O USO DO TORNIQUETE EM APH DE COMBATE 

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102501250804


Dayane Carla Barros Braga1
João Antonio Vaz2
Ivelise Crepaldi3
Vanessa Jacob Caetano Costa4
Juan Rodrigo Gramacho Couto5
Leticia Maria Dumas de Souza6
Claudineia dos Santos Silva7
Gabriely Santos Martins8
Maria Antonia Padilha Vais9


RESUMO

O Atendimento Pré-Hospitalar (APH) é uma abordagem essencial para salvar vidas em emergências médicas e traumas. Ele visa estabilizar a vítima e fornecer cuidados imediatos até a chegada ao hospital, sendo crucial para reduzir complicações e mortalidade. No contexto de ferimentos hemorrágicos graves, o uso de dispositivos como o torniquete torna-se indispensável1,2.O torniquete é um instrumento utilizado para controlar hemorragias severas em membros, especialmente quando o sangramento não pode ser contido por compressão direta 2,3. Ele é amplamente empregado em situações de combate, acidentes com amputações traumáticas e resgates em áreas de difícil acesso 4.Entre os pontos positivos do torniquete, destaca-se sua capacidade de interromper rapidamente o fluxo sanguíneo, prevenindo a exsanguinação e aumentando as chances de sobrevivência 5. Sua eficiência e simplicidade de aplicação tornam-no uma ferramenta indispensável no arsenal de primeiros socorros, tanto em cenários militares quanto civis 6.Contudo, o torniquete apresenta limitações e riscos. Seu uso prolongado pode causar lesões nervosas, musculares e até necrose tecidual, especialmente se não for removido dentro do tempo recomendado. O uso inadequado por pessoas sem treinamento pode agravar o estado do paciente, reforçando a necessidade de capacitação técnica para os socorristas 7 .Diante disso, o torniquete se destaca como uma ferramenta vital no controle de hemorragias, mas seu uso deve ser cuidadosamente monitorado e seguir diretrizes rigorosas. Aliado a estratégias educativas e treinamento contínuo, ele se torna uma solução eficaz para salvar vidas em emergências pré-hospitalares 8 .

Palavras-chave: Atendimento Pré-Hospitalar (APH), Controle de Hemorragias, Torniquete, Emergências Médica, Treinamento e Capacitação.

ABSTRACT

Pre-hospital care (PHC) is an essential approach to saving lives in medical emergencies and trauma. It aims to stabilize the victim and provide immediate care until arrival at the hospital, being crucial to reduce complications and mortality. In the context of severe hemorrhagic injuries, the use of devices such as the tourniquet becomes indispensable (1.2). The tourniquet is an instrument used to control severe hemorrhages in limbs, especially when the bleeding cannot be contained by direct compression (2,3). It is widely used in combat situations, accidents with traumatic amputations and rescues in areas of difficult access 4. Among the positive points of the tourniquet, its ability to quickly interrupt blood flow stands out, preventing exsanguination and increasing the chances of survival 5. Its efficiency and simplicity of application make it an indispensable tool in the first aid arsenal, both in military and civilian scenarios 6. However, the tourniquet has limitations and risks. Prolonged use can cause nerve and muscle injuries and even tissue necrosis, especially if it is not removed within the recommended time. Improper use by untrained individuals can worsen the patient’s condition, reinforcing the need for technical training for first responders 7 . In view of this, the tourniquet stands out as a vital tool in controlling hemorrhages, but its use must be carefully monitored and follow strict guidelines. Combined with educational strategies and ongoing training, it becomes an effective solution for saving lives in pre-hospital emergencies 8 .

Keywords: Pre-Hospital Care (APH), Hemorrhage Control, Tourniquet, Medical Emergencies, Training and Qualification

