O USO EXCESSIVO DE ZOLPIDEM COMO MEDIDA IMEDIATA PARA O TRATAMENTO DE INSÔNIA

THE EXCESSIVE USE OF ZOLPIDEM AS AN IMMEDIATE MEASURE FOR THE TREATMENT OF INSOMNIA

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.12133725


Arthur Gonçalves Cerqueira1
Marcos Vinicius Souza Da Silva1
Milena Castro Lopes1
Orientador(a): Prof. Gustavo José Vasco Pereira4


RESUMO

Mediante a estudos atuais direcionados ao distúrbio do sono, a população inserida sofre em sua maioria, com questões relacionadas à diminuição da qualidade de vida, e consequentemente  a qualidade do sono, na qual são utilizados diariamente por diversos pacientes, o uso comumente de medicamentos ansiolíticos e hipnóticos, sendo eles os mais prescritos por médicos quanto se trata do distúrbio do sono, os benzoadizepinicos. Ocasionando em sintomas como insônia, letargia, cefaleia, sonambulismo, confusão mental e os demais reações adversas quando se refere ao seu uso. Este estudo tem como o intuito de constatar os benefícios e malefícios do uso do fármaco zolpidem, mecanismo de ação, grau de toxicidade, farmacologia e avaliar o nível de impacto na saúde dos indivíduos, na qual é válido ressaltar o quão preocupante é a utilização deste fármaco sem a presença da assistência farmacêutica adequada, e que é possível adquirir outros mecanismos e estratégias mais seguras e eficazes no tratamento do distúrbio do sono, bem como a prática de alternativas terapêuticas, tendo um impacto positivo para o uso racional de medicamentos movidos pela inserção da assistência farmacêutica.

Palavras-Chave: Zolpidem, assistência farmacêutica, distúrbio do sono, terapia alternativa.

ABSTRACT

Through current studies aimed at sleep disorders, the majority of the population suffers from issues related to a decrease in quality of life, and consequently the quality of sleep, which is used daily by several patients, the common use of anxiolytic medications and hypnotics, the ones most prescribed by doctors when it comes to sleep disorders, benzoadizepines. Causing symptoms such as insomnia, lethargy, headache, sleepwalking, mental confusion and other adverse reactions when it comes to its use. This study aims to verify the benefits and harms of using the drug zolpidem, mechanism of action, degree of toxicity, pharmacology and evaluate the level of impact on the health of individuals, in which it is worth highlighting how worrying the use of this drug is. drug without the presence of adequate pharmaceutical assistance, and that it is possible to acquire other safer and more effective mechanisms and strategies in the treatment of sleep disorders, as well as the practice of therapeutic alternatives, having a positive impact on the rational use of medicines driven by insertion of pharmaceutical assistance.

Keywords: Zolpidem, pharmaceutical assistance, sleep disorder, alternative therapy.

INTRODUÇÃO

O aumento dos estímulos visuais e mentais que acontecem durante o dia, reflete na hora de dormir em cada indivíduo. Conforme os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), 50% dos seres humanos irão sofrer com insônia em algum período da vida, com isso o tratamento pode ser de forma não farmacológica, através de terapias e mudança de hábito, ou a partir de fármacos (Azevedo, 2022). 

Além disso, existe também o tratamento farmacológico para a insônia, entre as várias opções do mesmo, o fármaco Zolpidem tem se destacado como um dos medicamentos mais prescritos devido à sua eficácia e perfil de segurança. Este medicamento foi sintetizado em 1988 pela SanifiSynthelabo Ltda na França e passou a ser comercializado no Brasil a partir de 1995, tendo como principal indicação o tratamento da insônia, surgindo efeito na regularização do sono. Segundo Dolder et al., (2020) este sedativo não afeta a duração total do sono paradoxal (fase REM) e sua dose terapêutica mais usada no tratamento da insônia em adultos é de 10mg e de 5mg para idosos. 

