-a uma opção de tratamento impressionante para os distúrbios psicológicos.

Substâncias ativas: N,N-dimetiltriptamina e beta-carbolinas

A ayahuasca é preparada com as folhas de P. viridis, as quais contêm o alcalóide N,N-dimetiltriptamina (DMT), cuja estrutura química está relacionada à serotonina (Maia et al., 2023 apud Barker, 2018). E ainda com a videira B. caapi, a qual contém β-carbolinas, como harmina, harmalina e tetrahidroharmina, que tem como função inibir a enzima monoamina oxidase-A (MAO-A), impedindo a inativação do DMT no trato digestivo e permitindo que ele chegue ao cérebro e exerça efeitos mais longos (Maia et al., 2023 apud Estrella-Parra et al., 2019).

O mecanismo de ação da Aya é ratificada por Barabasz-Gembczyk e Kucia (2020), ao relatar que os efeitos psicoativos observados estão associados à presença de DMT, um derivado da triptamina que é um agonista não seletivo dos receptores serotoninérgicos, principalmente 5-HT2A (apud Dos Santos et al., 2019). Desse modo, a  β-carbolinas age como um inibidor potente e de curta ação da MAO-A, retardando o metabolismo do DMT e permitindo que ele funcione após a administração oral após 20 minutos, atingindo um pico entre 1 e 2 horas e terminando após cerca de 4 a 5 horas (Barabasz-Gembczyk e Kucia, 2020 apud Callaway et al., 1999).

Efeitos adversos da ayahuasca

Segundo Houle (et al., 2024), o uso da Aya está associado ao risco de eventos psiquiátricos e não psiquiátricos, incluindo alucinações, agitação ou agressão, vômitos, convulsões e rabdomiólise. Nesse contexto, muito se discute para além do uso terapêutico da ayahuasca, enfatizando os potenciais danos, há estudos que relatam o início de episódio maníaco após uma ingestão de  ayahuasca ritual de consumo (Orsolini et al., 2020 apud Szmulewicz et al., 2015; Zellner, et al.,  2019), desenvolvendo-se em indivíduos com antecedentes características pré-mórbidas e/ou uso  prévio ou concomitante de substâncias (Orsolini et al., 2020 apud Dos Santos et al.,  2017).  

De acordo com Shinokuza (et al., 2024) N,N-dimetiltriptamina (DMT) é um psicodélico serotoninérgico natural encontrado em plantas naturais ao redor do globo. Sendo este o principal componente na Aya, seus efeitos variam a depender da dose e via de administração. Isso inclui alterações na audição, percepção visual e temporal, experiências emocionais, e comprometimento da memória. No entanto, em doses elevadas levam à “viagem”, onde o paciente progride rapidamente para um profundo estado imersivo, comparado a uma experiência de quase morte.

Nesse contexto, Santos e Hallak (2019) afirmam que em relação à segurança quanto ao uso da Aya, estudos envolvendo administração de doses únicas para voluntários saudáveis e pacientes com transtorno depressivo maior demonstraram que a ayahuasca pode ser administrada com segurança em ambientes controlados. Nesse contexto, o autor ratifica que as reações adversas mais comuns à ayahuasca são náuseas, vômitos, ansiedade, inquietação e dor de cabeça e que reações prolongadas do tipo psicóticas nunca foram observadas em ambientes experimentais e clínicos.

Segundo Bouso (et al., 2022), em sua pesquisa descobriu-se que os efeitos adversos da ayahuasca são frequentes, mas geralmente leve e transitório. Conforme salientado pelo autor, o efeito adverso mais prevalente no aspecto físico foi vômito/náusea, e no aspecto da saúde mental foi relatado alteração da percepção. Além disso, tanto os efeitos físicos como mentais adversos foram significativamente associados a contextos não supervisionados e não supervisionados tradicionais.

Neuroinflamação no desenvolvido de doenças neurológicas e psiquiátricas

Segundo a revisão realizada por Silva (et al., 2020) a neuroinflamação se mostra como um dos principais mecanismos fisiopatológicos em diversas doenças neurológicas e psiquiátricas. Dentro desse contexto, dados emergentes sugerem que a depressão é associada a uma resposta inflamatória crônica de baixo grau, incluindo um aumento na mediadores inflamatórios, como citocinas e quimiocinas, interleucinas e fator de necrose tumoral. Além disso, embora a depressão tenha recebido mais atenção, a relevância da inflamação para transtornos de ansiedade é inevitável, considerando o impacto que as citocinas têm em sistemas de neurotransmissão e circuitos relacionados a respostas de estresse.  

Nesse sentido, um ensaio clínico realizado por Alves (et al., 2022) analisou as gravações de Eletroencefalograma (EEG) de 16 pacientes saudáveis ao consumirem ayahuasca. Os dados mostraram mudanças significativas na atividade cerebral após a ingestão da substância, particularmente nas bandas de frequência associadas ao processamento cognitivo e emocional. Ademais, os resultados indicam que a ayahuasca afeta áreas do cérebro relacionadas a emoções, memórias e funções executivas, sugerindo seu uso potencial no tratamento de transtornos psiquiátricos, inclusive pacientes com transtorno depressivo maior resistente ao tratamento. Assim, essa pesquisa mostrou que a ayahuasca pode estar relacionada a processos neurobiológicos que favorecem a neurogênese e a redução da inflamação.