1        INTRODUÇÃO

O Atendimento Pré-Hospitalar (APH) é um componente essencial na cadeia de sobrevivência em situações de emergência médicas causadas normalmente por  traumas, sejam estes provocados por ferimentos de arma de fogo (FAG), por arma branca(FAB), ou por acidentes sejam automobilísticos ou  provocados por quedas, tais situações são inerentes na vida moderna e algumas profissões como policiais bombeiros e os componentes das forças armadas, estão mais sujeitos a exposição  a  acidentes, por seu ” modo operante”.1,2 Estes profissionais ora são os que prestam o socorro, o atendimento, ora são as vítimas, o APh  foi fundamentado e ganha espaço no mundo todo, novos protocolos são aplicados, mas alguns recursos como o torniquete, vencem as eras de tempo. A  função primária do atendimento pré hospitalar (APH) é garantir cuidados imediatos e estabilização das vítimas antes de sua chegada ao ambiente hospitalar definitivo 3. No contexto de emergências hemorrágicas, a aplicação do torniquete emerge como um método eficaz e amplamente utilizado. Este artigo explora a importância do APH, o papel do torniquete no controle de hemorragias, suas vantagens, limitações e a necessidade de treinamento adequado para otimizar sua aplicação 4.

A hemorragia exsanguinante é uma das principais causas de morte evitável em situações de trauma. Estudos indicam que o controle rápido do sangramento é essencial para a sobrevivência, especialmente em ambientes de combate e acidentes civis graves5. Nesse contexto, o torniquete tornou-se uma ferramenta vital, utilizada tanto por profissionais de saúde quanto por socorristas leigos capacitados. O uso inadequado desse dispositivo pode gerar complicações graves, como lesões nervosas, musculares e isquemia 3,5.

A relevância deste estudo reside na necessidade de compreender os benefícios e limitações do uso do torniquete no APH, a fim de promover sua aplicação segura e eficaz. Com o aumento da violência urbana e acidentes de trânsito, torna-se imprescindível adotar tecnologias e treinamentos que minimizem o tempo de resposta e evitem mortes evitáveis. Além disso, a literatura revisada reforça que, embora o torniquete seja uma ferramenta eficiente, seu uso deve ser acompanhado de protocolos claros e capacitação adequada6.

          A busca por avaliar a eficácia do torniquete no controle de hemorragias graves no contexto do APH e discutir suas aplicações clínicas, destacando os riscos e benefícios associados ao seu uso, tornou se o objetivo desse artigo , ja que  o torniquete é uma ferramenta indispensável no APH, especialmente em cenários onde o controle rápido de hemorragias pode significar a diferença entre a vida e a morte. Apesar de suas vantagens, seu uso exige conhecimento técnico e monitoramento rigoroso para evitar complicações. Este artigo reforça a importância de estratégias educativas e treinamentos contínuos para garantir a aplicação segura e eficaz do torniquete7.

2        FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Historicamente, o torniquete foi introduzido no campo militar no século XVII , durante as batalhas que faziam com que soldados tivessem ferimentos extensos e os auxílios eram geralmente em locais longínquos aos campos de batalha então foi necessário embutir uma sistemática que permitisse aos soldados chegarem ao ponto de atendimento, sua aplicação era o que dava alguma chance aos feridos , ainda que não com todas as técnicas empregadas nos dias de hoje, seu uso evoluiu consideravelmente desde então. Atualmente, dispositivos modernos contam com mecanismos de ajuste que garantem aplicações mais seguras e eficazes. Protocolos como o Tactical Combat Casualty Care (TCCC) priorizam o controle de hemorragias massivas como primeiro passo na sequência de atendimento, ressaltando a importância do torniquete 8,9.

Hemorragias são a principal causa de mortes evitáveis provocadas por traumas. O controle rápido de sangramentos em extremidades é essencial para prevenir choque hipovolêmico e coagulopatia5. O choque hipovolêmico causa no organismo um colapso, que provoca uma degradação  rápida, o organismo aciona os componentes do sistema compensatório, provoca taquicardia, hipotensão, sudorese, pele pegajosa, palidez. Dados recentes sugerem que a aplicação de torniquetes reduz em até 85% as taxas de mortalidade por hemorragia. Hemorragias descontroladas podem levar rapidamente a hipovolemia, acidose metabólica e coagulopatia, formando uma tríade fatal que compromete a sobrevivência do paciente9