O Zolpidem exerce seus efeitos sedativos e hipnóticos ao se ligar seletivamente aos receptores GABA-A. Esse receptor é um subtipo do receptor GABA (ácido gama-aminobutírico), um dos dois canais iônicos ativado por ligante, responsável por mediar os efeitos do ácido GABA o principal neurotransmissor inibidor no cérebro. Ele possui afinidade química ao alfa-1 do receptor GABA-A, atuando estimulando esse receptor, o que significa que o Zolpidem vai agir especificamente no cérebro (Roth 2021). 

A indicação do Zolpidem em casos de curto prazo para tratamento da insônia é constante e eficaz. De acordo com Tavares et al. (2023), os sedativos-hipnóticos, em sua maioria, são indicados para uso a curto prazo (4 semanas), mesmo nos casos de insônia crônica. Indivíduos em que a queixa para iniciar o sono tendem a ter sua principal indicação para o tratamento através do zolpidem. A insônia não é um problema isolado, levando a consequências diurnas diversificadas e que impactam a vida dos pacientes. Propensos a terem um sofrimento emocional com relação à qualidade do sono.

Figura 1: Estrutura química do Zolpidem 

FONTE: Zolpidem Drug Molecule – Science Photo Library

MATERIAIS E MÉTODOS

O  presente  trabalho  foi  descrito e efetuado  a  partir  de  uma  revisão  bibliográfica, composta por trabalhos acadêmicos, artigos científicos específicos, portarias que correspondem com o tema em relação aos efeitos adversos, toxicidade, o impacto do uso irracional, e abordagens alternativas ao tratamento com o fármaco escolhido Zolpidem.  Para o agrupamento de informações para este estudo, foram escolhidas e selecionadas bases de dados como a biblioteca virtual SciELO (Scientific Eletronic Library Online), ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), RBCBM (Revista Brasileira de Ciências Biomédicas) entre outras.  E decorrente das palavras-chaves como “Zolpidem”, “assistência farmacêutica”, “distúrbio do sono” e “terapia alternativa”, foram escolhidos cerca de 17 artigos, sendo 12 na língua portuguesa, 4 na língua inglesa  e 1 na língua espanhola.

Dentre os métodos de avaliação de inserção, os artigos que foram aproveitados para esta revisão bibliográfica foram inseridos ou retirados de acordo com o título escolhido e, mediante a isso, o conteúdo dos artigos foi examinado para que o agrupamento de dados estivesse apto para a compreensão do título. Foram escolhidos artigos que foram publicados nos últimos cinco anos, com o intuito de observar o avanço dos estudos a respeito do fármaco e o seu manuseio conforme a prescrição.

1.0 FARMACOLOGIA DO ZOLPIDEM

Dentro do cérebro, as rotas do GABA são devidamente longas e complexas. Na fisiologia, o hipocampo é rico e diversificado em neurônios gabaérgicos, sendo importante mencionar que apresentam importância no processo de memória, ansiedade e depressão. Sua absorção no organismo dura aproximadamente uma hora após administrado, o tempo de meia-vida é de duas a cinco horas onde ocorre equilíbrio de concentrações plasmáticas do fármaco. A quantidade absorvida do fármaco varia entre 60 a 70%, após aproximadamente uma a cinco horas depois de administrado acontece picos no organismo do medicamento. 

O Zolpidem apresenta um mecanismo de ação destacando sua seletividade na ligação ao receptor, apresentando uma condição tolerável e pouca dependência ao uso prolongado. Sua eliminação é considerada curta (2,4 h), e com isso se tornando uma das drogas mais utilizadas no tratamento farmacológico da insônia pelo mundo. Atuando na redução da latência no início do sono, levando o indivíduo a um aumento no tempo total do sono, e não apresentando efeitos diferentes durante o restante do dia.