Outrossim, um ensaio clínico randomizado duplo-cego realizado com pacientes com depressão resistente ao tratamento (n = 28) e controles saudáveis  (n = 45), buscou avaliar os biomarcadores inflamatórios sanguíneos, proteína C-reativa (PCR) e interleucina 6 (IL-6), como uma consequência potencial da ingestão de ayahuasca e sua correlação com os níveis de cortisol sérico e fator neurotrófico derivado do cérebro. Os resultados relatados por Galvão-Coelho (et al., 2020) não indicaram nenhuma relação relevante à IL-6, entretanto houve uma redução significativa dos níveis de PCR ao longo do tempo em pacientes e controles tratados com ayahuasca, mas não com placebo, além de menores sintomas depressivos em 48 horas após a ingestão da substância, evidenciando-se de maneira objetiva o potencial terapêutico da ayahuasca.

Ayahuasca e os Transtornos Mentais

A abordagem terapêutica da Ayahuasca nos transtornos psiquiátricos é uma discussão crescente, e estudos recentes destacam seus benefícios quando utilizados nos transtornos depressivos e ansiosos. Segundo o ensaio clínico randomizado realizado por Palhano-Fontes (et al., 2018), sendo este realizado com 29 pacientes diagnosticados com depressão resistente ao tratamento, foram observados melhorias  nas  escalas  psiquiátricas  no  grupo  Aya  significativamente  maiores  do  que  aquelas  do  grupo  placebo, evidenciando efeitos antidepressivos significativos da ayahuasca quando comparado com o placebo.

Nesse contexto, ao investigar os efeitos da Aya no tratamento de transtornos mentais, especificamente em indivíduos com transtorno depressivo maior (MDD) e suicidabilidade, Zeifman (et al., 2020) encontrou quanto a suicidalidade após a administração da Aya, uma redução aguda (40, 80, 140 e 180 minutos após a administração) e pós-agudas sustentadas (1, 7, 14 e 21 dias após a administração), sugerindo que os efeitos colaterais a longo prazo diminuem a tendência suicida para além dos efeitos agudos, o que enfatiza a Aya como intervenção promissora na tendência suicida entre indivíduos com TDM.

Outrossim,  um estudo realizado para avaliar os níveis dos pacientes em terapia com ayahuasca durante um programa de reabilitação de usuários de drogas diagnosticados com depressão e/ou ansiedade, observou que dos 31 pacientes recrutados, no início do tratamento, 38% apresentaram depressão moderada a grave e 61% apresentaram ansiedade moderada a grave, enquanto ao final, 87% apresentaram níveis leves ou mínimos de depressão e 81% apresentaram níveis leves ou mínimos de ansiedade. Dessa forma, mostrou-se que essa abordagem combinada impacta pacientes com transtornos de dependência de substância e comorbidades de saúde mental, como depressão e ansiedade, de maneira significativa e positiva (Giovanetti et al., 2020).

Nesse contexto, de acordo com Santos (et al, 2022), além das propriedades antidepressivas, a Aya exerce efeitos terapêuticos também em pacientes com Transtorno de Ansiedade Social (TAS). Ao realizar um ensaio clínico randomizado os autores conseguiram analisar os efeitos no desempenho da fala e na ansiedade de 17 voluntários com TAS. Ao comparar os resultados do placebo com a Ayahuasca foi observado uma melhora no desempenho da fala dos indivíduos ansiosos, aferindo assim uma melhora no aspecto cognitivo. Ademais, este estudo reafirma os efeitos adversos pequenos e toleráveis, ao relatar que os pacientes tiveram principalmente náuseas, desconforto gastrointestinal e vômitos.

Nesse sentido, um estudo realizado por   Jiménez-Garrido (et al., 2020) acompanhou os voluntários de 1 a 6 meses, contemplando avaliações antes do primeiro uso da Aya e ao final do estudo. Neste mediu os efeitos da ayahuasca na qualidade de vida dos participantes por meio de uma bateria de questionários, e foram observadas melhorias notáveis  em várias escalas que medem a psicopatologia e a qualidade de vida.  Assim, isto sugere que a ayahuasca pode oferecer benefícios terapêuticos, especialmente em ambientes controlados.

Não obstante, cabe salientar que, de acordo com Domínguez-Clavé (et al., 2018),  o uso da Aya pode influenciar não só nos transtornos supracitados, mas em diversos outros, haja vista que os resultados do ensaio clínico realizado sugerem que a Aya pode influenciar positivamente tanto a regulação emocional quanto às capacidades de atenção plena, Ademais, segundo Uthaug (et al., 2021), em seu ensaio clínico foi possível observar uma relação benéfica da Aya com a saúde mental, assim o autor enfatiza a importância da realização de estudos controlado por placebo na pesquisa psicodélica para melhor compreensão dos fatores associados. Desse modo, essas descobertas abrem novos horizontes para o uso terapêutico da Aya na psiquiatria. 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo expõe o potencial terapêutico do uso da ayahuasca no tratamento de transtornos mentais, especialmente da depressão e ansiedade, devido aos seus efeitos na regulação emocional e aumento de neurotransmissores como a serotonina. Contudo, mais pesquisas são necessárias para confirmar sua eficácia, definir doses adequadas e avaliar seus efeitos a longo prazo. Estudos futuros devem concentrar-se na segurança do uso terapêutico, buscando garantir benefícios enquanto minimizam os riscos. Embora promissora, a ayahuasca deve ser usada com cautela e embasamento científico.

REFERÊNCIAS

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1Faculdade de Ciências Médicas do Pará (FACIMPA), Marabá – PA.