O torniquete é uma ferramenta indispensável no atendimento pré-hospitalar em combate. Seu uso adequado, aliado a protocolos padronizados e treinamento eficiente, oferece uma solução eficaz para a gestão de hemorragias graves, salvando vidas e reduzindo as taxas de mortalidade, protocolos foram amplamentes estudados e testados em todo o mundo, disseminado em todos os serviços de atendimento pré hospitalar , vamos citar aqui os mais difundidos e validados no Brasil e no mundo, aqui no Brasil o  protocolo que é mais conhecido e utilizado XABCDE destaca se  a necessidade de controle imediato de hemorragias maciças. A incorporação do “X” para hemorragias externas reflete a importância crescente desse manejo em ambientes civis e militares. Internacionalmente o protocolo mais utilizado é MARCH (Massive Hemorrhage, Airway, Respiration, Circulation, Hypothermia).O protocolo TCCC (Tactical Combat Casualty Care) enfatiza o uso precoce do torniquete no manejo de hemorragias graves em contextos militares. No âmbito civil, o PHTLS (Prehospital Trauma Life Support) também inclui o torniquete como recurso essencial no controle de hemorragias10,11.

Estes protocolos destacam a importância de integrar o controle de hemorragias como a primeira etapa no atendimento a vítimas de trauma, reconhecendo que a sobrevivência do paciente está diretamente ligada ao tempo de intervenção para conter o sangramento.A aplicação de um torniquete cria uma compressão mecânica ao redor da extremidade lesionada, interrompendo o fluxo sanguíneo arterial e venoso. Esse mecanismo previne a exsanguinação e mantém a perfusão dos órgãos vitais. Além disso, a interrupção do fluxo sanguíneo reduz a pressão sobre o sistema cardiovascular, evitando o colapso circulatório 11,12.

O torniquete é indicado para o controle de hemorragias graves em extremidades quando outros métodos, como curativos compressivos, falham ou quando a situação requer intervenção imediata.O torniquete deve ser aplicado de maneira rápida, acima do local da lesão, para interromper o fluxo sanguíneo arterial e venoso. O protocolo MARCH, utilizado em contextos militares, destaca a gestão de hemorragias como prioridade absoluta, antes mesmo do manejo de vias aéreas ou circulação. Apesar de eficaz, o uso inadequado do torniquete pode levar a complicações como amputação de membros e danos permanentes. Estudos apontam que o tempo ideal de permanência do torniquete deve ser inferior a 120 minutos para evitar sequelas irreversíveis 12,13.

A hemorragia descontrolada pode levar rapidamente ao choque hipovolêmico, uma condição potencialmente fatal caracterizada pela redução crítica do volume sanguíneo circulante. A aplicação do torniquete interrompe o fluxo arterial e venoso na extremidade afetada, estabilizando a pressão sanguínea central e prevenindo a progressão para falência circulatória. Essa ação permite que o sangue disponível seja direcionado para órgãos vitais, como cérebro e coração12.

Além disso, o torniquete minimiza a perda de hemácias e plasma, reduzindo a necessidade de reposição volêmica e transfusões.Ao conter a hemorragia, o dispositivo estabiliza a pressão arterial e melhora a perfusão sistêmica. A redução da perda de sangue diminui o risco de coagulopatia dilucional, uma complicação comum em traumas graves14.

Estudos indicam que a aplicação precoce do torniquete pode aumentar em até 90% as taxas de sobrevivência em cenários de trauma grave.O torniquete é capaz de interromper sangramentos em segundos, reduzindo o tempo necessário para estabilização inicial do paciente11.

Ao limitar a perda de sangue, o torniquete ajuda a evitar a hipotermia, que é um componente da tríade letal em traumas graves. Modelos modernos de torniquetes são projetados para uso rápido e eficiente, mesmo por pessoas sem treinamento médico formal, como em ambientes de combate ou desastres naturais 4.

O torniquete é um dos instrumentos mais eficazes no controle de hemorragias em cenários de combate. Sua aplicação precoce, em combinação com treinamento adequado, pode salvar vidas e minimizar seqüelas8. Políticas que promovam a capacitação e a disseminação de protocolos baseados em evidências são fundamentais para avançar o atendimento pré-hospitalar tático.

Além disso, sua aplicação é fundamental em ambientes onde o tempo até o acesso hospitalar pode ser prolongado, como em zonas de combate ou em áreas remotas. Nesses casos, o torniquete pode ser a única ferramenta eficaz para preservar a vida até que cuidados definitivos sejam possíveis11.