Figura 1: Estrutura química do Zolpidem 

FONTE: Zolpidem Drug Molecule – Science Photo Library

Este fármaco possui afinidade química ao alfa-1 do receptor GABA-A, com isso atua estimulando esse receptor. Portanto, a ativação desse receptor com doses terapêuticas reduz a atividade neural em várias áreas da recepção, o que provoca sono. Vale ressaltar que o Zolpidem não manifesta efeito ansiolítico, não sendo usado assim para tratar ansiedade (Roth, 2021). 

Segundo Azevedo et al., (2022) para induzir o início do sono o zolpidem tem uma ligação de forma seletiva ao receptor GABA-A, ou seja, possuindo uma baixa tolerância enquanto usado e não havendo uma dependência em curto prazo de tempo, fazendo com que o medicamento seja considerado uma “droga Z”- um sedativo-hipnótico não benzodiazepínico, sendo prescrito pelo mundo inteiro com sua eficácia comprovada. 

De acordo com Lopes (2020), o Zolpidem pertence ao grupo das imidazopiridinas, isto é, possui uma estrutura diferente dos benzodiazepínicos e barbitúricos. Essa classe de fármacos atua diretamente no SNC e, ao se ligar seletivamente na subunidade α1 do receptor GABA-A (Figura 2), é capaz de diminuir a latência do sono e de regular sua qualidade e tempo de duração. Assim, o sono profundo é preservado justamente por causa dessa seletividade do Zolpidem. 

O GABA (ácido γ-aminobutírico) é um neurotransmissor inibitório do SNC que, quando ativado pelos receptores gabaérgicos, diminui a excitabilidade da célula neuronal, o que desencadeia o efeito sedativo e regula o tempo de duração e latência do sono – tempo que o indivíduo leva para dormir (Azevedo et al., 2022).

Figura 2: Representação do receptor GABA-A

Fonte: Adaptado de AZEVEDO et al., 2022

O GABA é o principal neurotransmissor inibitório do SNC, atuando em nível de três receptores, GABAa, GABAb e GABAc. Os compostos “Z” atuam no receptor GABA-A, um receptor ionotrópico, sendo o GABAα o mais abundante, composto por 5 subunidades (Figura 3). Ao se ligar a esse receptor, o zolpidem permite a abertura do poro central, ou seja, há um aumento do influxo de íons cloreto para os neurônios com consequente redução da excitabilidade por hiperpolarização da membrana neuronal causando, assim, um efeito depressor do SNC devido à inibição da transmissão dos sinais neurais (Lopes, 2020; Azevedo et al., 2022).

Figura 3: Ilustração do modelo do receptor GABA-A

Fonte: LOPES, 2020.

1.1 PROPRIEDADES FARMACODINÂMICAS 

Estudos experimentais demonstraram que Zolpidem promove um efeito sedativo em doses muito inferiores àquelas necessárias para obtenção de um efeito anticonvulsivante, relaxante muscular ou ansiolítico. 

No ser humano, o Zolpidem encurta o tempo de indução ao sono, reduz o número de despertares noturno e aumenta a duração total do sono, melhorando sua qualidade. Esses efeitos estão associados a um perfil eletroencefalográfico específico, diferente daquele observado com as benzodiazepinas. 

1.2 PROPRIEDADES FARMACOCINÉTICAS 

Sua absorção logo após administrada sublingualmente, apresenta uma biodisponibilidade de aproximadamente 70%, com as concentrações plasmáticas máximas sendo alcançadas entre 0,5 e 3 horas. Em um estudo farmacocinético entre Zolpidem comprimido sublingual versus zolpidem comprimido revestido a concentração máxima (tmax) foi de 0,93 horas (0,33 – 2,67 horas), já a meia-vida de eliminação (T1/2) foi de 4,41 horas (1,33 – 7,90 horas). 

A meia-vida plasmática é, em média, de 2,4 horas (0,7 a 3,5 horas). A sua distribuição em doses terapêuticas possui uma farmacocinética linear. A ligação às proteínas plasmáticas é da ordem de 92% e o volume de distribuição em adultos é de 0,54 + 0,02 l/Kg. 