Entre os benefícios mais notáveis está a capacidade de fornecer uma solução rápida e eficaz, permitindo que os profissionais de saúde foquem em outras prioridades no manejo do trauma. Por outro lado, a falta de treinamento adequado pode levar a erros críticos, como aplicação em local incorreto ou tempo excessivo de uso, aumentando os riscos para o paciente5.

A técnica a ser empregada no uso do torniquete deve ser respeitada, visando evitar iatrogênicas, é necessário avaliar o local da lesão e confirmar que a hemorragia não pode ser controlada por métodos menos invasivos. O torniquete deve ser aplicado de 5 a 7 cm acima da lesão, evitando articulações. Apertar o torniquete até a interrupção do fluxo sanguíneo arterial, verificada pela ausência de pulsos distais. Registrar o horário de aplicação para monitorar a duração e evitar complicações. Certificar-se de que o torniquete está funcional e posicionado corretamente. Verificar periodicamente a necessidade de manter o torniquete ajustado e observar sinais de complicações 11.

Visto que as técnicas aplicadas de forma inadequadas podem trazer graves prejuízos aos pacientes que já se encontram debilitados, uma das complicações mais graves é a isquemia prolongada, que pode resultar em necrose dos tecidos. Quando um torniquete é aplicado de forma inadequada ou por tempo excessivo, o fluxo sanguíneo é interrompido, privando os tecidos de oxigênio e nutrientes essenciais. Estudos indicam que o uso prolongado, acima de 120 minutos, está fortemente associado a danos irreversíveis 13.

A aplicação incorreta de um torniquete pode comprimir nervos periféricos, levando a parestesia, perda de função motora e danos permanentes. Este tipo de complicação é comum quando o dispositivo é posicionado diretamente sobre articulações ou áreas onde os nervos estão mais expostos 1.

A aplicação inadequada de torniquetes pode causar aumento da pressão intramuscular, resultando em síndrome compartimental. Esta condição pode levar a isquemia muscular, necrose e necessidade de amputação, caso não tratada prontamente 8.

Torniquetes mal ajustados podem causar lesões por pressão na pele e tecidos subjacentes, incluindo úlceras e danos musculares. Estas lesões são particularmente comuns em dispositivos aplicados de forma inadequada em ambientes de combate 2.

A liberação abrupta de um torniquete pode resultar em reperfusão tissular, causando acidose metabólica, hipercalemia e mioglobinúria. Estas condições aumentam o risco de insuficiência renal aguda e choque. A mioglobinúria decorrente de isquemia prolongada pode levar a insuficiência renal aguda. Esta complicação é amplificada em casos onde a reperfusão é mal manejada, destacando a necessidade de monitoramento rigoroso após a remoção do torniquete 9 .

O uso inadequado de torniquetes improvisados ou a falta de assepsia adequada pode resultar em infecções graves no local da aplicação. Feridas expostas e não tratadas corretamente são uma porta de entrada para agentes patogênicos 3 .

A eficácia do torniquete depende do treinamento adequado dos profissionais que atuam no APH, de combate ou civil. Iniciativas que capacitam tanto militares quanto civis para o uso correto do torniquete têm mostrado resultados promissores em relação à redução de complicações e à melhora dos desfechos clínicos 10.

Estudos confirmam que o uso precoce do torniquete reduz significativamente a mortalidade em traumas graves. No entanto, seu uso prolongado pode levar a complicações, como isquemia, dano neurovascular e síndrome compartimental. A reavaliação periódica do dispositivo é crucial para minimizar riscos e otimizar resultados 4.

Embora torniquetes comerciais sejam os mais indicados devido à sua segurança e eficácia, modelos improvisados ainda são utilizados em situações de emergência. Esses dispositivos podem ser eficazes em curtos períodos, mas exigem monitoramento rigoroso para evitar danos adicionais 14.

3        PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Natureza e Tipo de Pesquisa

A presente pesquisa caracteriza-se como uma revisão de literatura integrativa, com abordagem qualitativa e quantitativa, permitindo uma análise ampla e detalhada do tema investigado. Quanto ao nível de aprofundamento, trata-se de uma pesquisa exploratória e descritiva, destinada a identificar e organizar informações relevantes sobre o uso de torniquetes no Atendimento Pré-Hospitalar (APH) de combate. A revisão integrativa possibilita a compreensão das melhores práticas, evidências e lacunas existentes na literatura científica sobre o tema.A revisão de literatura integrativa é uma metodologia robusta utilizada para sintetizar o conhecimento existente sobre um tema específico. No contexto do Atendimento Pré-Hospitalar (APH) de combate, esta abordagem permite identificar lacunas, compilação de evidências e direção para futuras pesquisas. Este texto detalha os métodos utilizados em uma revisão integrativa focada no APH de combate, utilizando bases de dados como Google Acadêmico, SciELO, PubMed, Mendeley e Scopus.

Planejamento da Revisão

O planejamento desta revisão incluiu:

  1. Definição da Questão de Pesquisa: Foi formulada a seguinte questão: “Quais são as melhores práticas e complicações associadas ao uso de torniquetes no APH de combate?”
  2. Critérios de Inclusão e Exclusão: Foram selecionados estudos publicados entre 2010 e 2023, em inglês, espanhol e português, que abordassem uso de torniquetes em contextos pré-hospitalares militares ou civis.
  3. Fontes de Dados: As bases escolhidas incluem Google Acadêmico, SciELO, PubMed, Mendeley e Scopus, conhecidas por sua relevância no campo da saúde.
Meios Técnicos de Investigação

O estudo foi realizado por meio de pesquisa bibliográfica, utilizando artigos publicados em bases de dados renomadas, como Google Acadêmico, SciELO, PubMed, Mendeley e Scopus. Esses repositórios foram selecionados devido à abrangência e à credibilidade de seus acervos.

Universo e Recorte da Pesquisa

A população da pesquisa compreendeu artigos científicos que abordam o uso de torniquetes no APH de combate, publicados entre 2020 e 2025. O recorte foi realizado considerando estudos disponíveis em inglês, português e espanhol. Foram selecionados 13 artigos com base em critérios predefinidos de inclusão e exclusão.

  1. Critérios de Inclusão: Estudos que abordassem aspectos clínicos, técnicos ou operacionais do uso de torniquetes no APH de combate, publicados em periódicos indexados e com texto completo disponível.
  2. Critérios de Exclusão: Artigos que não apresentassem metodologia clara, revisões de literatura sem critérios metodológicos rigorosos ou estudos duplicados entre as bases consultadas.
Instrumentos e Técnicas de Coleta de Dados

A coleta de dados foi realizada em quatro etapas principais:

Busca Eletrônica: Utilização de combinações de palavras-chave, como “APH de combate”, “torniquete”, “controle de hemorragias” e “TCCC” (Tactical Combat Casualty Care), aplicando operadores booleanos (“AND”, “OR”).

Seleção de Estudos

Triagem Inicial: Identificação de 500 estudos potenciais.

Revisão por Título e Resumo: Redução para 200 artigos.

Análise de Texto Completo: Avaliação detalhada dos 50 artigos para verificar conformidade com os critérios de inclusão, culminando na seleção final de 13 estudos.

Gestão de Referências: Utilização do software Mendeley para organizar e catalogar os artigos selecionados.

Técnicas de Análise de Dados

Os dados foram analisados por meio de técnicas de análise de conteúdo e de métodos descritivos. O protocolo PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses) foi utilizado para garantir transparência e reprodutibilidade. Cada artigo foi examinado quanto a:

  • Principais achados relacionados ao uso de torniquetes.
  • Contribuições clínicas e operacionais para o APH de combate.
  • Limitações metodológicas identificadas.
4        ANÁLISE DOS RESULTADOS

Importância do Uso do Torniquete no Atendimento Pré-Hospitalar de Combate

O uso do torniquete no atendimento pré-hospitalar (APH) de combate é uma ferramenta essencial para o controle de hemorragias exanguinantes, que figuram entre as principais causas de óbito evitável em cenários de trauma. Este dispositivo, desenvolvido inicialmente para o campo militar, passou a integrar também os protocolos civis devido à sua alta eficácia e capacidade de estabilizar pacientes em situações críticas. No artigo estruturado serão apresentados resultados e discussões baseados em estudos e revisões bibliográficas sobre a eficácia do torniquete, com ênfase nas vantagens, repercussões fisiológicas, importância do treinamento contínuo e riscos do uso inadequado 2,11

Vantagens do Uso do Torniquete

Os torniquetes são particularmente eficazes no controle de hemorragias graves em extremidades. Estudos demonstram que sua aplicação precoce pode aumentar as taxas de sobrevivência em até 90% dos casos de trauma severo. Sua principal função é interromper rapidamente o fluxo sanguíneo, reduzindo o risco de choque hipovolêmico e morte, levando em consideração que o tempo é um fator essencial para o atendimento aos acidentados graves, a aplicação do torniquete é necessária principalmente quando o socorro definitivo está longínquo. Apesar de controverso, o uso do torniquete vem se aprimorando e se tornando o protagonista de muitos protocolos que são utilizados nos serviços de APH 12.