O Zolpidem é metabolizado no fígado e eliminado na forma de metabólitos inativos, na urina (aproximadamente 60%) e nas fezes (aproximadamente 40%), não possuindo efeito indutivo sobre as enzimas hepáticas. Embora, em pacientes idosos, observa-se uma diminuição na depuração hepática, havendo um aumento de cerca de 50% nas concentrações de pico, sem prolongamento significativo na meia-vida (média: 3 horas). 

2. REAÇÕES ADVERSAS 

As reações adversas mais comuns relatadas em bula são: sonolência, dor de cabeça, tontura, insônia exacerbada, amnésia anterógrada, alucinações, agitação, pesadelos, fadiga, diarréia, náusea, vômito, dor abdominal (Stilnox, 2020). 

Embora sejam eventos raros, há relatos de casos descrevendo a ocorrência de transtorno alimentar relacionado ao sono (Sleep-related eating disorder, SRED). Os pacientes mais vulneráveis foram mulheres que receberam doses elevadas (10 mg ou mais), de modo que a descontinuação do medicamento extingue tal transtorno (Ho t et al., 2020).

De acordo com Imovane (2021), uma vez que a dependência física foi desenvolvida, a terminação abrupta do tratamento será acompanhada pela síndrome de retirada. A dependência física se desenvolve com o aumento da duração do tratamento e sua dose, além de históricos com abuso de álcool e/ ou drogas. Também se deve ressaltar que o uso concomitante de álcool e outros psicotrópicos podem levar a dependência física. 

Há relatos que trazem o uso em doses mais elevadas podem desenvolver alto potencial em abuso e dependência, entretanto a dose de 12,5 mg na forma de comprimidos de liberação prolongada, quando tomada de 3 a 7 noites por semana foi bem tolerada e efetiva em melhorar o início subjetivo e a manutenção do sono ao longo de 6 meses em pacientes com insônia crônica (Bouchette, 2021). 

3. TOXICIDADE                                

Estudos estimam que o Zolpidem causa menos dependência comparado aos ansiolíticos e sedativos benzodiazepínicos, considerando o mais seguro e eficaz em tratamentos, ele se torna o mais utilizado. Pacientes com o uso prolongado deste medicamento ou uso de doses acima da dose terapêutica recomendada em prescrição médica podem desenvolver quadros de intoxicação e até mesmo overdose por esta droga (Lugoboni et al., 2019). 

Os eventos de toxicidade apresentados são relacionados à posologia e a dose elevada relacionada à prescrição médica, e na maioria das vezes ocorre também por conta do uso indiscriminado deste medicamento. Entretanto, quando é administrado junto com medicamentos antigripais, em uso concomitante de álcool ou outros medicamentos psicotrópicos têm maiores índices de toxicidade (Holm; GOA, 2019). 

Segundo Lugoboni et al. (2019) em casos de overdose de Zolpidem, raramente se garante que os métodos de desintoxicação sejam eficazes, por ser um fármaco de rápida absorção e curta duração do seu efeito, apresenta um curto tempo de meia-vida. O quadro apresentado pode ser revertido em até seis horas após o início, e normalmente pode ser feito com administração de Flumazenil, um antagonista responsável por reverter quadros de overdose, porém feita a administração de forma cautelosa, podendo desencadear em crises convulsivas. Em casos de abuso de Zolpidem, é difícil mensurar as concentrações sanguíneas que levaram ao evento por ser uma droga de ação rápida.