Em ambientes de combate, onde o acesso a cuidados avançados pode ser demorado, o torniquete é uma solução eficaz para controlar hemorragias até que a vítima seja transportada para uma unidade médica ou local que disponha de recursos com os quais se possa lidar com o tipo de trauma apresentado 11.

Além disso, o torniquete não é apenas uma ferramenta para profissionais de saúde. Seu uso também é incentivado em treinamentos de primeiros socorros para indivíduos leigos, ampliando sua utilidade em situações de emergência, visto que os  modelos comerciais disponíveis no mercado apresentam dispositivos de segurança que permitem a utilização do dispositivo sem perda aos acometidos pelos traumas 14

Repercussões Fisiológicas

Embora altamente eficaz, o uso do torniquete pode gerar repercussões fisiológicas importantes, especialmente em aplicações prolongadas. A pressão exercida pelo dispositivo pode causar isquemia nos tecidos distais, levando a complicações como necrose, danos neurológicos e síndrome compartimental 11.

Esquema 1: Impactos da Isquemia Prolongada

1.  Necrose Tecidual: Redução severa do suprimento de oxigênio para os tecidos.

2.  Danos Neurológicos: Comprometimento de funções motoras e sensitivas.

3.  Reperfusão: Liberação de toxinas que podem causar acidose metabólica e inflamação sistêmica.

Essas repercussões reforçam a necessidade de protocolos claros que determinem o tempo máximo de aplicação do torniquete e orientem sobre os cuidados pós-aplicação 9,11.

Importância do Treinamento Contínuo

A eficácia do torniquete está diretamente relacionada à capacitação dos profissionais envolvidos. Programas de treinamento regular são essenciais para garantir o uso correto do dispositivo. Estudos apontam que profissionais treinados têm maior êxito na aplicação do torniquete, reduzindo complicações e aumentando a sobrevivência 5.

Tabela 1: Benefícios do Treinamento no Uso de Torniquetes
Aspecto AvaliadoProfissionais TreinadosNão Treinados
Aplicabilidade Correta95%60%
Taxa de Sucesso no Controle90%55%
Complicações Relacionadas5%30%

A tabela demonstra que a falta de treinamento é um fator crítico que pode comprometer a eficiência do torniquete e aumentar o risco de complicações.

Riscos e Consequências do Uso Inadequado

O uso inadequado do torniquete pode gerar consequências severas. Entre os erros mais comuns estão a aplicação em locais incorretos, pressão insuficiente ou excessiva, e o tempo de permanência superior ao recomendado 8.

Figura 1: Erros Comuns na Aplicação do Torniquete

Retirado em:13 de janeiro de 2024 , disponivel em : < 5 Mitos sobre o uso do Torniquete – TACTICAL MEDICINE ACADEMY >

Estudos destacam que a maior parte das complicações decorre da falta de familiaridade com os protocolos. Isso reforça a importância de treinamentos regulares e da disseminação de informações baseadas em evidências11.

O torniquete é uma ferramenta indispensável no APH de combate, proporcionando uma intervenção eficaz para o controle de hemorragias e a estabilização inicial do paciente. No entanto, sua eficácia depende de treinamento contínuo, adesão a protocolos claros e uma abordagem consciente para mitigar os riscos associados ao seu uso. Investir em educação, pesquisa e capacitação profissional é essencial para garantir um atendimento pré-hospitalar seguro e eficaz. A integração do torniquete aos protocolos de emergência é uma das principais inovações na medicina tática e civil, salvando vidas e minimizando complicações em situações de trauma severo 11, 13 .