4. O IMPACTO DO USO DO ZOLPIDEM EM PACIENTES DE USO CONTÍNUO

Pôde-se analisar que o mecanismo de ação do Zolpidem, pertencente à classe dos sedativos-hipnóticos não benzodiazepínicos, atua como um anticonvulsionante, ansiolítico e relaxante muscular, e prescrito frequentemente no mundo para outras patologias, bem como, por exemplo, abstinência em drogas em excesso, controle de insônia, tratamento de ansiedade. Segundo Azevedo et.al. (2022, p 2-3), em suma, o Zolpidem se liga de modo seletivo no receptor GABAA, de forma a induzir o sono. O GABA (ácido γ-aminobutírico) é um neurotransmissor inibitório do sistema nervoso central que, ao ativar os receptores gabaérgicos, diminui a excitabilidade da célula neuronal, consequentemente desencadeando o efeito sedativo e regulando o tempo de duração e latência do sono. A dose de Zolpidem prescrita para insônia crônica varia entre 5 e 10 mg, sendo que entre 20 e 200 mg o Zolpidem pode induzir o efeito anticonvulsivante e relaxante muscular. É rapidamente absorvido, com uma rápida ação, entre 45 e 120 minutos, após administração oral (8, 9), atingindo uma concentração plasmática máxima média de 121 μg/L, após 1,6 horas da administração de uma dose de 10 mg.

O uso de Zolpidem pode levar a alucinações e distorções da realidade, mesmo que em doses terapêuticas (5/10mg). Relatos de casos foram encontrados, e após 30 minutos da ingestão do medicamento as alucinações foram observadas.  Essas alucinações podem vir a acontecer mesmo que o Zolpidem seja usado em monoterapia, porém, é mais frequente quando há o uso concomitante de medicamentos antidepressivos. Isso acontece justamente porque uma das características dos antidepressivos é a inibição da enzima CYP3A4, responsável pela metabolização do Zolpidem. Logo, se a metabolização é dificultada, o fármaco acaba permanecendo por mais tempo e quantidade em circulação, aumentando a chance de ocorrência de alucinações. O sonambulismo foi descrito como uma RAM ao Zolpidem, independentemente da idade, gênero e histórico do paciente. É uma reação descrita como incomum, mas alguns casos foram descritos, após a ingestão do medicamento. O sonambulismo induzido por Zolpidem pode ser explicado pelo fato de que essa reação de despertar e andar acontece durante os estágios 3 e 4 do sono, ou seja, do sono profundo. Sabe-se que o Zolpidem atua no movimento rápido dos olhos, na fase REM inicial do sono, porém ele pode ter uma influência nos estágios 3 e 4, ocasionando o sonambulismo (Azevedo et.al., 2022, p 4).

5.0 ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA NO CONTEXTO DO USO DO ZOLPIDEM

Todavia, os medicamentos que são controlados, estão inclusos dentro da Portaria SVS/MS 344/1998, onde mostra e regulamenta a venda e entrega de medicamentos que são de controle especial no país, onde faz-se necessário obter um documento destinado pela Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde (SVS/MS), que consolida a concessão da Autorização Especial, tendo todos os medicamentos de controle especial sob registro a cada período referente, ao local que estiver autorizado a dispensar.

Segundo a Portaria SVS/MS 344/1998, dispõe que, no Art. 46. A Notificação de Receita “B” poderá conter no máximo 5 (cinco) ampolas e, para as demais formas farmacêuticas, a quantidade para o tratamento correspondente no máximo a 60 (sessenta) dias. Mediante a isso, a lista B1, cor em azul, em adendo, onde são caracterizados como  psicotrópicos, o fármaco Zolpidem se encontra em adendo, no quesito de dispensação através de situação de prescrição diferenciada, na qual ele pertence, através da quantidade que não pode ser excedida de 10 mg/unidade por comprimido, e ao passar dessas quantidades, é necessário a obtenção e o preenchimento do Receituário de Controle Especial (RCE) em duas vias, ou seja, a Notificação de Receita “C”, de cor branca.

Porém, segundo Azevedo et.al. (2022), com o passar dos anos, notou-se um aumento exacerbado de indivíduos que utilizam este medicamento de forma inadequada, e que, por muitas vezes, desde doses mínimas até as doses máximas, os pacientes que faziam e fazem uso contínuo deste fármaco, relatam  sentir sintomas e queixas bastante semelhantes. Bem como um fato recorrente, que são a insônia, sonambulismo. E em prescrições suspeitas, causando dependência. Não há muitas evidências de efeito rebote após interrupção do tratamento, mas alguns casos  descreveram  que  a  latência  do  sono,  tempo  para  adormecer,  aumentou  em 13 minutos. Também pode  gerar  leve agitação e ansiedade, característica de abstinência.

Há relatos de pacientes que também se queixam de terem desenvolvido alucinações, mudanças de humor frequentes que dependendo da situação e dosagem,  podem durar horas. De acordo com Mônica (2022), entretanto, os sintomas podem piorar ainda mais caso o paciente faça uso do Zolpidem em conjunto com um algum outro fármaco antidepressivo ISRS (inibidor seletivo da recaptação da serotonina), como a Sertralina (Zoloft) ou  a Fluoxetina (Prozac), que são fármacos que tratam doenças mentais como a depressão e ansiedade.

Portanto, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (2024), a Anvisa, na quarta-feira, dia 15 de maio de 2024, efetuou a aprovação após um aumento do controle para o medicamento zolpidem. Através disso, qualquer medicamento que possua em sua composição o zolpidem deverá ser prescrito por meio da Notificação de Receita B (azul), através da norma de substâncias controladas no Brasil. A receita tipo B exige que o profissional prescritor seja cadastrado na autoridade local de vigilância sanitária. Todavia, O zolpidem já estava enquadrado na lista B1 (psicotrópicos), que é mais restrita, porém o Adendo 4 dessa mesma lista possuía uma flexibilização quanto a restrição e prévia de que medicamentos com até 10 mg de zolpidem por unidade posológica seriam equivalentes aos medicamentos da Lista C1 – Lista de Substâncias Sujeitas a Controle Especial. Para esta categoria, C1, a prescrição pode ser feita em receita branca de duas vias e não há a exigência de que o profissional que prescreve seja previamente cadastrado pela autoridade sanitária local.

A medida foi adotada a partir do aumento de relatos de uso irregular e abusivo relacionados ao uso do zolpidem. A análise conduzida pela Anvisa demonstrou um crescimento no consumo dessa substância e a constatação do aumento nas ocorrências de eventos adversos relacionados ao seu uso. Foi possível ainda identificar que não há dados científicos que demonstrem que concentrações de até 10 mg do medicamento mereçam um critério regulatório diferenciado (SAÚDE, 2024).

Com a exclusão do Adendo 4 da Lista B1 da Portaria 344/1998, a partir do dia 1º de agosto de 2024 a Notificação de Receita B (azul) passa a ser obrigatória para a prescrição e a dispensação de todos os medicamentos à base de zolpidem, independentemente da concentração da substância.  Este prazo foi definido para evitar que os pacientes possam ter alguma descontinuidade no seu tratamento.  O prazo também é necessário para que os prescritores que porventura ainda não possuam cadastro para a prescrição em Notificação de Receita Azul possam se cadastrar junto às autoridades sanitárias locais para o recebimento de numerações para a confecção dos seus talonários de receituário.  Os medicamentos, incluindo aqueles com embalagem com tarja vermelha, poderão ser dispensados nas farmácias até o final do seu prazo de validade, mediante a apresentação de Notificação de Receita B, em cor azul. Até 1º de dezembro de 2024, os fabricantes desses medicamentos poderão fabricá-los com a embalagem com tarja vermelha.  Após essa data, todos os medicamentos fabricados à base de zolpidem já deverão conter a tarja preta em sua embalagem, conforme é exigido para os medicamentos da Lista B1 da Portaria SVS/MS 344/1998. (SAÚDE, 2024).

Contudo, isso se torna um grande avanço no âmbito farmacêutico, pois demonstra que a assistência farmacêutica possui a sua importância, especialmente se tratando de fármacos que alteram diretamente o organismo do paciente, em destaque do zolpidem, que é uma pauta de suma relevância na sociedade, por se tratar de um fármaco que age diretamente no sistema nervoso central, como um medicamento sedativo, ansiolítico e que age no distúrbio do sono.