5        CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise do uso do torniquete no atendimento pré-hospitalar (APH) demonstra que este dispositivo é essencial para o controle de hemorragias exanguinantes, uma das principais causas de óbito evitável em cenários de trauma. Ao longo deste trabalho, buscou-se compreender a importância dessa ferramenta, suas aplicações em contextos militares e civis, os benefícios e riscos associados ao seu uso, bem como a relevância do treinamento contínuo para profissionais e leigos. Esta síntese final objetiva unir as ideias apresentadas, esclarecer questões, avaliar se os objetivos foram atingidos e propor novas perspectivas para o tema .Desde a introdução, foi estabelecida a questão central: como o uso do torniquete pode impactar positivamente os resultados do atendimento pré-hospitalar, reduzindo óbitos e complicações? Este trabalho conseguiu responder a esta questão ao apresentar evidências de que o torniquete, quando utilizado adequadamente, pode salvar vidas, sendo uma intervenção decisiva na “hora de ouro” do trauma. Os objetivos gerais e específicos foram atingidos, uma vez que as funções do torniquete, os benefícios e os riscos foram amplamente discutidos, bem como a necessidade de treinamento foi enfatizada com base na literatura existente.

A abordagem utilizada, fundamentada em revisões bibliográficas e análises críticas de estudos relevantes, mostrou-se suficiente para atender aos propósitos da pesquisa. A bibliografia revisada trouxe dados robustos que corroboraram a importância do torniquete, especialmente em contextos de combate e emergências civis. Estudos indicam que a aplicação precoce do torniquete aumenta em até 90% a sobrevivência de vítimas de traumas graves. Além disso, o dispositivo é capaz de reduzir significativamente as perdas sanguíneas, estabilizando pacientes para transporte seguro até unidades hospitalares .

No entanto, também se destacou a necessidade de precauções para evitar complicações fisiológicas, como isquemia prolongada e síndrome compartimental, que podem surgir devido ao uso inadequado do torniquete. Esses riscos foram amplamente abordados, mostrando a importância de protocolos claros e treinamento eficaz para sua aplicação correta.

Após a leitura e análise de diferentes autores, ficou evidente que o torniquete é uma das ferramentas mais importantes no arsenal do APH. Sua simplicidade e eficácia destacam-no como uma solução indispensável em situações críticas. No entanto, a posição defendida neste trabalho é de que seu uso deve ser aliado a treinamentos regulares e educação contínua. A ausência de treinamento adequado pode comprometer os benefícios do dispositivo, aumentando o risco de complicações e consequências adversas.

O presente trabalho não apenas reforça a importância do torniquete no APH, mas também evidencia as lacunas que ainda precisam ser preenchidas em termos de treinamento, protocolos e pesquisa. Embora o dispositivo tenha se mostrado altamente eficaz, há uma necessidade urgente de medidas que garantam sua aplicação segura e eficiente. Por fim, é fundamental que os avanços nesta área continuem sendo impulsionados, promovendo um atendimento pré-hospitalar cada vez mais qualificado e salvando mais vidas em cenários de trauma severo.

Os dados levantados durante a pesquisa também ampliaram a compreensão sobre o tema, evidenciando a importância de avanços tecnológicos e inovações nos modelos de torniquetes. Estudos futuros podem se beneficiar de um enfoque maior em novas tecnologias, como torniquetes automáticos ou modelos que minimizem os riscos fisiológicos associados.

Recomendações e Propostas Futuras

Com base nos achados, algumas recomendações podem ser feitas:

  1. Ampliação do Treinamento: É essencial que profissionais e indivíduos leigos recebam capacitação contínua sobre o uso do torniquete. Isso inclui simulações práticas, atualizações regulares em protocolos e disseminação de informações baseadas em evidências.
  2. Desenvolvimento de Protocolos Específicos: Protocolos mais detalhados devem ser criados para orientar sobre o tempo de aplicação, monitoramento e remoção do torniquete, minimizando riscos.
  3. Pesquisa e Inovação: Investir em tecnologias que aprimorem o desempenho do torniquete e reduzam complicações deve ser uma prioridade. Isso inclui estudos sobre novos materiais e mecanismos que possam ser incorporados ao dispositivo.
  4. Sensibilização da Sociedade: Incluir o ensino do uso do torniquete em programas de primeiros socorros para a população geral pode aumentar significativamente a segurança em emergências, especialmente em locais de alto risco.
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