6. ABORDAGENS ALTERNATIVAS AO TRATAMENTO COM ZOLPIDEM

6.1 TERAPIAS NÃO FARMACOLÓGICAS PARA INSÔNIA

Segundo Ribeiro (2016), existem terapias não farmacológicas para a insônia, como por exemplo a TCC (terapia cognitivo-comportamental), onde através de estudos sua eficácia foi comprovada. A TCC consiste em técnicas validadas que visam identificar o que leva o estado de insônia em determinado paciente, analisando todo o comportamento que perpetue o estado de insônia, usando de estratégias como relaxamento, controle de estímulo, terapia cognitiva e intenção paradoxal.

Conforme descrito por Margis (2015), a MBCT (mindfulness-based cognitive therapy), que consiste em um programa de técnicas de meditação e técnicas comportamentais para insônia. Ensaios clínicos feitos de modo randômicos, mostraram que mindfulness é favorável a pacientes com insônia. Mesmo com um estudo limitado dessa terapia, tem sido utilizada no manejo de pacientes com insônia.

De acordo com Passos et al. (2007), uma abordagem de terapia cognitiva com 209 pacientes que usavam medicamentos hipnóticos. Foi observado, em um prazo de seis meses de tratamento, uma melhora na fase de latência do sono, melhora na qualidade do sono e uma menor recorrência ao uso do medicamento, trazendo uma perspectiva na redução gradual do hipnótico. Sendo assim, a terapia cognitiva pode ser uma ferramenta facilitadora no tratamento de pessoas com insônia.

6.2 NOVAS CLASSES DE HIPNÓTICOS COM PERFIL DE SEGURANÇA MELHORADO

Em um estudo feito por Sukys-Claudino et al. (2010), destacou novas classes de medicamentos hipnóticos com uma segurança efetiva com menos efeitos colaterais. Foram apontados diversas classes de medicamentos hipnóticos, dentre eles, as classe melatoninérgicos, como por exemplo a Ramelteona, que mostrou ter alta seletividade aos receptores MT1 e MT2, que são atuantes no processo de sono-vigília. A Ramelteona, também mostrou ter pouca afinidade com receptores ligados a dopamina, serotonina, histamina e opióides. Na pesquisa indicou a segurança da Ramelteona, e ressaltou sua efetividade hipnótica e não foi identificado sintomas de abstinência, potencial de abuso e comprometimento motor. Outra substância destacada do estudo foi a melatonina de liberação prolongada, que também atua nos receptor MT1 e MT2 que estão ligados no processo de sono-vigília, tratando a insônia com baixos efeitos colaterais, ainda que seu perfil de meia-vida curta, pode ser melhorado com sistemas de liberação prolongada, trazendo uma uma maior efetividade no tratamento.

7. PERSPECTIVAS FUTURAS

Novas pesquisas sobre medicamentos hipnóticos dão uma nova perspectiva no tratamento da insônia. Em Sukys-Claudino et al. (2010), é mencionado Almorexant como um fármaco em desenvolvimento para tratamento da insônia, cuja ação está relacionada ao antagonismo de receptores da orexina, um sistema que está ligado ao sistema de vigília, sendo assim seus baixos níveis podem promover o sono.

Foi descrito em Rocha et al. (2023), um estudo envolvendo substâncias antagonistas de receptores da orexina, por meio de ensaios clínicos randomizados, mostraram a efetividade na atividade hipnótica das substâncias modernas em comparação a um placebo. Sendo assim, as pesquisas modernas sobre medicamentos hipnóticos parecem estar ligadas ao sistema oxininérgico.

Bem como, também existe outro método bastante utilizado, que é a melatonina, que o próprio organismo humano produz, onde se trata de um hormônio, fabricado pela glândula pineal, que fica inserida no cérebro, e que demonstrou ser benéfica para a redução no uso de benzodiazepínicos que podem causar dependência. Além de dispensar o uso de receita, justamente por se tratar de uma alternativa que pode ser utilizada em distúrbios do sono. Na qual, até o presente momento não foi encontrado nenhum risco de toxicidade em humanos, dependência mesmo se tratando de doses altas, o que se torna um ponto positivo.

O uso da melatonina no tratamento dos distúrbios do ritmo circadiano já tem seu papel estabelecido conforme dados da American Academy of Sleep Medicine (Academia Americana de Medicina do Sono), uma sociedade profissional dos Estados Unidos para a subespecialidade medicina do sono, que inclui distúrbios de ritmos circadianos. Diferente dos benzodiazepínicos, a melatonina é indicada para distúrbios do sono em idosos, cuja produção de melatonina corresponde a um valor cerca de 75% menor do que em jovens. Essa diminuição da produção leva à latência prolongada do sono, distúrbios comportamentais do sono REM e distúrbios do sono em que a produção de melatonina é reduzida (excesso de luz noturna ou uso de betabloqueadores). Além disso, a queda na produção de melatonina no tratamento da insônia e qualidade do sono melatonina está relacionada a distúrbios do ritmo circadiano (transtornos de adiantamento ou atraso de fase; jet lag, cegueira pré-quiasmática) e doenças neurológicas que cursam com distúrbio do sono, como espectro do autismo, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. Também está sendo estudada no tratamento para enxaqueca, depressão, uso pós lesões isquêmicas e em ensaios clínicos nas doenças de Alzheimer, Huntington, Parkinson, estudos em Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), Síndrome Metabólica e alguns tipos de tumores (Silva, et.al, 2020).

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Portanto, este trabalho buscou-se analisar, avaliar e demonstrar os efeitos e o impacto que o fármaco zolpidem ocasiona em pacientes que realizam o seu uso, na qual, é importante ressaltar que dentre os artigos selecionados, foram observadas que as pesquisas recentes quanto ao uso deste medicamento estão se tornado cada vez mais exploradas, pois se trata de um tema em evidência e que necessita cada vez mais estudos e alternativas mais seguras quanto ao seu uso.

Contudo, isso se torna um grande avanço no âmbito farmacêutico, pois demonstra que a assistência farmacêutica possui a sua importância, especialmente se tratando de fármacos que alteram diretamente o organismo do paciente, em destaque do zolpidem, que é uma pauta de suma relevância na sociedade, por se tratar de um medicamento que age diretamente no sistema nervoso central, como um medicamento sedativo, ansiolítico e que age no distúrbio do sono.

CONCLUSÃO

De acordo com a presente revisão apresentada, pôde-se destacar que, o uso do Zolpidem de forma irregular, proporciona ao paciente interferências ligadas a um funcionamento neural, onde é possível descrever que o uso do fármaco zolpidem apresenta mais malefícios do que benefícios e, com o tempo, pode acarretar em complicações graves para o quadro do paciente. Contudo, acerca da questão demonstrada, o medicamento não apresenta a segurança necessária para o seu consumo, pois é notável que devido as suas reações adversas e o seu grau de toxicidade serem bastante prejudiciais à saúde, bem como os seguintes sintomas de insônia e sonambulismo terem se tornado queixas recorrentes.

Por isso, foram avaliadas que existem outras alternativas mais seguras e eficazes no tratamento do distúrbio do sono, dispostas a serem utilizadas com orientação médica e farmacêutica, bem como o uso da melatonina, Almorexant, Ramelteona e entre outros medicamentos. Portanto, vale ressaltar que foi necessária aprovação da norma que disponha sobre a dispensação do zolpidem, saindo da Lista B1 de adendo e entrando totalmente como Notificação de Receituário Azul, independente das suas dosagens dispensadas, na qual demonstrou ser um grande marco da classe farmacêutica ao aderir no momento presente, a esta aprovação dada pela a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).

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